Esta comunidade situa-se no Município de Araçuaí, uma das cidades polarizadoras na microrregião devido a fatores como: a existência de um hospital municipal, de aeroporto de pequeno porte (praticamente inativo), deter o maior mercado municipal da mesorregião, ser sede da Secretaria Regional do Ensino, sede de realização das provas do Departamento de Trânsito, sede de diferentes (e recentes) campus universitários 1, ser sede do próprio IDENE entre outros. Foi a partir do Município de Araçuaí que se desmembraram outros municípios como Itinga e Itaobim na primeira metade do século passado. Atualmente conta com cerca de 35 mil habitantes, dos quais 13 mil estão sitiados na zona rural (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE, 2010).
A comunidade do Alfredo Graça 2 fica a cerca de 30Km de distância da cidade, à sudoeste, sendo que, na atualidade, apenas 2Km da estrada são pavimentadas. Existe uma linha de ônibus da empresa autoviação Rio Doce que passa pela comunidade diariamente com destino à Novo Cruzeiro, com saída pela manhã e volta no meio da tarde. Demais acessos são possíveis mediante transporte próprio e, quando autorizado pela secretaria municipal de transporte, via ônibus escolar, que vai a comunidade duas vezes por dia. Foi por meio da autorização da secretaria que fui à comunidade, não carecendo, portanto de permanecer na mesma durante a noite.
O Alfredo Graça é uma comunidade com um núcleo urbano considerável, com cerca de 500 casas muito próximas umas às outras (Figura 9), com igrejas (católica e protestante), pracinha, sede dos correios, uma escola estadual que oferece ensino desde a creche até o 3ºano do ensino médio. A aglomeração urbana se deu, segundo os seus habitantes, graças à introdução da estação da Estrada de Ferro Bahia-Minas3 . E embora tenha se dado o desmantelamento da estrada de ferro, o povoamento deu continuidade com os cruzamentos familiares que foram se constituindo.
Segundo o que foi acusado pelos seus residentes, se trata de uma comunidade rural cuja maioria dos habitantes não detém terras para realizar o cultivo que gostaria, o que os leva a vender sua mão de obra para as fazendas circundantes, fazendo “bicos” aqui e acolá; mas em comparação com o passado da comunidade, a condição atual é melhor que outrora:
“Do que eu lembro, pra nós aqui, a comunidade antes era muito mais difícil, porque eu lembro quando eu era garoto ainda, uns dez doze ano, que eu saia para trabalhar com meu pai, a gente sempre trabalhou na terra dos outro, a gente não tinha condição de ter uma terra própria pra trabalhar. Às vezes não tinha uma condição de ... de ter as coisa pra tocar o próprio serviço da gente, a gente tinha que parar e fazer serviço pr’as outra pessoa e a gente vê que aqui é um lugar menos desenvolvido justamente porque o pessoal não tinha terra. Porque, esta fazenda que a gente comprou o dono dela mandava do lado de lá e do lado de cá... e não tinha condição de mandar nem do lado de lá, porque ele não tinha condição financeira pra manter gente trabalhando. Do outro lado tem outra fazenda que tem oitenta e tantos alqueires de terra e a dona da terra não tem uma cabeça de criação. Mais pra cima aí tem Matosinho, cê vai lá, d’um lado e d’outro não tem uma manga4 pronta, praticamente. Cê sobe mais um pouquinho tem finado x […] que tem alqueire de terra e não tem condição de manter a terra! Tudo parado. Enquanto que aqui na comunidade não tinha uma família com um pedaço de terra. Então a condição das pessoas era difícil porque, eu não cheguei alcançar, mas se você for andar nestas fazendas todas elas aí tinha um engenho, e às vezes as pessoas trabalhava um dia pra ganhar uma rapadura, né. Trabalhava pra um fazendeiro e quebrava mi, dava umas pela ardida lá pro pessoal comer. Isto aí são histórias que as pessoas mais velhas me contaram, eu não cheguei a alcançar isto aí. Então o que eu vejo aqui, de agora pro passado, pra nós, tem melhorado bastante... agora, só vai melhorar mais se tiver condição de formar mais umas duas ou três associação aqui pra comprar outras fazenda para melhorar o lugar ainda, que aqui o povo precisa é de terra para trabalhar... e condição, né. Não só a terra mas condição como aqui ês deu pra nós.” (E.B)
Devido a iniciativa e organização comunitária, algumas famílias se reuniram para formar a Associação dos Trabalhadores Rurais do Alfredo Graça (ATRAG), que se diferencia da Associação dos Moradores. A ATRAG foi formada, segundo alguns de seus membros, com a finalidade de requerer junto ao governo de Minas a oportunidade de comprar terras em que pudessem cultivar. Assim, através do que eles chamam de “Projeto Para Terra” conseguiram arrecadar o valor necessário para a compra de 40 alqueires de terra por volta de 2001 e desde lá 26 famílias vêm pagando as mensalidades que lhes cabem já estando por liquidar, enfim, a dívida5 .
O Alfredo Graça conta com uma rede de abastecimento de águas introduzido pela Companhia de Saneamento de Minas Gerais - COPASA, hoje substituída pela COPASA Serviços de Saneamento Integrado do Norte e Nordeste -COPANOR, subsidiária daquela. Mas tal rede depende de uma bomba d’água comunitária que repetidamente dá problemas, o que acarreta na falta de distribuição que pude presenciar durante a pesquisa. Além do cotidiano dos moradores o cotidiano escolar acaba sendo alterado de acordo com a disponibilidade de água, diminuindo a carga horária de aulas em decorrência.
Além do abastecimento de água, também há a coleta de esgoto, contudo não é dado o devido tratamento para este, nem no Alfredo Graça nem nas comunidades que estão acima e abaixo do Rio Gravatá, que as abastece. Por esta incoerência infraestrutural o Rio Gravatá detém alto índice de coliformes fecais, de modo que não se pode beber das suas águas sem que se tome devidas providências para assegurar sua qualidade. Este Rio tem profunda importância para as comunidades que estão em seu entorno, pois suas águas estão envolvidas em todas as atividades domésticas e produtivas das suas populações.
Existem na atualidade alguns projetos de entidades civis (Associar – Associação Comunitária e Infantil de Araçuaí, CPCD – Centro Popular de Cultura e Desenvolvimento) e instituições públicas (Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural - EMATER) sendo realizados na comunidade do Alfredo Graça, com vistas à sustentabilidade do uso das águas do Rio Gravatá6 e na busca por alternativas de captação de água.
Fisicamente, como incide na maior parte da microrregião do Médio Jequitinhonha, o Alfredo Graça é permeado por clima quente, tendo variações de amplitude térmica durante Junho-Julho, onde as noites e madrugadas são frias; e o regime de chuvas se inicia no fim de novembro, tendendo a se estender até Janeiro-Fevereiro. Considerada ainda na área de Mata Atlântica a vegetação é predominantemente a mata seca e caatinga7 , que sofreu grandes interferências da ação humana. A produção rural é para autoconsumo e venda na feira municipal de Araçuaí, tendo maior incidência nas variedades de cultivo de hortaliças, pequena produção de mamíferos de pequeno porte (porcos e cabritos) e aves (galinhas). Além disto, no Alfredo Graça pode-se encontrar casas de comércio familiar, tais como bar e lanchonete. O que fazer com lixo produzido na comunidade fica à mercê do interesse de cada domicílio.
As entrevistas realizadas nesta comunidade se deram em lugares diferentes. A primeira e a última foram em espaços públicos, relativamente movimentados, em que estivemos acomodados sob a sombra de árvores à vista de todos os passantes, especialmente para a curiosidade das crianças! Enquanto que as outras três se realizaram na casa dos entrevistados, com perturbações comuns ao que se pode esperar em se tratando de pesquisa em residências rurais, visto que achegam-se pessoas para dar recado ou fazer visita.
1 Instituto Federal do Norte de Minas Gerais; Centro de Apoio à Educação a Distância da Universidade Federal de Minas Gerais; Universidade do Norte do Paraná;
2 Usualmente a população se refere a esta comunidade usando o artigo masculino. Adota-se aqui mesma forma.
3 Mais informações sobre esta ver GIFFONI, Marcelo. Trilhos arrancados. História da estrada de ferro Bahia e Minas (1978-1966). Tese de doutorado, PPGH, UFMG, 2006.
4 Segundo os entrevistados, área de terra preparada para o cultivo.
5 Cada família detém um alqueire e meio de terra da propriedade.
6 Por não usar água, não contamina o rio, nem o lençol freático. Mais informações vide http://www.cpcd.org.br/.
7 De acordo com o Decreto Federal 6660 de 2008 a Mata Seca é classificada como Floresta Estacional Decidual, incluída como disjunção do Bioma de Mata Atlântica. A Empresa Brasileira de Pesquisa e Agropecuária - EMBRAPA caracteriza a Mata Seca como detentora de uma vegetação cuja “altura média da camada de árvores (estrato arbóreo) varia entre 15 e 25 metros. A grande maioria das árvores é ereta, com alguns indivíduos emergentes. Na época chuvosa as copas se tocam, fornecendo uma cobertura arbórea de 70 a 95%. Na época seca a cobertura pode ser inferior a 50%, especialmente na Mata Decídua, que atinge porcentagens inferiores a 35%, devido ao predomínio de espécies caducifólias”. Disponível em www.agencia.cnptia.embrapa.br . Último acesso em 26/01/2012.
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