O presente trabalho intitulado – “Manifestação religiosa da igreja católica: a festa de São Tiago no município de Mazagão velho-AP” – deu-se a partir de alguns questionamentos e curiosidades a respeito desta festa. Além disso, poucos são os trabalhos voltados para essa temática, assim como a produção histórica do Amapá que também é escassa. Sendo assim, todos os anos de celebração da festa de São Tiago, os meios de comunicação falam a respeito da mesma, mas não dão ênfase para o assunto. Por outro lado, durante o decorrer do curso de Ciências Sociais muito se falou a respeito das comunidades tradicionais, como sua cultura, seus costumes, crenças, mitos, lendas, tradição, entre outros.
Como essas populações se caracterizam por preservar a sua comunidade e seu modo de viver, o mesmo observou-se na comunidade de Mazagão Velho que, durante mais de dois séculos, vem preservando e vivenciando os acontecimentos ocorridos ainda no continente africano, ou seja, a batalha entre cristãos e mouros, que se transformou numa festa para homenagear os santos Tiago e Jorge. Para os moradores desta comunidade estes teriam aparecido no continente africano somente com o objetivo de lutar ao lado dos cristãos que foram os vencedores da batalha.
Desse modo, o objetivo deste trabalho, em seu aspecto mais específico, é fazer um estudo sobre a manifestação religiosa da festa de São Tiago, ou seja, analisar as características do caráter sagrado imbricado com o caráter profano, bem como compreender qual o significado que a festa apresenta para os fiéis. Portanto, procurei entender e interpretar como esse evento cultural tradicional é capaz de ultrapassar o imaginário simbólico dos atores sociais que o presenciam, transportando os mesmos para vivenciarem uma guerra que remonta ao século XVIII.
Assim, a realização desse trabalho surgiu da necessidade de contribuir para o conhecimento dos moradores da comunidade e para futuras pesquisas, sejam antropológicas, sociológicas e especificamente no que tange os estudos religiosos. Um outro motivo que me conduziu a este estudo foi devido a algumas informações da festa e do município que recebi de uma amiga do curso de Ciências Sociais, já que esta esteve na comunidade e presenciou esta manifestação religiosa-foclórica. Então, os argumentos dela foram bastante convincentes e, além disso, a festa apresenta uma relevância importante dentro das discussões acadêmicas.
Como no Amapá as pessoas tem pouco acesso aos trabalhos sobre manifestações religiosas procurei direcionar meus estudos para essa temática, adequando-a as transformações do cotidiano. Entre os autores mais importantes para este trabalho, que permitiram uma leitura compreensiva dos aspectos abordados como: tradição, folclore, festas, crenças, entre outros, estão os trabalhos de SANTOS (1994), ORTIZ (1985), BRANDÃO (1982), VAN GENNEP (1978) e MORAIS (2003).
Diante disso, a pesquisa de campo foi realizada nos meses de julho e setembro de 2006. As informações foram obtidas junto aos moradores da comunidade (homens e mulheres) que participam direta e indiretamente da festa, com o responsável do Departamento de Cultura do município de Mazagão Velho e com o narrador da festa de São Tiago. Por outro lado, as informações colhidas na comunidade sobre a festa foram feitas com a utilização de técnicas, como as entrevistas, a observação participante, no período de realização da festa de São Tiago, utilizou-se, ainda, gravador, cadernos de anotações e câmera fotográfica.
Dessa forma, a localização da pesquisa de campo se deu no município de Mazagão Velho, distante 36km da cidade de Macapá e a 28km da sede do município de Mazagão Novo. O acesso à comunidade mazaganense faz-se, primeiramente, por transporte terrestre (carro, moto, bicicleta e ônibus), e, segundo, pelo fluvial, que se dá com a travessia das pessoas através de balsas, onde são atravessados dois rios, o rio Matapí e o rio Vila Nova, para, então, se chegar a Mazagão Novo e seguir em direção a Mazagão Velho novamente por via terrestre.
Diante disso, Mazagão Velho apresenta uma população de aproximadamente mil (1000) habitantes. O sistema educacional é composto por uma Escola Estadual de Ensino Fundamental Profª. Antônia Silva Santos, possuindo apenas três (03) salas de aula e um anexo da mesma. A comunidade dispõe, ainda, de um posto policial, um posto de saúde, uma creche denominada “Vó Olga”, um antigo museu (hoje é utilizado como ateliê de costuras das roupas “dos figuras”) 1, um centro da terceira idade Biló Nunes, onde ocorrem as reuniões da comunidade, a Igreja de Nossa Senhora da Assunção, os três barracões, entre eles está o principal que é o de São Tiago e o cemitério, onde neste ano foi construído dentro do mesmo um mausoléu que guarda os restos das ossadas encontradas pelos arqueólogos neste município. O atual prefeito do município de Mazagão é o Sr. José Carlos (conhecido como “Marmitão”) e o sub-prefeito de Mazagão Velho o Sr. Luís Fernando (conhecido por “Gavião”), ambos estão em exercício.
O primeiro contato na comunidade foi através das observações do local, tendo em vista que o município de Mazagão velho era uma experiência nova em minha vida, totalmente desconhecido. Ao chegar ao vilarejo, alguns moradores que estavam sentados na praça dirigiram seu olhar para mim pessoa e como se trata de uma comunidade pequena, logo as pessoas ficam sabendo quando tem pessoas de fora. Foi, então, que percebi o quanto eles são receptivos, pois onde passava era sempre cumprimentada, já que é costume deles dar “bom dia, boa tarde e boa noite” para as pessoas em qualquer horário. Quando iniciaram as pesquisas de fato e tive que passar de casa em casa entrevistando os moradores, imediatamente a notícia se espalhou pelo vilarejo e eles me convidavam para entrar, tomar um café e cheguei até a almoçar na casa de um deles. Mas, é importante ressaltar, ainda, que em uma ou duas casas que pedi para entrar e conversar, não queriam me ceder informações no início, mas, depois de explicar o objetivo de estar na comunidade, ficaram mais a vontade e concordara em dar a entrevista.
Na comunidade descobri que o sentimento de solidariedade e de parentesco entre os moradores é muito forte, conforme abordado por Wagley (1952), pois todos se conhecem, se visitam e constantemente trocam objetos e alimentos, existindo também um sentimento de cooperação, visto que as pessoas deste local sempre que vão até a roça, colhem a mandioca e a levam para a casa de farinha da comunidade e logo em seguida, passam avisando de casa em casa que já tem mandioca para os que já estão sem este produto, dizendo para irem até lá e fabricarem o que necessitam. Assim, os moradores produzem somente o necessário para sua sobrevivência, então, verificou-se que a economia da comunidade é pautada numa economia de subsistência.
Portanto, esse trabalho está divido em três capítulos: o primeiro, faz uma contextualização histórica sobre a origem da festa de São Tiago e do município de Mazagão Velho, abordando a persistência da festa que apesar dos avanços tecnológicos conseguiu se adaptar preservando seus elementos tradicionais. Mostra, ainda, através de uma etnografia, as encenações das batalhas entre cristãos e mouros feitas pelos próprios moradores da comunidade.
O segundo capítulo, trata do caráter sagrado e profano da festa, pois, para os devotos de São Tiago, ambos têm que coexistir para a participação dos turistas e dos moradores da comunidade nesta festa, culminando na devoção que eles têm em São Tiago pelo fato do mesmo ser muito “poderoso e milagroso”. Procuro abordar, ainda, a questão das festas profanas que ocorrem logo após o término do momento religioso e que são destinadas a animar, divertir e alegrar o público.
No terceiro e último capítulo, aborda-se o significado que a festa apresenta para os devotos de São Tiago, os benefícios que a mesma trás para a comunidade, bem como a participação masculina e feminina na festa, sendo que o envolvimento dos homens é maior que o das mulheres, tendo em vista que a festa de São Tiago narra a história de uma guerra que ocorreu entre cristãos e mouros no continente africano, na qual só os homens iam para o campo da batalha. Em função disso, as mulheres não podem participar das encenações do conflito, mas cooperam na limpeza das ruas, ornamentação da igreja e confecção das roupas dos personagens da festa, ou seja, permanecem apenas no domínio doméstico.
1 “dos figuras”, nome simbólico dado pelos moradores de Mazagão Velho as pessoas, neste caso, aos moradores da comunidade que representam São Tiago e São Jorge, assim como, os outros personagens que compõem a festa.
En eumed.net: |
1647 - Investigaciones socioambientales, educativas y humanísticas para el medio rural Por: Miguel Ángel Sámano Rentería y Ramón Rivera Espinosa. (Coordinadores) Este libro es producto del trabajo desarrollado por un grupo interdisciplinario de investigadores integrantes del Instituto de Investigaciones Socioambientales, Educativas y Humanísticas para el Medio Rural (IISEHMER). Libro gratis |
15 al 28 de febrero |
|
Desafíos de las empresas del siglo XXI | |
15 al 29 de marzo |
|
La Educación en el siglo XXI |