A soja chegou ao Brasil via Estados Unidos, em 1882. Gustavo Dutra, então professor da Escola de Agronomia da Bahia, realizou os primeiros estudos de avaliação de cultivares introduzida daquele país. Em 1891, testes de adaptação de cultivares semelhantes aos conduzidos por Dutra na Bahia foram realizados no Instituto Agronômico de Campinas, Estado de São Paulo. O primeiro registro de cultivo de soja no Brasil data de 1914 no município de Santa Rosa, Rio Grande do Sul (EMBRAPA, 2004). Esta é uma planta leguminosa, dicotiledônea, predominantemente utilizada para o processamento do grão em óleo e proteína. De um modo geral, o ciclo fenológico da planta varia de 115 a 150 dias, desde a sua germinação até a maturação. Os cultivares podem ser classificados em precoce (até 115 dias), semiprecoce (116 a 125 dias), médio (126 a 137 dias), semitardio (138 a 150 dias) e tardio (mais que 150 dias). A altura da planta varia entre 0,45 m a 1,20 m, dependendo da variedade, pluviosidade, temperatura e época de semeadura (EMBRAPA SOJA, 2006). Sua produção está diretamente relacionada com parâmetros fisiológicos da planta, tais como taxa de crescimento, índice de área foliar (IAF) e produção de matéria seca (biomassa). O crescimento e o desenvolvimento da soja são medidos pela quantidade de matéria seca acumulada na planta que é produzida por meio da fotossíntese. Com exceção da água, a matéria seca é composta por carboidratos, proteínas, lipídeos e nutrientes minerais (ANTUNES, 2005).
Segundo Farias et al. (2000), a disponibilidade hídrica, o fotoperíodo e a temperatura são os fatores que mais afetam o desenvolvimento e a produtividade da soja. A necessidade de água durante todo o ciclo fenológico varia entre 450 e 800 mm, dependendo das condições climáticas, do manejo da cultura e da duração do ciclo. Os períodos mais críticos em relação à disponibilidade hídrica são os que correspondem à germinação/emergência e à floração/enchimento de grãos. Durante o primeiro período, tanto o excesso, quanto a escassez de água são prejudiciais à obtenção de uma boa uniformidade na população de plantas. No segundo período, o estresse hídrico expressivo, aliado à baixa umidade relativa do ar, pode provocar queda das flores, vagens e folhas, além de acelerar a senescência da planta, reduzindo a fase destinada ao enchimento de grãos e, conseqüentemente, a produtividade (SEDIYAMA et al., 1996). Em virtude de ser uma planta de dias curtos, a soja só tem sua floração induzida quando o fotoperíodo é menor que um comprimento crítico. Devido ao fotoperíodo crítico ser constante para um mesmo cultivar, a planta sofre modificações no crescimento e desenvolvimento quando semeada em latitudes diferentes da qual está adaptada ou em diferentes épocas de semeadura para uma mesma latitude. Ainda assim, as exigências fotoperiódicas de um cultivar estão intimamente relacionadas às exigências térmicas, ou seja, um cultivar exigente em fotoperíodo curto também será exigente em somas térmicas. Portanto, os cultivares com menor fotoperíodo crítico (de ciclo tardio) exigem maior quantidade de somas térmicas (COSTA, 1996).
A soja adapta-se bem em uma ampla faixa de clima seco, sendo que as temperaturas ótimas para o melhor desenvolvimento da soja estão entre 20 e 35ºC. Precipitações pluviométricas anuais de 700 a 1200 mm, bem distribuídas, preenchem perfeitamente suas necessidades hídricas. Regiões com excessiva umidade não são adequadas para o seu cultivo (MOURAD, 2008).
A maioria dos solos cultivados com a cultura da soja constitui-se de solos ácidos e deficientes em alguns nutrientes. A correção da acidez é feita através da calagem, ou seja, adição de calcário. A adubação requer adição de enxofre, fósforo e potássio. Em solos deficientes em manganês, também é necessária a sua correção (EMBRAPA SOJA, 2006).
Em 2009, o Brasil foi o segundo maior produtor de soja com produção de 57 milhões de toneladas, ou aproximadamente 25% da safra mundial que foi estimada em 223,27 milhões de toneladas (BRASIL, 2009). A soja, bem como seus subprodutos são largamente utilizados na alimentação humana e de animais. É rica em proteínas de boa qualidade, ácidos graxos e compostos fitoquímicos. Pesquisas têm demonstrado que as isoflavonas da soja reduzem os riscos de algum tipo de câncer (MOURAD, 2008). Na safra de 1995/96 tornou-se a variedade com maior área plantada (11 Mha), superando todos os demais cultivos. Em 2008, a área ultrapassa os 21 Mha o que representa 45% do total de 47,3 Mha de lavoura de grãos no Brasil contabilizada pela CONAB, excluindo-se cana-de-açúcar e frutas (CONAB, 2008).
O cultivo da soja é predominante nas regiões Centro-oeste, Sul e Sudeste, que correspondem atualmente por aproximadamente a 89,50% da produção nacional, enquanto que a região Norte-Nordeste responde por aproximadamente 10,50% (MAPA, 2009). Segundo Santos (2007), estes números justificam o destaque que a soja vem recebendo entre as culturas com potencial para suprir o mercado do biodiesel. A tabela 2.5 apresenta os valores da produção de soja na Região Norte do Brasil, em mil toneladas nas safras de 2004/05 a 2009/10.
De acordo com os dados presentes na tabela 2.5 é importante destacar que no período de 2004/05 a 2009/10, apenas cinco dos sete Estados que compõe a Região Norte produziram soja. Sendo que dentre eles o Estado do Tocantins apresentou o melhor desempenho dos últimos cinco anos e pode ser considerado o maior produtor na safra 2009/10 com 1071,0 mil toneladas, de acordo com dados da CONAB – Companhia Nacional de Abastecimento
A Figura 2.11 apresenta os dados da produção das regiões agrícolas referentes a cultura da soja no Estado do Tocantins, para a safra 2008/09, segundo dados do IBGE(2010). Através dos dados da figura 2.12 pode-se observar que a produção de soja concentra-se na região nordeste III, a qual pertence os municípios de Pedro Afonso e Campos Lindos, ambos são destaques na produção de soja 76.950 toneladas e 126.000 toneladas respectivamente.
Tabela 2.5 - Produção de soja na Região Norte – 2004/05 a 2009/10
Região/UF |
2004/05 |
2005/06 |
2006/07 |
2007/08 |
2008/09 |
2009/10 1 |
Norte |
1.419,9 |
1.255,2 |
1.079,9 |
1.472,3 |
1.491,0 |
1.691,7 |
Roraima |
56,0 |
28,0 |
15,4 |
48,8 |
48,8 |
3,9 |
Rondônia |
227,2 |
283,0 |
277,5 |
311,5 |
332,7 |
384,3 |
Acre |
- |
- |
- |
- |
- |
- |
Amazonas |
8,4 |
5,7 |
- |
- |
- |
- |
Amapá |
- |
- |
- |
- |
- |
- |
Pará |
207,0 |
238,1 |
140,5 |
201,1 |
205,8 |
232,5 |
Tocantins |
921,3 |
700,4 |
646,5 |
910,9 |
903,7 |
1.071,0 |
Fonte: MAPA (2009), CONAB (2010)
Em estudo realizado por Maciel, Azevedo e Andrade Júnior (2009) foram avaliados os possíveis impactos provocados pelo aquecimento global no zoneamento de risco climático para a cultura da soja no Estado do Tocantins. Para tanto, foram admitidas as seguintes situações: a)cenário atual (valores atuais de temperatura e precipitação) e b)cenário II (otimista B1 do IPCC), considerando um aumento de 1,8 ºC na temperatura média e uma redução de 10% na precipitação, para os solos tipo 1 (textura argilosa), tipo 2 (textura média), tipo 3 (textura argilosa), considerando uma cultivar de ciclo precoce (110 dias). No cenário atual, verificou-se que para semeaduras de cultivares de ciclo precoce, nas datas de outubro a janeiro, em solos tipo 1, as áreas aptas ao cultivo da soja representam aproximadamente 47% e 66% da área do Estado, respectivamente. Em relação aos solos tipo 2, para semeadura em outubro, as áreas de baixo risco climático ao cultivo da soja representam em torno de 94% da área do Estado. No que diz respeito aos solos tipo 3 e semeadura em outubro, as áreas de baixo risco climático cobrem mais de 96% da área do Estado. Isso significa que o Estado do Tocantins apresenta condições favoráveis ao cultivo da soja na maioria de seus municípios. No cenário II, observou-se que as alterações foram mais expressivas para os solos tipo 1, apresentando-se como favoráveis ao cultivo da soja apenas os municípios da região centro-norte. Para os solos tipo 2, as simulações mostraram que teria uma redução de 30 dias para a estação de cultivo, com exceção para os municípios da região centro-oeste. Já o solo tipo 3 apresentaram fortes restrições apenas para municípios da região extremo norte e para os municípios das regiões centro-norte, nordeste e centro-leste restrições
CENTRO-LESTE V
Mateiros: 75.600 ton.
Monte do Carmo: 33.558 ton.
Porto Nacional: 31.020 ton.
Palmas: 12.150 ton.
Ap. do Rio Negro: 11.280 ton.
Ponte Alta do TO: 0 ton
SUDESTE VII
Dianópolis: 67.200 ton.
Silvanópolis: 24.816 ton.
Santa Rosa: 19.740 ton.
Peixe: 23.100 ton.
Chapada de Natividade: 12.600 ton.
Ipueiras: 10.152 ton.
São Valério da Natividade: 7.290 ton.
Rio da Conceição: 4.320 ton.
Novo Jardim: 1.350 ton.
SUDOESTE VI
Formoso da Araguaia: 39.100 ton.
Lagoa da Confusão: 35.983 ton.
Figueirópolis: 11.400 ton.
Sucupira: 8.960 ton.
Alvorada: 13.140 ton.
Talismã: 5.100 ton.
Santa Rita: 0 ton
Cariri: 6.000ton.
EXTREMO NORTE I
Darcinópolis: 9.060 ton.
NORDESTE III
Campos Lindos: 126.000 ton
Pedro Afonso: 76.950 ton.
Goiatins: 10.800 ton.
Itapiratins: 18.900 ton.
Palmeirante: 12.150 ton.
Bom Jesus do TO: 12.600 ton
Santa Maria do TO: 675 ton.
Centenário: 4.320 ton.
Barra do Ouro: 6.120 ton.
CENTRO OESTE IV
Guaraí: 23.700 ton.
Tupirama: 18.900 ton.
Rio dos Bois: 10.800 ton.
Caseara: 1.350 ton.
Brejinho de Nazaré: 15.087 ton.
Fortaleza do Tabocão: 5.880 ton.
Miracema do TO: 3.240 ton.
Dois Irmãos: 2.160 ton.
Paraíso do TO: 1.620 ton.
Miranorte: 2.160 ton.
CENTRO NORTE II
Nova Olinda: 15.400 ton.
Palmeirante: 12.150 ton.
Presidente Kennedy: 4.200 ton.
Brasilândia: 5.600 ton.
Babaçulândia: 1.350 ton.
Couto Magalhães: 3.321 ton.
Figura 2.11 – Produção das regiões agrícolas de soja no Estado do Tocantins na safra 2008/09
Fonte: Adaptado de SEAGRO (2008); IBGE (2010).
1 Os valores de referência da safra 2009/10 foram adquiridos do levantamento no mês de dezembro/10 da CONAB.
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