Como já referimos, a segunda parte do nosso relatório, de carácter prático, centra-se no concelho de Miranda do Corvo. Após uma caracterização do mesmo iremos proceder à sua análise SWOT, à caracterização dos recursos e produtos turísticos nele existentes, a uma análise das estratégias do passado, actuais e propostas futuras.
Por fim terminaremos fazendo algumas propostas que poderão complementar as estratégias que estão a ser implementadas e que possam contribuir para o aumento da centralidade do concelho no panorama turístico regional e até nacional.
Em termos geográficos, o concelho de Miranda do Corvo está inserido no Pinhal Interior Norte (NUT III), da Região Centro de Portugal (NUT II).
Este é geograficamente contíguo com os concelhos de Vila Nova de Poiares a Nordeste, Lousã a Sueste, Figueiró dos Vinhos a Sul, Penela a Sudoeste, Condeixa-a-Nova a Oeste e Coimbra a Nor-noroeste (Figura 4). Coimbra é a capital de distrito onde se inclui o concelho em análise e esta cidade dista cerca de vinte quilómetros da vila de Miranda do Corvo.
Miranda do Corvo está inserida na Área Metropolitana de Coimbra, constituída em Março de 2004 e, juntamente com os concelhos de Lousã, Penela e Vila Nova de Poiares integra a Associação Municipal de Fins Específicos dos Vales do Ceira e Dueça (Comunidade Intermunicipal) – AMVCD, a qual tem como objectivos promover o desenvolvimento de acções comuns na área do ordenamento, gestão, promoção e divulgação do território, nas temáticas do turismo, património, infra-estruturas e equipamento.
Em termos físicos, apresenta-se com relevo bastante irregular, variando entre os 200 metros de altitude nas áreas correspondentes aos vales dos rios e chegando a valores superiores a 900 metros de altitude, que correspondem à Serra da Lousã, que “preenche os lados sul e nascente do concelho, representando a faixa mais significativa do território e que integra as freguesias de Miranda do Corvo e Vila Nova, localizadas na extensa e fértil bacia que abrange a Vila, que passa pela Lousã até ao Espinhal” (CMMC, 1993).
No que toca à geologia, o concelho de Miranda do Corvo integra-se numa área de transição de várias unidades morfológicas, o que lhe confere uma certa indefinição e, simultaneamente, uma grande variedade de características no terminus ocidental da plataforma do Mondego a que corresponde, também, o extremo da bacia da Lousã (CMMC, 1993).
Como formação geológica mais uniforme salienta-se a Serra da Lousã, orientada na direcção NE-SO, fazendo parte do Complexo Xisto-Grauváquico das Beiras; verifica-se, também ao longo da paisagem do concelho, afloramentos de rochas xistosas do Maciço Hespérico pertencentes a este maciço (Serra da Lousã). Na união com o concelho da Lousã encontra-se uma formação de xistos luzentes. Predominam os arenitos avermelhados e arenitos claros conglomerados e notam-se alguns afloramentos de granito na área da Serra de Vila Nova (CMMC, 1993).
Através do estudo das características geológicas e estruturais do concelho, foi possível identificar quatro unidades paisagísticas:
– O Maciço Marginal1, unidade paisagística que abrange a área da Serra da Vila e toda a parte norte do concelho. As espécies florestais que aí se encontram são maioritariamente eucaliptos e pinheiros;
– A Depressão Periférica, na qual se insere o quadrante mais ocidental do concelho, subdividindo-se entre as colinas dolomíticas e as depressões marginais. Aqui domina o pinheiro, o olival o pomar e a vinha, que encontram uma grande fertilidade nas terras baixas da freguesia de Lamas;
– Os Xistos do Maciço Hespérico, unidade que pertence ao maciço da Serra da Lousã, e onde se verifica uma clara dominância do pinheiro, juntamente com algumas manchas de eucalipto, especialmente nas áreas onde se registaram incêndios florestais na última década;
– A Bacia de Miranda do Corvo e envolvente, na qual a vegetação apresenta uma relativa homogeneidade, com o predomínio do eucalipto e do pinheiro. Também se encontram manchas de cultura arvense de regadio, olival e vinha. A cultura de arvense de sequeiro realiza-se mais nas proximidades de Semide e Rio de Vide, territórios mais agrestes às culturas de regadio (CMMC, 1993).
Relativamente à hidrologia, o concelho é banhado por dois cursos de água de importância local. O maior, o Rio Ceira (oriundo da Serra do Açor), percorre, com uma orientação aproximadamente Este-Oeste, o Concelho na sua parte mais setentrional encaixado nos materiais do Complexo Xisto-Grauváquico e Cristalofílico. O Rio Dueça, por seu turno, com traçado aproximadamente Sul-Norte, é oriundo da orla Mesozóica e corre sempre em vale aprofundado, com algumas excepções entre Godinhela e Montoiro em que percorre um vale alargado passível de ser inundado em ocasiões de fortes caudais. Desta forma, destacam-se no concelho duas bacias hidrográficas com uma elevada importância no enquadramento local, nomeadamente a bacia do Rio Dueça e do Rio Ceira, compostos por troços em diferentes estados de conservação, ao nível ecológico (CMMC, 1993 – Figura 5).
Em termos de clima, Miranda do Corvo apresenta um clima mediterrânico, embora sofra algumas influências atlânticas devido à relativa proximidade do mar e também seja influenciado pela proximidade da Serra da Estrela (idem).
No que diz respeito aos usos do solo no concelho de Miranda do Corvo, é de destacar a área florestal (incluindo matos), a qual ocupa 79% da superfície total do concelho, seguida da área agrícola, que ocupa 15% e outros usos, nomeadamente a ocupação urbana, que correspondem a 6%, de acordo com o 5º Inventário Florestal Nacional (2010).
Esta mancha florestal, traduzindo uma influência tipicamente mediterrânea, encontra-se em vertentes de baixa altitude, abrigadas e com exposição predominantemente do quadrante Sueste, encontrando-se aí espécies características como o Carvalho português, o sobreiro, o medronheiro e plantas odoríferas. Em paralelo surgem espécies introduzidas pelo Homem.
No estrato arbóreo é possível encontrar uma grande variedade de espécies (quadro 1), de entre as quais dominam o pinheiro bravo e o eucalipto.
Quadro 1: Espécies arbóreas existentes no concelho de Miranda do Corvo
Espécie |
% do total florestal |
Espécie |
% do total florestal |
||
Pinheiro-bravo |
Pinus pinaster Aiton |
28,88 |
Cedro-do-Buçaco |
Cupressus lusitanica Miller |
* |
Eucalipto |
Eucalyptus globulus Labill |
28,79 |
Cerejeira brava |
Punus avium L. |
* |
Carvalho-roble |
Quercus robur |
0,04 |
Abeto |
Pseudotsuga menziesii (Mirb.) |
* |
Carvalho-negral |
Quercus pyrenaica Willd |
|
|||
Castanheiro |
Castanea sativa Miller |
0,25 |
Pinheiro-silvestre |
Pinus sylvestris L. |
* |
Medronheiro |
Arbutus unedo L. |
* |
Salgueiro-branco |
Salix alba L. |
* |
Sobreiro |
Quercus suber L. |
* |
Choupo |
Populus alba L. |
* |
Loureiro |
Laurus nobilis L. |
* |
Amieiro |
Alnus glutinosa (L.) Gaertner |
* |
(* Não existem dados disponíveis)
Fonte: CMMC 1993/IFN/Elaboração própria
No que toca ao estrato arbustivo, encontramos um vasto conjunto de espécies, resumido no quadro 2. Muita desta vegetação ocupa actualmente áreas que arderam nos últimos anos, sendo, portanto, uma sucessão degradada. Outra parte importante da vegetação deste tipo localiza-se nas cotas mais altas da Serra da Lousã sofrendo influências da altitude e da gestão florestal actual.
Quadro 2: Espécies arbustivas e herbáceas do concelho de Miranda do Corvo2
Gilbardeira |
Ruscus aculeatus L. |
Tojo |
Ulex europaeus L. e Ulex minor Roth |
Pilriteiro |
Crataegus monogyna Jacq. |
|
|
Estevas |
Cistus ladanifer L. |
Trovisco |
Daphne gnidium L. |
Sargaços |
Cistus salvifolius L. |
Cardo |
Cynara cardunculus L. |
Carqueja |
Chamaespartium Tridentatum (L.) Willk |
Giesta |
Cytisus striatus (Hill) Rothm |
|
Giesta-brava |
Cytisus scoparius (L.) Link |
|
Urze-vermelha |
Erica australis L. |
Hera |
Hedera helix L. |
Funcho |
Foeniculum vulgare Miller |
Candeias |
Arisarum vulgare Targ.-Tozz |
Torga |
Calluna vulgaris (L.) Hull |
Ervas-finas |
Agrostis truncatula, Parl. |
Rosmaninho |
Lavandula luisieri L. |
|
|
Fonte: CMMC 1993
Relativamente à fauna, o concelho apresenta espécies selvagens cinegéticas e não cinegéticas (Quadro 3). Estas espécies dispersam-se por vários habitats identificados no concelho, nomeadamente os charcos temporários mediterrânicos, os cursos de água dos pisos basal a montano, as charnecas húmidas, as formações herbáceas de Nardus L., ricas em espécies em substratos siliciosos das zonas montanhosas, as florestas aluviais de Alnus glutinosa (L.) Gaertner e Fraxinus excelsior, de Carvalhais galaico-portugueses e florestas de castanheiros.
Quadro 3: Espécies de fauna existentes no concelho de Miranda do Corvo3
Espécies cinegéticas |
|||
Perdiz-comum |
Alectoris rufa |
Coelho-bravo |
Oryctolagus cuniculus |
Corço |
Capreolus capreolus |
Rola-comum |
Streptopelia turtur |
Veado |
Cervus elaphus |
Javali |
Sus scrofa |
Pombo-torcaz |
Columba palumbus |
Tordo-ruivo |
Tardus iliacus |
Lebre |
Lepus capenses |
Tordo-comum |
Tardus philomelus |
Espécies não cinegéticas |
|||
Falcão-peregrino |
Falco peregrinus |
Poupa |
Upupa epops |
Milhafre-preto |
Milvus migrans |
Ouriço-cacheiro |
Erinaceus europaeus |
Melro-preto |
Tardus merula |
Doninha |
Mustela nivalis |
Pintassilgo |
Carduelis carduelis |
Rato-do-campo |
Apodemos silvaticus |
Corvo |
Corvus corvax |
Rato-comum |
Rattus norvegicus |
Cuco-canoro |
Cuculus canorus |
Texugo |
Meles meles |
Pisco-de-peito-ruivo |
Erithacus rubecula |
Raposa |
Vulpes vulpes |
Gaio-comum |
Garrulus glandarius |
Salamandra-lusitânica |
Chioglossa lusitanica |
Mocho-galego |
Athene noctua |
Lagarto-de-água |
Lacerta schreiberi |
Pardal-comum |
Passer domesticus |
Ruivaco |
Rutilis macrolepidotus |
Coruja-do-mato |
Strix aluco |
Borboleta |
Euphydryas aurinia |
Coruja-das-torres |
Tyto alba |
Bolrboleta |
Euplagia quadripunctaria |
Carriça |
Troglodytes troglotytes |
|
|
Fonte: CMMC 1993
Analisando os ortofotomapas relativos à área do concelho, verificamos que, quer nas áreas agrícolas, quer florestais, domina claramente a propriedade privada de estrutura minifundiária.
Entre os principais acessos encontramos a Estrada da Beira (EN 17), que liga os concelhos de Arganil, Vila Nova de Poiares, Lousã e Miranda do Corvo a Coimbra. Destacamos também a EN 342, que liga Condeixa a Lousã, quase até Góis, acesso em muito bom estado. Além destes dois acessos também existe a estrada nacional (EN 17-1) que atravessa o concelho num sentido praticamente Norte-Sul, perpendicularmente às duas estradas acima mencionadas. Por fim temos as estradas municipais que ligam todas as localidades do concelho e que se encontram, regra geral, em bom estado, necessitando, no entanto, de intervenção em alguns locais.
A nível ferroviário existe uma linha de comboio centenária, pertencente ao Ramal da Lousã, que apenas abrange a freguesia de Miranda do Corvo e que, apesar de servir uma grande fatia da população (note-se que a linha passa no interior da sede de concelho), esta apenas serve uma faixa estreita do total da área do concelho4.
1 Esta área do concelho ocupa apenas o sector mais a sul do Maciço Marginal, o qual se insere em apenas uma parte do Rebordo Montanhoso do Maciço Antigo.
2 Não foram encontrados dados relativos às percentagens de ocupação do território das espécies arbustivas e herbáceas.
3 Não foram encontrados dados relativos às percentagens de ocupação do território das espécies cinegéticas e não cinegéticas.
4 Actualmente o Ramal da Lousã está a ser sujeito a obras de requalificação, no sentido de passar a integrar a rede do Metro Mondego, o que obriga à procura de transporte alternativo, nomeadamente o autocarro.
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1647 - Investigaciones socioambientales, educativas y humanísticas para el medio rural Por: Miguel Ángel Sámano Rentería y Ramón Rivera Espinosa. (Coordinadores) Este libro es producto del trabajo desarrollado por un grupo interdisciplinario de investigadores integrantes del Instituto de Investigaciones Socioambientales, Educativas y Humanísticas para el Medio Rural (IISEHMER). Libro gratis |
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