Paulo Carvalho
paulo.carvalho@fl.uc.pt
A presente obra pretende divulgar e disponibilizar um conjunto de trabalhos com
génese em processos de investigação relacionados com cursos de Mestrado
(Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra e Escola Superior de Hotelaria e
Turismo do Estoril - Portugal), nas áreas temáticas de Geografia (Ordenamento do
Território e Desenvolvimento) e Turismo (Gestão Estratégica de Destinos
Turísticos).
A orientação e a participação nas tarefas de investigação, permitiu estabelecer parcerias como a apresentação de comunicações em eventos científicos e a publicação de textos. O intuito de alargar a difusão das nossas ideias e chegar a públicos mais diversificados (estudantes, docentes, investigadores, técnicos, gestores, políticos, entre outros) encontrou nesta plataforma um meio de enorme relevância para concretizar estes objectivos estratégicos.
O critério de selecção e o fio condutor dos textos reunidos neste volume revelam a primazia do turismo e a ligação ao desenvolvimento (dinâmicas e perspectivas) em contextos de baixa densidade, em particular ambientes rurais e de montanha, através de quatro estudos de caso na Região Centro de Portugal.
A estrutura do livro deixa antever um alinhamento de matérias que começam com exemplos de iniciativas vinculadas ao turismo e património em contexto rural de montanha, avançam para o turismo de passeio pedestre e as suas configurações espaciais mais recentes, e contemplam as estratégias para promover o termalismo e o turismo de saúde e bem-estar.
A organização dos textos reflecte a preocupação de contextualizar e sedimentar as temáticas em análise/discussão, através de uma articulação de escalas (global, internacional e nacional), com as principais referências internacionais em matéria de trabalhos publicados, e ainda aprofundar ou explicitar as linhas orientadoras por via de componentes empíricas centradas em escalas de análise regional e local.
Em relação aos conteúdos abordados, é importante realizar um ponto de situação no sentido de explicar, de forma breve mas concisa, o estado da arte. Apesar de as práticas turísticas remontarem a tempos recuados, apenas nas últimas décadas se verifica uma verdadeira organização e sistematização do turismo, de tal forma que o turismo moderno, na perspectiva das facetas que hoje se reconhecem, tem pouco mais de cinco décadas. Em particular é a segunda metade do século passado que marca o enraizamento e uma fase de grande crescimento e diversificação da actividade turística no plano internacional.
Desde o início dos anos 50 (do século XX) até aos nossos dias, o número de turistas internacionais cresceu de forma espectacular: 25 milhões (1950), 170 milhões (1970), 500 milhões (1990), 698 milhões (2000) e 940 milhões (2010). As previsões mais recentes da Organização Mundial do Turismo, divulgadas em Outubro de 2011, apontam para cerca de 1800 milhões em 2025. Contudo, o ritmo de crescimento será mais moderado que em décadas anteriores: 3.3%/ano o que equivalente a um valor absoluto de 43 novos milhões de turistas internacionais.
No período em análise, o turismo assumiu, de modo crescente, a importância de uma das principais e mais promissoras actividades económicas a nível mundial. Em Portugal, como reconhece o “Plano Estratégico Nacional do Turismo” (publicado no Diário da República, 1ª série, nº 67, de 4 de Abril de 2007), o turismo é um dos principais sectores da economia nacional, «tendo o seu peso na economia vindo a crescer nos últimos anos (11% do PIB em 2004)», empregando cerca de 11% da população activa.
Esta trajectória ascendente, justificada pela conjugação de diversos factores de progresso e bem-estar material e imaterial, é acompanhada de importantes alterações na configuração e estruturação da actividade turística, e de mudanças de comportamento dos turistas. De igual modo, o interesse crescente dos lugares no sentido de captar fluxos turísticos conduziu a importantes preocupações designadamente no que ao planeamento do turismo diz respeito.
Com efeito, a segmentação e a especialização dos mercados turísticos, as mudanças qualitativas que se desenham em termos de comportamento dos turistas, as orientações e os quadros normativos internacionais no âmbito do desenvolvimento e do património, entre outros factores, explicam a pertinência das preocupações em matéria de planeamento e sustentabilidade do turismo, tendo em vista reduzir as suas externalidades negativas, preservar os recursos e distribuir de forma equitativa os seus benefícios.
O património, conceito multidimensional e de crescente amplitude e plasticidade temática (no amplo espectro das dimensões tangíveis e intangíveis), destaca-se como recurso diferenciador dos territórios e pode ser utilizado para obter vantagem no quadro da competição entre os lugares, por via de estratégias inovadoras que tendem a envolver agentes/operadores públicos e privados (cada vez mais em regime de parceria e segundo uma lógica de rede), no desenho de novos produtos de turismo (como, por exemplo, nas vertentes ecológica e cultural) destinados a captar segmentos específicos da procura turística.