Roberto Mauro da Silva Fernandes
A Guerra do Paraguai foi um dos eventos mais sangrentos da história da América do Sul, mas inúmeros relatos sobre essa conjuntura foram realizados com um viés deliberadamente ideológico, com imparcialidades que tentam apontar alguns culpados, sem levar em consideração a colaboração de uma série fatores que estavam circunscritos ao contexto que originou o conflito. Assim, a nossa intenção é dar uma contribuição no sentido de tentar desconstruir algumas narrativas que “satanizaram” o conflito platino como uma conjuntura militar na qual estavam envolvidos “mocinhos” e “bandidos”. Fazemos alusão aos discursos que estigmatizou a Grã-Bretanha como grande idealizadora de uma guerra “contra” o Paraguai, aquela que possuía um inexorável interesse em destruir o Estado Paraguaio, supostamente, pois o último estava se transformando numa séria “ameaça” ao sistema de poder britânico na América do Sul. Veremos que a deflagração do conflito platino não se deu exatamente por esse motivo, outras questões no século XIX contribuíram para a sua eclosão. A concorrência comercial entre o governo Imperial brasileiro e o Estado Paraguaio, as disputas políticas internas na Bacia Platina pelo controle da região, a conjuntura econômica mundial no século XIX, a indústria de guerra norte-americana, assim como, a expansão política e militar dos Estados Unidos pelas Américas, foram alguns dos fatores preponderantes para que a Guerra do Paraguai fosse desencadeada. Não faremos uma abordagem cronológica dos eventos que fizeram parte do conflito, ou seja, não iremos descrever os fatos que desenharam a Guerra do Paraguai, analisaremos alguns fatores que foram importantes para a sua deflagração, como também, apresentaremos algumas hipóteses que demonstram que os britânicos não foram os grandes culpados pela eclosão da Guerra do Paraguai. Dessa forma, primeiramente contextualizaremos a relação dos Ciclos sistêmicos da economia mundial com os Ciclos de guerra, fazendo uma inserção desses processos à economia e a política da América do Sul no século XIX. Para sermos mais específicos, faremos uma análise dos Ciclos Longos de Kondratieff, na sua segunda “Onda K” (1843-1896), período que se caracterizou por um processo de ascensão econômica mundial de 1843 a 1864 e por uma fase de baixa entre 1864 e 1896. Assim, poderemos verificar até que ponto esses ciclos de flutuações econômicas influenciaram o desenrolar do conflito que envolveu o Império do Brasil, os demais Estados Platinos, os Estados Unidos e a Grã-Bretanha. Adiantamos que os processos econômicos são importantes para se entender a Guerra do Paraguai e qualquer processo conjuntural que leve a uma reviravolta na ordem política, social, infra-estrutural, geopolítica, etc., de âmbito local, regional ou global. Não que os mesmos sejam os principais condicionantes para entendermos determinadas transformações sociais, políticas, culturais, mas, tais processos contribuem para o engendramento das territorializações de determinados grupos, sobretudo, naquelas relacionadas às políticas de Estado.