OLHARES SOBRE O ESTADO DO TOCANTINS: ECONOMIA, SOCIEDADE E MEIO AMBIENTE
Yolanda Vieira De Abreu (editora)
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A maior parte dos fitoterápicos feitos pelos Krahô é administrada na forma de chás, feitos com uma ou várias partes das plantas, inteiras ou raladas. O xamã também pode aplicar topicamente, sobre o corpo dos pacientes, partes dos vegetais ou usá-las para preparar cigarros, banhos ou inalações. Em alguns casos, folhas e raízes de algumas plantas são consumidas pelos doentes, pois os índios acreditam que as propriedades terapêuticas estejam no sumo desses vegetais. Durante o exercício de sua função, os xamãs, denominados wajacas em timbira, fumam cachimbos recheados de tabaco, maconha ou outras plantas alucinógenas. A fumaça é assoprada sobre os pacientes e dependendo do caso, o wajaca pode espalhá-la pelo corpo do doente, a fim de "visualizar" melhor o mal; ou concentrá-la num único ponto para poder "puxar" o mal, extraindo a enfermidade-feitiço do organismo em sofrimento. No dia seguinte a esse ritual, praticado geralmente à noite, os xamãs formulam a receita com as plantas que, em sua visão, vão ajudar o colega da aldeia. Para acompanhar o efeito de seus preparados, passam a visitar a casa dos seus pacientes e se uma receita não funciona tentam outra. A morte é vista por eles como fruto de um acidente, feitiço ou doença.
5.4 . Os Krahôs e a UNIFESP
Os pesquisadores da Unifesp resolveram estudar o emprego de fitoterápicos entre os Krahô, presentes unicamente no Tocantins, porque esse povo foi o que mais se aproximou do perfil desejado: estava num bioma cuja flora é pouco estudada do ponto de vista etnofarmacológico. Além disso, a etnia preenchia outros três requisitos fundamentais: valia-se de rituais e plantas alucinógenas durante suas práticas medicinais; tinha, entre seus membros, especialistas em práticas de cura e se encontrava numa área isolada geograficamente, sem acesso à rede pública de saúde. Uma das pesquisadoras comenta que muitos índios nem sabem o que é a Novalgina. A maior cidade próxima das aldeias Krahô é Carolina, no sul do Maranhão, com 24 mil habitantes, distante cerca de 12 horas de carro. A viagem, por estradas de terra, só pode ser feita em um veículo com tração nas quatro rodas, geralmente uma picape. Esse contato com os pesquisadores da Unifesp, criou alguns problemas para a tribo. Segundo os caciques durante a realização da pesquisa, o atendimento aos índios com problemas de saúde piorou bastante. Como os pajés dessas aldeias estavam envolvidos na pesquisa, faltava tempo para atender os enfermos e como agora eles estavam recebendo um salário da UNIFESP, eles passaram também a cobrar em dinheiro (R$150,00) para atender os índios com problemas de saúde. Valor que muitos integrantes não tinha e que antes era pago através de favores, animais, carne de caça, armas para caça e alimentos em geral. Vale lembrar que essa quantia era muito alta se levarmos em conta o poder aquisitivo dos Krahô. Por essas e outras razões, os índios decidiram parar a pesquisa em todas as aldeias Krahô e ir para a mesa de negociação pedir maiores esclarecimentos sobre a pesquisa e o contrato, o que culminou na apresentação e elaboração do plano de vitalização da medicina Krahô, como condição única para a continuidade da relação entre eles.
6. Novos Desafios
Atualmente os Krahô enfrentam novos desafios, porém o mais importante é conseguir manter viva a sua cultura e seus costumes. Hoje muitos dos seus integrantes estudam na Universidade Federal do Tocantins, que destina parte de suas vagas do vestibular para os alunos indígenas do Estado. No Tocantins existem sete nações indígenas e todas podem enviar seus membros para disputar as vagas destinadas a eles ou não. Muitos estão fazendo Direito, Economia, Letras e outras especialidades, porém, ainda sobram vagas das destinada a eles. Sua sociedade tem progredido econômicamente e muitos tem seu próprio negócio na cidade. Estão em constante contato com a sociedade capitalista, o que tende a influenciar seus costumes e valores. Quanto ao conhecimento da biodiversidade, que está sob seu domínio, é a maior riqueza que possuem e que é passada de geração em geração, mas tende a se perder caso os mais novos não se interessem em aprender os usos e costumes de seus antepassados.
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SOUSA, Helder Ferreira de. Os líderes Craôs no limiar do século XXI - Brasília : UnB, 2000. 103 p. (Dissertação de Mestrado). 1A caracterização do Estado do Tocantins foi realizada com dados das seguintes fontes: informações históricas disponíveis na página eletrônica do Governo do Estado do Tocantins (http://www.seplan.to.gov.br/), dados sobre população e PIB disponíveis na página eletrônica do IBGE (http://www.ibge.gov.br/), a Constituição Federal de 1988 disponíveis na página eletrônica da Presidência da República (http://www.planalto.gov.br/). 2Disponível em: <http://www.furnas.com.br/hotsites/sistemafurnas/usina_hidr_peixe.asp>. Acesso em: 15 mai. 2009. 3 Bacharel em Geografia pela Universidade Federal do Tocantins -UFT. Mestre em Geografia pela Universidade Federal da Grande Dourados - UFGD - e Pesquisador do NURBA/UFT. 4 - Companhia de Desenvolvimento do Tocantins. 5 Este texto foi retirado e modificado da monografia de Produção de Soja no Estado do Tocantins: Aspectos de Competitividade entre os Municípios de Dianópolis e Pedro Afonso de Aline Cardoso Almeida. Trabalho de Conclusão de Curso, apresentado à Faculdade Federal do Tocantins - UFT - Campus de Palmas, para a obtenção de Bacharel em Ciências Econômicas, 2007. 6 Economista, formada pelo Curso de Ciências Econômicas da UFT/TO - alicar18@gmail.com 7 Professora Adjunta da UFT/TO no Curso de Ciências Econômicas e no Mestrado de Agroenergia da UFT, Campus de Palmas - yolanda@uft.edu.br. 8 Texto retirado e modificado da Monografia (TCC) defendida na Universidade Federal do Tocantins, Curso de Ciências Econômicas por GONÇALVES, Clevson Almeida Análise do Sistema Nacional de Emprego de Palmas (TO) como Intermediador de mão-de-obra e Fonte de Renda., Palmas-TO, 2008. 9 Economista, formada pelo Curso de Ciências Econômicas da UFT/TO 10 Um dos maiores indigenista que o país já teve, Nimuendajú nasceu em Jena, na Alemanha, em 1883. Seu sobrenome era Unkel. Veio para o Brasil em 1903 onde esteve em pesquisa de campo até 1942. Veio a falecer em 1945.