Christian Q. Pinedo
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Existe um conjunto N chamado de “conjunto dos números naturais”' para o qual os seguintes axiomas (chamados axiomas de Peano) são verificados:
Axioma 5.2
Ao conjunto N, dos números naturais, pertence o zero 0.
Axioma 5.3
A todo número natural n corresponde outro número natural único, chamado o sucessor de n o qual representamos por n^* = n+1.
Axioma 5.4
Dois números naturais distintos, tem sucessores distintos.
Axioma 5.5
O zero não é sucessor de nenhum número natural.
Axioma 5.6
Se A é uma parte de N que tem por elementos o zero e o sucessor de todo número natural n, então A = N.
Assim, pelo Axioma (5.2) o conjunto de números naturais N é não vazio e fica determinado pela seguinte coleção:
N = { 0, 1, 2, 3, 4, 5, . . . , n , . . . , }
Denotamos o conjunto dos números naturais positivos por:
N+ = { 1, 2, 3, 4, 5, . . . , n , . . . , }.
Exemplo 5.2
• O conjunto N de números naturais é indutivo, pois 0 é um número natural e n+1 também é natural para todo n natural.
• O conjunto de todos os números inteiros é indutivo.
• O conjunto {0, , 1, , 2, , . . . } é indutivo
Observação 5.1
1. Denotamos o antecessor de qualquer número natural n N^+ como *n; e este número satisfaz a igualdade: *n +1 = n.
2. Denotamos o consecutivo de qualquer número natural n N como n*; e este número satisfaz a igualdade: n* = n +1.
Propriedade 5.2
Para qualquer números naturais m, e n tem-se:
i)} m n m* n*.
ii) n n*.
iii) n 1 p N, tal que p*=n.
Demonstração. i)
Suponhamos que m n e m* n*, então pelo Axioma (5.4) teremos m = n, contrariando a hipótese.
Demonstração. ii)
Seja A ={ m N /. m m* } , pelo Axioma (5.2) temos que 0 N logo 0 A, e se m A, pela definição de A temos que m m* e conseqüentemente pela parte i), segue que m* (m*)* , logo m* A e pelo Axioma (5.6) vamos ter que A = N.
Portanto, para todo n N tem-se que n n*.
Demonstração. iii)
Seja A = {0} { n N /. m, n N tal que n = m* }.
Por definição de M, temos que 0 A. Por outro lado, se n M, com n 0, tem-se que n = m*, para algum m N.
De onde n* = (m*)* e n^* é o sucessor de m*, logo n* A e pelo Axioma (5.6) segue que A= N.
5.2.1 Indução matemática.
Em matemática, muitas definições e proposições se realizam utilizando o “princípio de indução matemática”. A generalização de uma propriedade após verificação de que a propriedade é válida em alguns casos particulares, pode conduzir a sérios enganos como mostra o seguinte exemplo:
Exemplo 5.3
Considere a relação f(n) = 2^{2n}+1 definida para todo n N.
Temos que, quando:
n = 0 então f(0) = 2^{2^0} + 1 = 3
n = 1 então f(1) = 2^{2^1} + 1 = 5
n = 2 então f(2) = 2^{2^2} + 1 = 17
n = 3 então f(3) = 2^{2^3} + 1 = 257
n = 4 então f(4) = 2^{2^4} + 1 = 65537
Observe que todos aqueles números encontrados são números primos; P. Fermat (1601 - 1665) acreditou que a fórmula f(n) representaria números primos qualquer que fosse o valor positivo para n N, pois esta indução era falsa, Euler (1707 - 1783) mostrou que para n = 5 resulta f(5) = 4294967297 = 641 6700417, logo a afirmação de P. Fermat foi precipitada.
Exemplo 5.4
Consideremos a relação f(n) = n^2 + n + 41 definida para todo n N, observe que, para valores menores que 40, f(n) é um número primo.
Com efeito, se n = 1, f(1) = 43; se n = 2, f(2) = 47; se n = 3, f(3) = 53; . . . ; se n = 39 , f(39) = 1601. Porém se n = 40 temos f(40) = 402 + 40 + 41 = (41)(41) não é primo, mostrando que a sentença é falsa. Em 1772 Euler mostrou que f(n) = n2 + n + 41 assume valores primos para n = 0, 1, 2, 3, . . . , 39.
Euler observando que f(n-1) = f(-n) mostrou que n^2 + n + 41 assume valores primos para 80 números inteiros consecutivos, sendo estes inteiros: n = -40, -39, -38, . . . 0 , 1, 2, 3, . . . 38, 39; substituindo a variável n por n - 40 temos f(n-40) = g(n) = n2 - 79n + 1.601; logo g(n) = n2 - 79n + 1.601 assume valores primos para todos os números naturais de 0 até 79.
Exemplo 5.5
A sentença:
“2n + 2 é a soma de dois números primos”.
é uma sentença verdadeira para n = 1, n = 2, n = 3, n = 4, . . . e, como nos exemplos anteriores após muitas tentativas, não achamos algum número natural que a torne falsa.
Ninguém até hoje, achou um número natural que tornasse a sentença falsa e ninguém, até hoje, sabe demonstrar que a sentença é sempre verdadeira. Esta famosa sentença conhecida como conjetura de Goldbach feita em 1742, em uma carta dirigida a Euler diz:
“Todo inteiro par, maior do que 2, é a soma de dois números primos”.
Não sabemos até hoje se esta sentença é verdadeira ou falsa.
Em resumo, dada uma afirmação sobre números naturais, se encontramos um contra-exemplo, sabemos que a afirmação não é sempre verdadeira.
E se não achamos um contra-exemplo? Nesta caso, suspeitando que a afirmação seja verdadeira sempre, uma possibilidade é tentar demonstrá-la recorrendo ao princípio de indução; é necessário portanto, dispor de um método com base lógica que permita decidir sobre a validade ou não de uma determinada indução, isto esta garantido com a seguinte proposição:
Propriedade 5.3 1º. princípio de indução matemática.
Se P(n) é uma proposição enunciada em termos de n, para n N tal que:
1º. P(0) é verdadeiro
2º. Para todo h N P(h) é verdadeiro, implica P(h+1) é verdadeiro.
Então P(n) é verdadeiro n N.
Demonstração.
Com efeito, seja A={ n N /. p(n) é verdadeira }. Conforme as hipóteses 1º. e 2º. acima temos que 0 A e se k A então k+1 A ou seja as condições do Axioma (5.6) estão satisfeitas.
Portanto A coincide com o conjunto de todos os números naturais, isto é p(n) é verdadeira para todo número natural n.
Os números naturais são fechados respeito às operações de adição e multiplicação. As operações de subtração e divisão para números naturais, não se aplica; caso contrario teríamos que subtração e divisão de números naturais é um natural; isto último é um absurdo.
5.2.2 Adição de números naturais.
Definição 5.4 Adição.
Para todo m, n N, a adição em N, é uma aplicação:
+ : N N N
(m, n) +(m, n)
simplesmente denotamos +(m, n) como a+b e satisfaz o seguinte axioma:
Axioma 5.7
• Para todo n N, n + 0 = n
• Para todo (m, n) N N, n + m* = (n+m)*
Propriedade 5.4
O número zero é o elemento neutro para adição em N.
Demonstração.
A propriedade é verdadeira para n = 0, isto é 0 + 0 = 0, o zero é neutro à direita.
Suponhamos que a propriedade seja verdadeira para todo n N; isto é 0 + n = n
Mostrarei que a propriedade é válida para o sucessor de n; isto é para n*.
Por definição de adição 0 + n* = (0+n)*, e pela hipótese de indução 0 + n = n, logo 0 + n^* = (0+n)* = n*, e esta propriedade é verdadeira para n^*.
Portanto, pelo axioma de indução (Axioma (5.6)) a propriedade é verdadeira para todo n N.
Propriedade 5.5
Se o sucessor de zero é 1, então para todo n N, n* = n+1.
Demonstração.
Com efeito, pela hipótese temos que 0* = 1
Como n + 1 = n + 0^* = (n + 0)*, isto implica pela Propriedade (5.4) que n + 1 = n*.
Propriedade 5.6 Associativa.
A operação de adição + em N, é associativa; isto é:
Para todo m, n, p N, (m+n)+p = m+ (n+p).
Demonstração.
Por indução sobre p.
Esta propriedade é verdadeira para p = 0.
(m + n ) + 0 = m + (n + 0) . . . def. de adição.
Suponhamos para todo p, seja verdadeira. . . . hipótese de indução.
Mostrarei que a propriedade é válida para p*.
(m+n)+p* = ((m+n)+p)* . . . def. de adição.
= (m+(n+p))* . . . hipóteses de indução.
= m + (n+p)* . . . definição de adição.
= m + (n+p*) . . . definição de adição.
Pelo axioma de indução concluímos que esta propriedade é válida para todo número n N.
Propriedade 5.7 Comutativa.
A lei + é comutativa; isto é para todo m, n N temos que m + n = n + m.
Demonstração.
Exercício para o leitor.
Propriedade 5.8
Em N, nenhum elemento distinto de zero tem simétrico para a adição; isto é m + n = 0 então m = 0 e n = 0.
Demonstração.
Seja m + n = 0. . . . hipótese.
Suponhamos que n 0 . . . hipótese auxiliar.
Logo n tem um antecessor ^*n . . . def. de antecessor.
Assim, n= *n+1.
Por conseguinte, m + n = m + (*n+1) . . . substituição.
m + n = (m + *n) + 1 . . . associatividade
m + n = (m+*n)* . . . def. de sucessor.
Então m + n = 0 = (m+*n)*, isto implica que zero é o sucessor de algum número. Isto é absurdo ao Axioma (5.5).
Portanto supor n 0 é errado; n tem que ser zero, e pelo Axioma (5.6) resulta m = 0.
Propriedade 5.9 Cancelamento.
Todo número natural é regular para a adição, isto é: n N se, a + n = b + n, então a = b.
Demonstração.
A demonstração é por indução sobre n, e utilizamos o fato da aplicação f de N em N definida por f(n) = n+1 ser injetiva.
A propriedade é verdadeira para n = 0: a+0 = b + 0 então a = b.
Suponhamos que seja verdadeira para n N, a + n = b + n , então a = b.
Mostrarei que a propriedade é válida para n*
Seja a+n* = b + n*, ou (a+n)* = (b+n)* . . . def. de adição.
Como f é injetiva segue de f(a+n) = f(b+n), então a + n = b + n implica a = b, segundo a hipótese de indução.
5.2.3 Relação de ordem em N.
Definição 5.5
1. Sejam os números m, n N, dizemos que ``m é maior que n'' e escrevemos m > n, se existe x N tal que m = n+x.
2. Sejam os números a, b N, dizemos que ``a é menor que b'' e escrevemos a < b, se existe y N tal que a+y = b.
Propriedade 5.10
Sejam m, n N então:
i) m<n e n < p, então m < p. . . . transitividade
ii) m<n se, e somente se m+p<n+p . . . monotonicidade
Demonstração. i)
Por hipótese m<n e n < p, logo existem números naturais r e t, tais que n=m+r e p=n+t.
Assim, p=n+t = (m+r)+t = m+(r+t) de onde p > m.
Portanto, m < p.
Demonstração. ii)
Se m<n, então existe r N tal que n = m+r, logo n+p=(m+r)+p = m+(r+p) = m+(p+r)=(m+p)+r e portanto, m+p < n+p.
Inversamente.
Se m+p < n+p, então existe t N tal que n+p = (m+p)+t = m+(t+p) = (m+t)+p , assim n = m+t, de onde m < n.
Observação 5.2
A relação < é transitiva, porém não é reflexiva e nem simétrica.
Propriedade 5.11 Lei de tricotomia.
Se m, n N uma e somente uma das seguintes alternativas é verdadeira:
i) m = n ii) m < n iii) m > n
A demonstração desta propriedade é exercício para o leitor.
Definição 5.6
Dados m n N, diz-se que m é menor ou igual que n e escrevemos m n se, m<n ou m=n.
Analogamente define-se a relação m n (maior ou igual).
Definição 5.7
Seja A um subconjunto de N. Dizemos que m N é o menor elemento de A se:
i) m A.
ii) m n para todo n A.
Propriedade 5.12 Princípio da boa ordem.
Se A é um subconjunto não vazio de números naturais, então A possui um menor elemento.
Demonstração.
Seja A N, A . Se 0 A, então 0 é o menor elemento de A.
Suponhamos então que 0 A e que A não tenha menor elemento m N. Isto vai levar a uma contradição.
Como m não é o menor elemento de A, segue-se que m A ou existe n A tal que n < m.
Seja B = { n N /. m n onde m A }, é imediato que A B = , caso contrario, se existe p A B, então p A e p B implica p p onde p A . Isto é contradição; logo A B= .
Por outro lado, 0 B, pois por hipótese 0 A .
Suponhamos então que n B, como m A, se m n então n* A caso contrario n* seria um menor elemento para A. Assim, se m n^* tem-se que m A e n* B.
Mostramos que 0 B e que n B implica n* B, podemos concluir pelo princípio de indução generalizada para segue que B = N, mas A B = e como B = N segue que A = .
Por redução ao absurdo segue que todo subconjunto não vazio A N possui um menor elemento.
Propriedade 5.13
Seja A subconjunto de números naturais tais que k A e m* A, para todo m k em A. Então, A contém todos os números naturais n k.
Demonstração.
Seja B = { 0, 1, 2, . . . , s } A onde s é tal que s*=k.
Tem-se que 0 B, suponhamos que n B, então n* B; logo pelo princípio de indução (Propriedade (5.3)) segue que B = N.
Portanto, A contêm todos os números naturais n k.
Assumindo o princípio da boa ordem como axioma, podemos enunciar o princípio de indução generalizada.
Propriedade 5.14 2º. princípio de indução matemática.
Seja P(n) é uma proposição enunciada para n N tal que:
1º. Para n_0 0 tem-se que P(n_0) é verdadeira.
2º. Se P(h) é verdadeiro para h > n_0, implica P(h+1) é verdadeiro.
Então P(n) é verdadeiro n N, tal que n n0.
Demonstração.
Consideremos A = { n N /. P(n) é proposição falsa }, então A N e CN (A) N, onde CN (A) = { n N /. P(n) é proposição verdadeira }.
Pelo princípio da boa ordem (Propriedade (5.12)) o conjunto CN (A) possui um menor elemento n0, como n0 A então a proposição P(n_0) é verdadeira, logo em virtude da 1º. hipótese n0 0.
Para h > n_0 se P(h) é verdadeira, implica que também P(h*) é verdadeira, logo h* CN (A) de onde h* n_0 em CN (A).
Em virtude da Propriedade (5.13) segue que CN (A) contém todos os naturais n n0.
Portanto, P(n) é verdadeiro n N, tal que n n0.
Exemplo 5.6
Utilizando o princípio de indução matemática, mostre que:
3[12+32+52+ . . . + (2n-1)2] = n(4n2-1) n N, n 0
Solução.
Seja S o conjunto dos números naturais que satisfazem:
3[12+32+52+ . . . + (2n-1)2] = n(4n2-1) (5.2)
Se n = 2 tem-se de (5.2) que, 3[12+32] = (2)(3)(5) = 30, logo a proposição é verdadeira.
Suponhamos para h S em (5.2) a seguinte igualdade seja verdadeira.
3[1^2+3^2+5^2+ . . . p + (2h-1)^2] = h(4h^2-1) (5.3)
Para h+1 S tem-se pela hipótese auxiliar (5.3) que:
3[12+32+52+ . . . + (2h-1)2 + (2h+1)2] =
h(4h2-1)+ 3(2h+1)2= (h+1)(2h+1)(2h+3)
Portanto, S = N e a fórmula (5.2) é válida n N, n 0.
Exemplo 5.7
Mostre que, para todo número real (1+x)n -1 e para qualquer natural n N então tem-se a desigualdade (1+x)n 1 + nx.
Demonstração.
Seja S o conjunto de números naturais para os quais (1+x)^n 1 + nx.
1º. 1 S pois, (1+x)^1 1 + (1)x.
2º. Se h S, temos que (1+x)^h 1 + hx, então (1+x)^{h+1} = (1+x)(1+x)^h (1+x)(1+hx) 1 + x + hx + hx^2 1 + (h+1)x.
Logo, se h S então (h+1) S.
Aplicando o princípio de indução matemática temos que S = N.
5.2.4 Multiplicação de números naturais.
Definição 5.8 Multiplicação em N.
Para todo m, n N, a multiplicação em N, é uma aplicação:
• : N N N
(m, n) •(m, n) =m n
simplesmente denotamos • (m, n) como m n e satisfaz o seguinte axioma:
Axioma 5..8
1. Para todo n N, n 1 =n.
2. Para todo (m, n) N N, m n* = m n + m.
Propriedade 5.15
O número zero satisfaz 0 n = n 0 = 0.
Demonstração.
Por indução sobre n.
Esta propriedade é verdadeira para n = 0, portanto 0.0 = 0 por definição de multiplicação.
Suponhamos seja verdadeira para n, logo:
0 n = 0 . . . hipótese auxiliar.
Mostrarei que é válida para n*.
0 n* = 0 n + 0 . . . def. de multiplicação.
= 0+ 0 . . . hipótese de indução.
Segundo o axioma de indução, a propriedade é verdadeira para todo n N.
Propriedade 5.16 Elemento neutro multiplicativo.
O número 1 é o elemento neutro para a multiplicação, isto é, n N, 1 n = n 1 = n.
Demonstração.
É suficiente mostrar que 1 é elemento neutro à direita.
Com efeito, se n=1 tem-se que 1 1 = 1 o qual é verdadeiro.
Suponhamos para h > 1, que 1 h = h . Mostrarei que 1 h* = h*.
Aplicando a hipótese indutiva, observe que 1 h* = 1 h + 1 = h+1 = h^*.
Portanto, o número 1 é o elemento neutro para a multiplicação.
Propriedade 5.17
O conjunto dos números naturais é fechado respeito da multiplicação; isto é, para todo m, n N tem-se m n N.
Demonstração.
Suponhamos n seja número natural arbitrário fixo, e consideremos a proposição: P(m) : n m N, para todo m N.
Assim, P(1) : n 1 = n N é verdadeira, pois n 1 = n.
Suponhamos que para algum h N a proposição P(h) : n h N seja verdadeira.
Logo, pelo Axioma (5.8) e hipótese indutiva, segue que n h* = n h + n é verdadeira. Isto é n h* N.
Portanto, o conjunto dos números naturais é fechado respeito da multiplicação.
Propriedade 5.18
Quaisquer que sejam os números naturais m e n, tem-se que m* n = mn + n.
Demonstração.
Exercício para o leitor.
Propriedade 5.19 Comutativa.
A multiplicação é comutativa; isto é para todo (m, n) N N, temos mn = n m.
Demonstração.
Esta propriedade é verdadeira para n = 0
m. 0 = 0. m . . . Propriedade (5.5)
Suponhamos verdadeira para n, então m n = n m . . . hipótese auxiliar.
Mostrarei que é válida para n*
m n* = m n + m . . . def. de multiplicação.
= n m+m . . . hipótese de indução.
= n* m . . . Propriedade (5.18)
Pelo axioma de indução, segue que a propriedade é válida n N.
Existe uma propriedade em N que relaciona ambas as operações de adição e multiplicação, chamada propriedade distributiva.
Propriedade 5.20 Distributiva.
A multiplicação é distributiva respeito à adição; isto é para todo (m, n, p) N N N tem-se que: (m+n) p = m p + n p.
Demonstração.
É suficiente mostrar a distributividade pela direita por indução sobre p.
A propriedade é verdadeira para p = 0, então (m+n).0 = m 0+n 0
Suponhamos seja verdade para p, (m+n)p = m p + n p
Mostrarei para p*.
(m+n)p* = (m+n)p + (m+n) . . . def. de multiplicação.
= m p + n p + m + n . . . hipótese de indução.
= (m p + m) + (n p + n) . . . comutativa da adição.
= m p* + n p* . . . def. de multiplicação.
Pelo axioma de indução, a propriedade é verdadeira n N.
Propriedade 5.21 Associativa.
A multiplicação é associativa, isto é, para todo m, n, p N, (m n) p = m (n p).
Demonstração.
Mostra-se por indução sobre p, usando a Propriedade (5.20)
Propriedade 5.22
Em N, se um produto é nulo, então ao menos um dos elementos é nulo; isto é: se m.n = 0, então m = 0 ou n = 0.
Demonstração.
1) Suponhamos m n = 0 e m 0. . . . hipótese.
2) m n* = m n + m . Axioma da multiplicação
3) m n* = 0 + m . . (2) e (1)
4) m n* = m 1 . . (3) e Axioma da multiplicação
5) n* = 1 . . . (4) e Propriedade
6) n=0 . . .. (0^* = 1)
Portanto, m.n = 0 implica m = 0 ou n = 0.
Propriedade 5.23
Em N, nenhum elemento distinto de 1 tem simétrico para a multiplicação, isto é m n = 1, então m = 1 e n = 1.
Demonstração.
Suponhamos que m n = 1, se n 0 pela Propriedade (5.20), existe *n N tal que m n = m(*n) + m.
Do mesmo modo, se m 0, existe *m tal que m = *m+1, logo m n = *m n + n = 1, então m (*n) + *n = 0, logo *n = 0 e n = 1.
De onde pela hipóteses temos que 1 m = 1 implica que m = 1.
Propriedade 5.24
Em N+= N - {0} todo elemento é regular, isto é a, b N+, a n = b n e n 0 então a = b.
Demonstração.
Demonstra-se por indução sobre n, considerando como primeiro elemento n = 1.
Conseqüência desta propriedade é que, a N* definimos a aplicação ga : N N por ga(n) = a.n. Observe que esta aplicação é injetiva e que a b implica ga gb.
5.2.5 Potência inteira de um número natural.
Para todo a, n N tem-se que a n-ésima potência do número a é outro natural denotado por an, e se lê “a elevado à n”
Definição 5.9
Seja a N, a 0, para todo n N definimos a0 = 1 e an+1 = an a
Desta definição resulta que, para o caso a = 0, a expressão 00 não está definida. Propriedade 5.25
As propriedades das potências inteiras resultam da definição, em particular.
• a, m, n N, am an = am+n, se a 0.
• a, n, p N, (an)p = anp, se a 0.
A demonstração desta propriedade é exercício para o leitor.
Exemplo 5.8
Considere h: N N N definida como segue: h(a, b) = a * b = a . Determine se h é comutativa, associativa. Determine o elemento neutro de h caso exista. Que elementos em N tem simétrico?
Solução.
Como a * b = a e b * a = b, logo h não é comutativa, a * (b * c) = a * b = a e (a * b) * c = a * c = a logo é associativa.
Se h tem elemento neutro e, então e * a = a para todo a N porém a * e = a, assim não existe elemento neutro.
No tem sentido calcular o elemento simétrico se, não tem elemento neutro.
Exemplo 5.9
Seja ( ) uma operação em R2 definida por (x, y) (x', y') = (xx'-yy', yx' + xy'). Demonstre que é comutativa e associativa.
Demonstração.
a) Comutativa?
(x, y) (x', y') = (xx'-yy', yx' + xy') =(x'x-y'y, y'x + x'y)=(x', y') (x, y)
b) Associativa?
((x, y) (x', y')) (c, d) =(xx'-yy', yx' + xy') (c, d) =
=(c(xx'-yy')-d(yx' + xy'), c(yx' + xy')+ d(xx'-yy')) =
= (cxx'-cyy'- dyx'-dxy', cyx' + cxy'+ dxx'-dyy') (5.4)
Por outro lado
(x, y) ((x', y') (c, d)) = (x, y) (x'c-y'd, y'c + x'd) =
=(cxx'-cyy'- dyx'-dxy', cyx' + cxy'+ dxx'-dyy') (5.5)
Observando (5.4) e (.55) tem-se que ((x, y) (x', y')) (c, d) = (x, y) ((x', y') (c, d))
Portanto é associativa.
Exercícios 5-1
1. Mostre que, para todo n N tem-se n+1=1+n.
2. Mostre que a relação + : N N N é comutativa; isto é para todo m, n N temos que m + n = n + m.
3. Mostre que m + n m para todo m, n N+.
4. Mostre que, dados m, n N tais que m=n, então m+r=n+r para todo r N.
5. Mostre que < em N ^+ é uma relação transitiva, mas não é reflexiva nem simétrica.
6. Mostre que n 0, para todo n N.
7. Demonstre que para qualquer m, n N, uma e somente uma das proposições:
(a) m = n, (b) n > m, (c) m > n
é verdadeira. (Lei de tricotomia)
8. Demonstre que se, m, n N e n>m, então, para cada p N, n+p > m+p e reciprocamente.
9. Mostre que:
a) (m + n) (p + q) =(m p+ m q)+(n p+n q)
b) m (n+p) q=(m n) q+m(p q)
c) m* + n* = (m+n)*+1
d) m* n* = (mt n)*+m + n
10. Sejam m, n, p, q N e defina m n pq = (m n p) q: (a) Mostre que nesta igualdade, podemos inserir parênteses à vontade. (b) Prove que m(npq) = m n + m p + m q.
11. Identifique S = { x /. x N, n^* > x > n para todo n N }.
12. Se m, n, p, q N e se n > m e q > p, mostre: (a) n+q > m+p, (b) q n > m p.
13. Sejam m, n N. Mostre que (a) Se m = n, então n < h^* m para todo h N. (b) Se h* + m = n para algum h N, então n > m.
14. Para m, n N mostre que: (a) n2 > m n > m2, (b) m2+n2 > 2m n
15. Mostre que, se o produto de n números positivos é igual a 1 (um), a soma dos mesmos não é menor que n.
16. Para todo m N, defina m1= m e mp+1 = mp m desde que mp esteja definido. Se m, n, p, q N prove que:
a) mp mq = mp+q b) (mp)q = m^{p q} c) (m n)p = mp np
17. Utilizando o princípio de indução matemática, mostre cada um dos seguintes enunciados:
1.} 6 (1^2+2^2+3^2+ . . . + n^2 ) = n(n+1)(2n+1) n N, n 0
2.} 4[1^3+2^3+3^3+ . . . + n^3] = n^2(n+1)^2 n N, n 0
3.} 2[1+4+7+ . . . + (3n-2)] = n(3n-1) n N, n 0
4.} 3 [12+32+52+ . . . + (2n-1) 2] = n(4n2-1) n N, n 0
5.} 2 [2 + 5 + 8 + . . . + (3n-1)] = n(1+3n) n N, n 1
6.} 20 + 21 + 22 + . . . + 2n-1 = 2n – 1 n N, n > 1
7.} 3 [1 2 + 2 3 + 3 4 + . . . + n(n+1)] = n(n+1)(n+2) n N, n 0.
18. Mostre que, se a, b N tais que b a e a 0, então uma das seguintes igualdades cumpre: 1. a = qb 2. a = qb + r, r < b, onde q, r N.
19. Se n N, o fatorial do número n é denotado n!, e definido do modo seguinte:
0! = 1 , 1! = 1 e quando n > 1 define-se n! = 1 2 3 4 5 . . . (n-1) n ou n! = n(n-1)(n-2)(n-3) . . . 4 3 2 1. Mostre que:
1. 2^{n-1} n! n N.
2. 2^n < n! < n^n para n N n 4.
20. Mostre a desigualdade: (n+1)2 > 22 n ! para n N sendo n 2.
21. Mostre que todo subconjunto não vazio A N possui um primeiro elemento, isto é, um elemento n0 A tal que n0 n para todo n A.