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Keynesianas
Mario Gómez Olivares

 

 

A Teoria Geral de  J. M. Keynes revisitada

 

A posição dos clássicos: A.C. Pigou

 

A posição dos clássicos assentava em que, em princípio, nada acontece aos rendimentos não-salariais. Por hipótese, uma redução das taxas dos salários monetários de W para WK e uma queda dos salário monetários no total de W*N, para (WK)*N, com N a quantidade de emprego. Por hipótese os rendimentos monetários dos não-assalariados Q1 e Q2 , Q2e a quantidade de rendimento dos não assalariados despendidos em bens-salários, então, em princípio, os custos variáveis marginais dos bens de consumo cairão mais que os preços. Os custos variáveis marginais cairão em W  K/W. Na indústria de bens de capital, os preços não caem enquanto Q1 é gasto em bens de capital. Na indústria de bens salários os preços cairam em: [Q2+(W K/N)]/(Q2+W*N) e os custos em W  K/W. Por conseguinte, os preços não caem tanto como os custos marginais, pelo que pressupõe-se que o output cresce, todavia existe pressão através a concorrência para uma queda dos preços na direcção dos custos marginais. Pelo que:

 

 “ the non-wage good industries re­ceipt fall of.[ At the outset], in the non wage industries there was a rise in profit of N1K while in the wage goods industries there was a fall in profits of N1K...As prices begin to fall both sums are reduced. The non-wage earners‘income will have to fall off in the same proportion[as the fall in money wages]”... “ there is no reason to suppose that the second postulates would arise in practice”[1].

 

O paradoxo está em que os trabalhadores actuam correctamente ao abandonar transitóriamente o mercado de trabalho, contudo do abandono do trabalho resultam enormes problemas, pelo que aplicar a teoria clássica às situações de desemprego involuntário é uma artimanha:

 

 “ We need to throw over the second postulate of the classical doctrine and to work out the behaviour of the system in which involuntary unemployment in strict sense is possible”[2].

 

Keynes reitera a contestação ao principio de Say, o qual se define como o axioma das paralelas clássico, em que todo acto de poupança individual conduce a um acto de investimento, de que os custos de produção se cobrem  exac­tamente com as vendas derivadas da procura, que para um volume de produção considerado, o preço da oferta global é sempre igual ao preço da procura global:

 

“ Those who think in this way are deceived, nevertheless, by an optical illu­sion, which makes two essentially different activities appear to be the same. They are fallaciously supposing that there is a nexus which unites to abstain from present con­sumption with decisions to provide future consumption; where­as the motives which determine the latter are not linked in any simple way with the motives which determine the former”[3].

 

Se a lei de Say de que o preço de oferta é sempre igual ao preço de procura for verdade, isto significa que não existe nenhum obstáculo para o pleno emprego. O resto da história clássica também se mantém: a parcimónia privada e nacional tém vantagens sociais, a actitude tradicional relativamente á taxa de juro é correcta, as vantagens do laissez-faire em matéria de comércio livre é considerável, etc. Se o princípio de Say não for verdadeiro, não for verdade que o preço da procura e da oferta global se igualam, existirá a necessidade de desenvolver devidamente a teoria do emprego e reconsiderar as doutrinas sobre a taxa de juro.

Keynes elabora a suas hipóteses como resultado da sua mudança de opinião relativa­mente à doutrina ortodoxa, nomeadamente a sua apreciação contrária  à possibilidade da descida dos salários monetários e à eficácia da política monetária. Esta teoria formula a teoria do emprego consid­erando que eficácia marginal do capital determina o investimento, variável fundamental que juntamente com a propensão ao consumo determinam a procura efectiva. O desem­prego resulta de uma falta de procura efectiva num mundo de incerteza, em que se conjugam a obstinação da taxa de juro de longo prazo, a desconfiança  do mundo dos negócios juntamente com a ineficácia da política monetária.

A Teoria Geral é uma teoria do emprego de todos os factores de produção, enquanto que a teoria clássica analisa apenas um caso particular: o pleno emprego. Nesse sentido a Teoria Geral é uma teoria que põe em evidência a relação entre teoria e política económica, pelo que é um repto às concepções políticas ortodoxas.

 

“Thus the contemporary economist, as a result of living in a world where unemployment has become chronic, puts more stress on our power of drawing on resources which are not fully employed and less stress on the divertion of resources already in use”[4].

 

A abordagem teórica de Keynes considera para além dos factores dados, as tres leis psicológicas fundamen­tais: a propensão psicológica a consumir, a actitude psicológica referente à liquidez e a expectativa psicológica dos rendimentos futuros dos bens de capital( a eficiência marginal do capital), a unidade salário, tal como se deter­mina nos convénios colectivos e, a quantidade de moeda, fixada pela acção do banco central. Estes factores determi­nam o rendimento nacional e o volume de emprego. No capítulo “A Teoria Geral do Emprego ´Re-stated´”, Keynes procedeu a uma reconstituição de  todos os blocos constituintes, estes factores constituem as determinantes do sistema económico.

Isto não significa senão que o objecto a descobrir, o volume de emprego, em cada instante de tempo, depende do estudo de um complexo de factores nos quais se destacam aqueles que principalmente mudam no tempo de análise, seleccionando finalmente aqueles e as variáveis que se possam deliberada­mente controlar ou regular por uma autoridade central.

A Teoria Geral responde a um problema para o qual a teoria económica não encon­trava uma resposta: o desemprego involuntário; formula um quadro teórico: uma teoria do output e do emprego, e, um modelo que capta no essencial os princípios que pautam as condutas dos indivíduos, grupos sociais numa economia monetária. Numa outra circunstância, a relação entre as variáveis é determinada em consonância com o objecto a estudar.

No prefácio a Teoria Geral Keynes explica-se: “This book, on the other hand, has evolved into a primary a study of the forces which determinate changes in the scale of output and employment; and, whilst it is found that money enters into the economic scheme in an essential and peculiar manner, technical monetary details falls into the background”[5].


 

[1] T. Rymes,  " Keynes`s Lectures 1932-35: Notes of a Represen­tative Student", MacMillan, 1988, p. 91.

[2] Idem, p. 16-17. Thring define procura efectiva: "the actual  demand  realised in selling current output, the actual amount spent on it". Hopkin anota  que Keynes pressupõe que a tecnologia, as  preferências  e   que  os  tock  de capital são dados, in  T.  Rymes,   "  Keynes´s   Lectures 1932‑35: Notes of a Representative Student",  MacMillan,   1988, p. 134.

[3]  É  necessário primeiro introduzir um elemento  teórico  vital   para  compreender a teoria dos mercados de Say. Esta ideia  chave   que  encontramos em Say é a ideia  da neutralidade da moeda.  Say   pensa  que a moeda é procurada pelo desejo de adquirir   um  bem.   Escreve  "  Semelhante  ao óleo que adoça os  movimentos  de  uma   máquina complicada, derramada pelas vias da  industrial  humana,   facilitando os movimentos que não são mais produtivos se a indus­trial  cessa de emprega‑ los". O conceito de moeda em Say é o  de   moeda  que facilita a circulação, moeda como meio de  circulação.   Deste  modo  a  moeda  é procurada com algum fim,  i.e.,   a  sua   procura não se processa pelo  motivo de ser a moeda um bem em  si   próprio. O que conta diz Say é a economia real, a moeda só conduz  a  obter os valores comprados aos outros o que se segue a   venda  dos  próprios  produtos. O dinheiro  representa  a transformação  transitória  de  uma  soma de valor, entre um acto  de  compra  e   venda. Não existe então nenhum motivo para procura de moeda  para  além  desse e nenhum motivo que impeça a troca, e  nenhum  motivo  para reter a moeda. Os  excedentes  de moeda ocasionam mas ofertas  desta  ou  aquela   mercadoria  que  a sua procura, depreciando o  valor  da  oferta.   Quanto  maior  seja o excedente, maior resulta  um  encorajamento   poderoso  a  fim de tirar partido dessa situação,  com  benefício   para  todo o mundo. Com este esclarecimento prévio podemos ver  a   lei de Say ou lei dos mercados. Say  escreve:  " Nos  lugares que se produz  muito,  se  cria  a   substância, a única com a qual se compra, o valor. O dinheiro não   oficia  senão como intermediário desta troca dupla;  acabadas  as   trocas encontra‑se sempre alguém que pague produtos com produtos.   É preciso remarcar que um produto terminado oferece nesse instan­te um mercado aos outros produtos pelo montante do seu valor.  Em   efeito  assim  que  o produtor acaba um seu  produto,  seu  maior   desejo  e  o de vende‑lo, para que o valor desse produto  não  se   paralise  nas  suas mãos.. Também não está menos  interessado  em   desfazer‑se  do dinheiro obtido na sua procura, de modo a  que  o   valor não se paralise.. Ve‑se pois, que só o facto  de  formar‑se   um produto, mesmo no instante, mediatiza‑se (débouché) em  outros   produtos".  A produção de um novo bem é criar um valor e assim  o   poder de adquirir o poder de comprar um produto de valor  equiva­lente.  A ideia base de esta chamada lei de Say é que o valor  de   todo produto se transforma em rendimento para todos os que parti­ciparam  no acto da sua produção. O dinheiro que  circula  sempre   será despendido automaticamente. Assim o valor total da  produção   será  igual ao valor total dos rendimentos distribuídos,  a  qual   provocará  despesas em bens de consumo e bens de  produção.  Dito   brevemente  todo o que é produto, será comprado por um  valor  de   compra equivalente a valor a ser distribuído. A  procura  é derivada, elemento subordinado à  oferta,  dito  de   outro modo os consumidores nunca faltam; o dinheiro  não se ente­soura  e  revêem sempre aos produtores os quais  o  utilizam  num   novo ciclo produtivo. O  problema não é a falta de dinheiro mas sim a falta  de  outros   produtos.  Se existe falta de dinheiro, diz Say, é porque  faltam  produtos  que  se transformem em dinheiro.. A riqueza  provem  do   facto  que exista mas riqueza para trocar, onde o dinheiro  adoce   os movimentos dos seres humanos. Assim a procura não tem senão  a   função de orientar a actividade na direcção dos sectores onde  se   produz  de  maneira  útil, de mais forte crescimento,  e  com  os   máximos de rendimentos. Say respondeu as críticas da época dizen­do  "  um produto que não encontra compradores não é  um  produto   verdadeiro pois ele é desprovisto de utilidade".

[4] J . M. Keynes,  “ Goverment Loan Policy And The Rate Of Interest”, CWJMK , vol. XXI, p.539.

[5] J.M. Keynes , The General Theory, CWJMK , vol. VII, p. xxii.