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Keynes em Cambridge 1932-1935
Mario Gómez Olivares

2.         As lições de Keynes em Cambridge: Da Teoria Monetária da Produção á Teoria Geral.

 

Escritos na época

Nos ‘draft‘, escritos na época, dá Keynes uma clara visão da relação entre moeda e desemprego, talvez maior que na versão final. A teoria monetária do emprego concebe a organização da sociedade com duas classes: os empresários possuidores dos meios de emprego( activos de capital) e moeda para a compra de matérias primas e pagar salários e a classe dos trabalhadores que procuram emprego[1]. O acesso aos meios de emprego e produção depende dos cálculos monetários feitos pelos empresários, os que prevêem se podem produzir output físico e vende-lo num montante que seja superior ao custo monetário dos salários, materiais e do custo de uso do equipamento de capital. Os empresário negoceiam em teremos monetários e as empresas “has no object in the world except to end up with more money than it started with. That is the essential characteristic of an entrepreneur (monetary)eco­nomy[2]. São os empresários mais dos que os consumidores que dominam a toma das decisões numa economia monetária. Nisto reside também a diferença entre a economia monetária de Keynes e a teoria clássica. O problema para Keynes é porque existe desemprego involuntário numa economia monetária e numa economia não-monetária não existe. É o contraste entre dois tipos de socie­dades económicas. As economias onde existe desemprego involuntário são chamadas economias monetárias, empresariais, com salários monetários. As economias sem desemprego involuntário são as chamadas economias de troca( onde a moeda é apenas meio de troca), co-operativas, de salários reais. Uma economia de troca, co-operativa não monetária parece-se com uma economia colectiva em que uma parte predeterminada do output agregado é distribuído directamente aos factores de produção[3]. Uma economia co-operativa deverá usar a moeda como um instrumento de distribuição do seu output; mas esta não deverá procurar utilizar a moeda para maxim­izar os rendimentos monetários. Nessas circunstâncias todos os trabalhadores estarão empregados enquanto que a utilidade do seu output seja superior à desutilidade marginal do trabalho. Noutras palavras numa economia não monetária o segundo postulado da teoria clássica é valido, numa economia monetária ou empresarial” the volume of output which will yield maximum value of product in excess of real cost may be ‘unprofitable‘‘. A economia clássica é chamada por Keynes de ‘neutral entrepreneur‘ ou economia monetária neutral, i.e., um híbrido entre economia empresarial ou monetária e economia não monetária ou co-operativa[4]. A teoria clássica é um caso limite da economia monetária. Os trabalhadores são contratados pelos empresários por dinheiro, mas onde “ there is a mechanism of some kind to ensure that the exchange value of the money incomes of the factors is always equal in the aggregate to the proportion of current output which would have been the factor‘s share in a co-operative economy[5]“.

A moeda no modelo clássico é um instrumento temporário de conveniência usado pelos factores para comprar o produto dos empresários num determinado período de tempo. A ‘classical neu­tral entrepreneur economy‘ considera-se como sendo uma economia co-operativa. A teoria clássica representa o caso limite de uma economia empresarial, o caso no qual a moeda é neutral. O argu­mento de Keynes é no sentido de dizer que não este o mundo onde nos vivemos. Não é verdade que os trabalhadores são contratados enquanto a utilidade do seu output exceda a desutilidade marginal do seu emprego. No mundo real da economia monetária existe um fracasso “ of the organisation which prevents a man from produc­ing something, the equivalent of which he would value more highly than the effort it would cost him[6]“. Deste modo a teoria clássica deixa de fora a possibilidade da existência do desemprego involuntário aceitando a lei de Say que a oferta cria a sua própria procura.

As flutuações na procura efectiva são a razão porque o produto que seria elaborado numa economia co-operativa seria não-lucrativo numa economia moentária. Excepto em casos excepcionais, a procura efectiva não flutua numa economia neutral ou co-operati­va. O output tende estar sempre no nível de pleno emprego.” but in an entrepreneur economy the fluctuations of cyclical demand may be the dominating factor in determining employment;and this book, therefore, we shall be mainly analysing the causes and consequences of fluctuations in effective demand[7]. A procura efectiva constitue uma base na construção do modelo de Keynes.

Os primeiros ‘drafts‘ de Keynes dão-nos a ideia da diferença que Keynes pretende estabelecer entre o seu sistema teórico onde a moeda é muito importante, não apenas na relação com os preços como estabeleceu no ‘Treatise‘, mas agora relativa­mente ao output e o emprego, portanto outra teoria, desta vez mais geral.

No período a seguir às lições de outono em Cambridge, Keynes escreve o panfleto “ The Means to Prosperity”[8], o conheci­do panegírico sobre a política de trabalhos públicos em que apresenta a sua versão do multiplicador aplicado ao emprego[9]. Este panfleto não discute apenas este problema, resume toda a política económica discutida nos anos prévios  contra o desempre­go (tarifas, subsídios, devalução, política bancária e taxa de juro) mas também as consequências das políticas de trabalhos públicos sobre os preços, a balança comercial a luz das objecções levantadas. A proposição inclue a organização de uma conferência internacional, porquanto o único modo de aumentar os preços mundiais será um ‘loand-expenditure‘ através do mundo[10].

Juntamente com este trabalho, Keynes publica o célebre ensaio sobre Malthus, nos ‘Essays in Biography‘‘ em que sublinha o carácter relevante da teoria da procura efectiva[11], porquanto Malthus era um investigador que se interessava com a determinação do nível do output “day by day in the real world[12]“. Como não existem relativamente a 1933, manuscritos de Keynes que testifi­quem as suas preocupações teóricas, estes dois textos constituem um bom indicador das preocupações de Keynes.


 

[1] Ver Keynes J.M. , CWJMK , vol. XIX, pp 63-64.

[2] Keynes J.M. , CWJMK , vol. XXIX, p. 89.

[3]Ver Keynes J.M. , CWJMK , vol. XXIX, p. 76-77.

[4] Idem, p. 78.

[5] Idem, p. 78.

[6] Idem, p. 78.

[7] Idem, p. 80.

[8] Ver Keynes J.M. , CWJMK , vol. IX, pp. 335-364( a edição nos `Essay in Persuasion` corresponde a edição americana que para além de quatro artigos que apareceram  no `The Times`, inclui um artigo sobre o multiplicador). Keynes estabelece que o problema da pobreza era um problema de natureza económica no sentido de que deveria unir " a blend of economic theory with the art of statesmanship, a problem of political economy", p. 336.

[9] Como Keynes escreve: " Our problem it to ascertain the total employment, primary and secondary together, created by a given amount of additional loan-expenditure, i.e, to ascertain the multiplier relating the total employment to the primary employ­ment, idem, p. 341.

[10] Esta proposta de Keynes representa uma actualização da sua pro­posta contida no `Treatise`, que inclui a criação de um centro de emissão internacional. Interessante é que Keynes pretendia que fosse discutida a abolição de tarifas e quotas, que se eliminas­sem as entraves ao comércio, que se dê-se reanimação aos mercados financeiros, ou que por vezes é interpretado como um recuo rela­tivamente as propostas anteriores, i.e., em 1929-1930.

[11] Tanto como se sabe Keynes re-escreveu este ensaio a partir de um texto de 1922, em que corrigiu e adiciono uma parte nova que começa com uma frase muito reveladora do seu espírita em 1933 " Economics is a very dangerous science", idem, p. 91.

[12] Idem, p. 97. Alias Keynes compara Ricardo com Malthus, colo­cando Malthus como um investigador que se interessa pela economia monetária na qual vivemos, contrariamente a Ricardo que se preo­cupa com a teoria da distribuição em condições de equilíbrio, com a abstracção de uma economia monetária neutral. Certamente que Keynes é Malthus e Ricardo a teoria ortodoxa, numa extrapolação histórica um tanto quanto exagerada. Keynes escreve " He points out(Malthus) that the trouble was due to the diversion of re­sources previously devoted to war, to the accumulation of saving; that in such circumstances deficiency of saving could not possi­bly be the cause, and saving, though a private virtue, had ceased to be a public duty; and that public works and expenditure by landlords and persons of property was the appropriate remedy", Idem, p 101.