Mario Gómez Olivares
Cezar Guedes
magoliv@iseg.utl.pt
O livro que apresentamos a vossa leitura é o resultado de um trabalho e reflexão dos últimos anos do século mais longo da historia da humanidade, ele contem um conjunto de artigos apresentados em conferencias e congressos de universidade europeias e brasileiras, publicados em revistas de Brasil, Espanha e Portugal. São artigos discutidos a luz de um profundo latino-americanismo, de plena identificação com o ocorrer do continente numa perspectiva de procura de identidade desenvolvimentista, de solidariedade regional y de antevisión progressista. Os seus autores comungam de uma perspectiva que permita entender e pensar a integração regional numa situação caracterizada pela globalização, visando o nexo privilegiado da cultura e da historia comum, da ideia de Latino-america desde o Amazonas ate a Patagónia. Mas esta ideia não pode senão considerar os processos que tomam lugar desde os anos oitenta do século passado e que transcendem qualquer ideologia que privilegie a justiça e uma modernidade progressista.
O núcleo central dos artigos se refere ao investimento estrangeiro em América Latina, em particular o investimento ibérico, com principal incidência no investimento português no Brasil. Embora se investigue a lógica desses investimentos, se tinha em linha de conta a ocorrência desses investimentos num quadro mais amplo. Os investimentos se inserem como uma das ancoras do novo modelo de desenvolvimento que começa a operar em América latina desde os anos noventa, marcando também uma tendência mundial de desenvolvimento capitalista, caracterizado pela mobilização de capitais, pela internacionalização da economia mundial e das empresas a escala global, que acaba por integrar a economia latino-americana de modo acelerado inclusive para alem da vontade o de qualquer veleidade oposicionista.
Na analise se considera um triplo processo, o da internacionalização das empresas e economias ibéricas, a do desenvolvimento de América latina no contexto da mundanização da economia, do que resulta o terceiro aspecto considerado que é o da integração das economias latino americanas na economia mundial como propósito próprio e com motivação política autónoma das burguesias políticas e económicas do continente. O propósito integracionista segue a antiga tradição cepaliana e bolivariana contrastando com a força integrativa da acção das empresas multinacionais europeias e americanas, mas se coloca claramente objectivos capitalistas seja de autonomia seja de antecipada subordinação.
As motivações de internacionalização massiva das empresas ibéricas tem uma lógica própria mas encontram terreno propicio no processo de abertura económica caracterizado pela nova modalidade de desenvolvimento condensada na ideia do Consenso de Washignton, que recomenda de modo taxativo a abertura económica, num contexto de mudança institucional profunda consagrada na privatização das empresas estatais, na venda de activos importantes da área privada, a abertura e chamada à participação em áreas consagradas tradicionalmente ao estado, como as infra-estruturas e serviços públicos.