Bárbara Kristensen
Joám Evans Pim
Óscar Crespo Argibay
Núcleo de Estudos Atlânticos
Instituto Galego de Estudos de Segurança Internacional e da Paz
Rianxo, Galiza
Nota introdutória
Não é de hoje que o mar, com seus mistérios e encantos, faz parte da cultura
galega. Na verdade, sabemos que seria impensável imaginar a cultura e, por que
não, a história galega sem a influência e primazia do ‘oceano galleciense’.
Sendo pensado como mais do que um meio de locomoção, o ‘mar galego’ é
praticamente uma ‘entidade’, que rege e guia o modo de vida e devir da Galiza.
Já as cantigas da Idade Média, fruto primeiro da hoje tão rica literatura galego-portuguesa,
tinham este ambiente como maior inspiração, tanto para as ‘lamentações’ das
solitárias moças galegas como para a exaltação e superiorização do mar. As
influências e a importância, no entanto, não se encerram aqui.
Este texto fue presentado como ponencia al
Pulsando aquí
puede solicitar que le enviemos el Informe Completo y Actas Oficiales en CD-ROM Si usted participó en este Encuentro, le enviaremos a la vez su certificado en papel oficial. Vea aquí los resúmenes de otros Encuentros Internacionales como éste VEA AQUÍ LOS PRÓXIMOS ENCUENTROS CONVOCADOS
|
Os primeiros vestígios relacionados com a exploração dos recursos marinhos na
área galaica, os ‘picos camposanquenses’ remontam-se ao Paleolítico (Calo,
1996:13), desenvolvendo-se a actividade de forma paulatina até o período da
civilização castreja e tendo Rianxo, e as suas próximidades, importantes
testemunhos destes assentamentos (veja-se, por exemplo, a amostra interpretativa
das artes e prácticas pesqueiras célticas no complexo de Neixão em Boiro).
O domínio romano, embora reduzindo à escravidão grande parte das populações
indígenas, introduziu, certo é, sofisticados aparelhos e indústrias de salgadura,
apesar de ter sido na Alta Idade Média, marcada pela constituição, na Galiza, do
primeiro Estado da Europa Ocidental após a queda do Império Romano, onde alguns
autores (Calo, 1996, por exemplo) situam a aparição de autênticas comunidades
pescatórias. A arribada nos portos da Galiza de gentes das mais diversas
procedências devido às Cruzadas e perigrinações marítimas, que tinham em
Compostela paragem devida, junto com a marcada influência escandinava nas nossas
embarcações, configurariam os sistemas tradicionais, só alterados com a chegada
dos baleeiros de Euskal Herria e, mais tarde, dos fomentadores catalães.
Nesta nova fase pré-industrial (ou protocapitalista) introduzem-se as
embarcações a vapor, novas artes como o cerco de xareta e arrastre e novas
fórmulas industriais, substituindo a indústria conserveira os armazéns de salga.
O marinheiro passa, em muitos casos, de ser proprietário ou co-partícipe dos
meios de produção a simples assalariado, incorporando-se também a mulher às
indústrias de terra (Calo, 1996: 23).
Só nos anos 60, e com o retorno de alguns emigrantes, parte dos meios de
produção retornarão às mãos dos marinheiros que adquiriram barcos melhor
dotados, possibilitando avanços notórios tanto nas condições de trabalho como
nos próprios resultados.
Dentro deste panorama, seja qual for o contexto histórico, na Galiza, seriam as
embarcações marítimas as que de forma mais precoce acadariam pleno
desenvolvimento epocal. Partindo da antiguidade, onde já se perfilara essa
vocação atlântica de relacionamento com as demais fisterras (lembremos que a
viagem por mar desde a Dinamarca até as costas galegas demorava menos de oito
dias, em contraste com as difíceis ligações terrestres com a península), o
engenho deste povo marinheiro, plasmado em sector artesanal/industrial ponteiro,
foi capaz de botar ao mar um grande número de embarcações e aparelhos, bem para
a pesca como para o transporte de mercadorias ou pessoas (Cerdido, 1999:77).
O decorrer histórico, as mudanças societárias e tecnológicas, a vocação
atlântica, no fim, forjaram nas costas galegas uma longa tradição de interação e
convívio entre homem e mar. O tempo legou-nos as evidências desta relação, ainda
hoje viva, que se pretende manter para as gerações vindouras, pois é através da
memória do passado que um povo se pode afirmar como tal no seu caminho face ao
futuro. Para evitar a sua desaparição e esquecimento, no entanto, é preciso
saber conjugar a tradição com os reptos e desafios que nos aguardam, sendo a
conservação do patrimônio um ponto crucial neste caminho.
No presente artigo, desta forma, pretendemos achegar um estudo de caso de uma
iniciativa que visa a recuperação, mantenimento e divulgação do patrimônio
histórico e antropológico marítimo-pesqueiro com vistas à sua maximização como
elemento sustentável para a dinamização turístico-cultural da economia local. O
projeto em questão, que se traça desde os seus primórdios até a sua realização
atual, abordando os desenvolvimentos previstos a curto, médio e longo prazo, é o
da vila de Rianxo, ‘O Mar Feito Tradição’.
Caracterizando a área: uma vista sobre Rianxo
Até o encontrado agora, os restos arqueológicos costumam indicar a presença
humana nos arredores da vila há mais de 4.500 anos (Axeitos, 2001:8). A intensa
presença dos petróglifos, da mesma forma, e a intensa ocorrência de
enterramentos tumulares (mâmoas) e castros (até treze catalogados) neste
município parecem confirmar que, talvez não exatamente nesta data (senão
anterior), Rianxo sempre se constituiu um local de assentamentos e vida humana
organizada . E, logicamente, permanece assim até hoje.
Localizado ao extremo sul da província da Corunha (antiga província de Santiago,
até 1833), no vértice inicial da Ria d’Arouça, integrado à Comarca do Barbança,
Rianxo é um sítio extremamente bem localizado: cerca de 40 minutos de Santiago
Compostela e pouco mais de uma hora para as capitais das outras províncias
galegas. Sua extensão abrange cerca dos 59 km2, repartidos entre 82 ‘entidades
de povoação’ (Páramo Aller; Lavandeira Suárez, 2000:2), conformando seis
paróquias e comportando uma população de aproximadamente 12 mil habitantes
(Costa, 2001; Tubío e Gómez, 1987).
Os recursos econômicos de Rianxo, ao que tudo indica, precedem basicamente do
mar (o cultivo do mexilhão, a pesca artesanal, etc.) e do campo, que geralmente
é considerado de autoconsumo. Além disso, mas já em menor escala, também se
encontra a presença de outros setores da atividade industrial e comercial (florestal,
têxtil, pequeno comércio, etc.) (op. cit., 2000:3).
No que diz respeito aos estudos, ainda que não pareçam ser completamente fiáveis
(op. cit., 2000:3), os dados indicam que aproximadamente 70% da população possui
formação inferior ao título equivalente à primaria e menos de 1% possui
titulação de Ensino Superior.
A ‘Escola-Obradoiro Xeiteira’: o agente impulsionador
Já conhecendo o indicadores sócio-econômicos da vila e também a importância do
mar na cultura rianxeira, a idéia de eternizá-la e, mais praticamente,
transformá-la em momumentos não parece impensável. Foi desta maneira que, em
1996, o Concelho de Rianxo deu início a uma linha de atuação cujo objetivo
centrava-se na ‘intervención cultural nas súas máis diversas fórmulas, e máis
concretamente na intervención patrimonial, un dos elementos claves de
desenvolvemente local do territorio’ , descrito no documento ‘Liñas mestras para
o desenvolvemento dun plan estratéxigo no Concello de Rianxo baseado no turismo
rural e cultural’.
O projeto, que este ano comemora uma década, como bem se imagina, contemplava
objetivos ambiciosos e que, efetivamente aplicados, conseguiriam conferir ao
patrimônio um status de agente impulsionador do crescimento local, o que nos
parece facilmente perceptível se considerarmos, entre eles, a remodelação do
Passeio da Ribeira e a construção do Passeio Marítimo, por exemplo, tendo sido
grande parte inaugurada faz poucos anos e considerado dos melhores de toda a
Comarca.
Também neste sentido, em 1997, baseando-se em um projeto elaborado pelos
serviços técnicos da Educação, Cultura, Esportes, Juventude e Tempo de Lazer, em
conjunto com a Agência de Emprego e Desenvolvimento Local, iniciaram-se os
processos para a implantação da ‘Escola-Obradoiro Xeiteira’ que, com um
orçamento aproximado de 700 mil euros (cobertos pela Consellería de Familia,
pelo Concelho de Rianxo e por outras subvenções, inclusive de entidades
privadas), em junho de 1998, o Concelho de Rianxo, juntamente com a Conselharia
de Família, Promoção do Emprego, Mulher e Juventude da Junta da Galiza e com
subvenções do Fundo Social Europeu inauguravam.
Para levar a cabo esta inciativa, os organizadores valeram-se de projetos já
desenvolvidos, especialmente os de Marim (em Ponte Vedra), Astillero (em
Cantábria) e Tenerife (nas Ilhas Canárias). Desta forma, deu-se início a um
trabalho de ‘recopilación de material (...), de lecturas abundantes y ahondantes,
de entrevistas y conversaciones con empresas vinculadas a los diversos sectores
que queríamos abarcar, con personal de outras escuelas-taller, etc.’ (Páramo
Aller; Lavandeira Suárez, 2000:7), buscando a efetiva elaboração dos conteúdos,
do currículo e a análise de empresários, para medir que efeitos poderiam gerar a
fundação de uma escola-obradoiro como esta.
Tendo em vista, e não somente, o nível de desemprego da época entre os jovens
(cerca de 21% da população menor de 25 anos, de acordo com Páramo Aller e
Lavandeira Suárez, 2000:3), esta iniciativa visava, dentro de um prazo de 18
meses, formar cerca de 45 jovens não-trabalhadores das paróquias de Rianxo, com
idades compreendidas entre 16 e 25 anos, na tentativa de oferecer-lhes uma via
de formação nas áreas em que ‘a oferta educativa está pouco desenvolvida’
(Páramo Aller, 1999:15), mais especificamente em alguma das três especialidades
que abarcavam o programa, a saber: Carpintaria de Ribeira, Novas Tecnologias de
Construção Naval e Atividades Náutico-turísticas, além de ‘avanzar en el
proyecto de desarrollo que, desde el Gobierno Municipal, se intenta[ba]
implementar’ (Páramo Aller; Lavandeira Suárez, 2000:5).
Cada especialidade, como se pode imaginar, tinha objetivos e planejamentos
distintos. Desta forma, os alunos que seguissem a especialidade de Carpintaria
de Ribeira, deveriam, ao final do obradoiro, ser profissionais que ‘dominasen
las técnicas de construcción artesenal de embarcaciones propias de la tradición
gallega’ (op. cit., 2000:8-9), dominando as técnicas básicas de representação
gráfica, as noções pertinentes da teoria do buque e do desenho naval, os
conhecimentos e habilidades suficientes para realizar trabalhos e montagens em
madeira (reconhecendo e valorando e conservando os materiais), além de elaborar
modelos, estrututuras constitutivas e realizar montagens, sabendo, ademais,
lidar com a execução e a colocação das coberturas e com a habilitação dos
interiores das embarcações, posteriormente assentando e alinhando as
motorizações, selando, calafateando e embreando as juntas dos barcos (op. cit.,
2000:8), construindo, finalmente, uma buceta, um bote chinchorro, uma dorna, um
bote do Minho, uma lancha xeiteira e um batel (op. cit., 2000:14).
Com isto, o projeto de obra de Carpintaria de Ribeira, além de oferecer uma
qualificação de aptidões laborais-acadêmicas a jovens desempregados, fez um
importante traballho de recuperação do patrimônio marítimo, não apenas com a
construção de réplicas de embarcações tradicionais das Rias d’Arouça e Muros-Noia
mas também com a reparação de outras como a gamela da Guarda, o bote polveiro,
etc. Muito importante foi também o labor de seguimento realizado em paralelo
pelo mestre carpinteiro de ribeira e a engenheira técnica naval, elaborando
planos e uma descrição detalhada das fases do processo construtivo, o que
salvaguarda um saber em grave perigo de extinção facilitando, a modo de guia, a
construção de novas réplicas no futuro (Páramo Aller, 1999:16).
Os alunos que elegeram a especialidade de Novas Tecnologias de Construção Naval
deveriam saber, ao final do um ano e meio de atividades, realizar desenhos
técnicos básicos, utilizando a norma correspondente; compreender e interpretar
planos utilizados na indústria náutica; conhecer e utilizar os distintos tipos
de materiais e ferramentas necessários para o avanço de trabalhos simples em
madeira para construir modelos e cascos propriamente, além de montar
subconjuntos e acessórios para tais (Páramo Aller; Lavandeira Suárez, 2000:8-9),
finalizando com a produção de uma ‘yola’, um batel, um cadete, uma piragua e um
snipe (op. cit.,2000:14).
A especialidade de Atividades Náutico-Turísticas, que, por motivos óbvios, é a
que nos deteremos mais detalhadamente, buscava formar profissionais que
procurassem a exploração da crescente demanda que o turismo, rural e ativo, tem
vinculado, assim como a ‘ocupación del ocio y tiempo libre, desde la vertiente
de las actividades acuáticas y náutico-recreativas, sin excluir otras
modalidades adyacentes y complementarias’ (op. cit., 2000:9). Com isso, o
projeto desta especialidade baseou-se na observação do seu público discente, dos
planejamentos constitutivos das propostas de turismo ativo, rural e cultural e
das potencialidades oferecidas pelo Concelho de Rianxo e seus entornos,
dirigidos à náutica, lazer, tempo livre e turismo (op. cit., 2000:9).
Desta forma, os alunos deveriam ter conhecimentos e competências concernentes ao
manejo das embarcações, dominando os preceitos de segurança e casos de
emergência, além da normativa que regula e informa este campo de atuação; saber
manter e conservar os equipamentos disponíveis e, acima de tudo, utilizar o
‘acervo cultural, material y espiritual como potencial recurso turistico y de
ocio’ (op. cit., 2000:9-10), já que este é um setor de atividade de crescente
interesse econômico, mas que, por outra banda, exige noções de saberes da
psicologia e pedagógicos, gestão de recursos, educação ambiental, aprendizagem
teórica e prática das técnicas de recreação, a educação para saúde, etc., além
de um amplo conhecimento da realidade biótica e física da Vila de Rianxo e, por
extensão, da Ria da Arouça, dominando os valores naturais, patrimoniais e
socioculturais que fossem mais importantes para o aproveitamente turístico (op.
cit., 2000:11-12), diretrizes abordadas pelo currículo da especilidade.
Entre os resultados desta especialidade, esperava-se que os alunos que
escolheram a especialidade de Atividades Náutico-Turísticas terminassem por
desenvolver excursões, estudos, maquetes, exposições, material artesanal,
atividades de animação, etc. (op. cit., 2000:14).
Muito além de se constituir o que Santiago Páramo (1999:15) chamou de ‘centro de
dinamización local e, mesmo, sectorial’, os objetivos da escola, como se
comentou, centravam-se na incorporação destes alunos-trabalhadores ao mercado de
trabalho do mundo marítimo, trazendo à tona e realçando a influência de Rianxo (assim
como, por extensão, da Ria d’Arouça e da Comarca do Barbança) nesta área e,
logicamente, estabelecendo intercâmbios de informação e, até certo ponto,
formativos, com outras instituições deste tipo, principalmente no âmbito
internacional – nomeadamente na União Européia.
Desta forma, e como se pôde perceber, os projetos que se buscavam realizar
dentro deste período, isto é, de junho de 1998 a dezembro de 1999, incluíam,
desde o desenvolvimento de atividades múltiplas para fomentar o turismo náutico-desportivo
e uma aproximação ao mar sob uma nova perspectiva, que considerasse o mar como
um espaço de lazer, como fonte de riqueza, vida e saber, etc., atingindo não
somente os próprios estudantes do obradoiro, como também as crianças em idade
escolar, os marinheiros e os conterrâneos de comunidades pesqueiras, além dos
turistas que se achegam a Rianxo em épocas estivais; como a construção de
embarcações tradicionais em madeira (especificamente a lancha xeiteira, a dorna,
o bote), que serviriam de trabalho prático para a consolidação dos conhecimentos,
destrezas e habilidades imprescindíveis para construir e reparar as embarcações,
além de recuperar e valorizar o patrimônio cultural marítimo rianxeiro, não
desprezando, é claro, a presença das novas tecnologias e materiais (fibras,
resinas, laminados, etc.) que se utilizam cada vez mais na fabricação do
transporte marítimo.
Assim, os estudantes, tendo escolhido a área com que mais pareciam se
identificar, deram início as atividades coordenadas por professores e
especialistas, cumprindo as tarefas propostas e alcançando – e em certas vezes
superando – os objetivos e metas desejados para o projeto.
Para cumprir estas metas e ‘optimizar la formación recibida por nuestros
alumnos’ (Páramo Aller; Lavandeira Suárez, 2000:19), foram também promovidas
cerca de dez viagens formativas a fim de visitar empresas de construição naval,
instituições de caráter educativo relacionada com a cultura ou com o meio
marinho e cidades históricas nas que o mar – e as suas entidades derivadas –
tivessem sido essencialmente importantes. Além disso, realizaram-se conversas
com sindicatos, direções de empresas, com o Instituto Galego de Promoción
Económica e jornadas a respeito do patrimônio e da carpintaria de ribeira (op.
cit., 2000:19-20).
Da mesma forma, também se realizou um programa de intercâmbio entre jovens
rianxeiros e da localidade de Douarnenez, na Bretanha, através do qual também se
pôde conhecer melhor, e in situ, as atividades desenvolvidas por este local,
como, por exemplo, a escola de carpintaria de ribeira L’Atelier de L’Enfer, o
Museu do Mar, o Museu da Pesca de Concarnau, entre outros.
Além do dito, os alunos da especialidade de Atividades Náutico-Turísticas
concretizaram uma gama de eventos, como, por exemplo, a ‘Festa das Tradições
Marinheiras - Encontro de Embarcações Tradicionais’, que favoreceu a recuperação
e revalorização do patrimônio local, realizada muito exitosamente em 1999 e a
assinatura de convênios com outras instituições, inclusive estrangeiras (nomeadamente
de Portugal e Noruega, além das espanholas de Astúrias, País Basco e Baleares e
da Consellería de Pesca da Xunta de Galicia), com as quais mantinham objetivos
coincidentes, ademais da consolidação de relações com as associações locais
(conforme afirmam Páramo Aller; Lavandeira Suárez, 2000:22, os Clubes Náuticos,
Clubes de Remo, Clubes de Piragüismo, estaleiros, associações profissionais,
comissões de festa, a comunidade educativa etc.), da reconstituição da
Federación Galega de Asociacións pola Cultura Marítima e da fundação, apoiada
pelo Concelho, da ‘Aquelar’, uma cooperativa que prestaria serviços turísticos (op.
cit., 2000:28-29).
No entanto, entre estas atividades, uma em destaque merece especial atenção: a
criação da ‘Aula Activa do Mar – Santiago Gallego Picard’, funcionando ainda
hoje em Rianxo e considerada um ponto turístico essencial para melhor conhecer a
vila, que se consitui um ‘espacio no que se combinan diversos aspectos para a
educación ambiental sobre o medio mariño, xunto con elementos de tipo
etnográfico referidos á carpintería de ribeira, artes e útiles de pesca e
mariqueo e divulgación sobre as embarcacións tradicionais de Galicia’ (Páramo
Aller, 1999:19), com a finalidade de dinamizar a comunidade desde a educação
ambiental, procurando a participação e integração dos coletivos e pessoas no
processo .
Além de ser o resultado vivo da iniciativa educativa iniciada em 1998 e, como
dissemos, fazer parte dos principais pontos turísticos rianxeiros, servindo de
modelo aos interessados em projetos como este, a concretização exitosa da ‘Aula
Activa do Mar’ acabou, de uma maneira ou de outra, por impulsionar todo um
projeto maior, um ‘complexo museístico localizado en diversos espacios da vila
de Rianxo’, agrupados sob a denominação de Rianxo, o Mar Feito Tradición:
Proxecto de Activación do Patromonio Marítimo Rianxeiro’ .
Este projeto maior subentendia a presença, o auxílio e a atuação de diversos
grupos organizados e definidos para tal, agindo tanto em questões de caráter
infraestrutural (a grande maioria já, de certa maneira, existente em Rianxo)
como de caráter pessoal (por exemplo o assessoramento técnico, concedido através
de um convênio com o Museu do Povo Galego que a vila efetivamente concordou no
ano de 2001), assim como, se possível, a presença de indústrias relacionadas à
ligação deste projeto com a importância e influência do mar.
A linha de atuação desta iniciativa, especificamente, tinha em mente seis
enclaves, além da já citada ‘Aula Activa do Mar’, nos quais nos deteremos a
seguir:
a) o Museu da Tradição Marinheira, que, assim como vem fazendo a ‘Aula Activa do
Mar’, utilizaria as instalações municipais da ‘Casa do Coxo’, direcionado à
pesca e à carpintaria de ribeira, aproveitando, entre outros, o material
utilizado e o produzido pela ‘Escola-Obradoiro Xeiteira’ na sua vertente de
Carpintaria de Ribeira. Este espaço constaria de três plantas com uma superfície
de 193,63 m2 no que se desenvolveriam áreas de conteúdo como ‘O mar, fonte de
vida e de comunicação’ (história da pesca na Galiza; o mar como via de
comunicação, o mar como motor de desenvolvimento econômico); ‘A pesca’ (história
da pesca em Rianxo e na Ria d’Arouça, atividades relacionadas com o mar em
Rianxo, artes e aparelhos da pesca costeira); ‘As embarcações galegas e a sua
construção’ (definições de barco, tipos de propulsão, dimensões, funções e tipos
de embarcação, tipologias de construção); ‘A carpintaria de ribeira e a
construção de embarcações’ (definição de carpintaria de ribeira, situação atual,
descrição do lugar de trabalho, processo construtivo, descrição de ferramentas,
madeiras, etc.); incluindo maquetes das dinstintas fases do processo construtivo,
elemenos de propulsão (remos, velas, motores, ...), artes e aparelhos de pesca e
marisqueio, etc.
b) o Museu a Flote de Setefogas, dependente de ‘Portos de Galicia’, constituindo-se
um espaço aberto composto por cerca de dez unidades, visando a conservação das
embarcações tradicionais marinheiras galegas;
c) a Capela de São Bartolomeu, dependente do Arcebispado de Santiago de
Compostela, a transformar em um espaço-museu de ‘exvotos marinheiros’,
abrangendo a mística relação entre a religião e o mar na cultura galega e,
especificamente, rianxeira;
d) a painelização autointerpretativa da zona portuária, espaço sob o jugo de
‘Costas de Galicia’ que permitiria ‘a interpretación ambiental, sociocultural e
económica da paisaxe da ribeira e da actividade portuaria’;
e) a Casa Marinheira, que consistia na reabilitação ‘de época’ de uma ‘casa do
remo’, com mobiliário e outros elementos integradores e característicos;
f) a remodelação da Casa da Cultura ‘Quartel Vello’, municipal, atualmente
dedicada às atividades da Cultura (até que se inaugure um novo espaço), que
funcionaria como um ‘complemento ó Museo da Tradición Mariñeira’, alojando
exposições temporais, compilando documentação especializada, realizando
obradoiros, eventos, etc.
É bem verdade que, conforme dissemos no início deste apartado, o projeto
tencionado pelo Concelho parecia ser um tanto ambicioso e extenso, tornando
imprescindível a atuação e participação de diversas entidades e contando com um
pessoal especializado nas variadas áreas que abrangia.
No entanto, conforme observaremos no apartado a seguir, e levando em
consideração todos os trâmites, geralmente morosos, que este tipo de inciativa
demanda, alguns dos itens que compunham o complexo têm se desenvolvido, tomando
forma, e remodelando a visão e a estrutura rianxeira concernentes às atividades
turísticas e ao patrimônio marinheiro que as compõe.
Concretizando os objetivos
Conforme já repetimos neste artigo, não é novidade que projetos deste porte,
especialmente de âmbito público, e por motivos que nos são claros (entre muitos
outros, a aprovação dos orçamentos, a subordinação dos concelhos e as outras
prioridades que sempre surgem em um organismo vivo como é a administração
pública), exigem um largo espaço de tempo e uma quantia geralmente vultosa de
investimentos cujos financiamentos, como bem se supõe, não se demonstram fáceis
de alcançar.
Desta forma, no largo deste dez anos de idealização (desde que se publicaram as
‘Liñas mestras para o desenvolvemento dun plan estratéxico no Concello de Rianxo
baseado no turismo rural e cultural’), foram possíveis alguns avanços neste
sentido e a concretização, pelo menos parcial, de algumas as iniciativas.
Como já dissemos, o que, pelo menos nos dias de hoje, parece apresentar um êxito
maior e que, devido a isso, tornou-se, de certa forma, o agente impulsionador de
outras atividades, é a instauração e a atuação da ‘Aula Activa do Mar - Santiago
Gallego Picard’’, que costumeiramente desenvolve atividades, especialmente no
âmbito escolar, e encontra-se aberta à visitação e ao estudo.
Por outra banda, e ao menos atualmente, a construção do novo espaço para a Casa
da Cultura (que compreenderia, entre outras instalações, o novo auditório e os
gabinetes que atualmente alberga o ‘Quartel Vello’) apresenta-se em estágio
avançado e aguardando inauguração para ainda este ano, assim como o Museu da
Tradição Marinheira que está com a infraestrutura praticamente completa, fazendo
falta apenas itens basicamente estéticos ou de menor importância para a
inauguração, também idealizada para o presente ano.
No que tange à painelização da zona portuária, ainda que não se tenha
concretizado por inteiro o projeto, algumas iniciativas foram já tomadas pelo
Concelho de Rianxo, a partir da remodelação do Passeio da Ribeira, como a
identificação dos monumentos ali presentes (as ‘Casas do Remo’, as edificações
religiosas, as estátuas em homenagem aos grandes literatos galegos, o monumento
à Rianxeira, o museu de arte ao ar livre, com a representação da trainheira ‘Manuela’,
entre outros).
Os dois projetos que ainda restam são os que, ao nosso ver, encontram-se menos
desenvolvidos. Relacionando-se ao ‘Museu a flote de Setefogas’, a verdade é que
não muito pôde ser feito, com exceção da construção do Passeio Marítimo e
integração do porto de Setefogas a este, já que esta área depende dos ‘Portos de
Galicia’ e, além disso, implicaria uma intensa revitalização, através de
dragagem e saneamento da área, não nos esquecendo de todo o material que se
supõe existir em um museu como este.
O projeto que envolve a transformação da Capela de São Bartolomeu no museu dos
exvotos marinheiros, até o momento, consistiu na restauração da edificação,
ocorrida nos finais dos anos 90. Outras iniciativas ainda dependeriam da
aprovação do Arcebispado de Santiago e, da mesma forma que é necessário em
outras entidades museísticas, a presença de pessoal especializado e a efetiva
elaboração ou busca de elementos para constituir um acervo.
E finalmente, abordamos o projeto relacionado à ‘Casa Marinheira’, que busca
revitalizar o espaço, já identificado e reconhecido como as ‘Casa do Remo’, e
reconstruir o ambiente tradicional dessas edificações, cujo andamento semelha
estar ainda em fase inicial, já que estas casas são de particulares e não mais
têm a sua função primeira.
Como percebemos e fizemos questão de ressaltar, as iniciativas que compõem o
projeto ‘Rianxo. O Mar Feito Tradição’ demonstram-se ambiciosas e de complicada
execução. Desta forma, acreditamos, tendo em conta o relativamente curto tempo
que se vem trabalhando nestas atividades e, principalmente, pensando nos
recursos disponíveis, parece ser que o desenvolvimento destas idéias tem mantido
uma postura otimista e ativa, buscando sempre avançar dentro dos limites
impostos.
Reflexões finais e outras proposições
Conforme tratamos de abordar neste artigo, já há quase uma década, o Concelho de
Rianxo vem se direcionando para uma política de restauração do patrimônio
marítimo que, nesta vila, sempre se demonstrou essencial e riquíssimo.
Neste sentido, propuseram-se diversos projetos que comungassem para o objetivo
final de integrar novamente à sociedade as imagens e as circunstâncias de um
Rianxo pesqueiro, marítimo e, seguindo as tendências atuais da economia mundial,
turístico.
Dentre os variados projetos, sobre os quais expusemos ínfimas considerações,
destacou-se visivelmente a ‘Escola-Obradoiro Xeiteira’ que, conseguindo cumprir
com grande parte dos seus objetivos e formando jovens atuantes no
desenvolvimento do município, inaugurou um exitoso ponto turístico, essencial
para Rianxo: A ‘Aula Activa do Mar - Santiago Gallego Picard’.
É verdade que, conforme nos dizem Páramo Aller e Lavandeira Suárez (2000:31), o
sucesso da Escola-Obradoiro Xeiteira acaba por ‘reclamar’ mais uma edição (uma
‘Xeiteira II’), ainda sem estar projetada, na que, como comentam estes autores,
‘justifican la continuidad de la especialidad de Actividades Náutico-Turísticas,
pero introduciendo materias que en el proyecto anterior no estaban representadas
(como inglés náutico o maquetismo naval) y perfilando contenidos como Historia y
etnografía marítima de Galicia’.
No entanto, já que ainda não se sabe nada desta continuação da Xeiteira, tendo
como referente e antecedente esta iniciativa, as outras atividades, já
idealizadas, mergulharam em um processo de execução e impulsionamento que está
sendo levado a cabo até os dias atuais e, acreditamos, estará também por mais
alguns anos.
Ainda assim, os entraves deste caminho são muitos, fazedo-se marcadamente
ausente, como vêm denunciando o pessoal implicado nesta área, um plano
estratégico para o resgate do patrimônio cultural marítimo. Já em 1999 Páramo
Aller denunciava a “falla de comunicación e coordinación interinstitucional” e a
desarticulação de departamentos universitários (já em um de por si desarticulado
panorama universitário galego) como os de História e Instituições Econômicas,
Tecnologia Pesqueira, Antropologia Social e Cultural, Engenharia Naval, Teoria e
História da Educação, etc. Se calhar mais grave, por serem os mais ‘capacitados’
para levar a bom porto estas iniciativas, é a falta de vertebração e interesse
das instituições públicas como a Direção Geral de Patrimônio e a Direção Geral
de Turismo (que, até breve, e esperamos que o apoio a este Congresso seja uma
mudança de rumo significativa, vinham ignorando o importante acervo cultural
marítimo) e Portos de Galiza. Quiçá, cabe dizer, os departamentos autonômicos
mais empenhados durante os últimos anos em projetos como o que cá abordamos
foram a Direção Geral de Formação Pesqueira, o Museu do Povo Galego, o Conselho
da Cultura Galega e outras instituições similares.
A via formativa é, e deve ser, um método privilegiado para a conservação do
patrimônio, ora seja através de cursos de formação ocupacional, de formação de
diretores e monitores de tempo de lazer, especialidades de Formação Profissional
ou mesmo cursos de pós-graduação que, de se articularem em Rianxo, os
supracitados espaços, não apenas museísticos e de propagação cultural, mas
também de estudo e pesquisa, bem poderiam chegar a implantar-se na vila,
considerando o volume de atividades de caráter científico e acadêmico que se vê
em desenvolvimento, ainda considerando as dificuldades estruturais, durante os
últimos anos (diversos congressos internacionais sobre os literatos rianxeiros,
os Seminários Internacionais de Tradução e os Simpósios de Outono sobre Paz e
Conflitos, de caráter anual, e, neste mesmo ano, o I Congresso Luso-Galego de
Estudos de Segurança Internacional e da Paz e o I Congresso Internacional de
Estudos Atlânticos, por não mencionar um amplo leque de encontros e jornadas de
todo tipo).
Do mesmo jeito, como também apontava Páramo Aller, cabe também explorar a via da
etnografia e antropologia cultural marítima recompilando, através de fórmulas de
voluntariado (tecido associativo do terceiro sector) ou bem através dos liceus e
colégios de ensino e centros de investigação públicos e privados, os “saberes
que poden ofrecer á comunidade os xubilados, expertos en distintas áreas,
traballadores do mar, (...)” (1999:28). Como se tem demonstrado já na Marinha
luguesa, a recuperação para usos turísticos e didácticos do patrimônio
industrial (velhas fábricas de conserva e salga) ou marítimo (edifícios de ‘lonxas’,
confrarias, casas de vigias de porto, instalações do Instituto Social da Marinha,
etc) em desuso, convenientemente articuladas com os setores produtivos de hoje
(visitas a bateas, embarcações, faenas, conserveiras, estaleiros, etc.) pode
resultar em excelente produto para uma aproximação compreensiva e holística à
vida no mar, no passado, no presente... e mesmo no futuro.
Tais atividades, é verdade, têm estimulado a população e as entidades rianxeiras,
e também de outros lugares, a repensar a Vila de Rianxo, tão célebre pelos
literatos e pensadores que ali nasceram e viveram, como também um pólo de
desenvolvimento turístico alternativo (ou complementar) ao simples ‘sol e praia’
que, ao nosso ver e analisando a multiplicidade de resultados e caminhos que
ainda se podem abrir, tende a crescer e fortalecer-se. A este respeito, apontava
de novo Páramo Aller, poderiam-se somar iniciativas como a criação de uma rede
de centros de divulgação do patrimônio marítimo, o estabelecimento de uma mesa
de coordenação interinstitucional, estabelecer programas de formação em recursos
humanos, estabelecer e consolidar ligações internacionais com iniciativas
similares dentro e fora da União Européia, implicar o setor empresarial
vinculado à exploração e preservação do meio marinho assim como às
administrações municipais do litoral, e promover a difusão de experiências,
projetos e conteúdos através das novas tecnologias da informação e comunicações,
facilitando a aprenzagem virtual e o compartilhamento de conhecimentos e saberes.
E vias para este crescimento, é bem verdade, não faltam. Ainda que o projeto que
aqui se apresentou e as suas ramificações consigam abranger uma matéria
considerável no que diz respeito às possibilidades rianxeiras de desenvolver o
turismo, parece-nos ser um tanto importante reconhecer que há, nesta localidade,
uma potencialidade, digamos, museística quase infindável.
Desde a idade do bronze com as suas dezenas de mâmoas, aos seus diversos
petróglifos e, avançando no tempo, fortificações castrejas, até os tempos
medievais, dos quais ainda (pouco) se preserva o Castelo da Lua, que
urgentemente solicita uma efetiva revitalização ou, partindo para tempos mais
cercanos, a exploração do fato de ser, coincidentemente (?) o berço dos, mais
que célebres, fundamentais pensadores e literatos galegos, Rianxo apresenta-se-nos,
muito além de um ‘Mar Feito Tradição’ (lema que, é bem verdade, muito bem
representa o caráter rianxeiro): mas a cultura, intrínseca a esta terra,
diga-se, feito tradição.
Referências Bibliográficas
AXEITOS, Xosé Luís, Dir. (2001). Sempre en Rianxo Sempre en Galiza. Rianxo:
Concello de Rianxo.
CALO LOURIDO, Francisco (1996). Evolución histórica da tecnoloxía pesqueira e
cambios sociais desde o século XVI ata o XX. ABEL VILELA, Adolfo de, Ed.
Historia e Antropoloxía da cultura pesqueira en Galicia. Santiago de Compostela:
Fundación Alfredo Brañas, pp. 11-25.
CEM, SOC. COOP. GALEGA (s/d). Proxecto de museo da carpintería de Ribeira [reprografado].
A Corunha: Cem, Sociedade Cooperativa Galega.
CERDIDO FACHAL, María Ana (1999). A construcción dunha lancha xeiteira. In:
Rianxo. O mar feito tradición. Rianxo: Concelho de Rianxo, pp. 71-160.
CONCELHO DE RIANXO (2001). Declaración de Intencións, Rianxo, o mar feito
tradición – Proxecto de Activación do Patrimonio Marítimo Rianxeiro [reprografado].
Rianxo: Concelho de Rianxo.
CONCELHO DE RIANXO (s/d). Memoria Xustificativa da Ampliación da Aula Activa do
Mar Santiago Gallego Picard [reprografado]. Rianxo: Concelho de Rianxo.
COSTA RODIL, Xesús (2001). Rianxo no Antigo Réxime. Economia e sociedade nunha
vila mariñeira do Señorío Arcebispal de Santiago. Rianxo: Concello de Rianxo.
DOURADO DEIRA, M. (1999). Xeiteira: Unha orixinalísima escola-obradoiro de cara
ó mar. In Guadalupe 99. Rianxo: Concello de Rianxo, pp. 32-35.
PÁRAMO ALLER, Santiago (1999). Xeiteira. Unha experiencia de traballo-formación
en recuperación e divulgación do patrimonio marítimo. In: Rianxo. O mar feito
tradición. Rianxo: Concelho de Rianxo, pp. 13-34.
PÁRAMO ALLER, Santiago; LAVANDEIRA SUÁREZ, Fernando R. (2000). La escuela-taller
‘Xeiteira’ de Rianxo: una propuesta formativa para un proyecto de desarrollo
local. In II Jornadas Provinciales de Escuelas Talleres, Casas de Oficios y
Talleres de Empleo, Castillo de Santa Bárbara, Alicante, 1 y 2 de junio de 2000
[reprografado]. Alicante: Diputación Provincial.
TUBÍO RODRÍGUEZ, Teresa; GÓMEZ GONZÁLEZ, Martín R. (1987). Rianxo. Bello rincón
de las Rías Bajas Gallegas. Madrid: Everest.
XEITEIRA, Escola-Obradoiro (1998). A Escola-Obradoiro ‘Xeiteira’. Unha
singladura dende a tradición cara á innovación. In Guadalupe 98. Rianxo:
Concello de Rianxo, pp. 36-37.
Pulsando aquí puede solicitar que
le enviemos el
Informe Completo en CD-ROM |
Los EVEntos están organizados por el grupo eumed●net de la Universidad de Málaga con el fin de fomentar la crítica de la ciencia económica y la participación creativa más abierta de académicos de España y Latinoamérica.
La organización de estos EVEntos no tiene fines de lucro. Los beneficios (si los hubiere) se destinarán al mantenimiento y desarrollo del sitio web EMVI.
Ver también Cómo colaborar con este sitio web