Com o ingresso na licenciatura em Economia do
Instituto das Ciências Económicas e Financeiras (ISCEF – hoje, ISEG),
começa-se a vislumbrar o perfil de excelência que viria a marcar de
forma inequívoca a economia portuguesa.
Forma-se com uma excepcional média de 16 valores, recebendo prémios
pela sua prestação em várias cadeiras e a distinção de melhor aluno do
curso. Torna-se assistente no Instituto Superior de Ciências Sociais e
Políticas, até 1964, altura em que decide enveredar pelo doutoramento
em Paris, onde mais uma vez obtém uma classificação extraordinária: 20
valores.
Quando regressa de França, assume o cargo de Professor Extraordinário
no ISCEF, onde incentiva vários dos seus alunos a efectuar o
doutoramento no exterior. Entre esse conjunto de alunos estavam Miguel
Beleza, Manuel Sebastião, João Costa Pinto e Abel Mateus. Outro destes
seus alunos era António Borges, que afirmou em entrevista recente ao
Expresso que com isso “deu um enorme empurrão à economia portuguesa”.
Em 1973 entra como Professor Catedrático no ISCTE, sendo igualmente
nomeado vogal da Comissão Instaladora da Universidade Nova de Lisboa.
Dois anos depois, passa a dedicar-se exclusivamente à Universidade
Nova de Lisboa, como Professor Catedrático, presidindo em 1977 à
Comissão Instaladora da Faculdade de Economia daquela universidade. Da
mesma Comissão faziam parte Aníbal Cavaco Silva, Abel Mateus, José
António Girão e Manuel Pinto Barbosa. Foi Director daquela escola
entre 1979 e 1982.
A criação da Faculdade de Economia surge da visão do Professor Alfredo
de Sousa de renovar o ensino da Economia e da Gestão em Portugal,
fugindo à explosão dos ideais no pós-25 de Abril. Recruta as pessoas
que havia incentivado a doutorar-se no exterior, reunindo massa
crítica para desencadear um processo de profunda inovação. Lança o
primeiro programa de doutoramento em Economia em 1978 e o primeiro MBA
em 1980. A Faculdade de Economia foi, de resto, o projecto que mais
acarinhou.
Alfredo de Sousa não era conhecido por ser ágil nas relações humanas, mas os que melhor o conheceram concordam que as mesmas características que o tornavam por vezes difícil eram igualmente as que faziam dele um grande homem. Dos traços mais marcantes, António Pinto Barbosa destaca coragem, frontalidade e o espírito de iniciativa que fazia dele um impulsionador. Recorda ainda que “muitas vezes entrava em conflito com as normas”, contornando-as em prol de fazer avançar um projecto. A sua grande luta era, como dizia, “contra a omnipresente burocracia vigente”.
Como Director da escola, era frequente ter
discussões vivas com o que chamava “lobby dos associados” (Diogo
Lucena, Fernando Brito Soares, Manuel Pinto Barbosa, António Pinto
Barbosa, Miguel Beleza – todos professores doutorados naquela altura),
discordando muitas vezes da visão mais liberal e anglo-saxónica dos
docentes formados nos EUA, que tentavam imprimir uma maior dinâmica no
ensino. Contudo, manifestou sempre abertura e uma grande capacidade de
encaixe, permitindo que a Faculdade de Economia fosse evoluindo e
melhorando.
António Pinto Barbosa recorda Alfredo de Sousa como “uma pessoa duma
ombridade extraordinária”, com um culto pelo esforço e pelo trabalho.
Já Fernando Brito Soares, também Professor na Faculdade de Economia da
Universidade Nova de Lisboa, destaca a sua força de vontade e
necessidade de completar tudo a que se comprometia, sempre assertivo e
com respeito pelos outros. Normalmente afável, só a incompetência, o
desleixo e a completa falta de rigor e exigência irritavam
verdadeiramente Alfredo de Sousa. E quando não suportava uma situação,
tinha sempre coragem para o dizer. O Professor Brito Soares lembra
mesmo uma ocasião em que, quase em ruptura com o então Ministro da
Educação, devido à burocracia relativa a um projecto da Faculdade,
terá mesmo ameaçado demitir-se caso não fossem eliminados os
procedimentos burocráticos.
A 3 de Novembro de 1994, Alfredo de Sousa foi
mortalmente atropelado quando atravessava numa passadeira. O seu
falecimento foi um choque para todos os que o conheciam e que foram
tocados pela marcante personalidade daquele que foi, sem dúvida, uma
figura ímpar da sociedade portuguesa.
Texto tomado de la Universidade Nova de Lisboa
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