Revista académica de economía
con
el Número Internacional Normalizado de
Publicaciones Seriadas ISSN
1696-8352
Rafael Souza Lopes (1)
gurilei@yahoo.com.br
Eduardo Mauch Palmeira (2)
eduardopalmeira@brturbo.com.br
RESUMO
O presente texto trata da crise internacional e sua relação com o Brasil. Visto que, apesar dos mecanismos de contenção por parte dos governantes, já podemos sentir as conseqüências dessa crise se refletindo em todos os países, inclusive no Brasil. Já não podemos mais dizer que desconhecemos as causas da crise econômica e de juros aqui no Brasil. A pergunta é: como enfrentar essa crise internacional?
Palavras-chave: crise política, economia mundial, desenvolvimento, comércio
exterior, Estados Unidos.
Souza Lopes y Mauch Palmeira: "A crise financeira mundial: impactos sobre o Brasil" en Observatorio de la Economía Latinoamericana, Número 105, 2008. Texto completo en http://www.eumed.net/cursecon/ecolat/br/
Todos sabem que o Fundo é uma agência obsoleta para os propósitos de regulação financeira internacional, que se limita a seguir a orientação do Tesouro americano. Este tenta impor as regras, mas não funciona bem como emprestador internacional de última instância. Na verdade não pode fazê-lo porque é devedor e não credor, como no após guerra. Entretanto, o maior país credor da atualidade, o Japão, aprofunda sua crise e a banca japonesa, por razões de equilíbrio patrimonial, ameaça retirar o dinheiro investido em títulos da dívida pública americana. Assim a instabilidade cambial internacional aumenta e os mercados financeiros desregulados contaminamse uns aos outros, podendo, no caso de agravar-se a crise japonesa, conduzir a uma crise global.
Outros sintomas da crise internacional começam a aparecer. Previsões recentes reduzem pela metade o crescimento em alguns países. Segundo previsões otimistas, como as do Fundo Monetário Internacional, os mercados financeiros só estarão plenamente restabelecidos a partir de 2010. A despeito da dificuldade de avaliação, não há dúvida que a crise provocou e provocará fortes impactos negativos na produção e no comércio mundial.
No âmbito da economia mundial, algumas previsões dão conta da desaceleração do crescimento que passará de 4,9%, em 2007, para 3,7% e 3,8%, respectivamente em 2008 e 2009. Existe ainda o cenário de que o crescimento mundial possa ficar abaixo de 3% em 2008 e 2009. Se estivermos diante de uma crise de insolvência, provavelmente se materializará o cenário desfavorável, representando o fim da atual fase de expansão da economia mundial. No que diz respeito à economia dos EUA, principal “locomotiva” do sistema, verificou-se a rápida e forte desaceleração do nível de atividade, dado que a crise mobiliário-financeira afetou negativamente o consumo das famílias e os investimentos totais, mais especificamente os investimentos em residências. As previsões do FMI para a economia dos EUA são de que o PIB deverá crescer apenas 0,5% e 0,6%, respectivamente até o final deste ano e também em 2009. Cenário este que caracterizaria uma prolongada fase de recessão econômica.
Além disso, os preços de exportação da indústria de informática despencam. Os preços do petróleo, cobre, grãos, estão em queda livre por excesso de oferta, apesar das baixas taxas de juros. A deflação de ativos está conduzindo à recessão e deflação de preços. A situação tornou-se crítica a tal ponto que em janeiro de 2008 o presidente Bush anunciou um pacote de incentivos fiscais da ordem de US$ 150 bilhões. O pacote de incentivos fiscais constitui-se na restituição de impostos, a milhões de contribuintes.
Por outro lado, as explosões atômicas da Índia e do Paquistão indicariam, na opinião de muitos analistas, que a crise não se limita aos aspectos financeiros e comerciais e avança também nos aspectos políticoestratégicos, pondo em questão a 'pax americana'. Ambas as tendências assustam a China, que reclama da falta de providências dos Estados Unidos na crise financeira asiática, mas não está disposta a submeter-se às regras de abertura descontrolada nem aceitar a arbitragem nuclear unilateral dosEstados Unidos na Ásia.
Tomando distância da conjuntura interna e olhando a longo prazo, dá para perceber que o Brasil – mesmo com economia menor e mais dependente do comércio exterior – teria mais possibilidades de resistir do que outros países e de ultrapassar a crise. Não por razões macroeconômicas, já que os desequilíbrios neste setor são violentos, mas porque é um dos poucos países que ainda podem enfrentar uma modificação no seu modelo de desenvolvimento de forma incorporadora, mudando o comportamento de submissão ao 'pensamento único' e às práticas neoliberais. As possibilidades de reorientar a alocação de recursos para aproveitar o potencial de crescimento do mercado interno de produtos básicos e de bens e serviços não transacionáveis são reais. Igualmente existem oportunidades de aumentar a eficiência e a divisão de trabalho com os países vizinhos da América do Sul tendo como base o Mercosul. No Brasil, as grandes massas nunca tiveram um destino minimamente claro via acesso à propriedade da terra, à educação e a uma relação salarial estável e progressiva, que foram os instrumentos mais importantes de incorporação em qualquer sociedade moderna. Analistas e economistas brasileiros mais otimistas tem argumentado que a atual crise financeira nos Estados Unidos tende a ter efeitos diretos de pequeno impacto sobre o Brasil.
Todos os países centrais trataram de estimular esses caminhos de integração, não apenas para expandir os respectivos mercados internos, mas para aumentar a própria capacidade de defesa, através da formação de povos de cidadãos. Aqui, nas crises, sempre “fugimos para a frente”, buscando defender os interesses das elites regionais e nacionais e ignorando os interesses e necessidades da maioria da população. Do ponto de vista da sociedade, construímos um país que só obteve êxito do ponto de vista do capital. Durante décadas crescemos mais do que todos, ora com democracia formal, ora com ditadura, mas nunca com democracia de massas. O povo assistiu embasbacado à Proclamação da República, ao golpe de Vargas, à morte do mesmo Vargas e ao golpe de 1964. Só deixou de estar paralisado a partir de 1977, quando participou ativamente da luta contra a ditadura e pelos direitos sindicais e sociais. Começamos a nos mover na rua por direitos há pouco tempo. O teste da democracia, entre nós, ainda não está terminado. Liquidamos a ditadura para tentar virar uma nação de cidadãos, mas aos poucos fomos perdendo esta perspectiva.
Hoje, frações do povo brasileiro lutam em todos os horizontes e só conseguem ganhar perspectiva e esperança nas eleições presidenciais. Lutam por direitos do cidadão, típicos do século XVIII, por direitos sindicais típicos do século XIX e por direitos sociais do século XX. Este século em muitos aspectos foi terrível, é verdade, mas também trouxe conquistas, que estão ameaçadas pelo atual domínio do capital financeiro internacional. Os trabalhadores estão tentando manter essas conquistas. Lutam no terreno dos direitos, sem rejeitar a herança da modernidade, mas ainda não conseguiram se incorporar de vez, até porque os seus representantes políticos nunca tiveram o direito à alternância democrática no poder, que foi a característica fundamental das democracias do século XX.
Os governos recentes foram ficando cada vez mais tecnocráticos a partir da ditadura. Os economistas, mesmo os da sociedade civil descontente, ficam buscando um 'modelo', quando a situação social e a crise internacional não permitem 'modelos', mas sim requerem opções e políticas claras a favor do povo. A pergunta é: como enfrentar a crise internacional? O Governo declara não saber o que fazer enquanto uma parte das elites progressistas que o acompanha, cada vez mais cansada de sua fatuidade, percebe que o 'modelo' está fazendo água em todo o mundo e parece optar pela visão de Keynes de que "qualquer coisa é preferível ao que os relatórios financeiros chamam de 'melhor opinião de Wall Street”. Em minha opinião, a atual crise internacional só pode ser enfrentada resistindo, negociando com seriedade, pondo os vastos recursos produtivos e a poupança forçada dos trabalhadores -que estão sendo desperdiçados -a favor de projetos que gerem emprego, modernizem as infraestruturas básicas e garantam a universalização dos direitos sociais. Esta é a matriz básica a partir da qual devem desdobrar-se todos os projetos concretos. Segundo previsões otimistas, como as do Fundo Monetário Internacional, os mercados financeiros só estarão plenamente restabelecidos a partir de 2010. Por isso, não há dúvida que a crise provocou e provocará fortes impactos negativos na produção e no comércio mundiais.
A Oposição tem um projeto nacional afirmativo claramente identificado com os interesses do povo brasileiro. Quaisquer que sejam as turbulências que nos atinjam, temos condições objetivas de levá-lo adiante, desde que se atue com determinação, utilizando os recursos primordialmente para melhorar a situação dos de baixo. O Brasil é um país continental, tem potencialidades de desenvolvimento, tem condições objetivas que independem do capital especulativo, que independem da globalização. Tem condições de dar alimentação, vestuário, calçado, escola e um mínimo de saúde e seguridade social à sua população. Embora possa levar algum tempo, existem condições objetivas de converter o país numa nação, como o fizeram, aliás, vários países no mundo, nas crises internacionais anteriores e nas situações mais diversas de desenvolvimento e organização social da produção e sistema político.
Não creio que com a extensão e profundidade da atual crise as elites de poder tenham condições de, uma vez mais, 'fugir para frente'. Agora a superação da crise, supõe mudanças efetivas na alocação dos recursos e reformas distintas das apregoadas pela ordem neoliberal, que só fazem ampliar o fosso da dependência e da apartação social e econômica. Não podemos mais delegar os destinos do país às tradicionais elites nacionais ou internacionais. A extensão, a profundidade e as conseqüências da crise ainda são elementos de difícil avaliação, haja vista a dificuldade de se saber se a crise é de liquidez ou de solvência dado que as perdas dos bancos comerciais e de investimentos podem ser ainda maiores do que as estimativas recentes.
Mais uma vez, a crise econômica nos Estados Unidos não se daria, contudo, sem afetar diretamente a autonomia dos demais países do mundo, incluindo o Brasil. Em face de tais fatos dessa crise na economia mundial e seus efeitos sobre a dimensão de um país, como o Brasil, deve haver um esforço conjunto de análise, à luz dos interesses do povo brasileiro. Desta vez, o povo tem que se posicionar frente ao mundo em relação à crise, que não interessa de forma alguma somente aos Estados Unidos, e como já foi dito, já não podemos mais dizer que desconhecemos as causas da crise econômica e de juros aqui no Brasil.
Nossos governantes precisam estar dispostos a atuar ativamente mostrando que também tem condições de lidar com a crise, criando possibilidades em participar de decisões no que se refere a economia do Brasil, para evitar ainda mais uma desaceleração e um menor crescimento da economia em nosso país.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Jornal Zero Hora. Crise econômica já chegou ao bolso do brasileiro. Porto Alegre, 11 de novembro de 2008.
_____ . Governadora prevê que crise mundial atingirá o RS. Porto Alegre, 2 de outubro de 2008.
_____. Ministro diz que crise mundial não prejudicará mercado de trabalho brasileiro. Porto Alegre, 20 de outubro de 2008.
Diário Catarinense. Edição online. Especialista explica como a crise econômica mundial afeta o bolso do brasileiro. Florianópolis, 29 de setembro de 2008.
Canal Rural (Reportagem). Crise econômica e retração do consumo entram em pauta durante a Sial 2008. 29 de outubro de 2008.
NOTAS
1. Acadêmicos do MBA Gestão Estratégica de Negócios- Faculdade Atlaântico Sul
de Pelotas – AESA
2. Economista e Especialista em T.I. (UCPel-RS/Brasil), Economista da
Universidade Federal do Pampa-UNIPAMPA (Bagé-RS/Brasil), Professor de Economia
Empresarial do MBA Gestão Estratégica de Negócios- Faculdade Atlaântico Sul de
Pelotas – AESA e Mestrando em Integración Económica Global y Regional-
Universidad Internacional de Andalúcia- UNIA-ES (Orientador)