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"Contribuciones a la Economía" es una revista académica con el
Número Internacional Normalizado de Publicaciones Seriadas
ISSN 16968360

Economically, You’re what you read

Paulo Reis Mourão
Universidade do Minho, Portugal
paulom@eeg.uminho.pt

Resumo:
Este pequeno artigo sintetiza as preferências por níveis de imprensa de cinco distritos portugueses, coincidentes com a denominada NUT II Norte, a grosso modo. Utilizando um Índice de Preferências Específicas, demonstra que a região prefere a leituras de revistas de assuntos femininos, de jornais diários e de temas desportivos, quando comparamos com o conjunto nacional.

Palavras-Chave: Preferências; Imprensa de Portugal; Especificidades regionais

Abstract:
This short article synthesizes the preferences for different kinds of publications in the five districts of the North of Portugal. Recurring to an Index of Specific Preferences, it shows that the region prefers to read the reviews related to feminine themes, the daily news and the sportive newspapers.

Key-Words: Preferences; Portuguese Press; Regional Specificities


JEL Codes: D02; R22; Z11


Para citar este artículo puede utilizar el siguiente formato:

Reis Mourão, P.  “Economically, You’re what you read" en Contribuciones a la Economía, octubre 2006. Texto completo en http://www.eumed.net/ce/


 

1. Introdução

A concepção, a divulgação, a crítica, o aperfeiçoamento e o estudo de indicadores económicos assumem-se como as principais etapas de um processo que, indubitavelmente, comporta um melhor conhecimento da realidade, primeiro, na sua dimensão quantitativa mas, posteriormente, no domínio qualitativo.

            Um conjunto de indicadores que entra em áreas não exclusivamente económicas mas, igualmente, sociais é formado pelos designados “Indicadores de Qualidade de Vida”. Este agrupamento, extremamente diversificado quanto à constituição dos objectos de estudo tem recebido atenções crescentes em várias instâncias, entre as quais, pela responsabilidade internacional do seu alcance, o Relatório das Nações Unidas para o Desenvolvimento Humano. A justificação predominante faz identificar observações positivas em diversos indicadores qualitativos enquanto revelações de infra-estruturas económicas sustentadas, políticas locais, nacionais e supra-nacionais integradas e generalização dos esforços de crescimento económico a um universo populacional alargado – em suma, os “Indicadores de Qualidade de Vida” surgem-nos como confirmação de um desenvolvimento económico que, necessariamente, não se limita aos valores macroeconómicos da produção ou do rendimento.

            Neste contexto, a observação atenta da imprensa, da distribuição geográfica das tiragens, dos preços praticados por segmento editorial e das preferências populacionais, podem suscitar-nos diversas extrapolações. O acesso à informação é, hoje, uma exigência democrática que, se não convenientemente compreendido, incontornavelmente, ostraciza aquelas franjas da população que não conseguem receber o manancial de dados que outros observam. Enquanto meio de comunicação, a imprensa tem, desde há mais de quatro séculos, acompanhado o processo de transformação económica e social das sociedades ocidentais, de um modo muito significativo. Por isso, naturalmente, a apreciação dos valores relativos às tiragens, aos preços e à desigual distribuição regional, no nosso país e, mais concretamente nos cinco distritos mais setentrionais de Portugal (Viana do Castelo, Braga, Porto, Vila Real e Bragança), em 2001 possibilitou interessantes observações aqui compartilhadas.

            De salientar, ainda, a generosa colaboração da Associação Portuguesa para o Controlo de Tiragem e Circulação (APCT) que, através da disponibilização do seu Boletim Informativo de Março do corrente, constituído por dados referentes ao período de Janeiro a Dezembro de 2001, possibilitou a análise apresentada.

 

            2. Metodologia de Análise, Resultados e Discussão

            Assim, com base em 101 observações constituiu-se uma amostra do conjunto presente no referido Boletim que cobre, significativamente, o panorama da imprensa nacional. Posteriormente, as observações individualizadas foram agrupadas por afinidade temática, sendo aqui apresentados os resultados operados sobre 6 das 17 categorias realçadas (segmentos Automóvel, Especialidade Técnica/Profissional, Feminina, Informação genérica não diária, Informática, e Diários).

            O QUADRO 1 revela-nos os primeiros resultados da análise, relacionando-nos a circulação média nacional por título com o preço médio por título.

QUADRO 1 – CIRCULAÇÃO MÉDIA NACIONAL POR EDIÇÃO E POR TÍTULO e PREÇO MÉDIO POR TÍTULO (ano de 2001)*

Segmento

Automóvel

Especialidade Técnica/Profissional

Feminino

Informação genérica não diária

Informática

Diários

Circulação Média nacional por edição e por título

23148

(11026)

20696

(18201)

70427

(78276)

57960

(52362)

20762

(10222)

50619

(40126)

Preço médio por título (€)

2,13

(0,78)

3,09

(1,2)

1,74

(0,86)

2,31

(0,69)

4,58

(0,98)

0,65

(0,15)

* Os valores entre parêntesis assumem-se como os respectivos desvios-padrão

Fonte: cálculos do autor com base no Boletim Março 2002/APCT

            Desde logo, verificamos que o segmento com maior circulação média nacional por edição por título é o feminino, oscilando equilibradamente a periodicidade entre o mensal e o semanal. Cada editor coloca, em média, no mercado nacional, 70427 exemplares por título de revista editada, primordialmente, a pensar num público feminino. No entanto, é também aquele cujo desvio-padrão é mais acentuado (78276). O segmento da Informação genérica não diária apresenta o segundo valor mais alto para a circulação média nacional, estando aqui englobadas as revistas e os jornais generalistas cuja periodicidade é semanal ou mensal. O terceiro valor ostentado pelos diários explica-se pelo facto de termos considerado aqui, para lá dos generalistas, os diários desportivos e de especialidade, bem como os de distribuição regional concentrada (nomeadamente, o Diário do Minho). Como esperado, são as publicações de Especialidade (de Economia, de Arquitectura, do Direito, por exemplo), de periodicidade predominante mensal (com excepção da área económica, com um número razoável de títulos semanais), aquelas cuja circulação média nacional por edição por título é menor, pois, à partida, o seu público-alvo é constituído pela conjugação de factores muito específicos e, por outro lado, colaborações especializadas e tratamentos de dados e de matérias sob ópticas profissionais obriga a custos acrescidos com redacções peritas.

            O segmento mais acessível é, como esperado, o dos diários, sendo os mais caros, os da Informática (o mais custoso) e o da Especialidade Técnica/Profissional (o mais dispendioso).

            No total da amostra considerada, o distrito de Braga recolhe 4,8% das tiragens nacionais, Bragança 0,6%, Porto 16,5%, Viana do Castelo 1,8% e Vila Real 1,1%. Existe, portanto, uma correlação praticamente perfeita (0,99) com a distribuição populacional destes distritos em 2001 (Braga com 8,3% da população portuguesa, Bragança com 1,44%, Porto com 17,21%, Viana do Castelo com 2,42% e Vila Real com 2,18%)[1].

            O QUADRO 2 permite-nos observar as médias da circulação total por edição por título, agrupadas em segmentos e desagregadas pelos cinco distritos focados  

QUADRO 2 – CIRCULAÇÃO MÉDIA DISTRITAL POR EDIÇÃO E POR TÍTULO, (ano de 2001)*

Segmento

DISTRITOS

Braga

Bragança

Porto

Viana do Castelo

Vila Real

Automóvel

1104,02

(558,3)

155,57

(123,8)

3544,56

(1790,6)

297,21

(157,3)

259,35

(158,65)

Especialidade Técnica/Profissional

754,08

(629,5)

103,43

(120,9)

3213,10

(2729,7)

236,56

(246,8)

174,28

(194,8)

Feminino

4215,24

(7500,0)

594,88

(937,1)

11913,14

(18434,35)

1378,83

(2141,0)

996,79

(1622,59)

Informação genérica não diária

2194,69

(2357,93)

348,60

(392,26)

7711,47

(7305,14)

781,30

(795,18)

538,58

(582,37)

Informática

763,80

(334,1)

139,29

(84,7)

3134,25

(1570,9)

245,68

(86,3)

200,42

(106,6)

Diários

3141,7

(3462,8)

291,90

(347,6)

12023, 97

(22547,83)

908,35

(1327,4)

528,29

(663,0)

* Os valores entre parêntesis assumem-se como os respectivos desvios-padrão

Fonte: cálculos do autor com base no Boletim Março 2002/APCT

            Como constatado no QUADRO 2, é o segmento feminino aquele onde cada editor coloca nos cinco distritos acusados maior número médio de exemplares (desde, aproximadamente, os 595 exemplares por título editado a circularem no distrito de Bragança, até aos 11913 exemplares presentes no distrito do Porto). No outro extremo, os títulos de Especialidade Técnica/Profissional continuam a ser os menos procurados na região mais setentrional do país, oscilando os seus valores entre os 103 exemplares por cada revista ou jornal de especialidade comprados no distrito de Bragança em 2001 e os 3213 procurados no distrito do Porto.

            O QUADRO 3 revela-nos o número de exemplares, por segmento, presente em média em cada distrito por 100 mil habitantes.

QUADRO 3 – Nº DE EXEMPLARES, POR SEGMENTO, POR 100 MIL HABITANTES (ano de 2001)

 

DISTRITOS

Segmento

Braga

Bragança

Porto

Viana do Castelo

Vila Real

Automóvel

1195,2

940,9

1790,4

1068,8

1043,3

Especialidade Técnica/Profissional

1179,2

903,6

2344,2

1228,8

1012,7

Feminino

6591,3

5196,9

8691,7

7162,1

5791,9

Informação genérica não diária

3167,8

2811,1

5193,4

3746,2

2888,7

Informática

643,1

655,2

1231,3

687,2

627,1

Diários

3778,9

1961,6

6748,1

3629,4

2361,3

Fonte: cálculos do autor com base no Boletim Março 2002/APCT e nos Censos Provisórios de 2001/INE

           

            Verificamos que é no distrito do Porto que existe, em todos os segmentos, o maior número de exemplares, por cada 100 mil habitantes (ultrapassando sempre os 1000 exemplares por segmento). Em contrapartida, o distrito de Bragança é aquele que ostenta o menor valor desta variável no conjunto regional apreciado, sendo só o segmento feminino a oferecer mais de 5000 exemplares por 100 mil habitantes, cenário semelhante ao do distrito de Vila Real (no geral, o quarto nesta distribuição).

            É possível verificarmos que, em Braga, existe um exemplar de jornal diário por 26 habitantes; em Bragança, o mesmo diário destina-se a 51 pessoas; no Porto, 15 pessoas dividem a leitura desse exemplar; em Viana do Castelo, o grupo de leitores desse exemplar diário conta, em média, com 28 indivíduos e, em Vila Real, há 42 leitores potenciais por exemplar diário vendido.

            O segmento mais substantivo no conjunto é, nitidamente, o feminino (ultrapassando em todos os casos os 5000 exemplares vendidos por 100 mil habitantes), secundarizado pelo da Informação (diários e Informação genérica não diária). O segmento da Informática é aquele que apresenta menor número de exemplares por 100 mil habitantes, não atingindo nos cinco distritos os 1000 exemplares por 100 mil habitantes.

 

            Finalmente, apreciando o QUADRO 4, foi curiosa a análise possibilitada pela sugestão de um Índice de Preferências Específicas (construído tendo por base a noção de Quociente de Localização[2]), indicativo das preferências especiais de cada distrito face aos segmentos em análise.

 

QUADRO 4 – Índice de Preferências Específicas dos distritos (ano de 2001)

 

DISTRITOS

Segmento

Braga

Bragança

Porto

Viana do Castelo

Vila Real

Automóvel

0,99

1,04

0,93

0,87

1,06

Especialidade Técnica/Profissional

0,76

0,77

0,94

0,77

0,79

Feminino

1,24

1,30

1,03

1,32

1,33

Informação genérica não diária

0,79

0,93

0,81

0,91

0,88

Informática

0,76

1,04

0,92

0,80

0,91

Diários

1,29

0,89

1,44

1,21

0,98

Fonte: cálculos do autor com base no Boletim Março 2002/APCT

 

            Assim, a franja de distritos estudada revela-nos uma preferência pelo segmento feminino, quando comparamos os dados de cada distrito com os do país, alcançando o valor maior (1,33) no distrito de Vila Real. Este valor pode ser compreendido enquanto indicativo da seguinte situação: quando no conjunto do país 10 exemplares de edição pertencente ao segmento feminino são adquiridos, no distrito de Vila Real, proporcionalmente, foram comprados, aproximadamente, 13,3 exemplares da mesma edição.

O valor mais elevado deste quadro pertence à célula referente às preferências por diários no distrito do Porto, onde existe uma grande atenção sobre este segmento (1,44). Também Braga e Viana do Castelo apreciam especialmente a leitura diária de um jornal com, respectivamente, 1,29 e 1,21.

O segmento automóvel encontra leitores muito atentos nos distritos de Bragança e Vila Real havendo a interessante curiosidade de Bragança ser, neste caso, um distrito com uma atenção muito peculiar sobre o segmento da Informática, adquirindo-se aí, no cabaz conjunto de edições, uma parcela maior deste segmento recente comparativamente ao praticado no país, algo que não se observa no resto da região norte.

Notoriamente, a região pretere o segmento da Especialidade Técnica/Profissional, adquirindo proporcionalmente menos (valores do índice inferiores à unidade) que o conjunto nacional.

 

3. Conclusão

Como conclusões do estudo, podemos referir os seguintes aspectos:

-                            existe, no conjunto nacional, uma média da circulação total por edição (unidades vendidas) superior no segmento feminino. Nos lugares subsequentes, encontramos os segmentos da Informação genérica não diária (periódicos semanais ou mensais, independentemente de serem jornais ou revistas) e os Diários.

-                            Por sua vez, os distritos observados, à semelhança do país, dedicam um interesse muito frívolo ao segmento da Especialidade Técnica/Profissional, ainda conotado com grupos restritos da população.

-                            Em termos regionais, os distritos do Porto e de Braga são aqueles onde existe um maior número de exemplares vendidos por segmento por 100 mil habitantes, sendo os distritos do interior (Vila Real e Bragança) os que ostentam os valores mais baixos deste indicador nos vários segmentos considerados.

-                            Toda a região visada assume uma preferência especial (face à tendência nacional) pelo segmento feminino, com notoriedade própria, nos distritos do interior. No segmento dos diários Braga, Porto e Viana do Castelo são consumidores privilegiados (também em virtude de deterem jornais diários de distribuição  regional, à semelhança do Diário do Minho, que contribuem positivamente para esta realidade). Os segmentos da Especialidade Técnica/Profissional e da Informática, este mais recente, aquele com uma população mais sensibilizada em crescimento, são os que ainda menor atenção recolhem no conjunto geográfico focado e nos segmentos apresentados.

 

 


 

[1] Os dados populacionais desagregados por distrito resultam de cálculos do autor, efectuados com a colaboração do NIPE – Núcleo de Investigação em Política Económica, da Escola de Economia e Gestão da Universidade do Minho, tendo por base os resultados provisórios dos últimos Censos, divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) em 2001.

[2] Quociente de Localização do indicador x no sector (ou, neste caso, segmento) j na região i (QLji) pode ser expresso por

QLji= , onde xj=Sxij e x=Sxi=Sxj=SSxij (em LOPES, A.Simões ;1984; Desenvolvimento Regional – Problemática, Teoria, Modelos; Fundação Calouste Gulbenkian; Lisboa; pg. 55-56)


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