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Número Internacional Normalizado
de Publicaciones Seriadas
ISSN 16968360
Pagina nueva 1 CONSTRUINDO UM MUNDO MELHOR:
A ABORDAGEM ECOSSISTÊMICA DA QUALIDADE DE VIDA
ANDRÉ FRANCISCO PILON (CV)
Professor Associado
Faculdade de Saúde Pública, Universidade de São Paulo
gaiarine@usp.brResumo: Qualidade de vida, ambientes naturais e construídos, bem-estar físico, mental e social, estão atualmente prejudicados por todo tipo de agravo e injúria, em um contexto de desumanização, massificação e reificação. Ao invés de aceitar como dadas as "bolhas" na superfície e definir os problemas atuais em termos de representações fragmentadas da realidade, a abordagem ecossistêmica proposta trabalha com as configurações dinâmicas e complexas dentro do "caldeirão efervescente". Os eventos são definidos como configurações que entrelaçam quatro dimensões de estar-no-mundo: íntima, interativa, social e biofísica (processos cognitivos e afetivos; apoio recíproco e valores no grupo; aspectos políticos, econômicos e culturais; ambientes naturais e construídos, seres e coisas). O diagnóstico e o prognóstico levam em conta as quatro dimensões como doadoras e receptoras, induzindo eventos (favoráveis e desfavoráveis); lidando com os efeitos (desejados e indesejados) e contribuindo para a mudança. Ao invés de projetar para o futuro as tendências de hoje, propõe-se a definição prévia das metas desejadas e a exploração de novos caminhos para alcançá-las. Processos heurístico-hermenêuticos nos nichos sócio-culturais de aprendizagem desvelam os paradigmas culturais e epistêmicos que orientam as relações sujeito-objeto, elevando patamares, ao invés de "corrigir" situações para torná-las "certas"; eventos confiáveis, eqüitativos, sustentáveis e capacitadores em ética, cultura, educação, ambiente, saúde e qualidade de vida são associados com o desenvolvimento de um modelo ecossistêmico de cultura, tendo em vista novos conceitos de conhecimento, riqueza, poder, crescimento, trabalho e liberdade. A proposta integra as áreas de desenvolvimento, ecologia política, psicologia e antropologia, dando as pessoas a oportunidade de comprometer-se em experiências cruciais para o encontro de novas formas de viver melhor em um mundo melhor.
Descritores: qualidade de vida, cultura, educação, ambiente, ecossistemas;Abstract: Quality of life, natural and man-made environments, physical, social and mental well-being are presently undermined by the contemporary cultural, political, social and economical disarray; hazards, injuries, violence and atrocious behaviours spread throughout the world, in a context of dehumanisation, depersonalisation and reification. Definition of problems is reduced to the "bubbles in the surface of a boiling pot", reality is fragmented by academic formats, mass-media headlines, market-place's interests and common sense prejudices. Instead of taking current prospects for granted, a multi-dimensional ecosystemic approach is posited to analyse and work with the problems of development, culture, education, communication, ethics, environment, health and quality of life, considering the dynamic and complex configurations intertwining four dimensions of being-in-the-world: intimate, interactive, social and biophysical (subject’s cognitive and affective processes; groups' mutual support and values; political, economical and cultural systems; natural and man-made environments and contexts). Diagnosis and prognosis take into account the configurations formed by the four dimensions as donors and recipients, unveiling the connections and ruptures between them, as they induce the events (deficits and assets); cope with effects (desired or undesired); and contribute for change. Instead of an exploratory forecasting (projection into the future of the trends of today); a normative forecasting is posited (previous definition of desirable goals and exploration of new paths to reach them). Heuristic-hermeneutic communication processes in the socio-cultural learning niches unveil cultural and epistemic paradigms which orient subject-object relationships, "enhancing" and "up-grading", instead of "repairing" situations to make them "straight". The proposal is a participatory, experiential and reflexive approach, giving people the opportunity to reflect on their own realities, engage in new experiences and find new ways to live better in a better world. Accountability, equity, sustainability and empowerment are associated with an ecosystemic model of culture and new concepts of knowledge, wealth, power, growth, work and freedom.
Key-words: Quality of Life; Culture; Education; Environment; Ecosystems.
Para citar este artículo puede utilizar el siguiente formato:
André Francisco Pilon “Construindo um mundo melhor: A abordagem ecossistêmica da qualidade de vida" en Contribuciones a la Economía, julio 2006. Texto completo en http://www.eumed.net/ce/
1. AS BOLHAS OU O CALDO EFERVESCENTE?
O mundo de hoje sofre o impacto de poderosos interesses, que, sob o pretexto do "desenvolvimento", buscam a hegemonia política, econômica e cultural, afetando gravemente o equilíbrio entre as diferentes dimensões de mundo, em prejuízo do bem-estar físico, mental e social de populações inteiras.
Controlada por esses mesmos interesses, a definição e compreensão dos problemas é prejudicada por representações fragmentadas da realidade, que se limitam às "bolhas de superfície", objeto de discursos políticos e acadêmicos e das manchetes de jornais, ignorando o caldo no bojo do caldeirão efervescente (fig.s 1 e 2).
Projetos dirigidos às bolhas da superfície ocultam graves anomalias no bojo do caldeirão, gerando uma exclusão de princípio: diagnóstico redutor, políticas segmentadas, agravamento da situação. Nessa situação, ao tentar desembaraçar os fios da meada, mais emaranhado torna-se o novelo.
No bojo do caldeirão subsiste um sistema caraterizado pelo poder como “domínio e exploração”, riqueza, como “exploração predatória”, crescimento, como “expansão ilimitada”, trabalho, como “especialização” (O’Sullivan, 1987), em prejuízo do ambiente físico e social e da qualidade de vida.
A "inclusão", nesse sistema de coisas, gera um circulo vicioso: os novos "incluídos" buscam gozar irrestritamente das "benesses" oferecidas, mediante o consumo e o descarte generalizados, a mascarar a ausência de bem-estar geral, de saúde física, mental e social, sem questionar as estruturas responsáveis pela exclusão[1].
Sob o patrocínio de uma devastadora rede de “produtores e consumidores egocêntricos” (Chermayeff & Tzonis, 1981), legitima-se uma cultura de gozo imediato e exclusivo de recursos, posições e recompensas, em que alguns podem usufruir de todos os "direitos" e os demais acumulam toda sorte de obrigações.
A problemática atual tem como pano de fundo um "modus vivendi" desastroso, que repercute de forma cruel sobre os segmentos desfavorecidos da população, coartados em seu desenvolvimento e incentivados a buscar, a qualquer preço, os simulacros oferecidos pela sociedade de consumo, na tentativa de igualar-se aos mais privilegiados.
A capacidade de escolha e decisão é afetada, pelo lado da oferta, por um quadro de "opções" preestabelecidas pelas estratégias de “marketing” e propaganda[2], pelo lado da demanda, pela perda de sensibilidade e capacidade crítica para distinguir o que efetivamente importa para a qualidade de vida.
Sob o rótulo de "desenvolvimento", acelera-se a deterioração de valores que levaram séculos para serem construídos, uma guerra civil não declarada faz vítimas diárias, devido à toda sorte de desmandos e injúrias, à crescente criminalidade em todas as esferas[3], solapando a confiança mútua na sociedade como um todo.
O "inimigo" se incorpora ao próprio sistema e escapa à detecção em qualquer sítio em particular. A confiança mútua, como estrutura portadora das relações humanas, é indelevelmente abalada pela imposição, às vezes sutil, às vezes brutal, dos mais variados interesses, tais quais "vorazes raposas, a tomar conta de um galinheiro” (Lang, 2001).
Nesse contexto, o neo-liberalismo assemelha-se a um anarquismo às avessas[4]; enquanto este preconiza a cooperação entre os homens, a produção de bens em escala humana, o respeito ao ambiente natural e construído, a descentralização política e econômica, os atuais modelos de desenvolvimento levam ao inverso[5].
Enquanto aliam-se à omnipotência da tecnologia, deteriora-se a qualidade de vida, espaços públicos necessários a cidadania, trabalho, educação, convivência e lazer ficam a mercê dos interesses que os exploram, carências de toda ordem são "substituídas" por simulacros de consumo, busca-se a segurança específica às custas da insegurança geral.
O declínio cultural reflete-se na perda de sensibilidade e capacidade crítica para discernir e implementar valores estéticos, éticos e culturais, hoje substituídos, pela comunicação de massa, por jargões, “slogans” e propaganda interesseira, pela algaravia audio-visual das corporações de negócios.
A degradação da cultura é mais grave do que a ausência de direitos prescritos. Direitos civis, políticos, econômicos ou sociais necessitam de uma cultura que os sustente, sob pena de figurarem apenas no papel. Além dos códigos, estruturas e instituições, dos direitos e deveres estatuídos, estão os processos e condições que os sustentam.
Rompido o tecido cultural, as salvaguardas públicas tornam-se inócuas, as massas, guiadas pelo carrossel do consumo, tornam-se vítimas de um gigantesco "shopping mall" de liberdades e prazeres imediatos, controlado por espertos oportunistas, que passam a ditar condutas desvinculadas de qualquer responsabilidade.
A luta contra a corrupção, as iniqüidades e as injustiças (não deixando em paz quem as pratica ou com elas compactua), implica no reconhecimento de que são conseqüências do sistema que lhes dá guarida e não resultam, apenas, de peculiaridades individuais, como podem levar a crer os contextos dramático-narrativos dos "mass-media" (Macé, 2001).
Direitos humanos não podem ser "colados" em contextos de vida desfavoráveis (para torná-los, por milagre, favoráveis); é preciso cuidar do caldeirão efervescente, das iniqüidades e dos abandonos; o cuidado com o outro não se confunde com pactos de interesses, legítima defesa ou simples solidariedade (Levinas, 1974).
A outorga de direitos não é suficiente: dar a todos o "direito de tocar piano" não implica em liberdade para tocá-lo, se ninguém aprendeu como fazê-lo e o piano não existe. Liberdade não é apenas a ausência de coerção externa (liberdade "de"), mas é a possibilidade escolher o que é melhor para si e para os demais (liberdade "para") (Fromm, 1966).
Qualidade de vida, direitos humanos, ambiente físico e social transcendem os fatores meramente econômicos, necessitam de um universo ético e cultural, sem o qual nenhuma legislação garante qualidade de vida plena, o acesso ao que há de melhor na herança da humanidade, em termos de educação, cultura, arte, beleza, criatividade, convívio e paz[6].
2. FUTUROS ALTERNATIVOS E FORMAS DE ESTAR-NO-MUNDO
O planejamento normativo projeta para amanhã as tendências de hoje, o exploratório define previamente os objetivos e explora novos caminhos para atingi-los (Jungk, 1974). Visões transformadoras vão além de um repertório técnico ou instrumental, futuros alternativos (Galt, 1997; O’Connor et al., 1997), exigem novas visões de mundo.
Os valores gerados em um sistema refletem o próprio sistema ("valor sistêmico") e não podem ser analisados isoladamente (valor "intrínseco"). Observar um conjunto de competências e técnicas é insuficiente; prescrição, auto-suficiência, devem ser abandonadas em favor da criação e da descoberta de novas formas de estar no mundo.
A consciência da crise implica em “não saber com que carta ficar” (Marías, 1996); numa situação de crise é vão tentar “descobrir a verdade", ela é uma qualidade que falta às crenças e as coisas que nos cercam. É preciso superar os “diagnósticos competentes” de uma realidade distorcida pelos próprios “diagnósticos competentes”.
O que está em jogo é a capacidade para responder aos desafios representados pelas formas de estar no mundo, a solução dos problemas depende da teia das relações com a natureza, com o cosmos, com forças que escapam ao nosso controle, a existência humana não pode permanecer fechada sobre si mesma (Wood,. 2000).
Um novo conceito de "normalidade", além da "reparação" ou do "conserto" de coisas ou pessoas, depende de novos paradigmas, de um novo patamar, que não é apenas um “up-grade” tecnológico (Miah, 2003), mas implica aspectos éticos, sociais, políticos, econômicos, culturais e educacionais.
Não podemos esperar que, em um mundo complexo, a questão esteja vinculada a respostas óbvias a perguntas estereotipadas; a qualidade de vida é uma porta giratória, está ligada a um relacionamento dialético entre realidades subjetivas e objetivas, é mais uma questão de processos do que de produtos (Piennar, 1984).
Mahler distingue dois horizontes possíveis em relação à sociedade futura: o “masculinizante”, hiper-expansionista (he), com ênfase apenas na tecnologia e o “feminilizante”, saudável, humano e ecológico (she), que visa não só o pão, mas também as flores, não só poder, mas também a poesia (W.H.O. 1985).
Propostas ingênuas, visando mudanças em áreas específicas, não são duradouras; fugazes e aparentes, ignoram o mundo da vida (Lebenswelt), que dá sentido para as práticas que se pretende modificar, na forma simbólica que a experiência diária assume, radicada nas experiências dos indivíduos e dos grupos.
A emancipação proposta não se confunde com abordagens restauradoras e fragmentadas, mas apoia-se em um conceito integrado de vida como uma construção coletiva, como alguma coisa que está em processo, como responsabilidade de todos, intimamente relacionada com a revisão dos projetos coletivos.
O tipo de conhecimento que temos das coisas, pessoas e situações é relativo, além das categorias da razão lógica, é necessário relacionar “mito” e “razão” (Palo, 1985). Existe uma “consciência possível”, que conforma a definição dos problemas e as "ações saneadoras"; cuja superação implica em duvidar das certezas que presidiram sua definição
Questões de convivência, segurança, ambiente, educação, cultura, saúde e qualidade de vida não podem ser equacionadas por propostas segmentadas, voltadas para os problemas-bolha de superfície (sintomas, conseqüências), sem atentar para as diferentes variáveis que se conjugam no bojo do caldeirão efervescente para produzí-los.
Qualidade de vida, cultura, educação, saúde, bem-estar social, ambientes saudáveis, paz e tranqüilidade são subprodutos dos modelos de cultura. Não é possível eliminar a degradação ambiental, social e cultural, a corrupção, a iniquidade e a violência, na vigência de visões de mundo que as sustentam.
A existência humana enfrenta diferentes dilemas: identidade-isolamento versus ipseidade-alteridade; domínio-sujeição versus compromisso-integração; abertura-investigação versus controle-instrumentação. É necessário dar um sentido moral e cultural à existência, desenvolver a comunicação e propiciar novas formas de estar-no-mundo.
A educação implica o conjunto da sociedade, não é um remendo a mais em um tecido roto. O que define a educação é a responsabilidade social, a capacidade para desenvolver um enfoque compreensivo do projeto de vida, abrangendo todos os níveis da experiência. Não é possível solucionar problemas sem uma nova forma de encará-los.
Não podemos permanecer indiferentes face às conseqüências de uma cultura controlada por corporações de negócios, pela ciranda dos mercados, pelos meios de massa e pela propaganda de poderosos interesses, que buscam associar o consumismo predatório e irresponsável à elevação da qualidade de vida e à felicidade pessoal e coletiva[7].
3. A ANÁLISE DOS EVENTOS EM UMA PROPOSTA ECOSSISTÊMICA
A realidade, tanto física como social, expressa diferentes espécies de conexões, não resulta da soma de diferentes objetos. Pode ser pensada como um gigantesco holograma, no qual cada região de espaço-tempo reflete os diferentes níveis de complexidade de sistemas e sub-sistemas (Capra, 2002; Heisenberg, 1958; Shainberg, in Hiley, 1994).
Sob a ótica da termodinâmica evolutiva, pequenos acréscimos, em sistemas que estão longe do equilíbrio, podem desencadear (devido a relações não lineares), conseqüências globais (Bateson, 1979; Prigogine, 1977; 1980). As intervenções devem levar a movimentos em favor de novas formas de equilibração em um campo dinâmico (Lewin, 1951).
As propostas ecológicas pressupõem diferentes níveis nessa complexa estrutura, abrangendo micro-sistemas, meso-sistemas e macro-sistemas (Bronfenbrenner, 2004). O ambiente, pré e co-existente (Wirklichkeit) e suscetível de conceptualização (Realität), é antes vivenciado como integrante da existência (Lebenswelt) (Wallner e Peschl, 1999).
Estruturas e práticas sociais são complementares, alterações estruturais dependem do desenvolvimento de novas formas de estar-no-mundo, o arcabouço técnico, racional e legal (para o qual são remetidas diferentes questões), necessita do conjunto das forças políticas, econômicas, sociais e culturais para produzir resultados.
À semelhança de um holograma, estamos implicados no mundo e o mundo está implicado em nós, o que está implícito e o que está explícito são faces da mesma moeda. Qualquer que seja a dimensão observada, nela vemos o efeito conjugado de todas as demais: indivíduos, grupos, sociedades e entorno espelham-se mutuamente e refletem o todo.
Trata-se de um campo dinâmico, configurado pelo mundo subjetivo (sujeitos), pelo mundo de relações (grupos primários), pelo mundo dos homens (sociedade) e pelo mundo circundante (ambiente) (Binswanger, 1973). Estar-no-mundo significa existir em diferentes dimensões, que se implicam mutuamente: íntima, interativa, social e biofísica (Pilon, 2003).
Como indivíduos dotados de subjetividade, estamos imersos em uma rede de relações imediata, sofremos e reagimos às injunções de uma sociedade maior e somos afetados pelas condições de nossos corpos e pelo ambiente que nos envolve, sobre o qual exercemos uma influência cada vez maior, em termos de seus aspectos naturais e construídos.
Reconhecer a dimensão íntima é reconhecer o sentido que o mundo assume para cada um, reconhecer a dimensão interativa é reconhecer que esse sentido é mediado pelos grupos de referência, reconhecer a dimensão social é reconhecer o contexto cultural, político e econômico, reconhecer a dimensão biofísica é reconhecer o ambiente natural e construído[8].
Cada dimensão de mundo expressa a si mesma e também espelha todas as demais. Aspectos da dimensão íntima (crenças, valores, atitudes) refletem influências recebidas pelos sujeitos nas dimensões interativa (grupos a que pertencem), social (sociedade da qual fazem parte) e biofísica (ambiente em que vivem).
A dimensão biofísica circunda e constitui o próprio homem, está tanto “fora” (ambiente) como “dentro” (células, órgãos, sistemas). A representação de mundo passa a ser um fenômeno que ocorre no próprio mundo, como parte integrante dele, as "realidades" do homem e do mundo são interdependentes.
Uma caverna (acidente natural topográfico coexistente), pode ser experimentada pelo homem como abrigo, lar, moradia, pode ser concebida pelo cientista como cavidade rochosa formada pela ação das águas, passando a objeto de estudo científico e representada mediante conceitos; necessidades e desejos humanos conformam a representação do mundo.
Mediante aspectos da dimensão biofísica (ecúmeno, habitats, objetos e entorno), podemos reconstituir a vida dos sujeitos, grupos e sociedades, mesmo quando extintos há milênios. A dimensão social, por sua vez, poderá revelar características do respectivo entorno físico, em termos de processos e produtos, clima, solo, vegetação etc.
Para a análise dos eventos é necessário considerar as configurações formadas pela imbricação das diferentes dimensões de mundo, associando motivações (dimensão íntima), apoios reais ou simbólicos de grupos de referência (dimensão interativa), prêmios e sanções (dimensão social) e os ambientes de vida (dimensão biofísica):
· dimensão íntima, características dos sujeitos, enquanto mediadores entre variáveis “objetivas” e “subjetivas" (cognição e afeto, locus de controle, habilidades, auto-estima, motivos, expectativas, crenças, desejos).
· dimensão interativa, características dos grupos primários e de referência (familiares, colegas, amigos, pares, associados), enquanto locus de acolhimento, apoio mútuo, trocas afetivas, construção de significados comuns, liderança compartilhada, diálogo, coesão e inclusão.
· dimensão social, características da sociedade, condições econômicas e políticas, direitos e deveres, qualidade e equidade, trabalho, segurança, cultura, comunicação, cidadania, saúde, ambiente, transporte, moradia, lazer.
· dimensão biofísica, características do ambiente natural e construído, cidades e campos, seres vivos, ecossistemas, cenários, logradouros, vias, ecúmenos, habitats, fauna, flora, clima, matéria e energia.
As dimensões de mundo podem estar em equilíbrio (quadro I) ou em desequilíbrio (quadro II):
· no modelo ecossistêmico de cultura estão em equilíbrio dinâmico, singularidade e reciprocidade são aspectos complementares, há interação, “feed-back” e desenvolvimento recíproco, as diferenças são enriquecedoras, as dimensões têm um papel pró-ativo, em termos de doação e recepção.
· no modelo não-ecossistêmico estão em desequilíbrio, há destruição e ruptura, diferenças e conflitos são exacerbados, o poder torna-se “domínio e exploração”; a riqueza, “exploração predatória”; o crescimento, “expansão ilimitada”; o trabalho, “especialização segmentada".
A análise das configurações existentes e o desenvolvimento de configurações futuras implicam o fluxo de ofertas e demandas entre as diferentes dimensões de mundo, os enlaces e as rupturas que tendem a aproximá-las ou distanciá-las entre si, em termos de diferentes situações e contextos, tanto atuais como potenciais (quadro III).
Na abordagem ecossistêmica proposta, as configurações causais dos eventos devem ser explicitadas (diagnóstico de situação), tendo em vista o desenvolvimento de novas configurações, suscetíveis de desencadear eventos alternativos (prognóstico de mudança); nesse sentido, os projetos deverão
· definir os problemas no bojo do “caldeirão fervente”, não os reduzir às bolhas de superfície (questões aparentes, em voga ou pré-definidas);
· considerar os eventos como configurações dinâmicas resultantes dos enlaces e rupturas entre as quatro dimensões de mundo: intima, interativa, social e biofísica;
· analisar o papel atual e potencial dessas dimensões, tendo em vista seu duplo papel como doadoras e receptoras (o que afeta uma, afeta todas);
· promover a qualidade de vida como resultado da singularidade (identidade própria) e do apoio mútuo entre (reciprocidade) as dimensões de mundo.
Para o planejamento e execução de projetos ecossistêmicos recomenda-se:
1. Definir o campo responsável pelos eventos: As configurações formadas pelas quatro dimensões de mundo (íntima, interativa, social e biofísica) deverão ser descritas em termos do campo dinâmico formado pela ação recíproca de cada dimensão sobre si mesma e sobre as demais, campo esse responsável pelos eventos tal qual se apresentam.
2. Definir o espaço de vida: O espaço de vida deverá ser descrito em termos de ecossistemas (solo, água, ar, flora, fauna), entorno natural e construído, edificações e vias públicas, logradouros, moradias, condições sanitárias, de trabalho, estudo, lazer e cultura, serviços públicos, organizações comunitárias, ecúmeno (urbano/rural), assentamentos.
3. Definir objetivos multidimensionais: Os objetivos nas quatro dimensões de mundo visarão desenvolvimento pessoal e controle existencial (dimensão íntima), qualidade das redes de apoio (dimensão interativa), aspectos políticos, econômicos, sociais e culturais (dimensão social), qualidade dos ambientes naturais e construídos (dimensão biofísica).
4. Definir as estratégias de intervenção: O incremento dos processos de doação e recepção entre as quatro dimensões de mundo poderão abranger os níveis micro, meso e macro: trabalho com nichos sócio-culturais, lideranças naturais e redes de apoio, com setores responsáveis pela organização social, políticas públicas e meios de comunicação social.
5. Definir as formas de implementação, avaliação e seguimento: Os critérios para a execução, seguimento e avaliação dos projetos face a variáveis relevantes nas quatro dimensões de mundo deverão ser explicitados, em termos de aspectos educacionais e psicossociais, abrangendo atividades conjuntas de diferentes setores.
Para fins didáticos, o quadro IV apresenta, de forma bastante simplificada, como problemas na área da saúde pública podem ser analisados em termos das quatro dimensões de mundo. Nenhuma dimensão, isoladamente, poderá responder pela "solução" dos problemas, pois eles são o produto da imbricação de todas elas.
Os problemas referentes à sociedade, à educação, à cultura, à cidadania, à saúde ,ao meio ambiente, aos ecossistemas e às políticas de desenvolvimento, devem ser compreendidos mediante reflexão e ação sobre a realidade vivida, em termos da descoberta e implementação de um projeto ecossistêmico (quadros V e VI).
4. A ABORDAGEM ECOSSISTÊMICA NOS NICHOS SÓCIO-CULTURAIS
Nos ambientes próximos, o compartilhamento de significados, crenças, atitudes, valores e condutas contribuem para o seu enraizamento[9], tanto no sentido tradicional, como face a novas formas de estar no mundo, que se consolidam quando os sujeitos tornam-se suporte e testemunho de um processo de verdade (Badiou, 1994).
Os grupos diferenciam-se idiossincraticamente das características nomotéticas da sociedade, reinterpretam os acontecimentos em função de suas necessidades, interesses, crenças, valores, percepções e conceitos e são essenciais para a sustentação do tecido social, hoje esgarçado pela massificação e descaraterização das comunidades.
Excetuados os casos em que são co-optados e tornam-se meros apêndices de sistemas políticos, econômicos e culturais, nos nichos sócio-culturais não há um alinhamento indiferenciado e automático com esses sistemas, ordenações e prescrições não podem ser impostas, sob o risco de serem rejeitadas por decisões coletivas.
A "problematização" não leva à redução da complexidade das questões[10], não se buscará a resolução pontual de “problemas-bolha” de superfície, mas a definição das questões no bojo do “caldeirão efervescente”; a reflexão sobre processos e conteúdos propiciará novas indagações e novos questionamentos.
Processos heurístico-hermenêuticos ajudam a desvelar as formas de relacionamento entre sujeitos e objetos de conhecimento, as formas de compreender e estar no mundo em suas diferentes dimensões[11]. Para facilitar esse processo podemos empregar "objetos intermediários", como descreve-se a seguir:
1.Visualização e manipulação de objetos que despertem curiosidade entre os participantes;
2. Registro escrito das percepções individuais em tiras de papel, não identificadas;
3 Distribuição aleatória dos enunciados aos participantes para conhecimento e reflexão;
4. Leitura em voz alta dos diferentes enunciados pelos participantes;
5. Verificação das relações entre sujeitos e objeto que conformaram os enunciados;
6. Análise epistêmica (processos, noesis) e temática (conteúdos, noemas) dos enunciados.
Os conteúdos que emergem nos enunciados podem abranger uma ou mais dimensões de mundo, (embora estejam afetados por todas elas), conforme vê-se a seguir:
Intima Descrição dos eventos em termos da personalidade, expectativas, desejos.
Interativa Descrição dos eventos em termos interpessoais. como em um encontro
Social Descrição dos eventos em termos políticos, econômicos e sociais.
Biofísica Descrição dos eventos em termos do ambiente natural e construído.
Não há procedimentos que garantam a priori os fundamentos de qualquer enunciado, explora-se a autenticidade, a espontaneidade, a originalidade e a diversidade de conteúdos e processos, considerando os enlaces e rupturas entre as diferentes dimensões, em termos das formas atuais e potenciais de estar no mundo.
Mediante processos heurístico-hermenêuticos nos nichos sócio-culturais de ensino-aprendizagem, é possível analisar as diferentes formas de relacionamento entre sujeitos e objetos, importante aspecto para a definição e o trabalho com os eventos, como explicita-se a seguir:
Apropriação Os sujeitos apropriam-se dos objetos alterando as maneiras de situar-se diante deles (novas formas de percebê-los, construção de novos significados)
Erudição Os sujeitos analisam os objetos mediante categorias lógicas, classificações, descrição de “propriedades”.
Senso Comum Os sujeitos utilizam formas convencionais, estereotipadas de ver as coisas, sem questionamentos.
Dogmatismo Os sujeitos interpretam o evento segundo paradigmas fixos, cristalizados em experiências anteriores.
Alienação Os sujeitos manifestam dependência de terceiros, autoridades, para qualificar os eventos.
Resistência Os sujeitos mantém-se indiferentes, recusam o contato com o objeto ou não vêm sentido na experiência.
Investiga-se o que é estranho, o que se pretende entender e o que parece familiar e inteligível (Gadamer, 1977; Rosenwald, 1988). Superado o receio do desconhecido, o próprio “ponto-de-vista” é investigado a partir de uma interioridade mais profunda; atua-se sobre as variáveis relevantes, gerando-se configurações alternativas.
Os objetos de conhecimento são delineados, ainda que de forma precária e contraditória, como hipóteses de trabalho; o conhecimento não se esgota em si mesmo, podendo ser revisto, enriquecido e transformado; posições e juízos “a priori” são superados em termos de abertura para o novo e desconhecido.
A reflexão, devido ao “excesso de significados”, não se cristaliza na distância crítica reificante, o referencial cognitivo no qual os participantes constróem novas percepções é afetado diretamente afetado pela ampliação dos horizontes de conhecimento, sentimento e ação nos diferentes nichos sócio-culturais de ensino-aprendizagem.
O compartilhamento no grupo leva os sujeitos além de suas posições originais, os universos conceituais percorrem as dimensões íntima e interativa, os horizontes de percepção são alterados pela apropriação coletiva, os sujeitos podem rever suas posturas, face à ampliação dos horizontes cognitivos, afetivos e conativos.
É um processo dialógico, não há informação fixa sobre nada ou sobre ninguém, a descoberta do próximo e de um novo outro em si mesmo é concomitante. As formas de estar-no-mundo deixam de ser uma contingência, passando por um processo crítico de escolha, cuja responsabilidade é compartilhada, face à abertura de novas opções.
O processo implica a circulação de experiências, a investigação solidária, o compartilhamento e análise de diferentes visões-de-mundo; leva-se em conta o papel organizador das antinomias e conflitos, diferentes leituras da realidade são admitidas, explora-se a diversidade no próprio grupo, em termos de convergências e divergências.
As discussões visarão a ampliação dos horizontes de compreensão, em termos de conteúdos e processos, o que poderá levar à ruptura de paradigmas, de formas de conhecer e agir, a partir de novos horizontes cognitivos, afetivos e conativos. Valores, idéias e conceitos poderão ser revistos, novos paradigmas poderão ser discutidos e propostos.
Ao invés da afirmação da “identidade”, do confronto, busca-se a “ipseidade”, o encontro, a descoberta de um outro em si mesmo, a construção do si-mesmo “como um outro” (o si-mesmo no outro e o outro em si mesmo) (Ricoeur, 1990). Rompe-se o envoltório do idem (identidade fechada) pelo desabrochar do ipse (identidade aberta).
O relação com o "outro" implica o reconhecimento de semelhanças e diferenças; semelhantes enquanto seres humanos, com necessidades comuns que devem ser atendidas, mas diferentes em termos de subjetividade e das diferentes aptidões que enriquecem a vida pessoal e coletiva, “o outro é aquele que me convoca à responsabilidade” (Lévinas, 1987).
Todos são considerados interlocutores no processo de ensino-aprendizagem, a participação é democrática, os sujeitos se sentem em situação de igualdade no grupo, não há interlocutores privilegiados em relação a qualquer outro, os papéis de tarefa e processo são compartilhados.
É necessário desenvolver, nos nichos sócio-culturais de ensino-aprendizagem, condições que favoreçam o relacionamento adequado entre pessoas, grupos, sociedade e entorno; o pluralismo construtivo (Unesco, 2000), não ignora, nivela ou suprime as diferenças, mas aceita a diversidade, a transforma e enriquece.
O trabalho com nichos sócio-culturais propicia doação e recepção entre elementos do universo conceitual dos sujeitos e dos grupos (dimensões íntima e interativa), condição necessária para que possam participar de maneira pró-ativa como cidadãos responsáveis pelo ambiente em que vivem (dimensões social e biofísica).
A solidariedade que o mundo de hoje exige não é a dos laços de sangue, de compadrio, de interesses: os indivíduos só poderão se emancipar se estiverem dispostos a trabalhar e cooperar para a emancipação da humanidade; esta, por sua vez, não se pode auto-emancipar sem que também promova a emancipação dos indivíduos que a compõem (Radnitzky, 1970).
Viver não é uma mera circunstância, ou uma fatalidade, envolve nossas possibilidades de sentir, refletir e agir, percepções, habilidades, expectativas, valores e participação em projetos suscetíveis de modificar nosso contexto de vida, capacidade para empatia, inclusive com aqueles considerados estranhos ou hostis (Znaniecki, 1935).
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ZNANIECKI, F. Ludzie terazniejsi a cywilizacja przyszlosci (The People of Today and the Civilisation of Tomorrow), Ksiaznica "Atlas", Lwow, 1935.
Quadro I
CONFIGURAÇÃO DE CAMPO NO MODELO ECOSSISTÊMICO DE CULTURA
DIMENSÕES
DOADORAS
RECEPTORAS
Íntima
Interativa
Social
Biofísica
Íntima
Auto-Cuidado
Acolhimento
Serviços
Vitalidade
Interativa
Cooperação
Coesão
Associativismo
Nichos
Social
Cidadania
Participação
Equidade
Sobrevivência
Biofísica
Cuidado
Promoção
Sustentação
Equilíbração
Leitura vertical (colunas): O que cada dimensão pode doar a si mesma e às demais
Leitura horizontal (linhas): O que cada dimensão pode receber de si mesma e das demais.
.
Quadro I. No modelo ecossistêmico de cultura cada dimensão de mundo apoia e recebe apoio das demais (princípios
de singularidade e reciprocidade), promovendo uma configuração global favorável à qualidade de vida.
Quadro II
CONFIGURAÇÃO DE CAMPO NO MODELO NÃO-ECOSSISTÊMICO DE CULTURA
DIMENSÕES
DOMINANTES
DOMINADAS
Íntima
Interativa
Social
Biofísica
Íntima
Solipsismo
Co-optação
Massificação
Sujeição
Interativa
Manipulação
Fanatismo
Instrumentação
Dispersão
Social
Tirania
Corporativismo
Totalitarismo
Extinção
Biofísica
Predação
Danificação
Espoliação
Selvatização
Leitura vertical (colunas): O que cada dimensão (na condição dominante) infringe a si mesma e às demais
Leitura horizontal (linhas): Prejuízos ocasionados em cada dimensão (na condição dominada) por si mesma e pelas demais.
.
Quadro II. No modelo não-ecossistêmico de cultura rupturas, isolamento e manipulação das dimensões de mundo geram conflitos permanente, prejudicando a sustentação recíproca das dimensões de mundo, deteriorando a qualidade de vida.
Quadro III
GERAÇÃO DE EVENTOS NA ABORDAGEM ECOSSISTÊMICA
Estágios
do Projeto
Íntima
1-2-3-4-5 *
Interativa
1-2-3-4-5 *
Social
1-2-3-4-5 *
Biofísica
1-2-3-4-5 *
Diagnóstico
de Situação
Cognição, afeto, locus de controle, auto-estima, habilidades, expectativas,
. crenças, desejos.
Acolhimento, coesão,
consenso, autonomia,
clima, participação,
liderança..
Políticas públicas, sociedade, cultura economia, estilos
de vida, serviços.
Ecossistemas, ambiente natural e construído, seres, biomas, aspectos bio-físico-químicos
Execução
do Projeto
Sensibilização,
desenvolvimento cognitivo e afetivo, habilidades
Desenvolvimento dos nichos sócio-culturais (grupos primários e secundários)
Movimentos sociais culturais, políticos, econômicos,
educacionais
Promoção de equilíbrio entre homem-ambiente,
"engenharia" ambiental,
promoção da saúde.
Avaliação de
Resultados
Bem-estar subjetivo,
controle existencial,
interesse pela vida,
pró-atividade
Solidariedade, participação social
e comunitária
(redes, grupos)
Cidadania, equidade,
responsabilidade,
cultura, educação,
saúde, trabalho.
Ecossistemas,
equilíbrio corporal,
. ambientes saudáveis,
biodiversidade.
* Os números indicam o campo de variação, segundo uma escala de intensidade a ser verificada na situação real.
Quadro III. Para o planejamento, execução e avaliação de um projeto é necessário trabalhar
com variáveis que se expressam em diferentes dimensões de mundo.
Quadro IV
RECEPÇÃO E DOAÇÃO NO MODELO ECOSSISTÊMICO DE CULTURA
Dimensões receptoras
Íntima
Interativa
Social
Biofísica
Dimensões
doadoras
Bem-estar Subjetivo
Desenvolvimento
dos Grupos
Bem-estar Coletivo
Equilíbrio Biofísico
Intima
(papel das pessoas)
O que as pessoas podem fazer
pelas dimensões do mundo
Tornarem-se pessoas:
Cuidar do próprio desenvolvimento cognitivo, afetivo, ético e cultural; exercer controle existencial
Estabelecer vínculos:
Desenvolver solidariedade e compreensão mútua (famílias, colegas, companheiros, outros grupos sociais
Exercer cidadania:
Participação crítica em questões de interesse público a nivel local, nacional e mundial,
Assumir responsabilidades
Cuidar de si e do ambiente
Cuidar
do ambiente
natural e
construído e
dos seres que
neles vivem
Interativa
(papel dos grupos)
O que os grupos podem fazer pelas dimensões de mundo
Acolher as pessoas:
Facilitar o acolhimento e desenvolvimento das pessoas em diferentes grupos (família, pares, associações)
Sustentar a si e a outros grupos
Desenvolver processos de dinâmica de grupo
(coesão, liderança, cooperação, alianças e parcerias)
Organizar
a ação coletiva:
Apoiar movimentos sociais em prol da qualidade de vida, cidadania, educação, cultura, saúde e bem-estar social
Atuar sobre a vida e o ambiente
Cuidar dos seres vivos e do ambiente natural e construído a nível local, regional e global
Social
(papel da sociedade)
O que a sociedade pode fazer pelas dimensões do mundo
Promover as pessoas:
Garantir às pessoas acesso à saúde, educação, moradia, segurança, cultura, trabalho, transporte, lazer e justiça.
Promover os grupos
:
Facilitar a convivência e a formação de grupos e associações (cívicas, culturais, educacionais,
esportivas, etc)
Aperfeiçoar as instituições
Implementar políticas públicas democráticas visando o bem estar social (equidade,
justiça, participação,
acessibilidade)
Promover a vida
e o ambiente
Contribuir para ambientes naturais e construídos saudáveis, estéticos e seguros
Biofísica
(papel do ambiente )
O que o ambiente natural e construído pode fazer pelas dimensões de mundo
Prover recursos e espaços às pessoas:
Satisfazer necessidades vitais, estéticas e de lazer
(vida saudável urbana e rural)
Prover recursos e espaços à vida em grupos:
Prover locais
para atividades associativas e o convívio humano
(nichos sócio-
culturais)
Prover recursos e espaços à vida em sociedade:
Prover ambientes e instalações para atividades culturais, sociais, econômicas, esportivas e de
lazer
Manter-se em equilíbrio dinâmico
Manter em equilíbrio os habitats, nichos, a biodiversidade,
a flora, fauna, a
qualidade de ar, água, solo
Quadro IV. Na gênese de eventos favoráveis à qualidade de vida as diferentes dimensões de mundo desempenham papéis importantes, mediante processos de doação e recepção mútuos.
Pilon, 2005
Quadro V
Quadro V. A saúde física, mental e social depende de fatores que se expressam em diferentes dimensões de mundo, cujo inter-relacionamento exige uma abordagem ecossistêmica. Os fatores assinalados para cada dimensão devem ser considerados em conjunto face aos problemas selecionados, embora apareçam, no quadro,.destacados.
Fig. 1. Os problemas estão no bojo do caldeirão efervescente, não nas bolhas estouram na superfície.
Fig. 2 A qualidade de vida expressa os enlaces e as rupturas entre as diferentes dimensões de mundo
Quadro VI
METODOLOGIA ECOSSISTÊMICA PARA O DESENVOLVIMENTO DE PROJETOS
1. Identificando as Configurações Geradoras dos Eventos
1.1. Descrever os eventos em termos das configurações formadas pelas quatro dimensões de mundo (nos nichos sócio-culturais de ensino-aprendizagem os eventos poderão ser representados / mediados por objetos intermediários, gravuras, fotografias, narrativas e outras experiências heurístico-hermenêuticas).
1.2. Discriminar variáveis relevantes nas quatro dimensões de mundo, explicitando fatores favoráveis (f) e fatores desfavoráveis (d) que envolvem sujeitos, grupos, sociedade e meio ambiente (natural e construído), em termos de enlaces e rupturas entre as dimensões de mundo.
2 Alterando a Configuração Geradora dos Eventos
2.1 Propiciar a emergência de novas configurações, mediante processos de doação e recepção entre as quatro dimensões de mundo, incrementando os fatores favoráveis e revertendo os fatores desfavoráveis observados.
2.2. Cuidar para que sujeitos, grupos, sociedade e entorno possam participar de projetos ecossistêmicos, suscetíveis de desenvolver novas formas de estar-no-mundo, em âmbito micro, meso e macro.
2.3. Descrever os resultados esperados e obtidos em termos de objetivos nas quatro dimensões de mundo.
2.4. Comparar os resultados obtidos com os resultados esperados e rediscuti-los nos nichos sócio-culturais em termos dos projetos desenvolvidos.
3. Análise Quadridimensional de Fatores na Configuração Atual (item 1.2) e Projetada (item 2.2)
DIMENSÕES
DE MUNDO
Íntima
Interativa
Social
Biofísica
pessoas
grupos / redes
cidadania / políticas
natural / construída
Configuração
Atual
(Pesquisada)
f
d
Configuração
Projetada
(Desenvolvida)
f
d
4. Resultados esperados e obtidos nas quatro dimensões de mundo (itens 2.3 e 2.4)
Territórios e populações
Mudanças Quantitativas e Qualitativas
Esperadas / Obtidas
Íntima
Condições Subjetivas
/
Interativa
Dinâmica dos Grupos
/
Social
Cidadania /Políticas Públicas
/
Biofísica
Ambientes Naturais e Construídos
/
5. Estratégias e Mediações; Aspectos Psicossociais; Abordagens Educativas; Atividades Programadas (item 2)
Aspectos Psicossociais
Aspectos Educacionais e Culturais
Atividades Programadas
[1] Nesse sentido, Labonte (2004) pergunta: como incluir indivíduos e grupos em um contexto estruturado de relações sociais, se este contexto é o responsável pela exclusão? em que medida a chamada "inclusão social" não acomodaria os sujeitos em uma posição passiva, ao invés de desafiar as hierarquias instaladas?
[2] Ao contrário do que ocorre com o discurso verbal, esquemas dinâmicos, com potencial estruturador, são inculcados pelos meios de comunicação social, como a televisão, que atuam diretamente sobre as pessoas, legitimando modelos de conduta; o raciocínio não mais se interpõe entre sujeito e realidade (Cohén-Seat, 1967).
[3] No Brasil, as cidades estão entre as mais violentas, economicamente desiguais e problemáticas do mundo. Enquanto a elite vive em enclaves fortificados, um quarto dos moradores urbanos amontoam-se em moradias improvisadas nas favelas, freqüentemente sem acesso a nenhum serviço público e dependendo do clientelismo para sobreviver (Baiocchi, 2005)..
[4] O neoliberalismo procurou atomizar a sociedade e destruir todos os vínculos, exceto os contratuais; como conseqüência, esmagou as redes de solidariedade e piorou a distribuição de renda. Seus proponentes dizem que o mundo beneficiou-se do maior crescimento econômico da história. O que eles esquecem é que deu origem às piores formas de violência e rebelião, devido à ruptura do contrato social. (Rapley, 2003)..
[5] As atuais estratégias de desenvolvimento usualmente ignoram, subestimam e solapam condições essenciais para a qualidade de vida (Ryan, 1995). Os modelos de desenvolvimento têm diferentes conseqüências: desenvolvimentista; neo-liberal; de desenvolvimento humano.
[6] As políticas para “cidades saudáveis” preconizam ambientes seguros, limpos, incluindo a moradia; ecossistemas estabilizados e sustentáveis; comunidades fortes, solidárias e não auto-destrutivas; ampla participação e controle públicos da qualidade de vida e do atendimento às necessidades básicas; acesso a variada gama de experiências, recursos, contatos, interação e comunicação; economia diversificada, vital e inovadora; alto nível de saúde pública; acesso universal aos cuidados de saúde/doença, preservação da memória urbana, da herança cultural e biológica dos cidadãos e ambientes saudáveis (W.H.O., 1992).
[7] “A vida social está mercantilizada e desumanizada ao extremo, grandes setores da população encontram-se marginalizados, a cultura, a sociedade, a existência humana dotada de sentido estão sendo dissolvidas e reduzidas e relações de mercado”. (Evers,1984).
[8] Para o fortalecimento de movimentos sociais e a consecução de mudanças democráticas na sociedade, organizações internacionais têm recomendado: considerar as pessoas e os grupos como componentes essenciais de sua própria mudança, ao invés de objetos da mudança; apoiar o diálogo e o debate dos assuntos fundamentais de preocupação, ao invés de elaborar, testar e distribuir mensagens; introduzir as mensagens com sensibilidade no diálogo e debate, ao invés de repassar de forma didática informações de peritos e técnicos; enfocar as normas sociais e políticas, a cultura e os apoios ambientais, não comportamentos individuais; negociar com as pessoas o melhor modo de levar adiante um processo participativo, ao invés de tentar persuadi-las a fazerem algo; enfatizar o papel central das pessoas afetadas pelos problemas, ao invés de dirigir o processo por peritos e técnicos de agências externas (Rockfeller Foundation, 1975)..
[9] Enquanto nos ambientes distais (dimensão social), os contatos são categóricos, os rituais são pré-estabelecidos e regidos por normas racionais-legais, nos ambientes próximos (dimensão interativa), os contactos são informais, espontâneos e regulados por afinidade (Jessor & Jessor, 1973).
[10] Define-se mal um problema quando a) “informação” passa a significar conhecimento; b) esquemas operacionais e táticos assumem o lugar da ação-reflexão; c) identifica-se, classifica-se, reduzindo atos, situações e valores implicados: d) toma-se o possível pelo provável, excluindo o possível-impossível, o imaginário, o utópico e a transgressão; e) reduz-se o risco ao aleatório, o jogo à previsão; f) o diferente passa a ser indiferente, o que é complexo é apresentado como simples, o que é plural torna-se único, repetitivo e monótono (Lefebvre, 1970).
[11] Existem diferentes trabalhos do autor sobre o modelo ecossistêmico de cultura, que poderão ser facilmente consultados (Pilon, 1992; 1995; 1996; 1998; 2000; 2003; 2005; 2006).
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