"Contribuciones a la Economía" es una revista
académica con el
Número Internacional Normalizado
de Publicaciones Seriadas
ISSN 16968360
Resenha de libro. The Power of Productivity. Lewis
José
Matias-Pereira
(CV)
Universidad de Brasilia, Brasil.
matias en unb.br
Para citar este artículo puede utilizar el siguiente formato:
Matias-Pereira, J. "Resenha de libro. The Power of Productivity. Lewis. " en Contribuciones a la Economía, noviembre 2004. Texto completo en http://www.eumed.net/ce/
O livro de William W. Lewis, The Power of Productivity: Wealth, Poverty, and the Threat to Global Stability (O Poder da Produtividade: Riqueza, pobreza e a ameaça à estabilidade global Chicago: University of Chicago Press, 2004 ), surge como um estudo sério e instigante sobre os prejuízos provocados pela disparidade que existe entre países ricos e pobres. Esse fosso, para aquele autor, se apresenta como o problema mais sério e preocupante da atualidade no mundo. Na sua argumentação sustenta que a pobreza crônica de muitas nações afeta mais do que os cidadãos e as economias daquelas nações. Para ele essa pobreza crônica é uma ameaça a estabilidade global enquanto as pressões de imigração se tornam insustentáveis e nações deterioradas procuram o poder e a influência através de política extrema e do terrorismo.
Para resolver os problemas desta pobreza tenaz, observa Lewis, uma vasta gama de instituições internacionais canalizou bilhões de dólares para estas nações em décadas recentes. Apesar desses investimentos e do esforço feito, cerca de cinco bilhões de pessoas (dos seis bilhão de pessoas do mundo) continuam a viver em países pobres.
Nesse sentido argumenta Lewis que: “After the Second World War, a vast array of international and national institutions—the United Nations, the World Bank, the International Monetary Fund, and a host of nongovernment and government aid organizations—was created to better the lot of the world’s poor. Conventional wisdom came to hold that improvements in infrastructure, technology, capital markets, education, and health care would eliminate the stark distinctions between rich and poor nations. Fifty years and billions of dollars later, this wisdom has proved wrong.”
Lewis aborda no seu estudo alguns temas sensíveis como: 1. Findings: The Global Economic Landscape; Part 1 - Rich and Middle-Income Countries; 2. Japan: A Dual Economy; 3. Europe: Falling Behind; 4. The United States: Consumer Is King; 5. Korea: Following Japans Path. Part 2 - Poor Countries; 6. Brazil: Big Government Is Big Problem; 7. Russia: Distorted Market Economy; 8. India: Bad Economic Management from Democratic Government. Part 3 - Causes and Implications; 9. Patterns: Clear and Strong; 10. Why Bad Economic Policy around the World?; 11. New Approaches; 12. So What?. McKinsey Global Institute Reports. Recommended Readings.
O estudo iniciado pelo instituto global de McKinsey, tornou possível estudar a dinâmica e a evolução de um grupo representativo das indústrias em 13 países: Austrália, Brasil, França, Alemanha, Índia, Japão, os Países Baixos, a Polônia, a Rússia, Coréia do Sul, Suíça, o Reino Unido, e os Estados Unidos. Em cada um desses países foram analisados os desempenhos de 6 a 13 indústrias e comparando-as com o desempenho das mesmas indústrias em um conjunto de outros países. O trabalho foi baseado em estudos detalhados de negócios individuais. A pesquisa foi efetuada partir de uma bem testada metodologia, desenvolvida pela própria McKinsey e para cuja aplicação ela está particularmente bem habilitada, por ter um profundo conhecimento das atividades analisadas, não somente em suas características tecnológicas e organizacionais, mas também quanto às práticas empresariais nos principais países industriais.
A produtividade não provoca desemprego. O gerenciamento incompetente, a falta de método de produção e a desorganização empresarial prejudicam a sociedade mais do que se imagina. Estas são algumas das constatações contidas no livro de Lewis sobre o poder da produtividade. O trabalho é a síntese dos estudos que o McKinsey Global Institute vem desenvolvendo desde 1990, sobre a questão da produtividade em nível da indústria em torno do mundo, para descobrir os impedimentos ao uso da melhor prática da gerência e da tecnologia, buscando, a partir daí, determinar porque a produtividade freqüentemente é menor do que o que poderia ser. Resultou desse esforço uma análise aprofundada da importância da produtividade para a estabilidade mundial. O estudo aponta os segredos que estão por trás da produtividade, destacando particularmente o setor de serviços. A soma da consistência do método utilizado na pesquisa do instituto global de McKinsey e a longa experiência de Lewis com as questões que envolvem política econômica colocam “o poder da produtividade” como um tema relevante na economia global, sinalizando que o assunto estará presente no debate político e econômico nos próximos anos no mundo.
Para Lewis a competição séria é geralmente uma condição necessária para melhorar técnicas. Esse tipo de competição, entretanto, é improvável de ocorrer sem uma definição nacional que concorde em priorizar os consumidores em detrimento aos produtores. Para Lewis, a chave a reduzir desigualdades econômicas entre países ricos e pobres é a produtividade e suas ligações à competição e ao consumo. O estudo aponta os segredos que estão por trás da produtividade, destacando particularmente o setor de serviços. Nesse sentido, argumenta que as agências econômicas globais subestimam o significado de um campo de jogo equilibrado. A competição é mais importante do que a educação ou um maior acesso aos mercados de capitais para elevar o PIB de um país. Para reduzir barreiras à competição, os legisladores devem colocar-se à altura dos interesses especiais das empresas e concentrar-se mais no bem-estar dos consumidores.
A informalidade, definida no livro de Lewis como o não cumprimento de diferentes obrigações por parte dos agentes econômicos, foi diagnosticada pelo McKinsey Global Institute (MGI) como a principal entrave ao desenvolvimento econômico nacional, representando um significativo do diferencial global da produtividade identificado como passível de ser enfrentado e superado. Dessas distorções destaca-se a evasão fiscal, a chamada economia paralela, o descumprimento das obrigações sociais – como o não pagamento das prestações à Segurança Social ou do salário mínimo-, e das normas de mercado, como as que obrigam ao cumprimento de níveis mínimos de qualidade do produto, de normas de segurança, de restrições ambientais ou de direitos de propriedade a título de exemplo.
O tema produtividade, por sua vez, não é um assunto recente no Brasil (Matias-Pereira, 2004). Destaca-se entre esses estudos o livro: “Produtividade no Brasil: A Chave do Desenvolvimento Acelerado”, publicado pela editora Campus, em 1999. O citado trabalho, contendo artigos de vários economistas brasileiros, é resultado de estudos do próprio Instituto McKinsey sobre a produtividade empresarial no Brasil. Tem como foco a produção - e os produtores - de bens e serviços e faz um levantamento estatístico sobre as condições de produção destes bens no país. A investigação foi realizada com o intuito de responder a seguinte pergunta: qual é o limite possível de crescimento no Brasil? As principais constatações empíricas deste estudo são: A produtividade do trabalho das empresas brasileiras é apenas um quarto das empresas americanas embora seja enorme à distância a percorrer, o caminho é mapeável e o estudo aponta as características desse "caminho das pedras". Para a McKinsey o conjunto das empresas brasileiras tem todas as condições objetivas necessárias para, num prazo de dez anos, aumentar a produtividade do trabalho no Brasil dos atuais 27% para 75% da produtividade do trabalho nos EUA.
Em síntese, o trabalho de Lewis busca demonstrar que a chave para melhorar as condições econômicas em países pobres está no aumento da produtividade, por meio da competição intensa, justa e da aplicação dos direitos de proteção ao consumidor. Argumenta Lewis que para melhorar o bem-estar econômico dos indivíduos, os países devem aumentar sua produtividade, primeiramente incentivando a competição econômica. A competição é mais importante do que a instrução ou um maior acesso aos mercados, visto que ela é capaz de permitir o aumento do produto interno bruto de um país. Para reduzir barreiras à competição, é fundamental que nas definições políticas o bem-estar dos consumidores seja priorizado.
É relevante destacar que o livro de Lewis tem como principal mérito alertar para duas questões que limitam a produtividade nacional: a informalidade, no sentido do não cumprimento de obrigações - fiscais, sociais e face às normas de mercado -, por parte de múltiplos agentes econômicos, e a burocracia - licenciamento, ordenamento do território, prestação de serviços públicos -. Outros pontos relevantes, estes de natureza mais específica, têm a ver com os fenômenos que podem limitar a produtividade do capital ou com a percepção de que a intensidade competitiva é mais do que a evolução macroeconômica ou alguns aspectos de tipo microeconômico, um fator-chave da produtividade. O somatório da consistência do método utilizado na pesquisa do instituto global de McKinsey e a longa experiência de Lewis com política econômica colocam o poder da produtividade como um tema relevante na economia global, sinalizando que o tema estará presente no debate político e econômico nos próximos anos no mundo.
Essas constatações tornam o livro de Lewis uma leitura obrigatória e uma fonte de estímulo para os governantes, políticos e empresários brasileiros, bem como para aqueles que se preocupam em aprofundar seus conhecimentos sobre política econômica e a importância da produtividade como fator de desenvolvimento socioeconômico do país, especialmente os pesquisadores e estudantes dos cursos de graduação e pós-graduação em Economia, Ciências Políticas e Administração.
(*) José Matias Pereira, 53 anos, é economista e advogado. Doutor em Ciência Política pela Faculdade de Ciências Políticas da Universidade Complutense de Madri, Espanha. É professor-pesquisador e ex-Coordenador de Pós-Graduação em Administração da Universidade de Brasília. Autor de “Finanças Públicas: A política orçamentária no Brasil”, 2ª edição, Editora Atlas, São Paulo, 2003.