Fábio Alves Ortiz
Reinaldo Miranda de Sá Teles
Universidade de São Paulo, Brasil
fortiz@usp.brResumo: O estudo do comportamento espaço-temporal dos turistas é essencial para o entendimento do turismo no contexto urbano. As técnicas tradicionais de monitoramento espaço-temporal do comportamento do turista foram amplamente utilizadas e possuem limitações em sua aplicação e resultados, porém a tecnologia de GPS oferece novas opções nesse campo de estudos. Diante desse cenário, esse artigo propõe-se discutir essa nova tecnologia e verificar como ela é aplicada na investigação do movimento do turista dentro das destinações turísticas. Trata-se, portanto, de uma pesquisa bibliográfica, de caráter qualitativo. Observou-se que o uso do GPS para monitorar o comportamento espaço-temporal do turista possui diversificada aplicação e gera dados precisos com horário, velocidade, localização, rota, direção do movimento do turista dentro da cidade.
Palavras-chave: Turismo Urbano, Comportamento Espaço-Temporal, Novas Tecnologias, GPS.
Abstract: The study of the space-time tourist behavior is essential for understanding the tourism in urban context. Traditional techniques for monitoring the space-time tourist behavior were broadly used and they have constraints in its application and results, but the GPS technology provides new options in this field of study. In this scenario, this article proposes to discuss this new technology and verify how it has been applied to the investigation of the tourist movement within the tourist destinations. It is, therefore, a literature research, with qualitative character. We observed that the use of the GPS to track the space-time tourist behavior has a diversified application and it generates accurate data with time, speed, localization, route and direction of the tourist movement within the city.
Key-Words: Urban Tourism; Space-Time Behavior; New Technologies; GPS.
Para citar este artículo puede uitlizar el siguiente formato:
Fábio Alves Ortiz y Reinaldo Miranda de Sá Teles (2015): O comportamento espaço-temporal do turista: monitoramento através de GPS (Uma versão prévia desse trabalho foi apresentada no IX Fórum Internacional de Turismo do Igaussu em Foz do Iguaçu - PR, Brasil em Julho de 2015.), Revista Turydes: Turismo y Desarrollo, n. 19 (diciembre 2015). En línea: http://www.eumed.net/rev/turydes/19/gps.html
De acordo com Shinohara (2013), o estudo do comportamento espaço-temporal das pessoas iniciou-se na década de 1960 com pesquisas de Hägerstrand, seus conceitos formaram a base da geografia do tempo (time geography), no qual se considera que as variáveis tempo e espaço se relacionam de forma intrínseca. “Outra contribuição de Hägerstrand foi a elaboração de uma representação para o comportamento diário da movimentação de um indivíduo, denominada representação em prisma espaço-tempo”. (SHINOHARA 2013, p. 09)
O prisma espaço-tempo proposto por Hägerstrand para explicar os deslocamentos dos indivíduos apresenta-se com o Space Time-Paths ou Caminhos Espaço-Temporais. Segundo Silva (2008) a movimentação das pessoas é influenciada por fatores externos (ambientais) ou internos (do indivíduo). Nos fatores ambientais, encontram-se a estrutura das cidades e dos sistemas de transporte e nos fatores do indivíduo destacam-se questões socioeconômicas e a própria liberdade de escolha da pessoa na forma como realizará seu deslocamento.
Silva (2008, p. 09) afirma que “sempre haverá demanda de certa quantidade de tempo e de espaço para a realização de uma viagem”, desta forma, observa-se que tempo e espaço são elementos indissociáveis quando se trata de deslocamento de pessoas.
Sabe-se, ainda, que o deslocamento é um dos elementos chave para que ocorra o turismo. Conforme se observa em uma definição de turismo proposta por Panosso Netto (2013, p. 33, grifo nosso):
[...] compreende o turismo como o fenômeno de saída e retorno do ser humano do seu lugar habitual de residência, por motivos revelados ou ocultos, que pressupõe hospitalidade, encontro e comunicação com outras pessoas e utilização de tecnologia, entre inúmeras outras condições, o que vai gerar experiências variadas e impactos diversos.
Assim, pode-se afirmar que o deslocamento, o espaço e o tempo são elementos presentes no fenômeno turístico. Nessa ótica existem inúmeros trabalhos que versam sobre o deslocamento do turista e questões de espaço e tempo, porém grande parte em abrangência macroespacial, se detêm nos deslocamentos internacionais e os impactos do turismo massivo. O que se pretende nesse estudo, é discutir o comportamento espaço-temporal dos turistas em uma microescala, ou seja, em um recorte de abrangência municipal.
Desta forma, o artigo tentará responder a seguinte questão, de que forma a tecnologia de posicionamento global pode contribuir para a compreensão do deslocamento dos turistas na dimensão do destino turístico?
A discussão apresentada aqui, portanto, insere-se no contexto do turismo urbano e será desenvolvida através de revisão bibliográfica acerca do tema principal: monitoramento do comportamento espaço-temporal do turista com uso de Global Positioning System (GPS). Trata-se, portanto de uma pesquisa exploratória, de caráter qualitativo. O procedimento técnico utilizado será pesquisa bibliográfica. (DENCKER, 2007)
Antes de abordar o comportamento espaço-temporal dos turistas, faz-se necessário apresentar, de forma breve, as definições básicas de GNSS para melhor compreensão do que é essa tecnologia e sua capacidade de operação, para em seguida verificar a sua utilização nas pesquisas em turismo.
É muito conhecido, no meio popular, o GPS, porém, destaca-se aqui a existência de outros sistemas semelhantes, que foram desenvolvidos por outros países. Desta forma, o conjunto de sistemas de navegação por satélite é denominado como GNSS.
Atualmente existem dois sistemas em funcionamento: GPS, dos Estados Unidos e o GLONASS, da Rússia. Porém outros sistemas já estão em testes e funcionando regionalmente. É o caso do Beidou/Compass, da China e o Galileo, da União Europeia. Há ainda algumas especulações sobre os sistemas da Índia e Japão. (DOW; NEILAN; RIZOS, 2009). Nesse artigo será abordado o uso do sistema americano (GPS), que é o mais utilizado nas pesquisas em turismo até o momento.
2.1 Global Positioning System (GPS)
De acordo com Timbó (2000), o GPS surgiu em 1973 para superar os problemas do seu antecessor, o NNSS (Navy Navegation Satellite System, também conhecido como Transit) de 1964 e que sua configuração permite que existam pelo menos quatro satélites acima do horizonte do observador em qualquer instante e qualquer lugar do mundo; para isso basta ter um receptor/processador de sinal GPS.
O sistema de GPS ou NAVSTAR-GPS (NAVegation Satellite with Time And Ranging) consiste em um conjunto de 24 satélites, espaçados igualmente em seis planos orbitais, a 20.200 quilómetros de altitude. Essa constelação de satélites transmitem dois sinais codificados diferentemente: frequência L1 para uso civil e L2 para uso militar e do governo. (MONICO, 2000; DJUKNIC & RICHTON, 2001, trad. nossa).
Quanto aos receptores, Monico (2000) destaca que existem vários modelos utilizados pela comunidade civil, destinados para diversas utilizações/aplicações, com isso, o autor afirma que o GPS atingiu sua maturidade. Dentre a vasta lista de aplicações do GPS, Timbó (2000, p. 33) lista algumas:
Apesar da abrangência global, esse sistema possui restrições, principalmente nos centros urbanos densos, as construções obstruem a transmissão do sinal, prejudicando a determinação da posição. (MONICO, 2008 apud SHINOHARA, 2013).
2.2 O celular como dispositivo de GNSS/GPS
O aparelho celular se popularizou e ganhou novas dimensões nas duas ultimas décadas. De acordo com Lemos (2007) o celular se tornou mais que um telefone e considera o dispositivo como híbrido. Segundo o autor:
O telefone celular é a ferramenta mais importante de convergência midiática hoje. Para ilustrar, podemos citar o celular como instrumento para produzir, tocar, armazenar e circular música; como plataforma para jogos on-line no espaço urbano (os wireless street games); como dispositivo de “location based services”, para “anotar” eletronicamente a localização de um espaço ou para ver “realidades aumentadas”; para monitorar o meio ambiente; para mapeamento ou geolocalização por GPS; ou para escrever mensagens rápidas (SMS), tirar fotos, fazer vídeos, acessar a internet. (LEMOS, 2007, p. 25)
Shinohara (2013) explica que, com o objetivo de diminuir os problemas da perda de sinal em centros urbanos, foram criados sistemas híbridos de posicionamento, os quais combinam o GPS tradicional com o serviço de dados móveis dos celulares. Essa técnica é denominada A-GPS (Assisted-GPS), ela reduz o tempo do cálculo para determinar a posição do receptor, pois utiliza comunicação de dados do celular para enviar os dados pré-processados sobre a posição dos satélites. (DJUKNIC et al., 2001 apud SHINOHARA, 2013).
Além disso, “o A-GPS permite utilizar outras técnicas de posicionamento como, por exemplo, o Cell_id ou a triangulação de rádio base, para auxiliar a determinação do posicionamento do receptor” (SHINOHARA, 2013, p. 06).
Aliando o avanço da tecnologia de telefonia móvel com o Sistema de Posicionamento Geográfico percebe-se uma nova ferramenta, de fácil acesso (custo), que pode ser utilizada para gestão territorial.
Com relação aos métodos de monitoramento de turistas, tradicionalmente utilizou-se técnicas de observação participativa e não participativa. Wolf (et al., 2012, trad. nossa) destacam uma serie de pesquisas e métodos utilizados, a saber: observação direta pela equipe de observadores; diários de viagem auto administrados; mapeamento de itinerário; uso de contadores no local (dispositivos que contam e armazenam o número de turistas em um local); entre outras.
Shoval e Isaacson (2007, trad. nossa) relatam algumas desvantagens destas técnicas, segundo esses autores, elas consomem muito tempo do pesquisador. Dos problemas apontados, merecem ênfase os problemas éticos; risco de o observado mudar seu comportamento por estar sendo “observado”; possibilidade de não compreensão dos motivos pelo qual o observado se comporta de determinada maneira.
Durante muito tempo, uma das maneiras mais utilizada para coletar dados espaço-temporais foi o orçamento tempo-espaço, o qual fornece informações de como o indivíduo se ocupa na dimensão do espaço dentro de um período de tempo: algumas horas, um dia, ou uma semana. Essa técnica, segundo Shoval (2008, trad. nossa) tem várias desvantagens, a maioria delas relacionada ao fato do indivíduo estar totalmente envolvido no processo de coleta dos dados, sendo ele mesmo que deverá anotar as suas próprias informações de tempo-espaço. O que acontece, segundo Shoval (2008, trad. nossa) é que os resultados obtidos geralmente são destorcidos, pois muitos participantes falham em gravar seus dados. Além disso, o autor destaca ainda a dificuldade em convencer os indivíduos a participarem do experimento.
Em detrimento das limitações dessas técnicas, o uso do GPS como ferramenta de monitoramento de turistas apresenta-se promissor. (HALLO, et al., 2012; MCGEHEE, et al., 2013; TCHETCHIK, et al., 2009, trad. nossa). Apesar disso, Shoval e Issacson (2007, trad. nossa) dizem que o uso do GPS na investigação do comportamento espacial de pedestres foi pouco utilizado e os estudos se distanciam em tempo. Os autores afirmam que essa técnica foi mais utilizada para monitorar veículos motorizados (até por questões de estrutura inicial dos dispositivos, que eram maiores e tinham pouca duração de bateria).
No que se refere aos dados coletados através de pesquisa com GPS, Asakura e Iryo (2007, trad. nossa) dizem que são “pontos” sequenciais na dimensão espaço-tempo; cada um desses pontos contém informação de longitude, latitude e horário do dia. Tchetchik (et al., 2009) destacam como vantagens do GPS, a maior precisão dos dados obtidos emergentes da decisão tomada pelos turistas durante suas visitas, são estes, as atrações visitadas e tempo de permanência nos locais.
Shoval (et al., 2011, trad. nossa) afirmam que as novas tecnologias (GPS) revolucionaram a pesquisa do comportamento do turista nas destinações urbanas e têm sido aplicadas em diferentes situações, conforme se apresentam algumas pesquisas no quadro abaixo.
Edwards (et al., 2010, trad. nossa) dizem que com a tecnologia de GPS tornou possível monitorar precisamente os caminhos tomados pelos turistas e a fornece maior entendimento do comportamento sócio espacial do turista. Segundo os autores, essas informações contribuem para a gestão dos destinos ou para o estudo do turismo, podem ser utilizadas para redirecionar o fluxo de trânsito, por exemplo, e assim, evitar congestionamentos, minimizar os impactos em áreas mais sensíveis, entre outras possibilidades.
Conforme observado anteriormente, o uso do GPS para monitoramento de turistas nas dimensões espaço e tempo tem se ampliado cada vez mais, inclusive já se apresenta com vários contextos e recortes, utilizado para atingir diferentes objetivos. Diante desse cenário, apresenta-se nesse item o detalhamento metodológico de algumas pesquisas já desenvolvidas.
Apresentam-se, a seguir, dois experimentos realizados por Shoval e Isaacson (2007, trad. nossa). O primeiro foi conduzido em Heidelberg, na Alemanha, e teve como objetivo testar a precisão do equipamento e aplicabilidade da pesquisa, a amostra foi apenas uma pessoa (um dos autores), que carregou o equipamento durante seu passeio pela cidade (receptor Emtac CruxII BlueTooth GPS e PC de bolso). O equipamento foi configurado para gravar um ponto por segundo e foi fixado no ombro do participante. O passeio durou quatro horas e o participante percorreu 19,3 quilómetros. Durante o passeio, o sujeito utilizou três diferentes meios de transporte (carro, ônibus e a pé), o que ficou claramente reconhecido na análise posterior. A pesquisa mostrou-se ideal para um destino denso como Heidelberg, com becos e ruas estreitas, em forma de labirintos, pois os dados obtidos pelo GPS foram claros e precisos. (SHOVAL; ISAACSON, 2007, trad. nossa)
O segundo experimento teve como objetivo principal a comparação entre três tecnologias de rastreamento: triangulação celular, GPS e o híbrido A-GPS e foi realizado na Cidade Antiga, em Jerusalém (cheia de ruas estreitas e vielas, algumas completamente cobertas). Um assistente do pesquisador percorreu a cidade carregando os três tipos de dispositivos mencionados acima. Foram 3,1 quilômetros percorridos em uma hora e 26 minutos.
O dispositivo GPS teve bons resultados, exceto em áreas totalmente cobertas, no qual se notou dificuldade em posicionar o receptor, porém, ao sair em áreas abertas, o GPS rapidamente localizou o receptor; a tecnologia AGPS foi testada com celular da marca Motorola i860, colocado no bolso da camiseta do participante. Foi configurado para registrar um ponto a cada 30 segundos (limitação do dispositivo), o que foi considerado decepcionante pelos autores, no entanto, os dados obtidos foram, em sua maioria, precisos, exceto no trajeto feito de taxi.
Como resultado, notou-se dificuldade de obtenção de dados dentro de veículos; os dados obtidos com triangulação celular foram os menos precisos, pois os pontos estavam poucos e distantes uns dos outros, impossibilitando de traçar a rota realizada pelo participante. (SHOVAL; ISAACSON, 2007, trad. nossa)
Um dos estudos conduzido por Shoval (2008, trad. nossa), com especial foco na Cidade Antiga de Acre, em Israel, teve como objetivo examinar como a cidade é usada pelos turistas na sua totalidade. Foram convidados para pesquisa turistas que obtiveram ingressos e iniciavam seu passeio na Central de Informações Turísticas. Os participantes foram solicitados a carregar o equipamento (receptor Emtac CruxII BlueTooth GPS e PC de bolso) durante todo seu passeio na cidade e preencher um questionário ao final do tour. Os dispositivos foram programados para gravar um ponto por segundo.
Foram obtidas 246 rotas de turistas e utilizados nove dispositivos GPS. Destas, 112 rotas foram descartadas por problemas técnicos do dispositivo, não preenchimento correto do questionário por parte dos turistas ou pelo fato de o turista ter devolvido o dispositivo antes de ter completado o passeio pela cidade. Assim, foram utilizadas 134 rotas para as análises.
A análise foi encaminhada de modo a examinar como o espaço urbano é explorado ou “consumido” por todos os turistas. O “consumo espacial” foi medido pela porcentagem de tempo gasto em cada local diferente da cidade agregado à intensidade de atividade por célula do tamanho de 10m x 10m.
Essa análise mostrou que as áreas da cidade são consumidas de forma desequilibrada, tanto em tempo gasto nos locais quanto em quantidade de visitação e, segundo Shoval (2008, trad. nossa) essas informações dão subsídios para a implantação de novas atrações e contribuem para a gestão dos fluxos turísticos, e para o marketing do destino, uma vez que agora se sabem quais atrativos e áreas devem sem mais divulgadas.
McKercher (et al., 2011, trad. nossa) realizaram uma pesquisa para comparar a diferença no padrão de comportamento entre visitantes de primeira vez e repetentes em Hong Kong. Os participantes selecionados foram turistas independentes que estavam hospedados em hotéis centrais em Kowloon. Os participantes potenciais foram abordados no lobby do hotel após o café da manhã e convidados a participar da pesquisa. Ao aceitarem, fora aplicado um questionário para identificação seus padrões mais amplos de viagem (tempo total da viagem, tamanho do grupo de viagem, perfil demográfico, tempo de hospedagem e dia da visita a Hong Kong), então foi entregue a eles um receptor GPS configurado para registrar um ponto a cada 10 segundos, eles deveriam devolver o dispositivo ao retornarem para o hotel, no final do passeio.
Um total de 489 turistas participou do estudo. Destes, 363 rotas foram validadas para as analises, sendo 233 de visitantes de primeira vez e 130 repetentes. Os dados foram analisados com software SIG (Sistema de Informação Geográfica). Para as analises de intensidade de visitação, as áreas centrais de Kowloon e Hong Kong foram divididas em células e 200m x 200m.
McKercher (et al., 2011, trad. nossa) observaram que os visitantes de primeira vez se movem mais amplamente em todas as áreas construídas da Ilha de Hong Kong e Kowloon e a visitar atrações ícones, enquanto os repetentes tendem a ser mais específicos espacialmente. Observou-se também, que os visitantes de primeira vez visitam mais atrações enquanto repetentes visitam menos lugares, porém gastam mais tempo em cada atrativo. Ainda notou-se que os repetentes quebram seu dia em várias partes, retornando várias vezes ao hotel, enquanto os visitantes de primeira vez saem manha do hotel e retornam somente ao final do dia. Além disso, os autores observaram outros padrões, como horários específicos em que algumas atrações recebem mais turistas.
Shoval (et al., 2011, trad. nossa) em outra pesquisa com o objetivo de analisar a influência da localização do hotel nos padrões de deslocamento do turista em Hong Kong, selecionaram 557 rotas válidas dos 791 turistas participantes. As configurações do dispositivo e análise foram as mesmas do estudo apresentado anteriormente (MCKERCHER, et al., 2011).
Os turistas foram abordados em quatro hotéis diferentes igualmente distribuídos em Kowloon e Hong Kong. Os resultados foram analisados de três formas diferentes: padrões de movimento em sua totalidade, estudo da hora do dia em que os turistas estão mais dispostos a visitar diferentes regiões e análise do impacto da distância na intensidade da atividade realizadas pelos turistas.
Como resultado, observou-se que os padrões de visitação são clusterizados nas imediações do hotel; ícones atraem grande fluxo de turistas, independentemente da localização do hotel; a localização do hotel influencia lugares visitados, serviços utilizados, tempo gasto nos locais e na forma de locomoção.
Edwards e Griffin (2013) utilizaram dispositivos GPS para pesquisas em duas cidades na Austrália, Sydney e Melbourne. Em Sydney a pesquisa tentou responder a seguinte pergunta: “Qual o comportamento geral do turista em Sydney?” (EDWARDS; GRIFFING, 2013, p. 586. trad. nossa).
Já em Melbourne, além de objetivar saber o comportamento geral do turista, a pesquisa tinha como objetivos saber se as centrais de informações turísticas da cidade influenciam os padrões de movimentação do turista e também, rastrear os movimentos dos participantes de conferencia que tiravam um tempo da conferencia durante o curso de um dia. Foram utilizados dois tipos de GPS para o estudo: Garmin Forerunner 305 e Holux Loggers, ambos gravam hora, velocidade, distancia, posição e direção.
Em ambos os estudos, os participantes foram informados sobre os objetivos e requisitos da pesquisa, bem como sobre a disponibilidade de um voucher de compras pela participação.
A pesquisa em Melbourne contou com 03 estágios. No estágio 01 foram selecionados 40 participantes, que foram abordados em hotéis participantes do estudo. No estágio 02, participaram 42 turistas que foram incentivados a passar na central de informações turísticas no inicio de sua visita. No estágio 03, 32 participantes de conferencia participaram do estudo, e 26 rotas foram validadas. Na pesquisa em Sydney, foram recrutados 40 participantes, nas mesmas condições do estágio 01 em Melbourne. (EDWARDS; GRIFFING, 2013, trad. nossa).
Ao voltarem para o hotel, cada participante foi interrogado com entrevista semiestruturada. Essa entrevista tinha o objetivo de capturar informações demográficas, atividades que se engajaram no decorrer do dia, modal de transporte utilizado e eventuais barreiras que tiveram em seu passeio. Enquanto isso, os dados do dispositivo foram baixados para o computador e a precisão das rotas foram examinadas com o participante, bem como foram tomadas notas sobre os motivos por terem feito tais rotas, escolha das ruas e meios de transporte utilizados, limitações encontradas, entre outras. (EDWARDS; GRIFFING, 2013, trad. nossa).
Entre os resultados obtidos, alguns pontos merecem observações para os casos australianos: existem poucas ligações entre o centro e os atrativos em Sydney; o sistema de transportes apresenta-se como grande dificultador de mobilidade para os turistas. Em Melbourne, observou-se que as Centrais de Informações Turísticas influenciaram substancialmente os padrões de movimentação dos turistas, e que podem refletir nos fluxos e divulgação turística; o City Circle Tram apresentou-se como importante meio para conhecer os principais atrativos da cidade, sendo amplamente utilizado pelos conferencistas. (EDWARDS; GRIFFING, 2013, trad. nossa).
De Cantis (et al., 2016) apresentaram um estudo que teve como objetivo analisar o perfil e o comportamento espaço-temporal do turista de cruzeiros marítimos em um destino de porto e verificar as hipóteses teóricas de que esse turista consome apenas as regiões do entorno próximo do porto e, ainda, segmentar o perfil do público de acordo com indicadores coletados na pesquisa através de tratamento estatístico dos dados.
O estudo foi conduzido em Palermo, Itália, cidade relativamente nova como destino de cruzeiro. Para a coleta dos dados, utilizou-se uma combinação de técnicas tradicionais, como questionários e as novas técnicas de GPS. Foram selecionados turistas que não compraram pacotes de city-tour, ou seja, os que decidiram visitar Palermo por conta própria, chamados de “passageiros de cruzeiro independentes”.
Durante os dias de pesquisa, foram selecionados 322 turistas para compor a amostra. Desse número, quatro turistas não preencheram o questionário de encerramento. Após a análise da qualidade das rotas registradas pelos dispositivos GPS, 303 rotas foram consideradas aptas a serem analisadas. Desse número, apenas os passageiros de cruzeiro independentes foram analisados, totalizando 278 amostras.
Entre os vários resultados obtidos, os autores destacam que a ideia de que o passageiro de cruzeiro visita apenas uma pequena área próxima ao porto foi contrariada e mostram ainda que esse turista consegue visitar um número grande de atrativo oferecidos pelo destino. Os autores ainda encontraram diferenças significativas na forma de consumo pelos turistas a partir do seu perfil, por exemplo: turistas que foram classificados no grupo A (n = 47), visitam não apenas o centro de Palermo, mas outros destinos próximos como Monreale e praias de Palermo. Os resultados apontam também que o tempo gasto pelos turistas no destino é superior ao que estudos anteriores afirmaram.
Considerações finais
Tratamos nesse artigo do surgimento, evolução e utilização de uma tecnologia denominada GPS para o estudo do comportamento espaço-temporal do turista, tecnologia essa que possibilita uma vasta gama de aplicações em diversas áreas do conhecimento, inclusive várias possibilidades de pesquisas no campo turístico.
Destacamos que a pesquisa bibliográfica aqui apresentada teve como foco o turismo urbano, e que a aplicação dessas técnicas é significativamente mais ampla do recorte aqui discutido.
Autores que utilizam o GPS para monitorar o turista nas dimensões espaço e tempo defendem essa técnica em detrimento de tradicionais modelos como diários de viagens e orçamento tempo-espaço, destacando suas vantagens no que se refere à praticidade de aplicação, melhor custo benefício e acima de tudo maior confiabilidade e precisão dos dados obtidos.
Poderíamos, portanto, descrever diversas vantagens em utilizar os dispositivos, o que não é o objetivo deste artigo. Propomo-nos a discutir de que forma o avanço tecnológico pode contribuir para a compreensão do deslocamento dos turistas dentro dos destinos turístico.
Observamos que a tecnologia de GPS é uma ferramenta que possibilita essa compreensão do movimento dos turistas na cidade destino, que pode ser analisada tanto de forma individual quanto em sua totalidade, destacando não somente os fluxos turísticos dentro da cidade (dimensão espacial), mas os horários de maior visitação dos atrativos isolados ou áreas inteiras.
Um olhar holístico, porém aliado dessas duas dimensões pode gerar informações essenciais para a gestão territorial do turismo. Essa técnica possibilita trabalhar as relações do comportamento espaço-temporal do turista de diversos focos (apenas alguns foram discutidos no artigo) o que tende a enriquecer o campo de estudo do turismo no contexto urbano e outros contextos.
Esse artigo serve como base inicial para futuras pesquisas a serem desenvolvidas na América Latina, uma vez que recorremos à literatura internacional, pois não foram encontradas pesquisas dessa natureza (uso do GPS para monitoramento de turistas no espaço-tempo) publicadas em português.
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