Luiz Alves
João Luís Jesus Fernandes
Universidade de Coimbra
luizalves90@hotmail.comResumo: Ao longo das últimas décadas, o espaço rural português tem sofrido dinâmicas que se traduzem na sua crescente multifuncionalidade, nas mudanças paisagísticas e no conjunto de atores que, de forma direta ou indireta, têm construído as suas territorialidades de algum modo envolvendo essa ruralidade múltipla e diversificada. Sobretudo após a década de (19)80 e a adesão do país à então Comunidade Económica Europeia, o rural tem sido objeto de um interesse que visa inverter a tendência regressiva, com a valorização dos seus recursos e a indução de processos e dinâmicas de desenvolvimento territorial. É nesse contexto que se buscam novos atrativos e se procuram capitalizar os novos olhares, mais positivos e atrativos, sobre o rural. Assim se chegou a um rural mais complexo, um rural que não perdeu a matriz agro-silvo-pastorial do passado, mas à qual acrescentou pluralidade, inovação e outros protagonistas. Estes trazem novos olhares, outras perceções e encontram também um rural diferente, mais complexo e fragmentado. Neste trabalho, far-se-á uma viagem de anotação e observação da paisagem rural a partir dos pontos e das linhas de observação proporcionadas pelo geocaching numa região rural portuguesa: o powertrail promovido pela Lousitânea – Liga de Amigos da Serra da Lousã, na Serra da Lousã.
Palavras-chave: Geocaching, Ruralidade, Multifuncionalidade, Powertrail, Serra da Lousã.
Abstract: Over the past decades, the rural portuguese space has suffered dynamics that translate their multifunctional growth, in paisagistic changes and in the set of actors which, in the direct way or indirect, have built their territorialities and somehow involving that multiple and diversified rurality.
Especially after the decade of (19) 80 and the accession to the then European Economic Community, the rural has been the subject of an interest aimed at reversing the downward trend, with the value of its resources and the induction and development processes of dynamic territorial. It is in this context that seek new attractions and seek to capitalize on new looks, more positive and attractive on rural. This led to a rural more complex, a rural which has not lost to agriculture, forestry and pastorial of the past matrix, but to which he added plurality, innovation and other actors. These bring new perspectives, other perceptions and also find a different rural, more complex and fragmented. In this work, we will make a note of travel and observation the rural landscape from the points of observation and lines provided by geocaching in a Portuguese rural region: the powertrail promoted by Lousitânea - Liga de Amigos da Serra da Lousã, na Serra da Lousã.
Keywords: Geocaching. Rurality. Multifunctionality. Powertrail. Serra da Lousã.
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Luiz Alves y João Luís Jesus Fernandes (2015): Geocaching e perceção da paisagem: retratos da ruralidade portuguesa a partir de um powertrail na Serra da Lousã (Portugal), Revista Turydes: Turismo y Desarrollo, n. 18 (junio 2015). En línea: http://www.eumed.net/rev/turydes/18/geocaching.html
Nos territórios portugueses, a exemplo do que ocorre noutros países europeus, a ruralidade é hoje diferente, porque mudaram os usos, as paisagens, os fruidores, os sustentos fundamentais da base económica, as densidades, os atores, as narrativas, e tantos outros aspetos. Por exemplo, essa mudança passou por uma relação diferente entre estes espaços rurais e os urbanos, numa fronteira cada vez mais permeável, difusa e de difícil cartografia1 .
Por isso, todos os conceitos em torno da ruralidade portuguesa são agora mais complexos, facto que resulta da diversidade de trajetórias – não existe uma ruralidade única e homogénea, mas que deriva também das alterações verificadas, ao longo das últimas décadas, nas dinâmicas territoriais do próprio país: o rural e o não rural.
É difícil sistematizar as mudanças verificadas nessa ruralidade, mudanças por vezes rápidas, quase todas irreversíveis, porque o sistema não se regenerará nem regressará ao, sempre difícil de encontrar, ponte de partida. Ainda assim, é impossível não invocar as tendências de despovoamento, envelhecimento populacional, urbanização, terciarização ou uma certa “desruralização” da base económica fundamental, se entendermos este último processo como uma perda de exclusividade dos setores económicos tradicionais.
Estas mudanças, ainda que significativas nas dinâmicas territoriais, não significam o desaparecimento do rural ou a sua diluição face à expansão urbana.
Pelo contrário, traduzem-se numa mudança funcional: “ao espaço rural foram atribuídas novas funções regeneradoras e, para o seu desenvolvimento sustentável, promoveu-se a diversificação das atividades aí realizadas, em especial as não agrícolas como, por exemplo, o turismo e o artesanato, com os objetivos de assegurar a manutenção das comunidades rurais e preservar os ecossistemas e as paisagens construídas pela agricultura. A expressão mais utilizada desde então é «multifuncionalidade do espaço rural», que, em princípio, seria geradora de novos recursos e de melhoramentos das condições de vida das populações” (Almeida, 2007:310).
Em parte, essa dinâmica assenta no triângulo virtuoso – turismo, ambiente e agricultura, um polígono que integra as atividades que melhor podem contribuir para um desenvolvimento rural sustentável, sobretudo quando se está perante regiões condicionadas por algum tipo de desfavorecimento (Covas, 2008).
Assim, o território rural continua a ter o seu lugar nas sociedades contemporâneas, enquanto espaço de suporte de atividades urbanas, local de fuga à intensidade da vida citadina, como palco vocacionado para múltiplas práticas de lazer e turismo.
Essa importância materializa-se em diferentes apropriações, que constroem e modelam a paisagem, como a expansão imobiliária, a construção de condomínios fechados e de infraestruturas como as autoestradas ou os solos agora vocacionados para a produção e transporte de energia.
Contudo, não se pretende aqui apontar o passado como um longo e tranquilo trajeto de imobilismo. As mudanças na ruralidade são recentes mas ocorreram já ao longo de todo o século XX.
Sem querer recuar mais no tempo, nas primeiras décadas após 1950, e muito por impulso do Estado, a agricultura mudou e, com esta, mudaram as sociedades rurais.
Na impossibilidade de continuar a crescer de forma extensiva, arroteando novas terras, a agricultura procurou um crescimento intensivo através da modernização tecnológica, assente em particular na mecanização e na qualidade e quantidade (intensidade) dos fatores utilizados. A ação do Estado foi essencial na proteção e suporte dos principais produtos agrícolas, subsídios aos fatores e incentivos à modernização tecnológica.
Contudo, as oscilações nas políticas públicas, resultantes em particular da menor ou maior abertura ao exterior, a evolução dos mercados nacional e mundial, as condições naturais e as respostas locais diferenciadas, conduziram não a uma intensificação generalizada mas sim a “bolsas de intensificação e especialização”, em certos espaços, com certas produções, certos actores e redes de interesses agrícolas, industriais, comerciais e financeiros, de âmbito nacional.
Em contrapartida, outros espaços foram sendo reconvertidos para a pecuária extensiva, a floresta, ou foram perdendo importância, fruto do recrudescimento dos impactos negativos das dinâmicas socioeconómicas, ficando votados ao abandono.
Com efeito, a agricultura foi perdendo importância social, mas também peso económico, quando comparada com o crescimento dos serviços.
A partir do fim de 1980, e na sequela da adesão à Comunidade Económica Europeia, novos processos de mudança ganharam peso ou começaram a manifestar-se, pelo que a explicação das mudanças que estavam a ocorrer na sociedade rural teve que ser procurada não apenas no setor agrícola mas também noutros.
Como faz notar Rodrigues (2007) “foi a partir da década de 80 (séc. XX) que se começaram a alertar consciências para a necessidade de intervir nos espaços rurais, de promover o seu desenvolvimento”. Começaram a valorizar-se as caraterísticas, as potencialidades, os recursos, as mais-valias locais. O processo de desenvolvimento deveria assentar na valorização de outras atividades económicas, jogando tanto com produtos inovadores como com novos serviços (Cavaco, 1996).
A melhoria do bem-estar geral, a crescente mobilidade geográfica introduzida pelo desenvolvimento dos meios de transporte (em particular do automóvel), a difusão das tecnologias de comunicação e informação, uma certa deterioração do modo de vida urbano e a crescente melhoria do bem-estar rural, levaram a sociedade urbana a re-descobrir o rural procurando impor-lhe novos usos e funções, novas atividades produtivas, de consumo ou de simples fruição.
Irromperam, assim, as novas funções e atividades: residenciais, recreativas, turísticas, entre outras, nos espaços anteriormente agrários, acompanhadas por uma crescente importância atribuída ao ambiente e à natureza, à sua proteção e valorização patrimonial, com críticas explícitas aos impactos negativos da agricultura.
A sociedade rural, que resistiu ao declínio da agricultura, e/ou que se reconstruiu, apoiada no poder autárquico, aproveita agora novas oportunidades criadas por essa procura urbana, em atividades económicas como a construção civil, o alojamento e restauração, a produção agro-alimentar de qualidade, a organização de atividades de animação turística, “não esquecendo o papel central da actividade agrícola em todas as suas componentes: biológica, ambiental … e não apenas a sua versão produtivista” (Carvalho, 2009:147). De facto, “é certo que a atividade agrária não perderá, por efeito das transformações em marcha ou e vista, o seu carácter decisivo. Perde, já perdeu e continuará a perder quaisquer pretensões de exclusividade, mas o seu contributo não poderá ser secundarizado, antes se recomenda a conjugação de atividades endógenas e exógenas à agricultura” (Jacinto, 1995:144).
Nesta multifuncionalidade, os espaços rurais ganham sentido urbano, reflexo da terciarização nestes territórios de baixa densidade. A perspetiva de "bio-região" (Ferrão, 2000), espelha um pouco essa relação, sendo que “os espaços naturais asseguram continuuns rural-urbano não apenas por razões estéticas e de fruição visual das populações citadinas mas, factor mais importante, como garantia de funcionamento de processos ecológicos básicos (ciclo hidrológico e respectivas redes de drenagem, por exemplo), isto é, como medida cautelar de preservação de ecossistemas e de sustentabilidade ambiental” (Ferrão, 2000:50).
Por outro lado, esta ruralidade responde a uma série de necessidades básicas dos territórios urbanos, levando a uma certa “insularização” e fragmentação desse rural, como ocorre na produção de energia (hidráulica, eólica), no tratamento dos resíduos sólidos urbanos (aterros sanitários), na captação de água para consumo, na recuperação do património rural. Esta recuperação é reflexo de uma certa “fetichização” da invocação do “passado” e das “tradições” rurais, contribuindo para a criação de um hibridismo que Domingues (2012) associa ao que denomina como “paisagens transgénicas”.
O urbano apropria o rural, já se referiu, nas práticas de turismo e lazer, na produção de energia, na captação de água, na decomposição dos seus resíduos poluentes. No fundo, o urbano não vive sem o rural, que é reproduzido e replicado no interior mais compacto das próprias cidades, com expressões espaciais que vão das hortas urbanas aos espaços arborizados no interior dos centros comerciais.
Por tudo isto, o rural é um território de múltiplos atores, com ocupações e expressão permanente ou intermitente, endógenos ou exógenos, mas com impacto direto na paisagem rural, na apropriação do espaço e nas dinâmicas de desenvolvimento.
Uma das inovações que, por via do lazer, o urbano induziu no rural, foi o geocaching – “uma caça ao tesouro dos tempos modernos, jogado no mundo inteiro por pessoas com espírito aventureiro e equipados com recetores de GPS (Global Positional System). A ideia base do jogo é encontrar recipientes escondidos, denominados geocaches, referenciadas através de coordenadas GPS e depois partilhar a experiência a sua aventura online” (Curato; 2013:2). Todas as geocaches (ou apenas ‘caches’, como são conhecidas na rede de praticantes) estão registadas e publicadas no sítio web geocaching.com.
O geocaching tem assumido um impacto crescente no domínio do lazer, sobretudo pela proliferação (quase massificada) das novas tecnologias de informação e o aumento do uso das tecnologias com recetores de sinal GPS.
Neste contexto, os geocachers assumem-se como atores inovadores, ou figuras estranhas ao ritmo e à vivência dos territórios rurais que, na maioria, se traduzem numa certa apropriação urbana do meio rural.
O seu crescimento nos domínios do lazer pode ser também explicado pela ampla gama de fruidores que é capaz de atrair. De facto, o geocaching, tanto pode ser uma atividade familiar, praticada num dia tranquilo de incursão por uma cidade Património Mundial da Humanidade, por exemplo, como ser uma atividade que requeira elevada destreza física e técnica, implicando um risco elevado, repleto de adrenalina. Ao mesmo tempo, trata-se de um lazer que pode ser praticado por todas as pessoas, de diferentes grupos etários e graus diversos de mobilidade. Esta variedade permite que cada participante possa procurar caches adequadas às suas capacidades, condições físicas, gostos e motivações.
O geocaching, através da colocação das caches, proporciona uma certa experiência do rural, mas é também uma janela de observação dessa ruralidade complexa, como se comprova acompanhando o powertrail criado numa serra da Região Centro de Portugal, a Serra da Lousã.
O powertrail 2, 3 promovido pela Lousitânea – Liga de Amigos da Serra da Lousã, localiza-se na envolvência das quatro Aldeias do Xisto do concelho de Góis (Aigra Nova, Aigra Velha, Comareira e Pena) e da aldeia de Povorais.
Apresenta um total de 11 caches, posicionadas ao longo de dois percursos pedestres circulares, de pequena rota (PR), que em conjunto totalizam uma extensão de cerca de 22 quilómetros4 por trilhos serranos, que se cruzam, num perfil vertical com alguma exigência física associada, com vários desníveis, desenvolvendo-se numa média de 743 metros de altitude, que varia entre uma cota mínima de 523 metros e a cota máxima de 861 metros de altitude. Este percorrido acaba por criar um corredor de observação da forma como o Homem e a natureza interagiram, modelando uma paisagem cultural na qual o geocaching e os geocachers são apenas mais um acrescento à complexidade existente (Figuras 1 e 2).
Com o objetivo de dotar as Aldeias do Xisto com mais pontos de interesse e com uma maior capacidade atrativa, diversificando a oferta de atividades de turismo e lazer, a Lousitânea – Liga de Amigos da Serra da Lousã implementou o projeto “GeocachINg Xisto”. Esta iniciativa visa potencializar o aumento do número de visitantes, mediante a captação de um “nicho de mercado” cada vez maior, os geocachers.
Esta intervenção inovadora nos trilhos PR1 GOI – Rota das Tradições do Xisto e PR9 GOI – Trilho do Baile, culminou com a colocação de 11 caches tradicionais, com cada ponto de fixação (spot5 ) a ser escolhido de forma criteriosa.
Estes pontos de paragem e observação foram pensados tendo por objetivo a valorização do património natural e cultural da Serra da Lousã. Através destas caches, o praticante pode observar e inserir-se na paisagem cultural desta ruralidade, destacando os valores patrimoniais do conjunto,
Procurou-se não densificar os trilhos com a colocação excessiva e massificada de caches, decisão que permite a paragem mais prolongada em cada ponto, com uma procura mais demorada e descontraída de cada container 6. O próprio grau de dificuldade7 destas caches está num nível médio, critério que também contibui para a redução do ritmo da experiência, indo talvez ao encontro do que parte dos geocachers urbanos virão procurar neste contexto geográfico – uma fruição a baixa velocidade.
Após a saída da estrada nacional número 342 (o único acesso por estrada alcatroada ao lugar ponto de partida desta experiência), um retiro escavado na fraga convida o geocacher a estacionar, junto à Aldeia do Xisto de Comareira (Figura 3). Esta primeira cache, não muito longe do estacionamento, situa-se num miradouro. Esta experiência tem início a cerca de 530 metros de altitude.
O local seduz o geocacher a parar e a contemplar a paisagem com vista para a Quinta da Albergaria, junto à aldeia de Albergaria, e para a envolvência da Serra da Lousã (Figura 4). A mancha de vegetação está interrompida pelo povoamento e pela inscrição pontual do edificado, formando um conjunto híbrido revelador da presença humana, a de hoje mas também a do passado, das apropriações antrópicas de uma paisagem que, naquele ponto, já se sente como agreste e marcada por alguns desníveis topográficos.
Esta cache de abertura do powertrail vem confirmar uma das vocações do espaço rural – o ser visto, observado e contemplado. Com efeito, nestas mudanças recentes da ruralidade portuguesa, o miradouro foi uma das mais populares e frequentes inovações territorializadas nestas novas geografias, convidando à paragem, à fotografia, ao registo filmado ou apenas a permanecer ali durante algum tempo.
A proximidade da cache ao núcleo central da aldeia convida a uma visita. Num local onde apenas reside um habitante, a paisagem é contraditória. Por um lado, observa-se que a grande maioria do casario está recuperado, por obra das intervenções realizadas no âmbito do Programa das Aldeias do Xisto 8 (Figura 5), Por outro, só com alguma sorte se encontrará alguém porque, naquele lugar reedificado, reergueram-se as pedras mas não se recuperaram os habitantes. A única residente em Comareira é uma idosa, pastora de profissão e vivência quotidiana.
Ainda assim, a passagem dos geocachers, como forasteiros, não deixa de ser anunciada, mas apenas por outros habitantes, os cães de serviço que dão o alerta e quebram o silêncio que se pensava que iria impor nesta paisagem que também é sonora.
Esta aldeia intervencionada por projetos com apoio da comunidade europeia terá recuperado alguma da sua morfologia, mas isso de pouco vale quando falta a vivência humana permanente e esta, irrecuperável, ficou para trás, algures no passado.
Sobre esta geografia humana, restam algumas esperanças numa unidade de turismo rural em funcionamento. Espera-se que traga alguma vida sazonal e intermitente, um sopro muito pontual de vida num lugar onde também faltam, ao contrário de outras aldeias da região, as habitações de ocupação secundária e temporária.
À saída da aldeia, de volta à paisagem oferecida pelo spot do container, sobressai o caráter contraditório dos projetos e programas de desenvolvimento territorial promovidos em contexto rural. Neste lugar foram investidos cerca de 224 mil e 738 euros (investimento médio correspondente a cerca de 37 mil e 456 euros por habitante), numa época em que ainda ali residiam 6 habitantes (Alves, 2015). Quatro anos passados, sobra apenas uma.
Apesar do investimento, na paisagem destacam-se sobretudo os sinais do Homem ausente. Todo o trabalho de remodelação do local sofreu nova investida em meados de 2002, mas o objetivo inicial está longe de ser alcançado, como se, à margem dos projetos, o rural continuasse o seu percurso, aquele que tem acentuado as suas perdas.
Entretanto, os geocachers retomam o caminho (Figura 6), pisando um pavimento alcatroado mal conservado. Seguindo a rota deste powertrail, o geocacher segue em direcção a Aigra Nova, uma outra Aldeia do Xisto.
Na aproximação ao lugar, e se se observar um pouco mais além, num horizonte mais fundo, em segundo plano, nota-se a presença de alguns intrusos que não estariam ali num passado recente. Estruturas elegantes mas com imponência física e uma outra estética, os aerogeradores coroam os cumes, cortam a paisagem e, adivinha-se ao longe, trarão registos inovadores à paisagem sonora envolvente, uma paisagem antropofónica de sons gerados porque o vento faz movimentar as pás e são estas, com a sua rotação, quem produz a energia que daqui parte para outros lugares, mais urbanos e consumidores (Figura 7).
Se dúvidas houvesse sobre os efeitos paisagísticos da aposta portuguesa nas energias renováveis, eles aqui estão, como que a ocupar o lugar das ausências humanas e a mostrar que, mesmo à distância, a sociedade urbana apropria e tem necessidade destes penedos. Afinal, uma menor densidade populacional não significa um grau de humanização mais suave. Pelo contrário, o povoamento ausente não fez recuar a presença antrópica, mesmo que esta se faça por intermediários como estes postes de pás em movimento.
Nesta paisagem rural de montanha, a apropriação urbana também se nota nos retransmissores do sinal de rádio e televisão, também ali colocados, no Trevim, cume que ganha em altitude a todos os outros. Trata-se do no ponto mais elevado da Serra da Lousã, com 1205 metros de altitude (Figura 7).
Os geocachers observam a paisagem mas continuam o seu caminho. Chegam à segunda aldeia do trajeto – Aigra Nova (Figura 8). Naquele lugar, destacam-se, mais uma vez, os impactos da intervenção do Programa das Aldeias do Xisto: no casario, no mobiliário urbano e no pavimento.
Nestas dinâmicas de recuperação (e modernização) do rural português, procurou-se ir ao genius loci do lugar, respeitando os contextos e as especificidades. A patrimonialização é uma forma de inovação que procura seguir a corrente do tempo. Nesta caso, no caminho que leva a Aigra Nova, se os geocachers olharem para o chão que pisam, não vêm o xisto mas sim o granito, uma outra personagem exótica ali colocada porque terá sido mais funcional utilizar esta rocha e não outra.
Apesar dessa deriva magmática, no interior da aldeia salta à vista o cromatismo espelhado do xisto. Aqui cruzam-se o passado e o presente, o casario recuperado ao lado de edificações em ruínas. Estas últimas estão desocupadas, outra coisa não seria de esperar. No entanto, entre as casas intervencionadas poucas são as que se encontram ocupadas de forma permanente. São escassas as chaminés que dão sinal de vida, aquela denunciada pelo fumo de alguma lareira acessa neste dia de inverno. Os quatro habitantes de Aigra Nova apenas ocupam duas casas de todo o conjunto.
De resto, destacam-se as janelas e as portas fechadas. Não se abriram à passagem dos geocachers, não se irão abrir nos tempos mais próximos. Algumas dessas habitações apenas darão sinal de vida nos escassos períodos de férias citadinas. Propriedade de neo-urbanos naturais desta aldeia, algumas destas portas e janelas apenas se moverão quando a saudade aperta e se regressa ao lugar de partida.
Em Aigra Nova, as coordenadas de localização do container leva-nos bem próximo da porta do Ecomuseu Tradições do Xisto (Figura 9), bem perto dos 610 metros de altitude. Este é um edifício inovador, porque inovação é também a chegada de instituições novas a uma aldeia onde os atores e os poderes sempre foram outros. Por esta porta entra-se também na Loja das Aldeias do Xisto de Aigra Nova, sala de visitas mas também de exposição e difusão dos produtos locais que se revelam a quem chega. Mostram-se esses produtos para, logo depois, se entrar num espaço de musealização da paisagem. A cache está lá fora, mas num geocaching lento e pausado, haverá disponibilidade para conhecer melhor o local, viajar no tempo, observar peças, ficar atento às explicações sintéticas dos painéis e das fotografias que remetem para a memória daquilo que o território já foi e já teve mas que pretende continuar a expor e, de certo modo, a vivenciar.
Entre os espaços interiores deste ecomuseu e o exterior desta Aigra Nova, a paisagem sonora é mais diversificada, porque são também mais os atores envolvidos. Os habitantes são escassos, mas é possível encontrar alguém com quem se trocam alguns minutos de conversa ocasional, seja com o Sr. Manuel Claro, que trabalha a cortiça para uma máscara do Entrudo na sua oficina; seja com a Dona Lurdes, que conduz o gado caprino até ao pasto. A estes, que em conjunto perfazem metade dos habitantes permanentes, mas também aos canídeos que por ali estão, podem juntar-se os funcionários e técnicos da Lousitânea – Liga de Amigos da Serra da Lousã.
Contudo, que as palavras não nos iludam. Nada disto faz de Aigra Nova um lugar de multidões e centralidades. A estas personagens ainda se juntam os geocachers, mas persiste a sensação da distância e de um espaço fora do tempo. Continua a perceção de uma área-sombra na qual a busca por um sinal mínimo de conetividade às redes de telecomunicações obriga a um malabarismo de escassas garantias de sucesso – é preciso sair do edifício do ecomuseu, é necessário virar e revirar o aparelho, andar mais para a esquerda e para a direita, para cima e para baixo, sem garantias de encontrar essa porta de acesso ao mundo digital.
Por tudo isso, a aldeia parece embrenhada numa certa sonolência, persiste um ambiente semi-letárgico, mesmo que aqui possam ocorrer cruzamentos ocasionais: algum dos quatro habitantes, um técnico da Lousitânea a passear um burro mirandês ou um geocacher a percorrer o trilho em busca dos tesouros da Serra da Lousã.
Em Aigra Nova, estes geocachers registam mais um found9 e seguem o seu caminho, deixando duas aldeias para trás. A estrada, até agora, foi amigável. O caminho não colocou muitos problemas. Tem-se andado por terreno seguro. A partir daqui tudo se altera um pouco, mostrando que o país da velocidade, das auto-estradas, dos fortes investimentos na rapidez do tráfego, afinal esconde geografias mais lentas e pausadas.
A caminhada prossegue com uma subida mais exigente, num trilho de terra batida (Figura 10), recalcando um carreiro de cabras em busca da cache seguinte, a “Poça dos Bois”. Embora seja apenas necessário percorrer pouco mais 100 metros, o desnível superior a 40% faz-se sentir. A aproximação ao spot, mais lenta e exigente devido ao declive, é premiada com a abertura do campo visual, com o alargamento do horizonte que a vista alcança. Nesta maior amplitude, o olhar desvia-se novamente para a aldeia (Aigra Nova) que ficou para trás (Figura 11).
Mas, deste novo miradouro sem banco para nos sentarmos nem qualquer varanda protegida por uma paliçada onde se apoiem os cotovelos enquanto se observa, nota-se mais uma vez a presença dos aerogeradores (Figura 12), que continuam bem visíveis.
Aigra Nova é agora um pequeno lugar perdido na saliência mais suave da encosta soalheira, delimitada pelos declives mais acentuados que terminam na Ribeira do Mouro.
Desde o local onde se encontra esta cache, observa-se o povoamento escasso mas disperso, como se as condições do passado, da época em que havia mais gente, não permitissem a expansão dos lugares. A montanha sempre ofereceu o que tem, mas não convida a aglomerações grandes. Os lugares encolheram-se dentro dos limites da expansão do construído, aqui impostos pela orografia mas também pelos imperativos de gestão de recursos fundamentais como as coirelas (hortas) ou as áreas de pasto. Numa época de (quase) regulação malthusiana, as aldeias cresciam até ao limite imposto pelos campos de cultivo - o número suportável de bocas a alimentar dependia do solo disponível para o auto-sustento.
Tudo isto é observado e sentido pelos geocachers que, para verem a paisagem, viram costas ao container. No entanto, é preciso virar o corpo e o olhar. Aquela é apenas uma paragem e é preciso procurar a cache. O local é uma poça de água, como se fosse um tanque que, pelas silvas que ali estão, também mostra sinais da ausência do Homem (Figura 13). O nome (‘Poça dos Bois’) pode ajudar a compreender a função, quando se vivia o modelo agro-silvo-pastoril que dominou o território
Este seria um ponto de armazenamento de água para matar a sede aos bois que davam auxílio a muitas das tarefas da vida local: as lavradas dos campos de cultivo, o transporte de mato e lenha, as idas às feiras de compra e venda de gado. Esta é uma das heranças da agricultura de subsistência, um reflexo da dureza de viver nestes lugares, marcado pelo encravamento, pela ausência de veículos de tração não animal e pela dificuldade de acessos.
Depois do registo, os geocachers prosseguem caminho, mais umas largas centenas de metros pelo mesmo trilho de terra batida, com o mesmo rigor imposto pelo desnível da subida. Olhando em redor, nota-se a ausência de vegetação arbórea. A existência (quase exclusiva) de urzes (Calluna vulgaris) leva-nos, de novo, à paisagem e àquilo que esta representa, ao modo como regista e inscreve os atos do passado. A vegetação rasteira tem origem na sobreexploração das pastagens, quando a pastorícia era uma das bases económica destas comunidades. A necessária regeneração dos pastos levou a ciclos sucessivos de queimadas que foram despindo mas também erodindo o solo. Por isso se caminha sobre pedras e se sente a falta de um tapete que dê conforto aos pés. Mas, já se referiu, nada disto se estranha no país mais lento que foi ficando e permanecendo, à margem da velocidade imprimida pelos investimentos com cobertura e apoios da União Europeia.
Apesar das dificuldades de movimento, não é por isso que este powertrail ultrapassa os limites da dificuldade média. Com algum esforço, os geocachers prosseguem e retomam o piso de alcatrão, entram num eixo local que terá, porventura, mais movimento.
Esse asfalto leva-nos a outra Aldeia do Xisto ‒ Aigra Velha (Figura 14), e superamos a cota dos 760 metros de altitude. À entrada deste aglomerado, regressa o granito, nota-se um ordenamento higienizado, com muros reconstruídos, candeeiros sofisticados e um conjunto de arranjos urbanísticos que parecem inspirados na Lisboa da Expo 98 ou numa qualquer cidade média da geração Pólis .
Nesta paisagem (pós) moderna transplantada, a lama desapareceu; o inevitável miradouro também ali está, numa antiga eira para espalhar e levantar o milho; tudo enquadrado por um parque de estacionamento para os automóveis que aqui chegam de quando em vez (Figura 15).
Aigra Velha está habitada por um residente solitário, embora se tenham notado dois cães. Este é mais um lugar marcado pelas dinâmicas de despovoamento. No entanto, a aldeia merece um olhar atento e uma paragem, ainda que aqui já não se encontre nenhuma cache para descobrir e registar.
O que chama a atenção é a forma do lugar, um aglomerado de casas integradas numa estrutura defensiva. Para evitar o ataque de lobos, os edifícios estão dispostos em torno de uma única rua, com as habitações interligadas entre si por pátios de acesso comum, abrigados por um muro de proteção que esconde o conjunto e evita o espaço aberto de onde viriam perigos e ameaças.
Este é o testemunho de um rural intranquilo, desconfiado, inseguro, um rural que se protegia através do espírito gregário dos residentes, isto quando os lobos circulavam por esta parte da serra e quando os habitantes eram mais que aquele que agora ali reside. Mesmo os muros de proteção da aldeia estão agora abertos e parcialmente caídos, como se faltasse a energia e a motivação para os recuperar. Na verdade, faltam os habitantes.
Fora da aldeia compacta, num conjunto construído que chegou a ser um anexo agro-pecuário, encontra-se agora uma unidade de turismo rural. Também aqui as portas e as janelas estão fechadas mas o espaço está cuidado, preparado para chegadas futuras. No entanto, nota-se a ausência, não do morador mas do turista, que ali terá estado durante a época natalícia. Em fevereiro ainda as portas ostentavam sinais desses festejos, de uma chrismascape de celebração numa ruralidade telúrica que terá levado o visitante urbano numa viagem de regresso a um Natal rústico mas, também aqui, pósmoderno e encenado.
O percurso continua, num estradão florestal de terra batida e chega-se a um novo spot e ao container da cache “Entre Aigra Velha e Povorais”.
O nome não engana, sai-se de uma aldeia e caminha-se em direção a outra. Aigra Velha, a aldeia-fortaleza, ficou para trás. Povorais está lá mais à frente. São assim os percursos no rural, entre lugares, entre vértices ligados a canais de contacto, redes que pouco têm que ver com aqueles do hipermóvel e digital mundo contemporâneo mas que também existem, a uma outra escala, com outros ritmos, estruturando territórios e vivências.
Também esta cache convida à observação da paisagem. No quadrante leste, a Serra da Estrela é denunciada pela neve que a cobre nalguns períodos do inverno (Figura 16). Um desvio do olhar, de costas para a cache, de frente para a Estrela, permite que o geocacher se oriente, Aigra Velha está à esquerda, Povorais aparecerá à direita.
Esta cache é discreta, aproveita um suporte de madeira e ali se disfarça, junto à inscrição que marca um percurso pedestre, informação que conduz os caminheiros e indica por onde e para onde se deve ir (Figura 17).
À distância, na Estrela, serra simbólica de Portugal que, neste enquadramento particular, se vê entre Aigra Velha e Povorais, é a natureza que se parece impor. No entanto, no solo que se observa ao pormenor, logo à volta da cache, o rasto maior parece ser o antrópico.
Neste local tenta-se dar um novo alento às antigas áreas de pastoreio. Dos rebanhos numerosos que existiram em Aigra Velha, hoje sobra apenas pouco mais que uma dezena de cabeças. No entanto, faz-se agora a plantação de várias espécies florestais (castanheiro – Castanea sativa; pinheiro-bravo – Pinus pinaster; carvalho-alvarinho – Quercus robur; entre outras), num perímetro que corresponde a uma Zona de Intervenção Florestal.
Esta operação no coberto vegetal é denunciada pelas centenas de redes verdes que protegem (ou tentam) cada uma das plantas mais jovens, contra a voracidade dos veados. Estes também serão protagonistas do local, mas não se deixam ver, nem ouvir, nesta altura do ano. A paisagem sonora é aqui dominada pelo silêncio. Não o será quando os veados ali estiverem, talvez durante a noite, a desfazer paliçadas de proteção e a roer plantas que nunca chegarão a crescer ou na época de acasalamento, quando produzem os seus sons característicos, na chamada “brama dos veados”.
Mas, neste momento, naquele silêncio, não se ouve o balido do veado, apenas talvez, num escutar mais apurado, o alarido dos aerogeradores que, de forma mais ou menos ritmada, se denunciam no zunido das rajadas de vento mais fortes.
A caminhada contínua, pelo mesmo estradão florestal, numa paisagem de vegetação arbustiva e arbórea. Nesta walkscape, entre os meandros do caminho, serpenteando a meia encosta, numa ou outra poça de água nota-se o que resta do gelo e da geada descongelados pelo sol matutino.
Andar significa também olhar, é esse o princípio do pedestrianismo. Observa-se tudo à volta, registam-se imagens, as que passam para os cartões de armazenamento digital das máquinas fotográficas mas também as outras, as que se guardarão num qualquer recanto da memória do geocacher. Neste exercício de rotação de dispositivos e olhares, também se vai reparando para o chão. O resto do gelo exige cuidados, mas não é só por isso, é também pela paisagem que vai correndo nos pés de quem caminha. Neste troço, podemos identificar pegadas de, pelo menos, dois tipos distintos de animais selvagens: os javalis (Sus scrofa) e os veados (Cervus elaphus) (Figura 18), num enquadramento que agora esconde a Serra da Estrela mas de onde se nota o Trevim, denunciado pela altitude e pelo desnível, mas também pelos marcadores antrópicos que ali se colocaram, as antenas (Figura 19).
Por entre manchas de pinheiros-bravos (Pinus pinaster), após dois quilómetros de caminhada em terreno praticamente plano, chega-se ao spot da cache “Manjar dos Esquilos”. Para lá se chegar é preciso sair do estradão de terra batida, penetrar alguns metros na floresta mais sombria de pinheiros-larícios (Pinus nigra), subir uma encosta e procurar uma pequena saliência numa rocha. Também aqui os olhos podem enganar (Figura 20).
A paisagem será natural, não se nega, porque a natureza está presente. No entanto, este ambiente resulta de um projeto estatal de ordenamento florestal, decorrente da criação do Parque Florestal da Oitava, em meados dos anos 70.
Quanto aos esquilos que a cache sugere, também não aparecem. Mais uma outra ausência. No entanto, há sinais que têm andado por ali, roendo e remexendo.
Debaixo destes Pinus-nigra, o horizonte está mais cortado, vê-se menos e menos longe, mas as sonoridades continuam: as antropofonias dos pés dos geocachers que pressionam o tapete de folhas mortas, as biofonias das aves mas também as geofonias do vento e da água, de resto, esta última, um elemento constante na caminhada daqui para diante.
Feito o registo e a recolocação da cache no esconderijo, regressa-se à estrada e agora vêem-se os Penedos de Góis, elevação de quartzitos que sobressai na paisagem (Figura 21). Tal como nas cityscapes urbanas se destacam os arranha-céus, quando vistos ao longe, também neste rural a experiência se vai enquadrando nestas elevações verticais, na Serra da Estrela, no Trevim e agora nestes Penedos de Góis, como se olhar para cima fosse um ato obrigatório mas também uma forma de orientação, mesmo para os geocachers que hoje se movimentam por satélites e GPS’s.
Em pouco tempo, chega-se ao Parque da Oitava que, aos 800 metros de altitude, dispõe de infraestruturas de lazer e merendas, com mesas, grelhadores, baloiços (Figura 22).
Este é um espaço que convida para uma outra fruição do rural. Já há pouco se referiam os miradouros como uma intervenção obrigatória, mas acrescente-se agora a mesma ideia em relação aos parques de merendas. Este rural pós-adesão comunitária é um território de pontos de observação mas também de espaços de paragem e lazer como este que aqui se observa.
No enquadramento, em plena Rede Natura 2000 – Sítio Serra da Lousã, destaca-se a água, neste caso com duas linha que confluem junto a este parque e formam a ribeira da Oitava.
Longe vão os tempos nos quais dominava aqui a pastorícia. Nesta experiência de geocaching, o pastor está ainda ausente. Pode ser que apareça lá mais para a frente mas, até ao momento, é uma outra não presença. Não terá sido assim no passado. Nos invernos mais rigorosos, as rotas da transumância, vindas da Serra da Estrela tinham na Oitava um dos locais reservados para os seus rebanhos.
Agora não são os pastores mas os geocachers quem aqui estão. Nesse exercício de busca do tesouro, o spot da cache leva-nos até bem perto da linha de água que, naquele fevereiro, se apresenta com ritmo e sons bem vivos (Figuras 23 e 24).
De volta ao estradão florestal (Figura 25), ainda numa superfície plana, após a reposição de energias no parque de merendas o caminho abre-se a um pequeno bosque de azevinhos (Ilex aquifolium) (Figura 26). Um património valioso na Serra da Lousã, é uma espécie rara e em vias de extinção que cria, pelo menos nesta ápoca, um cromatismo paisagístico pontuado pelo vermelho das bagas.
Enquanto isso, a água corre uns metros mais abaixo, no fundo do vale. Não se vê, mas ouve-se. O rural, já o referimos, mostra-se e frui-se pelas vistas, mas também pelos sons.
Mais à frente, quase três quilómetros após o último spot registado, o poste de sinalização do percurso pedestre indica-nos que é necessário virar à esquerda, por um carreiro, entre matagal e alguns pinheiros (Pinus pinaster). O campo não é a cidade, é certo, mas também aqui se orientam percursos, se sinalizam trajetos, se ordenam movimentos.
O caminho faz os geocachers descer alguns metros e, com isso, a paisagem abre-se um pouco. Logo em frente, uma outra espécie – um imponente soito de Castanea sativa. Uns metros mais abaixo, outro azevinho (Ilex aquifolium), junto a uma pequena linha de água que corta o trilho, sem se fazer notar muito. Este caminho é agora um carreiro apertado que vai fazendo descer. Mas o percurso continua, um pouco mais, até se chegar a um pequeno anfiteatro mais aberto, um cenário que muitos diriam idílico, com a ribeira dos Povorais a galgar por baixo de uma pequena ponte em cimento e, logo a jusante desta, uma pequena piscina natural com águas transparentes e, por certo, bem frias, especialmente nesta altura do ano.
Aqui se localiza mais um spot – o da cache “Porto da Carvalha”, que leva o geocacher ao contacto com um dos elementos fundamentais deste powertrail: a água (Figura 27), agora perto dos 750 metros de altitude.
Neste ambiente solitário e fechado pela topografia, salta-se de pedra em pedra para se alcançar a cache. A água lá vai deslizando, o vento ouve-se no azevinho (Ilex aquifolium) da vizinhança mas não se vê nem se espera ver ninguém, como se o mundo tivesse ficado para trás. A distância ao corredor mais agitado do litoral não é grande, escassas dezenas de quilómetros, pouco mais. Coimbra não está longe. Mas essa é a verdade dos mapas, não aquilo que se sente e percebe junto a esta cache, num lugar que será contraditório. Será um paraiso de dia, mas não se imagina o desconforto e a insegurança noturna. Afinal, a paisagem tem mesmo várias faces, não é a mesma ao longo do tempo, varia consoante o movimento do sol.
Por isso, antes que a escuridão venha, ainda que a noite ainda esteja longe, é preciso continuar, voltar a subir, em direção a Povorais, a próxima paragem, spot de mais uma cache. Passa-se a pequena ponte, sinal que o Homem, apesar da ausência, por aqui tem andado ou já andou. Segue-se um trilho apertado e íngreme junto a um soito de espécimes de porte monumental (Figura 28), árvores que carregam a herança de décadas de produção de castanha, outrora um dos principais elementos na dieta serrana (mais tarde substituída pela batata).
O carreiro desemboca num estradão de terra batida, com mais uma subida abrupta que põe à prova a aptidão física do geocacher. Uns metros volvidos e regressa-se ao piso alcatroado. A civilização, ou aquilo que se pensa que ela é, já não estará longe.
Uma última subida, num total superior a um quilómetros, e chega-se ao largo da aldeia de Povorais (Figura 29). Não se discute a sua importância, pois esta é sempre relativa e dependerá dos pontos de vista, mas este é o lugar que, envolvido por xisto e quartzito, se localiza no coração dos Penedos de Góis, aquele que, no concelho, tem maior altitude (perto dos 860 metros).
Neste caso, o container foi escondido e dissimulado entre as ramagens de um carvalho (Quercus robur) centenário (Figura 30). De porte monumental, dá sombra ao largo da aldeia, um dos pontos focais e local de convívio, a julgar pelas mesas e acentos disponíveis no local. Contudo, assim não será em todas as épocas do ano. A paragem dos geocachers nada interrompeu porque não se viu ninguém, apenas o casario e alguns gatos. Esta será mais uma geografia de ritmos intermitentes, vivida por presenças no verão, talvez um pouco menos nas estações intermédias, de certeza, pelo que se viu, sem gente nos períodos de inverno. Assim acontece aos lugares de residência secundária.
As chaminés não dão sinais de fumo. As casas têm janelas e portas fechadas mas, salvo exceções, não parecem abandonadas. Povorais é centro de uma diáspora que não terá cortado com o local de partida e aqui regressará de modo sazonal. Nesta época, os naturais da aldeia estarão algures pela área metropolitana de Lisboa, ao volante de um táxi ou num dos restaurantes da capital. Assim ocorreu noutros lugares, assim terá ocorrido aqui. A urbanização faz-se por levas de gente que vai ao encontro de outros que já lá estão, um parente, vizinho ou amigo. Por isso se especializam numa profissão, se confinam num setor económico, todos taxistas, ou todos profissionais da restauração.
Povorais poderá ser uma aldeia única – para já, é a mais elevada do concelho, como se referiu, e isso dá-lhe um estatuto. No entanto, nada de novo aqui terá ocorrido em relação a outras. O despovoamento não é um dado absoluto, nem as ausências um estado contínuo, mas a geografia humana já não é a mesma.
A escola primária, outrora lugar de convergência de estudantes oriundos de várias aldeias, foi reconvertida em espaço de convívio agora gerido pela Comissão de Melhoramentos da aldeia. Naquele dia, não se viram as crianças, que essas já ali não estão há muito tempo, mas também não se sentiu a festa e a confraternização dos ausentes. A escola primária hoje já não o é, agora terá outros usos, mas está fechada, como fechada está a casa de turismo rural (Figura 31).
Geografia estranha, esta. O rural é agora lugar de turismo, território de fruição, de investimentos de fundos para o setor. Tudo isto é verdade, mas não se pode deixar de notar esta territorialidade de portas fechadas. Neste powertrail, são já algumas as casas de turismo mas todas estão encerradas. Talvez seja pela época do ano. Será importante refazer estes passos num outro período, de clima mais aprazível, para que se sintam as mudanças, se as houver.
Uma vez no interior da aldeia, o casario revela algumas características peculiares. Por um lado, é difícil encontrar duas casas iguais ou idênticas no desenho e nos materiais, sinal que o individualismo e o gosto pessoal aqui se impôs. Por outro, as soleiras de algumas habitações são constituídas por blocos de quartzitos adornados com cruzianas (fósseis marinhos) (Figura 32).
Porventura, o relevo e os sulcos destes fósseis teriam, ou terão, uma função prática. Pouco importarão os saberes da paleontologia, o que importa aqui é limpar o calçado e deixar a sujidade à porta de casa. Não será um uso nobre, mas este património vale aqui mais pelo efeito de atrito que provoca no sapato, na bota ou na sandália e menos pelos ensinamentos sobre a História da Terra que, lá longe, nalguma revista científica ou nalgum gabinete universitário, os especialistas lhe reconhecem.
Este é um ponto essencial da ruralidade, aquela percebida pelos técnicos de alguma ordem específica, e a outra, a vivida pelas comunidades, que têm outros ritmos, outros olhares, códigos diferentes, ainda que agora estejam longe, como longe estão também esses especialistas pois, por agora, apenas ali permanecem os geocachers e os gatos. Estes ali estarão mais tempo, engordando no verão, emagrecendo nas épocas baixas, ao sabor das idas e vindas dos habitantes. Quanto aos geocachers, a permanência é breve. Há que seguir caminho, em direção a mais um spot.
Deixa-se Povorais e, no topo da vertente, ainda se nota Aigra Velha, bem ao longe. Depois do alcatrão, segue-se um trajeto que já foi importante, aliás, como todos os outros. Estes foram caminhos de gentes, de habitantes que se deslocavam não para muito longe, mas para distâncias difíceis de percorrer, porque na geografia humana, mais que a quilometragem, importam as dificuldades, os atritos, as barreiras à mobilidade. O longe e o perto não são valores absoluto. Este trilho que agora se segue foi trajeto que, num passado não muito longínquo, algumas décadas atrás, era percorrido pelas crianças que, de Aigra Velha, se deslocavam para a escola primária de Povorais. Deslocação diária, insegura, desconfortável, lenta. O pedestrianismo hedonista de hoje pouco tem que ver com as caminhadas a pé do passado. A escola ficava longe. A tentação para o abandono era grande. A taxa de analfabetismo em que o Portugal rural persistiu até muito tarde, no século XX, tem aqui explicação. Aprender a ler e a escrever era difícil. A geografia lenta e agreste não ajudava. Os pés descalços também não.
Quanto aos geocachers que agora refazem o percurso dos antigos alunos, depois de Povorais a descida continua, com um declive médio superior a 23%, em direção a mais um spot – o da cache “Volta dos Tanques”. Ao estradão florestal, segue-se um caminho, um pouco mais largo que um carreiro, mas também de terra batida. O chão está coberto pela manta morta dos castanheiros que, suportados por muros de xisto, ladeiam o trajeto (Figuras 33 e 34).
A topografia é inclinada. A descida continua, a luz vai desaparecendo, o ambiente vai escurecendo e sente-se um som que vai tornando mais nítido à medida que se avança.
O caminho é feito entre os muros de xisto que suportam os socalcos de antigos terrenos de cultivo. Depois de uma inclinação mais apertada, chega-se a uma superfície aplanada, uma sala escondida pela vegetação, mas que ali se abre, entre muros e vertentes, como uma bacia para a qual escorre uma linha de água, em cascata, que cai numa parede com cerca de seis metros de altura.
O cenário é cinematográfico e o bosque denso e fechado faz-nos viajar ao mundo do fantástico. Na paisagem escura domina o verde, como domina também o som da água. Esta cai pelo paredão mas desaparece logo de seguida, esconde-se no solo, inicia um breve percurso subterrâneo (Figura 35), reaparecendo mais à frente, voltando a cair em cascata uns metros a jusante.
Esta sequência repete-se, porque a água que cai volta a esconder-se e regressa de novo, numa sucessão de cascatas que, apesar de se irem tornando mais pequenas, constroem uma paisagem em degrau que sinaliza, mais uma vez, a presença pretérita do Homem. Esconder a água poderia ter tido algum propósito estético e patrimonial, nem o afirmamos nem o negamos.
No entanto, o mais certo é o conjunto resultar de uma qualquer intervenção de engenharia hidráulica popular e espontânea que teve como objetivo ganhar terreno de cultivo, o mesmo que está hoje abandonado, mas que em tempos alimentaria alguma das famílias locais.
A serra não é desprovida de recursos. No entanto, o solo fértil sempre foi escasso. Com esta intervenção, em parte escondia-se a linha de água mas permitia-se também o depósito de aluviões, que ocorre à medida que a água se desloca de socalco em socalco.
O spot da cache “Volta dos Tanques” está aqui localizado, junto à cascata inicial, a maior (Figura 36).
O local convida a uma estadia mais prolongada. A tentação para registar a paisagem é elevada mas, neste ambiente de luz mais difusa, as exigências para se conseguir uma boa fotografia são muitas. Ainda assim, os geocachers abusam do momento e repetem perspetivas e ângulos, sempre com a esperança que algum desses registos consiga captar o momento e a paisagem. Esta é a tarefa impossível, porque a fotografia representa mas não mostra toda a experiência vivida num recanto rural que se esconde e ali permanece, sem que uma qualquer imagem digital o possa transportar.
No entanto, o princípio do powetrail é o movimento e, por isso, os geocachers prosseguem caminho no trilho marcado. Após uma ligeira curva, a paisagem-degrau desaparece mas o som das quedas de água vai continuando por mais algum tempo.
Percorridos alguns metros, aproxima-se mais um spot, mais um container, a “Castanea sativa”. O trilho volta a encontrar a água e, na proximidade de mais alguns azevinhos (Ilex aquifolium), vai ao encontro de um velho tronco de castanheiro (Castanea sativa), que esconde e dá o nome à cache (Figura 37). Descemos até aos 650 metros de altitude.
A linha de água chama-se ribeira dos Povorais (Figura 38) e havia já sido atravessada na cache do “Porto da Carvalha”, algumas centenas de metros a montante deste local. Agora tem que se mudar novamente de margem, atravessar mais uma ponte (Figura 39), tal como o faziam as crianças que, duas vezes por dia, percorriam os dois sentidos do caminho entre a escola e Aigra Velha.
Depois de atravessada a ponte, o trilho inicia uma exigente subida, com desnível acentuado, talvez a mais agreste de todo o percurso, em direção a Aigra Velha. Por entre medronheiros (Arbutus unedo), o caminho é estreito e está, em grande parte, assente no substrato rochoso de xisto. A meio do esforço, faz-se uma paragem num miradouro natural que, desta vez sem equipamentos ali colocados por algum programa comunitário, permite observar a paisagem.
No topo ergue-se a crista quartzítica dos Penedos de Góis (Figura 40), num contraste com o recorte arredondado concedido pelo xisto nas vertentes opostas. Na envolvência vêm-se vários soitos de Castanea sativa, agora despidos de folhas, adivinhando-se também o regresso ocasional de algumas linhas de água não permanentes. Deste ponto de observação, olha-se para o trajeto percorrido, para os outros troços do caminho da escola, do qual esta subida também faz parte.
Depois da paragem, os geocachers continuam a subir. Num teste à sua condição física, entram num outro estradão florestal e o piso é mais confortável. Chega-se novamente a Aigra Velha, completa-se um percurso circular mas termina-se também o trajeto das crianças da escola que, no regresso a casa, tinham que vencer a subida entre a ribeira de Povorais e a aldeia, aquela que, da parte da manhã, era uma descida, neste vai-e-vem quotidiano, num conjunto global de 4,8km diários, com um diferencial altimétrico total superior a 190 metros.
Desconhece-se se, depois do percurso, as crianças estudantes teriam ou não que auxiliar nas tarefas da casa, recolher algum gado, levantar e transportar alguma lenha. Desconhece-se mas não será difícil de supor.
No entanto, este era também o trilho por onde passavam outras personagens, talvez em momentos diferentes, com outros propósitos. Compras, vendas, negócios, mas também festas, romarias, celebrações, alegrias e tristezas, bailaricos, estes seriam os caminhos da vida social e do contacto entre as aldeias de Aigra Velha e Povorais, facto que se terá traduzido no nome que agora se dá ao caminho (Trilho do Baile) (Figura 41).
Depois de Aigra Velha, e já no regresso ao estacionamento e ao ponto de partida, os geocachers retomam um estradão florestal de terra batida. Nesta fase do powertrail, o som da água desaparece. As ribeiras e seus afluentes estão distantes, a cotas mais baixas. Na ida ao encontro da última cache do circuito, regressa o som intermitente dos aerogeradores. Nas caches que não estão localizadas no fundo do vale, o Trevim está omnipresente e compete em imponência com os Penedos de Góis. Com dois materiais rochosos diferentes, xisto no primeiro caso, quartzito no segundo, estes são dois pontos que deixam marca forte na paisagem e, de certo modo, enquadram a experiência de quem percorre este setor a pé.
Após a saída de Aigra Velha, são largas as centenas de metros que nos distanciam da cache “Penedo dos Corvos” (Figura 42). Esse percurso obriga a subir mas também a descer. Por entre pinheiros (Pinus pinaster), a última descida termina num cruzamento com outro estradão florestal e, por entre azinheiras (Quercus ilex), fazem-se os derradeiros passos até ao spot, colocando o geocacher num varandim rochoso de observação da paisagem (Figura 43). A partir daí, para descoberta e registo da cache, é preciso descer alguns metros, numa área onde dominam as urzes (Calluna vulgaris).
Apesar da descida, a observação da paisagem mantém-se. Os horizontes permanecem abertos, num exercício de identificação e interpretação da paisagem. Este é um panorama de serras, a Estrela e o Açor, mas também o Caramulo, os Penedos de Góis e a Lousã (Figura 44). Estamos a cerca de 670 metros de altitude.
Este é um cenário que levaria tempo e convida à permanência, talvez esperando pela noite para que, a partir das luzes, se localizem as povoações e se possa ter uma ideia mais precisa da estrutura de povoamento. No entanto, é hora do regresso. A última cache está encontrada e registada.
Seguindo as marcas do percurso pedestre PR1 GOI – Rota das Tradições do Xisto, após algumas centenas de metros toma-se um carreiro usado pela pastora de Comareira, aberto entre eucaliptos (Eucalyptus globulus) e mimosas (Acacia dealbata), duas das principais espécies invasoras da região. O percurso segue até ao encontro do alcatrão, ou o que resta dele. Mais alguns metros e regressa-se ao ponto de partida.
Considerações Finais
Com este texto pretendeu-se demonstrar que o geocaching pode ser uma experiência ampla e multissensorial de contacto com a ruralidade. As caches são um desafio mas também um pretexto para se ir e se estar num espaço que, sem outras motivações, se poderia não visitar.
Por outro lado, a organização e estrutura do powertrail, a localização das caches, os caminhos e os pontos de observação, permitem o contacto com um rural complexo e contraditório. Aqui encontram-se processos e dinâmicas que serão muito particulares mas, no geral, estamos também perante uma janela de análise onde se encontram muitas das tendência da ruralidade portuguesa contemporânea.
Entre as apropriações produtivistas e pós-produtivistas, a paisagem vai sofrendo mudanças. Neste percurso encontraram-se as construções em xisto, vários soitos, intervenções de “engenharia popular” para domesticar a água e criar terrenos de cultivo, percorreram-se os trilhos da pastorícia.
No entanto, este foi também um percurso sobre uma ruralidade com novos elementos: são as caches em si, uma inovação; mas são também os aerogeradores; as redes que transportam energia eléctrica; assim como as marcas dos percursos pedestres homologados.
Este foi também um percurso por uma certa geografia humana. São os sinais do despovoamento e dos lugares de casas fechadas. O envelhecimento demográfico deverá existir mas pouco se nota porque, na realidade, foram escassos os habitantes que se cruzaram com os geocachers.
Em muitos pontos de observação, adivinham-se os regressos sazonais, talvez nos meses de verão se quebre a monotonia. Também se viu algum interesse em atrair turistas, mas as casas de alojamento estavam encerradas.
Por outro lado, por aqui se viu, estes são territórios de múltiplos atores. Apesar da sensação de ausência, por aqui passarão os pedestrianistas, os geocachers, mas também os técnicos de associações locais ou da autarquia, para além dos habitantes locais, os escassos presentes mas também os ausentes que regressam.
Esta é alguma da ruralidade portuguesa retratada pelo powertrail proposto pela Lousitânea – Liga de Amigos da Serra da Lousã. Numa experiência por paisagens culturais marcantes, a relação entre o Homem e o Meio está sempre presente. Notou-se a ressaca da versão produtivista, mas também a expressão de novos usos, daqui resultando uma paisagem híbrida e multifuncional.
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2 Um powertrail corresponde a um percurso/trajeto orientado pela posição de caches colocadas, de modo consecutivo, ao longo de uma rota definida.
3 A análise deste powertrail é resultante de uma caminhada interpretativa da paisagem, realizada a 5 de fevereiro de 2015.
4 A variante do percurso PR9GOI - Trilho do Baile, permite encurtar o trajeto para uma rota com cerca de 17 quilómetros.
5 Localização da cache.
6 Corresponde ao recipiente das caches.Podem ter vários formatos e tamanhos. Relativamente ao seu conteúdo, as caches têm um livro de registo para ser assinado por quem as encontra (logbook). Os recipientes de maiores dimensões podem conter ainda itens para troca (pequenos objetos e brinquedos de baixo valor monetário), travel bug’s e/ou geocoins.
7 Cada cache tem um nível de dificuldade e um nível de terreno próprio (de uma estrela a cinco estrelas). Uma cache 1/1 será das mais fáceis e uma 5/5 será mais difícil.
8 O Programa das Aldeias do Xisto foi criado em 2001 pela Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Centro (CCDRC), empregando fundos comunitários provenientes do Programa Operacional da Região Centro (Medida II.6, componente do FEDER). O Programa desenvolve-se como uma das principais linhas da “Ação Integrada de Base Territorial do Pinhal Interior” (AIBT-PI). “Esta Ação Integrada é uma das medidas do Programa Operacional da Região Centro que, no período de 2000 a 2006, aplica, nesta região, o III Quadro Comunitário de Apoio”. A AIBT-PI definiu três linhas estratégicas de desenvolvimento: a constituição de uma Rede das Aldeias do Xisto; de uma Rede de Percursos do Pinhal Interior; e, de uma Rede de Praias Fluviais.
9 Registo aplicado quando se encontra uma cache.
10 Resulta da intervenção feita no Parque das Nações, culminando na realização da exposição internacional Expo’98 para celebrar o quinto centenário das viagens dos navegadores portugueses dos séculos XV e XVI.
11 Este Programa visa promover intervenções nas vertentes urbanística e ambiental, de forma a promover a qualidade de vida nas Cidades, melhorando a atratividade e competitividade dos pólos urbanos.
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