TURyDES
Vol 4, Nº 11 (diciembre/december 2011)

BED AND BREAKFAST E A COPA DE 2014 NO BRASIL

Ana Maria Pydd, Bruna Oltramare, Caio Butarello Mazzo y Maria do Rosário R. Salles (CV)

 

Introdução

Com a aproximação da copa de 2014 que será sediada no Brasil, estima-se receber 500 mil visitantes (SEBRAE, 2010) e diante desse quadro, surge a grande preocupação em relação à infra-estrutura do país como alerta Dias em artigo para Veja, 2009.
Analisando o setor de hospedagem, o Brasil ainda encontra-se muito desfavorecido como aponta o Portal da Copa 2014: “Os empresários do setor de hotelaria estão preocupados em aumentar a oferta de leitos em regiões estratégicas para a Copa do Mundo de 2014”, entretanto a solução para esse problema não é apenas construir novos empreendimentos hoteleiros, pois estes poderão ficar ociosos após o evento, antes acredita-se que haverá expansão do mercado doméstico (Portal da Copa de 2014), com a alternativa do “Bed and Breakfast”, fazendo com que um grande número de pessoas se beneficie da grande demanda de turistas. Segundo Cooper, Fletcher et al (2007, p. 387), bed and breakfast e guesthouses “[...] podem oferecer um recurso de hospedagem flexível para uma cidade ou região, disponível para uso quando e como necessário, mas sem grandes custos fixos, especialmente em termos de pessoal.” Isso ocorreu na Copa de 2010, na África do Sul, com a necessidade de mais de 15 mil quartos, “a FIFA acertou contratos com hotéis, alojamento tipo bed and breakfast e guesthouses (casas que receberão estrangeiros, similar aos Jogos de Pequim) para boa parte dos turistas.” (FIFA)
O Bed and Breakfast traz vantagens para o turista como um contato maior com a cultura local, sendo algo mais pessoal e informal e o anfitrião não paga impostos sobre o valor da hospedagem, tornando o seu valor mais acessível.
Como é possível verificar no trecho da entrevista a seguir, realizada pelo Site Cama e Café com Leonardo Rangel, um dos idealizadores da rede de hospedagem Cama e Café, o Bed and Breakfast além de poder ser uma solução para a falta de hospedagem em um evento como a Copa do Mundo, também pode desenvolver social e economicamente a localidade na qual a prática é inserida:

Eu e o meu sócio João Vergara desde a época da escola tínhamos planos de ter nosso próprio negócio. Em 2001, iniciamos um programa de empreendedorismo em Santa Teresa (RJ) chamado Iniciativa Jovem, que é parte de um programa mundial de desenvolvimento de jovens empreendedores da Shell. A idéia do programa era desenvolver empreendimentos que tivessem alguma ligação com o bairro. Começamos a estudar o local e percebemos que Santa Teresa precisava se desenvolver de forma sustentável, o que não vinha acontecendo nas últimas décadas. Identificamos o turismo como a melhor ferramenta para colaborar para o desenvolvimento sustentável do bairro. De acordo com a Organização Mundial de Turismo, a indústria do turismo envolve 52 setores da economia, logo pode movimentar toda a economia do bairro, aumentar a estima dos moradores, melhorar a qualidade de vida, devido a melhorias urbanas catalisadas pelo fluxo turístico, entre outros efeitos benéficos. No que se refere ao potencial turístico, identificamos que em Santa Teresa existiam bares, restaurantes, museus, mirantes, mas não havia meios de hospedagem. Em 2000, eu e o João - que havíamos viajado para a Europa e nos hospedado em diversos “bed and breakfast “e tínhamos gostado muito - percebemos que tínhamos a vantagem de conhecer a cultura local e de ter dicas de um morador. Juntando a inexistência de meios de hospedagem para turistas, a hospitalidade dos moradores de Santa Teresa e o turismo sustentável surgiu o programa Cama e Café. (CAMA E CAFÉ, 2007)

Sendo assim, partindo de casos de sucesso como a Copa na África do Sul e o Bairro de Santa Teresa no Rio de Janeiro, a proposta do presente trabalho foi pesquisar se os residentes paulistanos estão dispostos a abrir as portas de suas casas para hospedar turistas durante a Copa de 2014, criando uma alternativa para a demanda hoteleira nesse período. Este trabalho também apresentará as formas alternativas de hospedagem, focando na hospedagem doméstica, onde se “supõe que os atos de recepção, hospedagem, alimentação e entretenimento ocorram no âmbito de moradia”. (DECKER, 2009, p. 74)
Os estudos sobre hospedagem extra-hoteleiros são pouco volumosos, fazendo-se interessante aprofundar-se no assunto e analisar os dados.Trata-se de um assunto atual, já que a infra-estrutura de hospedagem brasileira tem sido questionada no mundo todo. O tema é interessante para a área de hospedagem na medida em que se pode refletir sobre as diferentes alternativas à hotelaria tradicional.

Meios de Hospedagem no Transcurso do Tempo
A Hotelaria teve seu início a partir das rotas comerciais da Antiguidade, na Ásia, na Europa e na África que geraram núcleos urbanos e centros de hospedagem para atendimento aos que ali passavam (Andrade, 2002, p.18). Entretanto Torre, (2001, p. 9) atrela o início da hotelaria não somente ao comercio, mas também à razões religiosas e de conquista. Os comerciantes tinham de se deslocar de um lugar a outro e necessitavam de um lugar para repouso. Porém, é fato que qualquer autor concorda que a atividade de receber é bastante antiga, como vemos também na afirmação de Aldrigui, (2007, p. 21) “Alguns historiadores conseguem visualizar elementos de hospedagem nas narrativas gregas e romanas e, até, em relatos sobre persas”. O livro Sagrado, a Bíblia, relata o nascimento de Jesus que segundo Dias (2002, p.100) foi “o primeiro e mais famoso caso de overbooking da história”
            Ao longo da história é bastante notável que muitos estabelecimentos de hospedagens não começaram com intuito lucrativo como descreve Torre, (2001, p. 11):

Inicialmente, os mosteiros e algumas ordens religiosas serviam de hospitais sem retribuição alguma, mas posteriormente essas instituições se tornaram pousadas com fins lucrativos. Muitos desses hospitais fundados na Idade Média desapareceram, mas alguns ainda se conservam.

A hospedagem começou a ter o caráter estritamente econômico e a ser explorada comercialmente com a Revolução Industrial (Andrade, Brito, Jorge, 2002, p. 18) e Duarte (1996, p.10) descreve que no período de 1750 a 1820 “os inkeepers diversificaram e valorizaram seus serviços, que passaram a ser vistos como alto padrão de limpeza e excelente alimentação.” E também destaca que em 1870 Cézar Ritz, construiu o primeiro estabelecimento hoteleiro em Paris que foi considerado o marco inicial da hotelaria planejada. Esse estabelecimento contava com banheiros privativos em cada quarto e a uniformização dos empregados, o que foi uma grande inovação para a época.
Nos Estados Unidos os hotéis eram abertos ao público. Desde que se pagasse, qualquer um poderia usufruir os serviços dos mesmos, diferentemente da Europa que tinha seus hotéis voltados a servir somente a aristocracia. Em 1794, na cidade de Nova York, foi construído um prédio especialmente para ser um hotel, chamado City Hotel. Possuía 73 quartos e era considerado um “imenso estabelecimento”, e pela enormidade da sua área social, os usuários de Nova York começaram a freqüentar o hotel e o transformaram em um ponto de encontros sociais. (DUARTE, 1996, p. 11)
Após a Segunda Guerra Mundial o turismo passa a ser uma atividade econômica significativa, principalmente para os países desenvolvidos, nos quais havia crescimento e ampliação da renda da população, o que gerava mais disponibilidades de tempo e recursos para o lazer. O processo de desenvolvimento e de globalização da economia mundial, além de gerar um progressivo fluxo de viagens regionais e internacionais, ampliou de forma acelerada o setor de lazer e de turismo, que passou a ser, efetivamente, o grande promotor de redes hoteleiras. A sociedade de consumo de massa ampliou-se para o setor de lazer e de turismo.
É possível verificar então, que o turismo ganhou forças como atividade econômica e isso refletiu no setor de hospedagem. Se as pessoas estavam viajando mais, logo se fazia necessário mais lugares para repouso, expandindo o setor hoteleiro e dando surgimento às redes hoteleiras, e com isso o costume de abrir a casa para abrigar estrangeiros foi perdendo forças.
Já no Brasil, segundo Aldrigui, (2007 p. 25) a evolução da hospedagem se deu conforme as características do crescimento do país. Iniciou-se com ranchos e vendas que se estabeleciam ao longo dos caminhos utilizados pelos nossos desbravadores, os quais se aventuraram Brasil adentro, em busca de ouro. Essas pequenas “paradas” estratégicas no caminho foram se tornando pequenos aglomerados de casinhas, que cresceram e se tornaram cidades, e sempre tinham um lugar para receber seus visitantes dando origem ao bed and breakfast no Brasil. Andrade, Brito e Jorge (2002, p. 20) descrevem o início da hotelaria de modo semelhante:

No período colonial, os viajantes se hospedavam nas casas-grandes dos engenhos e fazendas, nos casarões das cidades, nos conventos e, principalmente, nos ranchos que existiam à beira das estradas, erguidos, em geral, pelos proprietários das terras marginais. Os ranchos eram alpendres construídos às vezes ao lado de estabelecimentos rústicos que forneciam alimentos e bebidas aos viajantes. Aos ranchos e pousadas ao longo das estradas foram se agregando outras atividades comerciais e de prestação de serviços que deram origem a povoados e, oportunamente, a cidades. Nessa época era comum, também, as famílias receberem hóspedes em suas casas, havendo, em muitas, o quarto de hóspedes.

Durante o século XVII, no Brasil, a hotelaria era sempre exercida junto de outras atividades como barbearias, sapatarias e etc. e no início do século XVIII, ocorreu a primeira classificação das hospedarias paulistanas.
No Rio de Janeiro, assim como em São Paulo, o desenvolvimento da hotelaria estava ligado ao turismo de negócios. Na época, o Rio era a capital do país e chamava atenção do mundo com suas belezas naturais e a música popular brasileira de Ari Barroso e Carmen Miranda. Seu marco hoteleiro foi o Copacabana Palace que impulsionou a cidade a se transformar em um pólo de turismo e lazer. (DUARTE, 1996, p. 18)
Na década de 40, graças ao incentivo dos governos estaduais, o país teve um grande desenvolvimento da hotelaria. Foram construídos diversos hotéis cassinos, até que em 1946 foi implantada a lei proibindo jogos de azar ocasionando o fechamento de diversos hotéis, entre eles, o Araxá e o Quitandinha. Sendo assim a hotelaria só teve novo avanço com os incentivos fiscais da operação 63 do Banco Central, que favoreceu o desenvolvimento da rede Othon no Brasil, (DUARTE, 1996, p. 18) que hoje conta com 18 unidades no país de acordo com o site da rede hoteleira.
Nas décadas de 60 e 70 chegaram ao Brasil as redes hoteleiras internacionais e em 1990 ocorre a entrada definitiva das cadeias hoteleiras internacionais no país. (ANDRADE, BRITO E JORGE, 2002, pág. 25)
Segundo Duarte (1996, p. 18) em 1972 “a rede Hilton inaugura o São Paulo Hilton e marca a virada na administração hoteleira profissional no Brasil”.

Bed and Breakfast um meio de hospedagem extra-hoteleiro
Segundo Montejano, (2001, p. 161) meios de hospedagem extra-hoteleiros “são aqueles estabelecimentos mercantis que prestam diversos tipos de alojamentos distintos dos que oferecem os hotéis, devido a sua diferente ordenação legal infra-estrutura, preços e serviços”. Beni, (2003), menciona como meios de hospedagem extra-hoteleiros os seguintes estabelecimentos: “pensão, pensionato, colônia de férias, acampamento turístico, imóvel locado, segunda residência, leitos avulsos em casas de família e alojamentos de turismo rural”.
Giaretta (2005) por sua vez, conceitua meios de hospedagem extra-hoteleiros como meios de hospedagem alternativos. Segundo Aldrigui, (2007, p. 33 apud GIARETTA, 2005) o meio de hospedagem alternativo é:
[...] o meio de hospedagem não convencional que complementa a oferta de leitos nos destinos turísticos, e tem como característica ser mais econômico do que a hospedagem convencional e apresenta uma grande variação quanto à sua prestação de serviços. É de propriedade de pequenos empreendedores e apresenta um leque composto por albergues da juventude, bed and breakfast, campings, acampamentos, residências estudantis, alojamento esportivos, quartos em residências da população local, casas alugadas de residentes da localidade, pousadas, hotel sobre rodas, estabelecimentos religiosos, alojamentos de clubes de campo etc.
As definições dos diferentes tipos de meios de hospedagem extra- hoteleiros ainda são muito precárias. (ALDRIGUI, 2007, p. 33)
Giaretta, (2003), ao mencionar o conceito de bed and breakfast diz que:
O site do British Council informa que bed and breakfast é uma instituição britânica, também conhecida como B&B, em que é possível usufruir de hospitalidade e conforto, uma vez que normalmente a hospedagem se dá em casas particulares britânicas. Geralmente os cuidados de uma família dos B&Bs podem ser tão variados quantos as pessoas que o administram, de maneira que o viajante pode se hospedar numa casa urbana, casa de fazenda ou numa mansão de campo.
Esse tipo de hospedagem extra-hoteleiro vem crescendo gradativamente, por conseqüência da Internet, ferramenta usada para efetuar reservas on line.
Conforme o Dicionário Técnico de Turismo (1990, p. 48):
Bed and Breakfast: regime de alojamento e pequeno almoço, praticado em casa de família, muito vulgar nos países do norte da Europa e especialmente no reino Unido, mediante remuneração moderada (...). Na Alemanha, Áustria e Suíçautilizam a expressão “Zimmer Zu Vermiten” (quartos para alugar).
Segundo pesquisa na Internet, a cidade que possui maior organização para este tipo de hospedagem no Brasil é o Rio de Janeiro, em especial, o bairro de Santa Teresa. A rede que administra esta organização chama-se “Cama e Café”, primeira rede bed and breakfast no Brasil, os interessados neste tipo de hospedagem podem conhecer as residências e efetuar suas reservas no site: www.camaecafe.com.br. A escolha da residência vai de acordo com a preferência do hóspede, no site é disponibilizado o perfil dos anfitriões.
Brasil e a Copa de 2014

Em 2014, o Brasil irá sediar pela segunda vez na história uma Copa do Mundo. Esta é apenas mais uma conquista para um país que tem demonstrado forte desenvolvimento social e econômico na última década. Além da Copa de 2014, o país sediará em 2016 as Olimpíadas, e por isso, o Brasil está no centro do mundo quando o assunto é esporte.
O país sul-americano tem nas mãos a maior chance de sua história para conquistar seu lugar na economia mundial. Porém, para que ambos os eventos – aqui focada a Copa do Mundo de 2014 – o Brasil precisa se adequar as exigências da FIFA, as quais cada vez maiores e mais específicas, tais como a necessidade dos estádios brasileiros oferecerem o mesmo nível de conforto e segurança que os estádios de países desenvolvidos oferecem. Além reforma dos estádios, e construção de outros, uma das principais apreensões do governo e da própria FIFA é se o Brasil conseguirá hospedar todos os turistas que são esperados durante o mega-evento.
O Brasil recebe, de acordo com dados do site da revista Veja, em média cinco milhões de turistas por ano. Para a copa de 2014, a expectativa é de 10% desse valor – ou seja, em um mês o país pode chegar a receber 500 000 estrangeiros além da movimentação interna de brasileiros, que geram também demanda no setor de hospedagem. E estudos provam que todas as cidades candidatas a sediarem os jogos, tais como Rio de Janeiro e Brasília, duas das principais cidades, não possuem infra-estrutura satisfatória em relação à hospedagem - de acordo com dados da Revista Hotéis, julho 2010, o Rio de Janeiro precisa de aproximadamente 32 mil novos leitos, enquanto Brasília necessita de 10 mil novos leitos.
Com São Paulo não é diferente: a cidade possui hoje 42 mil leitos. A previsão para 2014 é que 8 mil novos também estejam disponíveis para hospedarem turistas. E mesmo com esse aumento previsto, o número de leitos ainda continua inferior ao desejado. Para resolver todos os problemas, estima-se que o Brasil irá gastar aproximadamente 5 bilhões de dólares, de acordo com os dados encontrados no site da Revista Veja,  Outubro 2007, para se tornar um país adequado a receber uma Copa do Mundo. Uma parte desse dinheiro sairá dos cofres da Confederação Brasileira de Futebol (CBF). O restante, o qual será principalmente utilizado para as reformas de estádios, melhoria no transporte, etc., virá dos cofres públicos.
O site da Revista Hotéis, julho 2010, traz alguns dados atuais focados no setor hoteleiro do país: o BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social – lançou a pouco um plano de financiamento no valor de 1 bilhão de reais com taxas muito acessíveis e animador prazo de carência para que os pagamentos sejam iniciados para auxiliar o setor a se desenvolver até o certame. Em apenas quatro meses, foram solicitados R$903,5. A procura é explicada pelas facilidades que o banco deixou a disposição dos empreendedores, tal como juros anuais entre 6,9% a 7,8%e prazo de 18 anos para quitação da dívida.
Como justificativa para investir na Copa, o governo brasileiro diz que o evento aumentará o fluxo turístico no país, trará muitos empregos, causará a revitalização de espaços urbanos e afiançará gigante investimento no Brasil até 2014.
Um estudo denominado Brasil Sustentável – Impactos socioeconômicos da Copa do Mundo 2014, realizado pela consultora Ernest and Young em parceria com a Fundação Getúlio Vargas (FGV), trazem informações, as quais foram retiradas do site da Revista Hotéis, julho 2010, que comprovam a expectativa do governo: é esperada uma injeção de R$ 142,39 bilhões até 2014. Enquanto isso, o Ministério do Turismo prevê um salto de desembarques domésticos de 56 milhões de pessoas para 79 milhões e geração de 2 milhões de novos empregos, sejam formais ou informais, até o ano do certame. Quanto a entrada de divisas internacionais no Brasil, pode crescer em até 55%.
Um dos principais problemas que o país vem sofrendo para essas adequações, segundo Gaffney, sobre o relatório da ONU, maio 2011 ,sobre os preparativos para o certame, é a dificuldade do governo brasileiro em saber diferenciar o que é “atender às demandas dos mega-eventos e não às demandas das cidades e seus cidadãos”, diz Gaffney.
Embora seja necessário atender às exigências da FIFA para que o país seja bem sucedido no exercício de sediar a Copa, não é proveitoso que se esqueça da população brasileira na hora de investir em infra-estrutura focada apenas nos tais mega-eventos que acontecerão em 2014 e 2016.

A Pesquisa

O Brasil vem se preparando para receber o grande evento esportivo que é a Copa de 2014, e um dos grandes problemas na maior cidade do país, a cidade de São Paulo, é a insuficiente oferta dos meios de hospedagem existentes na mesma. Após discorrer o histórico da hotelaria no Brasil, apresentar os tipos de hospedagem extra-hoteleiros nos primeiros capítulos e contar a história da FIFA e o surgimento do Campeonato Mundial mais famoso - a Copa de Futebol – foi realizada uma pesquisa para identificar se a população paulistana cederia sua residência para hospedar turistas durante a Copa e as condições que seriam impostas por estes, analisando se a hospedagem doméstica poderia vir a ser uma opção na solução do problema de escassez de meios de hospedagem hoteleiros e extra- hoteleiros.
Além do processo de aplicação da pesquisa, foi efetuado um estudo para se obter dados de quantos paulistanos praticam este tipo de meios de hospedagem extra hoteleiros, o Bed and Breakfast. Com já mencionado anteriormente o Bed and Breakfast é uma hospedagem econômica, cuja família abre sua casa para turistas se hospedarem.
Antigamente este meio de hospedagem era muito utilizado no Brasil, porém conforme o levantamento de dados efetuado via Internet foi comprovado que esta pratica não é mais tão utilizada. O estudo foi feito via Internet, pois o cadastro de residências e as próprias buscas dos turistas são feitas por esse meio. Existem inúmeros sites que divulgam o Bed and Breakfast pelo mundo todo, e no Brasil o número de casas cadastradas não são muitas e sua grande maioria não esta em São Paulomas sim no Rio de Janeiro onde existe uma rede brasileira chamada “Cama e Café”, cujo site www.camaecafe.com.br.
Dentre os inúmeros sites de Bed and Breakfast foram encontrados 3 com cadastro de residências paulistanas, são eles www.bedandbreakfast.com, com 2 acomodações registradas, www.bbrasil.com, com 6 cadastros e www.wimdu.com.br, com 77 propriedades disponíveis.
Sendo o último site com o maior número de residências registradas foi efetuada uma entrevista com o colaborador Gabriel Ferreira para obter mais informações de como funciona o site e quais são as estimativas para a Copa de 2014 para São Paulo. Segundo Ferreira, o entrevistado:

O site é originalmente alemão, por ser uma start-up de uma empresa alemã chamada Rocket Internet, que funciona como um tipo de incubadora de empresas de internet. Apesar disso, o Wimdu nasceu mundial, sendo que desde o começo já estava presente em mais de 50 países. Wimdu é um Market Place de hospedagem, aonde nós fazemos a conexão de pessoas que estão interessadas em oferecer suas propriedades para alugar e de viajantes que estão buscando um lugar para se hospedar. No nosso site, você procura a cidade que pretende ir e já pode ver todas as propriedades disponíveis, com o calendário de disponibilidade, preços, descrição, fotos, etc.

Sobre as estimativas para a Copa de 2014, Ferreira explica que:

A Copa de 2014 com certeza vai ser um evento que trará uma demanda muito grande não só para a cidade de São Paulo, mas para todas as Cidades-Sede da Copa. Tanto a Copa quanto as Olimpíadas são mega eventos que trazem muitas expectativas em relação ao aumento da procura pelos serviços do Wimdu.

De acordo com Ferreira:
Os imóveis de São Paulo ainda não são tão procurados, e quando são em sua grande maioria por brasileiros. No entanto não creio que seja falta de demanda, mas sim o pouco conhecimento da nossa comunidade por parte do público, já que a demanda por hospedagem em São Paulo é bem grande.

Com relação à metodologia da pesquisa, a mesma foi realizada através de um questionário, com perguntas fechadas relacionadas ao meio de hospedagem conhecido como bed and breakfast e a Copa de 2014. A pesquisa foi feita com homens e mulheres com idade a partir de 16 anos, sendo estes os que têm o poder de decisão em suas residências. O questionário foi disparado através de email, usando a técnica “bola de neve”, portanto não houve uma amostra previamente definida. Foram disparados cerca de 150 questionários e foram obtidas 84 respostas, vindo estas de pessoas de todas as zonas habitacionais de São Paulo, inclusive do Centro.

Considerações finais

Foi visto que a Hospedagem teve seu ínicio nas residências, devido as viagens comercias que se iniciaram séculos atrás. A necessidade de permanecer nos locais de comércio pelos viajantes fez com que as pessoas abrissem suas casas para hospedar os mesmos, e com o passar do tempo os residentes identificaram a oportunidade de cobrar essa hospedagem, visando uma renda. Com o passar dos anos, foram surgindo os diversos meios de hospedagem e os motivos que causam a necessidade de hospedagem foram se tornando amplos. Em meados do século passado, grandes motivadores de viagens e deslocamento de pessoas tornaram-se mais frequentes e numerosos, sendo estes os eventos. Neste trabalho em questão, o evento seria a Copa Mundial de futebol, um evento esportivo de grandes proporções que atrai milhares de turistas e pessoas ao redor do mundo.
Ao longo do trabalho foi possível verificar que existem casos de sucesso na oferta por Bed and Breakfast, como ocorreu na Copa da África do Sul e no bairro de Santa Teresa no Rio de Janeiro. E com base na pesquisa de Bed and Breakfast disponíveis na cidade de São Paulo, conclui-se que a cidade é pouco desenvolvida em meios de hospedagem extra-hoteleiros, mas tem um grande potencial para desenvolver esse tipo de acomodação, pois a demanda existe, a questão é como mudar a mentalidade dos paulistanos para que os mesmos enxerguem isso como uma opção segura de aumentar sua renda, entrar em contato com novas culturas e ajudar o turismo na cidade de São Paulo.
Pretendeu-se, então, por meio de pesquisa exploratória, averiguar as tendências para a hospedagem domestica tendo em vista o evento da Copas do Mundo 2014.
O que fica claro é que não é da cultura do brasileiro e do paulistano em particular, abrir suas casas para esse tipo de experiência, o que, no entanto, pode mudar com os eventos esportivos que acontecerão nos próximos anos.  De fato, se considerarmos as respostas positivas, há uma parcela da população que se disporia em receber hóspedes estrangeiros ou turistas brasileiros.
Este grande evento que acontecerá no Brasil em 2014 trará grandes benefícios, mas também pode ser um alerta de falta de infra- estrutura do país para receber tamanha demanda. Um grande problema que será enfrentado pela cidade de São Paulo será a insuficiência de meios de hospedagem, tanto hoteleiros quanto extra-hoteleiros, e devido a isso a pesquisa realizada visou concluir se o meio de hospedagem mais antigo, a hospedagem doméstica, poderia ser uma opção de solução. Em um século de alta tecnologia e desenvolvimento, a hospedagem doméstica perdeu muito espaço para os meios de hospedagem hoteleiros, principalmente no Brasil e especificamente na cidade de São Paulo, onde a cultura da presente sociedade moderna, de acordo com a pesquisa efetuada, desconsidera na sua maioria acomodar pessoas diferentes em seus lares.
Pelos resultados obtidos, a maioria das pessoas não abriria suas casas para turistas alegando como dois principais motivos a falta de espaço e a invasão de privacidade. Na pesquisa efetuada, nota-se que as pessoas incubem o governo de tomar providências com relação a escassez de meios de hospedagem, apontando como principais soluções a construção de prédios populares para hospedar os turistas e que posteriormente poderão ser doados a famílias sem teto e a redução de impostos para o ramo hoteleiro.
A questão da hospedagem e da oferta dos mesmos deve ser muito bem estudada e planejada, antes de colocar em prática qualquer solução ou medida para não gerar problemas e conflitos futuros.

Referências
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ANDRADE, Nelson; BRITO, Paulo Lucio de; JORGE, Wilson Edson. Hotel. Planejamento e Projeto. São Paulo, SP: SENAC, 2002

BENI, Mário Carlos. Análise Estrutural do Turismo. São Paulo: SENAC, 2003.

Cama e Café. Disponível em: <www.camaecafe.com.br>. Acesso em: 10 de maio de 2011.

Cama e Café. Rede de hospedagem Cama e Café fortalece turismo em pequenas localidades. Dezembro 2007. Disponível em: <http://www.camaecafe.com.br/clipping20.php> Acesso em: 27 de setembro, 2011.

COOPER, Chris ET al. Turismo. Princípios e Práticas. Porto Alegre, RS: Bookman, 2007.

Copa de 2014 Começa a Apresentar Impactos na Hotelaria Nacional.  Julho 2010.  Disponível em: <http://www.revistahoteis.com.br/index.php?option=com_content&view=article&id=8666:copa-de-2014-comeca-a-apresentar-primeiros-impactos-na-hotelaria-nacional&catid=748:investimentos&Itemid=77> Acesso em: 9 de maio, 2011.
Copa do Mundo de 2014. Outubro de 2007. Disponível em: http://veja.abril.com.br/idade/exclusivo/perguntas_respostas/copa_do_mundo/index.shtml#2> Acesso em: 9 de maio, 2011.

DECKER, Karin in SOGAYAR, Roberta. Hospitalidade: Um Relacionamento Global de Conhecimentos e atitudes. São Paulo, SP: LCTE, 2009

DIAS, Célia Maria de M. (Org) et al. Hospitalidade: Reflexões e Perspectivas. Barueri, SP: Manole Ltda, 2002.

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DUARTE, Vladir Vieira. Administração de Sistemas Hoteleiros - Conceitos Básicos. São Paulo: SENAC, 1996.

GAFFNEY, Christopher. Sobre o Relatório da ONU – Copa 2014, Olimpíadas 2016 e Megaprojetos: Remoções em curso no Brasil. Maio 2011. Disponível em http://observatoriodasmetropoles.net/index.php?option=com_content&view=article&id=1646:sobre-o-relatorio-do-onu-copa-2014-olimpiadas-2016-e-megaprojetos-remocoes-em-curso-no-brasil&catid=34:artigos&Itemid=138&lang=en> Acesso em: 9 de maio de 2011.

GIARETTA, Maria. Turismo da juventude. Barueri, SP: Manole, 2003.
GOIDANICH, Karin Leyser; MOLETTA, Vania Florentino. Turismo Esportivo. São Paulo: SEBRAE, 2001.

MONTEJANO, Jordi Montaner. Estrutura do Mercado Turístico. São Paulo: Roca, 2001.

SALOMONE, Roberta. Entre que a casa é sua. São Paulo: Veja, 26 de março, 2006

TORRE, Francisco de La. Administração Hoteleira. Parte I – Departamentos. São Paulo: Roca, 2001



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