Contribuciones a las Ciencias Sociales
Abril 2014

RESENHA DO ARTIGO: “DEPARTAMENTALIZAÇÃO E UNIDADE DAS CIÊNCIAS SOCIAIS”



Bernardo Augusto da Costa Pereira (CV)
bapbernardo@gmail.com
Universitario de Pará



 


Para citar este artículo puede utilizar el siguiente formato:
da Costa Pereira, B.: "Resenha do artigo: “Departamentalização e unidade das ciências sociais”", en Contribuciones a las Ciencias Sociales, Abril 2014, www.eumed.net/rev/cccss/28/resenha.html
  1. REFERÊNCIA DA OBRA RESENHADA

MARCELLINO, Nelson Carvalho. Departamentalização e Unidade das Ciências Sociais; p.101-108. In: MARCELINO, Nelson Carvalho (org). Introdução Às Ciências Sociais. 15 ed. Campinas, São Paulo: Editora Papirus; 2006. 128p.

  1.  CREDENCIAIS DO AUTOR

Nelson Carvalho Marcellino é graduado em Ciências Sociais, além de possuir mestrado em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas- PUC Campinas, e doutorado em Educação, pela Universidade Estadual de Campinas-UNICAMP.

  1.  RESENHA DESCRITIVA DO TEXTO

O autor inicia o artigo explicando que a discussão tratada acerca da unidade e departamentalização do conhecimento não é exclusiva das ciências sociais, e que o debate ocorre em todas as áreas do conhecimento científico, devido à necessidade da aplicação prática das teorias, objetivando a solução de problemas. O texto resenhado trata apenas das ciências sociais, e objetiva fornecer elementos básicos e já conhecidos, para os interessados.
A unidade do mundo social é claramente observada, no dia a dia. Um mesmo tema pode ser observado por diversos pontos de vista, comportando análises diversas, segundo o autor. Por ser o âmbito de atuação das ciências sociais, a vida do homem em sociedade também se encaixa nessa situação, o que dificulta a definição do ponto limite entre duas ciências sociais.
Conforme o autor, este é o objeto material das ciências sociais: aquilo que elas investigam, de forma geral, e que deveria dar origem a uma unidade dos diversos conhecimentos existentes. Há também o aspecto formal dessas ciências, ou seja, os seus âmbitos particulares de investigação. Cada parcela da realidade social é estudada por uma ciência social específica, fornecedora de uma visão especializada.
Esta especialização é fruto do fortalecimento do positivismo, que pregava uma especificação cada vez maior dos saberes, no intuito de aprofundá-los. Ocorre que, para o autor, esse aprofundamento gerou um distanciamento entre as ciências, dificultando sua aplicação prática, ao reduzir o âmbito de análise.
Este aprofundamento gerou um distanciamento da realidade humana, o que deu origem à seguinte crítica: a ciência advém do ser humano, sem chegar a conclusões direcionadas ao homem.
O autor aponta outro aspecto acerca da departamentalização das ciências sociais: a especialização desordenada destas, sem um critério organizacional. Isto pode gerar a falsa ilusão de que as instituições estudadas são autônomas.
O fato de haver a especialização e conseqüente delimitação das ciências não impede que estas colaborem entre si. O conhecimento gerado por um saber específico, que observa a realidade e gera suas conclusões, a seu modo, não produz um conhecimento social completo. Partindo desta premissa, o autor aponta a necessidade dos estudiosos reconhecerem a relatividade e parcialidade da sua área de atuação, e buscarem conhecimentos em outras ciências sociais, no intuito de vislumbrar os pontos de ligação e realizar um intercâmbio de conhecimentos.
Marcellino também aponta que a grande questão quando se trata do tema estudado é buscar alternativas que conjuguem a especialização das diversas áreas e a necessidade de integração entre os diversos domínios. E que essa questão não se encontra somente em um único nível de conhecimento.
No âmbito prático se encontram algumas propostas neste sentido, realizadas por equipes multidisciplinares ou pluridisciplinares. Ambas possuem a característica de agrupar módulos de conhecimento, sendo a primeira sem relação entre os saberes e a segunda com algumas destas relações. A multidisciplinaridade busca um sistema disciplinar de um só nível, com objetivos diferentes, enquanto que na pluridisciplinaridade há espaço para a cooperação entre as ciências, contudo exclui-se a coordenação. Deste modo, não há enriquecimento dos setores envolvidos.
Apesar do avanço, o autor critica estas visões ao afirmar, que, na realidade, ambas apenas somam visões monodisciplinares, sem espaço para influências externas. Defende, então, a interdisciplinaridade. Nesta, os especialistas vão além de sua área de saber, conhecendo as limitações de sua área, e, consequentemente, influenciando e sendo influenciados por outras ciências sociais.  
As três propostas acima se diferenciam no âmbito de intensidade de trocas entre os especialistas e no grau verdadeiro de interação entre as disciplinas relacionadas. A vertente interdisciplinar, a mais profunda, é a que melhor estabelece de forma efetiva a interação entre as especialidades, em prol de uma unidade das ciências sociais. Trata-se, conforme o autor, de uma reação à fragmentação do conhecimento acadêmico, o qual se desvencilhou da realidade social. Deste modo, a interdisciplinaridade no âmbito das ciências sociais não é apenas uma crítica a essa departamentalização, mas também uma forma de aproximar o conhecimento acadêmico da realidade social, que por sua vez necessita de um saber completo.
Neste momento, o autor apresenta o risco da interdisciplinaridade: que ela se torne um instrumento de adequação dos saberes, para fins imediatos, de setores “produtivos” da sociedade. Observe-se que a proposta interdisciplinar baseia-se na realidade social.
Vários são os obstáculos frente à colaboração efetiva das ciências. Entre eles, o autor cita a organização das Instituições de Ensino Superior, que muitas vezes, criam departamentos isolados, dificultando o intercâmbio do conhecimento, ainda na fase estudantil. A consequência é, muitas vezes, a formação de profissionais incapazes de relacionar as ciências sociais.
O autor, então, afirma que não se posiciona contra a especialização das ciências, mas que a cooperação e coordenação entre elas são essenciais, na busca de um saber unitário. E que a própria interdisciplinaridade efetiva só ocorre quando as áreas diferentes são especializadas e competentes a ponto de realizar um diálogo profícuo. Busca-se uma unidade e não unificação.
Também deve se atentar para o fato de que a especialização deve possuir em seu interior conhecimentos de diversas áreas sociais, para que os especialistas conheçam elementos úteis para a sua área, advindos de outro campo do conhecimento. Desta forma, será possível os estudiosos levarem em conta elementos, tais qual o momento histórico, e as particularidades do caso concreto, observado por diferentes vieses.
 

  1. CONCLUSÕES DO TEXTO RESENHADO

O autor conclui que para superar o paradigma da departamentalização das ciências sociais, é essencial buscar a sua unidade. Não se trata de olvidar a especialização da área estudada, mas sim de buscar, além dela, um entrelaçamento e fortalecimento destas micro-áreas do saber, por um viés interdisciplinar, através da filosofia. Esta, por sua vez, deve ser vista como fornecedora de elementos críticos, por ser capaz de gerar a compreensão da necessidade da combinação dos saberes, e jamais como instância máxima. Poder-se-á, então, alcançar uma efetiva correspondência entre a unidade do mundo social e do conhecimento das diversas ciências que o analisam.

  1. BREVE APRECIAÇÃO PESSOAL DO RESENHISTA

Sem dúvida, é essencial buscar a unidade do saber das ciências sociais, conforme afirma Nelson Marcellino. Tal afirmação advém do próprio objeto estudado: as relações dos homens entre si. Tais relações possuem um elevado grau de complexidade, o que gera, consequentemente, dificuldades de estudo. Estas complicações podem ser superadas a partir de uma perspectiva interdisciplinar, com as diversas áreas do saber buscando, em conjunto, respostas mais completas para as problemáticas sociais.
Ultimamente, diversos são os esforços no intuito de realizar essa aproximação. Em cursos de graduação em direito, no Brasil, por exemplo, disciplinas como economia, filosofia, sociologia, ciência política, história e medicina legal são estudadas no intuito de alargar o horizonte interpretativo dos estudantes. Tal medida é essencial e importantíssima na criação de um profissional humanista.
Com esta noção interdisciplinar ofertada ao estudante, este poderá agir de forma mais segura, frente às problemáticas sociais. Entendendo os diversos elementos que estimularam determinada prática, é mais simples agir frente a esta. Tais elementos podem ser desde o panorama político e econômico, até o contexto social específico em que o agente da prática está inserido.
Jamais se deve olvidar, e o texto trata com propriedade disto, da necessidade de gerar uma unidade do conhecimento social, vez que este é complexo e afetado pelos mais variados elementos. Frente à impossibilidade de um saber fracionado oferecer uma resposta válida ao problema, deve-se buscar a interdisciplinaridade das diversas áreas das ciências sociais. Para tanto, não se deve esquecer a importância do conhecimento especializado, nem da necessidade de entender que apenas uma área do saber é incapaz de analisar o fenômeno social, sob todos os seus aspectos.