Roberto Carlos Amanajás Pena (CV)
Ione Vilhena Cabral (CV)
Tatiani Da Silva Cardoso (CV)
robertoamanajas@yahoo.com.br
Universidade do Estado do Amapá
RESUMO
O presente artigo tem como finalidade elucubrar uma analise da obra Assim Falava Zaratustra de Nietzsche e a transvalorização dos valores cristãos no “Anticristo”. Enfatizando seus principais tópicos como a passagem da “morte de Deus”, mostra como Nietzsche trabalha esse argumento através da valorização do super homem. Que até então, a moral vigente são puras ilustrações criadas pelos próprios homens.
Além disso, Nietzsche aborda também a história de Israel, que segundo ele falseia a noção de Deus, e a forma como este povo fez dessa história uma nota real de salvação. É neste sentido que Nietzsche decorre sobre a moral universal e a forma de realidade concebida pelo cristianismo, segundo o grau de obediência.
Assim, chegando até o papel do sacerdote, da manutenção da vontade de Deus, diz também que o cristianismo negou a realidade judaica, a igreja. Faz uma abordagem a respeito do papel dos santos e o tipo psicólogo do Salvador, no amor que não revela nada para si. E por fim, conclui a idéia de aptidão cristã para o sofrimento e o amor como ultima possibilidade de vida.
PALAVRAS-CHAVE: Zaratustra, Moral, Deus, Super-Homem, Transvalorização.
ABSTRACT
This article aims elucubrar an analysis of Thus Spoke Zarathustra work of Nietzsche and transvaluation of Christian values in "Antichrist." Emphasizing its main topics as the passage of the "death of God", Nietzsche shows how this argument works by enhancing the superman. Until then, the moral force are pure illustrations created by menthemselves. Moreover, Nietzsche also touches on the history of Israel, which he said distorts the notion of God, and how these people made this story a note of real salvation. It is in this sense that Nietzsche runs on the moral and universal form of reality conceived by Christianity, according to the degree of obedience.
Thus, reaching the role of the priest, the maintenance of God's will, also says that Christianity denied the Jewish reality, the church. Makes an approach to the role of the saints and the type of psychologist Salvador, the love that reveals nothing for you. And finally, concludes the idea of fitness for Christian suffering and love as the last chance of life.
KEYWORDS: Zarathustra; Moral; God; Superman; Transvaluation.
A obra Assim Falava Zaratustra é um das mais brilhantes já traçada por Nietzsche, pois enfatiza a problemática dos valores vigentes impostos pela sociedade ocidental. Além disso, de forma extraordinária ele vai buscar a valorização do próprio homem partindo de si mesmo e não de uma entidade sobrenatural.
É partindo deste principio que este artigo se propõe a fazer uma análise da obra Assim Falava Zaratustra, mostrando como Nietzsche esclarece a passagem da “morte de Deus”, onde é o próprio homem com sua natureza que o mata. Para ele o homem com o advento da modernidade acabou por esquecer-se dos valores morais impostos pela sociedade, para dedicar sua vida aos bens materiais e ao processo de industrialização. É diante deste fato, que Nietzsche cria o super-homem, ou seja, o homem capaz de reconhecer que não há o transcendente, mas sim a terra onde habita.
Friedrich Nietzsche começa a fazer um paralelo entre o cristianismo e o budismo pontuando seus principais objetivos e sob que bases estes estão sustentados; ressaltando que o cristianismo se baseia pela esperança, a crença e as virtudes cristãs. Dessa forma, Nietzsche parte então, das origens do cristianismo que se deu a partir da revelação de Paulo de Tarso, em seguida retrata a moral do ressentimento, fala também da noção de humanidade doente sobre o bem e o mal.
Em seu livro, Assim Falava Zaratustra, Nietzsche aborda varias temáticas uma delas está o fato de que para ele “Deus está morto”. E para que isso ocorra é necessário entender a superação do homem para além dele mesmo. O livro supracitado começa narrando a historia de Zaratustra que após dez anos morando nas montanhas, sozinho retorna novamente ao convívio social.
Durante todo o tempo que Nietzsche passou na caverna da montanha pode refletir sobre os mais variados assuntos que permeiam a sociedade vigente, além de acumular conhecimento e sabedoria sobre a sua própria existência. E é, justamente por esse motivo que ele desce da montanha para com a sabedoria que acumulou durante todo esse tempo poder compartilhá-la com as outras pessoas. Neste sentido, o primeiro momento em que Zaratustra se refere à "morte de deus" foi no livro imediatamente anterior, A gaia ciência de 1882. O aforismo 125, intitulado Der tolle Mensch ("O homem louco", "transtornado", "insensato", "desequilibrado", "perturbado") narra a história de um homem que "em plena manhã acendeu uma lanterna e correu para um mercado" à procura de Deus.
Conforme sugere Roberto Machado (2000), esta "morte de deus" mencionada por Nietzsche pode ser compreendida como uma referência à modernidade filosófica que provocou "o desaparecimento dos valores absolutos, das essências, do fundamento divino e o aparecimento de valores humanos demasiado humanos." Através de seus questionamentos de cunho lógico-racional, a modernidade promoveu uma "substituição da autoridade de Deus e da Igreja pela autoridade do homem considerado como consciência ou sujeito; substituição do desejo de eternidade pelos projetos de futuro, de progresso histórico; substituição de uma beatitude celeste por um bem-estar terrestre". Ainda segundo Roberto Machado, "Nietzsche foi talvez o primeiro filósofo a situar a origem do humanismo justamente nos acontecimentos que estão no início da modernidade”.
Neste sentido, quando Zaratustra vai ao publico discorrer a respeito da “morte de deus”, compreende o quanto seu pensamento sobre os valores, a moral o convívio social e o egocentrismo das pessoas verdadeiramente reforçam sua tese. Daí, ele ressalta o além-do-homem, que é justamente o homem tentar viver nesse mundo sem a presença de deus em sua vida e sem a crença em uma suposta natureza humana pré-determinada, evitando recair em condutas niilistas, negadoras da vida. Um dos principais diferenciais na narrativa de Zaratustra é que ele não apenas propaga a morte de deus, mas também sugere como lidar com ela. Cujo, principal finalidade de seu primeiro discurso é justamente apresentar o além-do-homem como significado da terra após a morte de deus.
Porém, é importante frisar que Zaratustra não se identifica ao além-do-homem, mas se apresenta como seu profeta e anunciador. Mas apesar de serem dois personagens diferentes, parece que tanto Zaratustra quanto o além-do-homem agem de acordo com uma mesma virtude, denominada schenkenden ("dadivosa", "generosa"). Assim, no que tange, aos valores Nietzsche enfatiza que foram os próprios homens que o criaram, sendo assim, criaram para o bem e para o mal. E por este motivo resta ao próprio homem analisar se tais valores são criação de sua própria natureza ou de uma natureza superior.
Diante do já foi exposto a respeito dos valores e da superação do homem com relação à “morte de deus”, onde deixa-se de acreditar que as coisas criadas nesta terra não são mais criações divinas e sim criações humanas demasiado humanas. Nietzsche enfatiza ainda o sentido que o ser humano dá a terra a qual vive, o qual denominou em Zaratustra de “Fidelidade a terra”, para ele depois que o homem perde completamente sua fé naquilo que é sobrenatural, transcendente, resta a esse homem somente este mundo. A este respeito aborda Guerra Filho (2000):
“Acabam-se, assim, ilusões como a da verdade e de uma divindade, ficando só o ser humano. A rigor não há “ser” humano, mas apenas “sendo” humano. E nesse vir a ser, pode ser tanto no modo da super-ação, como também da retro-ação, jamais da in-ação. Para escapar ao abismo do nada que então se revela, dentro dele e ao seu redor, no mundo ao redor e em seu interior, o ser humano cria voluntariamente, uma ilusão e se projeta sobre esse abismo, lança-se qual uma flecha puxando uma corda na direção do horizonte, para permitir a outros atravessarem o abismo, caso ele – ou ela – venha a atingir seu destino, dando-lhes um sentido, a superação de si pela realização de si, pelo tornar-se, o que se é o super-homem, o único além desejável, possível. Eis, o sentido da vida na terra: tornar-se o que não é, mais do que é, para ser o que já foi”. (GUERRA FILHO, 2000, p: 2)
Entretanto, para Nietzsche homem deixa de viver sua vida nessa terreno para existir em função de uma vida imaginária formada apenas nas suas memórias. Desta forma, passa a ter “alucinações” de como será sua vida nesse novo mundo que o espera, deixando de desfrutar e viver os prazeres deste mundo. É exatamente esse episódio que Nietzsche vai recorrer na sua obra Zaratustra, desse modo, o ser humano trabalha sua vida a tentar decidir suas agonias e aflições através de entes divinais e com isso acaba por consumir e não desfrutar o que este chão lhe apresenta. Assim, de acordo com Guerra Filho (2000), para Nietzsche:
“O reino que interessa é o da Terra, a vida terrena é efêmera, incerta, mas sempre possível de retornar, a cada dia em que se desperta, até não haver mais despertar nem dia, restando ainda a possibilidade de retorno infinito do absoluto infinito, única eternidade de que se nos oferece o pensamento nietzscheano, por ser a que ainda resta aos que não esperam mais nada além do que já tem”. (GUERRA FILHO, 2000, p: 3)
Neste sentido, observa-se uma valorização por parte de Nietzsche com relação a terra, tendo em vista que tudo que se apresenta ao era humano como coisas palpáveis vem justamente dela. Daí, quando o ser humano se der conta da sua realidade passará a valorizar os benefícios que ela pode lhe ofertar. Assim, de acordo com Reale (1990, p: 422), parafraseando Nietzsche, “O super-homem é sentido da terra! Proclamai a vossa vontade: que o super-homem seja o sentido da terra!”
Para compreender o sentido de transvaloração utilizado por Nietzsche, é preciso primeiro entender que o autor só usou esse termo a partir do momento em que ele próprio vivenciou a mudança de valores proposta por ele. Nietzsche teve que sentir na pele tudo o que dizia respeito a sua própria concepção de vida, dessa forma podemos dizer que ele partia de uma corrente filosófica existencialista, pois ao contrario dos filósofos que tendiam para uma concepção metafísica para explicar a existência Nietzsche buscava razoes extremamente racionais para explicar a existência humana.
No seu livro a Gaia Ciência, de Nietzsche temos o anuncio da “morte de deus”, aqui fica bem claro que esse fato se dá em função do próprio homem, se abdicar de Deus. Com a morte de Deus, extingue-se todos os valores que convieram de fundação à vida do ser humano, perdendo-se assim, qualquer ponto de identificação. Neste sentido, Reale (1990), enfatiza que:
“A morte de Deus é fato que não tem paralelos. E acontecimento que divide a historia da humanidade. Não é o nascimento de Cristo, e sim a morte de Deus, que divide a historia da humanidade: “Quem quer que nascer depois de nós, por isso mesmo, pertencerá a uma historia mais elevada do que qualquer outra transcorrida”. E esse acontecimento, a morte de Deus, anuncia antes de mais nada Zaratustra, que, depois, sobre as cinzas de Deus, erguerá a idéia do super-homem, do homem novo, impregnado do ideal dionisíaco, “que ama a vida” e, voltando as costas para as quimeras do “céu”, voltará a “sanidade da terra”. (REALE, 1990, p: 431)
Por esse motivo, Nietzsche submete a moral a duras criticas, dizendo que ela é maquina construída para dominar os outros. Sendo que, existe uma voltada para a elite e outra para dominar os pobres. Durante séculos a igreja católica com seus dogmas e doutrinas alienadoras dominaram a sociedade ocidental, permitindo que esta acreditasse em coisas para além da vida aqui na terra. Ou seja, o homem passa acreditar no transcendental, em entidades sobrenaturais e esquece que foi ele próprio quem as criou, tornando-se então, escravo de algo que só existe no além. Assim, de acordo com Mondin (2008), o homem:
“Para livrar-se das cadeias e dos pesos insuportáveis que pôs nos próprios ombros, por causa da sua covardia, inventando valores religiosos e morais que são a negação da vida na sua beleza e exuberância, o homem deve transformar radicalmente a sua consciência mediante metamorfose interior profunda: deve abandonar as disposições de camelo resignado e assumir as de audacioso leão. De fraco, medíocre, obediente, religioso, moralista deve transforma-se em forte, autônomo, legislador de si mesmo e dono absoluto dos próprios atos, sem a obrigação de restar contas do que faz nem a Deus, nem à sociedade, mas somente a si mesmo”. (MONDIN, 2008, p: 89)
Portanto, para Nietzsche o super homem não se deixa levar por tais conveniências criadas pelo próprio homem, mais sim se torna maior do que ela agindo de acordo com aquilo que ele julga ser verdadeiro. O que Nietzsche quer enfatizar é justamente a transvaloração dos valores então, vigente, pois quando o homem tomar consciência de que não existe um outro mundo que não seja este a qual viemos nunca sairá da sua condição de escravo.
O que Nietzsche quer dizer com este argumento? Que o homem em sua essência criou os seus próprios estigmas, mas com o passar dos tempos ele se permitiu sobrepujar e se abranger numa teia de sentidos e simbolismos que envolvem a ética vigente. A coletividade tornou o homem preso de si próprio e das coisas que ele cunhou, dando a este duas alternativas enquadrar a regra ou ser excluído dela. Nietzsche preferiu pelo seu próprio afastamento quando decidiu escolher ser excluído desse sistema de moral hoje tido como falido. Ele criticou todo o sistema de sua época atacando a tudo que julgava ser moral pela sociedade, tornando assim, o moral em imoral.
Assim, as três metamorfoses anunciadas por Zaratustra em seu primeiro discurso, propõem infinitas mortes e renascimentos de aspectos e essências, crescimento irregular e intensificação da vida. Observa-se, ainda aspectos decisivos para uma compreensão sobre a existência criadora. Portanto, as metamorfoses apresentadas em Zaratustra representam a modificação do homem a partir da morte de Deus, isto é, a transformação de sua alienação na liberdade criadora que se sabe autônoma. Tornando assim, um problema todo o esquema metafísico do mundo sensível e do mundo inteligível, que após a morte de Deus tais definições caem em decadência.
O que Nietzsche faz em Zaratustra é simplesmente desmascarar aquilo que está escamoteado por traz da moral. Ele revela ao homem a sua própria natureza não dando espaço para existir outra além da sua, não há para ele a idéia de um mundo transcendental ou sobrenatural. Mas, há sim a idéia de que o homem a partir do momento que quebra rompe com seus próprios valores elimina assim, a idéia também de um deus criado por ele. Então, de que vale a moral, as leis, as normas, as regras, os valores se o ser humano em sua essência não é capaz de cumpri-las, vive a todo o momento se auto flagelando de tudo o que fez e tudo o que não fez.
Nietzsche aborda a característica do budismo e do cristianismo. O budismo tem origens nas classes superiores e instruídas que buscam o bem estar, a suavidade e a harmonia, seus seguidores são caracterizados como superintelectualizados, apresenta um ambiente agradável e harmônico.
Conclui NIETZSCHE 2008
“As necessidades do budismo são um clima muito ameno, grande gentileza e grande liberalidade dos costumes, nenhum militarismo; e ainda, que o movimento tenha suas origens nas classes superiores e mais instruídas. Requer o bom, a serenidade, a ausência de um desejo como objetivo supremo e esse objetivo alcançado. O budismo não é uma religião na qual só se aspira à perfeição: o perfeito é a norma”. (NIETZSCHE pg. 21)
Já no cristianismo a maioria dos seus seguidores é de classe baixa que estão em busca da salvação da alma “vida eterna que será vivida no paraíso ao lado de Deus e dos anjos”. Mas para alcançar tal privilegio o cristão tem que desenvolver certas características como: estar constantemente em contato com Deus através da oração para afasta-se do mal e interceder por suas benções na terra; lutar contra os desejos carnais; desprezar a produção intelectual; rejeitar o corpo como sensualidade.
Afirma NIETZSCHE 2008
“O cristianismo, quando abandonou seu primeiro terreno, as classes mais baixas, o submundo, quando partiu em busca de um poder entre os povos bárbaros, não tinha mais homens fatigados, mas homens que, interiormente, haviam voltado ao estado selvagem e se dilaceravam – homens fortes, mas frustrados......O cristianismo quer se tornar senhor da animais de rapina; sua estratégia consiste em torná-los doentes – o enfraquecimento é a receita cristã para a domesticação, para “civilizar”. (NIETZSCHE pg. 51/52)
Friedrich Nietzsche conceitua o cristão como certo senso de crueldade consigo e com os outros, pois, ser cristão é “odiar” aqueles que pensam diferentes posiciona-se contra o intelectual. Mas Nietzsche vai mais além e diz “o que é o cristão é o ódio contra os sentidos, contra a alegria dos sentidos, contra a alegria em geral”. Diante de suas análises o cristianismo nada mais é do que um grande mecanismo de opressão que por este motivo seus seguidores são pessoas oprimidas e apáticas da realidade.
Conclui NIETZSCHE 2008
“O cristianismo se posiciona também contra êxito intelectual – somente uma razão doentia pode lhe servir de razão cristã; toma partido de tudo que é idiota, lança seu anátema contra o “espírito”, contra a soberba do espírito sadio. Uma vez que a doença faz parte da essência do cristianismo, segue-se igualmente que o estado tipicamente cristão, a “fé”, seja uma forma de doença, é necessário que todos os caminhos retos, legítimos e científicos para o conhecimento sejam banidos pela igreja como caminhos proibidos”. (NIETZSCHE pg. 52)
O termo cristianismo significa Doutrina religiosa pregada por Jesus Cristo há mais de 2.000 anos, que se expandiu através das cruzadas e das perseguições contra os pagãos, sendo que mais tarde se fortaleceu com a inquisição como uma forma de aniquilar todos os que consideravam hereges, controlou a produção intelectual e artística por séculos. Segundo Nietzsche o cristianismo tinha necessidade de ser tão cruel para poder se torna senhor dos bárbaros, assim o desprezo pelo intelectual, pela cultura, pelo corpo se tornando uma tortura física e moral, como forma de domínio.
Entretanto, a doutrina budista não é considerada como religião induziva, pois não existe um deus criador, mas é correto denominá-la como uma filosofia. O Budismo não tem uma definição, como as outras doutrinas, contudo é denominado por alguns especialistas como crescimento de espiritual, através dos ensinamentos do Buda.
A doutrinação fundamental do budismo é: impedir o mal, propiciar o bem e semear a própria mente. O objetivo é o fim do ciclo de sofrimento, “samsara”, despertando no praticante o entendimento da realidade última o “Nirvana”. O ponto de partida do budismo é a percepção de que o desejo causa inevitavelmente a dor. Deve-se portanto eliminar o desejo para se eliminar a dor. Com a eliminação da dor, se atinge a paz interior, que é sinônimo de felicidade.
Apesar do budismo não negar a existência de seres metafisicos(de fato, há muitas referências nas escrituras Budistas), ele não confere nenhum poder especial de criação, salvação ou julgamento a esses seres, não compartilhando da noção de Deus comum às religiões. Tornando-se assim, uma restrição ao pensar moderno (judaísmo, cristianismo e islamísmo).
A doutrina budista simplesmente diz o que pensa: “eu sofro”. Há no fundo do cristianismo algumas sutilezas que remontam ao oriente, a verdade e a fé na verdade de alguma coisa: dois domínios de interesses totalmente separados, quase domínios opostos chega-se a um e a outro por caminhos diferentes. Neste sentido, quando subsiste a felicidade ao saber estar salvo do pecado, não é de modo algum necessário que o homem sente seja pecador, mas que se sinta pecador. Mas, quando a fé é necessária, segue-se disso o descrédito da razão, do conhecimento, da investigação intelectual: o caminho da verdade se torna um caminho proibido.
Afirma NIETZSCHE 2008
“O budismo, repito, é um cem vezes mais frio, mais verídico, mais objetivo. Não tem necessidade de tornar conveniente a seus olhos seu sofrimento, sua suscetibilidade ao sofrimento por meio da interpretação do pecado – simplesmente diz o que pensa: “eu sofro”. Para o bárbaro, ao contrário, o sofrimento não tem nada de conveniente: tem necessidade em primeiro lugar de uma exegese para reconhecer o fato de que sofre (seu instinto e orienta antes para a negação do sofrimento, para suportá-lo em silencio). Aí é que palavra “diabo” se mostrou um beneficio: dispunha-se de um inimigo muito poderoso e temível – não havia mais vergonha por sofrer por causa de semelkhante inimigo”. (O anticristo, pg. 53)
Assim, segundo Nietzsche para o cristianismo é preciso manter os sofredores por uma esperança, à qual não se possa opor nenhuma realidade – que não possa ser aniquilada por nenhuma realização: uma esperança no além. A exigência da castidade reforça a veemência e a interioridade do instinto religioso – torna o culto mais ardente, mais exaltado, mais fervoroso. Dessa forma, o amor é o estado no qual o homem vê as coisas quase totalmente como não são. A força de ilusão atinge nele seu auge, assim como a força de suavização, de transfiguração.
No amor excede mais que de caráter, consinto tudo, graças ao amor, supera-se o que há de pior na existência. Tudo isso se alcança com as três valores cristãs, fé, caridade, esperança, as quais Nietzsche chamou de as três argúcias cristãs. Para ele o cristianismo apresenta dois problemas que são: o primeiro, o cristianismo não pode ser compreendido senão a partir do solo em que brotou, na fórmula do salvador, “a salvação vem dos judeus”. No segundo é o tipo psicológico de Galileu, como tipo do redentor da humanidade.
Neste sentido, os judeus são o povo mais notável da história universal, pois, eles distorcem um por vez, a religião, o culto, a moral, a história, a psicologia de uma forma irremediável, para o contrário de seus valores naturais, ou seja, a igreja cristã, comparada ao “povo eleito”, não poderia de modo algum pretender a originalidade. Assim, os judeus são o povo mais funesto da história universal: nos efeitos posteriores que exerceram, tornaram a humanidade falsa de tal forma que o cristianismo pode experimentar sentimentos antijudeus sem com isso se considerar como a última conseqüência do judaísmo.
Assim, a história de Israel tem um valor inestimável como historia típica de toda desnaturação dos valores naturais. Na origem Israel tinha uma relação justa, seu Javé era a expressão da consciência de seu poder, da alegria, da esperança, por meio dele se esperara a vitória e salvação. Javé é o deus de Israel e, por conseguinte, Deus da justiça: essa é a lógica de todo o povo que tem o poder e que o exerce com a consciência tranqüila.
Essa noção de Deus se torna um instrumento nas mãos de sacerdotes agitadores que doravante interpretam toda a felicidade como recompensa, toda desgraça como castigo da desobediência a Deus, do “pecado”: com essa forma fraudulenta de interpretar, sentido de uma ordem moral do mundo, a noção natural de causa e efeito são, uma vez, por toda invertida. A moral cessa de ser a expressão das condições de vida, mas se tornou abstrata, se tornou a antítese da vida – moral como “olhar maligno” sobre todas as coisas.
E a igreja foi apoiada pelos filósofos: a mentira da ordem moral do mundo se insere em toda a própria evolução da filosofia moderna. Em lugar dessa lamentável mentira, a realidade diria: uma espécie parasita de homens que não prospera senão em detrimento de todas as organizações sadias da vida, o padre, abusa do nome de Deus: chama “reino de Deus” um estado das coisas em que é o padre que determina os valores das coisas.
Dessa forma, transformaram, de acordo com suas necessidades, os heróis poderosos e absolutamente livres da história de Israel em fanáticos miseráveis e hipócritas ou em homens ímpios. Neste sentido, tem-se a necessidade de uma enorme falsificação literária, descobre-se então uma Escritura Sagrada que é tornada pública com toda a pompa hierática, com dias de penitencia e com gritos de lamentação pelo pecado inveterado. Assim, a desobediência a Deus, isto é, ao sacerdote, à lei leva doravante o nome de pecado.
Assim, o “povo santo” que para todas as coisas havia adotado apenas valores de sacerdotes, vocabulário de sacerdotes e havia afastado de si como profano, como mundo, como pecado, tudo o que subsistia ainda de poder na terra, esse povo criou uma ultima fórmula que era conseqüente até a renegação de si, como o cristianismo, negou até mesmo a ultima forma da realidade, o povo santo, o povo eleito, é a própria realidade judaica, por esse motivo o cristianismo nega a própria igreja e apresenta como problema do mesmo o problema psicologia do Salvador.
Afirma NIETZSCHE 2008
“Que o cristianismo não tenha fins “sagrados”, essa é minha objeção contra seus meios. Há somente fins maus: envenenamento, calunia, negação da vida, desprezo do corpo, degradação e auto-aviltamento do homem pela noção de pecado – logo, seus meios também são maus”. (O anticristo, pg. 119)
Neste sentido, o que importa para Nietzsche é o tipo psicológico do Salvador, esse tipo poderia muito bem se encontrar no s Evangelhos, embora mutilado e sobrecarregado de traços estranhos. A questão não é em absoluto a verdade sobre o que ele fez o que disse como morreu, mas, a saber, se é possível representar seu tipo, se foi transmitido pela tradição, a tentativa de decifrar nos Evangelhos a historia de uma alma parecem ser a prova de uma execrável leviandade psicológica.
Afirma NIETZSCHE 2008
“Em toda a psicologia do evangelho faltam as noções de culpa e de castigo; de igual modo, a noção de recompensa. O “pecado”, toda relação de distancia entre Deus e o homem, é suprimido – essa é precisamente a “boa-nova”. A felicidade eterna não é prometida, não está vinculada a condições: ela é a única realidade – o resto é sinal para falar dela”. (NIETZSCHE pg.33)
Se há alguma coisa de estranho ao Evangelho é certamente a noção de herói, a incapacidade em resistir se tornou aqui moral, “não resistas ao mau”, expressão essa mais profunda dos Evangelhos. Que significa “boa nova”? A verdadeira vida, a vida eterna foi encontrada, todos são filhos de Deus e todos como filhos de Deus são iguais a todos. “O Reino de Deus está em vocês”.
Contudo, duas realidades se apresentam segundo Nietzsche, que são o ódio instintivo contra a realidade, conseqüência de uma suscetibilidade extrema ao sofrimento e à irritação que não quer ser tocada porque se ressente de qualquer toque. E a exclusão instintiva de toda aversão, de toda hostilidade, de todas as barreiras e distancias no sofrimento, sente toda a resistência como um insuportável desprazer, isto é, como nocivas, como desaconselháveis pelo instinto de conservação e não conhece a beatitude, o prazer. Essas são as duas realidades fisiológicas a partir das quais surgiu a doutrina da salvação.
Em destarte, toda a civilização é produto de bases falsas, a classe mais abastarda são as que têm maior responsabilidade para lutar contra esse defeito, e questionar os próprios princípios. A cultura encontra-se em decadência, como resultado do afastamento das coisas relacionadas a Deus. Nietzsche se afastou, ao enxergar a verdade cada vez mais longe. Mas pagou sua dívida por esse afastamento ao criar seu herói solitário, Zaratustra, um questionador da cultura e civilização, bem como da moral e valores sobre o qual a sociedade se apóia.
A tarefa de conscientização de Zaratustra não é fácil, ele encontra a falta de saber do "populacho" em um tempo não determinado, Zaratustra é a figura dramática fundamental de um conto filosófico-poético. Com trinta anos, sobe à monte para fugir dos males das relações humanas e constrói o conhecimento natural. Vive em exposição aos subsídios naturais, junto com os animais - uma águia e uma serpente. Lá vive por dez anos, até se saciar de seu conhecimento como abelha que produz mel, e parte para o convívio humano.
A narrativa é pouca, o que preenche o livro são os discursos de Zaratustra. Ao descer encontra um velho e depois de dialogar se interroga: "será possível que este homem não saiba que deus está morto?" Nietzsche pretende colocar com essa afirmação que a civilização racional afastou as interpretações místicas do mundo, prevalecendo na Terra, o senso comum, e nele não há lugar para Deus, pois o homem não pode suportar os acontecimentos a não ser Deus.
Pelo fato de não podermos explicar as coisas, colocamos nossas esperanças no fim das frustrações no além, no sobrenatural. Assim, para substituir a divindade morta, Nietzsche sugere e propõe a idéia de super-homem: o bom senso da Terra. O que há de nobre do homem é ser ele um fim, então um meio. O super-homem é a ponte para o próprio homem alcançar sua sabedoria. O homem é algo que tem que se superar para descobrir-se a si mesmo, ele é o resultado da vontade de potência exercida que se coloca além do bem e do mal, e faz seus valores em pedaços.
Ao longo do livro, Zaratustra percorre e expõe seu ensinamento sobre assuntos diversos, adquirindo alguns epígonos. Portanto, para Nietzsche atraí de toda a moralidade existe a vontade de poder, o homem precisa exercer o poder da vida, de modo a servir só ao super-homem. A moral é uma força contrária à natureza, para chegar ao super-homem, Nietzsche não descarta a eugenia, a procriação para fins de superação. O homem deu valores às coisas afim da auto-conservação de um valor humano, ou seja, o propósito da valor está na reminiscência de seu ato, desse modo, as coisas são valores condicionados somente pelos objetos como modo de sobrevivência, pois, não é uma abstração, os sábios servem o povo e a superstição, não a verdade.
Nietzsche, faz uma critica também ao cristianismo enquanto uma religião que enfraquece homens e transfigura, falseia a realidade. No capitulo XXII, ele faz um paralelo entre o cristianismo, característico de um povo bárbaro e empobrecido e o budismo religião de homens mais evoluídos que buscam dominar o corpo e não outros homens como o cristianismo.
Nietzsche fala que o budismo é objetivo enquanto o cristianismo precisa justificar o sofrimento através de um inimigo poderoso (o diabo), dando como “armas” a crença e a esperança, onde o homem pecador se sustenta no amor como algo que tudo suporta, explicando assim as virtudes cristãs da fé, esperança e caridade.
Nietzsche retrata da origem do cristianismo remetendo-se ao povo judeu, ao Galileu que se transforma em Salvador da humanidade, ou seja, a moral falseada uma vez que busca perverter a noção de “bem e mal”. Ainda referindo-se ao povo de Israel, diz que este povo representa a transfiguração de todos os valores naturais, quando transformam Yahveh em um deus condicionado.
Mais ainda, afirma que uma vez falseada a noção de Deus o povo vai além, e trás como comprovação a escritura sagrada (bíblia), onde transformam sua realidade em história de Salvação, passando a fazer valer a “ordem moral universal”, ou seja, o destino do povo passa a depender da vontade de Deus e dos graus de obediência ou desobediência a ela. Nietzsche como homem parasita o Sacerdote, que é a pessoa quem escutar essa vontade, transformando a desobediência a ela em pecado e só que pode salvar é o Sacerdote.
GUERRA FILHO, Willis Santiago. “(Im)possibilidade e necessidade da teologia”, in: A Parte Rei, n. 12, Dezembro de 2000.
MACHADO, Roberto. A filosofia e a literatura. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2000.
MONDIN, Batista. Curso de Filosofia: os filósofos do ocidente. In: Os Voluntaristas. Volume 3. São Paulo, Paulus. 10ª edição, 2008.
NIETZSCHE, Friedrich, 1844-1900. Assim Falava Zaratustra: um livro para todos e para ninguém: texto integral; tradução Antônio Carlos Braga. – São Paulo: Editora Escala, 2008. – (Coleção grandes obras do pensamento universal)
NIETZSCHE, Friedrich. O Anticristo. Editora Martin Claret. – São Paulo, 2008.
REALE, Giovanni. História da Filosofia: Do Humanismo a Kant. In: Nietzsche: Fidelidade à terra e transmutação de todos os valores. – São Paulo: Paulus, 1990. – (Coleção Filosofia)