Revista: CCCSS Contribuciones a las Ciencias Sociales
ISSN: 1988-7833


O MÉTODO DIALÉTICO E A DÉMARCHE REGRESSIVA-PROGRESSIVA: REVISÃO DIDÁTICA PARA A LEITURA DO MUNDO MODERNO

Autores e infomación del artículo

Pedro Ricardo da Cunha Nóbrega*

Gevson Silva Andrade **

Universidade Federal do Vale do São Francisco, Brasil

pedro.nobrega@univasf.edu.br

Resumo

Ao longo do processo de construção da Geografia é nítida a condição de crise posta pela produção e reflexão geográfica. Como reflexo da crise na produção do conhecimento geográfico percebe-se uma incapacidade desta ciência em elaborar análises críticas da realidade. Como tentativa de superação da leitura superficial feita pela geografia é urgente construir reflexões de método e de procedimentos metodológicos que apresentem a geografia como uma ciência social e crítica. Este é o ponto de partida que se localiza este artigo que tem como objetivo central trazer uma contribuição teórica sobre a importância do método compreendido como concepção de mundo, movimento do pensamento e da ação que corrobore com uma perspectiva crítica. O que se desdobra é o entendimento da centralidade do espaço e do urbano como condição do mundo atual e das transformações do capitalismo, exigindo da Geografia um posicionamento de ajuste de foco nas questões sociais.

Palavras-chave: Lógica Dialética; Geografia Crítica; Mundo Moderno; Sociedade Urbana; Démarche Regressiva-Progressiva.

EL MÉTODO DIALECTICO Y LA DÉMARCHE PROGRESIVA-REGRESIVA: APORTES DIDÁCTICOS PARA UNA LECTURA DEL MUNDO MODERNO

Resumen

En el proceso de construcción de la Geografía como ciencia es evidente la condición de crises que es impuesta a las reflexiones geográficas. No obstante, como reflejo de la crisis de la producción del conocimiento geográfico, es perceptible una dificultad de esta ciencia realizar analices críticos de la realidad. Como un intento de ayudar en la superación de la lectura superficial que la geografía tiene realizado es urgente recuperar y construir reflexiones de método y de procedimientos metodológicos que presenten contenido social y crítico para la geografía. Aquí está el punto de partida de este artículo que tiene como objetivo central contribuir teóricamente acerca de la importancia de método como concepción de mundo, movimiento del pensamiento y de la acción que ayude a revelar una perspectiva crítica. Tiene por centralidad el entendimiento teórico del espacio y del urbano como condición del mundo actual y de los cambios del capitalismo contemporáneo, exigiendo de la Geografía un posicionamiento de ajuste de foco en las cuestiones sociales.

Palabras clave: Lógica Dialéctica; Geografía Crítica; Mundo Moderno; Sociedad Urbana; Démarche progresiva-regresiva.   

THE DIALECTICAL METHOD AND THE REGRESSIVE-PROGRESSIVE DÉMARCHE: A DIDACTIC REVIEW FOR THE MORDERN WORLD INTERPRATATION

Abstract

Over the construction process of Geography as a Science, the condition of crisis is clearly marked by the geographical production. As reflection of the crisis related to the production of the geographical knowledge, it is noted an inability of this science to elaborate analysis of reality. In an attempt to overcome the superficial reading done by geography is urgent to establish method reflections and methodological procedures that consider Geography as a social and critical science. This is the starting point that this article focuses it, aiming to bring a theoretical contribution on the importance of the method understood as a conception of world, the movement of thought and action that may corroborate with a critical perspective. The outcome is the de understanding of the centrality of space and urban as a condition of the actual world and capitalism transformations, requiring Geography to adjust the focus position on social issues.

Keywords: Dialectical logic; Critical Geography; Modern World; Urban Society; Regressive-progressive démarche.

 


Para citar este artículo puede utilizar el siguiente formato:

Pedro Ricardo da Cunha Nóbrega y Gevson Silva Andrade (2017): “O método dialético e a démarche regressiva-progressiva: revisão didática para a leitura do mundo moderno”, Revista Contribuciones a las Ciencias Sociales, (octubre-diciembre 2017). En línea:
http://www.eumed.net/rev/cccss/2017/04/metodo-dialetico-leitura.html

http://hdl.handle.net/20.500.11763/cccss1704metodo-dialetico-leitura


 

1 Introdução: Concepção de mundo e emergência de uma forma de pensar real e concreta.

O método, como compreensão do mundo; como direcionamento filosófico e prático; como caminho e orientação do pensamento, aparece vivo nas construções teóricas, nas decisões de registro, na definição de conteúdos, nas abordagens e no tratamento dos dados. As definições de método como cristalização de um escrito sobre o próprio método é um aprisionamento da ação metodológica de pensar e pesquisar, principalmente em contextos sociais em que o método é, em muitos casos, a chave de entrada fundamental para apresentar e balizar as questões e as reflexões de uma pesquisa.
Assumir um método como chave de compreensão de mundo não significa eleger as ferramentas de verificação dos sentidos da realidade a priori, senão, entender que a leitura da realidade se dá como processo complexo de compreensão do mundo e que os elementos fundamentais para fazer um mergulho profundo revelam um conjunto de posturas que permitem acionar elementos a partir de uma concepção de mundo.

O que é uma concepção de mundo? É uma visão conjunta da natureza e do homem, uma doutrina completa. Em certo sentido, uma concepção de mundo representa o que se denomina tradicionalmente de filosofia. Entretanto, essa expressão tem sentido mais ampla do que a palavra “filosofia”. [...] toda concepção de mundo implica uma ação, isto é, alguma coisa mais que uma “atitude filosófica” [...] mesmo que seu elo permaneça sem ser formulado e que a ação implicada não dê lugar a um programa, nem por isso deixa de existir. [...] Na concepção marxista do mundo, a ação se define racionalmente em contato com o conjunto doutrinário e dá lugar, abertamente, a um programa político (LEFEBVRE, 2011: 9-10).

A concepção de mundo se define como um grande horizonte de posturas, comportamentos, percepções e interlocuções que possibilita estabelecer uma relação do sujeito com o mundo, com a sociedade e consigo mesmo. Inevitavelmente, uma concepção de mundo se dá em forma de um processo que se constrói como resultado, sempre em transformação, da experiência racional, intuitiva, contraditória, sincrônica e diacrônica do ser com a totalidade mundo em movimento constante de totalização; a concepção de mundo conecta o indivíduo com suas construções internas, com sua elevação à condição de sujeito social em construção e vinculação direta com o mundo real, porém a busca de entendimento da realidade se faz via síntese, e as sínteses essencialmente são incapazes de dar conta dessa realidade de forma global, complexa e acabada, fazendo com que haja sempre a necessidade de um olhar que busque explicar os fenômenos de forma a se perseguir uma totalidade inacabada, constantemente em mutação que irá oferecer pistas na construção de verdades provisórias.
De acordo com Lefebvre (2011: 12), a concepção marxista de mundo “se recusa a aceitar uma hierarquia exterior aos indivíduos (metafísica); mas, por outro lado, não se deixa encerrar, como o individualismo, na consciência do indivíduo e no exame isolado dessa consciência”.

(...) o marxismo rejeita deliberadamente a subordinação prévia, imóvel e imutável dos elementos do homem e da sociedade uns aos outros; mas não admite tampouco a hipótese de uma harmonia espontânea. Constata, com efeito, a existência de contradições tanto no homem como na sociedade humana (LEFEBVRE, 2011: 12).

O que está em construção é o entendimento das contradições inerentes ao processo histórico, rasgando assim a noção de uma leitura linear e sucessiva das transformações sociais.

No hay objeto en el cual no se pueda encontrar una contradicción, es decir, dos determinaciones opuestas y necesarias. “un objeto sin contradicción no es más que una abstracción pura del entendimiento que mantiene con una especie de violencia una de estas determinaciones opuestas que contiene a la primera...” (Enciclop., 89). El momento negativo – que la sofística, el escepticismo y la antigua dialéctica aislaban y volvían contra el pensamiento lógico – toma entonces su lugar y su función (LEFEBVRE, 1974: 28-29).

O que está posto como foco da compreensão da realidade através do pensamento é entender as lutas e os percursos do contraditório. O contraditório só aparece ao se entender a lógica da construção coletiva, mais que isso, a lógica que sustenta a articulação do pensamento com a ação; uma lógica que reflita o jeito de ser e de ir sendo da sociedade em seu movimento constante de reprodução. Neste sentido é preciso demarcar que a lógica tem um papel fundamental no entendimento das negações e contradições dialéticas. Entretanto, não estamos nos referindo a qualquer lógica, uma vez que a lógica formal não consegue alcançar as formulações da lógica dialética, particularmente porque a leitura dialética de mundo obedece a estruturas do pensamento desconhecidas pela lógica formal, ou é vista de forma invertida e desconectada das determinações materiais. O que está posto é que em todos os sentidos há uma contradição estabelecida.
É na ideia da contradição como possibilidade de leitura de mundo que a concepção marxista ganha força e ajuda a estabelecer uma nova forma de entender os códigos sociais. A contradição revela uma noção de luta e ação na resolução de problemas, que não nega a dimensão dos obstáculos, mas também das vitórias e das superações. O reconhecimento do conflito faz emergir a clareza da negação como parte integrante do todo. A concepção marxista do mundo se apresenta como uma construção que revela, em síntese, através do entendimento da contradição como uma das categorias centrais na construção de sociabilidades a relação homem versus natureza. O momento histórico no qual esta luta se apresenta com maior vigor é aquele que coincide com a formação da sociedade moderna.
O que reside no seio dessa sociedade moderna é a questão do proletariado, da classe operária, ou o que mais contemporaneamente vamos denominar da “classe dos que vivem do trabalho” (ANTUNES, 2009). A questão da classe operária só pode aparecer em função da possibilidade de entender as contradições que marcam um processo de servidão associado a um empobrecimento de uma parcela significativa da sociedade que se traduz através da aceleração do progresso técnico, da libertação do homem em relação à natureza e o seu movimento de apropriação dos elementos naturais e o enriquecimento geral ocasionado pelo processo de acumulação (LEFEBVRE, 2011). Como uma concepção de mundo que emerge junto com a sociedade moderna, o marxismo atrai para si uma condição de novidade, esta condição de novidade confronta diretamente com as concepções – individualista e cristã – metafísicas de mundo, o marxismo aparece como a ação de pensamento que inverte a noção de organização do mundo e desconstrói as simples abstrações como resultado de um universo das ideias, põe a centralidade nos elementos materiais e faz perceber que as abstrações existentes são o resultado de construções reais/concretas.
A lógica dialética, que é construída e entendida como uma lógica do concreto; como uma lógica do movimento do mundo compreendido a partir da sua realização enquanto prática, não elimina a lógica formal, ela a mantém, incorporando as questões, dotando-as de conteúdo, introduzindo um elemento histórico, uma trajetória, um ponto de partida real.

Lo concreto es una identidad rica y densa, cargada de determinaciones, conteniendo y manteniendo una multiplicidad de diferencias y de momentos. La unidad es, por así decirlo, perpetuamente conquistada sobre la contradicción y la nada (LEFEBVRE, 1974: 38).

É preciso que a lógica dialética substitua a lógica da unidade, é preciso perceber os conflitos internos a essas unidades e organizar o pensamento para capturar o conteúdo escondido, faz-se urgente a emergência de uma lógica do conteúdo, que vai além do esboço formado pela lógica formal. “A forma do pensamento é diferente do conteúdo, embora ligada a ele. Assim, o sujeito é distinto do objeto, mas não pode ser separado dele. A forma é sempre forma de um conteúdo, mas o conteúdo determina a forma” (LEFEBVRE, 1979: 83). A lógica (dialética) assume um papel importante na construção de uma teoria do conhecimento que tem como base a noção de que o conhecimento se dá como uma construção histórica, social e prática que considera o primado da realidade como estopim do ato de conhecer; e, como só se conhece pela experiência, essa concepção de mundo nega a construção idealista de que o mundo se dá primeiro como imaginação.

Como efeito, ele [o materialismo dialético] sintetiza e unifica dois elementos que Marx encontrou separados e isolados na ciência e na filosofia do seu tempo: o materialismo filosófico, a ciência da realidade humana, e a dialética de Hegel, isto é, a teoria das contradições (LEFEBVRE, 2011: 24).
 
A concepção de mundo marxista, assim posta, é entendida como o materialismo histórico e dialético, como síntese e fusão corrigida de toda a tradição dialética, desde Heráclito até Hegel, e organizada pelo pensamento marxista, sob este aspecto essa concepção de mundo se torna ciência (sociologia científica), torna-se filosofia e também método. “Unifica em si dois elementos do pensamento humano, até então separados, isolados e incompletos: a ciência e a filosofia” (LEFEBVRE, 2011: 23-24), que para existir se organizam a partir do método dialético e da teoria da alienação.

O método dialético: Totalidade – Contradição – Mediação.

Para a emergência do método dialético não há a possibilidade de se estabelecer um conjunto de regras ou comportamentos, não se pode seguir com um receituário.

O método não é um conjunto de regras formais que se “aplicam” a um objeto que foi recortado para uma investigação determinada nem, menos ainda, um conjunto de regras que o sujeito que pesquisa escolhe, conforme a sua vontade, para “enquadrar” o seu objeto de investigação. [...] Marx não nos entregou uma lógica, deu-nos a lógica d’O capital. Isto que dizer que Marx não nos apresentou o que “pensava” sobre o capital, a partir de um sistema de categorias previamente elaboradas e ordenadas conforme operações intelectivas: ele (nos) descobriu a estrutura e a dinâmica reais do capital: extraiu da efetividade do movimento do capital a sua (própria, imanente) lógica – numa palavra, deu-nos a teoria do capital: a reprodução ideal do seu movimento real (NETTO, 2011: 53). 

O método tem como elemento geral a busca pelas múltiplas determinações que compõem o objeto concreto. E, dialeticamente, esse concreto que se apresenta só é possível de ser entendido se cercado das múltiplas determinações que o compõe, por isso, a postura do pesquisador tem de ser aquela que leva as questões ao esgotamento das possibilidades.
É só entendendo o sentido do real, e entendo que só a partir dele é que as coisas se apresentam como totalidade, que o método dialético pode atingir o seu objetivo, mas é preciso ter cuidado para não ficarmos presos em um mundo da pseudoconcreticidade, como alerta Kosik, pois a realidade não se revela ao homem de maneira absoluta e definitiva, é preciso escrutinar e desvelar todas as camadas que turvam a leitura do mundo. “O mundo da pseudoconcreticidade é um claro-escuro de verdade e engano. O seu elemento próprio é o duplo sentido. O fenômeno indica a essência e, ao mesmo tempo, a esconde” (KOSIK, 2011: 5).
Essa é a essência da dialética: buscar a superação da alienação imposta por um cotidiano programado que reforça visão lateral de mundo, cotidiano que se repete como aprisionamento da vida humana e condena a enxergar apenas fragmentos da vida. É sob essa correção que a dialética marxista supera o idealismo hegeliano e se apresenta como uma chave de compreensão da realidade. Sem esse ajuste necessário, a dialética, como apontava Lefebvre, de sentido hegeliano, comporta-se como um conhecimento mágico, algo que brota do nada ou de forças exteriores ao homem. A correção que se faz, faz-se na tentativa de observar a potencialidade criadora da práxis, da ação, do mundo real e concreto.

Ainda que Hegel considerasse o exercício de reconstrução das contradições com base no real, ele a realizava abstratamente, ele tentou solucionar as contradições com modelos e ajustes ideais dessa contradição, essa reconstrução da contradição em Hegel “só fazia sentido na cabeça do filósofo: era uma reconstrução especulativa e metafísica do real. Tudo o que existe e vive somente vive e existe por meio de um movimento, de um devir; mas Hegel, à força de abstrações, atingiu uma fórmula puramente abstrata e puramente lógica do movimento em geral, ter nessa fórmula a explicação de todas as coisas, nela encerrando o movimento de todas as coisas” (LEFEBVRE, 2011: 33-34).
 
Essa discussão está condida na própria redefinição do sentido de devir,

(…) el devenir será poco a poco retomado en toda su profundidad, en su riqueza prodigiosa en momentos, aspectos y elementos. La superación del hegelianismo integrará y elaborará la lógica dialéctica según la naturaleza misma del movimiento dialéctico: el devenir considerado auténticamente como experiencia absoluta (LEFEBVRE, 1974: 62).

O devir dialético acaba, na sua construção histórica, sendo herdeiro de muitas definições associadas à construção idealista de mundo. O devir se torna impregnado de abstrações que tentam cessar as contradições do presente em estruturas planas que só se projetam como possibilidade de cenários muito particulares, em geral desconectados dos contextos históricos e relativizando determinações e que como tal são inegociáveis e estão na gênese da realidade concreta em movimento. No limite, em Hegel, o devir histórico era eliminado em função da construção de um saber absoluto e absolutizado.
O método dialético se torna, neste sentido, a possibilidade de compreensão do mundo em seu processo de desenvolvimento histórico; é a chave de compreensão da realidade em sua dimensão multivariada, ajudando a revelar os esquemas de construção que conectam o passado com o presente possibilitando enxergar os desdobramentos possíveis, o devir está associado à construção das virtualidades, ou seja, é a construção do mundo em seu processo constante de totalização.
O método dialético incorpora a possibilidade da revolução; é através dele que as construções reais e concretas são apresentadas e reconstruídas de forma distanciada das ilusões que comprometem a observação, ele nega a construção de representações vazias e enviesadas por questões ideopolíticas descomprometidas com a verdade, mas sem se tornar um método asséptico, muito pelo contrário, ele ajuda na eliminação das visões parciais, considerando como condição fundamental o movimento de totalidade e totalização. Como tal, o método dialético tenta evitar a construção de visões unilaterais.

Marx foi o primeiro a adotar e empregar de modo coerente o método dialético. Metodicamente, estudando uma realidade objetiva determinada, ele analisou os aspectos e os elementos contraditórios dessa realidade (tomando em consideração, consequentemente, todas as noções contraditórias que eram propagadas, mas nas quais não se sabia o que havia de verdadeiro). Após ter distinguido os aspectos ou os elementos contraditórios, sem negligenciar seus liames, sem esquecer que se tratava de uma única realidade, ele a refaz em sua unidade, isto é, no conjunto de se movimento (LEFEBVRE, 2011: 30).

A busca por entender o processo de construção da totalidade do mundo tem como ferramenta fundamental o entendimento da natureza do/no mundo e a natureza do/no homem, sendo assim, essa condição de natureza herdada e construída se entende pela compreensão da existência de uma estrutura determinada que se tornasse inteligível sem que seja necessária a atribuição de um espírito organizador, ou seja, sem que seja dada à condição de natureza uma existência supra-material ou metafísica.
O método dialético se constitui com base em um movimento triádico: totalidade – contradição – mediação. “Articulando estas três categorias Marx descobriu a perspectiva metodológica que lhe propiciou o erguimento do seu edifício teórico” (NETTO, 2011: 58). 
Uma das grandes contribuições Marxista foi se apropriar desses elementos gerais de construção metodológica para pesquisar a realidade e aplicá-la ao entendimento da sociedade burguesa, essa sociedade burguesa é em si uma totalidade que emerge do seio da sociedade capitalista moderna. A sociedade burguesa em Marx é uma totalidade concreta, não apenas um todo constituído por partes funcionalmente integradas, porquanto ela resulta em uma construção de totalidades de menor complexidade, mas que não são entendidas como totalidades simples. O que distingue essas totalidades é o grau de complexidade que elas encerram, por isso, podem-se construir análises a partir de totalidades que se organizam em um processo de totalização, sem que uma se aproprie das características das outras. Por isso é fundamental entender que no interior de cada totalidade há um movimento que dá dinamicidade, sem isso as totalidades seriam inertes e cristalizadas em si mesmas.
O homem e seu processo de criação, produção e reprodução aparecem como o sentido do devir histórico; o homem como sujeito conectado à sociedade se revela e se constrói através da sua condição de natureza, mas também na sua condição histórica. O homem só se descobre como um ser que vive e que realiza um trabalho através da práxis, produzindo a si e ao seu meio, dialogando com a natureza externa e com a sua própria natureza. Não há um homem a priori, não existe um homem supra-humano que habite primeiro a sua consciência, o homem é resultado do processo perpétuo de produção e reprodução.

A realidade não é (autêntica) realidade sem o homem, assim como não é (somente) realidade do homem. É realidade da natureza como totalidade absoluta, que é independente não só da consciência do homem, mas também da sua existência, e é realidade do homem que na natureza e como parte da natureza cria a realidade humano-social, que ultrapassa a natureza e na história define o próprio lugar no universo (KOSIK, 2011: 248).

O homem não pode prescindir da sua negação para que seja entendido no seu processo histórico de construção, por isso, é preciso, do ponto de vista dialético, trazer o desumano, a alienação para o interior da construção da ideia de homem. A desumanidade e a humanidade se constituem como fato histórico.
Diferente do que os metafísicos estabeleciam a consciência do mundo não é uma ação superior que define a existência humana, mas ela é a construção do homem e do seu universo de referenciais a partir do mundo concreto e real. Assim, a consciência e o conhecimento são o resultado de um processo histórico, político, prático e social.

A démarche regressiva-progressiva

O movimento regressivo-progressivo corresponde a forma como o método se aplica, pois indica movimentos do pensamento; é uma démarche que ajuda a revelar os sentidos do mundo real-concreto, pondo relevo nas discussões acerca da relação histórica entre o possível e o impossível, tornando visíveis as construções sobre o novo e o velho, o contínuo e descontínuo, etc. Ajuda a descortinar o movimento de reprodução e organização da vida em sociedade
Essa démarche compreende o entendimento do avanço das forças produtivas que contribuem para a transformação da condição original de natureza em direção a um novo patamar, revelando os processos de transformação, de produção da materialidade do mundo e dos homens, contribuindo para entender o real em processo de constituição, os sentidos históricos, as determinações do presente e as virtualidades postas para um futuro próximo.
O movimento regressivo-progressivo aparece como a possibilidade de ajustar o foco do processo de investigação da realidade mundo, contribuindo para revelar as contradições com uma potencialidade esclarecedora. Por isso Martins (2011) pondera que “o método de investigação não [é] só o momento do abstrato, mas também [...] do empírico e condição de reconstituição [...] do socialmente concreto, isto é, histórico. Não só o peso das gerações mortas e o fardo do presente alienado, mas também a carga de superação e destino”.

(…) proponemos un método muy simple, que utiliza las técnicas auxiliares e incluye varios momentos: a) Descriptivo: Observación, pero informada por la experiencia y una teoría general. En primer plano: la observación sobre el terreno. Utilización prudente de las técnicas de encuesta (entrevistas, cuestionarios, estadísticas). b) Analítico-regresivo: Análisis de la realidad escrita. Intento de fecharla exactamente (para no contentarse con una relación de “arcaísmos” sin fecha, sin comparación unos con otros). c) Histórico-genético. Estudio de las modificaciones aportadas a la estructura en cuestión, una vez fechada, por el desarrollo ulterior (interno o externo) y por su subordinación a estructuras de conjunto. Intento de una clasificación genética de las formaciones y estructuras, en el marco del proceso de conjunto. Intento, por tanto, de regresar a lo actual precedentemente descrito, para reencontrar lo presente, pero elucidado y comprendido: explicado (LEFEBVRE, 1978: 71).

Damiani e Seabra (2001: 1) sintetizam de forma muito eficiente o sentido do método regressivo-progressivo: “regressivo indo do virtual ao atual, do atual ao passado; progressivo, movendo-se do superado e do finito ao movimento que prenuncia esse fim, que anuncia e faz nascer alguma coisa de nova”. Só assim esse procedimento metodológico aparece como chave de interpretação da reprodução da sociedade e do espaço (abre-se aqui um enorme diálogo com o pensamento geográfico – que gera frutos ao pensamento até o presente).
Parece-nos fundamental entender que a aplicabilidade desse procedimento metodológico se constrói com um “movimento investigativo e interpretativo que está centrado no método e não nos supostos conceitos”. Este método é efetivo por ajudar a revelar “as contradições sociais como contradições de relações sociais datadas, gêneses desencontradas, tensões de tempos sociais do desenvolvimento desigual dos momentos do processo histórico e da estrutura social”, por isso, “o movimento regressivo-progressivo está referido à premissa da totalidade aberta, inconclusa, em que as superações propõem novas contradições e novas tensões, a sociedade movendo-se e transformando-se todo o tempo” (MARTINS, 2011: 3-4).
A busca pelo significado dos sentidos da reprodução do espaço e as suas relações com as diversas temporalidades possíveis de ser apreendidas a partir do presente põe um direcionamento metodológico para a construção do pensamento acerca das ações dos homens na sociedade. As relações sócio-espaciais são articuladas a partir da realização da vida cotidiana, que detém como característica principal a possibilidade de revelar as estratégias que materializam as determinações do movimento histórico de reprodução da vida, bem como as subjetividades que permeiam as estruturas e individualizam os lugares e as relações sociais.
Como suporte para estabelecer os nexos analíticos, faz-se indispensável entender que as formas, as funções e as estruturas aparecem como categorias concretas capazes de ajudar a revelar os sentidos escondidos pela aparência. Espaço e sociedade entendidos como elementos que se interconectam, porque estão diretamente relacionados no processo de produção, revelam a construção da mundialidade do mundo, ou seja, do movimento de constituição do real que vai sendo elaborado junto com os homens no processo de transformação da natureza, sem que a natureza seja retirada desse processo, senão subsumida e reconstituída através da sua condição segunda. A produção da mundialidade do mundo está vinculada à produção da humanidade do homem, sendo assim, o espaço é construído como um produto dialético da condição humana, esse mundo, em sua condição moderna, é capturado pelas lógicas de reprodução do modo de produção capitalista que ao se apropriar das relações sociais estabelecidas faz emergir um cotidiano programado e reflexo da materialização das alienações.

O teórico da cidade e do urbano dirá que esses termos se definem como forma da simultaneidade, campo de encontros e de trocas. Esta acepção da palavra “forma” deverá ser precisada. Consideraremos ainda o termo função. A análise distingue as funções internas à cidade, as funções da cidade em relação ao território (campo, agricultura, aldeias e vilarejos, cidades menores e subordinadas numa rede), e finalmente as funções da cidade – e cada cidade – no conjunto social (divisão técnica e social do trabalho entre as cidades, redes diversas de relações, hierarquias administrativas e políticas). O mesmo em relação às estruturas. Existe a estrutura da cidade (de cada cidade, morfológica e socialmente, topológica e topicamente), depois a estrutura urbana da sociedade e finalmente a estrutura social das relações cidade-campo. Donde um emaranhado de determinações analíticas e parciais e as dificuldades de uma concepção global (LEFEBVRE, 2001: 59-60).

O que se requisita é o sentido primeiro das coisas, a partir de uma proposta de entender os “fenômenos” da vida com os seus respectivos enlaces, deixando claro, então, que o acontecer no mundo é plural e polissêmico, ou seja, que a tentativa de uma resposta não está presente em um campo de análise restrito, mas no início dos diálogos dos mais diversos saberes, uma vez que nada existe sem ter uma vinculação com a base material, com os processos históricos e com a possibilidade de se tornar, inclusive, aquilo que se nega.

Considerações finais: Ou a abertura para níveis e dimensões de análise

As reflexões sobre o movimento do real necessitam ser construídas a partir de níveis e dimensões de análise, uma vez que estas são ações metodologicamente necessárias. A organização do mundo conhecido pode se dar de forma sincrônica ou diacrônica.
No conjunto das reflexões diacrônicas, o processo de formação econômica e social revela etapas, níveis produtivos que se sucedem e que marcam um processo, um devir do acontecimento social, inequivocamente estes níveis diacrônicos são representados pelo esquema: rural-industrial-urbano (LEFEBVRE, 2008: 75). Esse processo de entendimento dos níveis históricos de realização da formação social tende a mostrar no tempo presente a construção de uma sociedade urbana baseada nas transformações produtivas que apontam para o urbano como um modo de vida que abriga as virtualidades e os fetiches da sociedade de consumo que se estabelece como reflexo do mundo moderno.
Numa perspectiva sincrônica, o movimento de reflexão busca entender a construção do real, enquanto movimento teórico que organiza o devir da sociedade urbana. Lefebvre (2008), então, identifica os níveis – global, misto e particular – como quadros sincrônicos dos acontecimentos do urbano.
Em o direito à cidade Lefebvre (2001) estabelece algumas reflexões sobre os níveis e dimensões de análise em relação ao fenômeno urbano e ao habitar aparecem com um conjunto de reflexões que emerge da organização cotidiana da vida. É importante destacar que a cidade é uma totalidade parcial que existe em relação à sociedade, como totalidade mais abrangente. Por isso, ela compreende “os processos gerais (globais), a cidade como especificidade e nível intermediário, depois das relações de imediaticidade - ligadas a uma maneira de viver, de habitar, de modular o cotidiano” (LEFEBVRE, 2001: 60) se revela como uma possibilidade analítica, como materialidade e reunião; como lugar e condição do acontecer cotidiano.

O nível mais elevado se situa ao mesmo tempo acima e na cidade. Fato que não simplifica a análise. A estrutura social está na cidade, e aí que ela se torna sensível, é aí que significa uma ordem. Inversamente, a cidade é um pedaço do conjunto social; revela porque as contém e incorpora na matéria sensível, as instituições, as ideologias. Os edifícios reais, imperiais, presidenciais “são” uma parte da cidade: a parte política (capital). Esses edifícios não coincidem com as instituições, com as relações sociais determinantes. E, no entanto, essas relações atuam sobre eles, esses edifícios representam a eficácia e a “presença” social dessas relações. Em seu nível específico, a cidade contém assim a projeção dessas relações (LEFEBVRE, 2001: 60).  

No nível global (LEFEBVRE, 2001; 2008) o urbano e a cidade são vistos a partir de uma ordem distante, de uma ordem institucional, mediada através das “construções” do Estado (suas materializações e abstrações, espaço da representação e representação do espaço), funciona como o lócus das estratégias levadas a última consequência, reflexo de lógicas de classes. “Neste sentido, com alguma reserva, pode-se falar de uma ‘sócio-lógica e de uma ideo-lógica’. O poder político dispõe de instrumento (ideológico e científico)” (LEFEBVRE, 2008: 76). O Estado se faz presente como vontade e como representação. E a cidade aparece como a reunião de grupos que revela seu código de funcionamento através das instituições.
Sob outro código de compreensão da organização do urbano e da cidade, aquele código mais particular, aparece às relações em nível ecológico, aqui a dimensão do habitar ganha centralidade. “A cidade envolve o habitar; ela é forma, envelope desse local de vida “privada”, ponto de partida e de chegada das redes que permitem as informações e que transmitem as ordens (impondo a ordem distante à ordem próxima)” (LEFEBVRE, 2001: 61).
Não obstante, a despeito de toda a complexidade existente dos níveis G e M, é no nível P que a vida se realiza de forma direta, não por ser um nível maior ou menor, não se trata de tamanho, o mundo todo pode ser analisado a partir desse nível, ou o menor dos agrupamentos humanos, mas por ser o nível que permite perceber e analisar o habitar, em contraposição ao habitat, como o lugar por excelência do vivido, que toma a ação de morar e viver a partir da sua essência e a considera poesia, ato deliberado e eminentemente humano de transformar as coisas, de dar sentido à natureza, de eliminar os estranhamentos do mundo e que possibilita o reconhecimento dos sujeitos, dos grupos, das coisas, dos lugares, da história. É no nível ecológico, ou seja, no nível P, que o método dialético identifica dois “empreendimentos possíveis”, nos termos de Lefebvre (2001).

O primeiro vai do mais geral ao mais singular (das instituições para a vida quotidiana) e descobre então a cidade como plano específico e como mediação privilegiada (relativamente). A segundo parte desse plano e constrói o geral utilizando os elementos e significações do observável urbano. Esta segunda hipótese procede da mesma maneira para atingir, sobre o observável, o privado, a vida quotidiana dissimulada: seus ritmos, suas ocupações, sua organização espaço-temporal, sua cultura clandestina, sua vida subterrânea (LEFEBVRE, 2001: 61).

A partir destas reflexões é que se põe metodologicamente a importância de analisar o urbano de perto e por dentro, a partir de suas construções mais particulares, uma vez que é somente neste lugar que as contradições, as impossibilidades e as estratégias de realização da vida cotidiana se mostraram com propriedade. É desse nível de análise que se pode entender as determinações da vida; que se pode empreender as categorizações necessárias para revelar os sentidos das construções sociais. Há no cotidiano a possibilidade de sentir a presença ainda que na ausência. Há uma potencialidade criadora e norteadora do sentido da vida, da reprodução da vida, talvez a isso se referisse Michel de Certeau (2002: 189),

(...) a dispersão dos relatos indica já a do memorável. De fato, a memória é o antimuseu: ela não é localizável. Dela saem clarões nas lendas. Os objetos também, e as palavras, são ocos. Aí dorme um passado, como nos gestos cotidianos de caminhar, comer, deitar-se, onde dormitam revoluções antigas. A lembrança é somente um príncipe encantado de passagem, que desperta, um momento, a Bela-Adormecida-no-Bosque de nossas histórias sem palavras. “Aqui, era uma padaria”; “ali morava a Mere Dupuis”. O que impressiona mais, aqui, é o fato de os lugares vividos serem como presenças de ausências. O que se mostra designa aquilo que não é mais: “aqui vocês vêem”, “aqui havia...”, mas isto não se vê mais. Os demonstrativos dizem do visível suas invisíveis identidades: constitui a própria definição do lugar, com efeito, ser esta série de deslocamentos e de efeitos entre os estratos partilhados que o compõem e jogam com essas espessuras em movimento.

No cerne dessa capacidade do pequeno em preencher de sentido as megaestruturas, essa capacidade do acontecer da vida cotidiana emerge como possibilidade de subverter as grandes imposições verticais, de marcar o sentido para a trajetória e de orientar as perspectivas de um grupo em um determinado tempo-espaço, faz com que o sentido da reprodução social se apresente materializado na capacidade de reprodução da vida cotidiana.
Ao mesmo tempo em que o cotidiano e a realização da vida cotidiana possibilitam perceber contextos compartilhados, eles também funcionam como reveladores de nexos centrais na construção das relações sociais, das práticas sociais e do trabalho.
O espaço urbano em sua dinâmica de produção, para ser analisado, necessita de uma aglutinação de perspectivas e níveis de realidade, ou seja,

(...) momentos diferenciados da reprodução geral da sociedade, como o da dominação política, o da acumulação do capital, da realização da vida [...]. O espaço corresponde a uma realidade global, revelando-se no plano do abstrato, e diz respeito ao plano do conhecimento, sua produção social, a prática socioespacial, liga-se ao concreto (CARLOS, 2001: 12).

Lefebvre (2006) propõe que o espaço (social) não se apresenta como uma coisa qualquer, não é simplesmente um produto entre os produtos, ele abarca as coisas produzidas, compreende as relações entre as coisas produzidas, tendo como condição as possibilidades de coexistência e a simultaneidade dos acontecimentos. O espaço social pressupõe uma ordem e uma desordem, ao mesmo tempo, e nunca se reduz a ser um simples objeto; possibilita e permite ações; é constituído de ações, que produzem ou consomem, mas que gravitam inexoravelmente à lógica da produção.
Essa pluralidade de acontecimentos e conhecimentos se organizam, privilegiadamente em contextos urbanos, produzindo cidades e sociedades. O espaço, assim como a vida na sociedade moderna, encontra-se como resultado de repetições; é forjado em meio a um aparato técnico repetitivo e a uma base tecnológica que suscita cenários de repetição, sociedade e espaço são repetições de si mesmo, que sob os auspícios da alienação não possibilitam distinguir mais as ordens distantes das ordens próximas, o imediato se torna o reflexo do realizado alhures, tudo se torna envolto em uma camada pasteurizada, que é reflexo do modo de produção em que a sociedade opera.

Um espaço contém objetos muito diversos, naturais e sociais, redes e filões, veículos de trocas materiais e de informação. Ele não se reduz nem aos objetos que ele contém, nem à sua soma. Esses objetos não são apenas coisas, mas relações. Como Objetos, eles possuem particularidades conhecíveis, contornos e formas. O trabalho social os transforma. Ele os situa diferentemente nos conjuntos espaço-temporais, mesmo quando respeita sua materialidade, sua naturalidade. (LEFEBVRE, 2006: 18).

O cotidiano é capturado e programado desde a sua gênese como elemento fundamental do processo de produção e reprodução do espaço, comprometendo-se, pois, na sociedade moderna cooptada pelo modo de produção capitalista, com a repetição fetichizada do produto. Entretanto, o espaço tem conteúdo, o espaço revela relações sociais que se interconectam através da sua polivalência, assim, o espaço é produto, mas também condição social e meio de realização que ganha sentido a partir das tramas miúdas, dos detalhes, das injunções e das disjunções ocasionadas a partir de escapes e pontos de fuga no contexto das repetições.
As tramas tecidas na cidade, reflexo das possibilidades de materialização das utopias do urbano, não se dão de uma forma homogênea e hegemônica, do contrário o espaço seria o reflexo direto de uma abstração e não uma construção estabelecida por meio de uma prática social, que como os indivíduos e a própria sociedade é contraditória em gênese e essência. O devaneio idealista de um mundo reflexo de um pensamento único, bom para todos, desfaz-se no ar com uma simples observação dos processos que compõem o quadro de reprodução da vida.
No sentido de não se esgotar a compreensão do método em tela, parece cada vez mais ser emergente entender a necessidade de retroalimentação entre cidade e urbano, entre  rural e campo, principalmente se o processo metodológico levar a uma compreensão que mesmo sendo em alguns momentos cidade e urbano empregados como  sinônimos, existe uma diferença  que se alimenta na gênese do processo de (re)produção social dos citadinos.
A partir dessa reflexão, cabe adentrar ao processo dialético da contradição cidade/campo e/ou rural/urbano que acaba por dá base ao entendimento das relações inerentes ao produzir o espaço como complementariedade baseada na negação enquanto afirmação, nesse sentido a cidade que nega o campo, ao mesmo tempo se afirma a partir do campo, assim compreender o espaço é sistematizar o conhecimento das partes enquanto totalização e do todo como totalidade.

Referências

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CARLOS, A. F. A. (2001): “Espaço-tempo na metrópole: A fragmentação da vida cotidiana”. Editorial Contexto, São Paulo.
CERTEAU, M. (2002): “A invenção do cotidiano: artes de fazer.” Editorial Vozes, 2002.
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LEFEBVRE, H. (1979): “Lógica formal, lógica dialética”. Editorial Civilização brasileira, Rio de Janeiro. Tradução Carlos Nelson Coutinho.
LEFEBVRE, H. (2001): “O direito à cidade”. Editorial Centauro, São Paulo.
LEFEBVRE, H. (2006): “A produção do espaço Urbano”. Editorial da UFMG, Belo Horizonte. trad. Grupo “As (im)possibilidades do urbano na metrópole contemporânea”, do Núcleo de Geografia Urbana” do original: La production de l‟espace. 4e éd. Paris: Éditions Anthropos, 2000). (Texto não publicado).
LEFEBVRE, H. (2008): “A revolução urbana”. Editorial da UFMG, Belo Horizonte.
LEFEBVRE, H. (2001): “Marxismo”. Editorial L&PM, Porto Alegre.
MARTINS, J. S. (2011): “A sociabilidade do homem simples: cotidiano e história na modernidade anômala”. Contexto, São Paulo.
NETTO, J. P. (2011): “Introdução ao estudo do método de Marx”. Editorial Expressão Popular, São Paulo.
NÓBREGA, P. R. da C. (2015): “Reflexões teóricas sobre o cotidiano e a Geografia no Envelhecimento Humano”. En Revista Estudos interdisciplinares do envelhecimento, Porto Alegre, v. 20, n. 3, p. 865-881.

* Doutor em Geografia Humana pela Universidade de São Paulo, atualmente Professor Adjunto do curso de Licenciatura em Geografia da Universidade Federal do Vale do São Francisco.

** Doutor em “Geisteswissenchaten” pela Universidade Técnica de Berlim, atualmente Professor Adjunto do curso e Licenciatura em Geografia da Universidade de Pernambuco


Recibido: 25/10/2017 Aceptado: 30/10/2017 Publicado: Octubre de 2017

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