Elaine Carvalho de Lima *
Calisto Rocha de Oliveira Neto **
Érica Priscilla Carvalho de Lima ***
Universidade Federal de Uberlândia, Brasil
elainecarvalhoonline@hotmail.comResumo
A atração dos megaeventos esportivos tem sido observada por planejadores e governantes como uma forma de dinamizar a economia e de se tentar resolver graves problemas relacionados às desigualdades sociais. Neste contexto, o Brasil sediou a Copa do Mundo de 2014 e teve na cidade de Natal/RN uma das cidades sede da Copa. Muitos estudos defendem tais eventos como uma grande oportunidade do país se promover entre os principais destinos turísticos, o que só seria possível com muitos anos de campanhas publicitárias. Assim, o presente trabalho busca analisar os principais desafios para a cidade de Natal com a Copa do Mundo FIFA Brasil 2014 e os rebatimentos desse evento na cidade. Em termos metodológicos, foi realizada uma pesquisa bibliográfica sobre o tema, buscando fazer uma análise do conhecimento da área, bem como um levantamento de dados secundários. Constatou-se que os resultados do evento na cidade foram temporários, no geral, se limitando ao período dos jogos e uma análise posterior mostra que o custo de um evento desse porte não deve ser medido pelos recursos para sua execução, mas sim pelo valor que a sociedade perde se tal investimento fosse destinado a um melhor projeto público.
Palavras- Chave: Megaeventos Esportivos, Copa do Mundo FIFA, Natal/RN.
Abstract
The attraction of sports mega-events has been observed by planners and rulers as a way to energize the economy and to try to solve serious problems related to social inequalities. In this context, Brazil hosted the 2014 World Cup and had in the city of Natal / RN one of the host cities of the World Cup. Many studies defend such events as a great opportunity for the country to promote itself among the main tourist destinations, which would only be possible with many years of advertising campaigns. Thus, this study aims to analyze the main challenges for the city of Natal with the FIFA World Cup Brazil 2014 and the repercussions of this event in the city. In methodological terms, a bibliographic research was done on the subject, seeking to make an analysis of the knowledge of the area, as well as a survey of secondary data. It was found that the results of the event in the city were temporary, in general, limited to the period of the games and a later analysis shows that the cost of an event of this size should not be measured by the resources for its execution, but by the value the society loses if such investment were destined to a better public project.
Abstract: Mega events, FIFA World Cup, Natal/RN.
Para citar este artículo puede utilizar el siguiente formato:
Elaine Carvalho de Lima, Calisto Rocha de Oliveira Neto y Érica Priscilla Carvalho de Lima (2017): “Análise da copa do mundo de futebol FIFA 2014 na cidade de Natal/RN”, Revista Contribuciones a las Ciencias Sociales, (octubre-diciembre 2017). En línea:
http://www.eumed.net/rev/cccss/2017/04/analise-copa-mundo.html
http://hdl.handle.net/20.500.11763/cccss1704analise-copa-mundo
1- INTRODUÇÃO
A Copa do Mundo de futebol FIFA é um dos principais megaeventos esportivos da história. Há um amplo consenso entre os que defendem tal evento quanto aos impulsos econômicos que poderá favorecer as regiões de acolhimento. No entanto, sabe-se que para hospedar um megaevento, em geral, acarretam em altos custos operacionais e de infraestrutura.
Para acolher esses eventos a cidade sede precisa oferecer alguns equipamentos relacionados ao evento, dispondo de uma rede de hotéis e uma rede de transporte que permita o deslocamento dos visitantes ao evento. Há críticas com relação aos locais que irão sediar os jogos, especialmente em países em desenvolvimento, pois o acolhimento dos megaeventos está relacionado com a criação de uma grande infraestrutura de apoio, que implica numa grande quantidade de recursos ou em dívidas de longo prazo.
Um dos principais exemplos de megaeventos esportivos é a Copa do Mundo de Futebol FIFA, que passou a ter uma grande relevância entre as mais diferentes nações. O Brasil foi escolhido como sede da Copa do Mundo 2014 e da Copa das Confederações de 2013, após aprovação da Federação Internacional do Futebol (FIFA). Uma das sedes do mundial foi a cidade de Natal, esse evento traz a possibilidade de dinamização econômica não só local sede, mas de toda a região metropolitana de Natal (RMNatal).
Um dos segmentos intensamente envolvido e provavelmente impactado é o setor turístico. A cidade de Natal se destaca como principal destino turístico do estado do Rio Grande do Norte. Diante disso, a Copa do Mundo, poderá ser uma ocasião favorável para dinamizar e consolidar a atividade turística na capital do estado. Como também, pode representar uma oportunidade de melhorias na infraestrutura urbana e turística. Todavia, isso só poderá ser viabilizado, a partir de uma gestão responsável que respeite os aspectos ambientais, econômicos e socioculturais de desenvolvimento sustentável.
Dessa forma, o presente estudo pretende a partir do “estudo de caso” do Projeto Natal na Copa 2014, analisar as relações dos megaeventos esportivos e possíveis repercussões nas regiões que os sediam, em que Natal se insere como uma das subsedes do campeonato mundial, assim se torna necessário um debate em torno desse tema, já que o evento abrange vários setores: infraestrutura, mobilidade urbana, turismo, segurança pública, entre outros.
Em termos metodológicos, foi realizado um levantamento de dados secundários e revisão bibliográfica sobre o tema, objetivando fazer uma análise do conhecimento da área de megaeventos e, sobretudo, direcionada a uma melhor contribuição dos impactos do projeto no espaço metropolitano.
Dessa maneira, o trabalho está estruturado em três seções, além dessa parte introdutória. Na segunda seção, serão abordados os aspectos conceituais sobre megaeventos esportivos. A terceira seção apresenta aspectos econômicos relacionados à cidade de Natal/RN. A quarta seção se dedica à análise do megaevento Copa do Mundo da FIFA. Finalmente, na última seção temos as considerações finais.
2- BREVE ANÁLISE SOBRE MEGAEVENTOS ESPORTIVOS
Os megaeventos esportivos são eventos de curto prazo, no geral, e possuem foco no mercado de turismo internacional, alguns exemplos se destacam como: a Copa do Mundo, os Jogos Olímpicos, Commomwealth Games, Olimpíadas de Inverno, Jogos Pan-americanos, entre outros. Para Preuss (2006), os órgãos esportivos internacionais utilizam a ideia do legado positivo como justificativa para acolher tais eventos que podem impulsionar investimentos, melhorar a infraestrutura local, aumentar a renda e emprego.
Ao longo dos últimos anos, especialmente com o fenômeno da “globalização”, houve uma ampla integração dos mercados, transportes e comunicação. Assim, o esporte ingressou como uma das formas de indústria de entretenimento e está diretamente associada ao mundo dos negócios. As inovações tecnológicas permitiram uma maior integração entre os diversos países, e como o esporte possui uma linguagem universal, isso reforça a ideia de que esses eventos sejam um poderoso recurso de articulação política, social e econômica (PEREIRA, 2009).
Entretanto, várias críticas são feitas no que diz respeito aos locais que sediam esses megaeventos, principalmente em países em desenvolvimento, uma vez que para a realização desses eventos torna-se necessário a viabilização de uma grande infraestrutura de apoio e grandes aportes financeiros. Nesse sentido, a cidade deve disponibilizar equipamentos esportivos, uma rede hoteleira e de transportes que atenda ao público e organizadores do evento.
De acordo com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada- IPEA (2008) alguns eventos tiveram resultados satisfatórios como os Jogos Olímpicos de Barcelona em 1992 (Espanha), Sydney 2000 (Austrália) e Pequim 2008 (China). O exemplo notório foi o da cidade de Barcelona, em que esta passou por um boom econômico pós-evento, com os aumentos dos investimentos para os Jogos os resultados foram desde uma transformação urbana a diminuição da taxa de desemprego e aumento da renda. Tal constatação também foi vista em Pequim e Sydney: aumento do emprego e renda. Para além desses resultados, o IPEA (2008) destaca que:
Investir na cidade (e região), e não no evento, é algo que deve ser colocado como prioridade na hora de formular uma proposta de candidatura. Antes dos estádios, ginásios, piscinas, alojamentos é importante pensar na questão das facilidades de transporte e comunicação, na questão ambiental e na segurança e conforto dos turistas e atletas, por exemplo. (IPEA, 2008, p. 47)
O Brasil sediou Copa do Mundo de 2014, diferentemente da oportunidade de ter sediado a Copa de 1950, em que o país estava inserido em um ambiente econômico bem diferente, não havia sequer transmissão televisiva, tampouco existia uma identificação tão significativa entre o Brasil e o futebol. A Copa de 2014 poderia ser uma oportunidade para catalisar investimentos, que possam resultar em melhorias na infraestrutura e nas condições da vida da população brasileira.
Após a definição das cidades que iriam sediar o megaevento, foi elaborada uma Matriz de Responsabilidade, este documento aborda as áreas básicas de infraestrutura para receber a Copa do Mundo de 2014: portos, aeroportos, estádios, rede hoteleira e mobilidade urbana. Estabelecendo as responsabilidades das esferas da União, estado, Distrito Federal ou Município, o instrumento foi assinado em 2010 pelos entes federativos responsáveis pela preparação do evento. Assim, a Matriz permite o dimensionamento dos gastos previstos, bem como, uma visão geral das fontes de financiamentos: Caixa Econômica Federal (CEF) e Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
De acordo com o documento elaborado pelo Ministério do Turismo em parceira com a Fundação Getúlio Vargas, intitulado Propostas Estratégicas de Organização Turística das Cidades-sede da Copa do Mundo-2014 (2009), o megaevento esportivo será uma grande oportunidade do país se promover entre os principais destinos turísticos, o que só seria possível com muitos anos de campanhas publicitárias. Para isso o Ministério do Turismo delineou quatro eixos de atuação:
De acordo com o Ministério do Turismo, no ano de 2014, o Brasil recebeu mais 6,4 milhões de turistas estrangeiros, sem contar os turistas nacionais que visitaram as cidades-sede. Para atender os requisitos da FIFA, há uma complexidade na adequação da infraestrutura básica para o evento, sendo necessários não só os estádios e padronização do acesso ao evento, mas também uma estrutura de tecnologia de informação nas cidades-sede, os centros de mídia- IMCs (Internacional Media Centers) e de broadcasting (Internacional Broadcasting Center, ou IBC) e as instalações de Fan Parks (espaço público qualificado pela FIFA para exibição dos jogos).
3 BREVE HISTÓRICO DA CIDADE DE NATAL E A COPA DO MUNDO 2014
A cidade de Natal está localizada no litoral oriental do estado do Rio Grande do Norte, na mesorregião leste potiguar (IBGE), na microrregião de Natal (IBGE) e pertence à Região Metropolitana de Natal, que é composta pelos municípios: Ceará-Mirim, Extremoz, Macaíba, Monte Alegre, Natal, Nísia Floresta, Parnamirim, São Gonçalo do Amarante, São José do Mipibú e Vera Cruz.
A economia de Natal é bastante concentrada no setor terciário (comércio e serviços), com destaque para o setor de turismo. O setor primário é inexpressivo na economia local do município, devido ao processo de metropolização. O setor secundário é caracterizado pela inexistência de atividade do setor de indústria pesada, ou seja, não possui a indústria de base e de bens de capital. No munícipio, as atividades industriais com maior representatividade são as de informática, fabricação e venda de móveis, confecções, produção e distribuição de produtos farmacêuticos e pequenas metalúrgicas.
Durante muitos anos, a atividade predominante na cidade de Natal foi a administrativa, principalmente, pela quase inexistência de atividades econômicas mais relevantes que tornassem a região um centro comercial importante. A partir de meados da década de 1970, as instalações de alguns empreendimentos públicos e privados moldaram a dinâmica econômica e espacial da cidade, como a construção do Campus Universitário da Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN; a instalação do Centro de lançamentos de foguetes da Barreira do Inferno; a construção do Laboratório do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), entre outros.
Nos anos 1980, houve um crescimento da atividade turística, incentivada também pelo desenvolvimento do setor de serviços. Com a chegada de novos tipos de estabelecimentos comerciais dos mais variados portes. Ao mesmo tempo, aconteceu a construção da Via Costeira, permitindo o acesso da praia de Ponta Negra às proximidades do Forte dos Reis Magos, bem como, a chegada de vários hotéis de alto padrão no percurso dessa via. Os novos padrões de serviços implantados modificaram as relações comerciais na capital, e também com os demais municípios do estado.
A cidade de Natal se destaca como o principal destino turístico do estado do Rio Grande do Norte. Nos últimos oito anos, o fluxo de turistas cresceu aproximadamente 55%, atingindo 2,2 milhões em 2010.
O estado do Rio Grande do Norte encontra-se dividido em cinco polos turísticos: Polo Costa das Dunas, Polo Costa Branca, Polo Serrano, Polo Seridó e Polo Agreste / Trairi. Sendo que cada polo possui características diferenciadas, entre os polos citados, podemos destacar o Polo Costa das Dunas, que é o principal destino turístico do estado, é caracterizado pelas praias, dunas e falésias. Neste polo, Natal, Pipa e Tibau do Sul, são os principais destinos turísticos.
A cidade de Natal oferece hotéis de níveis internacionais, pousadas, flats e outras unidades de hospedagem, há um total de 26 mil leitos aproximadamente. Considerando Pipa e Tibau do Sul, são aproximadamente 30 mil leitos ao total. A principal oferta de hotéis em Natal é dividida entre Ponta Negra e Via Costeira, sendo que na Via Costeira, os hotéis são maiores e possuem uma melhor infraestrutura. O bairro de Ponta Negra se destaca pela presença de bares, restaurantes e casas noturnas.
Para atender as exigências da FIFA para a Copa de 2014, a cidade estava numa situação confortável com relação aos números de leitos hoteleiros disponíveis. Entretanto, investimentos no setor turístico devem ser realizados para diversificar a atividade no estado, já que o Polo Costa das Dunas é o destino predominante para os turistas nacionais e estrangeiros. Assim, devem ser incentivados programas de interiorização do turismo no estado do Rio Grande do Norte, fomentando o crescimento de outros Polos Turísticos.
Muitos são os desafios para se estabilizar como um destino turístico, especialmente com a realização de um megaevento esportivo, Matheson (2006) ao fazer uma avaliação dos megaeventos esportivos, no caso da Copa do Mundo de futebol, o autor acredita que esse evento faz uma substituição de turistas usuais por “turistas-copa”, em que esses últimos podem ter gastos na cidade-sede significativamente menor, já que as despesas estarão mais relacionadas com os ingressos e deslocamentos para o evento.
É importante salientar que novos destinos aparecem na disputa pelas viagens e turismo em âmbito mundial. Com a emergência da globalização, o espaço torna-se cada vez mais competitivo, as regiões que buscam consolidar a atividade turística, terão que se adaptar às orientações do mercado, estabelecendo diferenciais na infraestrutura receptiva e nos serviços turísticos.
Diante disso, a Copa do Mundo, pode ser uma ocasião favorável para dinamizar e consolidar a atividade turística na capital do estado do RN. Como também, pode representar uma oportunidade de melhorias na infraestrutura urbana e turística. Todavia, isso só poderá ser viabilizado, a partir de uma gestão responsável que respeite os aspectos ambientais, econômicos e socioculturais de desenvolvimento sustentável.
O turismo de eventos esportivos é feito por visitantes de acontecimentos esportivos, com o intuito de acompanhar as competições. Diante disso, é importante estabelecer a diferenciação entre Turismo de Eventos Esportivos e o Turismo Esportivo. No Turismo de Eventos Esportivos, o turista tem o intuito de competir em alguma prova, campeonato ou jogos, ou simplesmente assistir as competições. Enquanto, o Turismo Esportivo, o turista tem o propósito de praticar o esporte por lazer ou treinamento, sem o objetivo de competir. Assim, essas duas formas de turismo esportivo poderá ser uma oportunidade para o setor, podendo influenciar diretamente no desenvolvimento desse segmento. (PREFEITURA MUNICIPAL DO NATAL, 2009).
De forma geral, os eventos esportivos podem representar uma área importante para o desenvolvimento da atividade turística, além de possibilitar que as cidades localizadas na região metropolitana, sejam impactadas de uma forma direta ou indireta. Diretamente na disponibilização de hospedagem, ou de forma indireta, na oferta de insumos para o crescimento a atividade.
3.1 PROJETO NATAL NA COPA DE 2014
Após o anúncio da vitória do Brasil, como país sede da Copa do Mundo de Futebol FIFA, dezoito cidades do país se mobilizaram na busca de se tornar uma das cidades-sede dos jogos. A Assembleia Legislativa e a Prefeitura de Natal instituíram a Comissão de Copa de 2014 e o Grupo de Trabalho, buscando desenvolver ações em prol da candidatura de Natal. Assim, em maio de 2007 a cidade de Natal apresentou o Caderno de Encargos, com a proposta de representar o país na Copa. A partir desse momento, foram analisados diversos cenários para a organização de um projeto básico que atendesse as exigências da FIFA.
Entre esses cenários estava a demolição do Estádio João Cláudio de Vasconcelos Machado (conhecido como Machadão) e do Ginásio Poliesportivo Humberto Nesi (conhecido como Machadinho). Em 2008, foi assinado um termo de compromisso entre o governos Estadual e Municipal, neste mesmo ano foi contratada a empresa PricewaterhouseCoopers para assessorar e conduzir o Projeto Natal 2014, e a empresa CDCA para desenvolver o projeto básico do estádio.
Em 2009, foi criado o Comitê Executivo Natal 2014 que tinha o objetivo de discutir assuntos relacionados à Copa do Mundo FIFA Brasil 2014, sendo composto por representantes estaduais e municipais, bem como, representantes de entidades ligadas ao esporte no Rio Grande do Norte.
Em 15 de janeiro de 2009, foi entregue o Projeto Básico da Arena das Dunas e as garantias devidamente assinadas pela Governadora do estado, naquele momento, Wilma Maria de Farias, e pela Prefeita de Natal, Micarla de Araújo Sousa. Também foram apresentadas as cartas de potenciais investidores no município como cidade-sede do evento. Entre os principais objetivos do Projeto Natal 2014, estavam: o atendimento as exigências FIFA; criação do Plano Executivo Natal 2014; levantamento de projetos atuais e futuros que tenham impacto com o Copa do Mundo FIFA Brasil 2014; estruturação e oficialização do Comitê Executivo Natal 2014.
Quanto ao Plano Executivo de Natal 2014, este foi preparado em cinco etapas metodológicas: planejamento dos trabalhos (validação do plano de trabalho); caracterização do ambiente atual; visão de futuro; desafios para o futuro e conclusão dos trabalhos. Sendo analisadas as seguintes dimensões: Mobilidade Urbana, Aeroportos, Portos, Energia, Segurança Pública, Turismo, Rede Hospitalar, Saneamento Básico e Telecomunicações.
Com o objetivo de conduzir os trabalhos de forma integrada entre as esferas do setor público e entidades privadas, foi criada a Estrutura Organizacional do Projeto Natal 2014. Esta foi dividida em três setores: Turismo, Infraestrutura e Esporte. Tendo o acompanhamento do Comitê Executivo que é composto por dezoito órgãos, que foram:
Através da assinatura do Termo de Compromisso pelos representantes dos governos estaduais e municipais, e a entrega dos documentos para o LOC, todas as cidades que se candidataram ao evento teriam que cumprir uma série de exigências. Entre essas exigências, a assinatura de garantias complementares municipais e estaduais, cartas de intenção de investidores privados e a elaboração do projeto básico da arena.
Com o estabelecimento da Matriz, que envolvia os investimentos para as Arenas e Mobilidade Urbana, foi feita a diferenciação entre os gastos com projetos, obras e desapropriações, possibilitando assim, uma avaliação do projeto em relação às obras. No lançamento do “PAC da Copa 2014” foi divulgado a destinação de R$ 1 bilhão para investimentos em aeroportos e uma linha de crédito do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) de 1 bilhão para o ramo da hotelaria.
De acordo com a Matriz de Responsabilidade, na cidade de Natal, as obras de Mobilidade possuem dois eixos. Para o Eixo 1, haverá a integração do novo aeroporto, São Gonçalo do Amarante, à Arena das Dunas e ao Setor Hoteleiro, com a: implantação do acesso ao novo aeroporto pela BR-406; Reestruturação da Avenida Mor Gouveia, com a construção de pontilhão elevado e viaduto; Ligação da Via Costeira com a Avenida Engenheiro Roberto Freire, com a eliminação da rótula existente; entre outros complexos viários, construção de um viaduto integrando as avenidas Ayrton Senna e Roberto Freire, na zona sul da capital. No Eixo 2, refere-se a implantação da Via Prudente de Morais, que sofrerá um prolongamento até a BR 101, objetivando melhorar o trânsito da Arena para o Aeroporto Internacional Augusto Severo no município de Parnamirim. Os gastos com as obras de Mobilidade Urbana totalizam um valor R$ de 9.796,50. Desse valor, a cidade de Natal corresponde com R$ 361,00 milhões, aproximadamente 4%.
A tabela 2 apresenta os gastos com os projetos de Mobilidade, verificou-se que a soma total dos gastos é de aproximadamente R$ 237,1 milhões. Assim, para a cidade de Natal os gastos com projetos são de 2 %. Para esta cidade, as despesas representam aproximadamente 1,6 % do valor das obras, que foi exposto na tabela 1.
Os gastos totais (obras, projetos e desapropriações) com a Mobilidade Urbana no Brasil para a Copa do Mundo alcançarão, aproximadamente, R$ 11,461 bilhões. A tabela abaixo apresenta os investimentos em mobilidade, a cidade que com maior volume de investimentos é São Paulo, correspondendo a 25% do valor total. Já a cidade de Natal apresenta uma das menores participações com 4 %.
As ações que envolvem projetos para as arenas tem previsão de investimento de R$ 100,8 milhões. A tabela a seguir ilustra os recursos financeiros destinados às unidades federativas do Brasil. No caso da cidade de Natal, os projetos giram em torno de R$ 16 milhões, sendo o segundo mais elevado depois da cidade de Belo Horizonte, R$ 17,8 milhões. O valor descrito para Natal corresponde ao projeto básico para a construção da Arena das Dunas, que é de responsabilidade do Governo Estadual.
As informações disponibilizadas pelo Ministério dos Esportes, que abrange intervenções nas arenas para a Copa totalizam aproximadamente R$ 5,5 bilhões. Desse total, os maiores recursos destinados para reformas ou construções de arenas, estão concentrados no Distrito Federal, que tem uma previsão de R$ 740,00 milhões.
Na cidade de Natal, foi construída a Arena das Dunas, no local do Estádio Machadão e Ginásio Poliesportivo Machadinho. A origem dos recursos é do Governo Federal com o financiamento pelo BNDES, responsável por aproximadamente 75 % do valor das obras, R$ 250 milhões. Enquanto, o Governo estadual ficou responsável por R$ 83,5 milhões.
De acordo com informação do BNDES, a solicitação de crédito do Governo do estado do Rio Grande do Norte tem como prazo de concessão administrativa de 20 anos, compreendido o prazo para a execução da obra e da efetiva prestação do serviço. Sendo os contratantee: Departamento de Estradas e Rodagens do Rio Grande do Norte – DER. Contratado: Arena Das Dunas Concessão e Eventos S /A, ligado à construção OAS.
Com relação, ao Aeroporto Internacional São Gonçalo do Amarante-RN, segundo o Ministério do Esporte, o projeto foi adicionado via Termo Aditivo à Matriz de Responsabilidade. O projeto compreende a construção do terminal de passageiros, sistema viário de acesso, infraestrutura da pista de pouso, proteção ao voo, entre outros.
4 A CIDADE DE NATAL E OS DESAFIOS PÓS COPA DO MUNDO 2014
Um dos setores que sofre impacto com a realização dos megaeventos esportivos é o setor de turismo. É importante salientar que novos destinos aparecem na disputa pelas viagens e turismo em âmbito mundial. Em um ambiente cada vez mais competitivo, as regiões que buscam consolidar a atividade turística, terão que se adaptar às orientações do mercado, estabelecendo diferenciais na infraestrutura receptiva e nos serviços turísticos.
Diante disso, a Copa do Mundo de 2014, configura-se em uma ocasião favorável para dinamizar e consolidar a atividade turística na capital do estado. Como também, pode representar uma oportunidade de melhorias na infraestrutura urbana e turística. Todavia, isso só pode ser viabilizado, a partir de uma gestão responsável que respeite os aspectos ambientais, econômicos e socioculturais de desenvolvimento sustentável.
De forma geral, os eventos esportivos podem representar uma área importante para o desenvolvimento da atividade turística, além de possibilitar que as regiões localizadas no entorno das cidades-sede, sejam impactadas de uma forma direta ou indireta. Diretamente na disponibilização de hospedagem, ou de forma indireta, na oferta de insumos para o crescimento a atividade.
Diante dessa realidade, a Copa do Mundo 2014 poderia representar uma ocasião de melhorar das lacunas existentes no estado que, entre outras, destacam-se:
Entretanto, uma análise posterior ao evento mostra que os principais desafios ainda perduram no RN, tais como: melhorias na qualificação de profissionais e gestores de equipamentos turísticos, bem como do conhecimento da legislação ambiental; melhorias no acesso a infraestrutura local; serviços receptivos deficientes; descontinuidade de políticas públicas com a mudança de gestão; marketing deficitário com relação aos aspectos naturais da cidade.
Diante do que foi exposto, a vinda de um megaevento esportivo pode trazer bons resultados para a região, entretanto, a partir de um ponto de vista econômico, é necessário que a sociedade possa participar efetivamente das decisões. Visto que, o custo de um evento não pode ser medido pela quantidade de recursos necessários para executá-lo, mas sim, pelo valor que a sociedade poderá perder se esse investimento fosse alocado para um melhor projeto público. Espera-se que haja uma maior articulação dos representantes políticos com a sociedade, tendo em vista perceber as principais necessidades locais.
A despeito da ampla aceitação de um megaevento no que tange a possibilidade de geração dos famosos legados positivos. Verifica-se que os resultados nem sempre são positivos como são “vendidos”. Tal fato leva-nos as discussões sobre os locais desses eventos, especialmente quando ocorre em países em desenvolvimento e com características de disparidades sociais e econômicas como é o caso do Brasil.
Conforme Andreff (2006), apesar do que seja noticiado, o esporte não é uma área prioritária na destinação de recursos nos países em desenvolvimento, especialmente quando as demandas sociais são precárias e ineficientes. No caso do Brasil, além dos atrasos na entrega dos estádios, a remoção de famílias que residiam em áreas destinadas a construção dos equipamentos esportivos foi um aspecto muito negativo, pois levou apenas em consideração os anseios do capital e os interesses da especulação imobiliária desses locais.
Em suma, com relação ao caso da cidade de Natal, observa-se que os benefícios gerados ficaram bastante limitados ao período do evento. Além do mais, estudos mais direcionados a obtenção de dados e entrevistas seriam necessários para uma conclusão mais efetiva sobre os resultados do evento. No caso da Arena das Dunas, as opiniões divergem quanto a sua capacidade de manutenção na cidade.
CONCLUSÃO
Como relatado nas seções anteriores, os defensores dos megaeventos esportivos justificam a hospedagem desses eventos pelos benefícios econômicos e sociais gerados. No entanto, para acolher tais eventos é necessário a destinação de um grande volume de recursos operacionais, o que torna incerto os resultados gerados, especialmente, em países subdesenvolvidos.
Hospedar um megaevento esportivo pode trazer a possibilidade de uma série de benefícios para a população. Entre esses benefícios, podemos citar: a inclusão social ao esporte e melhorias na imagem da comunidade; os jogos também podem trazer melhorias na infraestrutura, aumento de renda e emprego. No entanto, é importante salientar que melhorias na infraestrutura devem ser combinadas com o desenvolvimento da cidade a longo-prazo. Da mesma forma, o aumento da renda poderá está limitado ao curto-prazo, por isso é necessário que as novas instalações induzam a novos impactos e um aumento do nível de atividade econômica. Por último a nova imagem deve ser mantida para dinamizar o turismo nos períodos pós-megaevento esportivo.
Quanto ao caso brasileiro, os legados não se mostraram dinamizadores para a economia do país. Por isso, é essencial ser realista sobre os possíveis benefícios da Copa do Mundo, para que estes não se percam em projetos superestimados e que não atendam as necessidades locais da comunidade. Desse modo, se faz necessário um planejamento adequado para o sucesso do evento. De forma que é essencial a proximidade dos Comitês Organizadores com a população, tendo em vista perceber suas necessidades, dirimir possíveis dúvidas, para que haja uma parceria entre o ente público e a população.
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* Doutoranda em economia pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Mestre e graduada em economia pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).