Revista: CCCSS Contribuciones a las Ciencias Sociales
ISSN: 1988-7833


INTRODUÇÃO DA CULTURA ESCRITA NUMA FAMÍLIA DO MEIO RURAL EM MUNICÍPIO DA ZONA SUL DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

Autores e infomación del artículo

Ademir Cavalheiro Caetano*

Universidade Federal do Rio Grande, Brasil

ademir29@hotmail.com

RESUMEN:
            Por médio deste trabajo de investigación se pretende explicar cómo ocurrió la introducción de la cultura escrita en una família numerosa, y de pequeños agricultores,  que vivierón en el interior de una ciudad, esa tiene una de las mayores cantidades de pequeñas propiedades rurales del Brasil. A lo largo del texto será posible entender como la escrita llegó a esa família que, a través de la necesidad de comunicarse, buscó desarrollar los contenidos alfabéticos y numéricos para el entendimento em el médio que vivian y, también, aprovechar al máximo el fruto de su trabajo cuanto a la comercialización de los produtos que extraían del suelo. Se pretende demostrar el esfuerzo de modo que pueda asimilar el domínio de la escrita na búsqueda de los saberes que los permitiesen vivir mejor y com más cualidad. Al final evidenciamos algunos detalles de como cambió el modo de vivir de esta família objeto deste estúdio.
Palabras claves: Historia de la educación. Historia de vida. Cultura escrita. Família rural. Alfabetización.
RESUMO:
            Através deste trabalho de pesquisa se pretende explicar como aconteceu a introdução da cultura escrita em uma família numerosa e de pequenos agricultores que viveu no interior de um município que tem uma das maiores quantidades de minifúndios ( pequenas propriedades rurais ) do Brasil. No decorrer do texto será possível entender como a escrita chegou a uma família de pequenos produtores rurais, que sentiam a necessidade de dominar os conteúdos alfabéticos e numéricos como forma de entender e melhorar a comunicação com o meio em que viviam, e também aproveitar ao máximo o fruto do seu trabalho quando da comercialização dos produtos que extraíam do solo. Se pretende demonstrar o esforço que faziam para assimilar o domínio da escrita na busca de saberes que lhes pudesse permitir viver melhor e com mais qualidade. Ao final evidenciamos alguns detalhes de como mudou o modo de viver da família objeto deste estudo.
Palavras chaves: História da educação. História de vida. Cultura escrita. Família rural. Alfabetização.


Para citar este artículo puede utilizar el siguiente formato:

Ademir Cavalheiro Caetano (2017): “Introdução da cultura escrita numa família do meio rural em Município da Zona Sul do Estado do Rio Grande do Sul”, Revista Contribuciones a las Ciencias Sociales, (julio-septiembre 2017). En línea:
http://www.eumed.net/rev/cccss/2017/03/introducao-cultura-escrita.html

http://hdl.handle.net/20.500.11763/cccss1703introducao-cultura-escrita


1.         INTRODUÇÃO
No texto que segue, tentamos como objetivo, explicar como aconteceu a introdução da cultura escrita em uma família do meio rural em município da zona sul do Estado do Rio Grande do Sul. Inicialmente, pode-se afirmar que é um trabalho autobiográfico, que relata importantes tempos vividos quando criança e adolescente ao passo que tenta reproduzir também o conteúdo retido na memória do observador que conviveu com as pessoas envolvidas com os acontecimentos que resultaram no objeto de estudo, que foi relatar a absorção da cultura escrita naquele círculo familiar. O período de abrangência abarca o final dos anos cinquenta e os primeiros anos da década de sessenta do século XX.
2.         METODOLOGIA
            Considerando o que Galvão (2010:218) afirma, as pesquisas sobre a cultura escrita tem uma abordagem histórica, buscamos dentro desse enfoque, saber como o escrito é ocupado em determinado grupo social. A autora também se refere como o uso da leitura e da escrita numa sociedade pode nos levar a compreender o que o escrito ocupa nessa mesma sociedade. No trabalho que de Galvão são apresentadas cinco dimensões para se estudar a cultura escrita em uma perspectiva histórica. No presente trabalho, buscamos apoio na primeira das cinco dimensões que ela apresenta, que são as instâncias ou instituições que podem se responsabilizar pelo ensino da leitura e da escrita, na terceira dimensão, que trata sobre o lugar ocupado pelos impressos, entre outros, na oralidade secundária e a quarta via, que focaliza os sujeitos que constroem os lugares simbólicos e materiais que o escrito ocupa nos grupos sociais.
No suporte para o presente trabalho buscamos apoio no texto de Elsie Rockwell (2010:121) que trata da escrita em contextos de bilinguismo, que é o caso que apresentamos: colonos descendentes de imigrantes da extinta Pomerânia[1], cujo território foi ocupado pela hoje República Federal da Alemanha[2], acostumados a falar no dialeto dos antecedentes e tendo que enfrentar no dia a dia da escola multisseriada do lugar o desafio de aprender a ler e escrever na língua oficial do País. No texto o autor descreve o resultado de sua pesquisa da cultura oral e a entrada no mundo da escrita de populações indígenas do México e para o caso deste trabalho, trouxemos algumas observações de Rockwell, que entendemos ser aplicáveis a este estudo.
            No decorrer do texto, mostrando a importância da escrita naquele grupo social e como escreveu Marinho (2008:163), a entrada no mundo das letras permite cumprir determinadas finalidades, entre elas a de facilitar o relacionamento interpessoal. No texto evidenciamos a importância da escrita para o relacionamento interpessoal das pessoas do grupo objeto do trabalho.
            Outra forma de mostrar o contato com as letras, de forma semelhante ao que Souza (2007:411) relata, a busca pelo entretenimento através da visita a um vizinho e durante as reuniões, que eram voltadas para o laser, acontecia em diversos momentos à leitura das principais notícias veiculadas em jornal da capital.
            Dentre as práticas de socialização apontadas por Manke (2006:16) está a instituição escolar, para desenvolver a competência para a prática da leitura e da escrita. As competências desenvolvidas com a frequência a instituição escolar foram vivenciadas pelo grupo estudado na forma como relatamos no decorrer do texto. No trabalho a abordagem privilegia a oralidade primária[3] que segundo Ong (1998) é a das pessoas que não sabem ler nem escrever.
            No caso deste estudo, em local de escolarização e de difusão da imprensa tardias, como conclui Galvão (2006:430), ganha relevância a investigação sobre o papel desempenhado por práticas intelectuais ainda ancoradas na oralidade, na memorização ou de outros vetores como o rádio.
            Em pesquisa de Galvão (2007:38), ela constatou que as pessoas que detinham as maiores competências para ler folhetos de cordel em voz alta, exerciam poder sobre os demais, e isto pode ter acontecido com o grupo social estudado, ou seja, a necessidade de elevar-se diante de seus pares nas reuniões durante as atividades de laser nos eventos promovidos na localidade. Ainda segundo esta autora, mesmo depois de inseridos no mundo das letras, a oralidade e a narrativa compõem modos de se relacionar com o mundo, portanto, não são excluídas após o letramento[4].
3.         CULTURA ESCRITA
 A família era constituída pela viúva e cinco filhos do segundo casamento. Eventualmente, a esse grupo juntava-se os outros seis filhos do primeiro casamento e alguns dos netos. No decorrer do texto ficam evidências de biografia de pequenos períodos da infância bem como a utilização da memória para narrar fatos que foram acompanhados de perto ou vivenciados àquela época, ainda que em tenra idade.
            O imóvel situava-se a uma distância – comentava-se a época - de 18 km do pequeno núcleo urbano da sede municipal, constituído por uma igreja católica e outra protestante, o prédio da prefeitura, o casarão antigo em frente à praça com os serviços de torrefação e moagem de café e a praça que tinha um muro de contenção e apenas duas quadras calçadas com paralepípedos.
De Pelotas a distância era de 65 km, percorridos por estradas estreitas e sinuosas, com muitos aclives e declives, em caminhões que traziam da cidade, mercadorias não produzidas no local e levavam os excedentes da produção agrícola, principalmente feijão e batata e da pecuária, pesados porcos, para orgulho dos produtores, que afirmavam terem uma espessa camada de banha que os revestia.
A pequena propriedade deveria ter em torno de 27 hectares, parte coberta por matas com frondosas árvores as margens do arroio que dividia as “terras”, como falavam naqueles tempos. Duas estradas cortavam o imóvel, sendo que uma delas conhecida como a estrada “real”, ou seja, a principal via de circulação que ligava os moradores das redondezas aos locais para onde a produção de bens primários era destinada, principalmente a Pelotas, cidade que recebia os exemplares vivos da suinocultura para abate no bairro conhecido como Três Vendas. Havia uma área com boas pastagens para alimentação de bovinos, outra com muitas pedras, portanto inaproveitáveis, e as lavouras, onde produziam o milho, a batata, o feijão, a ervilha e pequena quantidade de laranjas e pêssegos.
Pelos anos do segundo quinquênio da década de 50 do século XX, nos meses de janeiro e fevereiro e também julho de cada ano, era um período de muito entusiasmo e de enorme expectativa para os filhos de trabalhadores urbanos, oriundos do meio rural, ele dos campos e coxilhas do município de Herval e ela do meio agrícola, das culturas de milho, feijão, ervilha e batata. O entusiasmo e a expectativa, por óbvio, eram dos filhos ansiosos para passar a temporada de verão ou inverno na casa da avó materna. Lá os rigores do acompanhamento do pai e da mãe eram substituídos pela doçura da avó, que permitia aos netos, algazarras e arruaças.
A viagem constituía-se em motivo de alegria e satisfação por subir na carroceria do pequeno caminhão e viajar em meio às mercadorias ali depositadas, brincando e rindo e quando chegava o anoitecer, não restava outra coisa senão dormir enrolados em velhos cobertores.
Apesar da pouca idade, alfabetizado aos cinco anos, pois gostava de ler a manchete da capa do jornal do partido comunista, que o pai trazia embaixo do casaco quando retornava do trabalho e olhar atentamente o mapa da, então, União das Repúblicas Socialistas Soviéticas[5] e sonhar que um dia poderia visitar Petrogrado[6].
Contrastando com o ambiente familiar de pessoas pouco conhecedoras dos livros, mas sedentas para saber o que os escritos transmitiam, na casa da avó materna, o grupo de seis pessoas que ainda residia no meio rural estava conhecendo as primeiras letras na pequena e única escola multisseriada disponível para quem tivesse interesse em adentrar ao mundo dos alfabetizados.
Naqueles tempos já podia perceber o quanto era valioso saber ler, com os pedidos para ler o livreto do Laboratório Catarinense, famoso por produzir a pomada Minâncora. Também era solicitado para ler o rótulo verde do vidro do Biotônico Fontoura. Fazia parte da “literatura” disponível na casa da avó alguns exemplares de livretos de outros laboratórios e do Almanaque do Pensamento. Famoso também era o texto que acompanhava os frascos do Sadol. E, outros mais que no momento não recordo.
Todos sabiam a importância da leitura, tanto que guardavam os impressos que circulavam e esperavam até a oportunidade de pedir que alguém lhes informasse o conteúdo de cada um daqueles escritos. Sabendo dessa importância e que tomaram a inciativa de procurar a escola. Sabiam que aprender a ler, significava também saber escrever e também como Marinho (2010:163) afirmava, a escrita participa das esferas religiosas, escolares, das relações interpessoais, do trabalho e da organização da vida familiar. E, isto apressava a necessidade de entrar em contato com a escrita e por consequência viver a cultura escrita.
No entanto, havia um problema a ser superado, o pai dos cinco filhos, descendente de imigrantes germânicos, pelo que presenciei no cotidiano, falavam o dialeto que conheciam. A minha avó aderiu plenamente e todos falavam, praticamente o tempo todo, no que chamavam de dialeto pomerano. E, na escola, embora a professora também fosse oriunda de casa de descendentes de imigrantes, a língua falada era o português. O hábito de falarem o dialeto, muitas vezes causava algum desconforto com brincadeiras das tias e tio que a mim se dirigiam pronunciando palavras que jamais tivera ouvido. Isto protagonizou algumas encrencas, que a minha avó conseguiu resolver com habilidade.
Vale ressaltar que o dialeto era transmitido de uma geração a outra apenas pelo que se ouvia. Não havia nenhum escrito no dialeto e as palavras mais novas inseridas no vocabulário eram pronunciadas em português entre as demais palavras alienígenas. Um exemplo, a palavra “caminhão”, que era desconhecida no “alemão” daquelas pessoas. No texto de Rockwell (2010:120), embora seja de uma pesquisa realizada no México, é possível utilizar suas conclusões aplicando a este estudo e como ele assinalou, há uma profunda brecha ente uma cultura escolar e a vida cotidiana das crianças. Do falar o dialeto em tempo integral em casa à instrução formal na escola, onde era usada a língua oficial do país, havia o reconhecimento (Rockwell, 2010:121) de dominar o escrito para melhorar o entendimento nas relações, pois se fazia necessário adentrar em outro mundo, o da escrita.
Naquele núcleo familiar, ávido do conhecimento das letras, outra evidência disso, era a necessidades de obter informações sobre os acontecimentos nacionais e internacionais. No meio rural, Souza (2007:411) afirma que a comunidade possui poucos espaços de convivência e participação, além dos espaços domésticos e que entre as principais atividades estão os relacionamentos com vizinhos. E, para manterem-se “atualizados”, todas as semanas o professor, vizinho idoso, que residia talvez a um quilômetro de distância, recebia a visita de toda a família, e para estes fazia a leitura das principais notícias veiculadas no jornal Correio do Povo, editado na capital do Estado. Obviamente, que eram notícias divulgadas há dois ou três dias. Aqui, também fica evidenciado o que Manke (2016:16) afirma que a instituição escolar ocupa papel importante para as práticas de socialização, pois dominando as “letras”, nas reuniões com o vizinho poderiam participar de forma atuante e menos passiva, como antes faziam, ouvintes do leitor do jornal.
Após a leitura de parte do jornal, as pessoas eram agrupadas por vozes e então o coral improvisado entoava diversas canções conhecidas. Estranho era o cântico de algumas canções em “alemão”, que talvez viessem com os imigrantes e que eram cultivadas até aqueles anos, reproduzindo-se por tradição, pois não havia escritos que se conhecesse. Alguns comentários desagradáveis eram ouvidos, pois como crianças da cidade não detinham aqueles conhecimentos que por lá eram comuns. Isto evidencia, também, a necessidade que aquelas pessoas sentiam de dominar o escrito, conforme Galvão (2007:38) para elevarem-se diante de seus pares nos eventos promovidos na localidade, pois aqueles que detinham as maiores competências para ler exerciam poder sobre os demais. Galvão constatou isso na literatura de cordel, mas que serve para aplicação neste trabalho.
Em um dos anos da década de 60 do século passado, a permanência na casa da avó não se restringiu apenas aos principais meses de verão e de inverno. A crise financeira que atingiu o estado gaúcho, ocasionou atrasos de salário dos servidores estaduais em até seis meses. Decorridos mais de dois meses sem rendimentos e com o corte do fornecimento de alimentos pelo proprietário do armazém da esquina, não restou alternativa, senão pedir dinheiro emprestado aos parentes de mais posses e a mãe e os dois filhos viajarem até a casa da avó no meio rural e por lá permanecerem até que a situação financeira retornasse a normalidade. Assim se fez, e na oportunidade foi possível tomar conhecimento de como foi à introdução da cultura escrita naquele núcleo familiar.
Os rigores do trabalho nas lavouras eram enfrentados de sol a sol, quebrando-se essa rotina, no período em que os cinco jovens da família assistiam às aulas na pequena escola do lugar. Do que lembro, era feita a leitura de uma cartilha em casa e muitas conversas entre eles sobre os aprendizados assimilados na escola. Nas lavouras, enquanto batiam enxada, também se falava dos assuntos escolares e assim o conhecimento dos escritos era absorvido.
Outro fator de influência para a necessidade de saber escrever foi à entrada no ar da Rádio Liberdade[7]. Um dos filhos do primeiro casamento trouxe um rádio com funcionamento a pilhas grandes e isto foi realmente um grande acontecimento para a família. Como a compra das pilhas para o funcionamento eram tidas como muito caras, permitido era ouvir a Rádio Liberdade ao levantar pela manhã, no horário dos recados ao meio-dia e a curto período no final de tarde. Afinal era preciso economizar para que não ficasse sem rádio. As transmissões da Radio Liberdade influenciavam na forma de que, o texto a ser enviado para publicação nos recados diários precisava ser bem escrito e isto por consequência auxiliava criando a necessidade de aprender a escrever bem. Doutra forma, descobriam como algumas palavras eram pronunciadas pelos locutores e aprendiam o correto na fala e como deveriam escrever. Assim que, ainda conforme Galvão (2006:430), o rádio era um importante vetor nas práticas intelectuais ancoradas na oralidade
4.         CONSIDERAÇÕES
Numa abordagem histórica de como aconteceu à introdução da cultura do escrito e como foi assimilada pelo grupo social, neste caso, numa família de pequenos produtores rurais estabelecido em importante município da Zona Sul do estado gaúcho.
Apresentamos as várias etapas que foram vencidas até o domínio das letras pelo grupo que foi objeto deste trabalho.
Num primeiro momento, em que já demonstravam o interesse e a necessidade de dominar o conhecimento das letras, a chegada dos netos para passarem as férias colegiais no meio rural era uma rara oportunidade para questionamentos sobre os escritos, entre eles os folhetos dos frascos de medicamentos, propagandas, etc., que guardavam em casa até aparecer a oportunidade de que alguém fizesse a leitura desses conteúdos. Essa leitura era aceita com satisfação, mesmo que de um garoto há pouco alfabetizado.
Os folhetos continham a indicação do modo de usar de medicamentos, propagandas de produtos farmacêuticos e também dos livretos com o horóscopo mensal e as épocas indicadas para as plantações, as fases da lua e outras curiosidades. O conhecimento era muito reduzido para entender que as recomendações eram oriundas da região da sede dos laboratórios, portanto, não necessariamente seriam as melhores para o local onde viviam esses pequenos agricultores.
Nos momentos de laser, entre eles a visita ao professor que fazia a leitura das principais noticia publicadas no Correio do Povo, àquela época um dos principais meios de comunicação impresso a circular no Rio Grande do Sul, também despertava a necessidade de também saber ler e escrever. E, isto começou a encontrar solução no momento que os filhos mais novos, oriundos do segundo casamento e conhecedores do dialeto pomerano utilizado em casa foram encaminhados a escola multisseriada. Na escola tiveram contato com a língua portuguesa, recebendo instrução formal da língua oficial do País, o que permitiria a inclusão no mundo da escrita.
Com o conhecimento da língua portuguesa adquirido na escola, o grupo ficava em situação de igualdade nos eventos promovidos naquele meio, elevando-se, portanto, diante de seus vizinhos.
Outro fator relevante, era o aproveitamento das horas de trabalho para conversar sobre os temas escolares durante o plantio ou capina das lavouras, o que evidencia o esforço que se fazia para o domínio dos conteúdos ministrados na pequena escola local.
O início das transmissões da Rádio Liberdade foi outro fator que muito auxiliou no desenvolvimento da cultura escrita entre aquelas pessoas. No horário de almoço, ouviam o tradicional programa de recados entre os ouvintes da emissora. Obviamente, que eles também utilizavam a oportunidade para enviar mensagens a parentes e amigos. E, era preciso que o escrito fosse o melhor possível, para não ouvirem posteriormente, comentários que os constrangessem.
Desse modo instalou-se então, a cultura escrita naquele núcleo familiar, fazendo-os conhecedores dos escritos, melhorando seu entendimento dos fatos que os rodeavam.
Frequentaram, os filhos mais novos, a escola até a quarta série, o máximo que se podia alcançar na escola do lugar. Posteriormente, portadores do conhecimento básico das letras, alçaram voo para a cidade, abandonando o meio rural e continuando a estudar conseguiram atividades profissionais típicas do meio urbano.
Abandonando as atividades que desenvolveram com sucesso trabalhando sob sua própria vontade, perderam o convívio com o meio onde todos foram criados. No meio urbano, alguns deles nem tanto sucesso conseguiram com nova profissão, mas que mesmo assim lhes permitiram viver dentro do aceitável no meio citadino.
Assim que, a cultura da escrita foi introduzida no seio do grupo familiar apresentado, fazendo-os melhorar a qualidade de vida com entendimento, mesmo que reduzido, do que acontecia na comunidade. Esta conquista permitiu que a vida familiar fosse mais bem aproveitada com o entendimento dos escritos que precisavam para a realização de suas atividades. O convívio social na localidade transformou-se, com a eliminação dos constrangimentos provocados pela limitação de conhecimento, constrangimentos esses que eliminados propiciaram minimizar as desigualdades.
REFERÊNCIAS
GALVÃO, Ana M. de O. BATISTA, Antonio A. G. Oralidade e Escrita: uma revisão. In: Cadernos de Pesquisa, v. 36l, n. 128, p. 403-432, maio/ago, 2006.
GALVÃO, Ana M. de O. Oralidade, memória e narrativa: elementos para a construção de uma história da cultura escrita. In: Galvão, Ana M. de O. [et. Al.] (orgs.) História da Cultura Escrita: séculos XIX e XX. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2007.
GALVÃO, Ana M. de O. Histórias das culturas do escrito: tendências e possibilidades de pesquisa. In: MARINHO, Marildes. CARVALHO, Gilcinei (orgs.). Cultura escrita e letramento. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2010.
GOULART, Cecília M. A. Cultura escrita e escola: letrar alfabetizando. In: MARINHO, Marildes. CARVALHO. Gilcinei (orgs.). Cultura escrita e letramento. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2010.
MANKE, Lisiane S., THIES, Vania G., PERES, Eliane. Laços familiares mediados pelo escrito: uma análise sociológica sobre a transmissão das práticas de leitura e escrita. 2016
MARINHO, Marildes. A cultura escrita nos meios populares. In: Castillo Gómez, Antonio (dir.); Sierra Blas, Verónica (ed.). Mis primeros pasos: alfabetización, escuela y usos cotidianos de la escritura (siglos XIX e XX). Gijón: Trea, 2008.
ONG, Walter J. Oralidade e Cultura Escrita. Trad. Enid Abreu Dobránsky. São Paulo: Papirus, 1998.
ROCKWELL, Elsie. Culturas orais ou múltiplus letramentos? A escrita em contextos de bilinguismo. IN: MARINHO, Marildes. CARVALHO, Gilcinei (orgs.). Cultura escrita e letramento. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2010.
SOUZA, Maria J. F. de. Uma aprendizagem sem folheto: quem ainda vai rezar e benzer em Barra do Dengoso? In: Galvão, Ana M. de O. [et. Al.] (orgs.). História da Cultura Escrita: séculos XIX e XX. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2007.

* Ademir Cavalheiro Caetano é mestre em Educação pela Universidade Federal de Pelotas e exerce o cargo de Administrador na Escola de Engenharia da Universidade Federal do Rio Grande
ademir29@hotmail.com 


[1]              A Pomerânia (em polonês Pomorze; em alemão Pommern; em latim Pomerania ou Pomorania; em pomerano, Pommerland) é uma região histórica e geográfica situada no norte da Polônia e da Alemanha na costa sul do mar Báltico, entre as duas margens dos rios Vístula e Odra, atingindo, a oeste, o rio Recknitz. Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Pomer%C3%A2nia Acesso em 31.03.2017


[2]                      http://www.suapesquisa.com/paises/alemanha/ Acesso em 20.03.2017.


[3]           Para Ong a oralidade pode ser primária, ou seja, daquelas pessoas que não sabem ler nem escrever ou secundária, daquelas pessoas que possuem uma cultura de alta tecnologia em que a oralidade é veiculada pelos meios de comunicação modernos.


[4]              Segundo Galvão a análise de como se usa a leitura e a escrita em uma determinada sociedade (ou seja, o estudo do letramento) pode nos levar a compreender melhor(s) o lugar (ES) que o escrito ocupa nessa mesma sociedade. Assim, entendemos que cultura escrita não é sinônimo de letramento.  Disponível em:   http://ceale.fae.ufmg.br/app/webroot/glossarioceale/verbetes/cultura-escrita Acesso em 22.03.2017


[5]              União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (em russo: Союз Советских Социалистических Республик, transliterado como Soyuz Sovetskikh Sotsialisticheskikh Respublik) ou simplesmente União Soviética, (em russo: Советский Союз, transliterado como Sovetskij Soyuz), ou URSS foi um Estado socialista localizado na Eurásia que existiu entre 1922 e 1991. Uma união de várias repúblicas soviéticas subnacionais, a URSS era governada por um regime unipartidário altamente centralizado comandado pelo Partido Comunista e tinha como sua capital a cidade de Moscou. Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Uni%C3%A3o_Sovi%C3%A9tica Acesso em 31.03.2017


[6]           A cidade de Leningrado voltava a ser chamada São Petersburgo em um dia como este, no ano de 1991, em uma homenagem ao Czar Pedro, o Grande. Ele fundou a cidade em 27 de maio de 1703 como a nova capital do Império Russo - perdeu este posto para Moscou em 1918, após a Revolução Russa no ano anterior.
Dois séculos mais tarde, em 31 de agosto de 1914, o Czar Nicolau II decretou uma mudança do nome da cidade, de São Petersburgo para Petrogrado. A partir de 1924, em homenagem ao líder revolucionário Vladimir Lenin, a cidade seria mais uma vez renomeada, para Leningrado.
Fonte: https://seuhistory.com/hoje-na-historia/cidade-de-leningrado-e-renomeada-para-sao-petersburgo-na-russia Acesso em 27.03.2017.


[7]               Primeira transmissão em 01 de maio de 1956. Fonte: http://www.radioliberdadeam.com.br/institucional Acesso em 31.03.2017.


Recibido: 09/05/2017 Aceptado: 09/08/2017 Publicado: Agosto de 2017

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