Mágila Ribeiro*
Scarlette Suelen De Paula**
Márcia Auxiliadora Fonseca***
Wesley Moreira Saraiva****
Universidade do Estado de Minas Gerais, Brasil
marciafonsecabio@hotmail.comRESUMO
A sexualidade nos é inerente, nas diferentes fases de nossas vidas, e se apresenta em um processo contínuo de descobertas, atravessa campos, categorias e instituições. O individuo adquire suas primeiras competências acerca do tema no campo familiar e no decorrer da vida, vai agregando conhecimentos. A escola é o lugar em que a diversidade se encontra, e também palco do saber. Este Trabalho de Conclusão de Curso priorizou a opinião de pais de alunos acerca da temática sexualidade tratada nos livros didáticos, referentes às turmas de 5° ano do ensino fundamental. Nossa busca fundamentou-se em compreender se o material didático atendia às necessidades dos pais, e alunos, e se esses seguiam padrões de vocabulário considerados adequados à faixa etária. Com o aparato que a pesquisa bibliográfica exploratória possibilitou, compreendemos que a sexualidade é um tema que precisa ser discutido em diversas áreas, pois ele importante no desenvolvimento do individuo. A pesquisa quanti-quali se fez por método quantitativo-descritivo. Analisamos três livros didáticos, todos destinados ao 5° ano do ensino fundamental, selecionados previamente pelo Programa Nacional do Livro Didático (PNLD), os três livros tratam sobre alguns aspectos da sexualidade. Não há um acordo que define como o tema deve ser tratado nos livros didáticos. Os Parâmetros Curriculares Nacionais, (PCN), ao tratarem dos temas transversais, inferem a Orientação Sexual algo inseparável da vida do individuo, da busca do prazer e da responsabilidade, comumente com a prevenção de doenças e quebra de preconceitos. A escola é vista como parceira da família, os pais e responsáveis dos alunos dedicam a ela considerável confiança e segurança. Destacamos a importância do processo democrático na escola, desde a escolha dos livros didáticos à tomada de decisões. É um caminho a se percorrer buscando melhorias. Compreender a confiança e satisfação dos pais a respeito do trabalho referente as escolhas dos professores nos mostra que a discussão da “tríade sexualidade”, família, escola e livro didático, pode contribuir na construção de uma sociedade em que todos são ouvidos, atendidos e respeitados. Isso em busca de formar cidadãos críticos, reflexivos e autônomos em relação, também, à sexualidade. Constatou-se, portanto, nesta investigação, que os pais pesquisados estão satisfeitos com a abordagem dos livros didáticos ao aludir o tema sexualidade com os alunos do 5º ano.
Palavras-chave: Sexualidade. Família. Educação Infantil. Livro didático.
RESUMEN
La sexualidad es inherente en las diferentes fases de nuestra vida, y se encuentra en un continuo proceso de descubrimiento, a través de campos, categorías e instituciones. El individuo adquiere sus primeros conocimientos sobre el tema en el ámbito familiar y en el curso de la vida, será la agregación de conocimiento. La escuela es el lugar donde la diversidad es, y también la etapa de conocimiento. Esto, por supuesto, el trabajo Conclusión prioridad a la opinión de los padres de los estudiantes sobre el tema de la sexualidad tratada en los libros de texto se hace referencia a los grupos de 5º curso de la escuela primaria. Nuestra búsqueda se basa en la comprensión del material didáctico respondía a las necesidades de los padres y los estudiantes, y éstos siguieron las normas de vocabulario se consideran adecuados a la edad. Con el aparato que la investigación bibliográfica posible, entendemos que la sexualidad es un tema que debe ser discutido en varias áreas como importante en el desarrollo del individuo. La investigación cuantitativa y cualitativa se realizó por el método descriptivo cuantitativo. Analizar tres libros de texto, todos para el quinto año de la escuela primaria, pre-seleccionado por el Programa Nacional de Libros de Texto (PNLD), los tres libros son acerca de algunos aspectos de la sexualidad. Hay un acuerdo que define cómo el tema debe ser tratado en los libros de texto. Los Parámetros Curriculares Nacionales (PCN), cuando se trata de los temas transversales, infieren Orientación Sexual algo inseparable de la vida del individuo, la búsqueda del placer y la responsabilidad, a menudo con la prevención de la enfermedad y los prejuicios se rompen. La escuela es vista como un socio de la familia, los padres y tutores de los estudiantes dedican su considerable confianza y seguridad. Hacemos hincapié en la importancia del proceso democrático en la escuela, desde la elección de los libros de texto para la toma de decisiones. Es una manera de ir en busca de mejoras. La comprensión de la confianza y la satisfacción de los padres acerca de la labor relativa a las opciones de los profesores muestra que la discusión de la "sexualidad tríada" de la familia, la escuela y los libros de texto, puede contribuir a la construcción de una sociedad en la que todos están oído, visto y respetado . Esta búsqueda para formar ciudadanos críticos, reflexivos e independientes en relación también con la sexualidad. Se encontró, por lo tanto, en esta investigación, que los padres encuestados están satisfechos con el enfoque de los libros de texto aludir a la sexualidad tema con los estudiantes del 5º año.
Palabras clave: sexualidad. Familia. Educación Infantil. libro de texto.
Para citar este artículo puede utilizar el siguiente formato:
Mágila Ribeiro, Scarlette Suelen De Paula, Márcia Auxiliadora Fonseca y Wesley Moreira Saraiva (2017): “Sexualidade infantil: o que dizem os pais dos alunos acerca dessa temática no livro didático de Ciências da Natureza?”, Revista Contribuciones a las Ciencias Sociales, (abril-junio 2017). En línea:
http://www.eumed.net/rev/cccss/2017/02/sexualidade-infantil.html
http://hdl.handle.net/20.500.11763/cccss1702sexualidade-infantil
1 INTRODUÇÃO
Conforme Jardim e Bretas (2006), a Educação Sexual se faz com um processo contínuo que acontece ao longo da vida do indivíduo, e este a vivencia nos diversos setores de sua vida, seja através da família, da religião, da comunidade, na leitura de livros ou nas diversas mídias, e relações sociais. Já a Orientação Sexual dispõe de uma intencionalidade, um conjunto de métodos ordenados, no qual organizações diversas como as Ciências Biológicas, a medicina e outras, os utilizam para transmitir ao sujeito esta orientação.
O indivíduo adquire suas primeiras competências relacionadas à sexualidade, na maioria das vezes, com a família, pois é nesse convívio que ele inicia a formação de sua identidade. O tema sexualidade é discutido na sociedade e nos meios de comunicação, os quais, muitas vezes, falam de forma distorcida. É aí que vemos a importância do papel da escola em trazer a abordagem da Orientação Sexual de forma a promover no aluno senso de auto responsabilidade.
Esta pesquisa visa a analisar três livros didáticos de Ciências da Natureza referentes ao 5° ano do Ensino Fundamental I, em três escolas que se encontram nas regiões de Ibirité e Contagem. Dessa forma, iniciou-se um estudo que buscou entender como as famílias dos discentes opinam acerca da temática, possibilitando, assim, um cruzamento dos dados colhidos na pesquisa de campo com a pesquisa bibliográfica e documental.
Sabe-se que a discussão sobre sexualidade acontece, na maioria das vezes na escola, através da abordagem dos professores aos temas transversais que têm seus objetivos e conteúdos reunidos nas áreas de conhecimento existentes e na tarefa educativa escolar. Os temas se representam como uma tentativa de voltar ao exercício educacional para a estruturação de uma realidade social, política, ambiental e cidadã.
Essa premissa fundamenta-se na concepção de que a escola não muda a sociedade, mas pode ajudar a transformar o espaço de reprodução para o espaço de transformação, uma vez que as práticas pedagógicas são sociais e políticas (BRASIL, 2000).
Percebe-se na perspectiva atual dos campos culturais e sociais, que o ensino da sexualidade não se limita apenas à escola, o tema percorre diversas áreas da sociedade. De acordo com Ribeiro e Soares (2013), na nossa sociedade existe uma variedade de áreas que contribuem com esse assunto que são: igreja, família, mídia, medicina e escola. Todas elas têm suas formas peculiares de transmitirem seus conhecimentos e é nosso objetivo explorar a respeito da escola.
Partindo desse pressuposto, surgiu o estudo que se segue, buscando uma possível relação entre os livros didáticos e a família. A partir do período vitoriano1 a sexualidade ficou reservada ao meio familiar, dentro de casa, vista como um tabu (DANTAS, 2010).
Esta pesquisa torna-se relevante para a prática social da educação, uma vez que detectadas informações negativas ou positivas sobre os conteúdos abordados de educação sexual do Ensino Fundamental I nos livros didáticos de Ciências da Natureza, possam contribuir de forma significativa para os professores que irão lecionar esse conteúdo, podendo identificar maneiras de contribuir com práticas bem sucedidas com o processo de ensino sobre as questões voltadas para a sexualidade. Além disso, é imprescindível para o aperfeiçoamento da prática profissional das pesquisadoras, pois quando as mesmas estiverem lecionado o assunto, saberão onde aprofundar o conteúdo ou trazer para a sala de aula materiais alternativos para complementar a temática.
Sabe-se que os significados construídos pelos pais nem sempre são os mesmos da escola e eles, em algumas vezes, preferem se eximir do assunto, delegando à escola essa responsabilidade. Espera-se que este estudo possa contribuir também para o desenvolvimento da criança. Sendo assim, este trabalho busca analisar se a literatura sobre a sexualidade infantil, trabalhada nos livros didáticos de Ciências da Natureza do Ensino fundamental I, atendem às expectivas dos pais, e dos alunos de três escolas que se encontram nas regiões de Ibirité e Contagem.
Objetivando analisar como a literatura pedagógica especializada aborda a temática sexualidade nos livros didáticos de Ciências da Natureza, verificar se a forma apresentada sobre a temática sexualidade nos livros didáticos favorece a expectativa dos pais dos alunos nas escolas pesquisadas. Verificar os aspectos comuns e diferentes nas informações contidas sobre a sexualidade infantil nos livros de Ciências da Natureza. Intercalar dados entre a literatura sobre a temática
2 HISTÓRIA DA SEXUALIDADE
2.1 Breve históricos sobre a sexualidade
A temática sexualidade é complexa, uma vez que engloba fatores nos campos sociais econômicos, culturais, religiosos e emocionais, ordenando-se nas relações com o outro e com o meio. A sexualidade, na história, sofreu várias mudanças. O tema deve ser abordado de forma que venha a desfragmentar concepções desatualizadas, visando a uma compreensão sobre os aspectos que constituem o assunto na atualidade. Fazendo um resumo sobre a história da sexualidade partiremos da época Paleolítica, em que a as pinturas nas cavernas exaltavam a feminilidade na sua forma real. Para Nunes (1987, p.52), “[...] como consequência a sexualidade, ao se ver envolvida de uma significação mítica, é concebida como sagrada e divina, com o predomínio da função da mulher como apanágio2 feminino”, ou seja, o assunto tinha um forte caráter, relacionado à fertilidade e ao matriarcalismo.
Ainda conforme Nunes, na era Neolítica, o homem torna-se centro, a visão agora é patriarcal, surge então o domínio do poder real. Após esse período, a sexualidade passou a ser percebida como garantia de uma família extensa, prevalecendo a ideia do ato sexual destinado à procriação. A civilização trouxe consigo novos olhares a respeito do tema, passando a assimilar a sexualidade como meio de submissão aos costumes e regras da sociedade.
Ribeiro (1999), através de sua análise, relata que Foucault dizia que o sexo já foi visto como algo proibido pela religião e, com o passar dos tempos, as concepções sobre a sexualidade foram ganhando aspectos mais fortes. Na Idade Média, a igreja tinha amplo domínio nas questões sociais e controlava, portanto, os seus seguidores, disseminando que a temática tratava-se de pecado, negativando, dessa forma, a sexualidade, carregando-a de uma ideia moralista e repressora.
Em meio à Reforma e à Contra Reforma, as concepções acerca do tema sofrem algumas alterações. Com a queda do sistema feudal e a incessante busca da igreja Católica para retomar o controle, surge classe burguesa. Há uma “modernização” do mundo, uma negação dos preceitos religiosos firmados na concepção da razão como fonte de entendimento. Isso é o que diz (NUNES, 1987). Mesmo com a Reforma Luterana, a sexualidade é vista como algo profano e, nesse contexto épico, o objetivo era controlar os ideais capitalistas. Sobre esse período, Ariès (1981) disserta que a criança tinha a durabilidade da sua infância diminuída, uma vez que a mesma mal podia cuidar de se já era inserida no meio adulto, tornando-se um adulto em miniatura. O sentimento de infância é uma categoria social, concebida historicamente, pois sua concepção como fase principal da vida da criança, até a idade intermediária era inexistente. Não era percebida a diferença de tratamento entre adultos e crianças. A sociedade medieval tratava os ensinamentos para a criança oralmente, uma vez que adultos e crianças partilhavam os mesmos espaços, os mesmos jogos, as mesmas brincadeiras, e os mesmos contos de fadas.
Ainda na compreensão de Ariès, o limite entre a infância e a fase adulta se perdia. As crianças tinham acesso a todas as formas de comportamento da cultura. Logo as crianças deixavam de usar mantas, cueiros, para se vestirem como os homens e mulheres de sua classe social. A linguagem das crianças e dos adultos eram as mesmas, portanto era comum que as crianças aprendessem tudo com eles. As trocas afetivas e a socialização eram realizadas, portanto fora da família, num ambiente em que a disposição podia se revelar de forma mais liberta. No final do século XVII, a escola se torna o centro de ensino, ou seja, a criança passou a ser ensinada de maneira mais formal. Observa-se que mesmo com o passar do tempo, a criança continua sendo adultizada precocemente. Porém, nesse período, ela também era vista como pura, e não podia se sujar com as máculas e mazelas da sociedade, principalmente, no que dizia respeito à sexualidade.
O sentido da inocência infantil resultou, portanto, numa dupla atitude moral com relação à infância: preservá-la da sujeira da vida, e especialmente da sexualidade tolerada, quando não aprovada, entre os adultos; e fortalecê-la, desenvolvendo o caráter e a razão. Pode parecer que existe aí uma contradição, pois de um lado a infância é conservada, e de outro é tornada mais velha do que realmente é (ARIES,1981, p.125).
Essa inocência fomentada por uma moralidade religiosa é oposta a sua ideologia, uma vez que com a criança sendo um adulto em miniatura a inocência passa a ser segundo plano, atropelando assim a fase da infância.
A repressão à sexualidade persiste na modernidade, caracterizada por uma moralidade repressora ainda mais rigorosa, e o eu corporal não existe. “Sobre o sexo nasce a cultura da vergonha e do pecado em níveis tão profundos que nem mesmo a Idade Média tinha conseguido” (NUNES, 1987, p.93). Duas correntes trazem novos olhares acerca do tema, reconfigurando a ideologia, amparada por estudos científicos encontra-se a medicina, seguida dos ideais da libertação sexual.
Segundo Foucault (2005), os três últimos séculos foram arraigados por uma repressão quanto ao sexo, e essa repressão impulsionou um estímulo ao desejo de saber cada vez mais sobre a temática, passando por um processo de libertação, se tornando-se foco dos discursos nas sociedades. Nesse período, foi anunciado o desenvolvimento das ciências, e a liberação sexual, desbancando a repressão imposta pela moralidade vitoriana e influenciado pela sociedade burguesa.
A repressão funciona, decerto, como condenação ao desaparecimento, mas também como injunção ao silêncio, afirmação de inexistência e, consequentemente, constatação de que, em tudo isso, não há nada para dizer, nem para saber (FOUCAULT, 2005, p.10).
Vê-se a sexualidade no campo educacional dentro de três abordagens, sendo estas: religiosas tradicionais, religiosas libertadoras e a pedagógica. AGOSTINI (1993) refere-se à abordagem religiosa tradicional, afirmando que sexualidade se dá pelo ato do sexo, relacionada à submissão dos preceitos bíblicos. Já a religiosa libertadora reconhece o caráter controlador e da moral imposta, que permite que o individuo se autoconheça em relação à sexualidade.
Através da história da sexualidade, verificam-se as potenciais mudanças relacionadas à forma de se pensar e de se viver a sexualidade, sendo esses fatores essenciais para o educando no quesito das interações sociais. Portanto trazer o tema para as práticas pedagógicas de forma bem fundamentada, a formação do individuo se torna cada vez mais imprescindível.Foucault alega que todos os dispositivos (discursos) são sempre estratégias que visam ao poder e, para ele, segundo Ribeiro (1999, p.363), “A sexualidade humana só será livre quando regulamentada em função do atendimento das próprias necessidades humanas e não como consequência de estratégias que objetivam o exercício do poder”. Com isso, percebe-se que sempre existiram grupos com ideologias propinadas sobre a sociedade. Ideologias com intenções de organizar, controlar e limitar os indivíduos. Sendo assim, faz-se necessário refletir sobre a importância do esclarecimento, da autonomia e da emancipação do sujeito para que ele possa participar e atuar legitimamente em sua sociedade e não seja um cidadão com baixa capacitação de criticidade e autonomia quanto à sua sexualidade.
Conforme o Parâmetro Curricular Nacional (PCN) Orientação Sexual especificamente o volume 10, desde a década de 20 no Brasil, há registros de trabalhos nas escolas sobre a temática sexualidade. E na década de 70, ao mesmo tempo em que havia diversos movimentos sociais, foi que efetivamente se incluiu essa temática no currículo escolar. A partir daí as preocupações a esse respeito de médicos, professores, cientistas, sacerdote, comunidades dentre outros, sempre estiveram nas pautas das discussões que visavam à elaboração desse assunto nas escolas. “A sexualidade é algo inerente à vida e à saúde, que se expressa desde cedo no ser humano. Engloba o papel social do homem e da mulher, o respeito por si e pelo outro” (BRASIL, 2000, p. 73).
O PCN declara que nos primeiros dias de vida, mãe e filho compartilham as primeiras experiências de prazer e essa experiência seguirá se desenvolvendo subjetivamente durante toda a sua vida, na medida em que o sujeito vai se relacionando com outros personagens. Os atributos e conceitos construídos a respeito da sexualidade serão definidos por padrões socialmente estabelecidos pela comunidade em que ele está inserido.
[...] sexo é expressão biológica que define um conjunto de características anatômicas e funcionais (genitais e extragenitais), e sexualidade é, expressão cultural. Cada sociedade cria conjuntos de regras que constituem parâmetros fundamentais para o comportamento sexual de cada indivíduo. Nesse sentido, a proposta de Orientação Sexual considera a sexualidade nas suas dimensões biológica, psíquica e sociocultural (BRASIL 2000, p.81).
O tema sexualidade abrange diversos tópicos diretos como: fisiologia, anatomia, higiene, doenças sexualmente transmissíveis, prevenção, puberdade, transformação do corpo humano, menstruação, polução noturna, fecundação, gravidez, saúde entre outros; e tópicos mais complexos como, sentimentos, atitudes, estimulação sensorial, prazer, virgindade, abuso sexual, homossexualidade, gravidez na adolescência, pornografia, precocidade, prostituição infantil, influência da mídia, glamorização de ídolos, drogas, vícios e outros.
Em “A vontade de saber”, Foucault (2005) afirma que há uma exaltação do sentimento de identificação de si, viabilizando o conhecimento acerca da temática, desfazendo tabus até então existentes. Assim a parceria com a pedagogia se torna instrumento na busca de uma produção de conhecimentos em que a criança é o alvo de um saber atualizado. Nos dias atuais a sexualidade é um dos temas transversais a serem ensinados no ambiente escolar para crianças do ensino fundamental I e outros segmentos escolares.
2.2 Manifestações da sexualidade na atualidade
“A sexualidade está presente desde o momento da gestação e nascimento do indivíduo até o final de sua vida” (RIBEIRO 2015, p. 44). E a esse processo de construção de conhecimentos, conforme já foi dito aqui, é chamado de Educação Sexual, já o Orientação sexual dispõe de uma intencionalidade que se faz em uma soma de métodos ordenados no qual, organizações diversas utilizam para transferir ao sujeito, é o que dizem (JARDIM E BRETAS, 2006).
Conforme Brasil (2000, p. 88) “A sexualidade gera na criança grande multiplicidade de emoções, sentimentos e dúvidas que acontecem inevitavelmente”. As manifestações da sexualidade infantil mais frequentes incidem na curiosidade, realização de carícias no próprio corpo e no do outro, nas brincadeiras erotizadas, nas piadas, nas músicas que se referem ao sexo ou ainda na reprodução de gestos das manifestações da sexualidade adulta. Dúvidas, angústias, descobertas acerca da sexualidade, recobrem os alunos, que, por vezes, não possuem liberdade em casa para perguntar que encontram nos professores o ponto de referência para sanar as dúvidas as quais devem ser consideradas e induzidas a reflexões, para que os anseios e preocupações dos pequenos sejam minimizados.
Nota-se que esse tema transversal é de grande importância a ser discutido e trabalhado nas escolas, pois a manifestação da sexualidade perpassa por todas as idades e, com o desenvolver dos contextos coletivos e das mudanças constantes que a sociedade galga. Percebem-se diferentes aspectos a esse respeito que surgem ou vão se modificando e que são merecedores de discussões, ensinamentos e esclarecimentos.
3 LIVRO DIDÁTICO
3.1 Síntese sobre o Livro Didático
O livro didático é presente no Brasil desde o período imperial embora poucas pessoas tivessem o privilégio de usa-lo. Hoje há várias opções de livros didáticos e é o recurso mais utilizado.
O livro didático é um produto que sofre influências, perpassa mãos e alguns são condicionados por interesses e ideologias. Bittencourt salienta que:
O livro didático é, antes de tudo, uma mercadoria, um produto do mundo da edição que obedece a evolução das técnicas de fabricação e comercialização pertencentes à lógica do mercado. Como mercadoria ele sofre interferências variadas em seu processo de fabricação e comercialização. Em sua construção interferem vários personagens, iniciando pela figura do editor, passando pelo autor e pelos técnicos especializados dos processos gráficos, como programadores visuais, ilustradores (BITTENCOURT, 2004, p.71).
O livro didático é portador de ideologias, valores e cultura Bittencourt (2004), suas produções baseiam-se em temas, informações, assuntos, que são considerados importantes em determinada época. O papel do livro didático é tão importante no contexto educacional brasileiro, que nos anos que sucederam ao golpe de Vargas em 1937, os livros passaram a ser vigiados e controlados.
Em 1938, sob o comando do Ministério da Educação e Cultura, chefiado agora por Gustavo Capanema, foi criada a Comissão Nacional do Livro Didático (CNLD), que tinha como subordinadas as Comissões estaduais de livros didáticos (CELD), estabelecendo o controle político e ideológico da produção e distribuição de livros didáticos no país pela ditadura Vargas (SILVA, 2012, p. 808).
Com o passar dos anos, e com a democratização do ensino, reformas, e propostas importantes foram realizadas priorizando a distribuição e o aperfeiçoamento dos materiais didáticos. Em 1985 foi implementado pelo Ministério da Educação (MEC), o Programa Nacional do Livro Didático (PNLD), visando à qualidade, e distribuição dos livros didáticos gratuitos nas redes públicas de ensino e vem se aperfeiçoando e aumentando seus critérios de avaliação, ao longo dos anos. Silva (2012) resume seu processo da seguinte forma:
Uma equipe de pareceristas formada por professores/pesquisadores de diversas universidades públicas brasileiras e que, mais recentemente, incorporou alguns professores do ensino básico, produz um catálogo com uma resenha de cada uma das coleções aprovadas pela equipe para participar das edições trienais do programa. Por meio do Guia do Livro Didático e/ou de folders publicitários e/ou da análise direta dos livros, os professores de cada escola pública escolhem o livro com o qual trabalharão com seus alunos durante os três anos seguintes. (SILVA, 2012, p.811).
O livro didático aproxima os leitores da linguagem científica, e conhecimento do mundo. Segundo Bittencourt “o livro didático realiza uma transposição do saber acadêmico para o saber escolar” (2004, p.72). O livro apresenta-se ao aluno como material de apoio ao seu desenvolvimento, um facilitador, com temas pré-determinados, perguntas, curiosidades, ademais são tidos como auxiliares cotidianos dos professores nas salas de aula. Contudo, mesmo sendo considerada ferramenta de trabalho para os professores e alunos, a autonomia do discente ao utilizá-lo é importante.
O professor precisa considerar o livro como um entre os diversos recursos, compreender que alguns livros necessitam completar alguns temas. Além disso, seria interessante considerar o conhecimento prévio dos alunos e levá-los a pensar criticamente, o professor que utiliza esse recurso, conta com as prioridades que este o proporciona, “no entanto, tê-lo como único instrumento de trabalho, é limitar as infinitas formas de se ensinar e aprender” (MOREIRA, ANJOS, CARDOSO, 2013, p. 38).
A venda de livros didáticos é um “grande negócio”, as editoras buscam uma concorrência acirrada, o Brasil é um dos maiores compradores de livros didáticos, atualmente, a escolha do livro didático é feita por coordenadores, supervisores, e os professores, de quem as editoras buscam a preferência. Os Temas Transversais são considerados temas de grande relevância social, por isso são pautados também nos conteúdos presentes nos livros didáticos. Retomamos aqui a importância da autonomia do professor que precisa considerar o contexto social dos alunos, para que eles absorvam os conteúdos e os assimilem em seu dia a dia. As condições de ensino, a realidade social, interferem diretamente na produção dos conteúdos dos livros. Silva (2012, p.817) considera o livro didático como “[...] um mecanismo “de (in)formação do professor”, um aparato de consulta pessoal”.
3.2 Livros Didáticos nos vieses da sexualidade infantil
Quem nunca sentiu aquele desconforto ao se deparar com perguntas ou situações, em que crianças e adolescentes, manifestam suas dúvidas, ou vivências da sexualidade? A sexualidade é inerente a todos os seres humanos, apresenta-se desde o nosso nascimento, e nos acompanha por diversas etapas durante a vida. No entanto, falar desse tema tem se mostrado um desafio para alguns professores.
Considera-se que a dificuldade, em tratar a sexualidade atravesse a falta de informação e conhecimento mais aprofundado de pais e familiares, e que a discussão desse tema, na maioria das vezes, restringe-se às aulas de Ciências da Natureza, e ao professor responsável pela disciplina, volta-se então, a frisar que os temas transversais tangem todas as disciplinas, assim, todos os professores que se sentirem confortáveis e confiantes podem trabalhar o assunto.
O livro didático, sendo visto como coadjuvante da ação pedagógica, pode contribuir nos caminhos a serem traçados pelos professores na discussão da sexualidade infantil. O livro didático pode ser de primazia para o professor, “os livros didáticos utilizados em sala de aula ganham importância no que tange ao auxílio para o combate à discriminação, preconceito e homofobia nas escolas e na sociedade como um todo” (SANTANA, WALDHELM, 2009, p. 8).
Por isso, a importância em considerar o tema sexualidade nos livros didáticos, pois se abordado de forma plural, transversal e interdisciplinar, pode delinear caminhos de uma educação transformadora.
Quando a escola recebe o Catálogo dos Livros Didáticos, os profissionais da educação fazem uma seleção dos mesmos. O tema sexualidade precisa ser avaliado, também, pelos educadores, buscando observar se abordam a interdisciplinaridade, se os temas fazem a conexão do livro com um todo, visando à quebra da segregação, da propagação de estereótipos, preconceito, reforçando sempre o respeito ao outro e o convívio em sociedade.
“A escola não apenas reproduz ou reflete as concepções de gênero e sexualidade que circulam na sociedade, mas que ela própria as produz” (VIDAL, PESSANHA, p.3). Por isso, quando a escolha do livro didático tange a democracia, a discussão em sala, a comunidade escolar, conquista-se não só o ensino do indivíduo, com respeito ao seu desenvolvimento, como também a mudança do mundo.
Os três livros analisados, aqui destinados às turmas do 5° ano do ensino fundamental I das três escolas pesquisadas, tratam da sexualidade com base na reprodução e fisiologia. Em dois dos três livros destinou-se um capítulo para se tratar do tema e, apesar de não contar com um capítulo único, o livro de número 2 fez conexões com temas que se seguiam nesse ramo de discussões. Percebeu-se que os temas trabalhados são os sistemas reprodutores, feminino, e masculino, fecundação, gestação, menstruação, os tipos e as curiosidades sobre partos, as mudanças no corpo de meninos e meninas na fase denominada puberdade e também apresentaram curiosidades sobre gêmeos. Os livros didáticos analisados continham também imagens ilustrativas e fotografias. Percebe-se, através dos livros didáticos, que a temática sexualidade é iniciada de maneira bastante vinculada à reprodução no 5° ano das séries iniciais.
3.3 Análises dos livros
Foram utilizados como instrumentos de pesquisa, três livros didáticos recolhidos nas três escolas pesquisadas. A análise do conteúdo de acordo com Minayo (2002 p. 74) “[...] é a verificação da contagem da frequência da aparição de características nos conteúdos das mensagens veiculadas”.
Buscando neutralidade e fazendo análise descritiva, com observações do ponto de vista científico baseado nos conhecimentos adquiridos na academia durante o curso de Licenciatura em Pedagogia. Buscou-se refletir através da observação, a apresentação didática apresentada nos livros. Procurou-se observar se os livros levam em conta os conhecimentos prévios dos alunos, se consideraram-se as idades das crianças, se fomentam nas crianças a capacidade de fazer relações, a forma sequencial em que os livros abordam o tema, a disposição das imagens, exercícios entre outros.
A amostra de livros é constituída de exemplares destinados ao 5º ano do Ensino Fundamental I, que são:
3.4 Análise do livro de número um
Neste primeiro livro, o capítulo que trata sobre sexualidade é denominado “Reprodução Humana”. A proposta da autora para esta coleção é de que o aluno aprenderá de forma divertida e alegre. Traz conteúdos organizados com diversas leituras e ilustrações para todo o ano. Os assuntos abordados são: puberdade, mudanças no corpo, bullying, diferenças físicas de homens e mulheres, órgãos sexuais de homens e mulheres, heranças físicas de pais e avós, reprodução, fecundação, gestação, nascimento, lei de licença maternidade para homens e mulheres, gêmeos, diferenças e semelhanças de organizações em outras culturas etc.
Tem vocabulário e imagens que atendem à faixa etária da criança, e propõe a todo o momento que ela faça reflexão pessoal sobre os temas. Percebem-se sugestões de pesquisas para fazer em grupo, e individualmente, há poema, imagens, tirinhas, propostas de algumas atividades como, recorte, massinhas, expressão de oralidade e revisão do conteúdo. Mostrando assim, que houve variação de práticas de recursos didáticos. A presença das sugestões de vídeos, músicas, glossários e as dicas aparecem nas páginas finais do livro.
3.5 Análise do livro de número dois
No segundo livro analisado disponível na escola municipal da cidade de Contagem, a autora traz na apresentação um texto dedicado ao aluno e fala diretamente para ele, diz que vai propor assuntos interessantes nos quais ele terá a oportunidade de dar sua opinião e ouvir a de seus colegas. Também serão disponibilizadas para ele diversas atividades para estudar de uma forma divertida.
O tema sexualidade aparece no capítulo dois que vem definido como “Corpo humano: reprodução e coordenação”. Esse capítulo não foi exclusivo em tratar o assunto sexualidade, pois apresenta outros conteúdos também como: o sistema nervoso e o sistema endócrino. Quando questionada sobre a falta do capítulo que aborde exclusivamente a sexualidade no livro que a escola adotou para utilizar, a pedagoga da instituição disse que os professores também lançam mão de outros materiais para trabalhar o tema.
Embora esse livro não trouxesse um capítulo exclusivo para a temática sexualidade, ele não deixou de expô-la. O capítulo inicia com a imagem de alguns bebês na maternidade de um hospital e uma personagem, perguntando: - Você sabe de onde vêm os bebês? Logo em seguida abordam-se os assuntos; sistema reprodutor masculino, sistema reprodutor feminino, fecundação do bebê, gêmeos e menstruação. O livro contém tirinha, fotos e desenhos, os exercícios convidam à reflexão. Há proposta para criação de desenhos, questionários, sugestão de entrevista, proposta de pesquisas em grupo e individual. As recomendações de livros, sites e filmes para os alunos bem como o glossário também ficam nas páginas finais, assim como no livro número um. A abordagem é específica para a idade, tem objetividade e são esclarecedoras.
Quando perguntado aos pais dessa escola na cidade de Contagem, a respeito da satisfação quanto à abordagem do livro, de um total de 44 pais, 30 disseram estarem satisfeitos, alguns acharam que para uma introdução está bom, outros disseram que gostaram porque a abordagem “é leve”, “didática”, “tranquila”, “cuidadosa” e “atende a idade dos alunos”. Duas mães se declararam insatisfeitas e disseram que falta muita coisa. E, apenas, uma mãe disse que achou alguns parágrafos “fortes” para a idade.
3.6 Análise do livro de número três
O terceiro livro é utilizado em uma das escolas localizada na cidade de Ibirité, com o título “A escola é nossa”, é destinado às turmas de 5° ano do ensino fundamental para o ensino de Ciências Naturais.
Em sua 3° edição, com a proposta de apresentar as informações de modo interessante, e mostrar as Ciências Naturais presentes no cotidiano. O capítulo “7 Corpo Humano: Sistema Reprodutor” trata da temática sexualidade. O capítulo se inicia com duas imagens, de uma mesma mulher, em fases diferentes de gestação. Com perguntas, os autores consideram o conhecimento prévio dos alunos a respeito de tal tema. Posteriormente, são tratados os assuntos: sistema reprodutor masculino, sistema reprodutor feminino, menstruação, fecundação, gravidez, gêmeos, gestação, amamentação e partos.
Acredita-se que o vocabulário e os esquemas representativos atendem à faixa etária. O capítulo tem em sua composição imagens ilustrativas, fotografias e também esquemas representativos. Há sugestão de trabalho em grupo e entrevistas. Esse livro trata dos temas de forma bastante objetiva, apresenta os conceitos, porém não há tirinhas ou poemas. Os desenhos dos sistemas reprodutores são muito limitados. Há glossário e sugestões de leitura para os alunos.
Quando perguntado aos pais nas questões 10 e 11 do questionário sobre o livro de número três, de um total de 24 pais, 15 declararam satisfação pela abordagem do tema apresentado no livro didático, 3 pais insatisfeitos e 6 pais não responderam à pergunta. Apesar da unanimidade em satisfação pelo conteúdo, é interessante notar como algumas opiniões se divergiram.
Notou-se que nenhum livro didático analisado atendeu 100% as recomendações dos PCNs, porém os assuntos que escolheram abordar os elaboraram com esmero. Embora alguns tópicos tenham ficado para trás, foi unânime a promoção da reflexão do conhecimento de si e do outro e a promoção do respeito. Nota-se que o objetivo é que eles (os alunos) fiquem preparados para prosseguirem seus próximos anos escolares, com considerável bagagem de conhecimentos.
Importante também foi perceber que, de forma geral, os livros didáticos atendem aos anseios dos pais e responsáveis.
A escola é ambiente democrático, acredita-se ser necessário que autores de livros didáticos e paradidáticos busquem constantes diálogos com as sociedades respectivas para que sejam gerados conteúdos, pedagógicos e materiais didáticos que continuem positivamente, proporcionando conhecimento e prazer aos que instruem e aos que são instruídos. “Os livros didáticos podem ser concebidos como um espelho da sociedade que os produz, bem como um artefato educativo que atua na produção desta mesma sociedade” (MEISTER, 2010 p.26).
4 ESCOLA E SEXUALIDADE
4.1 A escola
“De forma implícita ou explicita, a família na maioria das vezes, é quem transmite os primeiros valores e crenças em relação à orientação sexual da criança”, (BRASIL, 2000, p.83). Segundo, Gesser; Oltramari e Panisson (2015, p. 559), “A escola é considerada um lugar privilegiado para a valorização da diversidade de expressões da sexualidade”. A escola abarca grande diversidade de raças, crenças, etnias e também expressões de sexualidade. Cabe a ela agir como parceira da família, dando continuidade ao processo desse ensino, promovendo instrução, pois ela é lugar de encontro de muitas diferenças étnicas, religiosas, culturais, sociais entre outros. Nesse sentido, percebe-se que a responsabilidade da escola é de propor uma pedagogia democrática que alcança a todos, promovendo cidadania, semeando a igualdade de direitos e repúdio a qualquer tipo de discriminação, contribuindo para que o aluno se torne um conhecedor reflexivo e responsável por suas escolhas e atitudes.
Em seu artigo, Altmann (2000, p.575) aponta que o fato de não frequentarem o colégio e a baixa escolaridade, é fator considerável para que meninas menores de idade e de classe baixa engravidem precocemente e sem planejamento. Esse dado nos leva a refletir a significativa tarefa da escola em trazer informações aos alunos, para que, quando ele for tomar algumas decisões importantes a respeito da sua sexualidade, tenha bastante conhecimento para refletir, se prevenir, se cuidar e decidir conscientemente. Conforme, Brasil (2000) a pedagogia que trata sobre a orientação sexual embora tenha fatores subjetivos, deve ser trabalhada com discussões coletivas em que o aluno possa perguntar e ouvir. Não pode ser evasiva e deve dar liberdade ao aluno que não queira se expor. Essa pedagogia deve fomentar, no educando, o conhecer e refletir sobre seu comportamento e o comportamento de outros grupos sociais. Vale lembrar que, apenas casos extraordinários devem ser encaminhados para atendimentos especializados. Trabalhar sexualidade com êxito pode ocasionar alunos aliviados de tensões, esclarecidos, respeitosos e menos agitados. Também a escola deve informar aos familiares os princípios norteadores da proposta pedagógica deixando claro a condução de seu trabalho (BRASIL, 2000, p. 85).
4.2 A Criança
O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), lei federal 8.069/1990, objetiva ampliar o conhecimento da população a respeito dos direitos da criança e do adolescente e cita no (artigo 2º p.8) “Considera-se criança, para os efeitos desta Lei, a pessoa até doze anos de idade incompletos, e adolescente aquela entre doze e dezoito anos de idade”. E no (artigo 7º p.9) diz que, “A criança e o adolescente tem direitos à proteção, à vida e à saúde, mediante a efetivação de políticas sociais públicas que permitam o nascimento e o desenvolvimento sadio e harmonioso, em condições dignas de existência”.
Com essas informações, as presentes pesquisadoras, futuras professoras, visam a compreender esse sujeito e garantir-lhe, esses direitos de proteção, de desenvolvimento sadio e harmonioso mediante a disponibilização de um bom trabalho relacionado a ministrar a disciplina de Ciências da Natureza e, por conseguinte, a temática sexualidade.
Segundo a Secretaria Municipal da Educação de Belo Horizonte, no documento Proposições Curriculares do Ensino Fundamental I (2009), são denotadas diversas orientações à escola e ao professor. Nesse documento é apresentado a fase do segundo ciclo, que engloba os 4º, 5º e 6º anos do ensino fundamental I, no qual se encontram alunos com idades entre os 9 a 12 anos de idade, e este período de idade é chamado de pré-adolescência. Importante salientar que esse momento é muito complexo e conflituoso para o jovem. Continuando a falar das Proposições Curriculares, o perfil que esse pré-adolescente apresenta é de uma pessoa que passa a tomar consciência de si e do outro. Começa a se cuidar, a cuidar do seu corpo e de sua aparência, forma grupos e gosta de jogos e esportes que propiciem competições. Nessa fase de transição ele busca construir sua identidade e sua autonomia.
Portanto, a escola e principalmente, os professores devem ter muito cuidado e cautela para não transcender exageradamente o limite cognitivo da sexualidade desse aluno nem menosprezá-lo. Assim a escola tem um papel significativo de contribuir positivamente na educação desse aluno.
4.3 Os professores
Acredita-se que muitos professores evitam falar do tema sexualidade por se sentirem incomodados ou não preparados e jogam então, a responsabilidade para o professor das Ciências Naturais (GESSER e OLTRAMARI, 2015). Os professores de hoje foram os adolescentes de ontem que, provavelmente, viveram uma época de muita repressão sexual e isso pode ser um dos fatores que contribuem para essa resistência em abordar o tema com os alunos.
Falar sobre sexo pode ser complexo e delicado, e conforme Brasil (2000) o professor deve ser amparado, tendo disponibilizado para si, uma formação continuada, para que esteja sempre atualizado em relação às mudanças sociais, tecnológicas e científicas de um mundo globalizado. Isso fará com que ele esteja equipado com conhecimentos epistemológicos capacitando-o, a saber, como e onde intervir. Ele precisa estar preparado para responder às dúvidas e curiosidades a fim de que os alunos não se interessem em buscar respostas em outras fontes que, provavelmente, não serão confiáveis. Para isso, o professor de Ciências da Natureza, utiliza alguns recursos que diversificam seu trabalho, como atividades extraclasses, revistas, reportagens, vídeos etc. Já o livro didático é um instrumento de peso no auxílio da abordagem da sexualidade (LIMA e VASCONCELOS, 2006).
O professor também deve saber que tem um papel significativo para os alunos e se torna um emissor confiável, desse modo, “[...] ele precisa ser atencioso diante das questões trazidas por eles, não lançar juízo de valores para que a dignidade do aluno seja preservada” (BRASIL, 2000 p.84).
4.4 – Família
Conforme o PCN, em nossa sociedade encontram-se famílias com valores diversos que podem ser conservadores ou liberais. Refletindo sobre isso, a escola é lugar de promoção do diálogo e reflexão. É importante a participação da família, pois a educação não depende unicamente da intervenção da escola.
Como já foi dito aqui, escola e família deveriam atuar como parceiras e se complementam dado que as ações das crianças estão envoltas nas relações familiares e sociais em que ela convive. Em razão disso, a maioria das suas atitudes, como relação de respeito, por exemplo, pode ou não ser reflexo do que acontece dentro de casa. Necessita-se reflexão, por isso a importância de envolver a família no processo de ensino, para que juntos possam buscar consenso sobre possíveis soluções para os desconfortos sexuais que possam acontecer com os alunos, pois pode ser que em algum momento, até a família esteja necessitando de um apoio ou orientação da escola.
Para Vilaça (2008) ajudar o aluno a desenvolver autoconhecimento tem mais resultado se trabalhado através da educação baseada na comunidade. Isso pode acontecer de diversas maneiras como através de simples discussões e (ou) debates por exemplo. Esses trabalhos proporcionam diálogo, criticidade, reflexão, visões de outros pontos de vista e projeções de tomadas de ações futuras.
Algumas vezes, falar sobre sexo se torna um tabu, e muitos pais até hoje, se sentem constrangidos em dialogar sobre este assunto com seus filhos.
[...] a maioria dos pais tem receio de conversar com seus filhos sobre sexo, acreditando que desta maneira, estariam despertando seus filhos para a vida sexual, mas ao contrário, a falta de informação e a ignorância aumentam a curiosidade, que leva o adolescente/jovem a aprender através de experiência nem sempre orientada e consciente (RIBEIRO, 2015, p. 32).
Esse acontecimento faz com que alguns pais transfiram a responsabilidade da abordagem deste assunto para a escola e isso traz sobrecarga, pois a educação do aluno é tarefa conjunta. Com a ausência da família e algumas falhas da escola, o jovem pode aprender sobre sexualidade de forma a colocar sua saúde sexual em risco, passando por problemas como gravidez indesejada, DST e aborto, por exemplo.
5 METODOLOGIA
5.1 Instrumentos de pesquisa
Para a realização deste trabalho de pesquisa fez-se necessário uma revisão bibliográfica de autores que retratem a Orientação Sexual na educação infantil a partir dos livros didáticos de Ciências da Natureza do ensino fundamental I. Foi feito o emprego de pesquisa bibliográfica exploratória, que segundo Gil (2002, p.45), “utiliza-se fundamentalmente das contribuições dos diversos autores sobre determinados assuntos.” Fez-se consulta analítica de material publicado em diferentes formatos como periódicos, teses, dissertações e livros a respeito da temática em questão. E análise documental que estuda leis, decretos e livros didáticos.
5.2 Campos de pesquisa
Os dados desta pesquisa foram coletados em três escolas das cidades de Ibirité e Contagem, sendo duas estaduais e uma municipal. Importante salientar que essas cidades fazem parte da região metropolitana de Belo Horizonte, portanto trata-se de um público que tem acesso mais fácil à informação, oportunidades e condições de forma geral.
5.3 Sujeitos da pesquisa
Os sujeitos da pesquisa foram os pais e (ou) responsáveis dos alunos do 5º ano das três escolas já mencionadas. Após a autorização dos gestores da escola, os pais participaram através do preenchimento de um questionário que segue como apêndice que foi distribuído nas salas. Foi pedido que os alunos convidassem seus pais a contribuir com este trabalho, mas também foi anunciado que a participação seria de livre vontade podendo assim o sujeito optar por não participar. Foram distribuídos os questionários a todos os alunos do quinto ano e a pesquisa foi realizada com base nos questionários que voltaram preenchidos por cerca de 50% dos pais.
5.4 Resultados e discussões
O resultado do processo investigativo para análise de dados, segundo Marconi e Lakatos (2003, p. 22) significa:
[...] a explicação das relações existentes entre o fenômeno estudado e outros fatores. Essas relações podem ser estabelecidas em função de suas propriedades relacionais de causa-efeito, produtor-produto, de correlações, e de análise de conceito.
Essa pesquisa tem caráter quanti-quali, e como afirma Minayo (2002, p. 22) “Ela se preocupa, nas Ciências Sociais, com um nível de realidade que não pode ser quantificado”. Exibiremos, inicialmente, a descrição do perfil dos sujeitos participantes. Em seguida, traremos a exposição da análise referente às respostas dos 105 pais dos alunos.
Nos gráficos abaixo estão descritos os perfis dos participantes da pesquisa com base no questionário. Os pais e responsáveis serão identificados apenas pela idade, sexo e profissão.
Idade dos pais e responsáveis que responderam à pesquisa
Sujeito / Profissão Descrição da fala
34 anos/estagiária Acredito que atrapalha, a forma como é exposta aos jovens e
crianças, não traz conhecimento, mas sim a erotização infantil.
52 anos/do lar Prejudica e muito, por isso que temos tanta violência e gravidez indesejada.
43 anos/ costureira Prejudica, ela incentiva a sexualidade precoce.
56 anos/ autônomo Eu acho que atrapalha, pois outros esclarecimentos ou dúvidas.
das crianças não são respondidos.
42 anos/ analista Prejudica, porque eles abordam um conteúdo muito explícito e isso
confunde a cabeça das crianças.
44 anos/ vendedora Prejudica, pois os relatos são obscenos, [...] a criança vai aprendendo
tudo pelo lado promíscuo onde também começa a invasão da pedofilia
infantil. Perigoso.
Tabela 2 – Fonte: dados da pesquisa realizada
Porcentagem das respostas à questão um do questionário
A questão de número um, foi uma das perguntas em que as opiniões mais se dividiram. De 105 pais, a maioria das respostas a essa pergunta, 43% dos pais, responderam que os assuntos trabalhados pelas mídias prejudicam. Na segunda posição, ficou a opinião de 37% dos pais que disseram que depende da forma como o assunto é abordado, ou seja, se trabalhado por profissionais sérios, contribui. Mas, quando tratado em novelas e jornais, prejudicam. E a minoria dos pais, apenas 18%, considerou que mídias como, (televisão, internet, revistas etc.), ajudam na compreensão das crianças e jovens sobre o assunto sexualidade.
As falas dos pais e responsáveis descritas nesse gráfico remetem à preocupação ou observação deles quanto aos conteúdos desses meios de comunicação, serem não educativos e confusos. Com isso, observou-se que a mídia não é vista pela maioria dos pais como aliada, mas, sim, como um recurso opositor à educação sexual de suas crianças.
Interessante também citar que esses pais comentaram sobre as mídias a que eles próprios têm acesso como novelas e jornais. Uma vez que se deve lembrar que as crianças e jovens na atualidade têm acesso a vídeos no celular; redes sociais com os quais se comunicam com outras pessoas ( conhecidas ou desconhecidas); e muitos sites que podem diretamente trazer informações diversas e erradas. Ou seja, realmente escola e pais precisam ter mais comunicação para serem explicados fatores como estes, em que os pais podem não acompanhar as “evoluções” que estão acontecendo no meio em que sua criança vive, observando as falas a respeito da questão dois no gráfico abaixo. Ficando, assim, uma lacuna a ser preenchida na questão do acompanhamento junto às crianças.
Pergunta e respostas à questão dois do questionário
Sujeito / Profissão Descrição da fala
35 anos/do lar Não me sinto constrangida, porque sei que é melhor responder do que deixar dúvidas
46 anos/ pintor Preparado, os pais devem ser as pessoas mais preparadas para dar estas respostas.
36 anos/corretora Preparada, pois o melhor ensino começa dentro de casa, para que eles não aprendam errado, acho importante esse aprendizado em casa.
35 anos/ Insp. qualidade Preparado, nos dias de hoje temos que orientar nossos filhos para o mundo lá fora.
43 anos/ professora Respondo com muita naturalidade, somente o que é perguntado.
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41 anos/do lar Não fico constrangida, mas eu tento explicar de acordo com a faixa etária dele.
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Na questão dois, o objetivo foi perceber se os pais conversam com seus filhos sobre esse assunto e perceber se no convívio deles, esse tema traz receio ou se é falado naturalmente. A maioria 72 pais (69%), responderam que sim, se sentem preparados para responder às perguntas do filho. E isso mostra um fator positivo, demonstra que os pais estão abertos ao diálogo e querem contribuir para que seus filhos estejam bem informados sobre outros temas e também sobre “a sexualidade”.
Pergunta e respostas à questão três do questionário
Sujeito / Profissão Descrição da fala
53 anos/ do lar (vó) Positivamente, porque é tratado com profissionais sérios.
45 anos/empreendedor Estará ajudando, pois assim surgirão mais perguntas e com mais perguntas obterá mais respostas.
46 anos/ pintor Ajudando, desde que não ultrapasse os limites do bom senso e respeite os direitos da criança e do adolescente.
40 anos/do lar Ajudando, porque às vezes há vergonha de ambas as partes. [...]
54 anos/Metalúrgica Ajudando, porque a professora tem a resposta correta e tira as dúvidas da criança.
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41 anos/ serviços gerais Positivamente, quando pensa na questão a falar e até pela idade das crianças.
Tabela 4 – Fonte: dados da pesquisa realizada
Pergunta e respostas à questão quatro do questionário
Questão 4 – Você sabe que o tema sexualidade é trabalhado na escola com seu filho (a)? Você se sente seguro ou inseguro em relação a isso?
Sujeito / Profissão Descrição da fala
52 anos/ do lar Sim, estão trabalhando com livro seguro.
Não declarou/ do lar Segura. Acredito que a escola tem a intenção de acrescentar e não prejudicar.
43 anos/ professora Segura, porque é trabalhado com seriedade.
28 anos/ seg. trabalho Sim, segura, pois sei que será abordado o necessário da melhor forma possível.
54 anos/Metalúrgica Ajudando, porque a professora tem a resposta correta e tira as dúvidas da criança.
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41 anos/ serviços gerais Ajuda, quando pensa na questão a falar, e até pela idade das crianças.
Tabela 5 – Fonte: dados da pesquisa realizada
As questões 3 e 4, tiveram resultados equivalente em relação a confiar na escola, sentem segurança e declaram que a escola contribui positivamente na educação dos filhos. Embora alguns pais se sintam receosos na questão de confiar totalmente na escola, por preocupar-se com a forma, e com o conteúdo que vai ser trabalhado com seu filho (a), a maioria dos pais 75%, responderam na questão três, e 70% dos pais responderam na questão quatro, que a escola sim, os ajuda e que eles depositam nela confiança e também se sentem seguros.
Pergunta e respostas à questão cinco do questionário
Sujeito / Profissão Descrição da fala
35 anos/ Insp. qualidade Sim, porque a área é muito importante e séria, e não é qualquer pessoa para falar sobre o assunto.
44 anos/ comerciária Acho que não, mas deve ser passado por uma pessoa com sensibilidade para abordar o assunto.
40 anos/ engomador Sim, porque o assunto é muito sério, e quanto mais preparado o profissional for, seria melhor.
28 anos/ empresário Sim. Não vejo o mesmo resultado (construtivo), se for abordado por um profissional de ensino religioso.
27 anos/ vendedora Acho que sim, porque eles saberiam como falar com as nossas crianças.
44 anos/ pedreiro Acho que não pois acredito que todos os professores estão capacitados para abordar o assunto.
Tabela 6 – Fonte: dados da pesquisa realizada
A questão de número cinco dividiu as respostas, pois como foi explicado no decorrer deste trabalho sabe-se que o tema sexualidade é um assunto que pode e deve ser trabalhado por todos os professores que se sintam seguros, todavia, percebe-se também que, como em todas as disciplinas, é necessária a formação continuada do profissional da educação, para que ele se atualize, tire dúvidas e se aperfeiçoe, constantemente, nas temáticas a serem trabalhadas. O objetivo dessa pergunta foi perceber nos pais qual a visão deles nesse aspecto. E algumas respostas foram mencionadas acima.
Observou-se na questão cinco, que 44% articulam não ser necessário um professor especialista, pois confiavam na capacitação e competência dos educadores, e que estavam satisfeitos com as atuações deles sobre seus filhos. Mais uma vez nota-se a missão positiva que o professor de séries iniciais tem, na visão dos pais e dos alunos.
Pergunta e respostas à questão seis do questionário
Sujeito / Profissão Descrição da fala
35 anos/ cuidadora idosos sim, porque é importante o acompanhamento dos pais.
38 anos/ do lar Sim, porque eu quero saber o que ela estudou.
52 anos/ missionária Sim, acompanho o para casa.
30 anos/ op. caixa Sim, procuro sempre estar presente em tudo
27 anos/ vendedora Sim, para poder ajudar ela.
Na questão de número seis, a pergunta foi feita com o objetivo de identificar palavras nas declarações dos pais, se eles são participativos em relação a se colocarem a par, conferir os conteúdos dos livros que a escola transmite ao aluno. 70% afirmaram que sim, que são participativos e preocupados, que conferem e se informam a respeito do que seus filhos aprendem na escola.
Embora os pais afirmem estarem sempre conferindo e auxiliando os filhos com as atividades, percebe-se que eles realmente têm mais acesso ao que é pedido nos exercícios de para casa do que nas demais atividades, pois quando perguntados, se eles estão cientes em relação às atividades sobre a temática sexualidade, que é trabalhada em sala de aula, a quantidade cai para 44% na questão nove.
Pergunta e respostas à questão sete do questionário
Nesta questão de número 7, as pessoas expressaram suas opiniões de formas variadas. Demonstra que os pais estão convictos de suas opiniões que são as mais diversas. Os temas sugeridos pelo PCN estão em sintonia com as opiniões dos pais. Foram diversas sugestões, e as mais sugeridas foram: mudanças no corpo, gravidez na adolescência, abuso sexual, doenças sexualmente transmissíveis, prevenção e pedidos de moderação ao selecionar materiais e livros quando for tratar o assunto com suas crianças.
Pergunta e respostas à questão oito do questionário
Sujeito / Profissão Descrição da fala
40 anos/ do lar Não sei.
19 anos/ RH Não, mas passarei, a saber, pois agora sei a importância de estar presente em questões como esse tema.
41 anos/ domestica Sei não.
44 anos/vendedora Ainda não me preocupei muito com isso, mas gostaria de saber e me aprofundar de verdade.
Na questão oito, 56% responderam que não sabem quais os conteúdos trabalhados na escola sobre sexualidade, ou não responderam, contra 44% que responderam que sabem. Realmente não tem como um pai estar ciente de exatamente tudo o que acontece com seu filho (a), sendo assim, é válido a imagem positiva de segurança que professores tem passado aos pais. (Grifo nosso)
A próxima questão, de número nove, foi a que obteve opinião mais diversificada, a grande maioria respondeu que é a partir dos 10 e 11 anos a idade específica para iniciar o trabalho com o tema sexualidade na escola. Lembrando que este período corresponde à idade das crianças que estão no quinto ano, ou seja, a idade dos filhos destes pais que estão respondendo a este questionário. Foi detectada uma grande diferença entre as opiniões dos pais a esse respeito. É o que mostra o quadro a seguir.
Pergunta e respostas à questão nove do questionário
Sujeito / Profissão Descrição da fala
52 anos/ missionaria a partir dos 6 anos já se torna necessário.
28 anos/ tec.seg. trabalho A partir dos 8 anos, porque já entende.
38 anos/do lar Sim, eu acho a partir dos 9 anos, porque tem muitas meninas que não são informadas.
33 anos/ do lar Sim, 14 anos.
40 anos/ cabeleireira Sim, com 15 anos.
40 anos/ do lar Acredito sim, acho que com 16 anos pra lá
79 anos/ aposentada Acredito, tem uma idade especial para este assunto, 17 anos e meio.
Importante conhecer a relevante diferença na opinião desses pais, pois uma mãe pensa ser adequado falar sobre sexualidade com a criança de 6 anos, e em contrapartida, outras acham necessário falar com 14, 15 16 e até 17 anos e meio! Essa apuração foi a que mais deixou claro a afirmação de que a escola é realmente o lugar de encontro das diversidades.
Perguntas e respostas às questões dez e onze do questionário
Questão 11 – Se não ficou satisfeito, o que você gostaria que estivesse no livro didático ou o que deveria ser tirado?
Sujeito / Profissão Descrição da fala
28 anos/ cabelereira Fiquei satisfeita, pois explica com segurança e cada parte aos poucos.
33 anos/aux. Administrativo Sim acho que foi bem abordado, mas penso que mais àa frente temos que aprofundar os estudos.
38 anos/ segurança Satisfeito, não achei nada falando sobre prevenção, DST, porém está dentro do esperado. Gostaria que tivesse assunto com DST, método de prevenção.
28 anos/ comerciante Achei o conteúdo muito superficial, levando em consideração o acesso que nossas crianças têm a outros meios de comunicação
30 anos/ aux. produção Não me convence tanto, pois o mundo de hoje está bastante avançado. Deveria relatar a realidade de hoje, pois não vivemos mais no passado.
37 anos/ Motorista Eu achei favorável o tema, com uma abordagem específica para os alunos. A matéria continua a mesma de alguns anos atrás acredito que seria essencial para os alunos dessa faixa etária.
Tabela 11 – Fonte: dados da pesquisa realizada
Opiniões dos pais a respeito do livro didático
70% dos pais disseram que estão satisfeitos, 6% disseram que não estão satisfeitos, 5% disseram que estão razoavelmente insatisfeitos e 21% não responderam.
Na pergunta de número 12 “você pensa que é dever somente da escola discutir esse assunto?”. Vejamos agora as opiniões explicitadas.
Pergunta e respostas à questão doze do questionário
Sujeito / Profissão Descrição da fala
40 anos/Do lar Eu acho que escola não é lugar pra discutir isso, na minha opinião isso é dever dos pais.
33 anos/ do lar Com certeza não. Cada família tem o seu modo de educar ou seja escola é só um suporte.
30 anos/ Op. caixa Não, dever dos pais principalmente a escola é só um complemento.
26 anos/ empresária Não. Com certeza os pais têm que estar à frente.
35 anos/ Cabelereira Acho que sim, porque eles saberiam como falar com as nossas crianças.
79 anos/ Aposentada Sim! É o lugar mais apropriado, só para esse assunto.
Tabela 12 – Fonte: dados da pesquisa realizada
Essa questão de número 12 foi quase unânime a opção de que não é somente a escola que deveria discutir esse assunto, com exceção de três pais que não responderam e uma avó de 79 que foi a única pessoa que achou que “sim, que a escola é o lugar apropriado”. Vale ressaltar que essa avó é a mesma que também foi à única que respondeu na questão de número nove, que a idade específica para se começar a trabalhar esse assunto na escola é de 17 anos e meio.
Uma observação interessante nessa questão foram as constantes falas dos pais em considerar a escola como parceira, apoio, suporte etc, demonstrando assim, o interesse em trabalhar juntos.
Pergunta e respostas à questão treze do questionário
Sujeito / Profissão Descrição da fala
40 anos/ Comerciante Acho que não! Gravidez na adolescência na minha opinião é muita liberdade dos pais. Temos que conversar mais e orientá-los também.
48 anos/ Ax. Adm. Acho que é um conjunto de problemas, desde a família (músicas sensuais, funk) problemas financeiros, desamor família etc.
41 anos/ não respondeu Não apenas na escola, como também na família e em toda a sociedade.
27 anos/ Vendedora Pode ser sim, a escola ajuda muito a tirar dúvidas que os pais não tiram
38 anos/ Do lar Com certeza, porque se os pais não falam a escola falando já ajuda.
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Tabela 13 - Fonte: dados da pesquisa realizada
Percebe-se que muitos pais buscam fazer reflexões a respeito dos problemas em que escola e família enfrentam juntas e mais uma vez nota-se o interesse da parceria. 77% dos pais afirmam que o fato de haver ainda um grande número de gravidez na adolescência se dá por uma série de fatores (sociais, econômicos, familiares) não é só apenas por se trabalhar pouco ou muito na escola. Já 23% dos pais acreditam que sim, pode ser pelo motivo de não se trabalhar na escola, pois ali é lugar propício e, fica deficiente o aprendizado do aluno em relação a esse tema. É o que demonstra o gráfico abaixo.
Sujeito / Profissão Descrição da fala
46 anos/ pintor Agradeço à escola que é uma instituição de grande valor e responsabilidade, com nossos filhos. Que Deus lhes dê sabedoria, grato.
27 anos/ vendedora Muito obrigado pela ajuda e carinho com nossas crianças.
34 anos/ vendedora Agradeço aos educadores, pelo empenho e dedicação ao abordarem o tema sexualidade e ajudar meu filho.
54 anos/ metalúrgica Boa sorte!
44 anos/ pedreiro Estou satisfeito, muito obrigado.
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30 anos/ op. caixa Pra mim está bom, as perguntas estão bem coerentes e nos deixa à vontade para responder.
40 anos/ do lar Está tudo ok.
Tabela 14 - Fonte: dados da pesquisa realizada
Importante comentar algumas falas que não foram expostas nos quadros. Observa-se que alguns pais sentem que a escola os ajuda a interagir sobre esse tema com seus filhos, tira as dúvidas dos alunos dentro de um contexto adequado no qual estão à vontade. No questionário, de forma geral, as opiniões nos apontaram um norte, que pode ser utilizado para sinalizar que a escola está no caminho certo.
Foi percebido que as falas de alguns pais oscilavam como, por exemplo, na análise, feita a uma mesma pergunta, a questão 10 questionava suas opiniões sobre a abordagem do livro didático. A grande maioria disse estar satisfeita, apenas duas mães disseram que o tema “reprodução” era muito avançado para crianças de 10 anos e em contrapartida outros, disseram que queriam que o livro aprofundasse e alargasse mais o assunto.
Alguns pais falaram de opção sexual, outros mencionaram mentalidade cristã, e citaram a bíblia. Também houve pais que demostram sua indignação dizendo que a escola não deve falar sobre esse assunto apontando para a realidade de que a temática não é bem vista por todos. Foi observado também que outros pais ficaram preocupados com o ensino em relação à idade das crianças.
Foram ditas frases como: “o sexo esta banalizado pela sociedade”; “ o mundo está se tornando um lugar complicado”; “ o mundo está totalmente de cabeça para baixo”; “ estamos passando por uma crise mundial”. Seguidos a essas declarações, estão os pedidos aos professores que tenham cautela, sensibilidade, suavidade, prudência, bom senso, seriedade e que “não atropelem as coisas”, quanto ao ensinar essa temática aos seus filhos. Outros mencionaram sugestões de temas como abuso sexual, erotização infantil, pedofilia, desrespeito contra a mulher, gravidez precoce, doenças sexualmente transmissíveis, prevenção e preconceito. Houve um pai que até quis mencionar o código penal que diz que “ter relação sexual com menores de 14 anos é crime”. Enfim percebe-se assim um dos importantes desafios da escola, tarefa melindrosa para a escola. A escola é realmente um lugar significativo para discutir assuntos diversos, nesse caso mais especificamente sobre a Educação Sexual Infantil.
5.6 CONSIDERAÇÕES
Este trabalho visou a contribuir com professores de escolas de Ibirité e Contagem, oferecendo informações a respeito da discussão da tríade sexualidade, anseio da família e livro didático, em sala de aula, proporcionando a reflexão a respeito dessa temática que vêm sucedendo constantes mudanças com o passar do tempo e, que merece atenção e zelo, ao se trabalhar essa temática. Verdadeiramente um desafio.
Os questionários de forma geral mostraram que a família confia na escola, juntamente com seus profissionais e materiais. Percebeu-se também que as famílias importam-se com a educação sexual dos filhos e querem opinar e participar. Eles veem a escola como parceira e ajuda positiva na formação dos filhos. E esse reflexo percebe-se nas falas de confiança deles tendo certeza de que a escola fará as melhores escolhas a respeito dos livros didáticos bem como outros materiais.
Sendo assim, conclui-se que a escola precisa estar sempre atualizada em relação às mudanças científicas e sociais, fornecendo a seus profissionais contínua instrução, para que eles possam atuar de forma a transmitir um ensino educacional de caráter informativo/formativo. É importante também que os livros levem em consideração a “bagagem” trazida de casa pela criança, buscando sempre a parceria da família, levando-os (alunos e familiares) a refletirem e participarem conjuntamente com a escola sobre a análise de materiais a serem adotados, como o livro didático por exemplo.
O universo educacional ainda tem muito que melhorar, a pesquisa dos três livros didáticos aqui apresentados, vem dar ouvidos e considerar as expectativas dos pais dos alunos. E apresentar os obstáculos que a educação galga. Mas sabe-se que existem vários outros livros didáticos e paradidáticos que não atendem às necessidades básicas sobre educação sexual. Talvez pela própria “história sexual” do autor ou do profissional que transmite o tema, ou própria história da Educação Sexual no Brasil.
Acredita-se que este trabalho possa ser instrumento que contribua com outras pesquisas sobre essa temática ou áreas afins. Deixa-se aqui uma abertura para que outros autores pesquisadores se apropriem desta pesquisa e acrescentem outras observações sobre outros livros que atendam ou não atendam a respeito da abordagem sobre orientação sexual. Sabe-se que esses conhecimentos trazidos aqui são apenas gotas que contribuem no oceano de possibilidades que existem na educação de nossas crianças.
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* aluna de Pedagogia - UNIVERSIDADE DO ESTADO DE MINAS GERAIS- Campus Ibirité- Faculdade de Educação
** aluna de Pedagogia- UNIVERSIDADE DO ESTADO DE MINAS GERAIS- Campus Ibirité- Faculdade de Educação
*** Professora do ensino superior da UNIVERSIDADE DO ESTADO DE MINAS GERAIS- Campus de Ibirité- Faculdade de Educação.
**** Professor de ensino superior da UNIVERSIDADE DO ESTADO DE MINAS GERAIS- Campus Ibirité- Faculdade de Educação.
1 Período Vitoriano refere se à época em que a Rainha Vitória reinou na Inglaterra no século XIX. Nesse período aconteceu grande progresso industrial, cientifico e econômico. Foi uma época de puritanismo, moralismo, além de grandes contradições. Havia regras sociais rígidas que condenavam expressões sexuais e amorosas.
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