Revista: CCCSS Contribuciones a las Ciencias Sociales
ISSN: 1988-7833


REFLEXÕES SOBRE O CONCEITO DE CULTURA E O ENSINO DA GEOGRAFIA

Autores e infomación del artículo

Luciana Rachel Coutinho Parente
Professora Adjunta do Campus Mata Norte
Universidade de Pernambuco

luciana.coutinho@upe.br

RESUMO
O presente artigo, intitulado “Reflexões sobre cultura e ensino da geografia”, visa realizar uma análise sobre a cultura enquanto ferramenta conceitual para a análise geográfica, especialmente, no que tange ao ensino da Geografia.
Busca-se perceber o quão é importante considerar uma abordagem cultural no processo de ensino-aprendizagem, na medida em que a cultura é o reflexo, expressa o modo de apropriação dos recursos da natureza e as relações entre os grupos humanos, seja em âmbito local, regional, nacional ou mundial.
Assim, o estudo da cultura pela Geografia constitui um ramo relevante dentro da abordagem humana, sendo condição para o entendimento da complexidade das relações natureza-sociedade, com mérito semelhante a outros campos de análise da Geografia, por exemplo, o econômico, o político, o urbano e o agrário.
Deve-se considerar, ainda, que no mundo atual – onde as informações circulam em ritmo extremamente veloz – o conhecimento deve ser trabalhado a partir das vivências dos educandos e dos contextos socioculturais em que os indivíduos estão inseridos, de modo a auxiliá-los na vida cotidiana.
Importa pontuar que a Geografia não se pode furtar do papel de perceber a pluralidade/diversidade dos modos de existência dos grupos humanos enquanto seres sociais. Isto, sob pena de ser engolida por uma tendência homogeneizante, na qual as diversas heranças, construídas ao longo do tempo, tendem ao abandono frente a um mundo onde as relações humanas se articulam globalmente.
Diante do exposto, cumpre refletir sobre as contribuições, resultantes do ensino da Geografia, para manutenção e valorização das relações identitárias, de modo a formar cidadãos conscientes da importância do seu papel na coletividade e na construção de um mundo plural.

PALAVRAS CHAVES: Cultura, ensino de Geografia, pluralidade, diversidade, identidade.

REFLECTIONS ABOUT CULTURE AND TEACHING GEOGRAPHY

ABSTRACT

This article, entitled “Reflections about culture and teaching geography, aims to carry out an analysis about culture as a conceptual tool for geographic analysis, especially in what concerns of teaching Geography.
It is sought to understand how important it is to consider a cultural approach in the teaching-learning process insofar as culture is the reflection, it expresses the form of natural resources are appropriate and the relations between human groups, whether at local, regional, national or global level.
Thus, the study of culture by Geography constitutes a relevant branch within the human approach, being a condition for understanding the complexity relation between nature-society, with similar value to others fields of geography analysis, for example, economic, political, urban, agrarian.
It should also be considered that in today's world - where information circulates at an extremely fast pace - knowledge must be worked from students' experiences and sociocultural contexts in which individuals are inserted, in order to assist them in everyday life.
It is important to point out that Geography cannot avoid the role of perceiving the plurality/diversity existence modes of humans groups as social beings. This, on pain of being swallowed up by a homogenizing tendency, in which the various inheritances, built over time, tend to abandonment in the face of a world where human relations are articulated globally.
In the light of the above, it is necessary to reflect about contributions, resulting from the teaching Geography, to maintain and enhance identities' relations in order to educate citizens aware of their role in society and in construction a plural world.

KEYWORDS: Culture, Teaching Geography, plurality, diversity, identity.


Para citar este artículo puede utilizar el siguiente formato:

Luciana Rachel Coutinho Parente (2017): “Reflexões sobre o conceito de cultura e o ensino da geografia”, Revista Contribuciones a las Ciencias Sociales, (abril-junio 2017). En línea:
http://www.eumed.net/rev/cccss/2017/02/cultura-ensino-geografia.html

http://hdl.handle.net/20.500.11763/cccss1702cultura-ensino-geografia


1. O CONCEITO DE CULTURA NA PERSPECTIVA GEOGRÁFICA

Cumpre indicar, inicialmente, a origem e evolução da palavra cultura, que surge do latim colere e apresenta como significado a ação de cultivar a terra e criar o gado. Segundo Crespi (1997, p. 14-15), os gregos designavam cultura a partir do conceito de paideia, termo esse usado para se referir ao processo de formação da personalidade humana através da aprendizagem, sendo considerado culto ao indivíduo que assimilasse os conhecimentos e valores socialmente construídos, transformando-os em qualidades pessoais.
O referido autor aponta, ainda, para o fato de, somente no século XVIII, o termo cultura ter tido seu significado ampliado, passando então a ser visto como: “patrimônio universal dos conhecimentos e valores formativos ao longo da história da humanidade, e que, como tal, é aberto a todos, constituindo enquanto depósito da memória coletiva, uma fonte constante de enriquecimento da experiência.”
Importa mencionar que o conceito científico de cultura remonta ao século XIX, quando o etnólogo americano Edward Tylor teoriza acerca do referido conceito. Segundo Crespi (1997, p. 13) “Tylor definia a cultura como aquele conjunto de elementos que inclui conhecimentos, crenças, arte, moral, leis, usos e quaisquer outras capacidades e costumes adquiridos pelo homem enquanto membro de uma sociedade”.
Faz-se necessário notar que, a cultura se apresenta enquanto um produto da ação humana. Conforme Almeida (2005, p. 8):

Constitui-se como uma forma de expressão da mente humana exteriorizada através do seu sentido material (ex. monumentos), ou imaterial (ex. literatura, música), fornecendo um contexto e prazer de fruição, assumindo-se como estrutura do presente, do passado e do futuro.

Cuche (1999, p. 21-22) define que a noção de cultura se apresenta enquanto um meio, uma ferramenta de pensamento das ciências sociais para analisar o ser humano por uma ótica diferente da biologia, isto é, busca entendê-lo enquanto ser adaptável e adaptante do meio natural.
Em outras palavras, o ser humano ao se apropriar dos recursos naturais, utilizando formas específicas em função da disponibilidade/diversidade destes, vai construindo o que chamamos de cultura, assim como faz nascer a pluralidade cultural. Isto é, os grupos humanos ao possuírem recursos diferenciados, vão ter de arranjar maneiras, combinações igualmente diferentes para atender as suas necessidades e seus projetos.
Nota-se que, no processo de adaptação e de transformação da natureza ao longo da história da humanidade, alguns elementos materiais e imateriais foram sendo deixados pelos grupos humanos como marcas ou heranças, a estes elementos atribuído valor diferenciado. Cuche (1999, p. 3) esclarece que “se a cultura não é um dado, uma herança que se transita de geração em geração, é porque é uma produção histórica, quer dizer, uma construção que se inscreve na história e mais precisamente nas relações dos grupos sociais uns com os outros”.
É interessante notar que, a cultura se “apoia” no passado, mas ao mesmo tempo se apresenta dinâmica, se reinventa no presente, ao passo que materializa-se no território e “sofre” as influências das transformações decorrentes do contato entre os grupos sociais, ou seja, configura-se, por um lado, de elementos que resistem ao tempo e, por outro, de elementos novos. Neste sentido, Claval (2007, p. 63) afirma que:
 
A cultura é a soma dos comportamentos, dos saberes, das técnicas, dos conhecimentos e dos valores acumulados pelos indivíduos […] Ela tem um passado longínquo, que mergulha no território onde seus mortos são enterrados e onde seus deuses se manifestaram. Não é portanto um conjunto imutável de técnicas e de comportamentos. Os contatos entre os povos de diferentes culturas são algumas vezes conflitantes, mas constituem uma fonte de enriquecimento mútuo. A cultura transforma-se, também, sob o efeito das iniciativas ou das inovações que florescem em seu seio.

Outra questão interessante a se considerar é que no mesmo período em que se define a concepção de cultura, no século XIX, nasce o conceito de civilidade ou civilização, como forma de rejeição ao domínio da barbárie, de povos tidos como não civilizados.
A ideia de civilidade é produto da profunda transformação ocorrida no pensamento ocidental relativamente a dimensão histórica; de fato, com o Iluminismo, e contrariando os conceitos teológicos, vai-se confirmando a perspectiva evolutiva da história da humanidade como um contínuo progresso determinado pelos seres humanos.” (CRESPI, 1997, p. 15).

A noção de civilização e de cultura são vistas hoje como formas de “integração” e de valorização do específico e do único.
Cabe lembrar que, ao longo da história da humanidade, apesar da tendência expansionista e etnocêntrica, temos hoje muitos locais e expressões/modos de existir declarados pela UNESCO patrimônio mundial, justamente em função de expressar o contato, as lutas, as disputas territoriais entre os grupos humanos. Em síntese, a criação, na década de 1970, de meios de controle e proteção dos lugares e das tradições são o símbolo do “amadurecimento” e “evolução” dos conceitos de cultura e civilização a partir da ótica ocidental.
Nesta direção, Brito Henriques (2003, p. 51) chama atenção para a ameaça da perspectiva etnocêntrica afirmando que: “o etnocentrismo perturba a nossa percepção do Mundo, levando-nos a tomar como universais tendências que nos são particulares.” É preciso fazer perceber a diversidade das formas de pensar e viver de modo a colaborar com o entendimento entre os indivíduos e os povos.
Desta forma, deve-se enfatizar que a cultura é o resultado da combinação entre os elementos intrínsecos de um dado grupo humano sob a influência das externalidades, ou seja, a cultura resulta do somatório entre as especificidades locais e generalidades globais.
Devemos reconhecer que são os fatores internos que preponderam sobre os fatores externos; contudo, com o avanço das técnicas e das tecnologias – sobretudo as ligadas às telecomunicações e aos transportes – que cada vez mais assistimos a um processo de pressão sobre os fatores internos “formadores” das diferentes culturas existentes, ainda hoje, no mundo.
Kashimoto et al. (2002, p. 35) definem cultura:

Como um conjunto de atividades e crenças que uma comunidade adota para enfrentar os problemas impostos pelo meio ambiente, noção que será complementada pela definição segundo a qual a cultura é o conjunto de soluções originais que um grupo de seres humanos inventa, a fim de se adaptar a seu meio ambiente natural e social.

Desta forma, pode-se concluir que a noção de cultura representa/expressa a totalidade das múltiplas interações do ser humano com a natureza. Abrange desde hábitos cotidianos até os processos de tomadas de decisão realizados de forma individual ou coletiva.
Enfatiza-se que, mesmo havendo uma evolução teórica e, em alguns casos, prática no entendimento do que vem a ser cultura, devemos ter em mente o constante questionamento sobre o que é intrínseco e exterior à(s) cultura(s). Ademais, é necessário atentar-se aos resultados promovidos pelo cruzamento destas duas variáveis.
Desta maneira, indagamos até que ponto os lugares mantêm as características de sua gênese. Será que os elementos únicos de suas culturas ou paisagens se mantêm “isentos” às pressões, do que por hora chamamos, de forças globais?
Neste sentido, Featherstone (2001, p. 89) ao realizar discussão sobre culturas globais e culturas locais afirma que:
 
[...] não significa que a intensificação dos fluxos culturais origine um maior cosmopolitismo e tolerância. Uma maior familiarização com “o outro”, quer em termos de modos de relacionamento interpessoal, quer de imagens e perspectivas, que os outros têm do mundo ou das diferentes ideologias, pode sempre dar origem ao sentimento perturbador de se estar a ser absorvido, ou vir a sê-lo.

O autor aponta, ainda, para tendência de uma intensificação da “fragmentação cultural”, onde os indivíduos ou assumem uma postura de se “agarrar” a identidade local ou “re-simbolizam” a realidade do lugar, de modo a se articular com a cultura global.
Uma outra questão, que antecede a oposição entre os elementos locais e os globais, consiste no fato dos indivíduos assimilarem a cultura de formas diferenciadas, haja vista que antes de serem pertencentes a uma coletividade são singulares. Deste modo, Claval (2007, p.14) afirma que:

A aventura pela qual cada um se impregna da cultura do grupo onde vive é fundamentalmente individual. Nem todo mundo recebe a mesma bagagem, não a interioriza da mesma maneira e nem a utiliza para os mesmos fins. A cultura é um dos fatores essenciais da diferenciação das situações sociais e do status que é reconhecido a cada um.

Desta forma, nota-se que os espaços geográficos expressam ou materializam os modos de existir e as relações identitárias de forma única, simbolizando as fases do passado, da própria história da humanidade e as especificidades da natureza o que deve ser foco da abordagem geográfica no processo de ensino-aprendizagem-ensino.

2. A IMPORTÂNCIA DO CONCEITO DE CULTURA PARA O ENSINO DA GEOGRAFIA

Importa referir, de acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais para o ensino da Geografia, tanto no nível Fundamental, como no nível Médio, que as questões vinculadas ao conceito de cultura são um importante eixo norteador, bastante frequente na proposição dos encaminhamentos e diretrizes.
Os Parâmetros Curriculares Nacionais para o ensino da Geografia no nível fundamental (1998, p.24) chama a atenção para a necessidade:

Uma Geografia que não seja apenas centrada na descrição empírica das paisagens, tampouco pautada exclusivamente pela explicação política e econômica do mundo; que trabalhe tanto as relações socioculturais da paisagem como os elementos físicos e biológicos que dela fazem parte, investigando as múltiplas interações entre eles estabelecidas na constituição dos lugares e territórios. Enfim, buscar explicar para compreender.

Assim, pode-se observar que a Geografia deve ater-se à uma abordagem onde os fatores humanos e da natureza sejam trabalhados de forma articulada e crítica, onde o foco não seja direcionado apenas às questões políticas e econômicas, mas também vinculado ao olhar trazido pela abordagem sobre os fatores culturais, sendo o papel dos docentes decisivo no desenvolvimento de competências teóricas e práticas para abordar a referida temática.
Vale referir que a abordagem cultural aparece de forma mais enfática enquanto tema transversal dos PCNS. Assim, temos segundo o referido documento (Brasil, 1997, p.27) sobre os temas transversais, especificamente em relação à pluralidade cultural, a seguinte definição:
Para viver democraticamente em uma sociedade plural é preciso respeitar os diferentes grupos e culturas que a constituem. A sociedade brasileira é formada não só por diferentes etnias, como por imigrantes de diferentes países. Além disso, as migrações colocam em contato grupos diferenciados. Sabe-se que as regiões brasileiras têm características culturais bastante diversas e a convivência entre grupos diferenciados nos planos social e cultural muitas vezes é marcada pelo preconceito e pela discriminação. O grande desafio da escola é investir na superação da discriminação e dar a conhecer a riqueza representada pela diversidade etnocultural que compõe o patrimônio sociocultural brasileiro, valorizando a trajetória particular dos grupos que compõem a sociedade. Nesse sentido, a escola deve ser local de diálogo, de aprender a conviver, vivenciando a própria cultura e respeitando as diferentes formas de expressão cultural.

Cabe referir, diante das questões apontadas, que a prática pedagógica tem importante papel no processo de ensino-aprendizagem. É preciso ter em mente que as questões vinculadas à categoria de abordagem cultural devem ser construídas a partir das especificidades cotidianas dos alunos e também de acordo com as normas e regulações coletivas.
Vesentini (2008, p.15) chama a atenção para a necessidade de estarmos atentos para a dicotomia entre cultura e ideologia:
[…] evidencia-se uma enorme dificuldade no trabalhar com essa dicotomia “cultura ou ideologia”. Não apenas porque toda educação e todo ensino – seja tradicional ou crítico – seja exacerbadamente ideológico ou não, seja alicerçado ou no senso comum ou em tal ou qual filosofia educacional – são sempre partes constitutivas e essenciais da cultura […].

Assim, diante das palavras de Vesentini podemos perceber o quão importante é lançar mão, direcionar o olhar, no processo de ensino-aprendizagem, para o conceito de cultura. O entendimento das diversas facetas constituidoras da(s) cultura(s) se apresenta de extrema importância, pois esta se constitui enquanto uma categoria de análise “cara” não somente para a abordagem geográfica, mas também para diversos ramos do saber, pois expressa as especificidades das relações humanas, onde inclui-se a educação.
A compreensão sobre os fatores culturais serve também como ferramenta de auxílio na resolução de conflitos entre os grupos sociais. Conflitos esses, muitas vezes, nascidos da não-aceitação de um grupo em relação ao outro, da tentativa de “imposição” de determinados valores.
Assim, os espaços de ensino-aprendizagem não podem deixar de trazer à tona as questões referentes a diversidade/pluralidade cultural, pois observamos com frequência nos dias atuais, casos de intolerância, que chegam até à agressões verbais e físicas dentro do ambiente escolar, originados, muitas vezes por divergências religiosas, de classe social, de entendimento político dentre outros. A situação é tão grave que chega a tornar-se um problema que tem ganho dimensões mundiais, resultante do extremismo/fundamentalismo de um povo em relação ao outro, como exemplo do que afirmamos temos os atentados terroristas promovidos pelo estado islâmico.
Cabe pontuar que os conflitos resultantes do contato entre os povos, obviamente, sempre existiram ao longo da história da humanidade, contudo muito mais atrelados às necessidades de demarcação territorial, num primeiro momento, e depois, da “necessidade” de afirmação do sistema capitalista, motivada, primordialmente, por interesses econômicos.
Importa também deixar claro que não estamos aqui para emitir juízo de valor sobre as possíveis “motivações” dos conflitos de âmbito mundial vistos nos dias de hoje, mas sim para chamar a atenção para o fato de que os elementos culturais estão no cerne das referidas questões.
Desta forma, a Geografia apresenta-se enquanto saber estratégico, pois pode contribuir para o entendimento acerca da importância da diversidade/pluralidade. Ao passo que busca compreender o processo de apropriação dos recursos da natureza pelos diversos grupos sociais, bem como, na medida em que discute as especificidades dos grupos humanos pode constituir-se enquanto um instrumento estimulador/promotor do respeito e da tolerância entre os indivíduos na vida em sociedade.

3. NOTAS FINAIS: ALGUNS RESULTADOS NO PROCESSO DE ENSINO-APRENDIZAGEM A PARTIR DA ABORDAGEM PAUTADA NA CULTURA
Diante do exposto, cumpre referir que os aspectos da(s) cultura(s) no ensino da Geografia deve ser um campo de análise mais estimulado, com vistas a colaborar com a formação de cidadãos “plenos” e autônomos, isto é, deve-se proporcionar a constituição de indivíduos conscientes sobre o valor da diversidade, já que foi exatamente esta diversidade que estimulou o ser humano a avançar nas suas relações com o ambiente e em sociedade.
Assim sendo, a compreensão sobre a importância das especificidades culturais vai de encontro com a perspectiva de uma outra globalização, conforme salienta Santos (2001), onde a fábula e a perversidade possam dar lugar à um mundo articulado globalmente de maneira menos conflituosa.
Destarte, podemos refletir sobre a possibilidade de contribuir para a construção de um mundo em que todas as pessoas sejam sistematicamente engajadas a partir de um processo de múltiplas interações à nível global mais humano, apoiado não somente por interesses econômicos do sistema capitalista, mas, e, sobretudo, nas questões de proveito da coletividade e do bem estar comum.           
Importa pontuar, de acordo com a UNESCO (1982) na Declaração do México sobre as Políticas Culturais, que a cultura se constitui em conjunto distinto de atributos espirituais e materiais, intelectuais e afetivos que caracterizam uma sociedade ou grupo social, onde se abarca não somente as artes e a literatura, como também os modos de vida, os sistemas de valores, as tradições e as crenças e os direitos fundamentais do ser humano. É a cultura que permite ao ser humano tomar consciência acerca de suas práticas e ações, além de proporcionar a percepção de que as sociedades estão em um processo contínuo de significação e ressignificação.
É preciso buscar urgentemente estimular nos alunos, através do diálogo entre a Geografia e o conceito de cultura(s), a construção de uma visão crítica sobre a realidade que se impõe, fazer refletir sobre uma nova visão da vida em sociedade,  incentivá-los a reaprender  ver o mundo.
Nesta direção Callai (1999, p. 68) chama a atenção:
Pensar o espaço supõe dar ao aluno condições de construir um instrumento tal que seja capaz de permitir-lhe buscar e organizar informações para refletir em cima delas. Não apenas para entender determinado conteúdo, mas para usá-lo como possibilidade de construir a sua cidadania.

Em síntese, pode-se concluir que o ensino da Geografia articulado com a diversidade dos fatores culturais pode se constituir como um instrumento de fortalecimento das identidades culturais e de reforço da cidadania, o que por sua vez irá contribuir para a redução dos conflitos em sala de aula, e, principalmente poderá colaborar com a manutenção e valorização das relações identitárias e culturais, de modo que sejam formados cidadãos conscientes do seu papel na construção de um mundo plural, que será portanto mais igualitário e justo.

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Recibido: 06/06/2017 Aceptado: 12/06/2017 Publicado: Junio de 2017

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