Revista: CCCSS Contribuciones a las Ciencias Sociales
ISSN: 1988-7833


NOÇÕES SOBRE O PROCESSO DE INDUSTRIALIZAÇÃO EM MATO GROSSO DO SUL

Autores e infomación del artículo

Juliana dos Santos Silva*

Francisco José Avelino**

Fundação Unidade Federal de Mato Grosso do Sul, Brasil

judsantossilva@gmail.com

RESUMO
O presente ensaio traz contribuições sobre a indústria no recente estado de Mato Grosso do Sul. Entre as principais destacamos a cadeia produtiva global de soja, celulose e papel, minério e de carnes. Estas, por sua vez, se utilizam de recursos naturais. A soja possui maior número em exportação sendo seguida pela celulose e papel de acordo com dados do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (2015). No entanto, este trabalho procura apontar o inicio da indústria no respectivo estado e qual foi o papel dos municípios de relevância regional em consagrar essas cadeias produtivas.

Palavras-Chave: Indústria, Mato Grosso do Sul, Cadeia Produtiva.

NOTIONS ABOUT THE PROCESS OF INDUSTRIALIZATION IN MATO GROSSO DO SUL / BRAZIL

ABSTRACT
This paper brings contributions about the industry from the young state of Mato Grosso do Sul (Brazil). Among the most important industries which we detachedly soybean, pulp and paper, iron ore and beef global supply chain. Those, on the other hand, are based in naturals resources. Soy has the mostly amount in exportation and followed by pulp and paper, according with the data from Ministry of Commerce and Industry (2015). However, this essay look for point the inception of industry on the respective state and what was the function of the counties with regional relevance about to consecrate those supply chains.

Key-words: Industry; Mato Grosso do Sul; Supply Chain.



Para citar este artículo puede utilizar el siguiente formato:

Juliana dos Santos Silva y Francisco José Avelino (2017): “Noções sobre o processo de industrialização em Mato Grosso do Sul”, Revista Contribuciones a las Ciencias Sociales, (enero-marzo 2017). En línea:
http://www.eumed.net/rev/cccss/2017/01/industria.html

http://hdl.handle.net/20.500.11763/cccss1701industria


INTRODUÇÃO

            O recente estado de Mato Grosso do Sul, pertencia ao território de Mato Grosso e veio a desmembrar-se em 1977, decorrente de interesses político-econômicos. Possui área equivalente a 357.145,534 km² de extensão, sendo banhado pelos rios Paraguai (oeste) e Paraná (leste). Além disso, estes rios somado ao Uruguai, compõe a bacia da Prata que recebe o aquífero Guarani, um dos maiores do mundo (IBGE, 2016; LE BOURLEGAT, 2011). Faz fronteira via rio Paraguai, com os países Bolívia e Paraguai, além dos estados de Goiás, Mato Grosso, Minas Gerais, Paraná e São Paulo - dividido pelo rio Paraná, como indicado no Mapa 1.    
           
            As questões sobre a divisão do estado somam a sua formação econômica socioespacial, dado que esta veio a ocorrer de maneiras distintas. Algumas militares (nas divisas), outras naturalmente (cerca dos rios) e outras comercialmente. As condições naturais, como levantado por Bertholi (2006), motivou a entrada populacional cuiabana, mineira, paulista e gaúcha. Este processo, por sua vez resultou na prática das atividades de pecuária e exploração de erva-mate (principalmente no sul do estado) no século XIX e XX, além da ocupação populacional.
            Os princípios fundiários no então Mato Grosso (atual estado de Mato Grosso do Sul), são marcados na apropriação Pantanal (parte deste patrimônio pertence ao município de Corumbá), pela atividade produtiva de criação bovina pantaneira. Este território que, nos séculos XVI-XVIII era ocupado por indígenas, sendo eles os Guaicurus, mas que com a chegada de "desbravadores" foram reduzindo o contingente populacional.
            A nordeste do estado - ou o planalto, teve entrada da pecuária expansiva advinda de Minas Gerais, por diversas famílias fugindo da violência, principalmente após a crise do ouro. Essas famílias traziam gado e escravos, entrando no estado através do município de Sant'Anna do Parnaíba, atualmente conhecido como Paranaíba, iniciando, assim a atividade pecuária.
            De fato, devido a aproximação geográfica esta região (costa leste do estado) também foi ocupada por migrantes paulistas, goianos e paranaense. Tal processo se estendeu ao município de Campo Grande, induzidos pelas vastas terras e atividade de vacaria. É válido então ressaltar que, a difusão da pecuária organizou-se pelo estado graças as grandes extensões de pastagens (GOMES, 2016; BERTHOLI, 2006).
            Dessa forma, a partir da introdução da cultura bovina no estado, poderemos analisar adiante a formação econômica socioespacial que foi se orquestrando por núcleos urbanos, onde tornaram-se importantes regionalmente, sendo os municípios de Corumbá (minérios), Dourados (soja), Três Lagoas (celulose e papel) e a capital Campo Grande (diversas indústrias).

Formação econômica socioespacial

            Seguindo com o processo de formação econômica socioespacial, o sul do estado os ervais e pecuária dividiram espaços para desenvolver suas atividades, sendo ocupada por gaúchos e paulistas. No entanto, no decorrer dos anos, isto apenas acarretou desavenças sendo uma das razões para separação do estado 1.
            Com a chegada da ferrovia, no século XX, o processo que favoreceu o surgimento de núcleos urbanos pelo país, também se incidiu sobre o sul de Mato Grosso (atual MS), realizando pelo caminho que a Rede Ferroviária Federal S.A (RFFSA) se estendia, ampliando a vinda de imigrantes igualmente e casas de comércio.
            Destarte, corroborando com Bertholi (2006, p.64 )

Na segunda década do século XX, o Sul de Mato Grosso estava ocupado por índios, paraguaios, gaúchos, mineiros, paulistas, nordestinos e europeus (portugueses, espanhóis, ingleses, belgas, principalmente), demonstrando o caráter cosmopolita da formação social daquele lugar, que tiveram na confluência de seus aspectos físicos e sociais uma evidência da articulação entre seus objetos espaciais, historicamente articulados às inversões da divisão do trabalho e da evolução dos modos de produção. 
           
            No entanto, não só de pecuária e ervais se embasaram as atividades produtivas, no século XIX, foram descobertas as jazidas de minério na região do Pantanal.         Sendo elas exploradas e concedidas (através da Corte), na Comarca de Corumbá. De acordo com Almeida (1945) as jazidas no Morro do Urucum eram conhecidas desde a Guerra do Paraguai, que ocorreu em 1864 e 1870. Porém, como limitações de exploração da época e a pouca demanda não vingaram esta atividade.
            Todavia, no inicio dos anos 1900, a participação do capital belga entrou para exploração de minério de ferro, tanto que em Minas Gerais já havia intervenção por parte da Companhia Siderúrgica Belgo-Mineira. Os interesses assentavam-se em abastecer as metalúrgicas belgas, impulsionadas pela demanda via primeira Grande Guerra. Conquanto, como analisou Lamoso (2001), as jazidas de Corumbá estavam em desvantagens frente as de Minas Gerais, que possuíam o fator localização como primazia. A distância, do porto para exportação foi outro impasse aos avanços da época.
            Sustentando-se em Lamoso (2001), no período em que o país passou ter seus primeiros passos ao desenvolvimento industrial  (1932-1942), sucedeu a sanção no Código de Minas que permitia não mais que empresas brasileiras a explorarem minérios. Isto aquiesceu a partir de 1943 que o Governo do Estado firmar-se contrato de exploração de minério de ferro e manganês do morro Urucum com a Sociedade Brasileira de Mineração - SOBRAMIL (idem, p. 228). De outro modo, uma flexibilidade no Código de Minas, permitiu a entrada de capital estrangeiro sendo este americano.
            No decorrer das décadas de 1940-1960, verificou-se a descoberta de novos depósitos o que trouxe mais interesses na exploração de minério de ferro e manganês no estado mato-grossense.
            Já década seguinte, o país estava em outra situação e era impulsionado por forças endógenas, as operações minerais da região de Corumbá, passaram a ser administradas pelo capital privado, mas especificamente, pela empresa Urucum Mineração S.A (pertence a Companhia Vale do Rio Doce) 2. As atividades seguiam sendo exploradas pela Urucum Mineração (CVRD) e Mineração Corumbaense Reunida (RTZ) - capital do grupo de Eike Batista e a britânica Rio Tinto, através da Rio Tinto Brasil, nos municípios de Ladário e Corumbá (LAMOSO, 2001).
            Atualmente as empresas que seguem operando é a Vale e Vetorial, que comprou a empresa de mineração do grupo de Eike Batista. A Vetorial surgiu através de investimentos da América Latina Logísticas (ALL), aliada aos grupos Triunfo Participações e Investimentos (TPI) e Vetorial Mineração (VALOR ECONOMICO, 2011; FOLHA DE SÃO PAULO, 2013).
            De fato, não podemos esquecer que estas atividades trouxeram a tona o plano para criação de um polo minero-siderúrgico, impulsionados pela instalação de uma Termoelétrica, da passagem do Gasoduto Bolívia-Brasil e os demais modais - ferrovia, rodovia, hidrovia, que qualificam o município de Corumbá, como foi apresentado através do Plano Diretor do Distrito Industrial (1978) um espaço propício a receber investimentos públicos, tendo efeitos de crescimento, segundo o discurso político, por toda região do Pantanal (SOUZA, 2002).
            Hodiernamente, a região do Pantanal tem como principal ocupação econômica a pecuária de corte extensivo, com maior rebanho no município de Corumbá. A atividade industrial de relevância é a de mineração com extração de minério de ferro e manganês no município corumbaense e Ladário, além da siderúrgica no primeiro referido. Podemos relacionar também, a atividade turística pantaneira e o comércio fronteiriço.
            Além de Corumbá, temos outros municípios que canalizaram investimentos e proporcionaram a ampliação industrial no estado de Mato Grosso do Sul. Como já mencionado, a unidade federal possui quatro cidades polos e receberam mais atenção e investimentos ao longo dos anos. Como já retratamos a entrada pelo Planalto, fazendo alusão a costa leste e Campo Grande, seguimos agora com a importância da capital para industrialização do estado.
            A capital do atual Mato Grosso do Sul, possuía grande influências com as primeiras penetrações de gado no século XVIII, visto que a área do Planalto, como retratado por Bertholi (2006) se estendia de Campo Grande até aos municípios vizinhos aos estado de São Paulo e Paraná. Como descrito antes, está atividade (Vacaria) esteve atrelada principalmente com a chegada dos mineiros (por volta de 1830).
            De acordo com Lucidio (1993), a pecuária bovina foi a primeira atividade produtiva do estado em sua participação de integração ao mercado nacional. No entanto não foi tão relevante, na capital, a não ser no findar do século XIX com a presença do povoamento mineiro intensivo.
            Com chegada da ferrovia Noroeste Brasil assomando no século XX, Campo Grande passou contingente populacional para sua construção, sendo forçada pela "imigração e migração de trabalhadores, tendo, alguns desses funcionários, estabelecido residência na cidade após o término da instalação da ferrovia." (GOMES, 2016, p.80).
            A formação econômica socioespacial de Campo Grande, então se organizou entre a atividade produtiva da pecuária e com a chegada de migrantes formaram os primeiros núcleos comerciais. Contudo, sua importância no Sul de Mato Grosso, cogitava desmembramento, já na década de 1930 (IBGE, 2016).
            Embasado nos estudos regionais do governo estadual, Campo Grande tem o maior centro industrial, comercial e de serviços do Estado. A região do município polo vê no setor industrial sua maior expansão cimentado nos setores de alimentos, confecções, álcool combustível e metal-mecânico.
            Consoante ao ultimo senso do IBGE de 2010, os dados de população residente chegavam a 786.797 habitantes. Enquanto que a quantidade arrecada em PIB no ano de 2013, teve maior valor adicionado no setor de serviços (administração, saúde e educação públicas e seguridade social) que reuniu $10.477.806 mil reais. O segundo maior valor ficou com a indústria (R$ 3.115.845), seguido pelo setor agropecuário (R$ 225.434) (IBGE, 2016).
            Destarte, os estudos regionais apontaram que a região campo-grandense é

[...] polarizadora da estrutura de comércio e serviços dentro do Estado, concentrando 42,1% dos estabelecimentos comerciais de Mato Grosso do Sul e 32,2% das salas de aula oferecidas à população estadual em 2013. Na área de saúde é detentora de 44,0% dos leitos hospitalares existentes no ano de 2010. A rede de serviços bancários também tem grande parte de seu atendimento localizado na Região de Campo Grande, onde se localizam 117 agências bancárias das 291 existentes no MS, segundo dados de 2013. Grande parte da população que vive nesta região utiliza a rede de serviços sociais localizada na Cidade de Campo Grande que é detentora de aproximadamente 90% dessa rede regional. (MATO GROSSO DO SUL, 2015, p.21).

            Dado estas informações, sobre a dimensão desempenhada pela capital do estado, é válido ressaltar que suas atividades industriais são as mais diversificadas, quando em 2014, recebia 379 estabelecimentos alimentícios, 314 de vestuários, 127 metalúrgico, 122 do setor de minerais não metálicos, 532 da construção civil, 159 impressão, 158 de moveis, dentre outros. Estes setores, correlacionados na Tabela 3, são os que ganham destaque em relação aos demais municípios, por haver maior número de estabelecimentos em Campo Grande.

            Sendo assim, a capital sul-mato-grossense conta com 2461 estabelecimentos industriais e, como destacado acima, todos estes estabelecimentos são encontrados em maior quantidade em Campo Grande. Por exemplo, enquanto que este município conta com 379 estabelecimentos alimentícios, o segundo município (Dourados) a abranger este setor, soma 88 estabelecimentos, e Selviria em ultimo, com oito. Outra exemplo, é o setor de construção civil, representando 532 em Campo Grande e 151 em Dourados (GOMES, 2016).
            Antes de seguirmos para o próximo município de relevância regional, é necessário destacar que Campo Grande também foi apontado como potência regional na porção meridional do então Mato Grosso. Tal como os demais polos foram planejados a criação de distritos industriais, conferindo a estes a magnitude de amenizar as desigualdades e alavancar a economia regional.
            A participação da SUDECO foi fundamental no processo de industrialização do estado, em especial no que tange aos municípios de relevância regional, pois esta analisava os estudos e autorizava os recursos para implantação. As observações apontavam os fatores locacionais em que estavam inseridos. No caso Campo Grande, sua posição estratégica, as vias de escoamento (BR 262 e 163) e centro urbano econômico de relevância (SOUZA, 2002).
            Com isso em mente, prosseguimos com o município de Dourados, localizado na região sul do estado. A ocupação significou desde a passagem de europeus no período de colonização - em território habitado por indígenas - até os portugueses arrendarem grandes quantidades de terras para atividade pecuária.
            Já no século XIX, a região sul é apropriada para exploração de ervais, concedida através do governo estadual.            Estabeleceu-se então a criação da Cia Matte Laranjeira (Thomaz Laranjeira e Francisco Mendes Gonçalves e Cia) sob arranjos de capital estrangeiro conferindo-lhes hegemonia ante aos ervais (BERTHOLI, 2006).
            A entrada pelo sul e expansão da formação gaúcho se deu pós revolução federalista, na qual muitos sulistas trouxeram a cultura e cultivo da pecuária, motivando disputas de terra com a companhia de erva-mate. No século XX, a formação econômica e social da região era pautada nestas atividades e ocupada por indígenas, paraguaios, gaúchos, mineiros, paulistas, nordestinos e europeus.
            O salto para a atividade industrial esteve atrelado a criação dos distritos industriais induzidos por órgãos e financiamentos federal, estadual e municipal. Como ressaltado por Gomes (2016, p.87), as indústrias que se instalaram em Dourados (e por todo território sul-mato-grossense) acompanharam as especificidades da região "em Dourados temos a inserção das processadoras de grãos, que se instalaram próximas a produção da matéria-prima como a soja e muitas vezes exportada de forma primária, como é o caso do milho."
            A região da Grande Dourados singularmente está ligada ao setor industrial por intermédio do esmagamento de soja, cana de açúcar (álcool) e abate de animais, onde Dourados é o principal polo industrial, comercial e de serviços. Os fatores que contribuem para a concentração destas atividades na região douradense, é predomínio de latossolos roxo e vermelho-escuro, somados ao clima com precipitações regulares e relevo com declividades suaves. (MATO GROSSO DO SUL, 2015).
            Na costa leste do estado, temos o município de Três Lagoas responsável pela mesorregião leste. Sua localização permitiu desde o inicio relações mais estreitas com o estado paulista. O processo de ocupação do planalto, como já dito supra, teve migrações da cultura pecuária (mineiros maiormente) entrando por Paranaíba (Sant'Ana do Paranaíba), Aparecida do Taboado, Três Lagoas, Brasilândia a procura de terras para pastagens (CATTANIO, 1976; BERTHOLI, 2006). Aranha-Silva (2002) assinalou ao fato de 45% fluxo migratório tanto para microrregião de Campo Grande como Três Lagoas advinham de cidades próximas (estados de Goiás, Minas Gerais, Paraná e São Paulo).
             No entanto, foi somente no século XIX que se intensificou formação socioespacial do município três-lagoense se deu com a construção da ferrovia e após sua construção foram formando-se os primeiros núcleos urbanos. A construção da estrada de Noroeste do Brasil, como abordado por Cattanio (1976), trouxe migrantes trabalhadores que, já no século XX, com a inauguração da ferrovia, se estabeleceram cerca das lagoas.
            Assim como os demais municípios de importância regional, Três Lagoas, foi impulsionado pelos programas da década de 1970, como integração e infraestrutura do país, as cidades de Campo Grandes, Corumbá e Dourados se encaixaram nos eixos de desenvolvimento. Como ressaltado por Souza (2002) os polos de desenvolvimento estavam inseridos no discurso de crescimento equilibrado, no entanto, como o próprio autor destaca houve distribuição desigual de recursos e da produção espacial. A leitura do trabalho citado estava embasada na criação dos distritos industriais como instrumento de desenvolvimento regional no estado sul-mato-grossense.
            Com tudo, foram criados distritos industriais a fim de atender a proposta de criação de polos de desenvolvimento regional, adotados aos municípios que atingissem os quesitos para qualificação de importância regional, sendo elas: núcleo urbano, infraestrutura, população e referencia regional. Silva (2016, p. 252) afirma que

A maior parte dos investimentos foram feitos nos polos regionais em decorrência da formação socioespacial, ou seja, as particularidades regionais funcionam como condutores de políticas de atuação do Estado. Por exemplo, a estrutura fundiária concentrada no Leste associada as condições naturais favorecem a conjuntura de expansão de plantio de eucaliptais.

            Destarte, em Três Lagoas, foram criados dois distritos industriais que favoreceram a fomentação do setor. De acordo com Souza (2002), havia em 1963 um plano de industrialização para o município, e somando as fatores Três Lagoas possui uma posição geograficamente estratégica. Sendo assim, os distritos industriais foram implementados cerca da rodovia (BR 262 e 158) e ferrovia (Ferrovia Noroeste do Brasil), além da proximidade as margens do Rio Paraná, onde despejavam dejetos industriais. Vale lembrar, que os critérios para escolha foram o crescimento do ritmo populacional, mercado regional e infraestrutura (idem, p.192).
            Para a instalação do Distrito I 3 foi levado em consideração as condições naturais, socioeconômicas e urbanísticas, ocupando a atividade de cerâmica e de olaria, atualmente já em defasagem. Além disso, desde 1988, tem anexo a Cargill Agrícola atuando no processamentos de soja, produção de óleo vegetal degomado, fabricação de Farelo de soja e produção de biodisel.
             Por outro lado, o Distrito industrial II é mais dinâmico, abrangendo industrias como MetalFrio Solutions S/A (metalúrgica), Termoelétrica PETROBRAS (energia elétrica), Aquarela Agua Mineral (bebidas), Klin Produtos Infantis Ltda (calçadista), Fatex Indústria (textil), dentre outros. Enquanto que o Distrito Industrial III, soma megaindústrias como Fibria Celulose S.A, International Paper do Brasil S.A (junto a planta da primeira), Unidade de Nitrogenados e Fertilizantes III - Petrobras4 .
            Sobre os fatos acima citados, Silva (2013) ratifica

o distrito industrial I voltado para as atividades industriais da construção civil, e desse modo, as empresas localizadas ali são cerâmicas, olarias, fábricas de tanques e pias, e ainda cimenteiras. Já o distrito industrial II com criação mais recente, teria uma tipologia industrial mais diversa, com predominância de empresas têxteis. E por fim, o distrito industrial III teria o cunho mais voltado para o ramo celulósico, e com alta especialização tecnológica e com outras indústrias de produtos nitrogenados. (p.176)

            É necessário evidenciar que, a promoção e viabilização de muitas industrias no estado de Mato Grosso do Sul ocorreram por meio de Fundos de Investimentos através das esferas Federal, como BNDES e FCO por exemplo; Estadual, com MS- Sustentável e MS-EMPREENDEDOR; e Municipal intermediado pelas concessões e isenções fiscais (SOUZA, 2002; SILVA, 2013).
            O principal programa de fomento a industrialização, o MS-EMPREENDEDOR, se embasou na Lei Complementar Nº 93, de 5 de Novembro de 2001, instituída também como Programa Estadual de Fomento à industrialização, ao trabalho, ao emprego e à renda. A este cabia, as políticas fiscais traduzidas em benefícios ou incentivos fiscais, a serem  utilizados na atividade industrial, em empreendimentos, operações do processo de industrialização, ampliação da planta industrial e/ou modernização da planta, além da reativação de unidade industrial paralisada, relocação da planta, dentre outros (MATO GROSSO DO SUL, 2016).
            Feito esta ressalva, o estado sul-mato-grossense ganha notoriedade por possuir dinâmica industrial, baseadas em produtos primários e semifaturados como aponta Silva (2016), já que 2002 a 2014 o estado cresceu 336% ficando em segundo lugar na participação do PIB industrial brasileiro, perdendo somente para a unidade federativa do Pará. Dentre as atividades industriais desenvolvidas no estado, pode-se estabelecer: setor calçadista, têxtil, vestuário, minérios, cana-de-açúcar, alimentício, grãos, celulose e papel, dentre outros . E como Silva (2016, p.162) ressalta "Esse panorama positivo nos índices de crescimento industrial nos leva a compreender a indústria como um dos principais vetores do desenvolvimento regional."
            Esta industrialização como Silva (2016) reitera, assenta-se no "conjunto de fatores geoeconômicos (as tecnoestruturas) que podem ser representadas pelas políticas industrias do governo federal, incentivos fiscais, o contexto internacional e a desconcentração industrial paulista." (idem p.161), estes fatores, em suma, conduziram o contexto industrial do estado.

           
Desconcentração Industrial e Geoeconomia

            A industrialização também está ligada ao processo de desconcentração industrial como citado inicialmente, onde os projetos de desenvolvimento dos polos buscavam a criação destes, no que corresponde ao estado (e território nacional), relacionava-se principalmente em dois fatores: desenvolvimento econômico da área e desafogar as metrópoles do país.
            Para Selingardi-Sampaio (2009) o processo de desconcentração, essencialmente no que tange São Paulo, que a partir de 1978 acelerou seu processo, abrindo caminho a industrialização de outras regiões do país. Mas faz-se necessário compreender essa desconcentração e não confundi-la com a descentralização.
            A autora utiliza o termo desconcentração industrial para identificar o processo que decorria já nos 1950, mas que se acentuou a partir dos anos 1970, onde a capital paulista teve quedas no conjunto industrial, visto que o espaço físico estava saturado, fazendo com que as estruturas industriais buscassem áreas próximas a capital dessa forma

[...] desconcentração industrial [foi] perdendo posição relativa - apesar de seu grande crescimento - porque outras áreas cresciam a um ritmo mais acelerado [...] o processo de descentralização industrial entendido como a transferência física (parcial ou total) de fábricas, ou da produção industrial, da capital para outras áreas, sendo um de seus exemplos o deslocamento de unidades de beneficiamento de algodão para Campinas e outras cidade do interior [...] (grifo do autor, SELINGARDI-SAMPAIO, 2009, p.121).

            Neste sentido, o processo acentuado em Mato Grosso do Sul, pode-se confirmar ser estar atrelado a desconcentração industrial, onde as empresas migram sua atividade, mas os planos de execução permanecem na metrópole. Para Silva (2013, p. 61) "a desconcentração das unidades produtivas no estado de São Paulo é conduzida por eixos de desenvolvimento, e essa lógica territorial, irradiou no oeste paulista um sistema industrial complexo que começa a desbordar para o estado de Mato Grosso do Sul no início do século XXI."
            Como exemplo recente, graças a proximidade geográfica com o estado paulista, apenas 2014 das 121 indústrias que receberam incentivos fiscais em 2014, 36% eram paulistas e este é um dos pontos que elucidam sobre a desconcentração industrial. Tão somente, o processo de industrialização sul-mato-grossense está  por sua vez atrelada as políticas de incentivos e políticas industriais incorporadas as commodities convalidadas em recursos naturais.
            Ademais Souza (2002), também ressalta a importância das cidades polos (Campo Grande, Corumbá, Dourados e Três Lagoas), além de seus eixos de desenvolvimento, como representado no Figura 2.

            Os eixos de desenvolvimento, Sposito e Oliveira (2011), consideram alguns elementos que os caracterizam, sendo eles: "infraestrutura, de transportes e comunicações; cidades médias e; forte participação das atividades produtivas. A sinergia entre estes três elementos proporciona condições favoráveis para o desenvolvimento econômico." (idem, p. 498), desta forma as quatro cidades se encaixam nesta definição, em todos os fatores, principalmente sobre sua relevância regional.
            Antes de encaminhar para as considerações, faz-se necessário analisar a importância geoeconômica do lugar, e como influenciou para escolha tanto dos quatro municípios, quanto para a indústria de celulose e papel o qual se remete o oficio aqui a ser desenvolvido dentro da agenda brasileira de política industrial.
            As questões geoeconômicas que endossam o discurso industrial em Mato Grosso do Sul, podem ser compreendidas nas táticas em que as empresas lançam ao auferir determinado espaço/ lugar que detenha proximidade em obter matéria prima, juntamente a empresa, transformá-la em produto para posterior escoa-la a menor custo. Mas além disso, que o total compute em menor custo e agilidade, sendo eles então a obtenção do terreno, falta de participação ativa dos sindicatos, o tipo de solo, dentre outros fatores.
            Dado isto, acreditamos que em Mato Grosso do Sul as industrias e principalmente as corporações se munem destes artifícios, visto que

[...] a indústria em Mato Grosso do Sul, munida de incentivos fiscais, segue uma regionalização que leva em conta a expertise regional em determinadas atividades produtivas, geralmente de exploração de recursos naturais, fatores como proximidade com as cidades polo, condições edafoclimáticas, proximidade com mercado consumidor e até localização de matéria-prima forçam essa estrutura regional (SILVA, 2016, p. 118).
           
            Sobre geoeconomia, Egler (2009, p.6) descreve que "Tanto geopolítica como geoeconomia partem de uma determinada concepção estratégica de poder, entretanto, se a primeira foca suas atenções no controle tático dos lugares, a geoeconomia atua na projeção logística das redes [...]" e concordamos com Silva (2016) que "[...]o aspecto geoeconômico surge do domínio tático dos mercados e das redes produtivas sobre o território, selecionados pela ação do Estado e/ou das corporações, diferente da geopolítica, na qual o empoderamento é necessário para acumulação da riqueza." (p.236).
            Em Mato Grosso do Sul a busca geoeconômica dos lugares pode ser resumida no perscruto do capital industrial em favorecer-se de suficiência energética, presença mínima de movimentos sociais, participação pouco influente dos sindicatos, infraestrutura dos modais e incentivos fiscais. A exemplo, no leste do estado, o município de Três Lagoas, principalmente, se encontra fortuitamente neste contexto ao abranger duas corporações como Fibria Celulose S.A e Eldorado Brasil Celulose S.A, destacando-se como a "Capital Mundial da Celulose".

Considerações Finais
           
            Após o período de involução de parte da década anterior a de 1970 tangeu com a desconcentração industrial e atingiu principalmente aquelas cidades que se encaixavam na proposta de município polo. Em Mato Grosso do Sul, não foi diferente, e quatro municípios embalaram sobre discurso, ainda quando o estado era apenas Mato Grosso. Campo Grande, Corumbá, Dourados e Três Lagoas, foram consideradas de influência regional e tiveram planos diretores voltados a criação de parques industriais.
            Devido as estruturas, contingente populacional e, particularmente, a posição geográfica, estes municípios também faziam/fazem parte dos eixos de desenvolvimento o que é de fato condição para instalação de industrias. Ainda mais quando o governo em suas três esferas propiciam o palco para atuação, designados como políticas fiscais.
            Enquanto isso, a política industrial do país impulsiona as grandes corporações, representadas no estado por cadeias produtivas de cana de açúcar e grãos (Adecoagro, Raízen, Cargill, Louis Dreyfus Commodities, ADM); carnes (Marfrig, Seara, BRF, JBS); celulose e papel (Eldorado Brasil, Fibria e International Paper) e mineração (Vale e Vetorial).
            Desta forma, a industrialização no estado pode ser definida pelos fatores: política industrial, política de incentivos e pelas cadeias produtivas globais de commodities.

Referencias

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* Discente do Programa de Pós Graduação em Geografia, Fundação Unidade Federal de Mato Grosso do Sul, Campus Três Lagoas
** Doutor em Geografia Humana pela Universidade de São Paulo Docente na Graduação e no Mestrado em Geografia da Fundação Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS)
1 Sobre ocupação do território sul-mato-grossense, as regiões do pantanal, extremo sul e planalto, ver Bertholi, 2006, capítulo I, 24-84.

2 Para detalhes sobre a mineração no Brasil e Mato Grosso do Sul, ver LAMOSO  (2001).

3 Detalhes sobre os Distritos Industriais em Três Lagoas, ver: SILVA (2013).

4 Obra atualmente paralisada devido aos escândalos de corrupção ligados a operação Lava Jato, o qual não é objetivo deste trabalho descrever detalhes.


Recibido: 13/01/2017 Aceptado: 16/03/2017 Publicado: Marzo de 2017

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