Revista: CCCSS Contribuciones a las Ciencias Sociales
ISSN: 1988-7833


A SUSTENTABILIDADE EM DESTINO TURÍSTICO DE NATUREZA

Autores e infomación del artículo

Mary Sandra Guerra Ashton*

Gabriel Grabowski**

Camila Fagundes***

Universidade Feevale, Brasil

marysga@feevale.br

Resumo

Esse estudo tem o objetivo de analisar a sustentabilidade no destino turístico Bonito, bem como as ações de preservação e o adequado manejo dos recursos naturais locais, frente ao aumento do fluxo turístico. Bonito é município localizado no Estado do Mato Grosso do Sul, Brasil. É destaca por suas belezas naturais, formações de grutas, santuários de peixes de águas doces e áreas de preservação ambiental. Quanto à metodologia, foram empregados os métodos bibliográfico, documental, registro fotográfico, entrevista e questionários, além de observação in loco, para posterior análise dos dados coletados. Entre os resultados, foi possível identificar que a gestão local promove ações de preservação como a limitação do fluxo de turistas, a demarcação de áreas de preservação ambiental, capacitações para a qualificação da mão de obra local, bem como a distribuição e comunicação de informações para a preservação dos recursos naturais locais. No entanto, aponta-se a necessidade de melhorias na educação ambiental da população residente e visitante.

Palavras chave:
Turismo, Sustentabilidade, Natureza, Bonito, Brasil.

ABSTRACT
This study aims to analyze the sustainability in Bonito a tourist destination, as well as preservation action and good stewardship of local natural resources, compared to the increase of tourist flow. Bonito is a city located in Mato Grosso do Sul in Brazil and highlighted by the natural beauty, formations of caves, fish sanctuaries freshwater and environmental preservation areas. As for methodology, we employed the methods bibliographical, documentary, photographic register, interviews and questionnaires, and on-site visit for further analysis of the data collected. Among the results, we observed that local management promotes preservation actions such as limiting the flow of tourists, the demarcation of areas of environmental protection, training for the qualification of the local workforce as well as the distribution and reporting for the preservation of local natural resources. However, it pointed out the need for improvements in environmental education of resident population and visitors.

Key Words: Tourism, Sustainability, Nature, Bonito, Brazil.



Para citar este artículo puede utilizar el siguiente formato:

Mary Sandra Guerra Ashton, Gabriel Grabowski y Camila Fagundes (2016): “A sustentabilidade em destino turístico de natureza”, Revista Contribuciones a las Ciencias Sociales, (julio-septiembre 2016). En línea:
http://www.eumed.net/rev/cccss/2016/03/natureza.html

http://hdl.handle.net/20.500.11763/CCCSS-2016-03-natureza


INTRODUÇÃO

Bonito é destino turístico de natureza dos mais destacados no Brasil, em especial no ecoturismo. Diante disso, demanda necessidades específicas de planejamento, principalmente, por meio de projetos e ações para a sustentabilidade local.
O município está localizado no Brasil, no Estado de Mato Grosso do Sul. A região é destaque por formações de grutas, de santuários de peixes de águas doces e de áreas naturais sensíveis, no qual demanda adequada gestão dos seus recursos naturais para a continuidade. Para tanto, foram criadas diversas entidades que atuam em parceria com o setor público e com a comunidade local, no desenvolvimento de projetos e de ações que venham a contribuir para a educação com foco na preservação ambiental. Entre os projetos em andamento destaca-se o Voucher Único, o Projeto Mimoso Vivo, o Projeto Integrar, além do desenvolvimento de ações contínuas visando minimizar os impactos no meio ambiente.
Bonito tem sua matriz socioeconômica baseada no turismo. Segundo dados do Ministério do Turismo do Brasil (2015) o município recebeu 85,7 mil visitantes de janeiro a julho de 2015. Número que corresponde aos turistas interessados nas atividades turísticas que compõem a oferta local, que conforme Arruda, Oliveira; Mariani (2014) é diversificada com atrativos naturais em maioria, mas também atrativos culturais.
Isto posto, esse estudo tem o objetivo de analisar a sustentabilidade no destino turístico Bonito, bem como as ações de preservação e o adequado manejo dos recursos naturais locais, frente ao aumento do fluxo turístico. Essa pesquisa se justifica, pois se pretende contribuir com subsídios teóricos, fruto de investigação científica, para o desenvolvimento sustentável desse destino turístico. Para tanto, esse estudo está estruturado em partes que se complementam, pois se buscou sistematizar as informações coletadas de modo a gerar dados importantes para o desenvolvimento local. Inicialmente fundamenta a sustentabilidade e destino turístico, em seguida apresenta a questão metodológica, a caracterização de Bonito e os projetos em desenvolvimento no município. Após, são apresentados os questionários, as entrevistas e depoimentos, para fechar com a análise dos dados coletados.

A Sustentabilidade em Destinos Turísticos

A sustentabilidade nos destinos turísticos demandam técnicas inovadoras e eficazes, com planejamento adequado, políticas públicas e integração de organizações públicas e privadas, governamentais e não governamentais e comunidade local que possam desenvolver projetos em sintonia aos interesses socioeconômicos e ambientais da população residente. Conforme a ONU (2007) a sustentabilidade é a capacidade de desenvolver a atividade econômica, atendendo às necessidades da geração atual sem comprometer as gerações futuras.
Para Cooper et al (2001); Catalisa (2003); Ashton (2009); Vignati (2008); Koh (2012); Veiga (2007) a sustentabilidade comporta sete eixos fundamentais, a saber: 1) Sustentabilidade Social – melhoria da qualidade de vida da população, equidade na distribuição de renda e diminuição das diferenças sociais, com participação e organização popular; 2) Sustentabilidade Econômica – regularização dos fluxos de investimentos públicos e privados e do equilíbrio da balança de pagamentos; 3) Sustentabilidade Ecológica – uso dos recursos naturais com o objetivo de minimizar danos ao sistema de sustentação da vida, reciclagem de materiais e energia, conservação, tecnologias limpas e eficientes e proteção ambiental; 4) Sustentabilidade Cultural – manutenção dos valores e da cultura local, visando a preservação do patrimônio material e imaterial; 5) Sustentabilidade Espacial – trata do equilíbrio entre o rural e o urbano, práticas agrícolas e manejo sustentável das florestas e da industrialização; 6) Sustentabilidade Política – evolução da democracia, descentralização e participação popular e construção de espaços públicos comunitários  e, 7) Sustentabilidade Ambiental – conservação geográfica, equilíbrio de ecossistemas, erradicação da pobreza e da exclusão, respeito aos direitos humanos e integração social.
Para a sustentabilidade integral dos destinos turísticos os sete eixos mencionados devem ser contemplados por meio de um planejamento eficaz e da integração entre eles. Vale salientar que a sustentabilidade dos destinos turísticos tem como principal aliado o planejamento integral da atividade turística, de maneira a conciliar com harmonia o desenvolvimento do turismo e o equilíbrio ambiental (GRANEMANN, 2006).
Nesse contexto, Cooper et al (2001) defende o gerenciamento de visitantes como uma abordagem para áreas naturais como os parques e reservas naturais sensíveis, considerando as reais diferenças entre os diferentes públicos visitantes e as necessidades das áreas de preservação dos destinos turísticos. Desse modo, busca gerar benefícios para ambos, na relação visitante e ambiente visitado, a saber: 1) em relação aos turistas busca: enriquecer a experiência da visita; aumentar as chances de repetição dessa visita; estimular a geração de maiores despesas; gerar maior conhecimento e adesão a causa da conservação da natureza ou da preservação histórica; 2) em relação ao local busca melhorar a distribuição das visitas no tempo e no espaço; estimular maior tempo de permanência no destino; reduzir os impactos ambientais nas visitações por meio de gerenciamento eficaz; estimular o orgulho e a autoestima dos residentes por meio do envolvimento da comunidade no processo de visitação.
O destino turístico, por sua vez pode ser compreendido como o espaço geográfico ou a unidade territorial com vocação para o turismo, que possua as seguintes características: que aceite o planejamento turístico; que tenha capacidade administrativa para desenvolvê-lo; que possua centralidade de recursos turísticos; que tenha atrativos suficientes para motivar o interesse de fluxos turísticos; que possua uma oferta turística estruturada, a partir dos recursos locais; que possua uma marca que possa traduzir toda sua oferta e que facilite sua identificação nos mercados; que possa se organizar para a comercialização conjunta (VALLS, 2006, 2003).
Para Mielke (2015) um destino turístico pode ser reconhecido pelos seus atrativos naturais, culturais ou artificiais, e pelos seus serviços configurando os componentes do destino turístico, a saber: a) Processo de tomada de decisão – Escolha do consumidor em visitar determinado destino; b) Execução do serviço turístico –Hospitalidade, qualidade dos serviços; c) Percepção do destino – Experiência vivida pelo turista; d) Comentários em suas redes sociais – Pós-venda.
Vale salientar que o destino turístico compreende a governança, ou seja, a gestão do processo produtivo do turismo, a administração pública, as organizações turísticas, os residentes com seus saberes e fazeres cotidianos vinculados à sua cultura, e pelo interesse dos turistas em visitar esse local, retornar e recomendá-lo para seus conhecidos.
Quando o destino turístico envolve a natureza exige um modelo de gestão sustentável, que possa conferir sustentabilidade ao destino e satisfação ao visitante. A sustentabilidade envolve a qualidade territorial, sociocultural e ambiental do destino (VIGNATI, 2008) e, a satisfação pode ser dividida em cinco grupos: Sensações – busca proporcionar prazer estético e entusiasmo aos turistas como os odores e outras percepções sensoriais, estética dos ambientes, cores, entre outros; Sentimentos – busca criar experiências afetivas, fortes emoções e sentimento de orgulho; Pensamentos – buscam criar relações para atrair os turistas como Mozart/música; Atuações – buscam interações nas experiências pessoais e estilos de vida e, Relações – busca relacionar os indivíduos com seu ideal e com outras pessoas ou culturas ancestrais.
Para Vignati (2008) a gestão do destino turístico deve ser transformadora, onde os recursos naturais e culturais são os produtos ofertados no mercado turístico, e a população residente a mão de obra que atua na prestação dos serviços turísticos. Ressalta-se a necessidade de ambos a um planejamento integral, que por sua vez devem estar adequados a uma gestão pública, bem como às políticas públicas de governança e gerenciamento do turismo local.
Um destino turístico é um espaço geográfico ou território já desenvolvido ou em fase avançada de desenvolvimento, e deve possuir três aspectos: grandes unidades geográficas agrupadas ou áreas que disponham de atrações e serviços; população que aumenta extraordinariamente durante a temporada turística; e economia dependente do turismo (JAFARI, 2000).
Nesse contexto, (JAFARI, 2000; VALLS, 2006; 2003 MIELKE, 2015; VIGNATI, 2008) o destino turístico é o espaço territorial geográfico que consegue atrair grandes fluxos turísticos pelo conjunto formado por seus atrativos turísticos e por seus serviços. É um espaço com características de clima, infraestrutura e serviços próprios; com capacidade administrativa para o planejamento; centralidade de atrativos e serviços, e de atração de turistas; que valoriza e ordena os atrativos disponíveis; que possua uma marca, e que seja comercializável; atenda às necessidades dos turistas.
Os destinos turísticos possuem algumas funções específicas, entre elas: 1) Alcançar a melhor qualidade de vida dos residentes – Uso do espaço para viver, para intercâmbio e relações, para produzir, para criar (desenvolvimento cultural, lúdico e de formação); 2) Competitividade Internacional – competir em escala internacional atraindo grandes fluxos turísticos interessados em desfrutar a oferta turística local. Exportar e atrair capital, ser centro de acontecimentos em âmbito mundial, vanguarda de tecnologias e redes, atrair turistas e visitantes; 3) Desenvolvimento econômico – obter desenvolvimento econômico, adquirir rentabilidade econômica nos negócios locais, na administração pública, para os habitantes e para a manutenção do meio ambiente e aumento do valor do território e patrimônio; 4) Satisfação – conferir satisfação aos residentes e visitantes com espaços para vivenciar experiências que satisfaçam residentes e visitantes (VALLS, 2006, 2003).

PERCURSO METODOLÓGICO

           
Para o desenvolvimento desse estudo foram empregados os métodos bibliográfico, documental, registro fotográfico, entrevista e questionário, além de observação in loco, para posterior análise dos dados coletados. Após o levantamento dos dados já citados, foi dado tratamento de tabulação e análise qualitativa desses dados com base em Dencker (2002); Bardin (2004); Minayo (2007); Cervo, Bervian; Da Silva (2007).
A sustentação teórica se deu por meio de revisão bibliográfica em bases científicas como publicações em periódicos, livros e documentos pesquisados em sites oficiais. Os pesquisadores realizaram visita in loco na qual participaram de algumas atividades turísticas proporcionadas no destino e realizaram registros fotográficos.
A pesquisa de campo foi organizada em momentos distintos: (a) Por meio da observação in loco. (b) Aplicação de um questionário composto por 15 perguntas fechadas e abertas. Esse questionário foi disponibilizado entre os meses de agosto e setembro de 2015 via google docs. Entre os critérios de seleção dos respondentes, apenas pessoas que já tivessem visitado o município de Bonito, MS. No total a pesquisa contou com 149 participantes. (c) Entrevistas a três turistas que foram realizadas de forma direta, no local em estudo, utilizando roteiro estruturado com questões abertas, e foram realizadas no mês de agosto de 2015, com o objetivo de se ter a percepção dos mesmos em relação às informações passadas sobre a sustentabilidade e as ações de educação e preservação ambiental no manejo dos recursos naturais locais. (d) Entrevista com o gestor público se deu por meio eletrônico (e-mail) utilizando roteiro estruturado com questões abertas, e ocorreu no mês de setembro de 2015. Essa entrevista teve o intuito de obter informações sobre a participação desses setores no processo de gestão e organização do desenvolvimento sustentável do turismo em Bonito.
De posse desses dados, foi realizada a análise com tratamento qualitativo das informações e dialogando com o rol de conteúdos teóricos contemplados na sustentação teórica apresentada, no intuito de se alcançar o objetivo proposto para esse estudo.

BONITO: CARACTERIZAÇÃO

Município localizado no sudoeste do estado do Mato Grosso do Sul, na Microrregião geográfica da Botoquena, com clima tropical úmido e temperatura em média de 22°C. Possui área total de 4.934,318 km², em que 3.483 km² é área urbana. Sua população é de 19.789 habitantes, no qual a maioria está vinculada ao turismo, principal atividade econômica do município, empregando 56% da população local (PREFEITURA MUNICIPAL DE BONITO, 2015).

O turismo em Bonito teve início em 1970 e se tornou a atividade econômica de maior importância, devido aos recursos naturais presentes no local (ARRUDA, OLIVEIRA; MARIANI, 2014; SAVIOLO, 2002). Na década de 1980, com o crescente aumento no fluxo turístico municipal, o poder público e o setor privado desenvolveram programas conjuntos, visando à geração de benefícios socioeconômicos para a comunidade local por meio da atividade. Foi observado o desenvolvimento de pesquisas voltadas para a conservação e preservação da biodiversidade local, a fim de minimizar os impactos negativos no meio ambiente. Também foram realizados estudos de capacidade de carga, compreendido como “o número máximo de turistas que podem ser acomodados e atendidos em uma destinação turística, sem provocar alterações significativas nos meios físicos e sociais” (DIAS, 2005, p. 112).
A criação das agências de turismo no município e o Curso Técnico de Guia de Turismo contribuíram para o atendimento organizado e eficiente dos visitantes a partir da década de 1990. A Lei Municipal n.º 689/95, que torna obrigatório o acompanhamento de um guia aos atrativos em Bonito também foi um marco considerado de extrema importância para o desenvolvimento da atividade turística de forma sustentável, tendo como princípio básico os cuidados direcionados pelos profissionais aos visitantes (OLIVEIRA; SABINO, 2012).
Atualmente a Secretaria de Turismo, Indústria e Comércio, em parceria com o Serviço Nacional de Aprendizado Comercial, oferece cursos esporadicamente de capacitação para o turismo gratuitos à população residente. Dentre eles merece destaque: camareira, garçom e recepcionista (PREFEITURA MUNICIPAL DE BONITO, 2015).
Na década de 1990, foi instituído o Conselho Municipal de Turismo (COMTUR, 2011), pela Lei Municipal n.º 685/95, tornando-se referência nacional para outros municípios do Brasil (Oliveira & Sabino, 2012) e responsável pela criação do Voucher Único – Resolução Normativa n.º 001/95, do COMTUR (Oliveira & Sabino, 2012).
O Voucher Único é um documento de apresentação obrigatória, vendido nas 47 agências de turismo do município que lista os serviços que o turista adquiriu, servindo também de comprovante de pagamento aceito pela comunidade bonitense.
O Voucher é impresso em cinco vias diferentes: 1) É comprovante do turista; 2) Para o guia; 3) É entregue no atrativo visitado; 4) É para a agência que comercializou o passeio/pacote; e 5) É entregue ao órgão de arrecadação de tributos municipal, Central do Imposto sobre Serviço de Qualquer Natureza (ISSQN).

Esse esquema faz interagir em torno dos vouchers os principais atores do sistema turístico de Bonito. E a rigidez no cumprimento das suas regras, embora possa ser fonte de possível tensão entre seus participantes, facilita a arrecadação e a fiscalização tributárias municipais e o controle e estimativas do fluxo turístico na região que posteriormente fundamentarão as políticas públicas voltadas ao aperfeiçoamento e desenvolvimento da atividade turística e os investimentos empresariais privados neste setor econômico ou noutros a ele relacionados (SAVIOLO, 2002, p. 4).

Em 2013, o sistema de Voucher Único rendeu a Bonito o prêmio de melhor destino de turismo responsável do mundo, eleito pela World Responsible Tourism Awards (2015), e organizado pela Responsible Travel em associação com a International Centre for Responsible Tourism.
Bonito recebeu 85,6 mil visitantes de janeiro a julho de 2015, gerando uma receita de R$ 102 milhões (MTUR, 2015; OBSERVATÓRIO DO TURISMO, 2015). É importante salientar que os turistas são acompanhados por guias devidamente cadastrados, com o acompanhamento por pessoas capacitadas, equipamentos de segurança apropriados, informações e treinamento específico (SAVIOLO, 2002), como é o caso da visitação na Gruta do Lago Azul (Figura 2), e no Buraco das Araras (Figura 3).

  1. PROJETOS E AÇÕES SUSTENTÁVEIS EM BONITO

A sustentabilidade em Bonito é preocupação constante e temática geradora de projetos, em especial o Projeto Mimoso Vivo com o objetivo de buscar a proteção dos remanescentes de Mata Atlântica com a adequação ambiental, demandando a necessidade de parcerias com instituições governamentais e não-governamentais, e agregando atores sociais locais na mobilização pela causa da sustentabilidade ambiental da região.
No Brasil, o Código Florestal Brasileiro é um dos responsáveis pela conservação e preservação dos recursos naturais que regimenta as Áreas de Preservação Permanente (APPs) e de Reserva Legal (RL). APPs são áreas estratégicas e de alta fragilidade ambiental que exercem papel importante na preservação de mananciais e de recursos hídricos para garantir a proteção do solo, da flora e da fauna, a estabilidade climática, hidrológica e geomorfológica. As RLs são áreas designadas à conservação da biodiversidade e proteção de fauna e flora nativas, e o uso sustentável dos recursos naturais são permitidos (JACOVINE et al., 2008; OKUYAMA et al, 2012). A Lei nº.11.428/06, regulamenta áreas de alta prioridade para a conservação de biodiversidade nos biomas do Cerrado e do Pantanal e no Bioma da Mata Atlântica.
O Parque Nacional da Serra da Bodoquena (PNSB) foi criado em 2001, no intuito de proteger a biodiversidade aumentando o grau de conservação e sustentabilidade das propriedades do entorno. Local que concentra as nascentes do rio Mimoso e na sua foz com o rio Formoso se encontram cerca de 80% dos atrativos turísticos de Bonito e região, bem como as propriedades turísticas.
A Agência de Desenvolvimento Agrário e Extensão Rural de Mato Grosso do Sul (AGRAER) prevê a orientação técnica, coleta de dados cartoriais, mapeamentos das propriedades e as demarcações das Áreas de Preservação Permanente (APP), com participação do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio, 2012) e do Instituto de Meio Ambiente de MS (IMASUL) que analisa e aprova as ações, com previsão de conservação de uma área de 1.800 ha de APPs e RLs (Reservas Legais).
Entre as ações de preservação e de educação ambiental observadas na região de Bonito, os passeios no Rio da Prata em 1995, e a Estância Mimosa em 1999, elencaram algumas diretrizes de sustentabilidade que serviram para nortear o desenvolvimento dos atrativos turísticos, bem como para proporcionar ao visitante uma experiência única de interação com a natureza, por meio de passeios de ecoturismo focados em inovação, conservação ambiental e desenvolvimento sustentável da região, conforme segue na Tabela 1:

Tabela 1: Diretrizes de Sustentabilidade


Criação de Reserva Particular do Patrimônio Natural, para proteção de áreas relevantes e biodiversidade (RPPN Fazenda Cabeceira do Prata desde 1999 e RPPN Estância Mimosa);

Conduta consciente em ambientes naturais, por meio da prática da atividade turística de baixo impacto ambiental, bem como de práticas consagradas de segurança no turismo de aventura;

Uso responsável de recursos naturais e busca constante de minimização dos possíveis impactos ambientais e sociais negativos decorrentes da atividade turística;

Monitoramento de impacto ambiental das atividades turísticas;

Uso do ecoturismo como ferramenta para educação ambiental;

Prioridade na contratação de mão de obra local;

Valorização dos aspectos culturais e sociais da região;

Venda de artesanato somente de produção regional para valorizar a cultura local;

Apoio a projetos de pesquisa científica e visitas técnicas;

Produção própria de parte dos alimentos oferecidos aos visitantes, como doces artesanais, queijos, verduras orgânicas, pães, leite e ovos;

Minhocário, para compostagem e ajuda na adubação natural do solo;

Manejo ecológico da produção rural;

Viveiro de mudas de árvores nativas;

Proibição de caça, pesca, corte de madeira e criação de animais domésticos e silvestres;

Destinação adequada de lixo e esgoto;

Capacitação de funcionários e prestadores de serviços;

Apoio a ONGs, Projetos sociais e Associações de classe da região;

Troca de experiências com outros sítios turísticos visando o aperfeiçoamento do destino como um todo;

Melhoria contínua da qualidade dos serviços oferecidos;

Autenticidade nas ações comerciais e no crescimento institucional.

Fonte: Adaptado de Fundação Neotrópica do Brasil, 2014.

Este conjunto de Diretrizes de Sustentabilidade agrega-se as demais ações e contribui para a formação de uma cultura turística que cuida da natureza e preocupa-se com a educação ambiental e ecológica. As atividades turísticas sustentáveis não devem restringir-se apenas a seus fins econômicos e de entretenimento, mas devem agregar valor formativo aos seus visitantes.
Outro projeto importante para a conservação e educação ambiental de Bonito é o Roteiro de Estudos do Meio, que foi criado para atender grupos de escolas e oferece um programa que abrange o ecoturismo como ferramenta para a educação ambiental, agregando noções de biologia da conservação, com enfoque às ações ambientais aplicadas durante os passeios aos atrativos como o Recanto Ecológico Rio da Prata e outros na Estância Mimosa.
O Projeto Integrar – Ecoturismo e Educação Ambiental é focado no Ecoturismo, que utiliza de forma sustentável, o patrimônio natural e cultural, incentiva sua conservação e busca a formação de uma consciência ambientalista através da interpretação do ambiente, promovendo o bem-estar das populações envolvidas (Embratur, 2010).
A educação ambiental, por sua vez é descrita pelo Programa Nacional de Educação Ambiental do Ministério da Educação e da Organização das Nações Unidas (ONU, 2012) para a educação, a ciência e a cultura (UNESCO), do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) e do Programa Internacional de Educação Ambiental (PIEA), como um processo participativo. Por meio do qual o indivíduo e a coletividade, constroem valores sociais, adquirem conhecimentos, tomam atitudes, exercem competências e habilidades voltadas à conquista e manutenção do meio ambiente ecologicamente equilibrado e contribuem com a ampliação dessa nova visão e a adoção dessas novas posturas dos indivíduos com relação ao meio ambiente.
Os projetos e ações em Bonito recebem o apoio e a participação das associações locais, a saber: ABAETUR; ABH; ABRASEL; ACEB; AGTB; APOBB; ATRATUR; BC&VB; Fundação Neotrópica de Bonito/MS; Sindicato Rural e Patronal de Bonito.

Pesquisa de Campo b:
Perfil dos participantes: quanto a faixa etária (43% de 21 a 30 anos), profissão (administradores, professores, engenheiros e agente de viagens) e cidade de residência (região Metropolitana de Porto Alegre e São Paulo).
Questões específicas:
1. 90% responderam que visitaram Bonito apenas uma vez, e que foram motivados por conhecer belezas naturais e praticar o ecoturismo na localidade.
2. 96% receberam informações sobre preservação e conservação ambiental nos atrativos turísticos visitados, limite no número de turistas e os impactos na flora e na fauna local.
3. 65% consideram essas medidas suficientes para a preservação ambiental. Nas justificativas citaram: “são cuidados básicos, mas de grande inportância para o município e principalmente para os atrativos de forma idividual, pois contribui para redução dos impactos negativos ao meio ambiente, e motiva uma série de turistas a visitar a região.” De acordo com os participantes, “os turistas que visitam  o município estão em busca de belezas naturais”, e “se o patrimônio natural não for preservado, inviabiliza o desenvolvimento do turismo na região.” Além disso, “as ações de conservação dos recursos naturais acabam por serem incentivos para que os turistas valorizem e preservem o meio ambiente”. Os pesquisados consideram que as medidads adotadas “não são suficientes”, seria necessário um programa mais focado na educação ambiental para uma mudança de comportamento que pudesse gerar melhores resultados.
4. Questionados em relação ao envolvimento da gestão pública: 57% deles responderam que sim e destacaram “placas, banners, fotos, lixeiras em todos os lugares, além da importância do controle no número de visitantes em cada atrativo turístico” (capacidade de carga), “Voucher Único e da obrigatoriedade da capacitação de algumas atividades profissionais ligadas ao turismo, como por exemplo o guia de turismo.”  
5. Questionados em relação ao envolvimento dos residentes: 61% responderam que sim e comentaram que “a cidade está sempre muito limpa e bem cuidada”, pois sabem que assim conseguem desenvolver o turismo na localidade, tendo em vista sua importância como principal atividade econômica. Já aqueles que responderam que não, comentaram que “não perceberam uma preocupação especial em preservar e/ou conservar o ambiente”, mas sim um “cuidado em manter tudo organizado e realizar um bom atendimento com o turista.”
6. Questionados se acreditavam que adotando essa postura o município alcançaria o desenvolvimento sustentável, 82% responderam que sim e 18% responderam que não.

Pesquisa de Campo c: Entrevista junto a três turistas que visitaram Bonito
Turista 1: “Dentre os lugares que conheci é o que está mais preparado para receber turistas. E não é à toa. Bonito vive exclusivamente do ecoturismo, e o faz muito bem. Fiquei impressionadíssima com a estrutura da cidade e dos atrativos, tudo muito bem organizado e limpo.”
Turista 2: “Bonito é um destino de aprendizagem. Todos os passeios foram acompanhados por um guia especializado na fauna e flora local. Durante os passeios fomos orientados a não jogar lixo no chão, e sim nas lixeiras, que se encontram ao longo dos percursos, sempre bem sinalizadas e especificadas. Outra orientação importante é com relação a preservação da natureza. Não se deve mexer na fauna, flora local, além de zelar pelo silêncio a fim de não agitar os animais. Araras (azul, amarela, vermelha) e tucanos são animais locais vistos com frequência, inclusive na estrada, em copas de árvores. [...] Foi também em Bonito que visitamos o projeto jibóia e aprende-se muito sobre cobras. Entendi que as cobras são de extrema importância para o ecossistema mundial. Todos os passeios foram elaborados, planejados evitando assim qualquer dano a natureza. Um exemplo disso, é o número limitado de visitantes por passeio.”
Turista 3: “Em todos os locais, os guias eram muito bem orientados e passavam a imagem que estavam fazendo o que gostavam, mostrando a importância da preservação do local e respeitando o habitat natural das espécies ali presentes. Notei que o tratamento do esgoto doméstico fazia parte das iniciativas do município para preservação do meio ambiente, pois Bonito possui várias nascentes de águas cristalinas e isso é um dos cartões postais do município. Quanto à integração da população, acredito que há sim uma conscientização por parte dos moradores, pois a cidade sempre estava muito limpa, com locais de uso comum, com bancos em perfeitas condições de uso e lixeiras para coleta seletiva. Achei interessante a explicação referente à proibição do acesso dos visitantes até a água no interior da Gruta Azul: devido a presença de uma espécie de camarão albino e cego que estava sendo pesquisado.”

Pesquisa de campo d: Entrevista com gestor público do turismo de Bonito
Conforme o retorno do gestor público: “a sustentabilidade é considera em relação aos aspectos: 1. Ambiental – Sistema de gestão turística controla a capacidade de suporte dos passeios; Licenças de operação dos passeios, que determina o número de pessoas/dia e exige monitoramento do impacto da visitação sobre os recursos naturais; Trabalho desenvolvido pelas Ong's ambientais (IASB e Neotrópica), através de ações de educação ambiental e de recuperação de áreas degradadas; RPPN's/Parque Nacional da Serra da Bodoquena/Monumentos Naturais existentes no município; Legislação mais restritiva devido a fragilidade dos recursos naturais de Bonito e Região. 2. Econômico – Turismo gera a maioria dos empregos e distribui renda, fortalecendo a economia local. 3. Social – Emprego, renda, economia mais forte, cursos de capacitação, investimento na infraestrutura local devido ao turismo e consequentemente melhoria na qualidade de vida das pessoas.
Deixa claro que existem vários projetos em andamento: em Bonito cada associação, tanto ambiental ou do turismo cria iniciativas/projetos para o desenvolvimento sustentável da região, como as ações do IASB, Neotrópica [...], as do C&VB com o objetivo principal de captar e apoiar a realização de eventos em Bonito, aumentando o fluxo de visitantes na baixa temporada, gerando mais empregos e renda para a população local. Também ações na promoção e marketing do Destino Bonito, colaborando no incremento da atividade turística. Os eventos geram fluxo de turistas na baixa temporada e se consegue manter equipe e investir para prestar serviço com mais qualidade.
Os cursos de capacitação são conforme a demanda e tem boa participação nas ações de capacitação que realizamos [...].
As informações ambientais são repassadas aos visitantes principalmente pelos guias de turismo que são capacitados para este fim. As agências também exercem um papel importante na divulgação, assim como os funcionários dos passeios. Também pelo fato de Bonito ser conhecido como um destino referência em ecoturismo [...].
Todos os passeios só operam com licença ambiental e é exigido monitoramento dos impactos ambientais [...].
O COMTUR colabora na organização da atividade turística. Os projetos/propostas são levados para discussão do conselho.  Não há projetos específicos, pois o papel do COMTUR é apoiar iniciativas que colaborem na sustentabilidade da atividade turística.”

5.1 Comentários Adicionais

Entre os resultados foram identificadas ações e projetos em desenvolvimento, além do estabelecimento de parcerias entre a gestão pública, as associações que participam de reuniões e contribuem com propostas para a busca de melhorias, e a inserção da comunidade local no processo de produção e prestação de serviços turísticos. Ainda, a gestão local promove ações de preservação como a limitação do fluxo de turistas, quando foi realizado um estudo de capacidade de carga nos diversos atrativos turísticos locais estabelecendo o número limite de pessoas para cada empreendimento turístico e o tempo de permanência em cada atrativo, realização de pesquisas focadas na conservação e preservação da biodiversidade local, a criação das agências de turismo visando o atendimento organizado aos visitantes, além da profissionalização e capacitação como o Curso Técnico de Guia de Turismo. Soma-se a isso a instituição do COMTUR que cria o Voucher Único como documento de apresentação obrigatória e que agrega o atendimento das 47 agências locais.
A demarcação de áreas de preservação ambiental, de acordo com a Lei brasileira, onde várias áreas foram demarcadas como Áreas de Preservação Permanente (APP) e Reservas Legais (RL).
Também são oferecidos cursos de capacitações para a qualificação da mão de obra local na prestação de serviços aos turistas, bem como a distribuição e comunicação de informações para a preservação dos recursos naturais locais. Nesse quesito foram colocadas placas de sinalização e produzidos materiais informativos visando minimizar os impactos ambientais com ações sustentáveis. No entanto, aponta-se a necessidade de melhorias na educação ambiental da população residente e visitante, pois ainda predomina uma concepção de turista cliente em detrimento de um cidadão corresponsável pela preservação dos bens naturais.
Salienta-se que o turismo é o responsável pelo desenvolvimento de Bonito, que deve preservar seu patrimônio sob o risco de perder quem o mantém. O desenvolvimento do turismo sustentável é importante fator gerador de novas propostas, projetos e ações para a gestão adequada dos recursos naturais de Bonito, visto o engajamento das diversas Associações vinculadas a essa atividade.
Entre os modelos de gestão para os destinos de natureza, Cooper et al (2001) sugere o gerenciamento de visitantes que busca enriquecer a experiência turística e organizar as visitas para redução do impacto ambiental.

  1. CONCLUSÃO

Esse estudo teve como objetivo analisar a sustentabilidade no destino turístico Bonito mediante uma pesquisa de campo, observação, bibliográfica e documental ouvindo a opinião de turistas e gestores deste complexo turístico.
Na investigação foi possível perceber que o município de Bonito durante as últimas décadas vem investindo no turismo de forma sustentável, através de estudos de pesquisadores e, principalmente, com a ajuda do poder público. Nessa perspectiva, a atividade consegue contribuir para o desenvolvimento da região como um todo, pois além de inserir a comunidade local nas propostas e ações vinculadas ao turismo, ela preserva o que a região possui de mais valioso, as suas belezas naturais.
Considerando o aumento significativo do fluxo de turistas em Bonito, torna-se necessário intensificar ações de educação ambiental tanto com os nativos bem como com os visitantes para a formação de uma cultura de preservação, respeito e responsabilidade ambiental de todos.
As oportunidades e atividades que o turismo propicia devem transpor os meros interesses dos agentes econômicos locais e propor aos visitantes a corresponsabilidade pela manutenção das belezas naturais para as futuras gerações.

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* Pesquisadora e Docente no Curso de Turismo e no Mestrado em Indústria Criativa. Universidade Feevale, Novo Hamburgo, RS, Brasil. marysga@feevale.br

** Pesquisador e Docente do Programa de Pós-graduação em Qualidade Ambiental. Universidade Feevale, Novo Hamburgo, RS, Brasil. gabrielg@feevale.br

*** Mestranda do Programa de Pós-graduação em Qualidade Ambiental. Universidade Feevale, Novo Hamburgo, Brasil. 0073345@feevale.br


Recibido: 30/06/2016 Aceptado: 16/08/2016 Publicado: Agosto de 2016

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