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Dayanne Ferreira*
Bruna Gardinal**
Guilherme Moreira Caetano Pinto***
Bruno Pedroso****
Universidade Estadual de Ponta Grossa, Brasil
dayanne.92.f@gmail.comResumo
O objetivo do presente estudo foi analisar as produções científicas sobre dança no decênio 2005-2014 a partir da base de dados ScIELO Brasil. Foram retornados 100 resultados, precisando ser excluídos 25 artigos da amostra. A partir dos 75 artigos remanescentes coletou-se diversos indicadores destes. A partir dos indicadores coletados, constatou-se que a produção sobre a temática em exame teve um aumento a partir do ano de 2010, que houve concentração das produções nas revistas da área da Educação Física, que a grande área predominante foi a Ciências da Saúde, que 69 pesquisadores distintos tiveram autoria nos trabalhos, que a maioria das publicações esteve vinculada às Universidades das regiões Sudeste e Sul do Brasil, que o enfoque temático na maioria das vezes foi direcionado para a área da saúde, que na maioria das publicações não houve especificidade quanto ao tipo dança e/ou público-alvo e que 44 artigos eram de cunho teórico e 31 práticos, sendo 18 destes quantitativos, oito qualitativos e cinco mistos. Conclui-se que a partir do presente trabalho pode-se ter uma visão do cenário recente das publicações sobre dança em uma base de dados de excelência no Brasil, tendo, portanto, seu objetivo alcançado.
Palavras-chave: dança, produção científica, ScIELO, Educação Física, Brasil.
ANÁLISIS DE LA PRODUCCIÓN CIENTÍFICA SOBRE LA DANZA EN LO DECENARIO 2005-2014: UN LEVANTAMIENTO EN LA BASE DE DATOS SCIELO BRASIL
Resumen
El objetivo de este estudio fue analizar la producción científica sobre la danza en lo decenario 2005-2014 a partir de la base de datos SciELO Brasil. Se obtuvieran 100 resultados pero fue necesario excluir 25 artículos de la muestra. De los 75 artículos restantes se recogieron varios indicadores de estos. A partir de los indicadores recogidos, se encontró que la producción sobre el tema en cuestión se había incrementado desde el año 2010, que se había concentración de la producción en revistas especializadas en el campo de la Educación Física, que la gran área predominante fue Ciencias de la Salud, que 69 investigadores diferentes tenían autoría en los artículos, que la mayoría de las publicaciones se vinculó a las universidades en el Sureste y Sur de Brasil, que el enfoque temático en su mayor parte se dirige al área de la salud, que en la mayoría de las publicaciones no había especificidad en cuanto el tipo de danza ni público-objetivo y que 44 artículos eran teóricos y 31 eran prácticos de modo que 18 eran cuantitativa, ocho cualitativa y cinco mixta. Se concluye que a partir de este trabajo es posible tener una vista del escenario reciente de las publicaciones de danza en una base de datos de excelencia en Brasil, teniendo así alcanzado su objetivo.
Palabras clave: danza - producción científica – SciELO - Educación Física - Brasil.
ANALYSIS OF SCIENTIFIC PRODUCTION ON DANCE IN THE DECENNARY 2005-2014: A SURVEY FROM SCIELO BRAZIL DATABASE
Abstract
This study objectifies to analyze the scientific production on dance in the decennary 2005-2014 from the ScIELO Brazil database. It returned 100 results but it was necessary to exclude 25 papers of the sample. From the 75 remaining papers, we collected several indicators of these. From the collected indicators we found that the production concerning dance had increased from 2010 onwards, there was concentration of production in journals of Physical Education field, the predominant main area was the Health Sciences, 69 different researchers had written in the papers, most publications was linked to universities in the Southeast and South region of Brazil, the thematic focus for the most papers was directed to the health area, in the most publications there was no specificity as the type of dance and/or target public and 44 papers were theoretical, 31 were practical so that 18 of these quantitative, eight qualitative and five both. We concluded that it was possible to get a recent vision of the dance publications scenario from a database of excellence in Brazil, having thus achieved the objective of this paper.
Keywords: dance - scientific production – SciELO - Physical Education - Brazil.
Para citar este artículo puede utilizar el siguiente formato:
Dayanne Ferreira, Bruna Gardinal, Guilherme Moreira Caetano Pinto y Bruno Pedroso (2016): “Análise da produção científica sobre dança no decênio 2005-2014: um levantamento a partir da base de dados ScIELO Brasil”, Revista Contribuciones a las Ciencias Sociales, (julio-septiembre 2016). En línea: http://www.eumed.net/rev/cccss/2016/03/danza.html
http://hdl.handle.net/20.500.11763/CCCSS-2016-03-danza
1. Introdução
A dança, dentre as dimensões culturais do movimento humano, destaca-se por sua forte influência histórica por suas diversas abordagens enquanto exercício físico e, também, por seus benefícios enquanto meio para promoção da saúde e qualidade de vida. Reis (2013) afirma que a dança se originou da sobrevivência, tendo em vista que o homem dançava como forma de manifestar seu agradecimento à natureza por seu alimento. Não obstante, segundo Silva, Valente e Borragine (2012), registros que retratavam a dança através de desenhos em cavernas desde os primórdios da humanidade, reforçam a existência do movimento corporal e de sua utilização pelo homem para atender suas necessidades.
A supracitada ligação da dança com o movimento humano fundamenta sua influência sobre todos os outros movimentos humanos existentes. Segundo Garcia et al. (2009, p. 65) a dança pode transformar os movimentos do corpo em arte, sendo encontrada em todos os movimentos existentes.
Desta forma, estudos sobre esta grande área são de fundamental importância, visto que suas contribuições não se limitam apenas à dança, mas sim, a outras dimensões do movimento humano existentes.
Conceitualmente, observa-se que a dança tem ligação direta com a característica artística, de comunicação e de expressão corporal. Para Reis (2013), a dança é uma arte de movimento que transmite uma mensagem através do corpo e apresenta inúmeras variações de ritmo, podendo-se elencar alguns grandes grupos como as danças populares (danças folclóricas, danças étnicas, capoeira, dança de rua, danças circulares), danças artísticas ou acadêmicas (balé clássico, dança moderna, jazz, dança contemporânea, danças de salão) e danças religiosas (rituais de tribos indígenas, candomblé). Em medida semelhante, Tadra et al. (2009, p. 17) afirmam que a dança “é uma das formas de comunicação, mas antigas que existe, pois, antes mesmo do homem começar a falar, ele realizou movimentos de dança”. Esta pode, portanto, ser considerada a linguagem do corpo. Uma sucessão de movimentos únicos que se tentados repetir nunca serão iguais aos anteriores. É a arte mais viva que existe.
No entanto, em que pese a forte característica artística ligada à dança, esta também apresenta dimensões competitiva, lúdica e com direcionamento para a manutenção da saúde. Em se tratando da dimensão competitiva, pode-se elencar os campeonatos que envolvam a dança em seu rol de modalidades, dentre os quais estão incluídos os Jogos Olímpicos e Jogos Pan Americanos. Ademais, segundo Silva, Valente e Borragine (2012), a dança é um ato de se mover seguindo um ritmo. Neste sentido, uma série de modalidades esportivas possuem relação direta com a dança, como a ginástica artística, a ginástica rítmica, o nado sincronizado e a patinação.
Observa-se, com base no contexto acima exposto, que a dança pode ser encontrada nos mais variados ambientes e, ainda que muitas vezes implicitamente, é envolvida pela ciência do movimento humano (Gaya et al., 2008, p. 43), como qualquer outra modalidade esportiva ou espetáculo.
As modalidades esportivas ligadas à dança seguem um curso de expansão no
Brasil. É perceptível na mídia a ascensão da dança no meio competitivo. O Brasil tem obtido crescente destaque na visibilidade e participação nas modalidades de dança em competições internacionais, ressaltando a importância e pertinência de investigações na área da dança no Brasil.
Como citado anteriormente, a dança também apresenta uma dimensão da manutenção da saúde, servindo como um instrumento para a obtenção de um corpo saudável. Tal premissa fundamenta-se no fato de que a dança é também um exercício físico, podendo ser desenvolvida em intensidades variadas. Além disso, Cipriani et al. (2010, p. 107) colocam que a dança, devido ao seu caráter aeróbico, pode proporcionar o bem-estar e ajudar na prevenção de doenças, melhorias da capacidade funcional, também auxilia o idoso no aspecto social e psicológico, melhoria da coordenação motora e equilíbrio, além de diminuir o estresse e a ansiedade. De acordo com Ferreira (2009), os programas implantados pelos órgãos públicos brasileiros visando à melhoria da qualidade de vida têm crescido significativamente nos últimos anos. Dessa forma, entende-se que a dança pode ser um indicador que pode vir a favorecer tal melhoria.
No entanto, como em todo o exercício físico que possa ser praticado, dependendo de qual variedade de dança se pratica e do nível de habilidade motora e treinabilidade do indivíduo na modalidade escolhida, a dança apresenta riscos de ocorrência de lesões ou problemas em longo prazo caso não seja realizada de forma correta.
Sendo assim, para que a qualidade de vida através da dança se tornasse assegurada, o Conselho Federal de Educação Física (CONFEF) aprovou junto ao Congresso Nacional um projeto que regulariza a profissão do educador físico, o qual considera que de forma que apenas os possuidores de diploma em Educação Física apresentem competência para ministrar aulas de dança (Conselho Federal de Educação Física, 2002).
Nesse contexto, o CONFEF (2002) publicou uma matéria a respeito da obrigatoriedade da formação em Educação Física do profissional da dança atuante no mercado de trabalho, de forma a assegurar que este possua, por meio da graduação na área, o embasamento teórico e prático sobre o corpo humano e seu funcionamento e sobre primeiros socorros, estando melhor preparado para conduzir as aulas com maior segurança e profissionalismo.
Contudo, cabe ressaltar que apenas os conhecimentos oriundos da graduação em Educação Física podem não ser suficientes para garantir a formação de um bom profissional da dança. Segundo Strazzacappa (2006), a carga horária dentro da grade curricular é insuficiente para o vasto conteúdo que a dança possui, impedindo que o aluno que pretenda trabalhar na área futuramente tenha uma base sólida em relação à área da dança. A maioria dos professores de dança devidamente registrados no CREF/CONFEF ingressam na graduação já com experiência prévia na área da dança. Estes também tendem a procurar por cursos paralelos à graduação para aperfeiçoamento do ofício na dança.
Ainda que a dança factualmente se apresente como um conteúdo da Educação Física, esta pode se apresentar sob diferentes contextos e tem ramificações para os mais variados públicos, ressaltando-se a importância e pertinência de estudos relacionados à temática em exame.
Nesse contexto, é relevante identificar as áreas de conhecimento que estudam a dança, os rumos que as pesquisas sobre esta temática têm tomado no meio acadêmico, as possíveis lacunas de conhecimento sobre esta área e, também, as instituições que abarcam em suas pesquisas esta temática. Em suma, conhecer o cenário atual das pesquisas acadêmicas sobre dança pode trazer respostas importantes para o contexto da dança no Brasil.
Frente ao contexto apresentado, o objetivo do presente trabalho é analisar as publicações científicas em português sobre dança na base ScIELO Brasil no decênio 2005-2014.
Os indicadores levantados a partir dos resultados retornados da busca foram: ano de publicação, periódico em que o artigo foi publicado, grande área do conhecimento de atuação do primeiro autor, reincidência de primeiros autores nas publicações, instituição de vínculo do primeiro autor, enfoque temático das publicações, tipo de dança abordada, público alvo estudado e natureza do artigo.
Após o término da coleta, os dados retornados foram planificados por meio do software Microsoft Excel 2013 e, posteriormente, analisados por meio de distribuição de frequência.
Durante o período de 2005 a 2014 a busca pelo unitermo “dança” nos títulos, resumos e palavras-chave na base de dados ScIELO Brasil retornou 100 resultados. Entretanto, verificou-se que em 23 trabalhos a palavra dança foi utilizada em um sentido figurado e/ou sem relação com o contexto da dança como uma expressão corporal, esporte, atividade física, arte ou qualquer ponto de intersecção com a Educação Física. Em um caso tratava-se de uma produção artística, apenas com a exposição de fotos relacionadas ao tema e, por fim, em um caso os dados expostos eram insuficientes para o levantamento dos indicadores elencados no presente estudo. Portanto, esses 25 trabalhos foram excluídos da amostra estudada.
Dos 75 trabalhos remanescentes, que foram os selecionados para a composição da presente pesquisa, a distribuição de publicações por ano foi a seguinte (Gráfico 1):
É perceptível que na primeira metade do decênio houveram apenas 15 publicações, com variação entre um e cinco artigos por ano. Houve um considerável aumento na segunda metade do decênio, sendo o número 300% superior à primeira metade, o que totalizou 60 artigos, com variação entre nove e 16 publicações por ano.
Muglia-Rodrigues e Correia (2013), ao analisarem as produções acadêmicas sobre dança nos periódicos nacionais de Educação Física com Qualis entre A1 e B2 no período de 2000 a 2010, encontraram uma queda na produção de artigos sobre dança publicados entre os anos de 2005 e 2006. Tal panorama encontra-se consoante com os resultados retornados pelo presente estudo.
Verifica-se que as publicações por ano de artigos relacionados à dança no período de 2005 e 2006, ainda que utilizando metodologias distintas, apresentaram resultados similares. No entanto, no ano de 2010 há divergência entre os resultados encontrados pelo presente estudo e o exposto no trabalho de Muglia-Rodrigues e Correia (2013). Enquanto na presente pesquisa constatou-se que o número de publicações saltou de quatro artigos em 2009 para 15 em 2010, Muglia-Rodrigues e Correia (2013) encontraram uma pequena variação percentual nesse período.
Com relação aos periódicos em que ocorreram as publicações, os 75 artigos foram publicados em 41 diferentes periódicos. Em 12 destes houve a publicação de mais de um artigo, sendo estes os seguintes (Tabela 1):
Verifica-se que nos oito periódicos que tiveram pelo menos três artigos publicados, seis tem escopo direcionado para a área de Educação Física. Este cenário coaduna a recomendação do CONFEF de que os profissionais que almejam trabalhar com dança devem ter formação superior na área de Educação Física. Sendo assim, presume-se como natural que o interesse em realizar pesquisas direcionadas à dança seja maior em profissionais de Educação Física, visto que estes têm certa ligação com a temática da dança no Brasil. Obviamente, ao buscar um periódico para publicação de seus trabalhos, os pesquisadores tendem a visar periódicos com escopo voltado à sua área de formação que, neste caso, é a área de Educação Física. Logo, o resultado retornado quanto ao escopo dos periódicos com publicações na temática de dança não parece se tratar de uma anormalidade.
Ainda no que tange aos periódicos em que os trabalhos sobre dança foram publicados, Muglia-Rodrigues e Correia (2013) encontraram que as maiores porcentagens de artigos foram publicados na revista Movimento, e em sequência encontraram-se as revistas Motriz, Revista de Educação Física/UEM, Revista Brasileira de Ciência do Esporte, Revista Brasileira de Ciência e movimento e, por fim, a Revista Brasileira de Educação Física e Esporte.
Verifica-se que a revista Motriz se manteve com alto índice de publicações relacionadas à dança no período de 2005 a 2014. Não obstante, destaca-se que a revista Movimento, que obteve maior número incidências na pesquisa de Muglia-Rodrigues e Correia (2013), não está indexada à base de dados SciELO Brasil, da mesma forma que a Revista Brasileira de Ciência e Movimento.
Com relação à grande área do conhecimento de atuação do primeiro autor, determinada a partir do programa de pós-graduação em que este estava vinculado no ato da publicação e seguindo a classificação proposta pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), obteve-se a seguinte distribuição (Tabela 2):
Houve uma forte predominância de duas grandes áreas: Ciências da Saúde e Ciências Humanas. Haja vista que as revistas com maior número de publicação tenham direcionamento para a área da Educação Física, verifica-se que há coerência no presente resultado no que concerne à justificação da predominância da área da Ciências da Saúde. Entretanto, ainda que haja forte relação desta com a área da Ciências Biológicas, houve apenas uma publicação oriunda desta.
Em se tratando dos autores principais dos artigos em exame, obteve-se 69 autores distintos. Apenas um autor publicou três artigos e quatro autores publicaram dois artigos, sendo que o restante publicou apenas um, cabendo-se ressaltar que não houve investigação a respeito das coautorias e redes de colaborações entre os autores.
Quanto às instituições de vínculo do primeiro autor, levando-se em consideração apenas o vínculo principal exposto nos artigos, houve distribuição em 37 instituições diferentes, com 15 destas tendo pelo menos dois artigos, sendo as seguintes (Tabela 3):
Dentre as 15 instituições que tiveram pelo menos dois trabalhos com vínculo a esta, quatro estão entre as cinco melhores universidades do Brasil segundo o Ranking Universitário Folha (RUF) 2015, sendo as seguintes: USP, UFRGS, UNICAMP e UFMG. Outras três se encontram entre o sexto e o 15° lugar do RUF: UNESP – Rio Claro, UFSC e UNESP – Bauru. Em síntese, verifica-se que por volta de 50% das publicações (37) tiveram vinculação às sete instituições com pelo menos três artigos publicados.
Na verificação da unidade federativa em que as instituições de vínculo dos autores se situam, constata-se que a distribuição ocorre em dez estados brasileiros e quatro outros países (Tabela 4):
A região com maior número de publicações foi a Sudoeste, totalizando 35 artigos – tendo 27 apenas do Estado de São Paulo –, sendo seguida da região Sul, com 27 artigos, havendo maior distribuindo das publicações entre os três estados que compõem esta. A região Nordeste apresentou sete publicações e na região Centro-Oeste houve apenas uma publicação, não havendo publicações de autores vinculados às instituições da região Norte do Brasil. Houve ainda cinco publicações de autores que possuíam vínculo com instituições estrangeiras.
O predomínio das unidades federativas de São Paulo e Santa Catarina na produção de artigos acadêmicos com enfoque na dança coaduna com o cenário exposto quanto às instituições de ensino superior de vínculo dos autores, ao passo que das seis instituições que publicaram mais de cinco artigos sobre dança no período investigado, três estão localizadas no estado de São Paulo (USP, UNICAMP e UNESP – Rio Claro), e duas estão localizadas no estado de Santa Catarina (UDESC e UFSC).
Quanto ao enfoque temático majoritário das publicações, após análise dos 75 trabalhos que compuseram a presente pesquisa, verificou-se que cada um destes se enquadraria em sete grandes campos: Saúde (direcionamento à qualidade de vida e reabilitação motora); Educação (direcionamento ao ensino formal); Cultura corporal (direcionamento à aprendizagem sobre corpo e movimentos a este relacionados); Imagem corporal (direcionamento à aparência física); Esporte (direcionamento às modalidades esportivas que envolvem a dança); Organização de eventos (direcionamento à organização de eventos cujo foco é a dança) e Social (direcionamento às ações sociais relacionadas à dança).
A distribuição das publicações com relação ao enfoque temático ocorreu da seguinte forma (Tabela 5):
Dos sete enfoques encontrados, houve maior concentração em quatro: Saúde, Educação, Cultura corporal e Social, tendo 68 artigos distribuídos entre estes. Coadunando com a grande área do conhecimento de atuação do primeiro autor, verifica-se que há predominância no enfoque da Saúde (24).
O interesse de se estudar dança com o enfoque salutar explica-se através de duas premissas básicas. Incialmente é interessante ressaltar que o exercício físico, quanto a seus benefícios, gera efeitos na aptidão física, na modulação autonômica e também na esfera emocional do indivíduo. Em sentido adicional, pondera-se que a dança, potencialmente, otimiza os benefícios ao indivíduo através de sua prática regular, visto que se trata de um exercício físico bastante aceito pela população em geral, além de ter característica lúdica, prazerosa e socializante (CARVALHO et al., 2013). Sendo assim, é natural que a dança seja explorada em um contexto de promoção de saúde por pesquisadores da área de Educação Física, de forma que este cenário não venha a caracterizar uma anormalidade.
No que tange o estudo da dança em um contexto educacional, segundo Shibukawa et al. (2011) a dança, entre as formas de expressão e da cultura corporal, é uma das manifestações mais importantes, estando presente nas propostas dos parâmetros curriculares nacionais para o ensino fundamental e médio. Desta forma, os pesquisadores de programas de pós-graduação da área de Ensino tendem a investigar a dança dentro do contexto educacional, o que justifica um também alto direcionamento de artigos publicados sobre dança com este enfoque.
No que concerne ao tipo de dança abarcado pelos trabalhos, encontrou-se 29 variações diferentes, incluindo as combinações entre dois ou mais tipos de dança. Em 30 publicações a abordagem foi da dança como um todo, sem especificidade de tipo ou estilo.
Em nove trabalhos houve abordagem combinada de dois ou mais tipos de dança sendo os seguintes: balé clássico e dança de salão; balé clássico e dança folclórica; balé clássico e jazz; dança clássica e dança contemporânea; dança circular e dança de salão; dança circular e dança tradicional; dança de rua, hip-hop e rap; dança folclórica e dança geral e; fado e samba.
Nos outros 36 trabalhos foram abordados um tipo específico de dança, havendo 19 variações diferentes, sendo as seguintes:
O balé clássico (7), entre os tipos de dança específico, apareceu como o mais frequente, seguido da dança de salão (6). Em relação ao balé clássico, é interessante ponderar que, como já fora mencionado, a maioria dos profissionais de dança registrados no CREF/CONFEF iniciam o processo de formação profissional com um contato prévio com a área. Logo, a maioria de profissionais formados que direcionam sua prática profissional à dança tendem a ter praticado, em algum nível, esta modalidade. Torna-se possível afirmar que, em medida semelhante, os pesquisadores da área de Educação Física que direcionam suas pesquisas a dança podem, em algum momento de suas vidas, ter praticado a dança.
Neste sentido, Anjos, Oliveira e Velardi (2015), ao introduzir a temática do balé em seu artigo acadêmico, afirmam que a intenção de estudar o balé surgiu de indagações das autoras sobre a temática e ressaltam que uma destas era professora de balé e bailarina. Adicionalmente, torna-se pertinente ponderar que o balé é uma dança de alta procura pelo público feminino infantil (KHAN et al., 1995).
Sendo assim, é possível que o balé clássico detenha grande atenção acadêmica em artigos voltados à temática da dança em virtude de que é bastante procurado pelo público feminino na infância e que, em sua grande maioria, os profissionais e pesquisadores de dança tiveram contato com a modalidade previamente. Desta forma, o fato de que a prática do balé clássico ter feito parte da vida de profissionais e pesquisadores de dança, pode ter impulsionando o interesse destes para investigar tal área.
Em relação à dança de salão, o fato desta ter sido abordada por um número considerável de artigos relacionados ao estudo da dança pode justificar-se devido às inúmeras possibilidades de pesquisas e as diversas lacunas do conhecimento ainda existente sobre a dança de salão no meio acadêmico brasileiro, tal qual reportado por Fonseca, Vecchi e Gama (2012) que, neste sentido, afirmam que, em que pese os vários trabalhos pertinentes à dança de salão e seus benefícios no meio acadêmico, muitas variáveis ainda carecem de elucidações por parte dos pesquisadores. Logo, é possível projetar que a dança de salão irá se manter como um tipo específico de dança bastante estudado.
Em se tratando do público alvo abordado nos trabalhos, oito trabalhos não faziam alusão a um público-alvo específico. Nos demais 67 trabalhos, foram identificados 40 públicos-alvo diferentes. Em apenas oito destes públicos houve mais do que um artigo, sendo os seguintes: idosos (9); acadêmicos e profissionais de Educação Física (8); bailarinos em geral (6); adolescentes (3); professores de dança (3); alunos do ensino médio (2); bailarinos clássicos (2) e bailarinos profissionais (2).
A prevalência de pesquisas que abordam a população de idosos parece acompanhar a crescente preocupação social e acadêmica com este. Trentini, Chachamovich e Fleck (2008) constataram que os avanços médicos e a elevação da qualidade de vida contribuíram para o aumento da expectativa de vida da população que, por consequência, ocasiona o crescimento da população de idosos. Acrescentam também que este é um fenômeno recente, sendo a velhice o período etário em que a literatura dispõe de menos informações. Portanto, sugere-se que as pesquisas sobre dança acompanharam a tendência de ampliar as investigações sobre tal público, buscando uma possível solvência às lacunas existentes em relação a este.
Outro público bastante investigado em pesquisas sobre dança, o de acadêmicos e profissionais de Educação Física (8), sugere um acompanhamento da premissa de que a área da dança está fortemente ligada à Educação Física, tendo em vista a regulamentação já mencionada do CONFEF, coadunando também com a constatação da presente pesquisa de que os periódicos do SciELO com maior número de publicações sobre dança no espaço temporal investigado possuíam como área principal a Educação Física, sendo portanto natural que se dispenda maior atenção aos profissionais de tal área.
Dos 75 artigos que compuseram a presente pesquisa, 44 eram de cunho teórico e 31 retrataram resultado de pesquisa de campo. Dos trabalhos que envolveram pesquisa de campo 18 artigos utilizaram abordagem quantitativa, oito trabalhos utilizaram abordagem qualitativa e cinco trabalhos utilizaram a combinação de ambas as abordagens no tratamento dos dados.
Muglia-rodrigues e Correia (2013) indicaram que as subáreas do conhecimento mais abordadas nas pesquisas sobre dança no período de 2000 a 2010, foram Estudos socioculturais do movimento humano (458), Pedagogia do movimento humano (302), Biodinâmica do movimento humano (239), Comportamento motor (50) e Adaptação do movimento humano (44). Observou-se que em ambas as pesquisas as abordagens teóricas sobre a temática em exame vêm sendo exploradas em grande escala. Porém, verifica-se uma lacuna quanto às pesquisas que explorem os aspectos práticos da dança, algo ainda que sua prática seja de natureza prática.
Verifica-se que houve um aumento considerável nas publicações sobre a temática da dança nas publicações da base ScIELO a partir do ano de 2010, sugerindo que possa haver algum fator não identificado que tenha contribuído para esse aumento, mas tal averiguação não pode ser constatada por meio do presente estudo.
Um número considerável de periódicos publicou artigos sobre dança no período investigado, mas houve concentração das publicações em revistas com enfoque na área de Educação Física.
Com relação à grande área do conhecimento de atuação do primeiro autor, houve predominância da Ciências da Saúde, com 45 incidências seguida pela Ciências Humanas, com 23 incidências. Em apenas sete trabalhos a grande área foi diferente das duas supramencionadas.
Os artigos foram publicados por 69 autores distintos, sendo que apenas um autor publicou três artigos e quatro autores publicaram dois artigos, com os demais publicando apenas um artigo.
A maioria das publicações esteve vinculada às universidades das regiões Sudeste, Sul do Brasil, com 35 e 27 incidências, respectivamente. A unidade federativa de São Paulo apresentou liderança com 27 publicações. Apenas oito trabalhos estiveram vinculados a instituições de outras regiões e quatro trabalhos eram vinculados a instituições estrangeiras.
O enfoque temático na maioria das vezes foi direcionado para a área da Saúde e não houve grande concentração das publicações em relação a um tipo específico de dança abordada e/ou um público-alvo específico.
Em relação à forma de abordagem do problema, 44 artigos eram de cunho teórico e 31 pautaram-se em pesquisa de campo, sendo que destes 18 artigos eram quantitativos, oito trabalhos qualitativos e cinco mistos.
Sabe-se que a base ScIELO Brasil representa apenas uma parcela do total de produções brasileiras e que, face ao cenário de internacionalização da produção acadêmica, um número considerável de artigos oriundos de pesquisadores brasileiros tem sido publicado em periódicos estrangeiros. Entretanto, o SciELO Brasil é uma base de referência e de reconhecida excelência no contexto acadêmico brasileiro.
A partir do presente trabalho, pode-se ter uma visão do cenário das publicações sobre dança na principal base de dados de indexação de periódicos do Brasil, tendo sido o objetivo do presente trabalho alcançado. Entretanto é sabido que novos estudos abrangendo outras bases de dados, tanto nacionais quanto internacionais, são necessários, sendo esse estudo um ponto de partida para a investigação do referido cenário, tal qual a necessidade e pertinência de realização de estudos contínuos para acompanhamento da evolução das produções sobre a temática em pauta.
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** Bacharel em bacharelado em Educação Física pela Universidade Estadual de Ponta Grossa – UEPG
*** Bacharel e Licenciado em Educação Física pela Universidade Estadual de Ponta Grossa – UEPG. Especialista em Educação Física escolar pela Wpós instituição de ensino e em Engenharia de Produção pela Universidade Federal Tecnológica do Paraná – UTFPR. Mestrando em Engenharia de Produção pela UTFPR.
**** Licenciado em Educação Física pela Universidade Estadual de Ponta Grossa – UEPG. Mestre em Engenharia de Produção pela Universidade Tecnológica Federal do Paraná – UTFPR. Doutor em Educação Física pela Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP. Professor do Departamento de Educação Física e dos Programas de Pós-Graduação em Ciências Sociais Aplicadas e Ciências da Saúde da UEPG.
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