Revista: CCCSS Contribuciones a las Ciencias Sociales
ISSN: 1988-7833


ONDE ESTÁ A AÇÃO COMUNICATIVA? ORGANIZANDO EVIDÊNCIAS POR MEIO DE UMA META-SÍNTESE

Autores e infomación del artículo

Jéssica de Carvalho Machado*

Elaine Santos Teixeira Cruz**

André Spuri Garcia***

José Willer do Prado****

Universidade Federal de Lavras, Brasil

jessicaadm11@yahoo.com.br

Resumo
O presente trabalho tem como objetivo analisar evidências empíricos sobre a ação comunicativa de Jürgen Habermas. Para atingir tal objetivo, realizou-se um levantamento de artigos em bases de dados nacionais e internacionais. O resultado dessa revisão bibliográfica indica que estudos empíricos são importantes para a compreensão da teoria da ação comunicativa, pois permitem analisar na prática como ocorre o processo de comunicação e entendimento dos atores sociais em determinado contexto. Sendo assim, observou-se uma maior evolução dos estudos empíricos internacionais frente aos nacionais, porém esses ganharam força nos últimos dois anos. As pesquisas analisadas enfatizam a importância da comunicação em decisões organizacionais e decisões públicas, permitindo aos atores sociais uma participação igualitária, livre de coerção e, consequentemente, um avanço em busca da emancipação do indivíduo enquanto ator social.

Palavra-chave: Ação Comunicativa, Habermas, Meta-Síntese, Pesquisas Empíricas, Participação.

Where is comunicative action? Arranging evidences based in a meta-syntesis

Abstract
This study aims to analyze empirical evidence on the communicative action of Jürgen Habermas. To achieve this goal, we carried out a survey of articles in national and international databases. The result of this literature review indicates that empirical studies are important for understanding the theory of communicative action, they allow to analyze in practice as is the process of communication and understanding of the social actors in a given context. Thus, further development of international empirical studies across national was observed, but these have gained strength in the last two years. The research analyzed emphasize the importance of communication in organizational decisions and public decisions, allowing stakeholders equal participation, free of coercion and hence an improvement in search of emancipation of the individual as a social actor.

Keywords: Communicative Action. Habermas. Meta-synthesis. Empirical research. Participation.

¿Dónde está la acción comunicativa? La organización de pruebas por un meta-síntesis.

Resumen
Este estudio tiene como objetivo analizar la evidencia empírica sobre la acción comunicativa de Jürgen Habermas. Para lograr este objetivo, se realizó una encuesta de artículos en las bases de datos nacionales e internacionales. El resultado de esta revisión de la literatura indica que los estudios empíricos son importantes para la comprensión de la teoría de la acción comunicativa, que permiten analizar en la práctica como es el proceso de la comunicación y la comprensión de los actores sociales en un contexto dado. De este modo, se observó un mayor desarrollo de los estudios empíricos internacionales en todo nacional, pero éstos han cobrado fuerza en los últimos dos años. La investigación analizó hacen hincapié en la importancia de la comunicación en las decisiones organizativas y decisiones públicas, permitiendo a las partes interesadas la participación igualitaria, libre de coerción y por lo tanto una mejora en la búsqueda de la emancipación del individuo como actor social.

Palabra clave: acción comunicativa. Habermas. Metasíntesis. La investigación empírica. Participación.



Para citar este artículo puede utilizar el siguiente formato:

Jéssica de Carvalho Machado, Elaine Santos Teixeira Cruz, André Spuri Garcia y José Willer do Prado (2016): “Onde está a ação comunicativa? Organizando evidências por meio de uma meta-síntese”, Revista Contribuciones a las Ciencias Sociales, (julio-septiembre 2016). En línea:
http://www.eumed.net/rev/cccss/2016/03/comunicacion.html

http://hdl.handle.net/20.500.11763/CCCSS-2016-03-comunicacion


1 Introdução

            A teoria da ação comunicativa de Jürgen Habermas se mostra relevante no cenário atual, pois se apresenta como uma resposta à crise do modelo democrático ao propor a utilização da linguagem para que ocorra a institucionalização dos processos dialógicos por meio de modelos consensuais e democráticos de instituir a opinião e a vontade da sociedade nos processos decisórios.
            Jürgen Habermas considera que a modernidade é um projeto inacabado e que ao longo da história se distanciou do ideário iluminista do século XVIII. Sendo assim, a modernidade ficou reduzida ao aspecto técnico-científico e sistêmico, em detrimento do simbólico e da racionalidade comunicativa (Baptista, 2011). Nesse sentido, existe um predomínio da razão dos meios, uma razão instrumental que reduz todos os problemas humanos em problemas técnicos (Siebeneichler, 1989).
Ademais, a teoria da ação comunicativa de Habermas pretende resgatar na sociedade moderna a dimensão da razão comunicativa, afirmando que a sociedade é composta por sujeitos com capacidade de interação e de realizar acordos racionais. Diante disso, caminha-se de uma razão instrumental para uma razão comunicativa, pautada na relação sujeito-sujeito.
Argumentando a perspectiva de que a comunicação é universal e fonte de desenvolvimento, Habermas defende que os indivíduos, em interação uns com os outros, estão em constante construção e reconstrução do mundo social, permitindo uma maior capacidade de enfrentar e solucionar problemas sociais.
Tendo em vista a dificuldade de encontrar cenários em que a ação comunicativa é realmente desenvolvida, esta pesquisa tem relevância pois permite saber onde é possível encontrá-la, analisar indícios empíricos em termos de pesquisa acadêmica e, portanto, compreender, de fato, como ocorrem os processos de comunicação baseado no consenso e no entendimento no mundo social.
Diante disso, este artigo tem como objetivo analisar as evidências empíricas sobre a ação comunicativa de Jürgen Habermas. Para alcançar o objetivo proposto realizou-se um levantamento de artigos em bases de dados, a saber: ISI Web of Science, Scopus e SciELO - Scientific Electronic Library Online, Scientific Periodicals Electronic - Spell e Anais dos eventos da ANPAD (Associação Nacional de Pós-graduação e Pesquisa em Administração). Portanto, este levantamento reúne artigos nacionais e internacionais. Diante desse levantamento, as evidências empíricas são observadas por meio de uma meta-síntese de estudos qualitativos.
O artigo é composto por essa introdução e por uma revisão teórica sobre a teoria da ação comunicativa de Jürgen Habermas. Posteriormente, apresentam-se os procedimentos metodológicos e, no item quatro, são destacadas as evidencias teórico-empíricas do conceito de ação comunicativa. Por fim, são apresentadas as considerações finais, abordando toda análise realizada a partir dos dados coletados nessa pesquisa bibliográfica.

2 Ação Comunicativa em Habermas: uma visão geral
            Jurgen Habermas (1984), um dos mais importantes sociólogos alemães contemporâneos, ao criticar a racionalidade instrumental e as aporias cometidas pela primeira geração da Escola de Frankfurt desenvolveu o conceito de ação comunicativa.
            De acordo com Habermas (1987), aproximando-se aqui com os escritos de Adorno e Horkheimer em Dialética do Esclarecimento, a ciência se tornou escrava da racionalidade instrumental. Como forma de banir esse tipo de razão, Habermas busca subordiná-la (apesar de reconhecer a importância da racionalidade instrumental) à razão crítica, propondo outro tipo de racionalidade - apresentada como racionalidade comunicativa.
            Habermas ressalta que a razão não deve mais ser analisada sob a ideia do sujeito que possui capacidade de domínio sobre o mundo, numa relação em que ocorre o julgamento dos outros e onde tudo se torna objeto. Pelo contrário, a razão admite o caráter comunicativo e processual, que busca se consolidar por meio da intersubjetividade entre sujeitos centrados na comunicação (Siebeneichler, 1989).
Lheureux de Feitas et al. (2014) apresentam o agir estratégico como ações utilitaristas onde o poder e o dinheiro coordenam as ações e ocasionam a burocratização e a monetarização das relações sociais. Isso se reflete em comunicações distorcidas, tendo em vista a coerção sistemática que os participantes sofrem, ocasionando o distanciamento do consenso nas relações. Nesse caso, um dos sujeitos é o objeto, que será manipulado para cumprimento de determinado objetivo e tem-se uma ação não dialógica, por abordar apenas aspectos estratégicos (Angélico e Teixeira, 2012).
De acordo com Habermas (1984), no agir comunicativo as ações dos atores envolvidos são coordenadas para alcançar o entendimento. É por meio desse entendimento entre ouvintes e falantes que são definidas situações para serem compartilhadas e negociadas por todos os envolvidos em um determinado contexto. Portanto, na ação comunicativa os participantes não buscam de início seu próprio sucesso, mas sim objetivos individuais que respeitem a condição de harmonizar seus planos de ação diante de uma definição comum de situação (Habermas, 1984).
Nesse sentido, a ação comunicativa, que se dá por meio da linguagem, é uma maneira privilegiada de relacionamento entre sujeitos, pois permite a articulação de valores, normas e questionamentos de ambos. Sendo esta, portanto, a diferença evidenciada entre o agir comunicativo e o agir estratégico: no primeiro ocorre a busca pelo reconhecimento intersubjetivo da validade, enquanto no segundo um indivíduo age sobre o outro com pretensão de alcançar os fins que ele definiu como importantes e necessários (Baptista, 2011).
De acordo com Machado de Melo et al. (2007), a interação entre sujeitos é mediada pela linguagem e ocorre dentro do mundo da vida, entendido como um conjunto de saberes pré-teóricos e implícitos e que, quando compartilhados pelos participantes, formam o ambiente da situação que vivenciam e proporcionam os recursos utilizados para que ocorra um entendimento em determinada situação e assim, relações intersubjetivas são estabelecidas e então mediadas pela linguagem, garantindo ações coletivas e coordenadas cooperativamente.
A ação comunicativa vem de forma gradual sendo substituída pelo sistema, por meio de mecanismos de poder e do dinheiro, ou seja, o mundo da vida tem sido “colonizado” por mecanismos de integração sistêmicos. Dessa forma, a teoria da ação comunicativa tem como objetivo principal denunciar esses processos de comunicação “sistematicamente distorcidos”, seja de forma consciente ou não (Freitag, 2005).
            Vizeu (2005) afirma que a teoria da ação comunicativa de Habermas parte do conceito utilizado na sociologia, cuja interação comunicativa se apresenta no centro da ação social. Nesse sentido, Habermas (1987) afirma que a comunicação mediada pela fala entre os sujeitos aborda sempre o mundo objetivo (as coisas), o mundo social (normas e instituições) e o mundo subjetivo (experiências pessoais) (Habermas, 1987; Gonçalves, 1999).
            Para satisfazer essas três esferas de mundo da realidade social, Habermas (1994) conceitua quatro pretensões de validade do ato de fala:
- veracidade: o falante deve referir a algo verdadeiro no mundo;
- sinceridade: o falante pode fazer-se conhecer suas intenções verdadeiras ao dizer algo;
- retidão: as normas a que a ação está atendendo são legítimas;
- inteligibilidade: falante e ouvinte chegam ao entendimento.
De acordo com Cecez-Kecmanovic e Janson (1999), o ator social aborda três reivindicações acerca dos três mundos:
“1) uma declaração é verdadeira, ou seja, ele expressa o que é o caso no mundo, e uma directiva é bem sucedida em trazer um estado desejado de coisas; 2) uma declaração está certa no que diz respeito às normas existentes e as normas existentes são legítimas em relação aos valores; e 3) submetidos experiências, desejos e sentimentos são sinceramente expressas. O conceito de três mundos forma um sistema de referência que é assumida pelos atores em interações sociais. Os três mundos e as relações racionais dos atores para estes mundos determinam um quadro no qual as classes de ações sociais são definidas” (Cecez-Kecmanovic e Janson, 1999: 3).
            Dessa forma, as ações comunicativas proporcionam um consenso racional motivado, mediado por meio da fala cujos interlocutores se tornam participantes. Sendo assim, “o argumento é a razão que motiva os participantes a reconhecer as pretensões de validade de uma afirmação ou de uma norma, sendo a força do melhor argumento a motivação racional” (Habermas, 1984: 140).
            Ao coordenarem de forma linguística a ação, os participantes da ação comunicativa reproduzem e modificam a cultura. Assim sendo, a ação comunicativa tem as funções de reproduzir a cultura, ou seja, reproduzir e renovar o saber válido; garantir integração social e produzir a solidariedade e, portanto, a estabilidade das ordens sociais e promover, com isso, os processos de socialização ao formar sujeitos capazes de fala e ação (Machado de Melo et al., 2007).
Sendo assim, um pressuposto essencial para que a ação comunicativa seja eficaz é a satisfação das condições determinadas pela situação de discurso ideal. Estas condições são definidas diante de uma prática de comunicação livre de qualquer tipo de distorção, de coerção e ideologia, eliminando toda força, exceto a força do melhor argumento (Habermas, 1984).
            Nesse sentido, Habermas apresenta a necessidade de uma situação de fala ideal para que ocorra a garantia de um discurso argumentativo cooperativo, onde a comunicação não é influenciada por efeitos externos contingentes e nem por coações da própria comunicação. Portanto, Habermas expõe princípios para garantir uma situação ideal de fala:
            - Todos os interessados podem participar do discurso, em condições idênticas de argumentos, dentro de sistemas conceituais e com chance de fazer afirmações, interpretações e recomendações de forma simétrica;
            - Só os sujeitos que estejam verdadeiramente de acordo com as normas devem participar e devem buscar a veracidade sem mentir e sem falsa consciência (Freitag e Rouanet, 1983).
            A teoria da ação comunicativa de Habermas nos oferece um conceito amplo e bem fundamentado de democracia, qual seja, a democracia deliberativa. Esta se diferencia dos ideais elitistas e participacionistas, correntes mais comumente encontradas nos debates sobre o tema, ao enfatizar os processos discursivos, a interação social e a deliberação como legitimadores das decisões políticas. Neste sentido, normas e leis são legitimadas – adquirem validade – através de um processo discursivo (Aguiar, Heller e Melo, 2012).
Numa sociedade marcada pelo pluralismo e de alto nível de complexidade, Habermas (1997) traz, em sua teoria, a preocupação de estabelecer a dimensão normativa por questionar, de um lado, a redução política a uma lógica individualista e competitiva e, de outro, a ideia exacerbada de uma vontade coletiva robusta e integrada de um povo. O equilíbrio entre essas posições polares, ele encontra pela articulação entre ambas, isto é, dos conceitos de cidadania e de soberania popular (Aguiar, Heller e Melo, 2012: 1509).
Esta teoria busca preservar a relação entre razão e sociedade. Preservar esta relação é um objetivo que surge do que Habermas chama de colonização do mundo da vida pelo sistema. Enquanto o primeiro coordena suas ações em torno do entendimento – agir comunicativo – e da solidariedade, o segundo coordena suas ações em torno do dinheiro, do poder e da competição – agir estratégico. Neste sentido, a razão do primeiro acaba minando as relações sociais do segundo (Aguiar, Heller e Melo, 2012; Angélico e Teixeira, 2012; Lubenow, 2007);
A interação social é sempre uma interação comunicativa. A racionali­dade instrumental, no entanto, voltada unicamente ao êxito, teria produzido um esvaziamento da ação comunicativa, gerando no homem contemporâneo formas de sentir, pensar e agir fundadas no individualismo, na competição, no cálculo (Angélico e Teixeira, 2012: 13).
Para Habermas, portanto, uma possível saída para a crise e polarização (elitistas x participacionistas) dos modelos democráticos e, no seu entender, para a tentativa de colonização do mundo da vida pelo sistema encontra-se no agir comunicativo.

3 Metodologia de Pesquisa
            Os dados encontrados a partir da revisão sistemática são apresentados neste trabalho por meio da metassíntese. De acordo com Matheus (2009: 544), a metassíntese qualitativa é definida como “integração interpretativa de achados qualitativos (derivados de estudos etnográficos, da teoria fundamentada nos dados e outros) que são a síntese interpretativa dos dados”.
            Nesse sentido, a metassíntese qualitativa é um método que permite confrontar, decompor, integrar e transformar os resultados de estudos primários qualitativos, em um processo de tradução e síntese (Zoboli e Schveitzer, 2013).
            De acordo com Matheus (2009: 545), a proposta da metassíntese deve seguir seis etapas para pesquisas qualitativas:

  1. Identificar o interesse intelectual e qual o objetivo da pesquisa. O objetivo norteia o estudo e é o primeiro passo da revisão sistemática; o interesse intelectual fundamenta-se na relevância e na necessidade de integrar os dados dispersos sobre determinado tema;
  2. Decidir o que é relevante aos interesses e os critérios iniciais de inclusão dos estudos. Para isso, o pesquisador desenvolve uma exaustiva coleta de dados.
  3. A leitura dos estudos é importante para analisar as metáforas e as interpretações relevantes, elaborando resumos de forma a tornar os resultados mais acessíveis e organizados para o revisor/pesquisador
  4. Determinar como os estudos estão relacionados; a partir dos resultados primários pode ser feita a suposição inicial sobre o relacionamento entre os estudos.
  5. Elaborar novas afirmações, mais concisas e amplas que correspondam ao conteúdo do conjunto dos resultados, mas que preservem o contexto do qual surgiram.
  6. Elaborar a nova explicação de forma que seja equivalente a todos os estudos pesquisados.

Noblit e Hare (1998) afirmam que a metassíntese é considerada o método de pesquisa que tem como objetivo a análise minuciosa da teoria, métodos e resultados obtidos por estudos que utilizaram a abordagem metodológica qualitativa.
A coleta de dados desta pesquisa foi realizada a partir de uma revisão bibliográfica, demarcada por buscas em bases internacionais e nacionais, a saber: Web of Science da Thomson Reuters, Scopus, Scientific Library Online (SciELO Brasil), Scientific Periodicals Electronic Library – Spell, anais dos eventos da ANPAD.
            Diante da escolha das bases, foram escolhidos os termos que seriam usados para realizar a pesquisa. Para pesquisa em bases nacionais utilizamos os termos “ação comunicativa” e "agir comunicativo" adicionadas ao termo “Habermas”. Já nas bases internacionais utilizamos “communicative action” e “Habermas”. Posteriormente, filtramos todos os artigos encontrados, de forma a utilizar apenas aqueles que continham expressões como “pesquisa empírica”, "estudo empírico" e “estudo de caso”.
            Inicialmente foram encontrados 137 artigos: 23 no SciELO Brasil, 28 na Spell, 39 na Scopus e 40 na Web of Science e 7 nos Anais da ANPAD. Após delimitar por estudos empíricos, qualitativos e que apresentassem uma referência de Habermas restaram 45 artigos, sendo 30 estrangeiros e 15 nacionais (FIGURA 1).

4 Resultados e Discussão
            Diante da coleta de dados realizada, observou-se que os artigos que mais referenciam “ação comunicativa” são: Niemann (2004), Chang e Jacobson (2010), Jacobson e Storey (2004), Rist et al. (2007), Adalbjarnardotiir (1992), Domenico e Teixeira (2014), Angélico e Teixeira (2012) e Serva (1997).
            Niemann (2004) trata em seu artigo da relevância da ação comunicativa para a compreensão das negociações da União Europeia (UE) relativas ao acordo sobre serviços básicos de telecomunicações da Organização Mundial da Saúde (OMC). A partir do conceito da teoria da ação comunicativa, observou-se a existência de um mundo da vida compartilhado e desenvolvido na União Europeia, levando-se em conta os padrões rigorosos de institucionalização e socialização.
            Chang e Jacobson (2010) medem a participação do cidadão enquanto ação comunicativa no processo de formulação e tomada de decisão de políticas de governo. A participação como ação comunicativa é avaliada mediante o grau em que os cidadãos assumam a validade do que os responsáveis pelas decisões políticas dizem e pelo fato dos cidadãos poderem levantar suas preocupações sobre uma proposta de política em ambientes de comunicação sem restrições. Nesse sentido, os resultados indicam que os cidadãos se sentem participativos em um processo de tomada de decisões se eles reconhecem as reivindicações de validade dos responsáveis políticos e percebem as condições de fala sem coação.
            Jacobson e Storey (2004) utilizam a teoria da ação comunicativa, com foco nos conceitos de “discurso ideal” e “esfera pública” para abordar problemas relacionados ao desenvolvimento da análise conceitual de comunicação na participação, pois a literatura de participação tende a limitar-se a processos de nível da aldeia, mas certos tipos de mudanças requerem o envolvimento das organizações de grande escala e apoio do Estado. Dessa forma, a teoria de Habermas é aplicada a um estudo de caso de um programa de comunicação populacional realizado pelo governo do Nepal com o apoio USAID e organizações de ajuda internacionais.
            Rist et al. (2007) discutem no artigo uma estrutura conceitual, metodológica e prática na qual as limitações da noção convencional de manejo de recursos naturais (NRM) pode ser superada, sendo NRM entendida como a aplicação do conhecimento ecológico científico para a gestão de recursos. A transformação desses recursos naturais pode ser conceituada como um processo de aprendizagem social que envolve cientistas, especialistas, políticos e atores locais, e seus saberes científicos e não científicos correspondentes. Assim, utilizam a ação comunicativa como resultado dessa aprendizagem social.
            Adalbjarnardotiir (1992) utilizou situações hipotéticas para levantar as reivindicações de validade da verdade, da veracidade e correção em ação comunicativa sobre os pontos de vista conflitantes de Habermas. Para isso, utilizam um modelo de quatro ações comunicativas interpessoais (ICA), que integram a teoria da ação comunicativa e teorias social-cognitivas.
            Domenico e Teixeira (2014) buscaram compreender como os valores relativos à competição organizacional se reproduzem nas interações entre pessoas que “agem como stakeholders em organizações atuantes em economia de mercado” (Domenico e Teixeira: 442). Para alcançar esse objetivo, utilizaram a abordagem de comensurabilidade paradigmática parcial entre o interacionismo simbólico e a teoria da ação comunicativa. A partir dessa abordagem e através de um estudo de caso, os autores observaram que os valores relativos à competição organizacional se equilibram entre as visões de mundo do fundador e “as necessidades da organização, ora privilegiando ações estratégicas, ora baseadas no entendimento” (Domenico e Teixeira: 442).
            Angélico e Teixeira (2012: 7) abordam o acesso à informação e a transparência como instrumentos de democratização e pretendem “discutir o acesso a informações públicas, disciplinado no Brasil pela lei 12.572/2011, articulado com o conceito de Gestão Social e iluminada pela teoria habermasiana da ação comunicativa”. Diante dessa articulação, concluíram que “a Lei Geral de Acesso à Informação tem grande potencial de diálogo com conceito de Gestão Social pelo fato de promover a redução das assimetrias nas relações entre governantes e governados ou entre o governo e as diferentes organizações de representação da sociedade”, pois se torna possível discutir com o governo sem que ocorram constrangimentos (Angélico e Teixeira, 2012: 23)
            Serva (1997: 110), em seu estudo, avança no tratamento da racionalidade nas organizações e propõe um “quadro analítico para o exame das ações administrativas a partir de um constructo fundado na complementaridade entre a abordagem substantiva das organizações, elaborada por Guerreiro Ramos (1981), e a teoria da ação comunicativa, estabelecida por Habermas (1987; 1989).”. Essa complementaridade, disposta num mesmo prisma, permitiu o preenchimento de uma lacuna nos estudos da racionalidade substantiva contribuindo para o desenvolvimento desse tema no Brasil.
            Por fim, Silva e Cruz (2004) abordam no trabalho reflexões e possibilidades de ensino de cunho interdisciplinar na escola, tendo por objeto de estudo a charge eletrônica como meio de comunicação e de educação, incentivando os educadores à maior integração na prática educativa e no uso de meios que possibilitem aos alunos condições de participação ativa e crítica. Para tal análise, os autores apresentam algumas reflexões sobre a teoria da ação comunicativa de Habermas, racionalidade e ideologia coletiva.
            Em síntese, observa-se nesses estudos que o termo ação comunicativa relaciona-se muito com participação, ou seja, como se dá a comunicação em determinada organização, em determinada relação entre diversos atores e em vários cenários onde a comunicação é relevante e necessária.
            Na Figura 2, apresenta-se a evolução das publicações dos artigos nacionais e internacionais, no período de 1992 (primeiro artigo encontrado) a 2015, referente ao termo “ação comunicativa”.
O gráfico da Figura 2 esboça a trajetória dos artigos, evidenciando um nível maior de publicações internacionais (30 artigos) quando comparadas as nacionais (15 artigos). A partir da pesquisa realizada nas bases acima mencionadas pode-se perceber que as publicações nacionais até o ano de 2003 foram incipientes ou inexistentes, com exceção do ano de 1997 em que três pesquisas foram realizadas (dentre elas duas pelo professor Maurício Serva), enquanto as publicações internacionais mantiveram-se mais equilibradas, publicando em média um artigo por ano.
De 2003 a 2005 foram produzidos dois artigos nacionais, enquanto sete artigos internacionais foram desenvolvidos, mostrando mais uma vez como o termo é tratado mais em pesquisas internacionais. Após esse período, houve uma evolução das obras nacionais e internacionais.
O Quadro 1, apresenta os periódicos que publicaram a amostra de 45 artigos analisados. As revistas abordam temas diversificados, como administração, política, relações internacionais, administração pública, sociedade, comunicação, tecnologia, saúde, gestão, entre outros, revelando a abrangência da utilização do conceito de “ação comunicativa”.

Analisando de forma mais sistemática as pesquisas nacionais e internacionais, o método mais utilizado para trabalhar com a ação comunicativa nos estudos empíricos coletados foi o estudo de caso por meio da realização de entrevistas e de análises de conteúdos e de discurso, sendo desenvolvidas, na maioria dessas pesquisas, em momentos específicos e pontuais, abrangendo pequenas regiões ou empresas.
Prosseguindo na análise dos artigos encontrados, algumas palavras foram citadas de forma significativa nas obras analisadas. Nas obras internacionais, as palavras que apareceram foram: ação (1210), social (1003), comunicativo (853), Habermas (802), teoria (668), gestão (618), projeto (572), processo (530), internacional (521), caso (470), discurso (428), crítico (424), reivindicações (423), política (419), análises (398), atores (392), mundo da vida (387), risco (368) e informação (352). Já em pesquisas nacionais, as palavras mais citadas foram: social (421), Habermas (375), mundo (284), empresa (252), teoria (251), saúde (244), vida (238), valores (237), trabalho (229), ações (223), processo (221), sociedade (208), organizações (196), entendimento (191), gestão (184), análise (175) e razão (163).
As palavras aqui evidenciadas são termos relevantes citados nas pesquisas que tornam-se palavras-chave de estudos que abordam a teoria da ação comunicativa de Habermas. Por isso, algumas palavras aparecem tanto em pesquisas nacionais como internacionais, como é o caso de ação, social, Habermas, teoria, gestão, processo e análise.

            Como termo central da pesquisa, a teoria da ação comunicativa do autor Habermas é citada em todos os artigos, sob diferentes perspectivas. Nesse sentido, todos estudos citam as obras de Habermas, sendo estas as obras mais citas:

               A obra que mais referenciada nos estudos analisados foi “A teoria da ação comunicativa – Vol I” (1984) de Habermas. Essa obra foi utilizada pela primeira vez em pesquisas internacionais em 1992, no artigo “Reaching consensus in conflit situations in childhood: A new model integrating Habermas' and Selman's theories” (Adalbjarnardotiir; 1992). Essa obra possibilitou ao autor explorar qualitativamente diferenças de saber, se e como uma criança vê a verdade, a sinceridade e a equidade do interlocutor em diferentes níveis de habilidade comunicativa e em diferentes relações de papel (professor em relação ao colega de classe). Em publicações nacionais, a referida obra apareceu de início na pesquisa de Serva (1997), intitulada “Abordagem substantiva e ação comunicativa: uma complementaridade proveitosa para a teoria das organizações”. Essa pesquisa utilizou esse livro com o objetivo de contribuir para o avanço do tema da racionalidade à luz da prática administrativa e para isso, construiu uma abordagem elaborada pelos estudos de Guerreiro Ramos (1981) e pela teoria da ação comunicativa de Habermas.
            O segundo volume da obra “A teoria da Ação Comunicativa” (1987) também foi uma das obras mais citadas. Em artigos internacionais e nacionais, ela apareceu nas mesmas obras em que o primeiro volume da obra foi abordado, sendo nos artigos “Reaching consensus in conflit situations in childhood: A new model integrating Habermas' and Selman's theories” e “Abordagem substantiva e ação comunicativa: uma complementaridade proveitosa para a teoria das organizações”.  
            “A consciência moral e agir comunicativo” (1989) foi a terceira obra mais citada nos artigos analisados. Internacionalmente, ela apareceu de início no artigo “Fairness and competence in citizen participation - Theoretical Reflections From a Case Study” dos autores Webler e Tuler (2000), que a utilizaram para relatar o progresso no desenvolvimento de uma teoria da participação do público, sendo útil aos órgãos administrativos. Já em artigos nacionais, a obra foi aplicada à pesquisa “Planejamento em saúde: uma possibilidade de ação participativa”. Os autores Assis, Pereira e Mishima (1997) utilizam a obra para explicar a dinâmica das relações entre os atores sociais envolvidos com o processo de planejamento participativo em uma Unidade Básica de Saúde da periferia da cidade de Ribeirão Preto.
               A obra “Comunicação e evolução da sociedade” (1979) foi citada apenas em artigos internacionais e o primeiro trabalho que abordou a obra foi “Reaching consensus in conflit situations in childhood: a new model integrating Habermas' and Selman's theories” (1992) do autor Adalbjarnardotiir.
            Diante da diversidade de obras desenvolvidas por Habermas, a obra “Entre fatos e normas: teoria do discurso de direito e da democracia” (1996) também foi citada de forma significativa nos artigos. Foi evidenciada, incialmente, no artigo intitulado “Development Communication and Participation: Applying Habermas to a Case Study of Population Programs in Nepal” dos autores Jacobson e Storey (2004). Os autores utilizam essa obra para resolver problemas referentes ao desenvolvimento da comunicação participativa no referido estudo de caso. Nacionalmente, o primeiro artigo que a abordou foi “A violência rompendo interações. As interações superando a violência” dos autores Melo et al. (2007). A obra foi referenciada para analisar a percepção de adolescentes do Aglomerado Urbano “Morro das Pedras” de Belo Horizonte acerca da violência, demonstrando os significados que dão a ela e as formas de enfrentamento geradas.

5 Considerações Finais
            A ‘teoria crítica’ tornou-se uma passagem obrigatóriapara os intelectuais contemporâneos que se dedicam a estudar diversos temas como, por exemplo, a racionalidade na sociedade moderna e as relações entre a ciência e o desenvolvimento social (Serva, 1997).  Diante disso, o tema “ação comunicativa” tem sido analisado e explorado por pesquisas empíricas há vinte e três anos em cerca de trinta artigos internacionais (de acordo com os dados desta pesquisa). A teoria da ação comunicativa é abordada a partir de uma análise multidisciplinar, pois relaciona-se com temas como políticas ambientais, tecnologias de informação, política governamental, área de saúde e organizações.  Já em artigos nacionais, o termo aparece em quinze pesquisas que abordam mais especificamente o tema organizações, mas também se mostra relevante em tecnologia de informação e áreas distintas da saúde. Apesar de internacionalmente a teoria ser mais discutida, em ambos os estudos os temas relacionados acabam convergindo para a mesma área, como apresentado acima.  
Analisando os periódicos encontrados a partir da coleta de dados, nota-se uma quantidade considerável de periódicos que abordam estudos referentes à teoria da ação comunicativa, porém a maioria destas revistas e anais apresenta apenas um artigo relacionado com o termo tratado. Apesar da diversidade de periódicos, alguns destes apresentam fator de impacto bem relevante, como é o caso do Journal of Communication (3,16), Social Science & Medicine (2,89), Technovation (2,52). Já em periódicos nacionais, tem-se a revista Ciência & Saúde Coletiva (0,88).
A partir da análise de todas as referências das obras de Habermas utilizadas para desenvolver os artigos, observou-se uma gama de obras apresentadas, mas algumas destas se destacaram por serem citadas mais vezes, tornando-as essenciais para o desenvolvimento de estudos que abordam como tema central a “ação comunicativa”. Diante disso, os dois volumes da obra A teoria da ação comunicativa são considerados as referências mais relevantes, pois sintetizam de forma clara os objetivos e conceitos da teoria.
Salienta-se a necessidade de realizar estudos empíricos referentes à teoria da ação comunicativa, pois analisando um caso específico frente a teoria, torna-se mais evidente como se dá a relação entre sujeito-sujeito proposta por Habermas, como o entendimento é realizado, seja por uma ação comunicativa, baseada no consenso, ou por uma ação estratégica, baseada na força e na coerção. Dessa forma, diversos estudos empíricos foram analisados nesta pesquisa bibliográfica e notou-se que as pesquisas, de um modo geral, são satisfatórias, pois quando realizam um estudo de caso, seja de uma organização, seja de uma política governamental, entre outros cenários, aplicam o conceito de ação comunicativa para analisar como ocorre a comunicação, participação e entendimento por parte dos atores envolvidos.
Nesse sentido, os estudos nos mostraram que quando a prática discursiva é desenvolvida no grupo, seja ele de qualquer natureza, os indivíduos acabam se tornando conscientes e motivados a participar por acreditarem que conhecem o assunto, que possuem forma igualitária de participação e por acreditarem na validade da fala dos sujeitos envolvidos em decisões como um todo. Sendo assim, a emancipação dos indivíduos como objetivo final de Habermas, avança e abrange cada vez mais os indivíduos, buscando a concretização dessa prática em todos os níveis da sociedade.
Colaborando com essa análise, Silva e Cruz (2004) afirmam que o sujeito, como membro de um grupo e, portanto, um ator social, participa do processo de comunicação em busca de uma compreensão mútua e consensual e, dessa forma, torna-se produto dos processos de aprendizagem e socialização que o molda.
Diante da relevância de pesquisas empíricas relacionadas ao termo “ação comunicativa”, nota-se a necessidade do tema ser mais discutido nacionalmente, tendo em vista o número de pesquisas encontradas. Mas a partir da análise da frequência de artigos, no ano de 2014 e 2015, dois artigos referentes ao tema foram publicados, indicando a possibilidade de crescimento da produção acadêmica nacional.
Conforme sugere a meta-síntese e a análise dos artigos, a ação comunicativa consiste na comunicação entre atores sociais, por meio de decisões baseadas pela razão e em busca de um entendimento mútuo e consensual, desenvolvida em ambientes diversos, como organizações com bases administrativas, na área de saúde, na área de tecnologia de informação, em processos de elaboração de políticas públicas e em ambientes que permitam uma relação sujeito-sujeito.

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* Bacharel em Administração Pública pela Universidade Federal de Lavras. Mestranda em Administração pela Universidade Federal de Lavras.

** Bacharel em Turismo pela Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri. Mestranda em Administração pela Universidade Federal de Lavras.

*** Bacharel em Ciências Econômicas pela Universidade Federal de Ouro Preto. Mestre em Administração pela Universidade Federal de Lavras

**** Bacharel em Administração pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Minas Gerais. Mestre em Administração pela Universidade Federal de Lavras. Doutorando em Administração pela Universidade Federal de Lavras.


Recibido: 20/06/2016 Aceptado: 12/08/2016 Publicado: Agosto de 2016

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