Arley da Silva Oliveira
Roberto Carlos Amanajas Pena
UEAP / UNIP, Brasil
arleydasilva@yahoo.com.brRESUMO
O presente artigo relata fundamento da filosofia existencial e que, a partir da obra de Jean-Paul Sartre “O existencialismo é um humanismo” procurou investigar a devida relação com a prática pedagógica de Paulo Freire em sua obra “Pedagogia do oprimido”. Dentro desta perspectiva, voltada para a percepção sobre o outro, concretizada pelas filosofias: ontológica e materialista. Ou seja, o eixo central do entendimento existencialista, é tratar com o outro não em sistema oriundo das problemáticas do homem como ser existencial, mas, oriundo das angustias e sofrimento que o próprio homem constrói para conquistar sua liberdade, e sim para assegurar no sistema social. É notório que, a pedagogia de Paulo Freire é a prática existencialista por meio da liberdade de consciência que visualiza entendimento pedagógico e sua relação com o educando. Desse modo, o interesse por pensadores como Martin Heidegger e Karl Marx que, explanam seu pensamento por meio ontológico/existencial e histórico/material, em definição para uma ligação tanto material quanto existencial coloca uma ligação motora no eixo que move a teoria e a prática. A liberdade é o ponto de maior clareza na filosofia existencial e a liberdade de consciência é o maior diferencial na pedagogia libertária propondo a linguagem da filosofia em seu método educativo. Onde foi constatada que a importância da corrente existencialista na figura de Jean Paul-Sartre seu maior divulgador implica na contribuição ao pensamento crítico sobre o despertar do homem para a vida por natural da liberdade que consiste no estágio de mudança para se alternar por via de superação existencial/educativa. Contudo, temas polêmicos como a liberdade e responsabilidade e educação são extremamente complexos à vista do existencialismo, parafraseando Sartre “estamos condenados a ser livres”.
Palavras-chave: Existencialismo, Alteridade, Educação.
ABSTRACT
This article reports the Foundation of existential philosophy and that, from the work of Jean-Paul Sartre " The existentialism is a Humanism" sought investigate the proper relationship with the pedagogical practice of Paulo Freire in his book "pedagogy of the oppressed". Within this perspective, focused on the perception of the other, achieved by philosophies: ontological and materialistic. That is, the essence axis of the existential understanding, is dealing with other on the originating system problems of man be existential, but from the anguish and suffering which man builds himself to win his freedom, but to ensure on the social system. It IS notorious that, the pedagogy of Paulo Freire is the practical existencialista by means of the freedom of consciousness that visualises understanding knowledge pedagogical and his relation with educating. Thus, the interest in thinkers as Martin Heidegger and Karl Marx, explanam your thinking through existential and ontological/historical/material, in definition connection both material how existential a connection motora in the axis that moves the theory and the practice. Freedom is the point of clarity in existential philosophy and freedom of conscience is the largest differential in the libertarian pedagogy proposing the language of philosophy in his educational method. Where it was noted that the importance of the current Existentialist Jean-Paul Sartre His popularising involves in the contribution critical consciousness on man for the life natural of the freedom that consists of change to alternate superación existential/educational. However, controversial topics such as freedom and responsibility and education are extremely complex in the sight of the Existentialism Sartre paraphrasing "we are condemned to be free".
Keywords: Existentialism; Alteridade; Education.
Para citar este artículo puede uitlizar el siguiente formato:
Arley da Silva Oliveira y Roberto Carlos Amanajas Pena (2016): “O existencialismo de Jean Paul Sartre na prática educativa de Paulo Freire”, Revista Contribuciones a las Ciencias Sociales, (abril-junio 2016). En línea: http://www.eumed.net/rev/cccss/2016/02/existencialismo.html
http://hdl.handle.net/20.500.11763/CCCSS-2016-02-existencialismo
1 INTRODUÇÃO
Nas leituras das obras do pedagogo Paulo Freire surgiu a possibilidade de colocar em evidencia o quanto o brasileiro absorveu as ideias existencialistas de Filósofos como Jean Paul Sartre, como do materialismo histórico de Karl Marx e a Ontologia do ser de Martin Heidegger.
Neste sentido, dentro desta perspectiva propõem-se a comentar que o artigo está dividido em dois momentos. Primeiramente, abordará o existencialismo de Sartre seguido de alguns comentários sobre o assunto. O segundo momento, relatará a pedagogia do oprimido de Paulo Freire, onde o autor faz comentários de outras filosofias a tratar do sistema sócio/educativo na qual, resgata a filosofia de Karl Marx.
2 CONTEXTO HISTÓRICO DO EXISTENCIALISMO E A FENOMENOLOGIA DE HUSSERL
O existencialismo tem em seu início no pensamento de Kierkegaard, um filósofo protestante dinamarquês. Para ele, as relações do homem eram dominadas pela angustia, entendida como o sentimento pelo qual o homem percebe a instabilidade de se viver num mundo de acontecimentos possíveis, sem garantias de suas possibilidades serem garantidas, a filosofia existencial irá se desenvolver com o seu maior representante, a qual nessa linha de pensamento, não houve tal filosofo que se debruçou tanto sobre a questão “liberdade” que Jean Paul Sartre, que ficou mais representativo dos existencialistas, e é autor de romances como A Náusea e O Muro e a Idade da Razão.
Engajamento existencial, para Sartre é a força revolucionaria proposta de “reencontramos o termo kierkegaardiano do engajamento como existência autêntica. Meu engajamento implica que minha liberdade não seja apenas imaginária, embora seja no imaginário que eu a tenha descoberto”. (CHATELET, 1974, p. 207), como ser no mundo em toda a sua concretude. Sua trajetória existencial começa em Paris, em 1905, onde nasceu e veio a falecer nessa mesma cidade, em 1980. “Comecei minha vida como hei de acaba-la, sem dúvida, no meio dos livros. No escritório do meu avô, eles estavam por toda a parte [...]. Eu ainda não sabia ler e já reverenciava essas pedras erigidas (SCHNEIDER apud SARTRE, 2011, p.61).
Jean Paul Sartre é de uma família de classe média alta, logo cedo viu a morte de seu pai que exerceu forte influência na formação de sua personalidade de um homem sem um modelo a ser seguido. Em 1924, Sartre começou a estudar filosofia na École Normale Superiere, considerada na época a mais seleta, onde não foi um aluno brilhante, mas muito interessado, especialmente pelas aulas de Alain (1868-1951), que si dedicava na discursão do problema da liberdade.
Nesta, mesma instituição ele conhece sua amante, amiga e intelectual Simonte de Beavouir (1908-1986), a qual “é uma moça bem-comportada que lhe afirmou: A partir de agora, eu tomo conta de você, deste então, eles nunca mais se separaram”. (SARTRE, 1987, VIII).
Sartre é convocado para a Segunda Guerra Mundial quando ela estoura para servir como meteorologista, mesmo nesse período, ele conseguiu tempo para escrever, mantinha suas atividades em leituras e produção. Em 1940, é feito prisioneiro pelas tropas alemães. Sartre consegue escapar em 1941, voltando para Paris, que junto a Simone de Beavouir e amigos fundam o grupo “Socialismo e Liberdade”, a qual tem como objetivo lutar contra as forças opressoras alemães na França.
Eu mudei radicalmente de ponto de vista depois da Segunda Guerra Mundial. Eu poderia dizer, numa fórmula simples, que a vida me ensinou “a força das coisas”. [...] Assim, eu comecei a descobrir a realidade da situação do homem entre as coisas, daquilo que se chama de “ser-no-mundo”. Apareceu a experiência verdadeira, a da sociedade. (SCHNEIDER apud SARTRE, 2011, p.62).
Nesse período da Segunda Guerra Mundial, a França ocupada por tropas nazistas, o conceito de liberdade para os franceses é restrita, nunca o povo francês esteve tal privado de sua liberdade até então. É na Europa pós guerra que Jean Paul Sartre irá propor um novo caminho, já que pela barbárie da violência do holocausto e o questionamento da existência de um Deus judaico-cristão nas vidas das pessoas, através de valores morais. “O existencialista opõe-se frontalmente a certo tipo de moral laica que gostaria de eliminar Deus com o mínimo de danos possível”. (SARTRE, 1973, p. 07).
Sartre intencionará, basicamente em início de carreira explorar os estudos da fenomenologia do Filósofo alemão Edmund Husserl (1859-1938). Husserl tentou resolver o pensamento racionalista de René Descartes (1596-1650) que baseava numa visão racional do mundo, numa única certeza: Cogito ergo sum (penso, logo existo) e o empirismo do filósofo escocês David Hume, que sustentava que o conhecimento humano advém dos nossos sentidos no mundo, o que de fato experimentamos.
Ele afirmou que apenas analisando a experiência imediata que precede o pensamento sistemático podemos descobrir o fundamento filosófico sobre o qual se assentam coisas tais como se apresenta à nossa experiência – o que só pode ocorrer analisando-se o material bruto da consciência, anterior às pressuposições e teorias que tão habitualmente lhe impomos. Em outras palavras, devemos lidar como os fenômenos básicos da nossa experiência. A essa atividade Husserl deu o nome de fenomenologia. (STRATHERN, 1999, p. 29).
A filosofia de Sartre sofreu influência da corrente fenomenológica 1, é um estudo sobre a consciência humana, uma ramo novo da filosofia que explica o funcionamento da consciência humana. Sartre foi a Berlim, ele foi estudar com o seu maior represente o filosofo Edmund Husserl.
“Entre os anos 30 e 40, Sartre inicia sua atividade intelectual com investigações sobre “psicologia fenomenológica”, tendo por objeto o “eu”, a “imaginação” e as “emoções”. O ponto de partida das indagações do jovem filósofo era a noção de “intencionalidade da consciência”, advinda da fenomenologia de Edmund Husserl: “Toda consciência é consciência de alguma coisa”. Ou seja, toda consciência tende para um objeto, visa um objeto”. (YAZBEK, 2007-2013, p. 36).
O escritor e filósofo dedicar-se-á basicamente a reflexões aos estudos de Husserl. “Investigará as Meditações cartesianas, o Ideias diretrizes para uma fenomenologia”, embolsando críticas sobre a contribuições filosóficas da fenomenológica escrito em 1934 e publicado em 1939, é o conhecido “Uma ideia fundamental da fenomenologia de Husserl: a intencionalidade, no qual explora a ideia-chave que arguirá sua filosofia e a psicologia a intencionalidade que postula de toda “consciência é sempre consciência de alguma coisa”. (SCHNEIDER,2011, p. 66)
Irar se desenvolver a teoria fenomenológica na versão sartriana, praticamente vinte anos. Para tanto, “Sartre passou um ano em Berlim numa espécie de embriaguez solipsista, esforçando-se para discernir os puros e espontâneos fenômenos de sua experiência”. (STRATHERN, 1999, p. 30). Seus estudos fenomenológicos do existencialismo favorecerá a ideia da presença da exterioridade das coisas, da fundamentação ontológica do ser como presença no mundo, ultrapassando a dualidade entre sujeito-objeto, destruindo o véu de maia do historicismo sobre os indivíduos, a qual agora pelo engajamento revolucionário determina a real história dos homens.
A tese de conclusão de sua pós-graduação em Berlim foi seu primeiro escrito sobre a psicologia fenomenológica, sob a denominação de La transcendência de l´ego, publicado em 1936. Nele descreve a ontologia do eu e os processos de constituição da personalidade. Ali demonstra que um dos grandes impasses da filosofia e psicologia, até então vigentes, é a não diferenciação entre as dimensões da “consciência” e do “ego”, que são considerados como sinônimos em muitos casos. (SCHNEIDER, 2011, p. 68)
A partir de então, o caminho do filósofo parte para construção de uma filosofia da consciência, que “naturalmente, essa descrição se opera no plano da reflexão. Não se deve confundir, porém, reflexão com introspecção. A introspecção é um modo especial de reflexão que procura compreender e fixar os fatos empíricos”. SARTRE (1987, p. 97). Os fenômenos não são apenas coisas matérias que fantasiamos, sonhamos, elas são ideologias, figuras idealizadas como na matemática (geometria, princípio de indenidade e contradição, cálculo aritmético), que percebemos durante nosso cotidiano são considerados fenômenos, gerados pelas ações humanas, ou criadas, como a cultura, econômica. CHAUÍ (2013, p. 2006), Comenta que:
[...] o conceito de fenômeno, Husserl propôs que a filosofia distinguisse diferentes tipos de essências ou fenômenos e que considerasse cada um deles como manifestando um tipo de realidade diferente. Falou, assim, em regiões do ser: a região consciência, a região natureza, a região matemática, a região arte, a região histórica, a região religiosa, a política, região ética, etc. Propôs que a filosofia investigasse as essências próprias desses seres ou desses entes, criando ontologias 2 regionais.
A Fenomenologia de Husserl é uma ciência da fundamentação das essências, investiga o significado de alguma coisa, ou objeto, ideia. Para TOURINHO (2010, p. 95) “a atitude fenomenológica consiste em uma atitude reflexiva e analítica, [...] determinar e distinguir o sentido íntimo das coisas, a coisa em sua “doação originária”, tal como se mostra à consciência”. O retorno as coisas mesmos, a volta a origem das coisas, no formato de ontologias regionais como proposto antes. Essa, cadeia de ideias, produzirá no campo cientifico psicanalítico na conversão em leis gerais, utilizando os estudos fenomenológicos, objetivando a procura de apreender as essenciais, “isto é, ela começa por se colocar, logo de início, no terreno do universal”. SARTRE (1987, p. 97).
Para o filósofo G. Reale ( 2006 , p. 227) “Sartre iniciou sua atividade de pensador com as análises de psicologia fenomenológica relativas ao eu, à imaginação e às emoções. Retoma de Husserl a ideia de intencionalidade da consciência”. O pensamento sartriano o outro seria um desvelamento de um objeto, o corpo nu, desvelando em sujeito corpóreo que o faz objeto para mim.
Que o eu é dominado pela vergonha, invadido por sentimentos que invadem o meu ser como experiência no mundo. A vergonha toma do seu ser. É a experiência do corpo alienado. O outro me faz de objeto e eu estou em poder do outro. A experiência da minha alienação se dá, geralmente, através de estruturas afetivas: a timidez, a vergonha, a raiva. (SCHNEIDER, 2011, p. 121).
A Náusea, trabalho literário onde Sartre parte da reflexão onde seu personagem e herói Antoine Roquentim, que o mesmo sofre por desvendar o absurdo da existência no mundo, sobre sua própria existência, que é lançado no mundo sem saber o porquê e sem sentido. No romance Roquentim é assíduo pesquisador de história, que não foge do determinismo estático de fatos sociais, onde é inserido num romance de sensações vividas, numa cidade na França chamada Bouville. O trabalho intelectual de Roquentim é arqueológico sobre as memorias deixadas na biblioteca de Bouville em cartas e fragmentos de diário do Marques de Rollebom, um personagem da vida política francesa do século XVIII.
Roquentim registra os acontecimentos em seu diário sobre a relação e transformações com o objetos “os objetos não deveriam tocar, já que não vivem. Utilizamo-los, colocamo-los em seus lugares, vivemos no meio deles: são úteis e nada mais. E a mim eles tocam – é insuportável. Tenho medo de entrar em contato com eles exatamente como se fossem animais vivos”. (SARTRE, 2011, p. 24). A gratuidade das coisas surgem espontaneamente num mundo que o circunda, Roquentim descobre nas seguintes palavras: “o essencial é a contingência. Quero dizer, por definição, a existência não é a necessidade. Existir é está ali, simplesmente; os seres aparecem, se deixam encontrar, mas nunca se pode deduzi-los” REALE (2011, p. 228)
SCHNEIDER (2011, p.237), comenta que a existência “expressa através de metamorfoses insinuava e delicadamente horrível de todas as sensações; era a náusea”. Por vários momentos Roquentim é tomada por enjoos e tonturas num jardim da cidade, quando si dá conta de seu estômago, logo percebe que nenhum objeto é capaz de orienta-lo. Os outros rostos não o orientam, já que a transformação, a mudança não fixa nada num lugar fixo, seu aprendizado não é possível pelo outros, a experiência o faz cancelar todos os sentidos, para Sartre os outros exercem o papel de espelho.
[...] talvez seja porque sou um homem sozinho? As pessoas que vivem em sociedade aprenderam a se ver nos espelhos tal como aparecem a seus amigos. Não tenho amigos: será por isso que minha carne é tão nua? Dir-se-ia – sim, dir-se-ia a natureza sem os homens. Não sinto mais vontade de trabalhar; não posso fazer mais nada, a não ser esperar a noite. [...] estou com ela, com a sujeira, com a Náusea. E dessa vez é diferente: me veio num café. Até agora os cafés eram meu único refúgio. Sartre (SARTRE, 2011, p. 33-34).
Roquentim, o autodidata, não mais se reconhecia ao olha-se no espelho. Era confuso mesmo em seu quarto, onde o mesmo, não conseguia entender a coisas e a sua fisionomia como o nariz, boca, rosto, não se via como humano. Seu corpo era estranho, já não sabia definir o seu próprio corpo, a face de seu rosto. O que era simples para outros refletirem frente ao espelho para Roquentim era um tormento e submerso nas coisas, “a coisa cinzenta acaba de aparecer... o reflexo do meu rosto... moles regiões das bochechas... nada disso tem sentido, sequer expressão humana... minha tia Bigeois me dizia, quando eu era pequeno: se você se olhar muito no espelho, vai ver um macaco...”. (LÉVY, 2001, p. 295).
3 O EXISTENCIALISMO É HUMANISMO EM SARTRE
É em 1945, Sartre proferiu uma conferência em Paris, no Club Maintnant, intitulada “O Existencialismo é um Humanismo”, na qual defendeu seu pensamento de uma série de críticas, e explicou com mais clareza as suas ideias.
Neste texto Sartre defende seus pensamentos contra críticos que por entendem que sua filosofia situa o homem no mundo sem sentido, sendo que, sua filosofia implica na existência humana, em “estar em relação ao outro”, com o mundo e com as coisas. Identifica o homem como responsável pela sua liberdade, onde não existe um determinismo histórico, o homem é dono e controlador de seu futuro.
“O existencialismo declara frequentemente que o homem é angústia. Tal afirmação significa o seguinte: o homem que se engaja e que se dá conta de ele escolheu ser, mas também um legislador que escolhe simultaneamente a si mesmo e a humanidade inteira, não consegue escarpar ao sentimento de sua total e profunda responsabilidade” (SARTRE, 1973, p. 05)
Para o existencialismo de Sartre o homem era lançado ao mundo sem saber o porquê, ao nascer no mundo ele conheceria o mundo, excluindo a priori a existência de um ser divino que determinaria a sua existência no mundo. O existencialismo ateu de Sartre estabelece que o homem se constrói através das relações com o mundo.
Sartre e o existencialismo, o qual, não analisa o homem como objeto como os materialistas, entende que tudo parte do ser humano, trabalha o ser humano no ponto de partida e o ponto de chegada com a negação do Ser, parmenidiana, mas para os seus críticos, os existencialistas cristais o homem encontra Deus.
É importante apanhamos conceitos até aqui construídos a partir do pensamento existencialista de Sartre, materiais básicos e estruturadores para que possamos fazer uma relação da filosofia sartriana com a educação.
Dando, continuidade, Sartre escreve em sua obra O Existencialismo é um Humanismo “Se Deus não existisse, tudo seria permitido”. Sartre extrai a frase do escritor russo Dostoievski para argumentar como ponto de partida de que não existe um Deus para nos agarramos, pois o homem está “desemparado nele mesmo e fora dele” para suas desculpas na ação com o mundo.
“Para começar, não encontra desculpas. Com efeito, se a existência precede a essência, nada poderá jamais ser explicado por referência a uma natureza humana dada e definitiva: ou seja, não existe determinismo, o homem é livre, o homem é liberdade. Por outro lado, se Deus não existe, não encontramos, já prontos, valores ou ordens que possam legitimar a nossa conduta. (SARTRE, 1973, p. 7)
Sartre coloca o homem como responsável pelos seus atos. O homem é lançado no mundo, onde se depara com uma realidade a qual existe regras que impedem a seu exercício de liberdade, o movimento existencialista de Sartre entende que o homem projeta-se para o futuro, quando vive, experimenta as coisas do mundo, ele escolhe e dá um sentido para sua vida, sem um modelo a ser seguido.
Com a conferencia “O Existencialismo é um Humanismo” Sartre obteve grande sucesso entre o público dentro e fora da França. Já que anteriormente a leitura de suas obras encontrava difícil compreensão sobre as reais ideias do filósofo. A conferência foi o ponto chave, empregando uma linguagem acessível ao público. E uma resposta a críticas realizadas por cristãos e marxistas por acusarem que o existencialismo de Sartre colocar o homem em deriva no mundo sem sentido e de ser incoerente. No entanto, Sartre afirmar de forma simples de definir o homem engajado num mundo vivido a qual:
“De início, o homem é um projeto que vive a si mesmo subjetivamente ao invés de musco, podridão ou couver-flor; nada existe antes desse projeto; não há nenhuma inteligibilidade no céu, e o homem será apenas o que ele projetou ser. (SARTRE,1973, p. 4)
Sartre coloca o homem responsável por suas escolhas, a qual cada um de nós escolhemos por livre vontade, “[...] se escolhe a si mesmo, queremos dizer que cada um de nós se escolhe, mas queremos dizer também que, escolhendo-se, ele escolhe todos os homens”. (SARTRE, 1973, p. 05). O homem é seu próprio legislador a qual não está definido seu futuro, não existe um outro que o legisle.
Para Abbagnano (2003, p. 398), a existência para o existencialismo, é “o modo de ser do próprio homem.” Influenciado pelas ideias de Kieregaard no século XIX, defendendo a singularidade frente a valorização da coletividade contra o idealismo do “Espírito Absoluto” de Hegel, submetendo em suas ideias um grupo, uma sociedade, cultura, moral, religião, política a uma lógica sistema em seu idealismo transcendental.
Reale (2006, p. 230) diz que para os existencialistas que a existência humana sempre, um poder-ser, ou seja, possibilidade, não há nada que decida isso antes, não tem nada de certo. Tanto a mulher como os homens decidem aquilo que querem vir-a-ser, segundo as suas escolhas e modelos, assumindo uma responsabilidade absoluta que é total pela sua liberdade absoluta, pois estamos “condenados a sermos livres”.
Por outro lado, “se [...] Deus não existe, nós não encontramos diante de nós valores e ordens em condições de legitimar nossa conduta. Assim, nem atrás nem adiante de nós, em um domínio luminoso de valores, temos justificações ou desculpas. Estamos sós, sem desculpas. É isso o que eu expresso com a afirmação de que o homem está condenado a ser livre. Condenado porque não se criou por si mesmo e, no entanto, livre, porque, uma vez lançado ao mundo, é responsável por tudo aquilo que faz. (REALE, 2006, p. 230).
Para Sartre, o ser humano em sua ontologia contida em O Ser e o Nada, como um ser “em-si-para-si”, definindo-o pela sua subjetividade, que a única verdade que pode encontrar é a relação entre a consciência e o corpo, a relação com o mundo que o circunda. Pois o homem é, ser-no-mundo, que a princípio de consciência existe uma intencionalidade de que “sempre consciência de alguma coisa”, noção Husserleana de que é relação sempre de alguma coisa, à exterioridade.
Na obra Questão do método, Sartre aborda o homem numa perspectiva antropológica, discute considerando este numa visão histórica e dialética. O mesmo comenta que o homem existente não pode estar em um sistema logico como Hegel defendia, que nossa existência não é conduzida por um espirito Absoluto, e sim, por forças contratarias, reacionários contra o sistema opressor burguês, este consciente das contradições da sociedade capitalista, pois a previsão de Marx o movimento operário representa a “participação consciente no processo histórico que subverte a sociedade. [...] A doutrina materialista segundo a qual os homens são produto das circunstancias e da educação... não leva em consideração o fato de que as circunstâncias são modificadas precisamente pelos homens e que o educador deve ser, ele próprio, educado”. (SARTRE, 1979, p. 74).
Sartre coloca o homem como sujeito da história, que o “homem é produção de seu produto”. Ele cria os seus produtos, faz sua própria história, objetivando dela, onde o mesmo perde e se aliena. Para os marxistas do século XIX, e principalmente da força operaria tomar por armas o poder, pois é somente apoderar-se dela que é possível construir uma sociedade igualitária. Já que a realidade dos trabalhadores eram sem grandes perspectivas frente as classes dominantes, tonando-se fundamental a toma de consciência da realidade objetiva dos outros homens com o mundo e sua práxis.
No termo deste esforço, pela unificação dos explorados e pela redução progressiva do número das classes em luta, a História deve ter, enfim, um sentido para o homem. Tomando consciência de si mesmo, o proletariado torna-se sujeito da História, isto é, deve reconhecer-se nela. (SARTRE, 1979, p.76)
Pode-se percebe que Sartre é influenciado pelas ideias revolucionárias de Karl Marx, que discute que ontologicamente somos livres, e que pela força reagíamos contra algo estranho a nos, visivelmente totalizante sobre a subjetividade dos indivíduos. Procede-se de Marx a postura do engajamento do indivíduo em sociedade, porque sozinho ele não pode se realizar em sociedade.
Outro filósofo que influenciou Sartre foi o filósofo existencialista Martin Heidegger (1889-1976) que na sua obra o Ser e o Tempo comenta a ideia de tempo, a qual é transitório, passa com o tempo quando este passa. É aquilo que é, e logo se vai, é o indo. O tempo é entendido então por um ser. O ser que se percebe no tempo, ele existe sobre a gente, ficamos velhos, mudamos nosso pensamento, além do mas o tempo não é físico. Não existe um relógio, um cronometro marcando o tempo como os antigos entendiam. Defende a nossa existência a partir de uma partição ontológica da metafisica tradicional deste Aristóteles. Sendo o ser (nós), um ser histórico que se percebe no mundo, um ser no mundo é a consciência que representamos o tempo.
“Pelo fato de em toda parte representar-se o destino-do-ser somente como história e esta como uma sucessão de acontecimentos, procura-se em vão interpretar um tal acontecer a partir daquilo que, em Ser e tempo, é dito sobre a historicidade do ser-aí (e não do ser)”. (HEIDEGGER, 2005, p. 15).
A ontologia Heideggeriano o Ser-aí ser no mundo para ele é Dasein, termo que significa a existência humana, em seu pensamento não é uma coisa a ser analisada o outro, e sim um projeto relacional com os outros as quais encontra instrumento ou um arquétipo metafisico Aristotélico a qual os entes buscam um Ser perfeito imóvel, ingerido.
“Dasein é o termo utilizado por Heidegger, principalmente a partir de Ser e Tempo, para designar a constituição ontológica existencial do homem em sua situação estrutural de lançamento. Heidegger concebe o homem como ek-istência, ser humano é ser Da-sein. Ek-sistir, para Heidegger significa “projetar-se sempre para fora” ou seja, Dasein não é senão como movimento de lançamento de si mesmo em direção ao seu ser como projeto, onde seu próprio ser está sempre em jogo. Dasein possui uma estrutura radicada na relação originária com o ser”. (SANTOS, 2012, p. 35).
Na conjuntara do pensamento fenomenológico de Husserl e existencial de Heidegger, possibilitou Sartre encontrar a base de uma filosofia concreta do saber psíquico humano. “Procurávamos o concreto” dirá Sartre, em uma frase que poderá se traduzir do seguinte modo: procurávamos uma “filosofia concreta” que pudesse se sobrepor à abstração herdada, ou seja, que pudesse apreender o mundo e a consciência em toda a sua concretude e rudeza” (YAZBEK, 2007-2013, p. 37).
A Subjetividade em Sartre ele defini em relação a existência precede a essência, onde o homem existencialista, se não é definível, primeiramente é nada, apenas mas tarde será. Segundo Garcia (2008, p. 41).
“A única verdade que se pode encontrar: a existência do sujeito, do eu. O indivíduo se encontra no mundo, inicialmente, como um nada, imerso em possibilidades, realizando escolhas; sem parâmetros, valores, para fazê-las; desamparado, vê-se em condição de desespero porque não tem em que se firmar para agir”.
Sartre apresenta o ego como ser que está fora, no mundo. Ele mostra “que o Ego não está na consciência nem formal nem materialmente: ele está fora, no mundo; é um ser do mundo, tal como o Ego de outrem”. (YAZBEK, 2007-2013, p. 43). Sartre rompe com a Metafisica tradicional, de Descartes, que possibilita duvidar de tudo, inclusive da existência dos outros, em Cogito Ego Sun, onde só eu existo.
“[...] nós nos apreendemos a nós mesmo perante o outro, e o outro é tão verdadeiro para nós quanto nós mesmos. Assim, o homem que se alcança diretamente pelo cogito descobre também todos os outros, e descobre-os como sendo a própria condição de sua existência. (SARTRE, 1973, p. 13).
Com isso, o homem torna-se responsável pela sua existência, mas não somente em relação à sua individualidade, este homem torna-se responsável também pelos outros homens. O ser humano está desemparado num mundo sem Deus, no entanto, a filosofia de Sartre não isola o homem dos outros, como ocorre no método cartesiano. O homem assume sua responsabilidade que desperta a angústia, já que a princípio não existe nada que determine as suas escolhas, não há como fugir, mesmo preso “ele pode tentar fugir”.
4 A PEDAGOGIA SEGUNDO PAULO FREIRE.
A pedagogia libertaria de Paulo Freire, é entendida pelas obras como pedagogia do oprimido, onde o educador é o responsável para a conscientização da opressão das classes economicamente e politicamente favorecidas. Para Freire somos seres pensantes, possuidores de nossa subjetividade, esse valor é conectado para a transformação social, através da práxis, que permitirá a real transformação social e de construção de valores humanos, desenvolvendo-se, qualidades segundo Freire entres outras um educador “alfabetizador”, trabalho este desenvolvido por Freire com adultos no Nordeste brasileiro que começou em 1962 com o movimento revolucionário de “Educação Popular", durante o regime militar.
O educador, preocupado com o problema do analfabetismo, dirigiu-se sempre as massas que se supunham “fora da história”; a serviço da liberdade, sempre dirigiu-se às massas mais oprimidas, confiando em sua liberdade, em seu poder de criação e de crítica. Os políticos, ao contrário, não se interessavam pelas massas, senão na possibilidade de estes serem manipulados no jogo eleitoral. (FREIRE, 1979, p. 21).
O objetivo de Paulo Freire é transformar a situação de desigualdade existente entre os mais pobres e os mais abastados donos de propriedades, ele procura legitimar a afirmação individualizada do explorado, por via, alienadora do sistema político e econômico. Para elucidar Aranha (2006, p. 274) comenta acerca de sua produção intelectual.
Paulo Freire distingue, então, dois tipos de pedagogia: a pedagogia dos dominantes, na qual a educação existe como prática de dominação, e a pedagogia do oprimido – como tarefa a ser realizada - , na qual a educação representa a liberdade. [...] Do mesmo modo, os oprimidos costumam introjetar sua pretensa “inferioridade”, não reconhecendo a opressão.
Paulo Frei denuncia que a primeira concepção de educação não proporciona meios para o educando ser um ser crítico, reflexivo para futuramente dá condições para solucionar situações problemas em sua comunidade. É baseado o ensino na concepção “bancária”, na qual o aluno é apenas um mero receptor de informações acabadas. Nas palavras de Freire (1979) o “opressor não é solidário com os oprimidos” quando estes vendem seu trabalho, dentro do sistema econômico não os considera livres, “somente os oprimidos podem libertar os seus opressores, libertando-se a si mesmo. Para que o levem contra as contradições existentes, que tome consciência da plena liberdade libertadora face ao aparecimento de um “homem novo” renunciando as estruturas impostos historicamente.
É importante citar que a pedagogia “libertaria e libertadora” não existe autoritarismo na relação entre educador e educando, o método de Paulo Freire era essencialmente de conscientização política, dentro de uma modalidade de educação popular. Com práticas do cotidiano das pessoas relacionadas com a teoria em sala de aula para não distanciar o ensino da sua realidade, transformando numa abstração, fora de sua realidade concreta. A aprendizagem é reciprocar entre o professor e aluno. Luckesi (2011, p.86) informa:
Os passos da aprendizagem – Codificando-decodificação, e problematização da situação – permitirão aos educandos um esforço de compreensão do “vivido” até chegar a um nível mais crítico de conhecimento de sua realidade, sempre por meio de troca de experiência em torno da prática social.”
O papel do educador consciente das estruturas da sociedade mobiliza a sociedade para sua real transformação, o ensino voltado para a criticidade, na promoção da autonomia do pensamento do indivíduo, recolhesse Freire a fundamentação teórica para a Práxis, superando o estágio de ingenuidade de individuo contribuindo no processo de esclarecimento político. Paulo Freire na Obra Conscientização, de 1979, informa a dimensão histórica das condições do movimento dialético a respeito ao panorama da divisão de classes, povos, países, alimentando a ideia da dependência da sociedade-objeto a metrópole como sendo centro gerador de valores e produção cultural.
A dependência existente dos países subdesenvolvidos a infraestrutura e superestrutura dos países de primeiro mundo em metrópole reflete pelas ambiguidade no desenvolvimento econômico, manipulação econômica e tecnológica, Freire (1979, p. 65) comenta a dependência do povos como da América Latina, que é um regime do “o silencio da sociedade objeto” absorvendo o idealismo e cultura da elite no poder.
O que chama atenção que os regimes políticos das sociedades latino-americanas “caracterizam-se por um estrutura social hierárquica e rígida; pela falta de mercados internos, já que sua economia está controlada a partir do exterior”. Freire (1979, p. 66). Essa sociedade encontra-se no sistema de educação, saúde com precárias condições, sofrendo pelas altas ocorrências de corrupções em seus governos, sem que possam impedir ou minimizar as vergonhosos índices de analfabetismo, miséria, e até mesmo o combate a doenças tropicais.
A relação entre a filosofia existencialista do francês Jean Paul Sartre e do educador Paulo Freire é no que tange a concepção ontológica do ser humano, ambos criam perspectivas de uma ação educativa de emancipação do humano, e de projeto de entendimento para transformação social. Aprofundaremos os estudos Freireanos a seguir nos aspectos da concepção do outro no ensino dialogado.
5 EDUCAÇÃO DIALÓGICA EM PAULO FREI
Paulo Freire representa um dos maiores e mais significantes educadores do século XX. Sua pedagogia mostra um novo caminho para a relação entre educadores e educandos. Caminho este que, consolida uma proposta político-pedagógica elegendo educador e educando como sujeitos do processo de construção do conhecimento mediatizados pelo mundo, visando à transformação social e a construção de uma sociedade justa, democrática e libertaria que destaca:
“Por educador-educando, dialógico, o conteúdo programático da educação não é uma doação ou uma imposição – um conjunto de informes a ser depositado nos educandos, mas a revolução organizada, sistematizada e acrescentada ao povo, daqueles elementos que este lhe entregou de forma desestruturada.” (FREIRE, 2005, p. 48).
O "Método Paulo Freire" uma vez que ele é ainda muito utilizado, com algumas adaptações, nos dias de hoje em todo o mundo, e quase sempre ao falar-se de Paulo Freire e alfabetização 3, a compreensão desta é reduzida a puro conjunto de técnicas ligadas à aprendizagem da leitura e da escrita. De acordo com Freire, “através de sua permanente ação transformadora da realidade objetiva, os homens, simultaneamente, criam a história e se fazem seres históricos-sociais’’.
Para Mendonça (2006, p. 16), a preocupação imediata de Freire apresenta-se para a ontologia do ser humano, unida ao aprendizado da condição de sujeitos dada historicamente. Desse modo, surge a práxis humana “como um compromisso histórico que, ao endereçar os sujeitos ao mundo, possibilita, ao mesmo tempo, a transformação da realidade e dos próprios seres humanos.”
No campo metodológico de ensino e aprendizagem para a tomada de consciência do ser no mundo exige primeiro a mudança de postura do professor, em está disposto a abertura a diferença do outro, a cultura, quanto a atividade do conhecimento no mundo está inacabada, segundo Paulo Freire (1996, p. 55-56).
“Onde há vida, há inacabamento. Mas só entre mulheres e homens o inacabamento se tornou consciente. A invenção da existência a partir dos materiais que a vida oferecia levou homens e mulheres a promover o suporte em que os outros animais continuam, em mundo. Seu mundo, mundo dos homens e da mulheres. A experiência humana no mundo muda de qualidade com relação à vida animal no suporte”.
Educador e educando, na pedagogia de Paulo Freire, se tornam sujeitos do processo em que crescem juntos e em que os argumentos de autoridade já não valem. Dessa forma, o educador jamais deve dar respostas, todavia, deve promover a escolha livre educando a encontrá-las, num processo dialógico, crítico, a qual o homem pensa por si mesmo, a capacidade de pensar o logos.
Conforme Freire (2005, p. 78-79), a concepção humanista de educação faz surgir: “não mais um educador do educando; não mais um educando do educador; mas um educador-educando com um educando-educador”. Isso significa que:
“ninguém educa a ninguém; tão pouco se educa sozinho e que os homens se educam entre si, mediatizados pelo mundo”.
E nessa perspectiva que o educador e a presença que desperta o outro para suas potencialidades adormecidas ou latentes. Decodificando e codificando o corpo na pratica da liberdade onde ninguém está sozinho, que existe relações no mundo onde “consciência e mundo se dão simultaneamente”.
“A consciência e o mundo”, diz Sartre, “se dão ao mesmo tempo: exterior por essência à consciência, o mundo é, por essência, relativo a ela.” (FREIRE, 2005, p. 81).
Para Martini (2005, p. 8),
Na obra Pedagogia do Oprimido, editada no Brasil em 1970, Freire inspira-se em Hegel e Marx, usando a célebre figura da Fenomenologia do Espírito, a relação .Servo e Senhor., para dar conta do movimento dialético das consciências, enfatizando, pelo uso da lógica dialética de Hegel, o sentido da educação como um processo de emancipação de uma dependência inicial.
O aprendizado freireano enfatizando a postura educativa de igualdade perante o mundo, para a emancipação do aluno, ao paradigma da educação bancário, imprimido pela classe opressora, ruralistas, a elite brasileira imposta no decorrer da história a classe miserável, analfabeta. Segundo Freire (2005, p. 67) descreve a educação tradicional como uma operação bancária: Na visão “bancária” da educação, o “saber” é uma doação dos que se julgam sábios aos que julgam nada sabe.
A consciência opressora se manifesta com a atitude de que está fazendo um favor, a qual a consciência oprimida apresenta inferioridade cognitiva para desenvolver, o padrão estabelecido pela civilização ocidental, a qual a razão pelo juízo sintético kantiano do iluminismo estabelece o homem sobre o julgamento da razão. A razão dos gregos antigos “logos”, que para Platão o conhecimento verdadeiro encontra-se no mundo inteligível, fora do empirismo vivido. É da natureza do filósofo pelo método dialético socrática fazer parir as ideias, objetivando a tomada de consciência, em proposições que não se contradizem com a linguagem/imagem real das coisas do mundo.
Paulo freire alerta o educador sobre a ideologia bancária, mascarada, projetada para massa marginalizada e alienada 4. Na noção que o homem se percebe no mundo, que ele intervém no mundo no esforço de libertação ontológica, desmascarando as estruturas que se mantém imóveis as mudanças históricas. Segundo Freire (1996, p. 110), “a educação é uma forma de intervenção no mundo”.
O engajamento é a chave para as reais mudanças sociais para Freire seria a “superação da contradição opressor-oprimido”. Reflexão está presente em Karl Marx, que aborda onde os trabalhadores das industriais deveriam se mobilizar, para a tomada de consciência pelas condições trabalhistas e sociais determinada pela classe opressora dona dos meios de produção a burguesia. Marx se apoio em seu Materialismo Histórico em sua dietética de lutas de classe para enfatizar a mola propulsora da história dos homens.
Homem livre e escravo, patrício e plebeu, senhor e servo, mestre de corporação e companheiro, numa palavra, o opressor e o oprimido permaneceram em constante oposição um ao outro, levada a efeito numa guerra ininterrupta, ora disfarçada, ora aberta, que terminou, cada vez, ou pela reconstituição revolucionária de toda a sociedade ou pela destruição das classes em conflito. (MARX, 2003, p. 26)
Com essas ideias postas, que implicam segundo Paulo Freire com a tomada de “consciência da situação, dos homens se “apropriam” dela como realidade histórica, por isto mesmo, capaz de ser transformada por eles”. (FREIRE, 2005, p. 85). A pedagogia do oprimido levanta a importância do questionamento da ideologia dominante, que de forma mascarada aliena a consciência ingênua, é data a tarefa ao educador não de transferir conhecimento acabado ao educando, como na concepção bancária, mas de, dá autonomia investigativa, com as ferramentas próprias aos educandos para desenvolver suas habilidades próprias em liberdade, já que “são consciência de si e, assim, consciência do mundo, porque são corpo são um “ corpo consciente”, vivem uma relação dialética entre os condicionamentos e sua liberdade”. (FREIRE, 2005, p. 104).
6 CONCLUSÃO
Na perspectiva do existencialismo de Jean Paul Sartre, homem ontologicamente é livre, independentemente dos condicionamentos impostos pela sociedade, não é desculpa para que não exerça a sua liberdade, mesmo na angustia, ele escolhe. Nas sociedades democráticas, como no Brasil, prega a responsabilidade dos cidadãos quando a sua liberdade. A concepção de responsabilidade com o outro, que no existencialismo Sartreano “homem é um projeto” que só ao nascer ele irá construí a si mesmo e com os outro e o mundo. Não existe anteriormente uma essência única para todos os homens. Já que a “existência precede a essência”. A consciência de si com o mundo e os outros, o homem existencialista é ação para modifica-lo, construí novas estruturas por meio da ação subjetiva.
A ação é essencialmente humanista, na pedagogia brasileira de Paulo Freire apresenta a perspectiva que o ser é inacabado, que somente com a sua existência no mundo ainda não está definido, ele faz suas próprias escolhas individualmente, com engajamento em sua própria sociedade. Intervindo nos projetos educacional já que o sujeito é responsável por homens e mulheres. Paralelo a isso, o existencialismo ontológico de Sartre ver o homem livre, um ser-para-si, que está condenado a ser livre, que apreende as coisas do mundo. Ideia compartilhada por Paulo Freire, na educação autônoma, que o ser é livre historicamente e responsável para construí a sua história.
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2 Ontologia (gr. t o o n : o ser, logos: teoria) Termo introduzido pelo filósofo alemão Rudolph Goclenius, professor na Universidade de Marburg, em seu Lexicon Philosophicum (1613), designando o estudo da questão mais geral da *metafisica, a do "ser enquanto ser"; isto é, do *ser considerado independentemente de suas determinações particulares e naquilo que constitui sua inteligibilidade própria. Teoria do ser em geral, da essência do real. O termo "ontologia" aparece no vocabulário filosófico por vezes como sinônimo de metafisica: "Os seres, tanto espirituais quanto materiais, têm propriedades gerais como a existência, a possibilidade, a duração; o exame dessas propriedades forma esse ramo da filosofia que chamamos de ontologia, ou ciência do ser ou metafisica geral" (D'Alembert, Enciclopédia). Assim, p. ex., C. *Wolff denomina seu tratado de metafisica de Philosophia. (JASPIASSU, 2001, p. 143)
3 A história da Educação de Jovens e Adultos (EJA) apresenta muitas variações ao longo do tempo, demonstrando estar estreitamente ligada às transformações sociais, econômicas e políticas que caracterizaram os diferentes momentos históricos do país. “O elevado índice de analfabetismo hoje, que deixa em grande contingente de pessoas desprovidas de um poderoso instrumento de luta em prol da cidadania: O saber ler, escrever e contar, é resultado do histórico processo de produção e manutenção do fracasso na escolarização infantil de grande número de pessoas pertencentes as camadas populares”. (FERNANDES, 2002, p. 41).
4 Pessoa que não tem vontade própria; o filósofo Karl Marx denuncia a alienação humana provocada pela religião e pela dialética senhor-escravo, referindo-se a modo de produção capitalista, que gera o trabalho alienado.
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