Gustavo Roese Sanfelice
Marcelo Werkhausen
Joaquín Marín Montín
Universidade Feevale, Brasil
sanfeliceg@hotmail.comRESUMO
O presente trabalho teve por objetivo identificar e analisar a importância do conhecimento técnico/teórico sobre esportes para os profissionais que atuam no telejornalismo esportivo do Rio Grande do Sul Os participantes do estudo foram 3 comentaristas esportivo, sendo dois deles formados em jornalismo e um ex-atleta de futebol. O tipo de pesquisa foi a pesquisa qualitativa/interpretativa com entrevista semiestruturada. Concluiu-se que os profissionais do telejornalismo esportivo buscam seus conhecimentos junto aos profissionais de Educação Física; Profissionais do telejornalismo esportivo, com formação em Jornalismo, precisam de uma preparação prévia, As universidades e faculdades ofertarem disciplinas ou cursos que contemplem a Educação Física e o jornalismo Esportivo.
Palavras-chave: Educação Física, Televisão, Jornalismo Esportivo.
EDUCACIÓN FÍSICA Y TELEVISIÓN: LA IMPORTANCIA DEL CONOCIMIENTO TÉCNICO / TEÓRICO EN DEPORTES PARA PROFESIONALES QUE TRABAJAN EN EL PERIODISMO DEPORTIVO DE TELEVISIÓN DE RIO GRANDE DO SUL
RESUMEN
Este estudio tuvo como objetivo identificar y analizar la importancia de los conocimientos técnicos/teóricos de los deportes en los profesionales que trabajan en el periodismo deportivo televisivo en Río Grande do Sul. Los participantes del estudio fueron tres comentaristas deportivos, dos de ellos titulados en periodismo y un tercero ex-jugador de fútbol. La metodología usada en el estudio fue cualitativa/interpretativa junto a una entrevista semiestructurada. Se concluyó que los profesionales del periodismo deportivo televisivo buscan sus conocimientos junto a los profesionales de la Educación Física; los profesionales del periodismo deportivo televisivo con titulación en Periodismo requieren una preparación previa, en la que universidades y facultades oferten disciplinas o cursos que contemplen la Educación Física y el Periodismo Deportivo.
Palabras clave: Educación Física, Televisión, Periodismo Deportivo.
PHYSICAL EDUCATION AND TELEVISION: THE IMPORTANCE OF TECHNICAL / THEORICAL KNOWLEDGE IN SPORTS FOR PROFESSIONALS WORKING IN TELEVISION SPORTS JOURNALISM IN RIO GRANDE DO SUL
ABSTRACT
This study aimed to identify and analyze the importance of technical / theoretical knowledge of sports professionals working in television sports journalism in Rio Grande do Sul. Participants in this study were three sports commentators, two of them graduates in journalism and a third former as football player. The methodology used in the study was qualitative / interpretative with a semi-structured interview. The study concludes that television sports journalism professionals get their knowledge with professionals of Physical Education; professionals of television sports journalism with a degree in journalism require prior preparation, which universities and colleges offer courses or disciplines that include Physical Education and Sports Journalism.
Key words: Physical Education, Television, Sports Journalism.
Para citar este artículo puede uitlizar el siguiente formato:
Gustavo Roese Sanfelice, Marcelo Werkhausen y Joaquín Marín Montín (2016): “Educação fisica e televisão: a importância do conhecimento técnico/teórico em esportes para profissionais que atuam no telejornalismo esportivo do Rio Grande do Sul”, Revista Contribuciones a las Ciencias Sociales, (enero-marzo 2016). En línea: http://www.eumed.net/rev/cccss/2016/01/televisao.html
http://hdl.handle.net/20.500.11763/CCCSS-2016-01-televisao
INTRODUÇÃO
O jornalismo esportivo televisivo representa a transmissão (in loco ou não) de um evento esportivo de qualquer modalidade, realizada por uma equipe de profissionais especializada no assunto, geralmente formada por um locutor, um comentarista e um ou mais repórteres, bem como programas esportivos apresentados em estúdio. Dentro todos os formatos, as retransmissões representam o formato televisivo mais característico das mídias, principalmente por ser um grande espetáculo audiovisual.
A paixão do brasileiro pelo esporte, a emoção da transmissão esportiva pela televisão e o fato de representar um importante canal de informação no dia-a-dia das pessoas, fazem deste meio um importante veículo de comunicação. O destaque dado ao esporte dentro de um grande número de emissoras de televisão e o fato de grande parcela da população ter o hábito de assistir a ele através deste meio mostram a importância do jornalismo esportivo no mundo. Um aspecto central dos eventos esportivos ao vivo pela televisão tem relação com o suspense. Não saber o resultado de uma competicão reforça o componente emocional, aspecto essencial na construção do espectáculo esportivo. Dentre os responsáveis por trazerem a emoção da transmissão esportiva à casa do telespectador está o comentarista. É ele o responsável pela análise de um esporte durante a transmissão, ou, então, programa de estúdio. A função de comentarista é comum nas transmissões esportivas, e é comumente exercida por jogadores ou árbitros aposentados. São pessoas que tem o conhecimento prático, a vivência dentro do esporte. Deste modo, o papel do comentarista é de verificar, esclarecer e corroborar determinados aspectos do jogo que resultem em uma melhor compreensão da competição esportiva.
Mas será que somente a prática é suficiente para passar a informação correta para o telespectador? E a teoria? Qual a importância do conhecimento teórico em Educação Física para os profissionais que atuam no telejornalismo esportivo? Em resposta a estes questionamentos, este trabalho tem como objetivo identificar e analisar a importância do conhecimento técnico/teórico sobre esportes para os profissionais que atuam no telejornalismo esportivo do Rio Grande do Sul.
A mídia, tanto a escrita, radiofônica, televisiva, quanto a digital, se tornou um fenômeno cultural de grande importância na vida das pessoas, influenciando diretamente o seu dia-a-dia, tornando-se uma grande problemática para Educação, em especial para a Educação Física. As mídias tem hoje uma grande responsabilidade na difusão das práticas esportivas, que por sua vez necessitam de ferramentas comunicativas para sua evolução e conhecimento. Por ser de grande importância à mídia no mundo atual, torna-se evidente sua influência no âmbito da cultura corporal de movimento, sugerindo diversas práticas corporais, reproduzindo-as, e também as transformando e constituindo novos modelos de consumo. (BETTI, 2003)
A concepção de esporte atual está condicionada a sua visibilidade audiovisual, especialmente televisiva, adotando novas fórmulas que alteram suas regras para ganhar em espectacularidade e conseguir maior rentabilidade comercial. O esporte se adapta aos elementos da linguagem audiovisual para sua captação, convertendo a televisão em um organizador da competição esportiva (MARÍN, 2006)
O presente trabalho visa, ainda, um questionamento mais apurado sobre atitudes e procedimentos de determinados profissionais, cuja ausência de conhecimento referente ao contexto esportivo leva-os a erros e comportamentos sem fundamentação técnica, os quais poderão interferir diretamente no entendimento dos receptores.
É importante entender que a Educação Física e o telejornalismo esportivo têm elementos que devem ser debatidos para que se tenha uma visão muito mais abrangente no que tange ao contexto social. É evidente que a maioria da população brasileira não tem acesso a uma educação de qualidade. Cabe nesse sentido, a proposta e a preocupação, enquanto profissionais de Educação Física, de se levar a informação da maneira mais correta possível a essa população. Logo, o jornalista esportivo Flávio Prado enfatiza que “o cronista esportivo não pode conhecer apenas o assunto de sua especialidade” (PRADO, 1996, p.128). Essa afirmação deve ser tratada pelo profissional de Educação Física como algo muito significativo no meio esportivo, pois viabiliza e disponibiliza argumentos convincentes para poder se identificar com o telejornalismo esportivo.
Sendo assim, os profissionais da Educação Física, tem a pré-disposição e a formação para colocar os seus conhecimentos à disposição como alternativa e, além disso, enriquecer o campo da comunicação esportiva. Isso já tem aberto e poderá abrir ainda mais novas portas para a Educação Física concretizar seus conhecimentos e passar a interagir nos futuros cenários do esporte como parte integrante da mídia que acompanha os espetáculos, abrindo, dessa forma, um novo campo de atuação para seus profissionais.
A estreita colaboração entre os especialistas da atividade física e esportes e a comunicação, pode potencializar os valores através do esporte. Com essa aproximação já exposta entre as duas áreas e suas devidas importâncias perante o público que hoje está muito bem informado sobre todos os acontecimentos mundiais, será abordado em especial o meio esportivo, por se tratar de algo que está presente.
2 MÉTODO
O presente trabalho caracteriza-se como pesquisa qualitativa/interpretativa com características descritivas, por meio da realização de uma entrevista semiestruturada com três colaboradores que atuam no telejornalismo esportivo do Rio Grande do Sul, sendo dois deles comentaristas com formação em Jornalismo, e outro um ex-atleta profissional de futebol. As entrevistas foram realizadas após leitura e assinatura de um termo de consentimento.
Os sujeitos da pesquisa foram escolhidos por acessibilidade, permitindo ao pesquisador selecionar os indivíduos, considerando que estes poderiam, de certo modo, representar o contexto. A ênfase no processo de análise foi feita com base no que os entrevistados disseram e o que pensam a respeito do assunto.
O instrumento de coleta de informações foi à entrevista semiestruturada com 19 questões abertas. Para a realização do presente estudo dentro dos aspectos éticos exigidos, os colaboradores da pesquisa receberam e assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, atendendo às normas e diretrizes da Resolução 466/12 do CNS/MS, para que haja a validação da mesma. O colaborador da pesquisa recebeu uma explicação clara e detalhada sobre o estudo. Além disso, foi certificado do sigilo das informações pessoais, assegurando a privacidade e o anonimato dos mesmos. É relevante lembrar que os colaboradores optaram livremente pela sua participação ou não no presente estudo.
O primeiro contato com os colaboradores foi feito por telefone, agendando, assim, um encontro do pesquisador com o colaborador. Nesse encontro foi lhes explicado sobre os procedimentos da pesquisa e entregue um termo de consentimento livre e esclarecido para que o assinassem, autorizando o pesquisador a continuar com a investigação. As entrevistas com os comentaristas formados em Jornalismo foram realizadas no dia 25 de março de 2011, em seus respectivos locais de trabalho. Já a entrevista com o ex-atleta profissional de futebol foi realizada no dia 15 de abril de 2011, em sua residência, já que o mesmo atua somente em dias de jogos ou eventualmente quando é convidado para algum programa de debates. A pesquisa foi desenvolvida de forma voluntária, não acarretando ônus financeiro para nenhuma das partes.
Na análise de dados utilizamos a técnica da triangulação, seguindo a proposta de Cauduro (2004), que a separa em três níveis: o primeiro, diz respeito a separação de unidades de significado, a síntese e o agrupamento; no segundo nível, é feita a depuração, ou seja, a (re) agrupação das unidades em categorias e subcategorias com significado mais abrangente; e o terceiro nível, que vem a ser a triangulação propriamente dita, em que se entrelaçam os dados obtidos no campo, na teoria específica, colocando-se a interpretação do pesquisador de acordo com os dados obtidos.
Todos os dados obtidos através da entrevista foram transcritos na íntegra para a realização de sua análise. Estes dados, após coleta e transcrição foram submetidos à uma pré-análise, através de uma leitura completa na busca de se identificar uma forma de organização que fosse coerente com a proposta do presente estudo.
ANÁLISES das informações
Para Pires e Mezzaroba (2006), os novos tempos exigem que haja uma maior proximidade entre Educação Física e meios de comunicação, uma vez que as informações chegam à população cada vez mais rápido e, para recebê-las de forma organizada e especializada, torna-se uma tarefa da Educação Física interagir com a sociedade para que a mesma analise e perceba o contexto esportivo como um todo.
De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE, 2007) relativos ao ano 2007, o televisor é o segundo bem durável mais encontrado nos lares brasileiros, com 93,0%, perdendo apenas para o fogão. Isto torna a televisão a mídia de maior presença e importância no cotidiano da sociedade. Essa participação significativa da televisão no processo de comunicação da sociedade contemporânea e a importância dada ao esporte em suas grades de programação fazem necessária uma análise entre a relação da Educação Física e o telejornalismo esportivo com maior atenção, objetivo deste trabalho.
Novas tendências que tem surgido com o passar dos anos e a evolução do ser humano, aliadas as novidades que surgem a todo o momento, cada vez com maior velocidade, interferem diretamente nos campos de trabalho das pessoas. Foi especialmente significativa suas implicações tecnológicas com o aparecimento da internet e a incidência dos novos meios de comunicação na vida das pessoas. O mesmo ocorre com a Educação Física, que em seus conteúdos busca de uma forma contínua e crescente esclarecer, nortear, auxiliar, observar e promover tanto os seus profissionais, como o público, receptor de informações.
Contudo, o estudo busca respostas na proposta interdisciplinar, através do reconhecimento da realidade dos profissionais que atuam no jornalismo esportivo televisivo do Rio Grande do Sul, com a intenção de trazer os devidos esclarecimentos para o crescimento de ambas as áreas.
Desta forma, o trabalho foi organizado de tal maneira a contar com os depoimentos dos entrevistados que, seguindo as exigências do mesmo, estejam atuando no telejornalismo esportivo do estado do Rio Grande do Sul, na função de comentarista esportivo. Todos terão suas identidades preservadas e, para um melhor entendimento, serão denominadas pelos números 1, 2 e 3. Para melhor situar o universo dos entrevistados, será realizada uma abordagem superficial de cada um deles dentro dos objetivos do trabalho.
O entrevistado 1 trabalha em uma emissora da cidade de Porto Alegre – RS, onde a mesmo desempenha a função de comentarista, em partidas de futebol, além de trabalhar com outras mídias, como jornal, radio e internet. A emissora na qual o entrevistado 1 trabalha visa a cobertura de jogos das equipes do Grêmio e do Internacional, ambas da cidade de Porto Alegre - RS. Seu trabalho como comentarista esportivo é recente, tendo iniciado sua carreira jornalística como repórter de política em um jornal de grande circulação no Estado do Rio Grande do Sul.
O entrevistado 2 atua em dois canais de televisão, de um mesmo grupo de mídia, localizado na cidade Porto Alegre – RS, onde, a exemplo do entrevistado 1, desempenha a função de comentarista esportivo, além de ser apresentador e âncora de programas de debates esportivos, que compõe a grade esportiva da emissora. Este profissional, formado em jornalismo, tem duas décadas de experiência no telejornalismo esportivo, tendo passado por outros canais, do mesmo município, e, também, atuado em nível de país em programas de repercussão nacional.
O entrevistado 3 é ex-atleta de futebol, com passagens por clubes, como Grêmio e do Internacional e, também, Seleção Brasileira. Ele atua em três canais de televisão, sendo dois com abrangência estadual, que transmitem jogos de futebol de equipes gaúchas, e outro com abrangência nacional, que tem por objetivo a cobertura de diversas modalidades esportivas do país e do mundo. O entrevistado 3 atua apenas na função de comentarista de partidas de futebol, sendo que realiza este trabalho há oito anos, não tendo formação em jornalismo. Abaixo apresentamos as duas categorias de análise.
CONTRIBUICÕES DO CONHECIMENTO TEÓRICO/TÉCNICO PARA COMENTARISTAS ESPORTIVOS TELEVISIVOS
Ao analisar os dados das entrevistas notou-se que os colaboradores formados em Jornalismo (1 e 2) obtiveram o seu conhecimento teórico/técnico em Educação Física de forma empírica, ou seja, através do contato diário com profissionais de preparação física e, consequentemente, da Educação Física, onde por meio de conversas informais, que ocorriam e ocorrem, normalmente, em um momento no qual, tanto jornalistas quanto preparadores físicos não estão atuando em suas respectivas áreas. Já o entrevistado 3 expôs que seu conhecimento teórico/técnico foi obtido ao longo dos anos em que esteve atuando como atleta, nas atividades extra campo, como concentrações e palestras antes dos jogos.
Por trabalharem com futebol, os entrevistados 1 e 2 acreditam que há uma maior facilidade na obtenção de conhecimento sobre este determinado esporte. É importante citar a fala do entrevistado 1, que resume isto: “Apesar de trabalhar com política, eu sempre acompanhei, gostei de esportes. Todo mundo que trabalha em Jornalismo Esportivo, um dia curtiu, gostou, acompanhou os jogadores de futebol”.
Esta questão nos remete a Coelho (2003) sobre os profissionais do Jornalismo Esportivo, em que consta que as editorias de esporte e automobilismo são as únicas que tem profissionais especializados em determinada área. Nota-se entre os entrevistados que em sua área dentro do jornalismo esportivo, o destaque é todo ele dado prática e unicamente ao futebol. Os próprios meios de comunicação são responsáveis de fomentar prioritariamente o futebol pelo interesse que o mesmo suscita na sociedade, e a audiência que demanda. Hoje, a bola é motivo de “culto” e seus “artistas” quase deuses de uma religião com biliões de fiéis, muitos deles tocados por um fanatismo (CANCELA, 2006 p.23). Entretanto o número de especialidades que compõem a atividade esportiva requer a necessidade de uma especialização. Assim, um jornalista especializado em atletismo deve dominar o máximo a maioria dos aspectos e situações dessa modalidade.
Conforme os entrevistados, o conhecimento teórico/técnico foi adquirido de forma empírica junto aos preparadores físicos e dá à eles subsídios para analisarem as condições físicas dos atletas em um campo de jogo, histórico de lesões, além de possibilitar que os mesmos comentem com maior clareza aos telespectadores. No entanto, para o entrevistado 3, este conhecimento passa a ser de pouca relevância, uma vez que afirma que o importante são as táticas, esquemas de jogos e o que deve ou não ser mudado para que haja uma melhora das equipes que estão atuando em uma partida de futebol. E é nesse ponto está o diferencial encontrado ao longo da realização deste trabalho. Pode-se notar que o futebol, por ser exatamente aquele esporte de massa, em que boa parte da população tem um grande conhecimento, é facilmente analisável. Até, por isso, existe aquela velha máxima que diz que no Brasil somos 100 milhões de técnicos. O meu conhecimento dentro da Educação Física trouxe outros conhecimentos que estão além do que é visto pela grande maioria desses “técnicos”. Além de percepção do jogo em si, a percepção sobre o estado físico e psicológico de um atleta ou de uma equipe auxiliam na construção de um comentário muito mais conciso e realista do que ocorre ou pode vir a ocorrer. E este conhecimento leva o público a valorizar posicionamento referente ao assunto a ser tratado, com destaque principal ao futebol.
O pensamento apresentado pelos colaboradores, de que o conhecimento teórico/técnico em Educação Física não é primordial para as análises do futebol, muda, entretanto, quando o assunto passa a ser Olimpíadas, evento que reúne diversas modalidades esportivas em determinada cidade. Dessa forma, escolhem ex- esportistas o ex-treinadores como analistas, já que se necessitam conhecimentos profundos sobre esportes olímpicos. Enquanto o comentarista descreve quem são os esportistas e o que estão fazendo, o analista é o responsável de explicar ao espectador por que os esportistas fizeram o que fizeram (OWENS, 2010).
Seguindo o que afirma Sanfelice (2010), a complexidade de alguns esportes faz com que seja necessário o surgimento da figura dos especialistas que vivam diretamente ou indiretamente dos esportes, ou seja, técnicos e preparadores, com formação em Educação Física. Como acontece em outras editorias do jornalismo como política ou economia, a especialização em esporte deve ir mais além do que pode ver os fãs de esportes e basear-se em especialistas que sustentarão criteriosamente e rigorosamente suas informações.
O entrevistado 1 afirma que esta é uma praxe que ocorre, principalmente, para diminuir os custos de transmissão: “É praticamente impossível cobrir um evento desses com um comentarista jornalista de cada área”.
Já o entrevistado 2 fala que a busca pelos profissionais de Educação Física se dá já com o evento em andamento, a medida que o país vai se destacando em determinada modalidade: “Quando é que o handebol vai ter interesse para as pessoas? Quando o Brasil estiver disputando medalha de ouro. Senão, não se lota nem um ginásio para ver handebol. Por que não são esportes aceitos culturalmente”.
Essa afirmação contempla o que afirmam Sanfelice e Menezes (2009) que postulam que o primeiro critério de destaque durante este tipo de evento é o resultado esperado e cogitações sobre a possibilidade da conquista de alguma medalha. A presença do profissional de Educação Física neste tipo de transmissões, contudo, é louvada pelo entrevistado 1, quando este afirma que elas ficam bastante informativas.
Outro aspecto apresentado pelo entrevistado 1 é que a preparação para um evento como a Olimpíada começa seis meses antes do evento para que o jornalista esportivo possa se embasar o máximo sobre as modalidades do evento. Neste contexto se confirma a afirmação de Lage (2003) de que em seis meses ou um ano de leitura e observação, qualquer jornalista competente é capaz de se adestrar para cobrir áreas especificas. No caso das Olimpíadas, essa busca por informações é feita, novamente, com profissionais de educação física e técnicos.
Apesar de buscarem nos profissionais de Educação Física o embasamento para o seu conhecimento teórico/técnico e de afirmarem que se utilizam deste conhecimento para analisar determinadas situações de jogo e, principalmente, as emissoras de TV recorrer à profissionais de Educação Física de determinados esportes em eventos pontuais como as Olimpíadas, os colaboradores deste trabalho desconhecem a existência de uma proximidade entre as duas atividades.
Nesta questão, encontra-se o grande diferencial positivo do comentarista Educador Físico frente ao comentarista jornalista ou comentarista ex-atleta. Enquanto o comentarista jornalista precisa de seis meses para se inteirar do esporte diferente ao futebol, a qual ele está acostumado, o comentarista Educador Físico já tem um conhecimento prévio de diversos esportes, uma vez que esse conhecimento já foi adquirido ao longo da sua graduação. No entanto, os meios de comunicação optam por eleger ex-atletas para alcançar mais audiência em seus programas, sendo em muitos casos de pessoas populares que são familiares e ainda mantem seguidores. Se é praticamente impossível se ter uma comentarista jornalista para cada área, conforme palavras dos entrevistado 1, porque não se valer de um profissional com conhecimento em várias áreas? Postula-se isso, pois o conhecimento de Educação Física dá a possibilidade de falar sobre os variados esportes ao longo dos programas que são apresentados, com a capacidade, inclusive, de aprofundar sobre determinadas regras, detalhes e curiosidade históricas do esporte em voga. Já o comentarista ex-atleta terá muito mais dificuldades do que o comentarista jornalista. Enquanto o último precisa de um determinado tempo para se adaptar e coletar as informações necessárias para que tenha material suficiente para um comentário bem embasado, o ex-atleta, por sua ligação histórica com determinado esporte, ficará impossibilitado de atuar em outra área, até mesmo por certo preconceito do público.
A visão apresentada anteriormente, porém, não condiz com o pensamento dos entrevistados, que são unânimes em afirmar que, independentemente do profissional de Educação Física ter um grande conhecimento sobre as variadas atividades esportivas, o que, talvez, poderia lhe trazer algum tipo de benefício num eventual comentário, isso não é o mais importante. O entrevistado 1, por exemplo, tem o seguinte pensamento acerca desta questão:
Não é porque ele é um profissional de Educação Física que ele será melhor do que os outros. Ele pode vir a ser melhor se ele pegar o seu conhecimento e partir para as outras áreas, até porque ele já tem uma bagagem bem interessante. Inclusive os atletas gostam de saber que o comentarista tem noção do assunto, por exemplo, lesões e as etapas de recuperação, como reforço muscular, pegar ritmo.
Já o entrevistado 2 fala da importância de se agregar o conhecimento com a capacidade de se comunicar:
Penso que seja muito mais importante a sua capacidade de expressão. Alguns comentaristas ainda padecem de falar como se estivessem sendo entrevistados. O narrador acaba tendo que entrevistar o comentarista. E ele só se expressa assim, provocado. Ele pode ter um grande conhecimento, mas se ele não conseguir transmitir esse conhecimento, o valor do seu trabalho diminui.
O entrevistado 3, pensa que o profissional de Educação Física poderia ter um domínio maior de conhecimento para comentar sobre lesões, mas ressalta a importância de saber se comunicar, além da necessidade de ser ter as informações extra-campo:
O comentário de jogo precisa conhecimento de regra e para trabalhar na TV precisa desenvoltura para aquela hora em que a câmera bate em você, e nem sempre só o estudo te dá isso. Não adianta só saber, ter conhecimento, você precisa saber passar isso para o telespectador. O profissional de Educação Física pode até passar porque um cara pulou mais alto que o outro, porque aquele movimento gerou uma fisgada, porque a musculatura dele não está tão forte, porém o espectador também quer saber da disputa, do ambiente, de concentração.
Essa citação do entrevistado 3 vem ao encontro do que afirma Erbolato (1981), de que o público deseja uma informação mais elaborada sobre determinados assuntos, e na busca desta distinção e por melhores índices de audiências, o telejornalismo esportivo tornou trivial a utilização de ex-atletas e ídolos para a realização de comentários em transmissões esportiva. Como consequência se corre o risco de oferecer informações erradas nos comentários, gerando confusão dos espectadores.
O entrevistado 2 diz que se esse ex-atleta conseguir aliar seu conhecimento com uma boa capacidade de comunicação, torna-se um comentarista ideal, por ter o conhecimento de lado de dentro do esporte. Mas não pode ser apenas um desses atributos. De acordo com ele “trazer, só porque foi um grande jogador, um ídolo de sua torcida, não é sinônimo de sucesso”. Ele cita profissionais, como Falcão e Neto, que, de formas diferenciadas, conseguem transmitir aquilo que estão pensando. Outro exemplo dado pelo entrevistado 2 é o de Mário Sérgio, ex-atleta e comentarista de futebol que trouxe diversas expressões, antes somente utilizadas dentro do campo de jogo, para o conhecimento geral dos espectadores, como as expressões “segunda bola” e “gostar do jogo”. O entrevistado 2 finaliza seu pensamento com a seguinte afirmação: “Não é importante se o cara foi ídolo ou não. Em pouco tempo isso se esvai. Se não tiver qualidade, dança. Importante é ter o conhecimento e conseguir comunicá-lo ao grande público”.
O entrevistado 3 compactua da mesma ideia e acredita que a utilização de ex-atletas no comentário esportivo é interessante, pois estas pessoas podem trazer informações que normalmente ficam somente dentro do campo ou do vestiário. O entrevistado 1, também pensa ser interessante a utilização deste tipo de profissional, no entanto, afirma que as constantes mutações que estão ocorrendo referente ao jornalismo, como um todo, fazem com que este profissional que trabalha somente como comentarista esportivo tenha seu espaço cada vez mais diminuído: “Quem for comentarista de TV não vai poder nunca deixar de ser repórter, de ir atrás de uma informação, para tentar qualificar uma jornada esportiva”.
Outro ponto de discussão levado aos entrevistados foi a importância e o poder dos meios de comunicação sobre o contexto social em relação à construção de ídolos ou fenômenos esportivos. Notou-se entre os entrevistados que o jornalismo esportivo por si só não transforma um atleta expoente em um ídolo. O entrevistado 2 nos dá o seguinte relato:
O ídolo nasce e o jornalista o ilumina, mas o fenômeno está lá antes do jornalismo. O jornalista não faz o fenômeno, porque o fenômeno, se não for fenômeno, não sobreviverá sob esta condição. Pra você chamar um Ronaldinho de ídolo, ele tem que ter feito coisas fenomenais.
Já o entrevistados 3 nos diz o que segue:
O comentarista esportivo pode engrandecer as qualidades de um evento, de um jogador. Ele pode valorizar alguém ou algo, mas até chegar a ser um ídolo ou tornar-se um fenômeno é um caminho muito grande e no meio do caminho, muitas vezes, isso se quebra. Há atletas que são bárbaros até determinado momento, o comentarista o elogia e dali a pouco ele estaciona, não sai mais dali. O comentarista visualiza e enaltece aquilo que por muitas vezes nem se conhece, e a partir daí as pessoas passam a prestar atenção. Mas ele nunca vai fazer de um jogador mediano um craque, de um evento que não se goste, tornar algo grande. Ele pode até ajudar, antever alguma coisa.
Notou-se ao longo das entrevistas realizadas que a visão que se tem dentro da mídia televisiva sobre o profissional de Educação Física é bastante restrita, ou seja, para os entrevistados, o educador físico é apenas aquela pessoa que trabalha no condicionamento físico de atletas. Para os colaboradores da pesquisa ele é o responsável por fazer com que o atleta consiga correr ao longo de uma partida completa de futebol ou, então, é ele que trabalha na recuperação física de um atleta que está lesionado, dando à ele condições de voltar a atuar na sua área, quando em uma visão global é ele também o responsável por estender os seus conhecimentos à sociedade, primando pelos valores e benefícios da prática da Educação Física, realizando um trabalho de integração com outras áreas.
Nesta visão, nada melhor do que a televisão, como dito anteriormente, mídia de maior presença nos lares brasileiros, para fazer essa divulgação do conhecimento, sempre levando em consideração sua responsabilidade de somente aceitar encargos quando se julgar capaz de apresentar desempenho seguro para si e para seus telespectadores. Porém, as exigências comerciais do esporte atual apoiada financeiramente pela televisão dificultam tal fato. Afinal, a Educação Física trata do corpo humano, e o esporte sem o corpo humano não existe. Logo, para quem vai trabalhar com a parte esportiva, seja em qualquer mídia, principalmente na televisiva, da qual este trabalho trata, nada melhor do que a Educação Física como matéria interdisciplinar, um complemento, para quem venha a atuar no telejornalismo esportivo.
PERSPECTIVAS DE MERCADO PARA O PROFISSIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA NO TELEJORNALISMO ESPORTIVO
A utilização de profissionais de Educação Física nos meios televisivos do Brasil, como um todo, praticamente inexiste, tanto é que no princípio deste trabalho a intenção era se buscar a palavra de profissionais graduados em Educação Física e que estivessem trabalhando junto ao Telejornalismo Esportivo, porém a escassez destes profissionais e a dificuldade de contatos junto aos mesmos resultou na procura por profissionais com acesso mais facilitado. Entre os profissionais de Educação Física mais expoentes que atuam no Telejornalismo Esportivo podemos citar Galvão Bueno, narrador da TV Globo, e mais recentemente o ex-árbitro e, agora, comentarista de arbitragem do SporTV, Leonardo Gaciba.
Essa escassez de profissionais de Educação Física junto aos meios de comunicação televisivo foi questionada aos colaboradores desta pesquisa, sendo que o entrevistado 3 acredita que este fato ocorre em função da graduação de Educação Física não estar diretamente ligada ao jornalismo esportivo, uma vez que a área de estudo direciona o profissional muito mais para o trabalho junto à preparação física.
Já o entrevistado 2 é mais radical e pensa esta área deve ter o trabalho sendo feito por jornalistas:
O jornalismo esportivo deve ser feito por jornalistas. Se houvesse tempo do jornalista fazer um curso de Educação Física, acredito que seria interessante, ter o conhecimento científico sobre a educação física, seria o padrão ideal, mas não considero isso prioridade. Seria um complemento, não algo essencial.
Sendo assim, mostra-se necessário uma maior valorização do próprio profissional de Educação Física na busca de espaços dentro deste meio. Para isto, há grandes pré-conceitos que devem ser enfrentados e transpostos, como a imagem errônea de que o profissional de Educação Física, por trabalhar em determinados momentos de forma individualizada em determinadas atividades, não tem uma boa capacidade de comunicação. Algo que pode ser facilmente reconhecido dentro das escolas, onde professores comunicam-se diariamente com dezenas de alunos, sendo responsáveis pela transmissão do seu conhecimento na atividade. Igualmente, é necessário também que essa luta pela busca de espaços transponha o cooperativismo existente dentro de cada núcleo de comentarista, onde os jornalistas defendem os jornalistas, e os ex-atletas defendem os ex-atletas.
Em uma análise mais detalhada, nota-se que esta última questão é de longe a mais difícil. Conforme explica o entrevistado 1, o não aproveitamento de profissionais de Educação Física em comentários no Telejornalismo Esportivo não é uma exceção da área. O mesmo ocorre também com os jornalistas, já que praticamente todos os canais de TV aberta se utilizam de ex-atletas para realizarem os comentários durante a programação. Ele acredita que profissionais de Educação Física possam fazer parte do grupo de comentaristas esportivos, entretanto, defende um aprimoramento profissional deste profissional:
Penso que para os profissionais integrarem está área (jornalismo) eles precisem primeiramente ser jornalistas. É importante para quem for fazer o Jornalismo Esportivo ser jornalista, porque tem investigações, além de outros assuntos, que passam ao largo, simples e puramente da visão científica do esporte.
Então, é uma questão de agregar o conhecimento teórico-científico, que é importante, mas é importante também que esses profissionais conheçam o nosso lado também. E aí, eu acho que fica um casamento legal, bem bacana.
Na busca deste aprimoramento profissional, os colaboradores defendem que haja uma maior disponibilização de cursos, palestras, eventos, com curta duração, que visem à aproximação entre o jornalista esportivo e o profissional de educação física, já que as duas áreas têm o mesmo meio de vivência. O entrevistado 2, inclusive, explica esta situação:
Eu vejo que o profissional em Educação Física gosta de falar da sua área. Então, quando mais puder tirar informações (...) maiores subsídios, para que você entenda a sua atuação, maior será o conhecimento que ele te dará. Isto trará visibilidade para o trabalho dele, uma vez que o preparador físico só é lembrado de passagem em uma transmissão, ou quando o time cansa aos 15 minutos do segundo tempo.
Na opinião dos entrevistados, estes cursos devem ter curta duração ou, se possível, o profissional já deve buscar essa agregação de conhecimento antes mesmo de passar a trabalhar no telejornalismo esportivo. Quando a isso, os entrevistados destacam que as viagens inerentes à profissão, por muitas vezes, impossibilitam uma atualização dentro da profissão. Veja o que diz o entrevistado 2:
Mas qual é a grande dificuldade que tem os profissionais que já estão atuando? A velha e boa falta de tempo. Se o curso for de um mês, pode acontecer de na última hora, de você descobrir que vai ficar dez dias fora. Ou seja, você vai perder uma boa parte do curso, além do investimento feito nele. Mas para quem está entrando no mercado, acho que é bastante importante.
As perspectivas de trabalho nesta área, pelo que se nota, são ínfimas em virtude das poucas oportunidades que se abrem no meio televisivo, no qual um comentarista pode ocupar um posto ao longo de toda uma vida profissional, somado ao fato de os canais de televisão que contam com equipes esportivas não ultrapassarem as duas dezenas. Mas isso não é sinônimo de que o profissional de Educação Física não tenha que lutar pelo seu espaço. Os bancos acadêmicos são o princípio desta caminhada, cuja busca o entrevistado 1 destaca:
A preocupação tem que ser menos pela parte prática, por incrível que pareça, e mais pela parte teórica e de conteúdo. O importante é se usar as universidades para pensar, pra ler, discutir, debater; a faculdade tem que ser usada pra isso. Não importa se o jornalismo vai ser televisivo, impresso ou on-line. A pessoa tem que sair da faculdade com conteúdo, isto que é o mais importante.
Tudo o que se puder fazer de seminário, curso, debate, tem que fazer, porque o espaço da faculdade é pra isso. Até porque depois é muito mais difícil se aperfeiçoar, pelo ritmo de trabalho.
O entrevistado 2 comenta que o mercado de trabalho, em função da constante abertura de novos veículos de comunicação, tem ficado menos seletivo quanto aos profissionais, já que há uma oferta crescente de oportunidades dentro do Jornalismo Esportivo. No entanto, a depuração para mostra se o profissional está apto a exercer determinada função é feita ao longo do exercício da atividade, quando ele irá mostrar suas qualidades:
A seleção vai acabar ocorrendo de acordo com as informações que você detém, no conhecimento específico do esporte, não estou falando de ler livro, mas ter a leitura do que ocorre. E daí não importa se você jogou bola ou não; porque, senão, o Carlos Alberto Parreira não poderia ser técnico de futebol, nem campeão do mundo. Quanto mais informações, como os próprios dados de Educação Física, como o contato privilegiado com os preparadores físicos diferenciados, tudo isso soma para a carreira. Há de se incluir, ainda, as questões políticas e de relacionamento. Não deixar que a vaidade torne você uma pessoa intratável. Tudo isso auxilia na depuração do mercado.
Desta forma, seguindo a prerrogativa acima, e considerando que o profissional de Educação Física detém informações diferenciadas, faz-se necessário que ele, interessado em atuar dentro do Telejornalismo Esportivo, busque qualificar-se para tanto, através de cursos específicos, que deem a possibilidade de estar à frente dos demais. Tendo uma capacidade boa de comunicação, algo necessário dentro da própria Educação Física, unindo ao nível diferenciado de informações, tem-se a crença de que este profissional de Educação Física tem toda a possibilidade de tornar-se um grande e reconhecido comentarista esportivo televisivo.
Junto a isso, alia-se a fala do entrevistado 3:
Eu acho que o profissional de Educação Física tem totais condições de ser o principal comentarista, desde que ele englobe bons conhecimentos sobre o esporte ou que ele seja vinculado a isso, e que ele tenha acesso às pessoas importantes do esporte. É importante também que ela seja uma pessoa conhecida, porque o público quer isso. Muitos não são, mas aí precisam se sobressair para se tornarem conhecidos. Enfim, é uma situação que os contratantes devem avalizar, porque se eles não derem este crédito, aí fica complicado. Mas é importante que ele tenha não apenas o estudo. É necessário também que ele tenha o conhecimento do esporte.
Ao findar esta parte das análises e levando em consideração que as discussões aqui trazidas devam gerar um debate que traga o engrandecimento dentro das duas áreas, Educação Física e Telejornalismo Esportivo, percebe-se a necessidade de se preparar profissionais habilitados. Além disso, como já citado anteriormente, seria de grande importância que essa preparação ocorresse antes de o profissional entrar no mercado de trabalho. A criação por parte de universidades e das faculdades de uma disciplina, mesmo que de forma opcional, que contemple estas duas áreas, é algo que deve ser analisado. O ganho seria do acadêmico, que chegaria com maior preparo ao mercado de trabalho, e da instituição de ensino, que teria um diferencial a oferecer aos seus alunos. Então, parte da instituição o interesse para estabelecer esta multidisciplinaridade.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este trabalho buscou identificar e analisar a importância conhecimento técnico/teórico sobre esportes para os profissionais que atuam no telejornalismo esportivo do Rio Grande do Sul, verificar fatores de proximidade entre a Educação Física, além de trazer uma perspectiva futura de mercado para os profissionais de Educação Física como comentaristas esportivos televisivos. Levando como base estes objetivos, algumas respostas referentes ao proposto foram conquistadas ao longo do processo de pesquisa. Nessa construção, o enfoque principal foi dado a forma como os comentaristas esportivos televisivos buscam o seu conhecimento teórico/técnico em Educação Física e de que maneira isso contribui para a realização das análises e comentários ao longo das transmissões esportivas e como seria possível o profissional de Educação Física se inserir neste mercado. As manifestações apresentadas pelos colaboradores, tanto nas respostas das entrevistas mostraram que há um certo corporativismo tanto no que tange aos jornalistas, quanto no ex-atleta profissional, que mesmo não tendo formação em alguma área específica é convidado a trabalhar como comentarista esportivo pelo seu histórico de ídolo junto a grandes clubes.
Apesar de o presente trabalho tentar abranger o esporte como um todo, os colaboradores se ativeram principalmente ao futebol, já que esta é a sua área de atuação, bem como é a área com maior espaço no meio televisivo e, consequentemente, a que mais abre espaço para comentaristas esportivos. Notou-se, entre os colaboradores, que o futebol, por ser um esporte de grande apelo popular, dá aos profissionais a possibilidade de realizarem o comentário esportivo sem a necessidade de um maior aprofundamento no conhecimento teórico. Isso se dá porque os expectadores conhecem o esporte, não necessitando de uma explicação mais apurada de regras, pontuação, nomes de movimentos, entre outros aspectos. Contudo, quando o comentário esportivo se direciona para esportes diversos, por exemplo, em eventos como as Olimpíadas, observou-se entre os colaboradores que existe a necessidade de se inteirar sobre o esporte que pode vir a se destacar. Esse destaque, invariavelmente, é definido ao longo da competição, sendo dado enfoque às modalidades que apresentem reais condições de trazerem medalhas ao país. E na necessidade instantânea de se trazer informações ao público, como regras e formas de disputas, a busca das mesmas é feita junto aos profissionais de Educação Física, que atuam no treinamento da modalidade, quer seja auxiliando o comentarista ou atuando ele como comentarista da modalidade.
A partir disso, concluímos que:
a) Entre os profissionais que trabalham no telejornalismo esportivo, que colaboraram com o presente estudo, todos buscaram seus conhecimentos teóricos/técnicos em Educação Física junto aos profissionais de Educação Física, que atuam na preparação física, sendo que este conhecimento possibilita uma opinião mais apurada.
b) O futebol, por ser de grande conhecimento dos expectadores, não necessita de uma visão mais aprofundada em relação às regras e forma de disputa da modalidade, dando aos comentaristas esportivos televisivos a possibilidade de comentar o esporte de uma forma mais superficial, dando ênfase também aos bastidores do futebol, quer seja com relatos de histórias envolvendo os profissionais ou tratando o esporte de forma mais lúdica. Em compensação, outros esportes, cujo conhecimento dos comentaristas esportivos e expectadores é mais restrito, na busca por trazer uma informação mais embasada sobre determinado esporte, as emissoras de televisão normalmente procuram profissionais de Educação Física, para que estes repassem seus conhecimentos de forma que o público possa se inteirar e passar a entender as regras, formas de disputas, bem como ter um conhecimento histórico do esporte a ser comentado.
c) Profissionais que atuam no telejornalismo esportivo, com formação em Jornalismo, quando selecionados para atuar em eventos diferentes aos que envolvem o futebol, precisam de uma preparação prévia, que tem, entre outros fatores, a busca de informações junto aos profissionais de Educação Física, sendo que esta preparação necessita de até seis messes para um embasamento completo. Já ex-atletas de futebol evitam (ou nem mesmo são convidados) atuar no comentário esportivo destes tipos de eventos por não terem ligação com outro esporte, que não seja no qual ele teve atuação, ou até mesmo por não serem detentores de um conhecimento teórico/técnico suficiente para uma análise satisfatória.
d) Para que haja uma proximidade maior entre a Educação Física e o Telejornalismo Esportivo seria de grande importância que universidades e faculdades buscassem ofertar, mesmo que de forma optativa, disciplinas ou cursos que envolvessem as duas atividades, dando desta forma a oportunidade para que os futuros profissionais cheguem mais preparados ao mercado de trabalho, podendo adquirir conhecimentos multidisciplinares, e, se esta for a intenção do profissional de Educação Física, abrir um novo campo de trabalho, possibilitando a ele estender seus conhecimentos à sociedade, primando pelos valores e benefícios da prática da Educação Física, realizando um trabalho de integração com outras áreas.
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