Revista: CCCSS Contribuciones a las Ciencias Sociales
ISSN: 1988-7833


TRABALHADORES(AS) DO OURO NA AMAZÔNIA
Condições de vida e de trabalho de garimpeiros(as) na Amazônia Setentrional

Autores e infomación del artículo

Adriana Gomes Santos

Fagno da Silva Soares

Universidade Federal de Uberlândia, Brasil

adriana_gmsantos@yahoo.com.br

RESUMO: O artigo analisa certos aspectos das condições de vida e de trabalho dos trabalhadores e trabalhadoras da garimpagem na Amazônia, especificamente em Roraima. Buscamos ainda perceber o aparecimento desse sujeito histórico coletivo, organizado, descentralizado, acompanhando as mobilizações desse movimento social nos meandros dos conflitos com os diversos grupos sociais, como os indígenas, políticos locais e fazendeiros. E que, por sua vez, carregam as suas experiências cotidianas vividas no âmbito da dominação capitalista. Propondo assim, que esta temática seja aprofundada em estudos futuros.
PALAVRAS-CHAVE: trabalhadores(as), conflitos, experiências
ABSTRACT: The article analyzes some aspects of living conditions and for workers of mining and working in the Amazon, specifically in Roraima. We seek to further understand the emergence of this collective historical subject, organized, decentralized, following the mobilization of this social movement in the intricacies of conflicts among the various social groups, such as indigenous, local politicians and farmers. And that, in turn, carry their daily experiences within the capitalist domination. Proposing therefore that this issue be consolidated in future studies.

KEYWORDS: workers (as), conflicts, experiences.



Para citar este artículo puede uitlizar el siguiente formato:

Adriana Gomes Santos y Fagno da Silva Soares (2016): “Trabalhadores(as) do ouro na Amazônia”, Revista Contribuciones a las Ciencias Sociales, (enero-marzo 2016). En línea: http://www.eumed.net/rev/cccss/2016/01/oro.html

http://hdl.handle.net/20.500.11763/CCCSS-2016-01-oro


INTRODUÇÃO

Por um longo período a mineração em Roraima tomou o palco dos conflitos entre diversos grupos sociais, dentre eles, políticos locais e nacionais, indígenas, fazendeiros, Igreja católica e as ONGs. Esses conflitos foram acirrados com o aparecimento de um grupo social com interesse na garimpagem nas áreas habitadas ou contestadas pelos povos indígenas. Esse grupo social, formado por milhares de homens e mulheres, mobilizou-se de diversas formas para realizarem a produção mineral nas áreas de garimpagem.
A extração mineral, que demandou tamanha mão-de-obra, foi realizada nos baixões e nos rios no meio da selva amazônica, sem estrutura alguma para atender esses milhares de trabalhadores e trabalhadoras, onde estavam expostos as contaminações e acidentes e sem possuir nenhum tipo de assistência médica.
Portanto, é buscando conhecer a cotidianidade desses trabalhadores e trabalhadores que embrenharam-se nos rincões amazônico, saber como ocorre esse processo e como se consolidam as resistências, os seus protagonistas, as forças e projetos que estiveram em jogo, o papel da mídia impressa. Sobretudo, porque ela representa um papel importante na preservação da memória das discussões políticas sobre a garimpagem no Estado de Roraima.
No final da década de 1970, com a descoberta do garimpo de Serra Pelada no Pará, dá-se início ao “segundo ciclo do ouro amazônico e brasileiro”, como Pinto (1993) caracteriza esse momento, e proporcionou aquilo que conhecemos por corrida do ouro. Nesse mesmo período, vários outros garimpos na Amazônia foram re-descobertos e a Amazônia torna-se o foco das migrações de trabalhadores e trabalhadoras para essas áreas auríferas e, por sua vez, essas migrações não foram desprovidas de interesses econômicos e políticos do governo brasileiro.
A abertura à exploração mineral da Amazônia, na opinião de Oliveira (1991), faz parte de um projeto de integração nacional político-econômica da Região amazônica. E ainda proporcionava uma solução rápida aos problemas do nordeste, onde a população carente estava envolvida numa política de beneficiamento dos latifundiários, além de algumas áreas encontrarem-se atingidas pelas secas.
Esses dois pontos, o da integração amazônica e os problemas que assolavam a população nordestina, foram importantes para o direcionamento da migração nordestina para a região amazônica que se configurava, segundo o discurso governamental, como o “vazio demográfico”. Foi essa população carente de terras e recursos financeiros que possibilitou o contingente da mão-de-obra utilizada para a exploração mineral na região amazônica.
Mas, o que impulsionava esses milhares de trabalhadores e trabalhadoras, a uma região tão “vazia”, era algo que lhes saltava aos olhos, a subida do preço do ouro no mercado internacional. Foi, sobretudo, à valorização desse mineral que significou uma expectativa desses trabalhadores e trabalhadoras para uma “melhora de vida”, como disse um garimpeiro. Sem essa impulsão do mercado mundial seria impossível tamanho empreendimento dessa população que, na maioria das vezes, deixava sua família para embrenhar-se em tamanha aventura em lugares hostis, sem estrutura alguma, em meio à selva amazônica.
Além da valorização do mineral ainda coexiste, para impulsão da exploração dos minerais, o interesse de grupos políticos que fomentaram a migração para as áreas. Entendemos que sem esses dois fatores não seria possível a estimulação de tamanha mão-de-obra para a extração mineral.

A IMPRENSA E SUAS DISTOPIAS: As visões da mídia sobre os trabalhadores e trabalhadoras dos garimpos

O grande fluxo migratório para as regiões de garimpagem ocasionaram grandes conflitos, especialmente com a população indígena, gerando diversas mortes entre garimpeiros e indígenas. Podemos acompanhar alguns desses conflitos nos jornais produzidos em Roraima, mas antes de adentrarmos na discussão necessitamos compreender a própria produção desse jornal, os grupos que os produzem e seus interesses, a fim de compreender as próprias as fontes a qual estamos lidando.
O principal periódico a ser analisado, por ter maior regularidade nas publicações, é o Jornal Folha de Boa Vista, presidido por Getúlio Cruz, que já exerceu os cargos de ex-secretário de Planejamento do Território, presidente do extinto Banco de Roraima, ex- governador do Território de 1985 a 1987. Dessa forma, podemos localizar a visão produzida por esse jornal, ao longo dos anos, com relação aos trabalhadores dos garimpos em Roraima.
E também em determinados períodos a defesa da mineração possibilitada pelas grandes mineradoras. Como em uma matéria sobre uma comissão da câmara de deputados que esteve em Boa Vista para tratar de dois projetos do deputado Mozarildo Cavalcanti sobre a extração mineral no surucucus, reserva Yanomammi, onde o deputado João Fagundes faz declarações da não participação dos indígenas nesta visita, mesmo sendo convidados, e do grande potencial minerador de Roraima.
Dessa forma, entendemos que a análise dos jornais, como quaisquer outras fontes, devem ser realizados de forma mais ampla a fim de compreender o contexto e processo político que os engendram. Esses jornais nos garantem, apesar das limitações anteriormente explicitadas, fazer o mapeamento dos conflitos, dificuldades, interesses dos trabalhadores e trabalhadoras dos garimpos com intenção de compreender sua complexa atuação nas áreas de garimpagem.

DA ORGANIZAÇÃO AOS CONFLITOS: a luta dos trabalhadores(as) do garimpo

A mineração é realizada, em pequena escala, desde o inicio do século XX em Roraima, mas é no final dos anos 70, com a invasão por um grupo grande de trabalhadores, na região de Santa Rosa, localizado no território Yanomami, acarretando o início de uma grande migração para essas áreas de garimpagem.
Esse período caracteriza-se pelo interesse primordial na extração do ouro, pela introdução das balsas e das dragas no leito dos rios e, principalmente, pelas mudanças nos aspectos sociais. O interesse quase exclusivo pela extração do ouro dessa fase deve-se à valorização desse mineral no mercado internacional, como dito anteriormente. Por sua vez, instituiu-se um processo acelerado de mecanização como reflexo da necessidade de aumentar a produção mineral .
Rodrigues (1996) enfatiza características importantes nas mudanças sociais ocorridas nesta fase que se distinguem pela intensidade do grande fluxo populacional envolvido na corrida do ouro. Essa fase consolidou a maior extração mineral de ouro no Estado, os dados oficiais contabilizaram mais de 15 toneladas de ouro, embora se constate que a maior parte dessa produção não é contabilizada, principalmente, pela impossibilidade de fiscalização do ouro que é produzido nessas áreas.
Numa declaração do presidente da Associação dos Garimpeiros, José Teixeira Peixoto, conhecido como Baixinho, a um jornal local, relata que:
Atualmente a Associação de garimpeiros tem 2 mil garimpeiros registrado, um número considerado pequeno haja visto a estimativa de garimpeiros existentes hoje no território. ‘Baixinho’, que esteve no garimpo a semana passada, faz uma pequena previsão bastante otimista de 30 mil homens espalhados nos garimpos. 1
Dessa forma, as áreas de garimpagem receberam uma intensa migração, na qual homens e mulheres em condições precárias de trabalho extraiam os minerais, convivendo com as doenças tropicais e sem assistência médica, morando em barracões ou acampamentos e trabalhando em barrancos nos baixões prestes a desabar e mergulhando com equipamentos insuficientes. Sobre esses riscos o jornal traz como notícia:
Uma tragédia envolvendo trinta garimpeiros que encontraram a morte na tarde de segunda-feira, ao serem soterrados por uma barreira, traz outra vez a tona uma antiga questão – a falta de segurança nos garimpos locais.2

Além da adversidade de enfrentamentos dos trabalhadores e trabalhadoras devido a localização, distante das cidades, das áreas de garimpagem. Ainda podemos destacar os enfrentamentos devido as proibições quanto ao adentramento de combustível, alimentos, uma tentativa de controle, na entrada de trabalhadores e trabalhadoras, por parte da administração pública através da Secretaria de Segurança do Estado de Roraima, para as áreas de garimpagem. Sobre este aspecto o entrevistado Manoel apresenta as dificuldades:

aí faltou óleo, faltou comida, aí foi obrigado todo mundo saí fora de lá se não nós ia era morrer de fome. Nessa época que faltou comida nos garimpos, aí foi a época que mais todo mundo tomou muito prejuízo. 3

Isso ocorre, devido às novas medidas do Governo Federal em fechar as áreas à garimpagem aos trabalhadores, principalmente, devido aos conflitos de terras por se tratar de áreas reconhecidas como propriedade tradicionalmente ocupadas pelos povos indígenas. Todo esse período é marcado pelas constantes ameaças ou invasão dos trabalhadores e trabalhadoras a essas áreas contestadas pelos indígenas, seguidas de tentativas de controle, violência, expulsão dos mesmos.
Em fevereiro de 1985, um movimento, denominado Operação Surucucu, formado por um grupo de mais de 400 trabalhadores invadem a área indígena Yanomami, por sua vez, foram apoiados por fazendeiros e políticos da região e, a intenção era de forçar a autorização da garimpagem na área. Nas palavras de José Altino, um dos líderes do movimento, declara na junta comercial do Território, publicado no jornal, “podem matar ou tombar os aviões todos, mas eu vou arrombar o Surucucus”. 4
Dentro desse contexto, de dificuldades sobre as áreas de garimpagem, utiliza-se a força de grupos de trabalhadores para forçar a liberação dessas áreas, como vimos acima. Dessa forma, esses trabalhadores do garimpo vêem como saída para a luta contra esses impedimentos, não só o trabalho clandestino, mas formas organizadas de se manifestar através de vários subterfúgios, passeatas, carreatas, concentrações no centro da cidade, festas solenes para, e com, as autoridades locais, presença em eventos e veículos de comunicação, na qual levaram a discussão a negociação das áreas e a abertura dos garimpos para o trabalho de extração mineral pelos trabalhadores.
Nesse aspecto de luta através da organização coletiva, podemos ainda destacar a importância do Sindicato dos Garimpeiros de Roraima e a União dos Sindicatos dos Garimpeiros da Amazônia Legal, mesmo compreendendo que a adesão dos trabalhadores e trabalhadores era proporcionalmente desfavorável, esse instrumento foi capaz de engendrar lutas a favor da categoria. E as mais relevantes, além da luta para a liberação das áreas a garimpagem, foi a de reconhecimento da profissão pelo Ministério do Trabalho e a até mesmo uma oposição a instalação das grandes empresas mineradoras.
Devemos destacar que há uma diversidade de grupos e interesses sobre as áreas de mineração para a exploração, como os comerciantes, fazendeiros e inclusive grupos no governo local representado pelo, na época, Governador Romero Jucá. Enquanto o Governo Federal mantinha as ações com o objetivo de expulsar esses trabalhadores e trabalhadoras das áreas de garimpagem, devido aos conflitos com os indígenas e as pressões de organismos internacionais. Havia ainda grupos dentro do governo a fim de abrir para a instalação da grande indústria mineral, como o “Projeto Meridiano 62” do Romero Jucá, este projeto foi aprovado pelo Ministério das Minas e Energia e abria para exploração por grandes empresas para atender ao mercado externo. Fica evidente que o Governo do Estado estava interessado na exploração mineral pela grande mineração e não pela pequena mineração, realizada por grupos de trabalhadores.
O nosso interesse não é somente examinar a organização dos trabalhadores e trabalhadoras dos garimpos, haja vista os interesses divergentes dentro desses sindicatos ou associações devido a direção estar nas mãos, na maioria das vezes, dos pequenos proprietários dos maquinários e não dos trabalhadores dos garimpos. Por isso, seguimos os passos de Fenelon quando da experiência:

se estamos falando de examinar a experiência social dos trabalhadores em todos os seus ângulos de existência e de vida, para além de apenas examinar seu movimento e organizações ou associações políticas, isto significa querer examinar todo seu modo de vida no campo das transformações e mudanças que, cotidianamente, experimentam os trabalhadores em todos os aspectos do viver a democracia burguesa e capitalista. Não apenas as condições e padrões da existência material na moradia, na fabrica, no lazer, na alimentação, na religiosidade, etc. Mas também no campo dos sentimentos e dos valores, para perceber a intensidade com que muitos destas noções e valores são apropriados no dia-a-dia da dominação, a resistência oferecida neste processo e a necessidade de reconstruir e reivindicar a cultura a partir dos sentimentos de perda de padrões antes estabelecidos. (FENELON, 1992,p.08) 

Dessa forma, acreditamos que as narrativas dos trabalhadores e trabalhadoras nos possibilitam entender como se percebem dentro do processo de lutas, resistências e acordos com os diferentes grupos nas áreas de garimpagem, além disso, perceber como lidam cotidianamente com as adversidades e sentimentos em que estão permeados.
Esse tempo nas áreas de garimpagem se dá, na maioria dos casos, longe da família e dos amigos e o único contato com o mundo externo é o rádio, que é utilizado, não só para receber informações, mas para se comunicar com amigos e familiares no dia de folga que muitas vezes, quando ocorre, é aos domingos à tarde. Ao tratar desse aspecto, de ambiente com características bem parecidas, no ramo da construção civil, Ribeiro ressalta que:
A família é uma instituição ambivalente. É tanta fonte de prazer quanto de conflito e punição. Porém, a comparação com a situação de alojamentos coletivos masculinos submetidos à regras que retiram dos indivíduos sua capacidade de serem sujeitos de larga parcela do cotidiano extra-atividade produtiva, leva a destacar a dimensão de afetividade que permeia as relações de parentesco, bem como a família como centro das atividades de lazer. Assim, não pode contar com este idealizado e lar feliz, além de roubar dos indivíduos uma considerável parcela de suas relações cotidianas, acaba por subordiná-los quase completamente aos interesses e controles da esfera da produção (RIBEIRO, 2008: p.104).

É comum, no caso desses trabalhadores e trabalhadoras do garimpo lamentarem o tempo que ficaram ou ficam distante dos filhos, filhas, companheiro, companheira, pai, mãe, familiares em geral e amigos. Uma das entrevistadas, Sonjila que trabalhou nos garimpos na Amazônia, desde 1982, quando se referiu aos filhos, disse “estão tudo espalhado pelo mundo”, lamentando o pouco contato com seus dez filhos. Mas, o grande problema aqui encontrado é que morando dentro do garimpo e sem a família o trabalhador e a trabalhadora fica quase que totalmente a disposição da produção mineral intensificando a exploração das suas forças.
Nas regiões de garimpagem geralmente existe uma área de pequeno comércio, conhecida como currutela, que oferece desde a venda alimentos, material de limpeza, armas, bebidas alcoólicas, drogas (maconha, cocaína etc), casas de prostituição de mulheres e casas de câmbio de compra e venda de ouro, diamante e outras “pedras preciosas”. É nesses locais que nos dias de folga os trabalhadores, em sua grande maioria, se direcionam, pois fica pouco distante, em relação à cidade mais próxima, da área onde trabalham. Ainda nos revela a entrevistada Sonjila sobre a Currutela:
Tinha o final de semana nós cozinheira temos direito de ir para a currutela, agente chama currutela, a currutela é um lugar onde é cheio de barraco, onde vende bebida, vende arma, vende um bocado de coisa, onde se encontra todo os garimpeiros no final de semana. Vão lá para beber umas, gastar, arrumar uns paqueras por lá, porque vida de garimpeiro é essa é trabalhar e se divertir, gastar o ouro com quem está precisando e esperando (sorrisos).5

Diante desse contexto, os trabalhadores e trabalhadoras das áreas de garimpagem enfrentam uma situação extraordinária de vida e de trabalho, onde seu cotidiano esta exposta a intensidade da atividade produtiva, na qual homens e mulheres, sem família, trabalham ao extremo, quase sem opção de lazer, clientes de uma zona de prostituição e drogas. Esses trabalhadores e trabalhadoras recebem pagamentos relativamente maiores em relação as suas atividades anteriores, mas em contraposição se submetem a um sistema de exploração intenso.
Dada as circunstância, enfrentando tantas dificuldades com relação a realização da atividade produtiva mineral, mesmo o trabalhador sendo fundamental nessa produção, isso não garante uma melhoria, substancial, nas condições de vida, ao contrário, o trabalho é realizado em condições precárias, subordinados ao intenso ritmo da produção mineral, sem o amparo da família, não tendo, quase nenhuma, fonte de lazer extra-produção. Quando sai das áreas de garimpagem, ou até mesmo dentro das áreas, na maioria dos casos, gastam o que receberam durante o tempo que trabalharam e, muitos, vêem-se no dilema de voltar aos garimpos.
E quem pode nos dizer com mais clareza sobre esse aspecto é o próprio trabalhador, o entrevistado Manoel, que trabalha nos garimpos da Amazônia (dentre os países Brasil, Suriname, Guiana Francesa, República da Guiana) a mais de 40 anos:
Quem trabaia de garimpo... é noventa e nove por cento, é as pessoa que não tem estudo, muito pouco... tem vez que ta na cidade e ele não pode fazer um concurso pra poder passar em nada, aí vai pro garimpo, a área de garimpo é a área dessas pessoa que num passou, não tem como estudar mais entom, não tem como pegar um emprego bom na cidade tem que ir pra o garimpo, alguém que tem um bom estudo ele fica na cidade e quem não tem vai pra o garimpo.

Portanto, o nosso foco é o de compreender a apreensão dos sujeitos na inserção da atividade de produção mineral, como também, a partir da conjuntura em que esta inserida a atividade de garimpagem em Roraima, que, sobretudo, é um reflexo dos avanços do capitalismo. Então,

nossa busca é de obter deles próprios, de seu comportamento e reações, de seu modo de vida, de reclamos e expectativas, como imprimem marcas na vida e nas relações sociais, como refazem tradições e costumes, compartilhando experiências várias e vivendo novas situações impostas pelo capitalismo em seu estágio atual de desenvolvimento (KHOURY, 2006.p.30).

Para que esta metodologia de análise, baseada na concepção teórica do materialismo histórico e dialético, possa funcionar articulando todos os elementos da sociedade e desse grupo que estudamos teremos sempre o cuidado de trabalhar o processo, as partes e todo. Dessa forma:
Buscamos compreender como sujeitos específicos significam e interpretam a vida e a eles próprios, nos modos de projetar, trabalhar, morar, se relacionar, se comunicar, festejar, comemorar, apreender como se apropriam de e reelaboram valores, sentimentos, interesses, costumes, tradições, memórias e expectativas; apreender como hegemonias se engendram e carências e necessidades se constituem no embate das forças sociais. Nesse sentido, estamos dizendo que processos sociais criam significações e que essas se instituem em memórias; por isso procuramos explorar os processos sociais de constituição da história e da memória e suas mútuas relações e como essas alimentam e realimentam poderes, dominações, sujeições e resistência .(KHOURY, 2001. p. 24.).

Assim, para essa compreensão do fato histórico deste trabalho não podemos descuidar desta relação ampla em que se constroem os processos históricos. Por isso, para construirmos uma análise e narrativa partimos de um ponto específico, que envolve a vida dos trabalhadores e trabalhadoras do garimpo com todos os seus interesses e visão de mundo, sobre como se desenrola a vida dentro da perspectiva de um trabalho, exercido muitas vezes na clandestinidade, na qual a principal luta, além de ficar rico, é o reconhecimento da profissão e a disponibilidade e liberação de áreas para exercê-la.
 Portanto, tentamos entender também a conjuntura em que são engendrados esses movimentos, ocorridos durante a formação de um Estado permeado pela intensidade de interesses políticos, econômicos, étnico-culturais e que dentro desse contexto, de conflitos, se inserem esses trabalhadores e trabalhadoras do garimpo.
Contudo, o interesse em usar como fonte a oralidade vem com uma certa preocupação metodológica própria dessa corrente da História Oral. Por isso, utilizaremos a História Oral concebida enquanto uma fonte a ser contrastada com outras fontes, como nos orienta Portelli (PORTELLI, 1996, pp, 53-72), e Khoury (2001). Por isso, utilizamos os jornais, documentos e outras fontes para juntar a nossa pesquisa, que neste momento ainda consideramos preliminar.

REFERÊNCIAS

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2 Trinta garimpeiros morrem soterrados. Folha de Boa Vista. Boa Vista. 27 abril., 1989. p.04.

3 Entrevista com Manoel Reis Santos, garimpeiro, na cidade de Boa Vista- RR,18 jul, 2010.

4 Altino desafia a Lei e diz que vai invadir Surucucus. Folha de Boa Vista. Boa Vista, p.01/05, 19 mar, 1985.

5 Entrevista concedida a Adriana G.Santos por Sonjila, realizada no dia 26 de agosto de 2008, na Penitenciária Feminina de Monte Cristo-RR.


Recibido: 29/01/2016 Aceptado: 31/03/2016 Publicado: Marzo de 2016

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