Fagno da Silva Soares
Júlio César Suzuki
FFLCH/USP
fagno@ifma.edu.brResumo: Este estudo pretende contribuir na ampliação das reflexões, acerca da história do tempo presente e sua relação com a história oral e memória. Neste contexto, realizamos um debate historiográfico, de modo a cotejar os conceitos entre história e memória. Contudo, tomamos para pensar a história do tempo presente, interseccionada por uma dupla articulação dos conceitos filigranados entre historiar a memória e memoriar a história. Propondo assim, forjar um instrumental teórico de reflexão e aprofundamento a estudos futuros.
Palavras-chave: História, Tempo Presente, Memória.
Abstract: This paper aims to contribute to the expansion of reflections about the history of this time and its relation to oral history and memory. In this context, we conducted a historiographical debate in order to collate the concepts of history and memory. However, we think the story to the present time, intersected by a double articulation of filigreed concepts of historicizing memory and memoriar history. Proposing thus forge a theoretical instrument of reflection and deepening future studies.
Keywords: History. Present Time. Memory.
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Fagno da Silva Soares y Júlio César Suzuki (2015): “Decifre-me ou lanço-te no limbo da história do tempo presente. Reflexões historiográficas para além das relações entre história oral e memória”, Revista Contribuciones a las Ciencias Sociales, n. 29 (julio-septiembre 2015). En línea: http://www.eumed.net/rev/cccss/2015/03/tempo-presente.html
1 INTRODUÇÃO
Esta, certamente não é um pergunta simples de ser respondida e, por essa mesma razão, faz-se mister perscrutar os caminhos e descaminhos da história na tentativa de respondê-la ainda que, não satisfatoriamente. São muitos os que assim como o garoto Henri, filho do historiador Marc Bloch que questiona o pai sobre a importância de se estudar a história na introdução da obra inacabada em 1943, de Bloch permanecem sem resposta. A despeito disto, o teatrólogo Bertolt Brecht sublinha que todos fazemos a história, para além dos heróis conhecidos, os anônimos, sem os quais a história deixaria de ser história.1 A busca por possíveis respostas norteou esta nada sucinta, porém, loquaz reflexão preambular acerca das relações entre história oral, memória e ensino de história, promovendo reflexões historiográficas a partir da análise bibliográfica dos conceitos de história oral e memória perpassados pelo tempo presente.
Ainda nestes termos, o historiador Peter Burke para quem a função da história seria de ordenar informações sobre o passado (Burke, 1992) ou como nos propõe Eric Hobsbawm que o historiador deve sempre lembrar o que a sociedade insiste em esquecer, (Hobsbawn, 1995, p. 13) não basta ao historiador registrar apenas o passado, mas refleti-lo, problematizadoramente caucado no presente.
Destarte, o historiador do século XXI está singrando o “oceano da historiografia que se acha povoado por inúmeras ilhas com sua flora e fauna particular”, (Barros, 2004, p. 08) tendo vez por vez, de ancorar em diversos portos, formando um verdadadeiro
[...] caleidoscópio de sub-especialidades [...] perpassando um todo cada vez mais compartimentado deste campo do saber [...] o historiador de hoje é um historiador da cultura, um historiador econômico [...] micro-historiadores [...] fragmentação de especialidades. (Barros, 2004, p. 08)
No novo século, a hiper-especialização e as interconexões dos saberes são oriundos da crescente complexificação do conhecimento humano que fazem do conhecimento histórico um caleidoscópio com infinitas possibilidades de estudo. Ainda segundo o autor “a história, neste início de milênio, divide-se em inúmeras modalidades que fazem do ofício dos historiadores contemporâneos um universo vasto e complexo” (Barros, 2004, p. 08). Destarte, não existem fatos exclusivamente políticos, econômicos, religiosos, sociais ou culturais em um mesmo campo historiográfico, todas possuem interfaces e enfoques para o desnudamento da sociedade em um tom quase babélico de possibilidades.
Nós historiadores somos tomados por um certo encantamento de fontes, se por um lado é um manancial de possibilidades de pesquisa, por outro, pode ser o nosso calcanhar de aquiles.2 Pois, o risco de afogar-se nelas pode ser maior do que o da ‘euforia da ignorância’ 3 de que trata Carlo Ginzburg. Afinal, o que fazer com as fontes que já dispomos? Não menos despicientes são os aportes metodológicos e teóricos utilizados em uma pesquisa, que constituem necessariamente, em como fazer? E com quem dialogar?
Para Ginzburg o historiador é como um “[...] médico que utiliza os quadros nosográficos para analisar o mal específico de cada doente. E, como o do médico, o conhecimento histórico é indireto, indiciário, conjectural” (Ginzburg, 2009, p. 157). Para nós, o conhecimento histórico também o é, necessitando “[...] examinar os pormenores mais negligenciáveis [...] os lóbulos das orelhas, as unhas, as formas dos dedos das mãos e dos pés” (Ginzburg, 2009, p. 144), para melhor conhecer as realidades existentes, por vezes, nos parece oblíqua.
O desafio do professor de história do século XXI é articular a produção historiográfica aos saberes históricos no espaço escolar, bem como, a incorporação de diferentes linguagens e narrativas históricas em sua práxis pedagógica, fazendo o uso adequado das tecnologias de informação e comunicação aplicadas ao ensino da história solapando os eixos tradicionais da história linear francesa quadripartite, por uma história temática, interdisciplinar, problematizadora atenta às transformações do novo século, a partir das relações de identidade-diferença, continuidade-ruptura em diferentes contextos sócio-culturais. Eis, o grande desafio do ofício do professor historiador (Soares, 2011, p. 09).
Trazemos aqui, uma história do tempo presente à revelia dos que pensam equivocadamente que história é coisa apenas do passado, rompendo com visões maniqueístas e evitando comenter anacronismos. Neste contexto, cabe ao professor de história situar o aluno enquando sujeito histórico, agente transformador e crítico sa sua realidade para o pleno direito da cidadania ensinando-o a aprender para conhecer, fazer, ser e conviver por uma história atenta a temáticas para além da história política ou econômica. Uma história cultural? História do tempo presente? História oral?
Sabe-se que o uso do testemunho oral é tão antigo quanto à história de Heródoto, mas foi a partir da Segunda Guerra Mundial que a história oral se desenvolveu, tendo como lócus fundador a Universidade de Columbia, Nova York, a primeira a formalizar um projeto de história oral, enquanto metodologia acadêmica. Sobre a sua gênese, o pesquisador José Carlos Sebe Bom Meihy assevera que “ela combinou três funções complementares: registrar relatos, divulgar experiências relevantes e estabelecer vínculos com o imediato urbano, promovendo assim um incentivo à história local e imediata”. (2005, p.22) Deste modo, a história oral nasce na academia com indeléveis dileções com a micro-história, assim como a história do tempo presente (Caldas, 1999, p. 110) com a função quase que salvacionista das memórias dos ex-combatentes da Segunda Guerra Mundial. Assim, os elementos motivadores para sua gênese que foram à necessidade do registro das experiências dos sobreviventes deste fatídico momento da história, através dos relatos orais somados ao uso do gravador analógico.
Para tanto, este será o mote sobre o qual se fará inferências ao logo do artigo que se segue, acerca da intrínseca relação entre história oral e memória, não como complementares ou opostas, mas forjadoras de uma história do tempo presente que solape as barreiras dos documentos operados numa perspectiva positivista.
2 HISTORIAR MEMÓRIA E MEMORIAR HISTÓRIA
Já tradição oral como fonte histórica perdeu força, (Vansina, 1968), sobretudo, com o discurso positivista do século XIX e abordagem rankiana que vigoraram durante muito tempo, que só o documento escrito tem validade histórica. Superados os percalços erigiu-se como metodologia entre antropólogos, sociólogos e mais recentemente, entre os historiadores.
Neste ensejo, compreendemos que ninguém melhor do que a Associação Brasileira de História Oral para nos informar acerca das origens da moderna história oral, destacando que a
[...] gravação de entrevistas com testemunhas da história teve início na década de 1950, após a invenção do gravador à fita, na Europa, nos EUA e no México. A partir dos anos 1970, as técnicas da história oral difundiram-se bastante e ampliou-se o intercâmbio entre os que a praticavam. Foram criados programas de história oral em diversos países e editados livros e revistas especializados na matéria. Os anos 1990 assistiram à consolidação da história oral no meio acadêmico e à criação, além da ABHO, em 1994, da International Oral History Association [IOHA], em 1996. 4
Para além do que afirma Verena que “o trabalho com a história oral consiste na gravação de entrevistas de caráter histórico e documental com atores e/ou testemunhas de acontecimentos, conjunturas, movimentos instituições e modos de vida da história contemporânea”, (Alberti, 2004, p. 77) que de outro modo, não seria possível. Assim sendo, a história oral “[...] permite o resgistro de testemunhos e o acesso a histórias dentro da história”, (Alberti, 2005, p. 155) atestando sua riqueza e alcance metodológico, ao que parece está em franco crescimento.
Sabemos, pois, que atualmente a história oral atingiu status quo e consagração entre os historiadores que dedicam suas análises ao tempo presente. A gênese da história oral nas terras tupiniquins data dos anos 70, mas só em meados da década de 90 alargou-se sua utilização enquanto metodologia de pesquisa, onde cada depoente é em certa medida um legítimo guardião de memórias capaz de torná-las coletivas as suas memórias individuais. Como são os griots, antigos contadores de histórias nas comunidades africanas.
Podemos exemplificar a bem sucedida experiência do Programa de História Oral do Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil/Fundação Getúlio Vargas CPDOC/FGV criado nos anos 70, inspirado na proposta da Oral History Program da Columbia University de 1948. Arregimentados esforços de estudiosos e pesquisadores das ciências humanas e sociais de diversas partes do Brasil, especialmente do sudeste, puderam criar em 1994 a Associação Brasileira de História Oral - ABHO que realiza sazonalmente encontros regionais e nacionais a cada dois anos. Atualmente, constitui em um fórum aglutinador de debates e experiências em história oral realizadas em academias, instituições privadas e comunitárias em todo país.
Concomitantemente a criação da ABHO cresceu exponencialmente o número de programas, pesquisas e publicações que se utilizam da metodologia da história oral, bem como o considerável aumento de participantes nos eventos realizados pelas instituições. São provas cabais da credibilidade que esta metodologia tem auferido junto a profissionais de diversas áreas ao longo dos anos. Destacamos ainda que, apesar do apreço que temos à história oral, assim como outros estudiosos, reconhecemos que a sua denominação é um tanto equivocada, visto que, em vez de relacionar às fontes, adjetiva a história; (Ferreira & Amado, 2006, p. xii) por outro lado, foi com os historiadores que ele constituiu uma rede de profissionais, que imbuídos do devir historiográfico, perfazem um todo cada vez mais elaborado de sua metodologia.
De acordo com a literatura estudada, podemos elencar algumas proposições sobre a história oral enquanto metodologia e sua subjetividade que “apesar de seu uso crescer a cada dia, ainda existem muitos preconceitos e árduas críticas contra esse método: o entrevistado pode ter uma falha de memória, pode criar uma trajetória artificial, se auto-celebrar, fantasiar e mentir”.5 Embora consagrada, os praticantes da história oral costumeiramente são convocados a ratificar seus aspectos metodológicos relacionados à memória. Quanto a esta relação, os historiadores, assinalaram uma constatação na confraria da ABHO, sublinhando que, “[...] mas isso faz da história oral uma fonte não fidedigna para o pesquisador?”(Idem) Deste modo, o “[...] o principal alvo dessas críticas era a memória não ser confiável como fonte histórica, porque era distorcida pela deterioração física e pela nostalgia” (Thomson; Frisch; Hamilton. 2006, p. 66) do entrevistado que possa fazê-lo idealizar o passado. Porém, essa ‘não confiabilidade da memória’ pode ser encarada como um recurso e não como um problema. Destarte a história oral e o estudo da memória tem demonstrado força teórica na superação destas e de outras críticas.
É de domínio do historiador oral a importância dos ‘apoios de memória’, como fotos, objetos e outras coisas que podem ajudar na reconstituição do passado e que os lapsos de memória são menos preocupantes que as omissões da história ‘oficial’. Outro aspecto bem marcante da oralidade é a sobrecarga de subjetividade que, em tese, deve ser considerada uma potencialidade, pois somos sujeitos e objetos no âmbito da pesquisa. Tal como Durval para quem “[...] se o sujeito produz o objeto, este também define o sujeito” (Alburquerque, 2007, p. 32) defendemos que na história oral somos sujeitos ao questionar, problematizar objetos, ao ouvir, registrar e ser observado, questionado e interpretado pelo outro. Deve-se, portanto, examiná-la praticando-a criticamente para acesso à história pelo avesso. Desta forma, Mercedes Vilanova aconselha que revisitemos com muitas audições
las fuentes orales debemos escucharlas en estéreo como la música, con registros diferentes para cada oído. Por un lado escuchamos lo que nos dicen y por otro oímos lo que no nos dicen porque no lo quieren compartir, porque no lo saben decir, o porque no lo sabemos preguntar. (Vilanova, 1998, p. 36)
Visto nestes termos, reverberamos a assertiva de uma das maiores autoridades no assunto, Paul Thompson aponta que as fontes orais não devem ser utilizadas como tapa-burracos ou mero complemento aos documentos escritos, lançando o questionamento,
Quão fidedigna é a evidência da história oral? [...] A pergunta propõe uma falsa escolha. Se as fontes orais podem de fato transmitir informação ‘fidedigna’, tratá-las simplesmente ‘como um documento a mais’ é ignorar o valor extraordinário que possuem como testemunho subjetivo, falado. (Thompson, 1992, p. 138)
Assim, na perspectiva de Paul Thompson a utilização das fontes orais enriquece sobremaneira a história, visto que tomam como objeto de estudo as narrativas orais dos sujeitos históricos que além de testemunharem a história, viveram-na. Existem, entretanto, pesquisadores que ainda acreditam que os documentos escritos são “mais confiáveis” do que as fontes orais. Vale ressaltar que, corriqueiramente, tais documentos não passam de transmissões de relatos orais escritos por homens, sendo, desse modo, susceptível às mesmas ‘falhas’. Seria pretensioso de nossa parte, pensarmos o documento como verdade e a história seu estatuto. Destarte, segundo o historiógrafo inglês Edward Carr, nenhum documento histórico é de “[...] nos dizer mais do que aquilo que o autor pensava, o que ele pensava que havia acontecido queria que os outros pensassem que ele pensava, ou mesmo apenas o que ele próprio pensava pensar. Nada disso significa alguma coisa, até que o historiador trabalhe sobre esse material e decifre-o”. (Hughes, 2002).
Embora muitos estudiosos afirmem que as fontes orais são tendenciosas, colocando-nas em xeque, defendemos que toda fonte carrega em si uma carga de parcialidade. Mesmo os documentos tidos como oficiais pelos positivistas trazem consigo a intencionalidade de seus produtores. Logo, podemos presumir que os documentos escritos legam marcas dos que o produzem e têm os mesmos problemas que as fontes orais, podendo estas serem tão fidedignas quanto qualquer documento escrito. Ainda nestes termos, fazemos uso da reflexão do sociólogo austríaco Michael Pollak para quem a memória é
é socialmente construída, é óbvio que toda documentação também o é [...] não há diferença fundamental entre fonte escrita e fonte oral [...] A crítica da fonte, tal como todo historiador aprende a fazer, deve [...] ser aplicada a fontes de tudo quanto é tipo. Desse ponto de vista, a fonte oral é exatamente comparável à fonte escrita. Nem a fonte escrita pode ser tomada tal e qual ela se apresenta [...] apesar de terem uma forma sui generis. (Pollak, 1992, p. 207-208).
De qualquer modo, todo documento é passível de críticas. Parafraseando obtusamente o historiador Durval Muniz (2007, p. 232), os textos escritos chegam até nós, como rins sem néfrons, corpos sem órgãos, falas sem sentimentos, dores sem gritos e voz sem emoções. Logo, um documento nada mais é do que a ponta de um imenso iceberg, onde o mais importante está na parte submersa, por isso somos forçados a mergulhar por entre grutas e blocos de gelo flutuantes que se desprendem do iceberg para entendermos as origens e o contexto do fabrico de um documento. Vejamos a indagação de Bosi acerca dos marcos cronológicos, sobretudo as datas, sob as quais lança o seguinte questionamento:
Mas o que são datas? Datas são pontas de icebergs. O navegador que singra a imensidão do mar bendiz a presença dessas pontas emersas, sólidos geométricos, cubos e cilindros de gelo visíveis a olho nu e a grandes distâncias. Sem essas balizas naturais, que cintilam até sob a luz noturna das estrelas, como evitar que a nau se espedace de encontro às massas submersas que não se vêem? [...] Datas são pontos de luz sem os quais a densidade acumulada dos eventos pelos séculos dos séculos causaria um tal negrume que seria impossível sequer vislumbrar no opaco dos tempos os vultos dos personagens e as órbitas desenhadas pelas suas ações. A memória carece de nomes e de números. A memória carece de numes. (Bosi, 1992, p. 19-36)
De acordo com a literatura estudada, podemos elencar algumas proposições sobre a história oral e sua subjetividade e sua classificação como metodologia e assim ficou confirmado no ‘VI Encontro Nacional de História Oral’, realizado de 28 a 31 de maio de 2002, pela Associação Brasileira de História Oral e pelo Departamento de História da Universidade de São Paulo,
A história oral é uma metodologia muito usada [...]. Apesar de seu uso crescer a cada dia, ainda existem muitos preconceitos e árduas críticas contra esse método: o entrevistado pode ter uma falha de memória, pode criar uma trajetória artificial, se auto-celebrar, fantasiar e mentir. Mas isso faz da história oral uma fonte não fidedigna para o pesquisador? (ABHO, 2006)
Ao discutir os desafios da história oral, historiadores da Associação Brasileira de História Oral assinalaram uma das maiores críticas à memória.
[...] é que a memória pode ser distorcida pela deterioração física do entrevistado e pela possível nostalgia que possa fazer o entrevistado idealizar o passado [...]. Porém, essa “não confiabilidade da memória” pode ser encarada como um recurso e não como um problema. (ABHO, 2006)
Existem, entretanto, pesquisadores que ainda acreditam que os documentos escritos são ‘mais confiáveis’ do que as fontes orais. Vale ressaltar que, corriqueiramente, tais documentos não passam de transmissões de relatos orais escritos por homens, sendo, desse modo, susceptível às mesmas ‘falhas’. Segundo o historiógrafo inglês Edward Carr
nenhum documento pode nos dizer mais do que aquilo que o autor pensava – o que ele pensava que havia acontecido, queria que os outros pensassem que ele pensava, ou mesmo apenas o que ele próprio pensava pensar. Nada disso significa alguma coisa, até que o historiador trabalhe sobre esse material e decifre-o. (HUGHES, 2002, pp.43-44).
Logo, os documentos escritos têm os mesmos problemas que as fontes orais, podendo estas ser tão fidedignas quanto qualquer documento escrito. De acordo com o sociólogo austríaco Michael Pollak, (1992, p) “se a memória é socialmente construida, é obvio que toda documentação também o é [...]”. É sabido que, tal como a documentação escrita tem que seus lapsos, falseamentos, polifonias e entrelinhas, a oralidade também possui imprecisões. Porém a história oral tem ocupado a maior parte da prática historiográfica até os dias de hoje. Rompendo com a ditadura positivista do documento, qualquer texto pode ser considerado uma fonte para o historiador do século XXI, como afirma o historiador Barros, (2004, p. 134) ao dizer que “[...] o diário de uma jovem desconhecida, uma obra de alta literatura ou da literatura de cordel, as atas de reunião de clube, as notícias de jornal, as propagandas de uma revista, as letras de música, ou até mesmo uma simples receita de bolo [...]” Não há mais limites de fontes para os novos historiadores, pois os diferentes documentos os levam diretamente ao contato com o problema a ser investigado. Atentemos a enfática afirmação de Pierre Nora (1998, p.9) no tocante a história e memória. Nos termos desse autor “[...] a história é a reconstrução sempre problemática e incompleta do que não existe mais [...]” e “[...] a memória é um fenômeno sempre atual, um elo vivido no eterno presente [...]”. Nora, propõe uma ponte entre história e memória, em contraponto Halbwachs polariza-os radicalmente, a memória tornou-se parte a história o que dificulta estabelecer diferenças entre memória coletiva e memória histórica.
Para tanto, preocupar-se com a reconstrução e preservação da memória é no mínimo salutar em tempos que parece sucumbi-la, torna-se justificável o afã dos historiadores, em reconstruir, problematizar e preservar histórias e memórias. O historiador medievalista Le Goff (1994, p.47), afirma que a função do historiador com a “[...] memória é para libertação [...] salvar o passado para servir ao presente e ao futuro [...]”. Portanto, o historiador de abordagem oral desempenha na sociedade um papel peculiar de Nora, (1994, p.9-10) “[...] impedir que a história seja somente história”, comprovando sua indissociabilidade com a memória.
Para Verena, (2005, p. 29) historiar memórias “[...] não é simplesmente sair com um gravador em punho, algumas perguntas na cabeça, e entrevistar aqueles que cruzam o nosso caminho dispostos a falar um pouco sobre suas vidas”. Na verdade, são elementos subjetivos de difícil trato científico. Lidar com a oralidade de pessoas que vivenciam e/ou vivenciaram, como nos situa Verena (2005, p. 29) é possibilitar “a valorização da memória [...] trazer à tona outras histórias e outros olhares sobre o passado”.
Sobre história oral, o pesquisador José Carlos Sebe Bom Meihy (2005, p. 29) afirma ser uma “... prática de apreensão de narrativas [...]” que objetiva “[...] promover analises de processos sociais do presente e facilitar o conhecimento do meio imediato”. A história oral está para o tempo presente assim como o marxismo está para os excluídos dando voz aos silenciados e evidenciando os esquecidos da história. Para Etienne François (FERREIRA & AMADO, 2001, p. 4) a história oral privilegia o cotidiano e a vida privada valorizando a historicidade local e regional da “[...] história vista de baixo [...]”, ou seja, dos marginalizados“[...] numa perspectiva decididamente micro-histórica”. Logo, história oral e micro-história são simbióticas.
Dialogando com outras abordagens de pesquisa a história oral “[...] mesmo tendo nascido exilada” MEIHY (2007, p. 114). ampliou seu campo de ação com vista à dinâmica do tempo presente, ganhando novos adeptos, possibilitando que as vozes de outros atores sociais multipliquem-se, assim como as técnicas específicas e procedimentos metodológicos ímpares dessa metodologia. De fato, é crescente o número de pesquisa e publicações em história oral no Brasil, o que evidencia sua forte presença nas pesquisas acadêmicas no Brasil. Assim Ferreira & Amado (2001, p. 113-114), afirmam que a história do tempo presente “[...] perspectiva temporal por excelência da história oral, é legítima como objeto de pesquisa e da reflexão histórica”, cabe ao historiador da oralidade “[...] buscar contribuições de outros campos do saber como a filosofia de Henry Bergson sobre a memória e a teoria sociológica de Maurice Halbwachs e Pierre Boudieu ou mesmo da teoria psicanalítica de Freud” ainda na mesma obra Roger Chartier (FERREIRA & AMADO, 2001, p. 113-114), defende que “o historiador do tempo presente é contemporâneo de seu objeto [...]”, dividindo com os que fazem a história e analisando as fontes no calor dos fatos, uma história em processo, assim a história oral é por excellence metodologia da história do tempo presente.
Toda memória individual corresponde a uma parte da coletiva, Halbwachs (2006, p.27) também, considera a memória individual como coletiva tangenciada pela sua temporalidade, espacialidade e interação, “[...] pois cada memória individual é um ponto de vista sobre a memória coletiva, que este ponto de vista muda conforme o lugar que ali eu ocupo, e que este lugar mesmo muda segundo as relações que mantenho com outros meios”. Para Pollak, corroborando as afirmações Halbwachs (2006, p. 26), a memória “[...] é também um elemento constituinte do sentimento de identidade tanto individual como coletiva”. Noutros termos, a memória é também identidade social. Quanto as nossas lembranças coletivas, asseverou Maurice Halbwachs (2006, p. 26),
permanecem coletivas, e elas nos são lembradas pelos outros, mesmo que se trate de acontecimentos nos quais só nós estivemos envolvidos, e com objetos que só nós vimos. É porque, em realidade, nunca estamos sós. Não é necessário que outros homens estejam lá, que se distinguam materialmente de nós: porque temos sempre conosco e em nós uma quantidade de pessoas que não se confundem.
O autor acrescenta (2006, p. 52), que “a lembrança aparece pelo efeito de várias séries de pensamentos coletivos em emaranhadas, e [...] não podemos atribuí-la exclusivamente a nenhuma dentre elas.” Ratificando que a memória individual e a coletiva são quase indissociáveis, o autor ainda indiretamente relaciona a história ao passado constructo no presente ao afirmar que "não é na história apreendida, é na história vivida que se apóia nossa memória." (2006, p. 60) e com um elã quase poético afirma do ‘seu lugar de fala sociológica’ que a “história, com efeito, assemelha-se a um cemitério onde o espaço é medido e onde é preciso, a cada instante, achar lugar para novas sepulturas.” (2006, p. 55).
Historiar memórias e identidades é romper com as velhas identidades que por tanto definem quem somos, de modo que somos despedaçados em nossas individualidades em meio ao ‘eu’ coletivo. Fala-se, hoje em identidades líquidas por desmancha-se no ar à sombra da pós-modernidade com formações cambiantes e híbridas. Logo vivemos uma ‘crise de identidades’, a construção de identidades perpassa a noção de diferença, como propõe Edward Said (1990, p. 143) à identidade “é simplesmente o que eu sou, a diferença é aquilo que o outro é” ao dizer o que somos, significa o que não somos.” Com o intento de ilustra, segue o exemplo, ser maranhense significa não-ser piauiense. Tais sujeitos forjam seus “lugares de memória” (NORA, 1998, 13), compondo uma nova rede de memórias nem sempre com final feliz, afinal a sociedade é como um teatro vivo com seus dramas, comédias e tragédias, (re)significados a cada rememoramento que trarão à tona o espaço geográfico, utensílios, alimentos que compõe o cenário deste teatro de memórias vivas, sem contudo não legitimar suas memórias.
Nesse contexto, o historiador-entrevistador da memória remete-se a fragmentos de lembranças individuais de modo a inter-oralizar (confrontar) os depoimentos, tendo em vista a coletivizar o individualizado, estabelecendo uma legítima relação como o tempo presente, uma vez que lembrar não é reviver, mas rever (revisitar com olhos do presente) o passado para compreendê-lo. Ecléa Bosi como tal, afirma que
Na maior parte das vezes, lembrar não é reviver, mas refazer, reconstruir, repensar, com imagens e idéias de hoje, as experiências do passado [...]. A lembrança é uma imagem construída pelos materiais que estão agora, à nossa disposição, no conjunto de representações que povoam nossa consciência atual. Por mais nítido que nos pareça de um fato antigo, ele não é a mesma imagem que experimentamos na infância, porque nós não somos os mesmos de então e porque nossa percepção alterou-se e, com ela, nossas idéias, nossos juízos de realidade e de valor. (1987, p. 21).
É com maestria que Bosi define lembranças como reconstrução contínua das experiências do passado com a imagética do presente, pois nunca somos os mesmos, parafraseando a máxima de Héraclito ‘não podemos nunca evoca as mesmas lembranças, pois como as lembranças, nós mesmos já somos outros’. Com relação à coletivização dos recortes de memória individual e sua contemporaneidade, Maria do Amparo afirma que a
[...] memória não é apenas nossa, ela é um somatório de lembranças de várias pessoas que fizeram parte da nossa história. As lembranças são individuais, pois para cada pessoa fica marcado o significado de acontecimentos experimentados coletivamente. As lembranças do passado não permanecem inertes no tempo, mas vão se reconstruindo a partir das representações do presente. Pode-se mesmo dizer que a memória é dinâmica, ela é recriada por novos acontecimentos ou por novas lembranças que são agregadas àquelas do passado que são (re) elaboradas pelas vivências do presente. Portanto, passado e presente se fundem, se confundem, se agregam, pois a memória não conhece passado, mas é sempre presente (2006, p. 20-21).
A jovem historiadora mostra perspicácia ao compreender a memória como resultado do grupo do qual fazemos parte e sua dinâmica no tempo toda vez que é invocada no presente. Então a memória é relacional, não pertence ao passado nem ao presente, está entre os dois.
3 POR UMA HISTÓRIA DO TEMPO PRESENTE
Para pensar a história do tempo presente, o conceito de René Rémond é basilar ao afirma
(...) que é a história que vivemos: faz parte das nossas lembranças e de nossas experiências. Ora, vale lembrar que essa história exige igual rigor ou maior do que o estudo de outros períodos: devemos enfatizar a disciplina e a higiene intelectual, as exigências de probidade. (REMOND, 2006 p.206).
O autor em primeira instância relaciona a história do tempo presente á lembranças ou memórias e em seguida ressaltar o rigor científico com que os historiadores devem tratá-la, exigindo do estudioso do tempo presente uma maior acuidade intelectual e meticuloso arcabouço metodológico com o seu objeto de estudo locado no tempo presente. Tal argumento está à revelia do que afirmou o historiador Eric Hobsbawn, quando a
(...) vivência pessoal deste tempo molda inevitavelmente a forma como o vemos, e até mesmo o modo como determinamos a evidência à qual todos nós devemos apelar e nos submeter, independente de nossos pontos de vista (...) a diferença de gerações é suficiente para dividir os homens. (HOBSBAWN, 1995 p. 105).
No campo da pesquisa histórica o distanciamento temporal dos fatos pouco importa a verossimilhança, seja na antiguidade ou contemporaneidade desde que o estudo seja problematizado como ponto de partida adequado quando se deseja reconstituí-la para melhor compreender a realidade. Afinal, “toda história é uma história contemporânea” afirmou Benedetto Croce por ser revisitada por historiadores e para leitores do nosso tempo. Justificar-se a importância de se estudar a história à medida que, desvelamos quem fomos, somos e seremos no espaço e no tempo de maneira crítica rompendo com a visão maniqueísta e evitando cometer anacronismos que tanto a história do pretérito quanto a do presente podem incorrer.
Faz-se mister afirmar que, a história do presente remonta os tempos de Heródoto e Tucídides que faziam uso do testemunho oral, ou seja, surgiu com a própria história. Com efeito, a historiadora Marieta de Morais Ferreira alerta que,
É preciso lembrar que a história dos fatos recentes nem sempre foi vista como problemática. Na Antiguidade clássica, muito ao contrário, a história recente era o foco central da preocupação dos historiadores. Para Heródoto e Tucídides, a história era um repositório de exemplos que deveriam ser preservados, e o trabalho do historiador era expor os fatos recentes atestados por testemunhos diretos. Não havia portanto nenhuma interdição ao estudo dos fatos recentes, e as testemunhas oculares eram fontes privilegiadas para a pesquisa” (2000, p.111).
Muito embora, na atualidade se coloque toda uma complexidade dada os aportes teórico-metodológicos dos quais fazemos usos ao optar por um recorte temporal do tempo presente, o que para muitos significa um ‘objeto problemático’, o que em nenhuma medida inviabiliza o sucesso da pesquisa, nem tampouco legitima a expressão. De modo que, a discutível fragilidade da história do tempo presente é na verdade uma fonte potencializadora que rompe com suas fragilidades.
Segundo Agnès Chauveau e Philippe Tètart (1999, p. 07), o que convenciou-se chamar “... de história imediata, história próxima ou de história do tempo presente”, nada mais que é do que história. Jean Pierre Rioux(1999, p. 39), pergunta lança o questionamento – “Pode-se fazer uma história do tempo presente?” Sua resposta configuraria outro artigo, o que não é o caso, embora de modo simplista sabe-se que sim, caberia justificar. Para tal, basta perceber a grande profusão temática que os dias atuais propõe a oficina do historiador. Para muitos historiadores que ainda resistem transitar pelas regiões fronteiriças da história, a história do tempo presente não é lócus temporal do historiador, como sublinha a pesquisadora Helena Isabel Muller (2007, p.17) que E. P. Thompson afirmou “ao historiador cabia trabalhar o passado, o presente seria pertinente aos estudos da sociologia.” Um ledo engano, no mundo atual tais barreiras tem sido diluídas em nome da interdisciplinaridade. Já Pierre Lagrou (2007, p.31) pesquisador do IHTP - Instituto de História do Tempo Presente enfaticamente afirma “o tempo presente é passado”, tal como o passado se faz no presente.
Com efeito, a abundância de fontes torna-se um grande desafio na construção de indagações que responda aos propósitos do historiador. Entre esses desafios, a aproximidade com o objeto a ser estudado é o mais caro ao profissional da história. Como diria o poeta modernista Carlos Drummond de Andrade em sua elegia, poema de dor e luto ao historiador que não por acaso, “[...] veio para ressuscitar o tempo e escalpelar os mortos, as condecorações, as liturgias, as espadas, o espectro das fazendas submergidas [...]” (Andrade, 1980, p. 34). A esse respeito, Michel de Certeau questiona: “o que fabrica o historiador quando faz história? Em que trabalha? Que produz?” (Certeau, 1995, p. 17) tais questões remetem o historiador da importância de seu ofício para si e para o grupo social do qual pertence, auxiliando-o na construção do seu fazer, fazendo-se historiador como uma operação de construção de sentidos ao passado e ao presente, comungamos das mesmas inquietações do autor, acreditamos ser possível fazer história para além dos muros da academia. Certeau endossou ao afirmar que a operação historiográfica “[...] se refere à combinação de um lugar social, de práticas científicas e de uma escrita” (Certeau, 2002, p. 66). Esta operação de que tanto fala o autor, trata dos esforços empreendidos pelos que escrevem a história.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Do alto do Olimpo, com olhar contemplativo Clio, a musa da história com clarim heróico e sua clepsidra, filha dileta entre as musas, compartilha com a sua mãe Mnemósine,6 deusa da memória, a responsabilidade de não deixar obliterar o passado. A memória gerou a história. A história registra a memória. Clio 7 mira no passado para explicar o presente, pari passu, projetar o futuro dizendo: - Decifre-me ou lanço-te no mar do esquecimento, atirando-no ao limbo. Do contrário, é desvelar quem fomos, somos e seremos no espaço e no tempo de maneira crítica rompendo com a visão maniqueísta, confazendo, um todo nada anacrônico. Assim sendo, “o historiador, este detentor do olhar arguto que é capaz de ver o que não mais se impõe a visão”, (Pesavento, 2004, p. 25) municiado de seu aparato crítico e ancorado na perspectiva do presente.
O historiador não é mais o profissional que estuda o passado acabado, mas a sua relação com o presente inacabado em que as fontes não falam por si, há que fazê-las falar a partir das inquietações do presente. Somos, pois, convidados a revisitar temporalidades mais recentes e fontes diferenciadas, lançando mão quase sempre, das mesmas perguntas que faria um historiador do século XVIII a suas fontes, mas tracejando novos caminhos de pesquisa.
Para Chartier, a história do tempo presente desperta um mau sentimento: a inveja (Chartier, 1996, p. 215). Com efeito, além de contar com recursos documentais abundantes sejam visual, escrita e sonora que parecem não se esgotar, mas, ao contrário, se multiplicam na sociedade contemporânea. Aos novos historiadores cabe fazer boas escolhas em meio ao manancial de fontes apensadas. Mais uma vez somos convencidos da assertiva de Le Goff que o historiador deve “decidir sobre aquilo que irá considerar como documento e o que irá rejeitar”, (Le Goff, 2003, p. 101), podendo construir seus próprios repositórios digitais de documentos.
Diante do desafio proposto, cabe a nós historiadores a difícil tarefa de definir a utilidade da história. Perguntas não necessariamente geram respostas, trazem à tona novas indagações. Pesquisar história para além da história positivista é, sobretudo, voltar-se para temas como loucura, cidadania, sexualidade, alimentação, moda, biografia, meio ambiente, corpo, cotidiano, enfermidades, gênero, crianças, cinema, festas, direitos humanos e neste caso, a escravização contemporânea. Clio redimensiou seu olhar para uma outra história, uma zapeada nos estudos históricos recentes, catapultando-os, que no dizer de Júlio Aróstegui um “grande giro ou guinada dos anos 70 interrompeu uma certa trajetória da historiografia, mas propiciou o nascimento de muitas direções novas” (Aróstegui, 2006 p. 08) uma renovação da produção historiográfica sem precedentes.
Nesta seara em que tudo é história, passado presente e futuro confundem-se. Somos e fazemos história. Entendê-la é comprender a si e ao mundo, com a consciência do que fomos para transformar o que seremos. Dito isto, voltemos a pergunta inicial: Para que serve a história do tempo presente? Para saber quem fomos, conhecer quem somos e projetar quem seremos.
Com efeito, à medida que, adentra-se ao universo da pesquisa, mais complexa torna-se a tarefa do historiador, no mais, resta-nos tal como propõe o historiador Vainfas (1997, p. 449), “[...] percorrer os caminhos e descaminhos da história [...]”. Afinal, a arte de historiar nunca foi tão complexa como hoje, devendo ser sempre revisitada por outros estudiosos. Afinal, a história que praticamos é uma história do tempo presente à revelia dos que pensam equivocadamente que história é coisa do passado. Para saber quem fomos, somos e seremos.
Fagno Soares
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1 Referência ao poema Perguntas de um Trabalhador que Lê.
2Alguns dicionários como Houaiss e Aurélio registram a expressão hifenizada. Em contraparte, optamos pela gráfica proposta pela 5ª edição do Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa – VOLP.
3Expressão forjada por Carlo Ginzburg para descrever o sentimento de euforia, quando do início de um novo estudo e os desafios advindos da escolha. Ver, GINZBURG, Carlo. Feiticeiras e xamãs. In: O fio e os rastros: verdadeiro falso e fictício. São Paulo: Companhia das Letras, 2007, p. 296.
4ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE HISTÓRIA ORAL, Rio de Janeiro; 2012. Disponível em: <http://www.abho.com.br>Acesso em: 06 de jan. 2012.
5 VI ENCONTRO NACIONAL DE HISTÓRIA ORAL, São Paulo, Anais eletrônicos. USP, 2002. ABHO: Disponível em: http://www.abho.com.br/anais/anaisusp.html.Acesso em: 19 de ago. 2006.
6É uma titânides, personificação da memória, mãe das nove musas. As musas eram figuras mitológicas guardiãs das artes e da ciência na Grécia Antiga. Para homenageá-las os gregos depositavam como oferendas objetos diversos no tempo Museion, vocábulo que deu origem à palavra museu. As filhas dos deuses Mnemósine e Zeus, possuiam funções e atributos específicos sendo: Clio [história], Euterpe [música], Tália [comédia], Melpômene [tragédia], Terpsícore [dança], Erato [elegia], Polínia [poesia lírica], Urânia [astronomia] e Calíope [eloquência]. Homero faz referência às nove musas na Odisseia sem citar nomes, coube a Hesíodo, na Teogonia, nomeá-las, que desde, então ganharam fama, grassando até nosso tempo.
7Musa da história e da criatividade, conhecida como a proclamadora, cujo nome representa celebrações e perpetuidade. Personificada em uma jovem com uma coroa de louros, trazendo em sua mão direita uma trombeta e na esquerda um livro de Tucídides ou um pergaminho. Ademais, têm como símbolos o clarim e a clepsidra e descansa serenamente sobre o globo terrestre ao lado do tempo.
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