Camila Fagundes
Mary Sandra Guerra Ashton
Gustavo Roese Sanfelice
Universidade Feevale
camilafagundes@feevale.brRESUMO
O objetivo deste estudo foi identificar o que foi planejado no pré-evento, e o que realmente foi concluído no município de Porto Alegre, uma das cidades-sedes, antes do início da Copa do Mundo de Futebol FIFA 2014. A análise é feita desde obras principalmente de mobilidade urbana, de infraestrutura, até estimativas de turistas. A pesquisa foi do tipo descritiva exploratória com revisão bibliográfica e pesquisa documental. Como principais resultados destacamos que de quatorze obras propostas no planejamento estratégico de Porto Alegre para a Copa do Mundo de Futebol FIFA 2014, apenas cinco foram entregues no prazo. Nesse sentindo é importante destacar que investimentos desse porte não aconteciam na capital gaúcha há anos, e que apesar de não terem sido entregues todas as obras, melhorias na qualidade de vida, principalmente da comunidade local, aumento da demanda por serviços considerados turísticos, contribuindo assim para uma maior divulgação do estado, foram destaques encontrados nessa proposta de trabalho.
PALAVRAS-CHAVE: Copa do Mundo de Futebol, Turismo, Megaeventos, Legado, Porto Alegre.
RESUMEN
El objetivo de este estudio fue identificar lo que estaba previsto en el pre- evento , y lo que en realidad fue completado en la ciudad de Porto Alegre , una de las ciudades sede , antes del inicio de la Copa Mundial de Fútbol de la FIFA 2014. El análisis se hace desde trabaja principalmente para la movilidad urbana, la infraestructura, a los turistas estimaciones. La investigación fue exploratorio descriptivo, con revisión de la literatura y la investigación documental. Los principales resultados destacan que catorce obras propuestas en la planificación estratégica de Porto Alegre para el Mundial de Fútbol FIFA 2014 , sólo cinco fueron entregados a tiempo. En ese sentido, es importante tener en cuenta que las inversiones de este tamaño no ocurrieron en la capital del estado por años, ya pesar de no haber sido entregados todos , mejoras en la calidad de vida, especialmente de la comunidad local , el aumento de la demanda de servicios considerados atracciones turísticas se encontraron en esta propuesta de trabajo.
PALAVRAS-CHAVE: Copa del Mundo de Fútbol, Turismo, Megaeventos, Legado, Porto Alegre.
ABSTRACT
The objective of this study was to identify what was planned in the pre-event, and what was actually completed in the city of Porto Alegre, one of the host cities, before the start of the FIFA World Cup 2014. The analysis from urban mobility, infrastructure, until tourists estimates. The research was exploratory descriptive with literature review and documentary research. The main results highlight that fourteen works proposed in the strategic planning of Porto Alegre for the FIFA World Cup 2014, only five were delivered on time. In that sense it is important to note that this size of investments has not happen in the capital for years, and despite not having been delivered all works, improvements in quality of life, especially the local community, increased demand for services considered tourist, contributing for greater awareness of the state, were the highlights found in this work
KEYWORDS: World Soccer Game. Tourism. Mega Events, Legacy, Porto Alegre.
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Camila Fagundes, Mary Sandra Guerra Ashton y Gustavo Roese Sanfelice (2015): “A copa do mundo de futebol FIFA 2014: estudo comparativo entre pré e pós evento na região metropolitana de Porto Alegre, RS, Brasil”, Revista Contribuciones a las Ciencias Sociales, n. 28 (abril-junio 2015). En línea: http://www.eumed.net/rev/cccss/2015/02/fifa-2014.html
O tema abordado nesse trabalho gira em torno da Copa do Mundo de Futebol FIFA 2014 e busca estabelecer um comparativo entre o antes e o depois da realização desse megaevento, em especial desse acontecimento na cidade de Porto Alegre, capital do estado do Rio Grande do Sul, Brasil.
Para Sanfelice et al (2014) os megaeventos esportivos entraram na agenda da mídia brasileira desde os Jogos Pan-americanos do Rio de Janeiro/2007. Desde então, o Brasil está no circuito internacional de competições, como a Copa do Mundo de Futebol/FIFA em 2014 e os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro/2016, como aconteceu na Espanha no final do século passado, os grandes eventos esportivos se constituíram como uma ferramenta decisiva para a evolução e o desenvolvimento dos meios de comunicação. O tema megaeventos ficou mais presente nas discussões dos brasileiros, devido à grandeza do assunto e a movimentação econômica e financeira gerada no país sede.
A realização de grandes eventos contribui para a geração de novos investimentos, oportunidades de trabalho e renda, e visibilidade do local em que ocorre, além de deixar um legado para os residentes do lugar. Assim, a captação de eventos tem gerado o crescimento dos municípios, regiões e contribuído para a atração de novos fluxos turísticos, fomentando o desenvolvimento das cidades envolvidas. Os megaeventos esportivos são grandes eventos que envolvem ao seu redor um conjunto de pessoas e fatores, movimentando países, governos e suas economias, estimulando a população em geral (TAFFAREL; SANTOS JUNIOR; SILVA, 2013).
A realização de eventos figura entre as alternativas para equilibrar a demanda nos meses de baixa temporada turística. O trade turístico formado pela rede dos meios de hospedagem, do setor de alimentação, dos transportes, do comércio e da gama de atrativos turísticos, têm na realização de eventos mais um fator de atração de turistas e contribui para manter ativos e em funcionamento, independente da sazonalidade, todo o setor turístico.
O turismo de eventos é um segmento que vem crescendo e se destacando nos últimos anos, pois tem como principal característica a utilização dos recursos e serviços de uma região, além de gerar empregos diretos e indiretos, divulgar a localidade receptora e contribuir para o desenvolvimento em âmbito regional, gerando impactos de efeito multiplicador sobre a economia local.
O futebol é atividade que movimenta milhões de dólares, sendo praticado em vários países, é considerado o esporte mais popular do mundo e possui uma estreita relação com os eventos esportivos de competição, reunindo pessoas de diversas idades e de vários lugares do mundo. Há mais de sete décadas proporciona lazer e diversão para aqueles que assistem aos jogos e torcem pelos seus times.
A Copa do Mundo de Futebol da FIFA 2014 no Brasil entrou na ordem do dia da mídia e da sociedade brasileira, sendo organizada como megaevento. Esse grande acontecimento incrementa consideravelmente o tratamento midiático desse país sul-americano, como demonstra a criação de novos correspondentes da mídia mundial, até então não presentes (SANFELICE et al 2014).
Porém, para a realização desse evento no Brasil, várias adequações de infraestrutura física urbana e investimentos foram necessários, bem como o planejamento e organização na área de transportes e recursos humanos, além de outros conforme exigências da FIFA – federação que coordena o evento. Assim, todas as cidades brasileiras que sediaram a Copa, passaram por reformas dos seus estádios, melhorias e adaptações em diversos setores.
Após o acontecimento da Copa do Mundo de 2014 no Brasil, e tendo em vista a série de obras que foram planejadas antes desse megaevento acontecer, se impõe como objetivo principal deste estudo o de identificar o que foi planejado no pré-evento, desde obras de infraestrutura até estimativas de turistas, entre outros e o que realmente foi concluído no município de Porto Alegre, uma das cidades-sedes, e região metropolitana. Para tanto, o método utilizado para o desenvolvimento desse trabalho foi o exploratório, descritivo interpretativo, numa pesquisa qualitativa. Esse trabalho buscou ainda responder aos seguintes questionamentos: os investimentos realizados em Porto Alegre deram retorno à sociedade na promoção do desenvolvimento? Os resultados da Copa atenderam às expectativas? As obras realizadas deixaram algum legado para Porto Alegre que possa beneficiar a população residente? Afinal, o que ficou depois da Copa?
Desde os primeiros eventos registrados, no qual já se tinha deslocamentos de pessoas em função deste acontecimento nas civilizações antigas, até 776 a.C, que então se tem como marco a origem do turismo, bem com o turismo de eventos, foi as Olimpíadas da Era Antiga. Nessa época, o evento tinha como principal caráter o religioso. Desde então os eventos foram se desenvolvendo e assumindo características econômicas e sociais de cada época. Importante destacar que desde o seu início, ele tinha como regra o seu acontecimento de quatro em quatro anos (MATIAS, 2010).
Para a conceituação de eventos não é uma tarefa fácil, pois eles assumem características de cada época, sendo nesse sentido caracterizados principalmente como dinâmicos e de fácil adaptação. Entretanto Matias (2010) comenta que o evento significa um conjunto de atividades ou ato comemorativo, a fim de alcançar um público-alvo específico, com objetivo mercadológico ou não.
Atualmente a organização de um evento em determinada cidade gera a atração de turistas, que viajam longas distâncias para participarem desses acontecimentos. Com isso, quem se beneficia com a realização de um evento é a comunidade autóctone, por meio do seu reflexo na economia e nos benefícios para os residentes, no qual o chamado efeito multiplicador da atividade turística, ganha destaque. Os eventos, no caso esportivos, promovem diversos benefícios, novas instalações são construídas, aumento da urbanização entre outros. E quem ganha com isso é a população local. Mas para que os benefícios ocorram, o engajamento e participação da comunidade são de extrema importância, pois são eles os principais agentes para que a atividade possa se desenvolver da melhor maneira possível (MATIAS, 2008).
A Copa do Mundo de Futebol FIFA pode ser vista como exemplo disso, pois é um megaevento que impacta a comunidade como um todo. Atualmente ela acontece de quatro em quatro anos e compreende um período de trinta dias, normalmente no mês de junho, sendo composta por uma agenda de 64 partidas no seu total, em que cada seleção joga no mínimo três partidas. Trata-se de um campeonato mundial que teve seu início em 1930 e segue até os dias de hoje. O megaevento apenas deixou de ser disputado em duas edições, durante a Segunda Guerra Mundial, onde o mundo estava centralizado no confronto que durou seis anos, de 1939 a 1945 (FIFA, 2014).
Os megaeventos esportivos, como é definido a Copa do Mundo de Futebol FIFA, podem ser definidos como acontecimentos de curta duração, com data de início e final pré-estabelecidos; alto nível de investimentos financeiros; reformas e grandes obras; demandam adequações na infraestrutura disponível; atraem um significativo fluxo de turistas de diversas nacionalidades e possui grande poder de atração de mídia. Rubio (2005), Tadini (2007), Villano; Terra (2008), Getz (2007).
O francês Jules Rimet foi o grande idealizador desse megaevento, após o futebol ter sido negado nos Jogos Olímpicos de 1932, pela baixa popularidade do esporte nos Estados Unidos. Rimet ao assumir o cargo de presidente da FIFA criou a primeira Copa do Mundo em 1928, mas sua primeira edição ocorreu apenas em 1930. Primeiramente, sua ideia era reunir as principais seleções de futebol do mundo pela disputa do mundial, sendo, simplesmente, uma competição esportiva motivada por lazer. Como se tratava de um sonho e poucas pessoas acreditavam que seria possível realizar, ele não conseguiu apoio financeiro e teve que ser o próprio patrocinador do primeiro troféu (AMARAL, 2007).
Os primeiros eventos da Copa foram apenas competições esportivas. Após a edição de 1986 no México, o megaevento passou a ter uma nova particularidade. Os jogadores passaram a ser pagos para jogar e a população passou a pagar para assistir, o que acarretou no interesse de marcas corporativas em vincular seus nomes, através de patrocínio com o evento. Para Desde então os organizadores buscam mais do que uma simples competição de futebol, procuram uma maneira de alcançar o sucesso, no qual se gera benefícios à população local e lucro através da ressonância global de mídia.
Se olharmos para a primeira edição realizada no Uruguai em 1930, participaram do megaevento um total de treze seleções, enquanto atualmente, o evento conta com trinta e duas, o que demonstra um aumento no negócio (AMARAL, 2007). Das trinta e duas seleções que participaram do mundial, cada uma tem direito a inscrever vinte e três jogadores, envolvendo um total de setecentos e trinta e seis atletas inscritos oficialmente.
Caracterizado como megaevento esportivo, a Copa do Mundo de Futebol FIFA apresenta algumas particularidades como: acontecimento de curta duração, com data de início e final pré-estabelecida; necessidade de alto nível de investimentos financeiros em vários setores; reformas e grandes obras; demandam adequações na infraestrutura disponível; atraem um significativo fluxo de turistas de diversas nacionalidades; possui total extensão de cobertura televisiva de ressonância global; coloca o país em destaque antes e durante a realização do evento. Rubio (2005), Tadini (2007), Villano; Terra (2008), Getz (2007).
A operacionalização de um evento desse porte é de extrema importância. Por esse motivo é preciso atenção nas chamadas etapas de organização, que são divididas em três: a primeira, o pré-evento; a segunda, o acontecimento do evento; e a última, o pós-evento. O pré-evento pode ser entendido como o período que antecede o evento. Nessa fase são realizados os projetos e previsão orçamentária para a captação dos investimentos necessários e obras de melhorias. O planejamento é a parte decisiva do evento, definido em um documento denominado de plano onde se faz o detalhamento de todo o processo, bem como do seu desenvolvimento. Devem constar todas as obras que serão realizadas, estabelecidos os prazos, designados os responsáveis e os valores. É considerado o primeiro empenho organizacional de todas as etapas (MATIAS, 2008).
De acordo com a Fundação Getúlio Vargas (2010) as obras de construção civil, infraestrutura, qualificação profissional, organização para o acesso de reportagens televisivas, revisão nas linhas de transportes, sinalização, venda de camisetas, entre outras, são o grande marco dessa esfera de tempo. Nessa fase são previstos/estimados o número de visitantes e a capacidade do local no que se refere aos meios de hospedagem, alimentação, transportes entre outros. São realizados também todos os tipos de melhorias necessárias, incluindo a elaboração de folheterias informativas e providências com ingressos (emissão e venda), qualificação nos setores de prestação de serviço, introduzindo alguns idiomas, capacitação para um melhor atendimento ao turista, hospitalidade, toda uma reorganização para que os visitantes possam desfrutar de momentos de muito prazer e emoção junto à comunidade local, tornando-se o país sede da Copa, a casa de muitos turistas durante o evento.
Nessa primeira fase do megaevento segundo o Sebrae (2011) estima-se um investimento equivalente a R$ 30 bilhões de reais, gerando quase quatro milhões de empregos. Os possíveis benefícios para a economia brasileira circulam em torno das micro e pequenas empresas, pois aproximadamente oito mil delas estão envolvidas com a Copa do Mundo de Futebol FIFA 2014. Dentre elas as mais procuradas são as áreas de turismo, agronegócio, construção civil, tecnologia da informação, madeira e móveis entre outros.
Na segunda fase que compreende a realização do evento para o transcorrer das atividades, a atenção se volta para o que foi colocado no planejamento que deverá ser acompanhado por todos. Ou seja, essa fase é a participação coletiva envolvendo o setor público, privado e sociedade em geral com os turistas. Marcada então pela chegada dos participantes, atletas e turistas, bem como a distribuição destes nos meios de hospedagem. Durante a realização da Copa do Mundo de Futebol FIFA 2014 tinha-se uma estimativa da chegada de cerca de 600 mil turistas internacionais e mais de 3 milhões de brasileiros em circulação dentro do país. Conforme dados apresentados pelo Sindigastro (2011) para o ano de 2014 a estimativa é que o Brasil possa receber cerca de 8 milhões de turistas.
O pós-evento, por sua vez, marcado pelo seu encerramento, incide a avaliação administrativa, técnica e principalmente dos participantes. Essa fase também é marcada pela reunião de material divulgado ao longo do evento, mostrando os objetivos alcançados, os resultados e entregues a imprensa para a divulgação (MATIAS, 2008). Além disso, após o encerramento do evento estudiosos da área e a população local se preocupam em identificar o legado do megaevento. Rubio (2009, p.78) explica que legado “é a herança direta ou indireta em forma de instalações materiais, cultura, ideal, educação, informação, documentação ou de recursos gerados pela realização do megaevento”. Ribeiro (2008) comenta que o legado ideal é aquele que consegue impactar de maneira positiva em todos os setores, do esporte, economia, cultura, meio ambiente e social, e que continue gerando benefícios por muitos anos de maneira sustentável. Legado é “o sentido de uma duradoura e positiva herança. Tais heranças advêm de impactos, causados por diferentes ações, que podem mudar de natureza com o passar do tempo” (VILLANO; TERRA, in DACOSTA et al, 2008, p. 104).
Muito se comenta sobre os efeitos que um evento desse porte possa gerar, autores como Proni (2008), Kim, Gursoy, Lee (2006) destacam em seus estudos os impactos tangíveis e os intangíveis. Esses podem ser considerados de extrema importância para o desenvolvimento regional. Entre os impactos tangíveis mais comentados, destaca-se: geração de emprego e renda, desenvolvimento de novas habilidades, crescimento do turismo, melhorias nos espaços públicos em geral, em especial nos estádios onde irão ocorrer os jogos, refletindo em um maior acesso ao esporte, melhorias nas condições das estradas estaduais e federais, geração de receitas, entre outros.
Em relação aos impactos intangíveis, sublinha-se entre eles: a capacidade que a Copa de Futebol FIFA possui de contribuir para o aumento do orgulho cívico; o fortalecimento da identidade regional; o aumento do sentimento de nacionalismo; o reconhecimento e melhorias da qualidade de vida da população local; as oportunidades de publicidade internacional; melhor compreensão a respeito de outras culturas e outros estilos de vida, entre outros.
O método utilizado neste estudo foi à pesquisa descritiva exploratória com revisão bibliográfica e pesquisa documental. A pesquisa descritiva, segundo Lakatos e Marconi (2005, p. 20), “[...] delineia o que é, aborda também quatro aspectos: descrição, registro, análise e interpretação de fenômenos atuais, objetivando o seu funcionamento no presente”. As pesquisas descritivas são, “[...] juntamente com as pesquisas exploratórias, as que habitualmente realizam os pesquisadores sociais preocupados com a atuação prática” (PRODANOV; FREITAS, 2009, p. 64).
Para esse estudo foram adotados os seguintes procedimentos técnicos: a pesquisa bibliográfica, no qual se buscou estudiosos da área de eventos e megaeventos. E a pesquisa documental, no qual materiais públicos como jornais e documentos publicados pelo governo estadual e pela prefeitura de Porto Alegre/Rio Grande do Sul, foram utilizados.
Após a compilação dos documentos, dos dados serão apresentados de forma descritiva, destacando os elementos pré-evento, o investimento, a situação atual pós evento Copa do Mundo FIFA/2014.
Como já comentado anteriormente, para que uma cidade seja sede de um evento considerado de grande porte, como é o caso da Copa do Mundo de Futebol, a mesma precisa passar por uma série de adaptações recomendadas e exigidas pela FIFA.
Porto Alegre, cidade localizada no sul do país, umas das principais metrópoles do Brasil, após um longo processo de candidatura do país e das subsedes, foi escolhida como cidade-sede do megaevento. Nesse sentido, obras foram planejadas e definidas, no qual a União, o Governo do estado do Rio Grande do Sul e a Prefeitura de Porto de Alegre, assinaram um documento denominado de Matriz de Responsabilidade, em Janeiro de 2010, que descrevia as intervenções prioritárias de infraestrutura necessárias para a capital gaúcha (LEAL-LAHORGUE; CABETTE, 2013).
De acordo com esse documento disponível no site Portal da Copa, o estado do Rio Grande do Sul e principalmente a cidade de Porto Alegre, tinha como atribuição executar e custear obras relacionadas à mobilidade urbana, obras no entorno do estádio, aeroporto e terminais turísticos portuários. Já para a União, se tinha como responsabilidade as intervenções em aeroportos e portos.
Abaixo segue planilha com as obras especificadas, no qual se tinha no planejamento a sua descrição, quanto foi o seu investimento e quem custeio.
Tendo em vista o planejamento estratégico adotado pela Prefeitura de Porto Alegre com a escolha do município para sediar cinco jogos do mundial, acredita-se que o balanço tenha sido positivo. Apesar de uma série de obras não estarem prontas dentro do previsto, é possível perceber que o legado do megaevento está acontecendo.
De um total de quatorze obras propostas consideradas as mais importantes no planejamento estratégico de Porto Alegre para a Copa do Mundo de Futebol FIFA 2014, é possível perceber através da tabela 1, que apenas cinco foram entregues.
As obras que melhoraram o acesso ao Beira Rio, vale destacar aqui que os jogos no estádio tiveram uma média de 42 mil torcedores por partida, recebeu cinco jogos da competição, quatro da primeira fase (França 3x0 Honduras/ Austrália 2x3 Holanda/ Coréia do Sul 2x4 Argélia/) (Nigéria 2x3 Argentina), e uma partida pelas oitavas de final (Alemanha 2x1 Argélia). Nesse sentido hospedou no município turistas da Alemanha, Holanda, Austrália, Coréia do Sul, Argélia entre outras nacionalidades. É importante frisar que o estádio passou por reformas, a fim de atender todos os requisitos da FIFA, e com isso receber um número considerado de turistas nas partidas. As obras no estádio ficaram prontas antes mesmo do evento acontecer. Os investimentos realizados na avenida e no corredor de ônibus na Padre Cacique, contribuíram para um melhor acesso dos torcedores nos dias de jogos.
Além de contribuir para a circulação de um número grande de turistas nos dias de jogos, essas obras colaboram para um melhora na qualidade de vida da população local. Zero Hora (2014) publicou uma nota, no qual comenta que a Cidade Porto Alegre está entre as cidades que mais soube aproveitar o mundial para que obras que estavam no papel, fossem de fato colocadas em execução. De acordo com o mesmo jornal, as obras destacadas anteriormente no texto, Av. Beira Rio e Padre Cacique, fornecem para os motoristas que circulam todos os dias nelas, uma redução de até 30 minutos no trânsito.
Tendo em vista o aumento da frota que circula diariamente em Porto Alegre, de 527.131 em 2004 para 701.576 em 2011, o prolongamento de avenidas e alargamento tem contribuído e muito para minimizar os impactos desse aumento de frota no dia-a-dia, pincipalmente de quem circula nelas com frequência (LEAL-LAHORGUE; CABETTE, 2013).
Entre as obras de mobilidade urbana não entregues, vale destacar a duplicação da Avenida Tronco, pois para a sua conclusão era necessário a remoção de aproximadamente mil e quinhentas famílias. Nesse caso um bom planejamento urbano, no qual todas as variáveis impactantes são de extrema importância sua avaliação. Oliveira (2007) comenta que para qualquer crescimento é preciso um planejamento. E dentro desse plano as preocupações com o bem estar social ambiental e econômico devem estar em harmonia.
Além dessas obras de mobilidade urbana e infraestrutura, características da fase de pré-evento, uma série de qualificações foram realizadas e ainda continuam sendo efetuadas, mesmo depois do término do evento. Apenas com o programa Pronatec (Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego) um programa do Governo Federal em parceria com Secretarias de Trabalho e Desenvolvimento Social e Turismo do estado, era previsto uma capacitação de 30 mil pessoas em cursos gratuitos de inglês e espanhol, bem como serviços para a Copa, como segurança pública, aeroporto, transporte, hotelaria, alimentação, entre outros. Até o momento o programa conseguiu capacitar o número de vagas ofertadas.
Essa preocupação com a qualificação da mão-de-obra e a movimentação de obras que a cidade passou, foi em função do número de turistas que a expectativa mostrava. A divulgação internacional que um evento desse porte gera, no qual se consegue atingir um número grande de pessoas, fez com que uma série de turistas se deslocassem de seus lugares de origem em direção ao Brasil, especificamente Porto Alegre, o foco desse estudo. De acordo com reportagens do Jornal Zero Hora (2014), 350 mil turistas circularam dentro do estado do Rio Grande do Sul, dentre eles, 160 eram estrangeiros (90 mil argentinos, 16 mil alemães, 12 mil norte-americanos, 10 mil australianos, 4,1 mil argelinos, 4 mil franceses, 4 mil holandeses, mil sul-coreanos, mil hondurenhos, mil equatorianos e outros 17 mil de outras nacionalidades).
Durante o evento a hoteleira teve média de 80% de ocupação em Porto Alegre e atingindo também a região metropolitana e serra gaúcha, impactando um raio de 200km, e com isso gerando um faturamento de R$ 200 milhões, de acordo com o SINPOA.
Além do estádio do Beira Rio, os turistas também puderam contar com um espaço diferenciado para assistir os jogos, a FIFA Fan Fest. Com uma distância de 2,5km do estádio Beira Rio, o Anfiteatro Pôr do Sol apresentou-se como um excelente espaço, que comportou a expectativa de pessoas que eram aguardadas para os dias de jogos e festas. Durante a Copa, o local tinha capacidade para 20 mil pessoas, e que durante o evento puderam acompanhar 90 shows, entre eles atrações locais, característicos da cultura gaúcha, bem como atrações nacionais. Em todos os dias em que aconteceu o evento, os turistas puderam utilizar-se das estruturas ofertadas como alimentação, banheiros e transporte. No total o espaço contou com um público de 316 mil pessoas.
Pessoas que se deslocam motivadas principalmente pelos eventos, normalmente aproveitam essa viagem para conhecer e usufruir de atrativos turísticos que a localidade proporciona. Realizam passeios e assim conseguem interagir mais com a comunidade local, fortalecendo as trocas culturais e principalmente gerando conhecimento resultando em um maior respeito alheio. Além disso, registra-se o consumo de alimentos considerados típicos daquela região (BRITO; FONTES, 2002).
Além da FIFA Fan Fest, e como alternativa ao grande fluxo de pessoas em direção ao estádio Beira-Rio durante os jogos da Copa do Mundo, a capital gaúcha criou uma rota exclusiva para os pedestres. Essa rota ficou conhecida como “O Caminho do Gol”. Cabe destacar que Porto Alegre foi à única cidade sede que criou o roteiro, do qual se tornou referência no mundo todo. Esse caminho iniciava no Mercado Público da cidade, e terminava no estádio Beira Rio, com um total de 5 km,
Esse percurso apenas acontecia nos dias de jogos. Ao longo dele, os turistas passavam por diversos atrativos, além de serviços de alimentação dos próprios comerciantes locais, bem como vendedores ambulantes, no qual os visitantes podiam provar desde temaki à tapioca, passando pelos tradicionais cachorro-quente e churrasquinho. Além disso, os turistas contaram com apresentações culturais que buscaram valorizar os mais diversos artistas da cidade e da região, o que acabou ficando como marca para o estado do Rio Grande do Sul. A contratação de artistas locais foi uma decisão por parte dos gestores do caminho do gol, a fim de divulgar e promover a cultura local. Os artistas foram selecionados de forma criteriosa com o objetivo de expor iniciativas culturais diferentes, mas sempre com o foco voltado para os tradicionais aspectos da cultura gaúcha e porto-alegrense (PREFEITURA PORTO ALEGRE, 2014).
O comércio de serviços (restaurantes, bares e similares) também sentiram os efeitos do evento. Eles tiveram um acréscimo de 50% da demanda durante a Copa, quando comparado a outros períodos do ano. E, da mesma forma, os serviços relacionados ao turismo (guias, transportes e produtos) registraram aumento de 40% na capital gaúcha. No total de acordo com o governador da época Tarso Genro, foram deixados pelos turistas, cerca de R$ 1 bilhão de reais.
Para que a Copa ocorresse como o esperado, e que os turistas, bem como a comunidade local tivessem uma maior segurança durante, principalmente o período do mundial, que ocorreu do dia 12 de junho a 13 de julho, foram investidos cerca de R$ 80 milhões em treinamento e capacitação profissional de segurança pública. Além disso, a capital recebeu um reforço de 200 mil agentes da brigada militar durante o período do mundial, porém não foi o suficiente para que a criminalidade baixasse na Capital, de acordo com Zero Hora (2014). Com o reforço policial concentrado ao entorno do estádio, onde a circulação de turistas era maior, a criminalidade acabou se deslocando para locais onde o policiamento era menor, em regiões consideradas isoladas de Porto de Alegre.
Percebe-se que grandes mudanças foram ocasionadas em Porto Alegre devido ao megaevento. Além disso, é importante salientar que de acordo com o Ministério do Turismo (2014), grande parte da população brasileira após o evento tem intenção de viajar dentro do país, o que caracteriza um estímulo ao turismo interno.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Essa pesquisa adotou como tema o turismo e o megaevento Copa do Mundo de Futebol FIFA 2014 que aconteceu no Brasil, em especial em Porto Alegre, RS, uma das cidades-sedes. Através de revisão bibliográfica e pesquisa documental, juntamente com o método exploratório descritivo de caráter qualitativo contribuíram para atingir os objetivos propostos nesse estudo, além de conseguir resolver o problema de pesquisa proposto no início desta pesquisa.
Quando se faz uma análise do pré e pós-evento se percebe que houve um planejamento através da matriz de responsabilidade, no qual o poder público juntamente com o poder privado, ambos se preocuparam em investir em questões benéficas para os turistas durante o evento, mas principalmente pensando num possível legado para a comunidade local.
Nessa perspectiva, os resultados alcançados comprovam que por mais que grande parte das obras não tenham sido entregues até o início do megaevento, é importante destacar que investimentos desse porte no município não aconteciam há anos na capital, e que dessa forma os autores acreditam que as expectativas foram alcançadas com relação às obras planejadas, mas também acreditam que um esforço maior pelo poder público poderia ter gerado mais benefícios impactantes a todos os envolvidos no processo. As obras realizadas serviram de importante destaque para que a capital pudesse receber da melhor forma os turistas esperados, e assim se destacar como uma cidade hospitaleira e que realmente soube aproveitar as oportunidades de um megaevento.
Por sediar a Copa de 2014 e as Olimpíadas de 2016, o Brasil passará por uma experiência em vários aspectos e será necessário um aprofundamento sobre o tema em questão, analisando seus benefícios, seus impactos, a importância da população no contexto dos eventos caracterizados como mega, o poder da mídia, enfim, todos os tipos de análises que rodeiam esses acontecimentos. Mas acima de tudo, lembrar que ainda têm muito trabalho a fazer, e que o poder público junto com o poder privado precisam investir nas obras ainda não acabadas e assim proporcionar um legado ainda mais impactante para todos os brasileiros.
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TAFFAREL, Celi Neuza Zulke; SANTOS JUNIOR, Cláudio de Lira; SILVA, Wellington Araújo.(2013): “Megaeventos esportivos: determinações da economia política, implicações didático-pedagógicas e rumos da formação humana nas aulas de Educação Física”. Em Aberto, n. 89, jan./jun 2013, p. 57- 66.
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