Revista: CCCSS Contribuciones a las Ciencias Sociales
ISSN: 1988-7833


INTERVENÇÕES EM PSICOPEDAGOGIA INSTITUCIONAL NO BRASIL E NA ARGENTINA: DIFERENTES PERSPECTIVAS

Autores e infomación del artículo

Paulo Roberto De Sousa

Paulo Eduardo Ribeiro

Adriana Beatriz Botto Alves Vianna

Universidade Cidade de São Paulo

prpsico@ig.com.br

Resumo: A identidade da psicopedagogia ainda não está bem delimitada como área de estudos apesar de décadas de existência no Brasil e na Europa, e por isso recorre frequentemente a outros profissionais como, por exemplo, psicólogos e fonoaudiólogos. Por esse motivo alguns autores afirmam que ela possui um caráter interdisciplinar. Para muitos autores a psicopedagogia deve ser entendida a partir de duas vertentes: i) a primeira aponta para um enfoque voltado para a prevenção; ii) enquanto a segunda aponta para o tratamento terapêutico. O que pode ser observado também é que aos poucos a psicopedagogia ampliou sua área de atuação, atingindo também o âmbito educacional. O objetivo desta pesquisa foi apresentar as diferentes formas de intervenções psicopedagógicas no Brasil e na Argentina, principalmente pelo fato de que na Argentina a prática utilizada pelo psicopedagogo leva em conta diversos testes que são utilizados como instrumentos para avaliar o aluno, enquanto que aqui no Brasil não é permitido ao mesmo profissional recorrer a muitos dos instrumentos que são de uso exclusivo do psicólogo, e isso acontece tanto na intervenção clínica quanto na institucional. Com base nos resultados obtidos após a realização deste estudo parece possível afirmar que cada vez mais a psicopedagogia vem conquistando seu espaço no cenário educacional nacional, o que de certa forma acaba por contribuir para que a situação atual da educação brasileira no que se refere ao processo ensino aprendizagem melhore cada vez mais.

Palavras-chave: Psicopedagogia, psicopedagogia institucional, intervenção, ensino, aprendizagem.

Abstract: The identity of educational psychology is not well defined as study area despite decades of existence in Brazil and Europe, and therefore often resorts to other professionals such as psychologists and speech therapists. For this reason some authors claim that it has an interdisciplinary character. For many authors the educational psychology should be understood from two components: i) the first points to a focused approach to prevention; ii) as second points for therapeutic treatment. What can be observed is also that the educational psychology gradually expanded its area of operation, affecting the educational field. The objective of this research was to present the different forms of psycho-pedagogical interventions in Brazil and Argentina, mainly by the fact that in Argentina the practice used by educational psychologist takes into account several tests that are used as tools to evaluate the student, while in Brazil is not allowed the same professional use many of the tools that are unique psychologist use, and it happens in clinical intervention and institutional. Based on the results obtained after this study seems possible to say that more and more educational psychology has gained its place in the national educational landscape, which somehow ends up contributing to the current situation of Brazilian education with regard to the process teaching and learning improves more and more.

Key-words: Educational Psychology; institutional educational psychology; intervention; education; learning



Para citar este artículo puede uitlizar el siguiente formato:

Paulo Roberto De Sousa, Paulo Eduardo Ribeiro y Adriana Beatriz Botto Alves Vianna (2015): “Intervenções em psicopedagogia institucional no Brasil e na Argentina: diferentes perspectivas”, Revista Contribuciones a las Ciencias Sociales, n. 27 (enero-marzo 2015). En línea: http://www.eumed.net/rev/cccss/2015/01/psicopedagogia.html


Introdução
            A psicopedagogia possui um caráter interdisciplinar, como muitos autores que tratam do assunto costumam afirmar, mas apesar de ter nascido com o objetivo de atuar na área clínica, aos poucos ela foi ampliando sua área de atuação até chegar ao âmbito escolar (DOS SANTOS, 2009).
            A autora lembra também, que a psicopedagogia tem ao longo dos anos tentado encontrar a definição para o seu objeto de estudo, mas como ainda não encontrou seu campo de atuação próprio, frequentemente recorre a ajuda de outros profissionais como por exemplo psicólogos e fonoaudiólogos.
A identidade da psicopedagogia não está ainda bem delimitada como área de estudos, apesar de décadas de existência, no Brasil e na Europa, comprovadas em livros e revistas especializadas. Permanecem discussões e embates com pares, em meio a mal entendidos sobre fins, locais, modalidades e recursos de atuação (MASINI, 2006).
            Bossa (2007) lembra que o objeto de estudo da psicopedagogia deve ser entendido a partir de duas vertentes, a primeira aponta para enfoque voltado para a prevenção enquanto a segunda para o tratamento terapêutico.
            No enfoque voltado para a prevenção, o objeto de estudo a ser considerado pela psicopedagogia é o ser humano em desenvolvimento e que tem condições de ser educado, ou seja, o objeto de estudo é a pessoa a ser educada, bem como seus processos de desenvolvimento, além das eventuais alterações no processo (BOSSA, 2007).
            A autora prossegue dizendo que o processo deve ser entendido em um sentido lato, não devendo se restringir apenas a uma única instituição, como por exemplo, a escola. Para a autora a família e a comunidade também podem ajudar nesse processo de aprendizagem.
Os primeiros esboços da psicopedagogia como conhecemos nos dias de hoje, tiveram início na França no início do século XIX e teve contribuições de outras áreas como, por exemplo, a medicina, a psicologia e a psicanálise, com o objetivo de adotar ações terapêuticas em crianças que apresentavam lentidão ou alguma dificuldade de aprendizagem (BOSSA, 2007).
            A autora prossegue dizendo que a Argentina sofreu influencia direta dos estudos iniciados na França, e essa influencia acabou dando inicio a iniciação psicopedagógica no país, e sua influência e chegada ao Brasil, devido principalmente ao fácil acesso aos trabalhos desenvolvidos por lá, acabou acontecendo naturalmente.
Uma das maiores historiadoras do assunto no Brasil, Bossa (2007) destaca alguns dos principais fatos e descobertas da psicopedagogia no Brasil, observe:
            Até o início da década de 70, os problemas relacionados com a aprendizagem eram considerados fatores orgânicos, e eram esses fatores que determinavam a forma de tratamento, e isso acontecia inclusive aqui no Brasil.
            Foi a partir de então que a visão começou a se modificar, e isso se deu principalmente a partir de uma nova ideia que passou a ser difundida de que esses problemas não podiam ser detectados nos exames clínicos que eram realizados e que eles eram causados por uma disfunção neurológica.
            Esses problemas são chamados de disfunção cerebral mínima (DCM) e muitos professores e também muitos pais passaram a adotar essa sigla para definir qualquer problema de aprendizado, mesmo sem terem um diagnóstico médico.
            Ainda nessa década surgem os primeiros cursos de psicopedagogia no Brasil, a princípio desenvolvidos como complementação para psicólogos e professores que tinham a intenção de entender e tentar solucionar problemas relativos a aprendizagem.         Os cursos foram pensados e estruturados a partir de um contexto histórico e baseados principalmente em conhecimentos científicos.
            Ainda na década de 70 devido a uma divergência que havia entre psicomotricistas e fonoaudiólogos no estado do Rio Grande do Sul, tem inicio o curso de formação de especialistas em psicopedagogia na Clínica Médico - Pedagógica de Porto Alegre com duração de dois anos.
            Até então, os psicomotricistas eram os responsáveis pela parte corporal, enquanto aos fonoaudiólogos cabia a parte referente a linguagem oral, audição, voz e leitura-escrita.
            A década de 80 revela outro fato importante na história da psicopedagogia no Brasil que foi o primeiro encontro de psicopedagogia realizado na cidade de São Paulo em 1984, com a apresentação de trabalhos que apontavam para a atividade de psicopedagogos na cidade de Porto Alegre.
            Foi a partir desse evento que o grupo livre de estudos em psicopedagogia foi fundado. Atualmente o grupo se chama Associação de Psicopedagogos e seu objetivo passou a ser a discussão das questões psicopedagógicas a partir de encontros mensais. A Associação realizou ainda no mesmo ano em São Paulo, o primeiro seminário de psicopedagogia, onde se discutiu os trabalhos apresentados.
            São Paulo e Rio Grande do Sul foram então os pioneiros na formação de profissionais em psicopedagogia no Brasil, com a criação de cursos voltados para a área em diferentes níveis que abrange inclusive mestrado em educação, principalmente na PUC-SP e na UFRGS, que desenvolve desde 1984 o curso de especialização em aconselhamento psicopedagógico no programa de pós-graduação na FACED.
            Foi somente a partir da década de 90 que os cursos voltados para o tema começaram a surgir em outros estados brasileiros, multiplicando-se cada vez mais e em uma velocidade cada vez maior.
            Mas diante do que foi exposto até o momento, cabe um questionamento que particularmente julgo pertinente: Quem é o psicopedagogo institucional? Qual a sua função?
A psicopedagogia institucional e suas intervenções
            Para Barni; Rodrigues (2010) a pergunta feita no final da introdução surge a partir de uma proposta de trabalho interdisciplinar.
            Nesse sentido, as autoras afirmam que o objetivo do psicopedagogo é:
conduzir a criança ou adolescente, o adulto ou a instituição a reinserir-se, reciclar-se numa escolaridade normal e saudável, de acordo com as possibilidades e interesses da sociedade que está inserida (BARNI; RODRIGUES, 2010).
            Mas não parece que fazer a intervenção sugerida seja algo fácil, afinal de contas cada instituição possui sua proposta pedagógica, e esta precisa ser respeitada.
            Segundo Barni; Rodrigues (2010) as intervenções precisam antes de qualquer coisa respeitar os valores essenciais, levando-se em conta, entre outras coisas, o local onde essa instituição escolar está.
            Para as autoras é preciso que o psicopedagogo entenda seu papel no que diz respeito a ser o elo entre a escola e a sociedade, adotando uma postura voltada para a parceria, que pode ser feita de maneira eficiente a partir da realização de reuniões, feiras, grupos de estudo ou outras formas de estabelecer essa ligação.
            Na visão de Fagali (1998) a ênfase do trabalho da psicopedagogia na atuação institucional, está centrada na construção de conhecimentos que devem ser desenvolvidos com o pensamento voltado a prevenção.
            Diversas são as frentes institucionais em que esse trabalho pode ser conduzido e realizado, sempre tendo em mente que o objetivo principal é evitar o desenvolvimento de possíveis problemas relacionados a aprendizagem, ou ainda de situações que de alguma maneira possam comprometer o processo educativo (FAGALI, 1998).
            Bossa (2007) propõe três níveis de intervenção psicopedagógica, observe cada um deles detalhadamente a seguir:
Primeiro nível: Nesse primeiro nível a atuação do psicopedagogo se daria junto aos processos educativos com o objetivo principal de evitar os possíveis problemas de aprendizagem. Essa ação aconteceria de fato a partir de uma proposta de trabalho que leve em consideração as questões didático-metodológicas, além da formação e da orientação dos professores envolvidos. Seria interessante ainda considerar um programa de aconselhamento aos pais;
Segundo nível: No segundo nível os objetivos principais são, ao mesmo tempo, diminuir e tratar os problemas de aprendizagem diagnosticados e que de alguma forma já se encontram instalados. A ideia aqui é elaborar um diagnóstico que apresente a realidade institucional, e a partir dos resultados observados, torna-se possível elaborar planos de intervenção. Deve-se ainda considerar no plano o currículo e o trabalho dos docentes, pois dessa forma se reduz a possibilidade de novos problemas ou transtornos;
Terceiro nível: O objetivo nesse nível é a eliminação dos transtornos que por ventura já estejam instalados. Para efeito de prevenção, o ideal seria que se busquem formas de evitar que novos transtornos apareçam, sejam eles decorrentes dos problemas detectados ou ainda novos problemas.
            Barni; Rodrigues (2010) lembram, no entanto que no que concerne a intervenção o papel do psicopedagogo vai muito além do diagnóstico psicopedagógico, sendo necessária uma leitura mais abrangente do todo.
            As autoras completam seu pensamento dizendo que essa leitura abrangente do todo está relacionada desde a construção ou reconstrução do projeto pedagógico até o momento de intervenção propriamente dita. Só há como fazer intervenções após um diagnóstico que apresente a real situação a ser enfrentada.
            Mas há uma fase anterior a intervenção, seja ela clínica ou institucional, que não deve de maneira nenhuma ser esquecida, que é a avaliação psicopedagógica, que de modo geral sempre precede uma queixa.
Assim diante das diversas possibilidades de intervenção psicopedagógica, podemos constatar que no Brasil os recursos mais utilizados para a avaliação na instituição, têm sido as entrevistas, as observações, os inventários, as pesquisas, as dinâmicas grupais e em especial os jogos pedagógicos (PERES; OLIVEIRA, 2007).
            Todos os sintomas percebidos e registrados em uma queixa, a priori originam-se das observações desencadeadas na própria instituição (BARBOSA, 2001).
            Mas as avaliações e as intervenções não são iguais em outros países, na Argentina, por exemplo, a prática utilizada pelo psicopedagogo, tanto na intervenção clínica quanto na institucional, diversos testes que são utilizados como instrumentos para avaliar o aluno, porém, o ponto de referencia utilizado para o atendimento em qualquer circunstância baseia-se fundamentalmente na família e na escola (PERES; OLIVEIRA, 2007).
Peres; Oliveira (2007) explicam porque o processo na Argentina funciona a partir de entrevistas com os pais, que tem como objetivo conhecer o histórico de vida do aluno, e nesse caso os pais constituem peça fundamental no entendimento das relações que se encontram entre essas histórias.
            Com relação às entrevistas realizadas com os docentes, outra parte do processo argentino, as autoras informam que o objetivo aqui é colher informações sobre o processo ensino-aprendizagem, colher maiores informações sobre a proposta da instituição, sua metodologia, a avaliação, o material didático disponível e utilizado e principalmente entender como funcionam as relações professor versus alunos e também entre os próprios alunos.
            Já a entrevista inicial com o próprio aluno, parte final do processo realizado no país vizinho, tem por objetivo, entre outras coisas, poder levantar hipóteses sobre os comportamentos, relacionamentos, interesses, e até as possibilidades de se manter em silêncio em face de questões mais polêmicas ou que os alunos simplesmente ou por algum motivo prefiram não responder (PERES; OLIVEIRA, 2007).
            As autoras informam ainda que o psicopedagogo argentino também faz uso de alguns instrumentos específicos de avaliação, que também possibilitarão nortear as possíveis propostas de intervenções psicopedagógicas, por exemplo, teste de inteligência, provas de nível de pensamento também conhecidas como piagetianas, avaliação do nível pedagógico, avaliação perceptomotora, testes projetivos, testes psicomotores entre outros.
            Quando se observa os diferentes tipos de recursos disponíveis e utilizados na Argentina em comparação com a realidade psicopedagógica disponível no Brasil, é possível perceber que ainda há muito que avançar por aqui.
            Peres; Oliveira (2007) apontam para o que talvez possa ser considerada a maior diferença relacionada a avaliação e intervenção pedagógica entre os dois países que é a formação do psicopedagogo.
            Para as autoras, os cursos de formação para psicopedagogos na Argentina são montados com disciplinas comuns nos dois primeiros anos dos cursos de psicologia e psicopedagogia.
            Outro diferencial apontado pelas autoras é o fato de que os currículos dos cursos de psicopedagogia disponibilizam uma carga horária bastante significativa no que diz respeito a disciplinas técnicas de diagnóstico psicopedagógico, diagnóstico psicopedagógico institucional, intervenção psicopedagógica em instituições escolares, entre outras disciplinas.
Isto, dentre outros fatores, favorece a possibilidade da liberação do o uso de testes tanto para os psicólogos como para os psicopedagogos argentinos, além de propiciar uma melhor possibilidade de preparação para o exercício profissional (PERES; OLIVEIRA, 2007).
As autoras completam seu raciocínio informando que aqui no Brasil os testes psicológicos, de inteligência, projetivos, entre outros utilizados para avaliação, só podem ser realizados por psicólogos.
No Brasil não é permitido ao psicopedagogo recorrer a muitos dos instrumentos que são de uso do psicólogo. O psicopedagogo, que não tem formação em psicologia, quando a situação requer, solicita ao psicólogo ou, dependendo do caso, a outros profissionais (neurologistas, fonoaudiólogos, psiquiatras), habilitados e de sua confiança, as informações necessárias para completar o seu diagnóstico (BOSSA, 2007).
Psicopedagogia na Argentina e no Brasil - aspectos históricos
Segundo Gonçalves (2007) foi no final dos anos 60 que o trabalho entre psicopedagogos e as instituições de ensino, e a relação que havia entre psicólogos e pedagogos influenciou significativamente a atuação psicopedagógica em profissionais argentinos.
A graduação em psicopedagogia passou a existir na Argentina há mais de 30 anos, criada na Universidade de Buenos Aires (UBA). Deste modo, Buenos Aires foi a primeira cidade argentina a oferecer o curso de psicopedagogia (BOSSA, 2007).
Na prática, a atividade psicopedagógica teve inicio muito antes da criação do curso (GONÇALVES, 2007). Para a autora a atividade surgiu quando profissionais com outras formações perceberam a lacuna que precisa ser preenchida, porém não por psicólogos muito menos por pedagogos, e o início se deu a partir da reeducação, cujo objetivo pelo menos a priori era resolver os fracassos escolares.
A psicopedagogia passa a despertar a atenção de vários países que, preocupados com os altos índices de fracassos escolares passam a buscar novas alternativas de trabalho. Dentre estes países, na Argentina, a psicopedagogia tem recebido um enfoque especial, sendo considerada uma carreira profissional (PERES, 1998).
            Dessa forma, a psicopedagogia na Argentina teve origem como conhecimento empírico, devido à necessidade observada naquele momento de atender crianças que apresentavam algum problema de aprendizagem escolar (GONÇALVES, 2007).
            No Brasil, acredita-se que a primeira experiência psicopedagógica tenha ocorrido em 1958:
A primeira experiência psicopedagógica no nosso país ocorreu em 1958, com a criação do Serviço de Orientação Psicopedagógica (SOPP) da “Escola Guatemala” na então Guanabara. O SOPP tinha como meta desenvolver a melhoria da relação professor-aluno e criar um clima mais receptivo para a aprendizagem, aproveitando para isso as experiências anteriores dos alunos (PERES, 1998).
            Gonçalves (2007) informa que na década de 70, alguns profissionais preocupados com os altos índices de repetência e de evasão escolar em nosso país, têm buscado fundamentação para entender quais são as causas e as intervenções dos problemas educacionais que de alguma forma têm relação com o fracasso escolar.
            A autora prossegue afirmando que, desde a década de 80 até os dias de hoje o fracasso escolar passou a ser visto também como problemas de ensinagem, e não mais apenas problemas de aprendizagem.
            As contribuições trazidas para o Brasil chegaram de diferentes maneiras, por exemplo, de palestrantes vindos da Argentina e da França tiveram sua parcela de contribuição, mas professores que de alguma forma tiveram acesso a cursos voltados para experiência psicopedagógica voltada para a educação também tiveram sua parcela de contribuição. (GONÇALVES, 2007).
            Quase vinte anos após início das práticas pedagógicas no Brasil, mais precisamente em 1979, surge na cidade de São Paulo o primeiro curso Lato Sensu em Psicopedagogia, no Instituto Sedes Sapientiae. Isso por si só demonstra como no Brasil a área de psicopedagogia é relativamente nova se analisada dentro de um contexto histórico.
            Mas há vários anos muitos estudiosos buscam tentar entender os problemas educacionais no Brasil, problemas esses que cada vez mais têm sido objeto de pesquisa para esses pesquisadores, sendo que uma boa parte deles têm focado seus esforços especificamente no tema “fracasso escolar”, sendo que alguns deles, ainda hoje, afirmam que as causas principais dos fracassos escolares são problemas individuais dos próprios alunos (PERES, 1998).
            Patto (1990) talvez seja a educadora brasileira que mais tenha se preocupado com as causas e com as consequências do fracasso escolar em nosso país, tanto que em seus estudos a autora constatou que nas últimas décadas, a educação no Brasil tem se caracterizado por uma tendência de atribuir aos alunos e a fatores individuais, seus fracasso e seus sucessos.
            Dessa forma, os estudiosos brasileiros sobre o tem têm abordado com ênfase a importância e a necessidade de uma reflexão mais aprofundada sobre o tema, mais precisamente sobre a prática e sobre as questões relacionadas ao desenvolvimento cognitivo, afetivo e psicomotor, todas presentes no processo ensino-aprendizagem, com o objetivo de conseguir encontrar alternativas para o sucesso dos alunos (PERES, 1998).
Nesse clima de interesse por alternativas de sucesso escolar associado às influências de experiências educacionais, bem sucedidas, desenvolvidas em outros países e, que a partir dos anos 60 passaram a ser mais conhecidas e divulgadas no Brasil é que vão ocorrer as primeiras iniciativas de atuação psicopedagógica no nosso país (PERES, 1998).
Resumindo, psicopedagogia é...
            É possível encontrar diversas definições para o tema quando se consulta a bibliografia especializada sobre psicopedagogia. Peres (1998) apresenta algumas que parecem ser bastante significativas e pertinentes, por essa razão serão apresentadas algumas delas a seguir:
1. Psicopedagogia é a aplicação da psicologia experimental à pedagogia (NOVO DICIONÁRIO AURÉLIO DA LÍNGUA PORTUGUESA, 1985);
2. Psicopedagogia é a área que estuda e lida com o processo de aprendizagem e com os problemas dele decorrentes, recorrendo aos conhecimentos de várias ciências, sem perder de vista o fato educativo, nas suas articulações sociais mais amplas (SCOZ, 1994);
3. A psicopedagogia é uma área interdisciplinar de prestação de serviços, por intermédio da qual psicólogos, fonoaudiólogos, educadores e outros profissionais , desde a perspectiva de sua formação básica, buscam ajudar crianças ou adultos em suas dificuldades de aprendizagem ou em seus propósitos de aprofundarem aspectos de seus conhecimentos que a escola, como instituição, não pode ou não quis cuidar (ALLESSANDRINI, 1996).
            Com base nas definições e a partir de tudo que foi visto até o momento, Peres (1998) deixa claro que os estudiosos do tema tendem frequentemente a definir a psicopedagogia como sendo uma área de estudo interdisciplinar, com várias ciências como, por exemplo, pedagógica, psicológica e fonoaudiológica integradas, e que está a serviço do desenvolvimento do processo ensino-aprendizagem.
Método
Segundo Hubner (2001, p. 41) o método pode ser descrito como uma seção fundamental em qualquer projeto de pesquisa e teses em geral. Ainda segundo a autora, no método deve ser explicitada a lógica da ação a ser seguida pelo pesquisador, além dos principais fenômenos a serem estudados, suas ramificações, inter-relações e a forma de se obtê-los.
            O delineamento dessa pesquisa se deu a partir de pesquisas bibliográficas realizadas em livros e artigos, pesquisa documental e revistas científicas.
            A pesquisa bibliográfica desenvolve-se a partir de material já elaborado, constituído principalmente de livros e artigos científicos, com a finalidade de ampliar e aprofundar os conhecimentos sobre o objeto estudado (GIL, 2008).
Participantes
Por se tratar de uma pesquisa envolvendo apenas levantamento bibliográfico, não houve a participação de pessoas nesse estudo.
Procedimentos
Os dados foram coletados através de levantamento bibliográfico a partir da utilização de livros, artigos, monografias, teses e dissertações adquiridas de fontes seguras de consulta (Medline, Lilacs, Bireme, Scielo, Google Acadêmico, Biblioteca das Universidades Federais, etc.).

Discussão: Os desafios da psicopedagogia
            Antes de prosseguir é importante lembrar que a psicopedagogia ainda é um campo de estudo relativamente novo no Brasil, mas que mesmo assim vem passando por diversos desafios (PERES, 1998).
            Gonçalves (2007) lembra que atualmente no Brasil, com raras exceções, a formação de psicopedagogos se da basicamente a partir de cursos de Pós Graduação Lato Sensu ofertados por universidades públicas e privadas.
            A autora informa também que desde o início do século XXI, existe no Brasil além dos mais de 120 cursos Pós Graduação Lato Sensu em Psicopedagogia:

  • Universidade Estácio de Sá, Rio de Janeiro: Curso superior de curta duração (dois anos);
  • Universidade de Santo Amaro, São Paulo: Mestrado em Psicopedagogia com duração de dezoito a vinte e quatro meses, iniciado em 1999;
  • Universidade de Santo Amaro, São Paulo: Doutorado em Psicopedagogia com duração de três a quatro anos, iniciado em 2001.

A formação do psicopedagogo sempre esteve condicionada no Brasil aos cursos de Pós Graduação Lato Sensu, e foi somente a partir de 2005 que três cursos de graduação passaram a ser oferecidos em São Paulo e no Rio Grande do Sul (GONÇALVES, 2007).
Um dos principais desafios da psicopedagogia reside na própria formação do psicopedagogo, pois, especialmente com a ampliação do campo de atuação para as instituições, a procura pelo curso aumentou muito e, consequentemente, para acompanhar a demanda está ocorrendo uma abertura indiscriminada de cursos, em diversas regiões do Brasil, vários deles com qualidade duvidosa (PERES, 1998).
            Atualmente existem algumas prefeituras buscando profissionais com especialização em psicopedagogia, como é o caso das prefeituras de Ourinhos em São Paulo e da prefeitura de Londrina no Paraná (GONÇALVES, 2007).
            Para a autora, esse fato corrobora a ideia que a partir da criação da Associação Brasileira de Psicopedagogos, a psicopedagogia tem ganhado força também nos meios acadêmicos, além do reconhecimento público.
A psicopedagogia no Brasil, conta desde 1980 com a ABPq (Associação Brasileira de Psicopedagogia) que congrega profissionais da área. Propõe-se uma atuação científico-cultural, e pela ausência de um sindicato, para sua representação política desses profissionais, esta também tem assumido papel político, em especial frente à questão da legalização da profissão (STROILI, 2001).
Considerações Finais
Apesar de todos os desafios apresentados nesse estudo, cada vez mais a psicopedagogia vem conquistando seu espaço no cenário educacional nacional, pois se trata de uma alternativa de reflexão e de ação, que busca por melhorias no processo ensino-aprendizagem, o que de certa forma contribui para que a situação educacional brasileira atual seja revertida.
Para Bossa (2007) a psicopedagogia deve ter uma forma específica de atuação, e tem como compromisso a contribuição na compreensão do processo de aprendizagem, além da identificação dos fatores que de alguma forma facilitam ou comprometem o processo.
            A autora complementa seu pensamento dizendo que a psicopedagogia no Brasil tornou-se a área responsável pelo estudo do processo de aprendizagem e de suas dificuldades, e que por isso, dentro de uma ação profissional, deve recorrer sempre que possível a outros campos do conhecimento, com o objetivo de integrá-los e combiná-los.
Talvez o maior desafio a ser enfrentado segundo Peres (1998) diz respeito a construção da identidade do psicopedagogo, além de delimitar seu campo de atuação. A autora acredita que dessa forma a psicopedagogia não se caracterizará como um modismo, e assim ela poderá se comprometer com os problemas reais vivenciados no dia a dia do processo ensino-aprendizagem.
Para a autora isso será possível a partir de propostas que apresentem alternativas didático-metodológicas que tenham como objetivo contribuir com o processo de redução dos índices de exclusão social e de fracasso escolar, que ainda são bastante altos.
De todos os desafios aqui apontados e de outros existentes, talvez o maior desafio no nosso país seja a popularização da psicopedagogia. Seria fundamental que ela deixasse de ser restrita a clínicas e instituições de ensino particulares, ou seja, a uma determinada classe social e se tornasse uma prática comum, disponível também em instituições públicas, portanto, à disposição dos diversos segmentos sociais (PERES, 1998).
O que se espera a partir de então é que esse estudo possa trazer maiores contribuições para o tema, e como sugestão final para os pesquisadores fica o direcionamento quanto às questões metodológicas.
Não se pretendeu aqui esgotar o assunto, e por esse motivo sugere-se que novas pesquisas sejam feitas, mas seria interessante e importante que os estudos futuros contemplassem um número significativo de participantes para que a partir de suas contribuições, pudessem ser obtidos resultados que apresentassem uma melhor interpretação dos assuntos aqui tratados.
Referências
ALLESSANDRINI, C. D., Oficina criativa e psicopedagógica. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1996
BARBOSA, L. M. S., A psicopedagogia no âmbito da instituição escolar. Curitiba: Expoente. 2001
BARNI, E. M.; RODRIGUES, K. G., Intervenção psicopedagógica institucional no ensino fundamental. 2º congresso internacional de educação. Ponta Grosa – Paraná, 2010
BOSSA, N. A., A Psicopedagogia no Brasil: contribuições a partir da prática. RS, Artmed, 2007
CERVO, A. L.; BERVIAN, P. A., Metodologia científica. 4ª edição, São Paulo: Makron Books, 1996
CERVO, A. L.; BERVIAN, P. A.; DA SILVA, R., Metodologia científica. 6ª ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2007
FAGALI, E. Q., Por que e como a psicopedagogia institucional?. Rev. da As oc. Bras. Psicopedagogia, 17(46), 37-41. 1998
GIL, A. C., Como elaborar projetos de pesquisa. 5ª Ed. São Paulo: Atlas, 2008
GONÇALVES, L. dos S., Psicopedagogia: formação, identidade e atuação profissional. Faculdade de Educação da PUC-Campinas, Campinas, 2007
HOLANDA, A. B., Novo dicionário Aurélio da língua portuguesa. São Paulo: Nova Fronteira, 1985
HUBNER, M. M., Guia para elaboração de monografias e projetos de dissertação de mestrado e doutorado. São Paulo: Pioneira Thompson Learning, Mackenzie, 2001
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MASINI, E. F. S., Formação profissional em psicopedagogia: embates e desafios. Revista de Psicopedagogia, 23 (72): 248-59, 2006
PATTO, M. H., A produção do fracasso escolar. São Paulo. T.A.QUEIRÓZ, 1990
PERES, M. R., Psicopedagogia: aspectos históricos e desafios atuais. Revista de Educação, PUC-Campinas, v.3, n. 5, p. 41-45, novembro, 1998
PERES, M. R.; OLIVEIRA, M. H. M. A., Psicopedagogia: limites e possibilidades a partir de relatos de profissionais. Ciências & Cognição, Vol 12: 115-133, 2007
SANTOS, D. M. dos, Como a psicopedagogia pode contribuir no tratamento das crianças autistas. Monografia ao Instituto A Vez do Mestre – Universidade Candido Mendes. Rio de Janeiro, 2009
SCOZ, B., Psicopedagogia e realidade escolar: o problema escolar e de aprendizagem. Petrópolis, RJ: Vozes, 1994
STROILI, M. H. M., Psicopedagogia: identidade de uma especialidade em construção. Revista psicopedagogia, v. 19, n. 56, p. 14-16, outubro, 2001


Recibido: 19/12/2014 Aceptado: 15/02/2015 Publicado: Febrero de 2015

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