Revista: Caribeña de Ciencias Sociales
ISSN: 2254-7630


ANÁLISE DAS CONTRIBUIÇÕES, INFLUÊNCIAS E RELEVÂNCIA DE JAFAR JAFARI PARA O ESTUDO DO TURISMO

Autores e infomación del artículo

Otávio Bezerra de Sena Júnior*

Kerlei Eniele Sonaglio**

Centro Universitário Facex, Brasil

otaviosena@hotmail.com

Resumo: Ao longo do tempo, percebe-se que cada vez mais a educação em turismo tem se revelado como essencial no desenvolvimento da atividade turística voltada para a gestão dos recursos humanos desse setor, sendo uma ferramenta essencial que se reflete no crescimento sustentável da atividade e na qualidade da mão-de-obra. Nesse contexto, se faz necessária uma melhor compreensão dos modelos de educação e produção de conhecimento no turismo. Para tanto, o presente artigo trabalha essencialmente com um dos precursores no estudo da educação em turismo- Jafar Jafari. Os objetivos do estudo: analisar as suas principais publicações, qual o paradigma teórico que ele se enquadra e as suas contribuições mais significativas no âmbito do turismo. Para tanto, foi utilizado o método bibliográfico de investigação, tendo como base os periódicos indexados, livros e os principais textos do Jafari. Como resultados, destaca-se o legado de Jafari na proposição de seu modelo multidisciplinar para o estudo do turismo, bem como a proposta das cinco plataformas de conhecimento em turismo.

Palavras-chave: educação em turismo, modelo multidisciplinar, plataformas de conhecimento, recursos humanos, paradigma teórico.

Abstract: It is perceived over time that increasing tourism education has been shown to be essential in the development of tourism focused on the management of human resources in this sector, and is an essential tool that is reflected in the activity and sustainable growth in quality hand labor. In this context, it is necessary to better understand the models of education and knowledge production in tourism. Therefore, this article will work primarily with one of the pioneers in the study of tourism education-Jafar Jafari. The goals of this paper are to analyze their key publications, which the theoretical paradigm that it fits and their most significant contributions in the field of tourism. Therefore, was used the method of bibliographic research, based on the indexed journals, books and the main texts of the Jafari. As main results, we highlight the main contributions of the author to propose its multidisciplinary model for the study of tourism and the proposal of the five knowledge platforms for tourism.

Key-words: tourism education- multidisciplinary model- knowledge platforms- human resources- theoretical paradigm.

Resumen: Con el tiempo, es evidente que una mayor educación en el turismo ha demostrado ser esencial en el desarrollo del turismo centrado en la gestión de los recursos humanos en este sector y es una herramienta esencial que se refleja en el crecimiento sostenido de la actividad y mano de obra de calidad. En este contexto, es necesaria una mejor comprensión de los modelos de la educación y la producción de conocimiento en turismo. Por lo tanto, este artículo esencialmente trabaja con uno de los precursores en el estudio de la educación en la intemperie Jafar Jafari. Los objetivos del estudio: analizar sus principales publicaciones, que el paradigma teórico que cumple y sus contribuciones más significativas en el ámbito del turismo. Por lo tanto, se utilizó el método de investigación bibliográfica, basado en las revistas indexadas, los libros y los principales textos Jafari. Como resultado, existe el legado de Jafari en proponer su modelo multidisciplinario para el estudio del turismo, así como la propuesta de los cinco plataformas de conocimiento del turismo.

Palabras-clave: educación turística- modelo multidisciplinario- plataformas de conocimiento- recursos humanos- paradigma teórico.  

Para citar este artículo puede utilizar el siguiente formato:

Otávio Bezerra de Sena Júnior y Kerlei Eniele Sonaglio (2017): “Análise das contribuições, influências e relevância de Jafar Jafari para o estudo do turismo”, Revista Caribeña de Ciencias Sociales (mayo 2017). En línea:
https://www.eumed.net/rev/caribe/2017/05/jafar-jafari.html
http://hdl.handle.net/20.500.11763/caribe1705jafar-jafari


1 INTRODUÇÃO

Sabe-se que um dos fatores-chave para um retorno satisfatório e em longo prazo dos investimentos no desenvolvimento da atividade turística dependerá em grande parte da forma como se trabalha a qualificação da mão-de-obra do setor.
Isso se reflete especialmente nos países que mais dependem desse setor para movimentar a economia local, o que faz com que eles reconheçam a relevância de um olhar mais estratégico para o capital humano, visando o êxito da atividade.
Nesse sentido, dada a quantidade de divisas que podem advir dessa atividade, a gestão de recursos humanos se revela essencial para a competitividade dos destinos. Assim, pode-se dizer que o reconhecimento dessa importância está diretamente relacionado com o seu crescimento sustentável e a qualidade da mão-de-obra do setor.
Dentre os principais atores que fomentam a educação em turismo, merecem destaque: o governo, as universidades públicas e os setores da indústria. Tais instituições se utilizam dos mecanismos de formação e educação em turismo de uma forma que esteja em consonância com as necessidades do mercado.
Dessa forma, percebe-se a necessidade da identificação dos modelos de educação e da produção do conhecimento em turismo utilizado e suas principais características, na qual essa tarefa possa servir como norteador das melhores formas para se gerir os recursos humanos nessa atividade.
Nesse contexto um dos grandes estudiosos sobre educação em turismo é o professor Jafar Jafari, autor que iremos trabalhar nesse artigo, com o intuito de analisar as suas principais publicações, qual o paradigma teórico que ele se enquadra e as suas contribuições mais significativas no âmbito do turismo.
Para o alcance dos objetivos expostos, será utilizado o método bibliográfico de investigação, tendo como base os periódicos indexados, livros e os principais textos do autor em questão.

1.1 JAFARI: TRAJETÓRIA E PROPOSIÇÃO DO MODELO MULTIDISCIPLINAR

De origem muçulmana, Jafar Jafari é Ph. D. em Antropologia cultural (University of Minnesota, EUA), Mestre e Bacharel em Administração Hoteleira (Cornell University, EUA), Doutor Honoris Causa pela Universidade das Ilhas Baleares (Espanha), fundador da Academia para os Estudos do Turismo, editor da Enciclopédia do Turismo e fundador do Annals of Tourism Research, além deeditor de diversos periódicos internacionais.
  Em seu texto “The Study of Tourism: Anthropological and Sociological Beginnings”, Jafar Jafari comenta sobre a sua jornada através da exploração do turismo, reconhecendo a escassez da pesquisa na área (JAFARI, 2007).
Em sua dissertação de mestrado, Jafari aborda sobre o papel do turismo na transformação socioeconômica dos países em desenvolvimento (Jafari, 1973), contribuindo com as suas compreensões sociológicas do turismo. Nessa época, o estudo desta área era considerado passível de críticas ou não era dada a devida importância:

Lembro-me do quanto era divertido para o estudante de graduação na minha sala do campus ouvir que eu estava fazendo pesquisa sobre o turismo para a minha tese. Existiam alguns companheiros que também estavam escrevendo suas teses (alguns em nível de Ph. D.) sobre moscas e insetos, como os pássaros se acasalam, como os morcegos voam à noite, etc., nenhum deles era academicamente suspeito. Pode-se perguntar, por exemplo, porque a migração sazonal de pássaros poderia ser uma pesquisa séria, mas não sobre a migração temporária de pessoas, pois poderia ser feito os padrões de voos de gansos, mas não de turistas (...) (JAFARI,1973).

 Jafari teve de defender a legitimação do tema “turismo” como escolha para a sua tese. Além de ser considerado como um dos precursores do estudo do turismo, ao longo da sua trajetória ele propôs um estudo que identifica as fases (ou tendências do conhecimento em turismo) ao longo do tempo, que serão demonstradas mais adiante.
Essa proposição da subdivisão das plataformas de geração do conhecimento em turismo o levou a reconhecer a necessidade de se promover uma gama de perspectivas sobre este setor, especialmente sob a ótica dos aspectos não-econômicos e da abordagem multidisciplinar.
Logo após o seu ingresso na University of Wiscounsin at Stout (EUA), fundou um dos periódicos mais importantes no campo do turismo: o Annals of Tourism Research (1973). Em janeiro de 2008, Jafari saiu do posto de editor-chefe da revista e quem assumiu o posto desde então foi John Tribe. Atualmente ele segue o posto de professor nessa mesma universidade, na escola de turismo e hospitalidade.
Uma das principais contribuições para o estudo do turismo por parte desse autor foi a abordagem multidisciplinar, publicada originalmente em 1977, em um artigo nos Annals of Tourism Research, e aperfeiçoada em 1981, em parceria com Ritchie, no mesmo periódico. Segundo Jafari, essa abordagem seria fundamental para a educação em turismo. Para tanto, aponta que a melhor definição para o turismo seria:

Turismo é o estudo do homem longe de seu habitat usual, da indústria que responde as suas necessidades e dos impactos que ambos ele e a indústria têm no meio ambiente sociocultural, econômico e físico da localidade receptora (JAFARI, 1981)

Hunziker e Krapf (1942) já identificavam que, por ser um fenômeno, o turismo dever ser estudado pelas mais diferentes disciplinas científicas. Uma clara proposta de multidisciplinaridade nos estudos turísticos, já nessa época (PANOSSO NETTO, 2011).
Os temas que refletem a escolha das disciplinas e de suas abordagens aplicadas ao turismo representam o avanço do estudo de Jafari na medida em que estuda o homem em viagem, da indústria, do ambiente no qual ocorre o turismo dos recursos naturais e dos feitos pelo homem e da relação entre os turistas e os residentes (PANOSSO NETTO, 2003).
Com relação a essa escolha das disciplinas e da sua abordagem, o autor se fundamenta nos pressupostos de que “o turismo por sua natureza penetra cada aspecto da vida”, e que “tradicionalmente, cada disciplina tendo um interesse no turismo tem focado nele aspectos mais particulares ou funções do sistema total” (JAFARI, 1981).
Propõe também que cada uma dessas disciplinas podem ser úteis e emprestarem as suas teorias e técnicas na compreensão do turismo, como a economia, a sociologia, a psicologia, a geografia e a antropologia (PANOSSO NETTO, 2003).
Para facilitar a compreensão do quadro explicativo de como se dá a produção do conhecimento em turismo, primeiramente serão apresentadas as formas pelas quais se podem estudar cientificamente um objeto, tendo como padrão as disciplinas que o estudam:

Para Jafari (1981), a melhor forma de se estudar o turismo seria por meio da transdisciplinaridade, mas segundo ele, devido às estruturas limitadas das universidades e a falta de visão dos docentes da área, essa abordagem se torna de difícil aplicação. Prefere, dessa forma, adotar as abordagens multi e interdisciplinar, por entender que se adequam mais facilmente às estruturas institucionais existentes.
Desse modo, o modelo que demonstra a produção do conhecimento em turismo é ilustrado da seguinte forma:

De acordo essa proposta do seu modelo, composto por 18 disciplinas, o turismo estaria no centro dos estudos e ao seu redor estariam as ramificações dessas disciplinas, provenientes dos mais diversos departamentos (tais como psicologia e administração, por exemplo). Para ele, essa abordagem seria fundamental para a educação em turismo.
Um problema apontado no mesmo artigo da proposição do modelo seria a geração de um novo paradigma em turismo, com conceitos emprestados das mais diversas disciplinas. Desse modo, Jafari faz referência a um artigo de Leiper (1979), em que afirma a necessidade da criação de uma disciplina do turismo, pois segundo Leiper essa abordagem multidisciplinar atua como um entrave para os estudos do turismo.
Outro ponto que merece destaque seria “ignorar a questão crítica da interdependência do turismo com os campos correlatos de recreação e lazer. Pareceria que a causa dessa omissão é uma tendência continuada de ver o turismo primariamente de uma perspectiva comercial, ou como um tipo de treinamento vocacional” (JAFARI; RITCHIE, 1981).
Na visão de Jafari, o estudo do turismo deve estar atrelado à “indústria de viagens”, não devendo abordar simplesmente pelo lado abstrato, já que uma abordagem do fenômeno apenas dessa forma seria considerada inadequada. Outro ponto crítico seria a questão da relação entre o ensino e pesquisa, que devem estar estritamente vinculados um ao outro. Caso isso não ocorra, esses autores revelam que se corre o sério risco dos formadores da área de auto-denominarem “educadores” ou “pesquisadores” em turismo, quando na realidade não são.
Sugere que o turismo seja incluído em um departamento dessa grandeza, não sendo possível sequer criar uma disciplina dessa magnitude. Nessa situação, propõe que seja alocado em um departamento ou faculdade de ciências sociais (PANOSSO NETTO, 2003).

1.2 AS PLATAFORMAS DE CONHECIMENTO EM TURISMO

Quando um campo novo de estudos evolui para a maturidade, são incluídos novas fontes de dados que apontam para uma evolução progressiva e denotam a mudança desejada nesse campo (Jafari, 2000). Nesse sentido, esses progressos podem levar os pesquisadores a campos de conhecimento inexplorados.
Para Jafari (2000), são essas acumulações de progressos que podem levar ao que ele chama de cientifização do turismo. Dentre os marcos que apontam para esse processo de amadurecimento, o autor destaca:
- A criação do periódico Annals of Tourism Research , em 1973, com ênfase nos aspectos sociais do turismo;
- A fundação da academia internacional para o estudo do turismo (International Academy for the Study of Tourism1 );
- A publicação da Enciclopédia do Turismo (Encyclopedia of Tourism), sendo Jafar Jafari o editor-chefe da publicação.
Nesse contexto, outra importante contribuição de Jafari para o estudo do turismo foi a elaboração de um estudo sobre as tendências do conhecimento em turismo. Publicado originalmente em 1994, ele foi atualizado por ocasião do VII Congresso Latino-Americano de Investigação Turística, ocorrido em Guadalajara, no México (ocasião em que foi incluída a plataforma pública).
A primeira plataforma seria a de defesa (advocacy platform), ocasião em que se considerava que o turismo geraria divisas, empregos e movimentaria a economia. Percebe-se dessa forma uma ênfase apenas nos aspectos positivos da atividade. Essa plataforma foi bastante disseminada pela mídia em geral, além de livros e documentos oficiais da própria OMT e de outras associações.
Num segundo momento temos a plataforma de advertência (cautionary platform), ocasião em que se destaca os efeitos nefastos do turismo, com a descaracterização da cultura local, degradação do meio ambiente e conflitos com a população autóctone. Sua disseminação se deu por intermédio de revistas não especializadas em turismo.
A terceira plataforma seria a de adaptação (adaptancy platform), pois já se encontravam em uma fase em que já haviam sido explicitadas as vantagens e desvantagens do turismo, e dessa forma era chegada a hora de se escolher qual forma de turismo seria a mais adequada. Foi nessa fase que surgiram novas tipologias de turismo, como o ecoturismo, o de aventura o rural e o cultural, dentre outros.
O enfoque da quarta plataforma é o conhecimento (knowledge-based platform). Foi nessa ocasião que Jafari percebeu que fora criado um corpo teórico de conhecimento em turismo, com a abertura das instituições de ensino superior para esse tema. Foi nesse período que foram organizados os eventos acadêmicos e criado os periódicos nessa área e publicações de livros relacionados ao turismo, momento e que passou-se a utilizar a abordagem multidisciplinar para o estudo do turismo.
Para fins explicativos, a tabela-resumo abaixo sintetiza essas quatro primeiras fases do conhecimento em turismo:

Essas quatro primeiras fases foram elaboradas por Jafari em 1994, sendo atualizada em 2005, com a inclusão da plataforma pública (public platform). É nessa fase que a atividade começa a ser encarada como um poderoso fenômeno sociopolítico, demonstrando sua reconhecida função pública e importância (JAFARI, 2005). Foi também nesse período que:
O turismo ganhou a discussão do público não especializado, devido à pneumonia asiática (Sars) e aos atentados terroristas de 11 de setembro de 2001 e de 11 de março de 2003. Por fim, a Organização Mundial do Turismo (OMT) foi transformada em uma agência das Nações Unidas (UN), ressaltando ainda mais a importância do turismo na sociedade atual (PANOSSO NETTO, 2008).

Cabe ainda observar que essa subdivisão em fases pode sugerir que uma substituiu a outra ao longo do tempo, quando na realidade nenhuma delas substitui as demais, já que as cinco seguem coexistindo na atualidade (JAFARI, 2005).

2 CRÍTICA AO MODELO MULTIDISCIPLINAR- TRIBE

Em seu artigo The Indiscipline of Tourism, Tribe focou na análise crítica do modelo multidisciplinar proposto por Jafari e Ritchie, sugerindo o seu modelo interdisciplinar como o mais adequado para o estudo do turismo, e que segundo ele explicaria melhor a geração do conhecimento nesse campo.
Suas principais críticas repousam principalmente nas questões epistemológicas do turismo, já que o conceito de disciplina tem o significado de ciência, que possui método de investigação e o objeto de pesquisa já constituído e que se tornou um paradigma para a sua comunidade científica (PANOSSO NETTO, 2008).
Por paradigma Kunn (2007) entende que seria aquilo que os membros de uma comunidade científica partilham, pois:

(...) tais realizações seriam as mais aceitas por uma determinada comunidade científica e são as que norteiam as suas práticas posteriores, fundamentando-as e definindo os problemas legítimos a serem enfrentados pelas gerações futuras. A essas realizações que partilham dessas características e que são aceitas por um determinado grupo duradouro que as partilham (KUNN, 2007)

Segundo Tribe (1997), a relevância do estabelecimento de uma epistemologia do turismo recai principalmente nos seguintes pontos: a) a promoção de uma revisão sistemática do conhecimento que é realmente válido e legítimo no turismo e b) mapeia a fronteira dos estudos do turismo que ainda não tem um consenso entre os pesquisadores.
Sabe-se que o conceito de campo é divergente ao de ciência, já que esse primeiro seria objeto de estudos de outras ciências. Entretanto, Jafari não distinguiu esses termos, pois incluiu temas como turismo rural e desenvolvimento turístico como sendo ciências, e não objetos de estudo (PANOSSO NETTO, 2008).
Dessa forma, Tribe elucida que o turismo não pode ser visto como uma disciplina pelas seguintes razões:

  1. É razoável afirmar que o estudo do turismo comporta diversos conceitos. Apesar disso, esses conceitos dificilmente serão exclusivos desse campo.
  2. Os conceitos de turismo formam uma cadeia indistinta. Desse modo, tornam-se fragmentados e para a sua compreensão necessitam que sejam compreendidos a partir da lógica de sua disciplina de origem;
  3. O estudo do turismo não possui critérios próprios de estudo, valendo-se de outros critérios de verdade, sendo esses provenientes de outras disciplinas.

Um dos pontos cruciais que completam essa reflexão é a questão da necessidade de um corpo teórico coeso e uma teoria interna ou unidade conceitual entre elas, e segundo uma pronta realiança nas/com disciplinas contributórias (Tribe, 1997). Com base nessas ideias, percebe-se que o turismo ainda carece de uma teoria consistente que agregue seus principais teorizadores.
É nesse ponto que Tribe afirma que o turismo não é uma ciência, pois segundo ele “para chegar ao conhecimento o turismo precisa usar a ciência, mas para isso deve se perceber que muitas coisas no fenômeno turístico não são cientificamente quantificáveis”.
Em seu artigo, Tribe concorda com a abordagem interdisciplinar do turismo, mas observa fragilidades na abordagem multidisciplinar de Jafari e Ritchie, que segundo ele poderia causar certa confusão (Tribe, 1997), já que na análise de Jafari:

(...) sociologia, economia e psicologia representam disciplinas; por sua vez, parques, recreação, educação, hotelaria e agricultura claramente não são disciplinas. Parques e recreação, transporte e educação representam alguma coisa a ser estudada, e não um modo de estudo (TRIBE, 1997, p.649).

Com o intuito de superar essa deficiência no modelo de Jafari e Ritchie, Tribe sugere que seja inserida em um círculo central os problemas a serem estudados (ou os objetos de estudo/campos) e no círculo externo os métodos de estudo (as disciplinas, com seus métodos próprios). Dessa forma, não haveria essa confusão por causa do desnivelamento entre áreas de estudos de diferentes níveis, como fora dito por Jafari e Ritchie (PANOSSO NETTO, 2011).
Tribe entende que o turismo deve ser estudado com dois campos. O primeiro seria o dos negócios turísticos (TF1), com ênfase nos aspectos comerciais da atividade, em que a identidade

(...) é emprestada da maturidade crescente do campo dos estudos econômicos, o qual tem tentado agora construir um território particular. O estudo dos aspectos comerciais do turismo divide território similar com os estudos econômicos, mas em um contexto turístico (TRIBE, 1997, p.649).

O segundo campo seria o dos aspectos não comerciais do turismo (TF2). Por ser mais atomizado, necessita de uma base que faça interligação com o turismo. Esse campo abrange as áreas de impactos ambientais, sociais, percepções turísticas e etc.A somatória do estudo dos negócios turísticos (TF1) com os não comerciais do turismo (TF2) resultaria no campo do turismo (TF) que é representado pela expressão: TF1+TF2= TF.
A explicação do seu modelo consiste basicamente é demonstrado na figura abaixo. O círculo de fora representaria as disciplinas e suas subdivisões que estudam o turismo através de seus métodos próprios. No centro estaria os dois campos do turismo (TF1 e TF2).  E entre esse círculo de fora e o do meio existe uma zona purificação, denominada “zona k”, que é justamente onde os conceitos de turismo são refinados. Elas representariam a interface entre as disciplinas com os campos do turismo (PANOSSO NETTO; TRIGO, 2003).

Segundo Tribe, quando a economia entra em contato com o turismo surge o estudo do efeito multiplicador do turismo, por exemplo. Dessa forma, a zona “k” representaria a área que abrangeria tanto a atividade multidisciplinar como a interdisciplinar (TRIBE, 1997).

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Como visto, dentre as suas principais contribuições de Jafari para o campo do turismo, destaca-se a abordagem multidisciplinar para o seu estudo.
Outra importante contribuição do Jafari para os estudos do turismo foi a proposição das cinco plataformas de geração de conhecimento no turismo, ou tendências do conhecimento nesse campo de estudos.
Como contribuições práticas, percebemos que ele influenciou diversos autores brasileiros, como o próprio Trigo e a Ansarah. Além disso, ao se analisar as disciplinas propostas por ele em seu modelo interdisciplinar, podemos inferir que ele influenciou fortemente nas estruturas curriculares dos cursos de turismo no Brasil.
Com relação às críticas aos seus estudos/contribuições, as principais residem principalmente nas questões epistemológicas do turismo. Como já fora discutido, isso se deve muito provavelmente pelo fato de que o conceito de disciplina tem o significado de ciência, possuindo um método próprio de investigação e objeto de pesquisa que já se tornou um consenso, ou seja, um paradigma, para a comunidade científica.
Nesse sentido, sendo divergentes os conceitos de campo de estudos e ciência, o turismo ainda não seria uma ciência, mas um objeto de estudos das outras ciências (pela própria fragmentação de seus estudos e o corpo teórico pouco coeso).
Infelizmente, Jafari não distinguiu esses aspectos, afirmando que o turismo rural e o desenvolvimento turístico seriam disciplinas, quando na verdade são objetos de estudo, por exemplo. Contudo, são notórias as suas contribuições para o turismo, apesar de sua abordagem interdisciplinar causar certa confusão.
Por fim, diante de tudo que foi exposto, apesar de considerar que esse autor perpassa pelas três fases de estudo do turismo (já que apesar de considerar a abordagem transdisciplinar a mais adequada para o estudo do turismo, não deixando clara a sua linha teórica) podemos enquadrá-lo no paradigma sistêmico e positivista.
Sistêmico pelo fato de ser um dos pioneiros na tentativa de sistematização e explicação do estudo do turismo, através do modelo multidisciplinar, com argumentos ritmados pela especificidade interdiscursiva do turismo. E positivista na medida em que sugere o turismo como um campo científico em progresso.

REFERÊNCIAS

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KUNN, Thomas Samuel. (2007). A estrutura das revoluções científicas. Tradução de Beatriz Vianna Boeira e Nelson Boeira. São Paulo: Perspectiva.

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MEIRA, Fábio Bittencourt .; MEIRA, Mônica Birchler Vanzella. (2007). Considerações sobre um campo científico em formação: Burdieu e a “nova ciência” do turismo. Cadernos EBAPE.BR (FGV), v.4, n°4, p. 1-18.

PANOSSO NETTO, Alexandre. (2011). Filosofia do turismo: teoria e epistemologia. São Paulo: Aleph.

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PANOSSO NETTO, Alexandre; LOHMANN, Guilherme. (2008). Teoria do turismo: conceitos, modelos e sistemas. São Paulo: Aleph.

PANOSSO NETTO, Alexandre; TRIGO, Luiz Gonzaga Godoi. (2003) Reflexões sobre um novo turismo: política, ciência e sociedade. 2. ed. São Paulo: Aleph.

TRIBE, John. (1997). The indiscipline of tourism. Annals of Tourism Research, v. 24, n. 4, p. 638-657.

* Mestre e Bacharel em Turismo pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Professor universitário e de nível técnico (Administração, Recursos Humanos, Logística, Marketing, Lazer e Eventos)- Centro Universitário Facex (UNIFACEX) e Faculdade Natalense de Ensino e Cultura (FANEC). E-mail: otaviosena@hotmail.com

** Doutora e Mestre em Engenharia Ambiental pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Especialista em Turismo Empreendedor (UFSC). Bacharel em Turismo pelas Faculdades Integradas Associação de Ensino de Santa Catarina (FASSESC). Atua como professora da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), nos cursos de graduação, mestrado e doutorado em turismo. E-mail: kerlei@ufrnet.br

1 Disponível em: < www.tourismscholars.org >. Acesso em 01 de fev, 2017.


Recibido: 02/03/2017 Aceptado: 18/05/2017 Publicado: Mayo de 2017

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