Annebelle Pena Lima Magalhães Cruz*
Eloisa Helena Santos
Centro Universitário Una, Brasil
annebellepsicologia@hotmail.comRESUMO
O presente artigo tem como objetivo analisar as potencialidades de autonomia presentes nas práticas dos alunos do Sistema Colégio Militar do Brasil (SCMB), sede de Belo Horizonte, instituição administrada pelo Exército Brasileiro por meio da Diretoria de Educação Preparatória e Assistencial (DEPA) que se pauta por um ideário disciplinador e hierarquizante, com uma proposta pedagógica fundada em ações voltadas para o treinamento e para o alcance de rendimentos preestabelecidos. A relevância da pesquisa se encontra na possibilidade de apresentar subsídios para mudanças qualitativas no aspecto social e pedagógico do SCMB a partir de práticas educativas mais autônomas e que deem voz ao sujeito enquanto construtor de sua prática e vivência educativa. A metodologia qualitativa, de tipo descritiva utilizada foi composta de revisão bibliográfica, pesquisa documental e empírica. A unidade de análise empírica circunscreveu-se à Banda de Música do Colégio Militar. Os sujeitos da pesquisa constituíram-se de 10 alunos do Segundo e Terceiro Ano do Ensino Médio, selecionados em virtude da demonstração de indícios de autonomia, bem como de liderança, nas atividades realizadas na Banda. Os instrumentos de coleta de dados utilizados foram a observação direta ou observação estruturada e a observação participante realizada pela pesquisadora durante o período de um ano. Os alunos participantes da pesquisa responderam a um Inventário de Interesses. A análise dos dados foi realizada por meio da análise de conteúdo. Como principal resultado, apresenta-se a Banda de Música como espaço revelador de indícios de autonomia dos alunos do CMBH, evidenciados pelo desenvolvimento de um forte compromisso com o coletivo e as relações de cooperação e solidariedade. Evidências que se apresentaram como elementos potencialmente propícios ao desenvolvimento da autonomia dos alunos.
Palavras-chave: Colégio Militar, Práticas educativas discentes, Autonomia, Cooperação no ambiente escolar.
ABSTRACT
This thesis aims to analyze the potential of autonomy present in students’ practices at the Military School of Belo Horizonte – CMBH; such institution is guided by an ideology of discipline and hierarchy, with a pedagogic proposal based in actions for training and achievement of pre-established performance. This research makes itself relevant as a possibility to introduce qualitative changes subsidies to the social and pedagogic aspects of the school from more autonomous educational practices. The qualitative descriptive methodology used consisted of a bibliographic revision, desk and empirical researches. The unit of empirical analysis was based in the school’s band. The participants consisted of ten high-school students from second and third grades who were selected for showing signs of autonomy and leadership in the school band activities. The data collection tools used were: direct or structured, and participant observation conducted by the researcher for the period of one year. The participant students answered a survey. The analysis of the data was performed through a content analysis. As main results, the school’s band is presented as a revealing space for evidences of student autonomy highlighted by the development of a strict group commitment and relations of solidarity. These two evidences were presented as potentially favorable elements for the development of students' autonomy.
Keywords: Colégio Militar. Educational practices estudents. Fragments of autonomy.
RESUMEN
Este artículo tiene como objetivo analizar la gama de capacidades presentes en las prácticas de los estudiantes de la Escuela Superior del Ejército de Brasil (SCMB), con sede en Belo Horizonte, institución administrada por el Ejército de Brasil a través de la Junta de Educación y Atención Preparatorio (DEPA), que agenda para algunas ideas disciplinarias y jerárquica, con una propuesta pedagógica basada en acciones para la formación y para el logro de resultados preestablecido. La relevancia de la investigación es la posibilidad de introducir subsidios a los cambios cualitativos en el aspecto social y pedagógica de SCMB de las prácticas educativas más autónomas que dan voz al sujeto como constructor de su experiencia práctica y educativa. La metodología cualitativa utilizada para descriptiva consistió en revisión de la literatura, el documento y la investigación empírica. La unidad de análisis empírico confinado a la Banda de Música de la Escuela Militar. Los sujetos consistió de 10 estudiantes del segundo y tercer año de secundaria, seleccionados debido a la demostración de pruebas de autonomía, así como el liderazgo en las actividades de la banda. Los instrumentos de recolección de datos utilizados fueron la observación directa o estructurados de observación y la observación participante realizada por el investigador durante el período de un año. Los estudiantes respondieron a una encuesta de intereses de inventario. El análisis de datos se realizó mediante el análisis de contenido. El resultado principal, presenta la Banda de Música como revelar el espacio de pruebas autonomía de los estudiantes CMBH, evidenciado por el desarrollo de un fuerte compromiso con las relaciones colectivas y de cooperación y solidaridad. La evidencia presentada como elementos potencialmente favorables para el desarrollo de la autonomía de los alumnos.
Palabras clave: Military College. las prácticas educativas de los estudiantes. Autonomía. La cooperación en el entorno escolar.
Para citar este artículo puede uitlizar el siguiente formato:
Annebelle Pena Lima Magalhães Cruz y Eloisa Helena Santos (2016): “Sistema colégio militar do Brasil e as possibilidades de autonomia venciadas pelos alunos: análise de práticas educativas e artísticas no Colégio Militar de Belo Horizonte”, Revista Atlante: Cuadernos de Educación y Desarrollo (julio 2016). En línea: http://www.eumed.net/rev/atlante/2016/07/colegio-militar.html
http://hdl.handle.net/20.500.11763/ATLANTE-2016-07-colegio-militar
INTRODUÇÃO
O Imperial Colégio Militar foi instituído em 1889 com o objetivo de apoiar os órfãos, filhos de militares do Exército e da Armada, que participaram na luta pela Independência do país. Sendo aberto e reaberto em diversos momentos de sua história desde a fundação. Enquanto a sede de Belo Horizonte foi fundada em 12 de setembro de 1955 com a finalidade inicial de possibilitar aos mineiros o ingresso nas fileiras do Exército Brasileiro. Em 1988 o CMBH foi fechado, reabrindo suas portas no ano de 1993, ano em que passou a funcionar nas instalações do Centro de Preparação de Oficiais da Reserva (CPOR), sede atual.
O órgão que exerce a gestão escolar, o planejamento, a supervisão e a avaliação do processo de ensino e aprendizagem dos Colégios Militares do Brasil é a Diretoria de Ensino Preparatório e Assistencial (DEPA), que por sua vez, é subordinada ao Departamento de Ensino e Cultura do Exército (DECEX).
Na atualidade, o ensino, no Sistema Colégio Militar do Brasil (SCMB) abarca treze colégios distribuídos pelo país, que atendem mais de 15 mil alunos e é voltado para a Educação Básica, a preparação dos alunos para os concursos das Forças Armadas e concursos vestibulares. Atualmente o ingresso se dá por meio de regulamentações específicas para filhos e enteados de militares, e, por concurso público determinado pelo DECEX.
Semanalmente ocorrem formaturas gerais das quais participam os alunos e militares dos Colégios pertencentes ao SCMB. Evento que tem o objetivo manter viva a transmissão dos valores e tradições do Exército Brasileiro, além de manter a integração entre o Colégio e o adestramento da tropa. Tais práticas marcam a identidade da escola como uma escola diferente das demais escolas do país, pois, nela se reforça o valor do culto aos símbolos nacionais, diariamente reverenciados.
No período vespertino, são realizados cursos preparatórios para os vestibulares, para as escolas militares, assim como, as modalidades desportivas, os treinamentos culturais como teatro, coral, dança e banda de música. Enquanto as aulas geralmente ocorrem pelo período da manhã, iniciando-se com um ritual, repetido a cada nova aula, que é a apresentação da turma ao professor feita pelo chefe de turma da semana. Esta apresentação se dá nos moldes militares: a turma fica em posição de sentido1 e o chefe de turma comunica ao professor se algum aluno está faltando ou se existe alguma possível alteração em sala de aula. Durante as aulas e intervalos, os alunos são sempre controlados pelos monitores 2 das Companhias de Aluno. Os monitores procuram exercer um rígido controle sobre os alunos: controlam a saída e entrada em sala, o destino para o qual os alunos se deslocam; entram em contato com os pais em caso de necessidades; fiscalizam os alunos nos demais ambientes do Colégio por meio de rondas; zelam pelo silêncio nas salas e companhias; aplicam as sanções disciplinares e elogios quando necessários; procuram manter a ordem e a hierarquia militar na escola, sempre exigindo uma postura adequada ao militarismo; dão aula de ordem unida3 e trabalham os atributos da área afetiva4 exigidos pelo Exército Brasileiro. Embora o treinamento, a fiscalização e o reforço destes comportamentos sejam atribuições principalmente dos monitores, é o padrão exigido aos professores e demais militares do estabelecimento de ensino. Estas exigências marcadamente militares estão presentes em todas as atividades da escola, ainda que sejam aquelas ligadas à arte.
Dos 13 Colégios administrados pelo SCMB, escolheu-se, portanto, O Colégio Militar de Belo Horizonte como campo de pesquisa. Definindo-se assim, como questão central da investigação: existem fragmentos de autonomia vivenciados pelos alunos do CMBH, ainda que em um cenário rodeado por ideias e ações militarizadas, disciplinadoras e hierarquizantes? O objeto da pesquisa voltou-se para as potencialidades de autonomia presentes nas práticas dos alunos do CMBH, tendo em vista que elas são moldadas por orientações disciplinares e pedagógicas marcadamente tradicionais e, muitas vezes, heterônomas, voltadas para o reforço de práticas educacionais tradicionais.
Para analisar os fragmentos de autonomia presentes nas práticas dos alunos do CMBH, identificaram-se, inicialmente, aquelas atividades que trazem maiores possibilidades de desenvolvimento de práticas autônomas. A partir da experiência da pesquisadora no Colégio e da criteriosa observação dos espaços onde os alunos desenvolvem atividades variadas, a Banda de Música foi identificada como possibilidade de indicar indícios de autonomia dos seus membros. Num primeiro momento, a Banda de Música pareceu trazer inúmeras oportunidades de convivência, em que os alunos têm que lidar com o que está previamente programado e, ao mesmo tempo, com o inesperado da sua atividade. A Banda pareceu, também, representar um espaço em que os alunos desenvolvem um forte compromisso com o coletivo e com a solidariedade. Estas duas evidências pareceram reveladoras de elementos potencialmente propícios ao desenvolvimento da autonomia.
2.1 – A Banda de Música “A Furiosa”
A Banda de Música do CMBH, batizada de “A Furiosa”, iniciou suas atividades no ano de 1997 e seus componentes participam como voluntários. A Banda tem como influência, desde o seu surgimento, as bandas marciais militares, incorporando, na atualidade, estilos musicais contemporâneos que dão “A Furiosa”, características muito peculiares. “A Furiosa” já venceu inúmeros concursos realizados no Estado de Minas Gerais, sagrando-se como o mais imponente símbolo do Colégio Militar de Belo Horizonte.
A Banda se constitui em uma atividade “voltada para a formação artística musical do aluno”. Segundo o RI/CM, Seção IV Da Banda de Música e Do Coral, Art. 32, a banda e o coral têm as seguintes atribuições:
I - selecionar, despertar e estimular os talentos musicais, visando ao desenvolvimento de atributos da área afetiva, em especial, da solidariedade e do trabalho em grupo; II - representar o CA, abrilhantando solenidades e cerimônias do CM; e III - oferecer espaço para o desenvolvimento artístico-cultural de alunos com habilidade específica para a música e o canto.
Na atualidade, a Banda é composta por mais de 50 alunos, na maioria do gênero masculino. A Banda está presente nas formaturas militares, conduzindo o Hino Nacional e hinos militares. A Banda de Música é uma atividade importante do ponto de vista da instuição, pois atende a diversas necessidades do CMBH e do CPOR. “A Furiosa” é, ainda, convidada a se juntar a outras bandas militares das Forças Armadas para tocar em solenidades militares e participar de atividades sociais na cidade.
Para participar da Banda não existe um critério de seleção rigoroso. Os interessados manifestam interesse, informando se tocam algum tipo de instrumento. Em seguida, o Sargento Regente é informado. Aqueles que desejam fazer parte da Banda, inciam um treinamento musical que acontece no turno da tarde. Os alunos que sabem tocar instrumentos aprimoram os seus conhecimentos, enquanto os que não sabem, escolhem um instrumento para aprender, auxiliados pelos alunos mais experientes. O número maior de componentes faz parte do Ensino Médio, uma vez que são alunos que participam da Banda desde o 6º ano do Ensino Fundamental.
Os alunos pesquisados tomaram conhecimento da Banda, principalmente pelos pais, que desejavam que eles se tornassem membros. Dos dez alunos pesquisados, cinco relatam que ingressaram na Banda por influência da família, enquanto dois alunos entraram, na Banda, por influência dos irmãos mais velhos ex-alunos do CMBH. Dentre estes alunos, o Sujeito A complementa que, apesar da influência familiar para ingressar na Banda, ele também sofreu influência de profissionais da área de música. Apenas o Sujeito D, relata ter entrado na Banda por iniciativa própria.
Segundo os relatos apresentados pelos alunos, a Banda é organizada da seguinte maneira: “O regente, líder máximo da hierarquia que comanda a Banda, e o restante dos músicos que são distribuídos em naipes com diferentes instrumentos” (Sujeito A). “Após o regente, na cadeia hierárquica estão “os alunos mais velhos (ou mais antigos), que são respeitados pelos mais novos (mesmo quando o mais velho é graduado na Banda e os mais novos não” (Sujeito B). Enquanto “a organização da Banda é descrita “por naipes de cada instrumento, no qual, cada naipe tem seu chefe, que é o aluno mais antigo pertencente a cada naipe” (Sujeito C).
2.2 – Práticas dos alunos na Banda de Música “A Furiosa”
Das práticas realizadas pelos alunos, em relação àquelas de que eles menos gostam, os alunos definiram: ter que prestar “obediência ao regente e aos mais antigos” (Sujeito A); “apresentações marcadas, às vezes, em cima da hora e o de compromisso de sempre ficar à tarde, mesmo em vésperas de provas” (Sujeito B); “a recente frequente mudança do Sgt Regente, que afeta no desempenho e na continuidade da existência da Banda” (Sujeito C); “a falta de comprometimento de alguns membros” (Sujeito C); “o desinteresse de alguns” (Sujeito D); “a falta de compromisso de alguns, assim como a constante troca de Regente” (Sujeito E); “a falta de compromisso” (Sujeito F); “as exigências da hierarquia existente” (Sujeito G); “a falta de hierarquia, o não compromisso de alguns indivíduos, a não renovação dos alunos veteranos com os mais novos” (Sujeito H).
Os relatos acima demonstram que as constantes mudanças institucionais da organização militar interferem na Banda, como é apontado na fala dos alunos sobre a “constante troca do Sargento Regente”. Os relatos evidenciam a preocupação dos alunos com a manutenção e a continuidade da existência da Banda, o que, na visão deles, pode afetar o seu bom andamento. Elementos de heteronomia aparecem nestes relatos e estão relacionados: ao não comprometimento de alguns membros da equipe com o coletivo, revelando uma dinâmica individualizada; uma relação de desrespeito à hierarquia; um egocentrismo ainda presente nesta fase em que os alunos se encontram. Outro relato mostra uma perspectiva oposta a essa: o Sujeito H demonstra preocupação com a falta de interação entre os alunos mais antigos e os alunos novatos.
Na Banda, os alunos têm a possibilidade tomar decisões. O aluno, ao que se percebe, intervém o tempo todo na realidade, ainda que, a escola seja pautada no ideário militar. A possibilidade do aluno de intervir, de opinar, de propor mudanças, de se apresentar crítico e reflexivo neste ambiente hierarquizante, já demonstra a presença da autonomia do sujeito aluno. O que leva à suposição de que a autonomia do aluno, em um primeiro momento, nasce da experiência do sujeito e entre os sujeitos, e não pode se esgotar, mesmo que estes façam parte de uma instituição demarcadamente disciplinadora.
O Sujeito D afirma que ser autônomo é “aprender sobre comprometimento e trabalho em equipe”. Enquanto o Sujeito E traz: “além de tocar, que é algo que gosto muito, o convívio com as pessoas da Banda, a unidade desta e o conjunto me ajudam a me desenvolver”. A amizade aqui, também se apresenta como forte elemento das relações autônomas, pois compreende a capacidade do sujeito de conseguir se relacionar, de colocar-se no lugar do outro, ter empatia por ele e desejá-lo como parte importante de sua vida: “Para mim o mais importante na Banda é conservar os amigos músicos (...)” (Sujeito H).
Os relatos revelam a escolha do sujeito em querer fazer parte de uma dada situação e interagir com ela. O que por si só já representa a presença da autonomia e da alteridade, cujo princípio é a necessidade de interação entre os homens, na qual um se preocupa com o outro.
2.3 Fragmentos de autonomia presentes nas práticas dos alunos na Banda de Música “A Furiosa”.
Em todas as situações citadas acima, aparecem elementos como cooperação, compartilhamento, divisão de tarefas, organização e criatividade. A criatividade é citada pelos alunos como um importante instrumento na estimulação do raciocínio, da cooperação, do estilo musical e da liberdade poético-musical.
Em relação à criatividade, os alunos solidificaram as seguintes opiniões: “me sinto bem com o andamento da Banda quando crio coisas novas” (Sujeito A); “exercito a minha criatividade com paródias musicais, junto com meus amigos” (Sujeito B); “crio coisas novas quando promovo uma melhor organização do meu naipe, dos trompetes em relação à organização das partituras e do ensino aos alunos novatos” (Sujeito C); “gosto de criar coisas populares com um apelo infanto-juvenil” (Sujeito D); “a criatividade na banda ajuda na dinâmica da execução das músicas” (Sujeito E); “a criatividade contribui na forma de agir entre os alunos” (Sujeito F).
Nesse sentido, o agir criativo do aluno traz dados relativos à presença da liberdade na criação, na qual os alunos podem opinar na “liberdade para propor o repertório, o calendário e a sua organização” ou “quando os alunos vão se apresentar em algum local, eles podem opinar sobre todos os itens acima” (Sujeito B).
Conforme relatado pelos alunos nos Inventários e verificado por meio da observação estruturada, em certos momentos, algumas situações tendem para a heteronomia, pois às vezes, exigem a obrigação de cumprir determinadas atividades previstas no calendário fixo, definido pela escola. Neste caso, os alunos não podem opinar ou decidir sobre a situação apresentada, pois tudo fica a cargo do maestro. O que é motivo de não aceitação dos alunos.
No tocante a identificação dos alunos com a Banda, esta se apresenta em variados aspectos: os alunos gostam de participar da Banda; continuam como membros dela por interesse e desejo; se identificam com o grupo que a compõem, de modo a interagir, produzir, atuar em conjunto, desenvolvendo um forte compromisso com a coletividade e as relações de solidariedade. Estar na Banda e fazer parte dela representa um sentimento de identificação em conjunto, caracterizando fortes laços de pertencimento, de modo a revelar um simbolismo que parte dos alunos. Simbolismo que permite uma intensa ligação emotiva, proveniente de um investimento afetivo reforçado ao longo dos anos escolares e do compartilhamento das experiências, dos desejos e das dificuldades em comum.
Desta forma, os principais aspectos de autonomia identificados foram definidos em 3 categorias, conforme segue:
2.3.1 - Consciência e internalização das regras como fundamentais para a convivência social.
Os itens seguintes configuram unidades de análise da Categoria 1: consciência das normas da Banda; a aprendizagem das regras; a elaboração de novas regras; seu uso no dia a dia; a compreensão do respeito às regras para facilitar o convívio social. Estes elementos exemplificam a passagem da heteronomia para a autonomia.
Os itens da Categoria 1 foram encontrados, de maneira repetida, ao longo de todas as respostas do Inventário. Os dados relativos a esta Categoria demonstraram indícios da elaboração e compreensão das regras pelos alunos, que são exercitadas de maneira livre e consciente no agir individual e coletivo de todo o trabalho da Banda. Tal fato encontra respaldo em variados depoimentos dos alunos, como os que seguem:
“Para mim, não existem normas, pois as vejo como recomendações: respeito ao companheiro, disciplina nos ensaios e formaturas. Respeito e bom comportamento, sobretudo, nos eventos, para manter a boa imagem da Banda. A hierarquia e a disciplina poderiam dificultar, mas elas favorecem porque são necessárias” (Sujeito C);
“As normas representam o comprometimento com as regras: chegar no horário, cuidar do instrumento que lhe foi emprestado e respeitar a hierarquia” (Sujeito D);
Dessa forma, percebe-se que a aprendizagem das regras, a codificação das regras e a internalização destas possuem estreita relação com a capacidade do aluno de conviver com elas de maneira harmoniosa. Neste sentido, as regras, embora percebidas como algo exterior ao próprio sujeito ou como equivalente a dizer em Castoríades (1982), aparecem nas regras não de si mesmo e sim do Outro. Ocorre um consentimento mútuo nessa relação entre os alunos, no qual parecem muito conscientes das relações que os cercam. Assim, quando o aluno decide permanecer na Banda, apesar de todo o ideário militar, procura não abandonar as próprias expectativas, reconhecendo-as e desenvolvendo-as por meio de um agir singular.
É percebido, ainda, que o aluno da Banda sugere mudança de direção se necessário, se organiza para dar conta das exigências escolares e de outras atividades, procura se motivar para tocar e cumprir os calendários. O aluno, devido a tantas atividades da escola, poderia ainda optar por deixar a Banda, pois são muitas atividades previstas pelo currículo escolar, mas decide ficar. Ou seja, ele toma suas próprias decisões de viver esse desafio.
No aspecto acima, o aluno tem autonomia porque tenta negociar frente a todas as atividades e mesmo aos conflitos que surgem. Ele não é apenas responsável, mas ele toma para si a capacidade de decidir, de ter consciência sobre o seu percurso educacional individual, ao mesmo tempo, que deseja apoiar o grupo. São alunos que se arriscam, inclusive, a tocar, instrumentos que ainda não tiveram contato anteriormente.
A análise dos Inventários deixa evidente que estar na Banda, fazer parte dela trouxe uma mudança significativa no processo de socialização. Esta experiência permite ao aluno compreender o sentido de viver em sociedade. O aluno vivencia, experimenta o exercício das regras como uma espécie de alicerce para a manutenção de sua vida social:
“As normas devem ser seguidas quanto aos horários, respeitar o maestro e alunos mais antigos. Isto é uma hierarquia. A hierarquia é fundamental para que tudo ocorra bem. Enquanto a disciplina envolve o respeito a quem está regendo a Banda e aos demais. A hierarquia favorece a organização da Banda e os relacionamentos na Banda” (Sujeito B).
“A Banda me ensinou a ser mais disciplinada em todos os aspectos, tal fato já é presenciado no preparatório para a prova de admissão de concursos” (Sujeito E).
Outros aspectos encontrados na Categoria 1, em relação à consciência sobre as regras, refletem a passagem da heteronomia para a autonomia – princípio fundamental da futura compreensão das regras, que ganha importante ampliação a partir do quarto estágio do desenvolvimento da criança. Compreendem as relações vinculares com as figuras de autoridade, o amadurecimento da criança que sai da zona de heteronomia (PIAGET,1984) para entrar na área do relacionamento cooperativo, até se revelar um jovem ou adulto capaz de lidar plenamente com a convivência social. Neste aspecto, o Sujeito B, cita: “O Colégio mudou a minha vida em relação ao respeito ao próximo, a compreender a importância da hierarquia e das regras, a andar nos trinques (bem arrumado)”.
Nota-se, por meio da opinião dos alunos, que a hierarquia e a disciplina na Banda são apenas o nome que se dá às regras. Elas refletem, na realidade, uma determinada situação social da escola, uma vez que são sancionadas pela coletividade, marcando a identidade específica da instituição. Mas na Banda, as regras passam a ser vivenciadas e percebidas em seu caráter coletivo, sentidas como exteriores ao sujeito aluno e ao mesmo tempo como resultado de um certo consentimento mútuo e da consciência autônoma. O modo como os alunos lidam com as regras da escola representa, ainda, uma espécie de instrumentalização para o aluno aprender a lidar com a vida em sociedade:
“Por meio das normas, do exercício delas, me tornei mais dedicado com estudos e práticas educativas. A hierarquia ainda ajuda na organização da convivência” (Sujeito H).
Dos dez alunos pesquisados, oito alunos relatam a facilidade em lidar com a hierarquia e a disciplina existentes. Aceitam-nas como fundamentais para a organização e o funcionamento da Banda e suas atividades. A hierarquia e a disciplina, no caso específico do CMBH, se configuram como a natural execução das regras impostas pelo ideário militar no ambiente escolar. Contudo, revelam que as regras exigidas pela escola possuem relação com “respeitar as regras para respeitar o próximo”, “respeitar o sistema para ser respeitado por ele”, “andar de maneira correta para viver bem em equipe”. De modo geral, a interiorização das regras é bem evidenciada nos relatos de oito dos alunos pesquisados. Contudo, estes não se tornaram alienados devido às regras hierarquizantes, pois percebem as regras como balizadores que os ajudam a lidar com situações de conflito, mas não como condição fundamental para a sua autonomia. O que o aluno apresenta, ao longo das análises, é que, mesmo com as exigências da escola, ele consegue lidar com o espaço entre aquilo que está devidamente prescrito, mas sem deixar de exercer o seu conhecimento adquirido no dia a dia da prática escolar e de ser ele mesmo. Nesse sentido, o aluno questiona as regras, fala sobre os conflitos, sugestiona mudanças, emite opiniões, dentre outros elementos.
Outro dado a ser considerado nesta análise, é que, para a quase totalidade (98%) dos alunos investigados, a atuação do regente é vista como necessária ao exercício das regras. A presença deste é relatada como “necessária para a organização”, é percebida mais como democrática do que como imposição, pois este auxilia na resolução dos conflitos que emergem das relações coletivas. Nesse sentindo, a atuação do Sargento Regente é vista mais como cooperação para com os alunos do que como uma presença heterônoma.
2.3.2- As relações de reciprocidade e de cooperação encontradas na Banda.
Para a Categoria 2, que trata das “relações de reciprocidade e de cooperação encontradas na Banda”, as unidades observadas nos Inventários são as seguintes: o reconhecimento de si e do outro; o interesse e identificação entre o grupo; a interação com o público; o acolhimento e a interação; a presença dos laços de solidariedade e os aspectos de criatividade encontrados na Banda.
As relações de reciprocidade, cooperação, de reconhecimento de si e do outro fazem emergir um elemento positivo para os relacionamentos entre os alunos. São relações que se afirmam como ações capazes de encorajar o aluno a agir e viver em sociedade, vencendo os medos e os desafios impostos pela vida, envoltos em um sentimento de unidade que é alimentado pelo grupo. Este elemento aparece na preparação antes das apresentações, nas quais os alunos vencem as suas dificuldades de relacionamento e de aprendizagem. Surge na preparação para a musicalização, na realização dos ensaios e treinos, nos quais os alunos criam mecanismos de ajuda entre si para dar conta da tarefa prescrita sem abandonar seu próprio estilo. Os alunos, ainda, vencem a timidez para se apresentar socialmente e, dessa forma, se motivam para apresentar o melhor de si para o público. Tal experiência, além de permitir que se sintam reconhecidos, traz embutidos variados elementos comunicantes de cooperação, reconhecimento, importância da presença de um para com o outro. Fato que possibilita a concretização da realização do desejo de tocar, de assistir, de participar ou mesmo de ser parte de algo em comum. A fala do sujeito C deixa bem evidente os elementos de criatividade, cooperação e organização que surgem desse tipo de experiência encontrada na Banda:
“Eu gosto de criar na Banda. Criar coisas novas promove uma melhor organização em meu naipe, dos trompetes, em relação à organização das partituras e ao ensino de música aos novatos”.
As apresentações revelam uma espécie de acolhimento que começa na Banda, realiza-se o tempo todo dentro dela, mas que se alarga ao social, ou seja, ao público interno e externo ao Colégio. As apresentações contribuem para o exercício intelectual, para o prazer de exercer uma habilidade e de compartilhar essa habilidade com o outro, onde a presença do outro é fundamental nesse percurso de vida, relacionamento e aprendizagem.
Outro aspecto em que estes elementos aparecem nas respostas sobre “o que mudou em sua vida escolar depois de ter entrado na Banda”, os alunos revelam elementos que se confirmam na totalidade das respostas como comprometimento, cooperação, alteridade, concentração, dedicação, aumento da criatividade, autonomia e mudança de comportamento social favorável:
“O mais importante em participar da Banda é aprender sobre comprometimento e trabalho de equipe” (Sujeito D).
“A Banda me ajudou na timidez, concentração e na criatividade. A banda me proporcionou ter um melhor convívio com os outros alunos. A banda me ajudou a ter mais paciência para auxiliar as pessoas. Além de tocar, que é algo que gosto muito, o convívio com as pessoas da banda, a unidade, o conjunto me ajudam” (Sujeito E).
“A Banda me ajudou a respeitar as pessoas, vi a importância de ter uma família além da minha real família” (Sujeito G).
Quanto ao que os alunos gostam de criar na Banda, as respostas em sua totalidade representam a criatividade alicerçada e trabalhada em prol do grupo. Aqui existe o reforço da cooperação, da divisão de tarefas, do uso da criatividade como fonte de compartilhamento e de socialização. Estes elementos pressupõem a importância da organização da Banda, da identificação com o grupo, da interação social, da sensibilidade, da afetividade, dos interesses comuns e do agir coletivo dos alunos. O que leva à percepção de que, na Banda, os fragmentos de autonomia e de cooperação se sobressaem, como citam os alunos:
“A banda ajuda a conservar os amigos músicos e exercitar a minha musicalidade” (Sujeito H);
“A banda nos ajuda a criar laços de amizade e companheirismo muito fortes, nos diferenciando assim dos demais alunos do Colégio. Depois que comecei a fazer parte da Banda, passei a ter mais respeito aos amigos, professores e monitores” (Sujeito B).
Em um sentido geral, a Banda é vista como estimuladora da criatividade e estimuladora do raciocínio rápido, nas criações musicais, nas “possibilidades de ensinar um ao outro”, no desenvolvimento dos estilos individuais em um movimento de trabalho autônomo e ao mesmo tempo compartilhado. Percebe-se que a Banda é sentida pelos alunos como uma espécie de liderança cooperativa.
A importância da Banda do CM é, aqui, retratada como: “destaque do Colégio”; “geradora de laços de amizade duradouros”; “companheirismo muito forte”; “alma da escola”; “possibilidades de acesso à musicalidade” e a possibilidade de exercer uma habilidade.
Os aspectos de socialização e o convívio no grupo são relatados pelos alunos como muito importantes na Banda, pois os auxiliam a se sentirem reconhecidos, de modo a inscrevê-los como parte de um grupo social, estendendo-se às relações familiares. Assim, o “Sujeito E” diz que a Banda o ajudou a “estabelecer tempo tanto para a família e amigos quanto para a música”. O “Sujeito A” relatou que a Banda o ajudou a ser uma pessoa mais calma com os outros e com a sua família, tornando-se mais extrovertida. Enquanto o “Sujeito H” fecha a questão ao dizer que “ter noções de respeito na Banda trouxe esclarecimento quanto ao respeito que devo ter com a própria família, aprendendo, inclusive, a ser mais receptivo quanto as crítica e ordens dos pais”. São depoimentos que, em larga escala, reforçam a existência bem sólida do Juízo Moral, de Piaget (1994).
Para além da hierarquia e disciplina, na Banda, existem relações de reciprocidade, cooperação, de reconhecimento de si e do outro. Compartilhamentos que são organizados a partir da cooperação que existe na troca entre os sujeitos escolares. Troca que se revela como ponto chave no sentido educativo, uma vez que a educação para se efetivar faz uso dessa construção cooperativa, posto que a escola é território de convívio entre os pares, revelando-se ambiente de trocas de saberes coletivos e individuais.
2.3.3 - A autonomia como construção fundamental na Banda de Música.
Em relação à Categoria 3, “a autonomia como construção fundamental na Banda de Música”, as unidades foram definidas em: a banda como ambiente de cooperação; a presença dos elementos de comprometimento, responsabilidade, democracia, reconhecimento do líder, colaboração entre a equipe; capacidade de autogoverno, de iniciativa e de decisão.
“Tenho liberdade para propor o repertório, o calendário e a organização quando vou apresentar em algum local, para opinar em relação à afinação do meu instrumento, na organização das partituras” (Sujeito A);
“Participar da Banda estimula a minha capacidade na criação de músicas. Aprendo a me organizar livremente para estudar, para tocar, para desenvolver a minha vida social. Sou uma pessoa mais consciente das minhas escolhas” (Sujeito B);.
“(...) por não ser tão formal a banda estimula a participação de todos os seus integrantes, com opiniões, sugestões e ideias” (Sujeito E);
Ao longo das citações dos alunos, a Banda é apresentada como um espaço que se constitui na liberdade, na escolha, na livre opinião, na expressão de desejos, sentimentos e mesmo de decisões que se estendem à vida dos alunos, no espaço social e extra SCMB.
Nas falas da Categoria 3, aparecem elementos claros acerca do estabelecimento da autonomia. Elementos que se apresentam como causa intermediária no processo de amadurecimento e construção do conhecimento dos alunos: o aluno da Banda é um sujeito autônomo que elabora normas próprias, cujas decisões e ações se constituem nas relações de cooperação. Elaborações que influenciam a maneira de tocar e de se relacionar com a sua própria técnica musical, com a auto-organização, com a gestão da sua vida escolar. Os alunos, na Banda, estão o tempo todo em negociação entre o que é meramente exigido pelas ordens prescritas e pelos comportamentos condicionados atribuídos pela escola.
De maneira geral, nos depoimentos colhidos através do Inventário de Interesses, estão presentes diversos fragmentos de autonomia, como: capacidade de comprometimento, responsabilidade, agir em democracia, reconhecimento do líder, colaboração entre os membros da equipe. O que no pensamento chave de Castoríadis (1982, p.123) equivale a dizer, que essa relação com o outro só ocorre porque este Outro é “depósito dos desígnios, dos desejos, dos investimentos, das exigências, das expectativas” de si mesmo.
Nesta análise, marca-se a realidade cotidiana do aluno do SCMB e, em especial, do CMBH, tanto em uma dimensão individual quanto coletiva. Foram identificadas experiências significativas de autonomia que contribuem no processo de aprendizagem, de amadurecimento, de preservação da identidade, do estímulo a uma consciência crítica e reflexiva do aluno perante a escola. Assim, o aluno da Banda, segundo o que foi constatado pela pesquisa, é um sujeito que, embora movido por um desejo antecedente dos pais, ao ingressar e viver a sua experiência diária de musicista se torna desejante, posto que “age no e sobre o mundo”, “se produz ele mesmo, e é produzido, através da educação” (CHARLOT, 2000, p.33).
A criticidade do aluno também aparece como algo trabalhado e oportunizado pela experiência de fazer parte do SCMB e de sua “A Furiosa”. Enquanto os conflitos nas relações escolares e no interior da Banda, naturalmente, aparecem e reaparecem. Da mesma maneira, os indícios de heteronomia e de egocentrismo estão igualmente presentes, ainda que em menor escala. Ou, talvez, o desejo e a identificação com a Banda são tão fortes que a heteronomia existente no ambiente só é reforçada quando atinge diretamente algum interesse particular em questão. Outra suposição é que devido ao ambiente mais relaxado e acolhedor da Banda, a heteronomia é menos intensa do que em outros espaços do Colégio Militar. De modo geral, quando os conflitos se intensificam na Banda, é a figura do Sargento Regente que aparece como árbitro das relações conflituosas, no sentido de mediar às relações entre os alunos.
O resultado da pesquisa trouxe resposta favorável à questão central do artigo. Foi possível encontrar não apenas diversificados fragmentos de autonomia, mas reais possibilidades de autonomia vivenciadas pelos alunos do CMBH, ainda que a escola esteja situada em um cenário rodeado por ideias e ações disciplinadoras e hierarquizantes.
Dentre os objetivos, identificaram-se as estratégias utilizadas pelos alunos para conviver com as prescrições disciplinadoras e hierarquizantes que orientam suas práticas e para produzir práticas potencialmente autônomas, nas quais os alunos se utilizam da cooperação, do compartilhamento, do investimento afetivo nos colegas da Banda, para se relacionarem melhor com as diretrizes disciplinadoras da escola. Sem, contudo, deixar de investir em seus gostos, desejos, opções, opiniões e estilos pessoais. Outro objetivo alcançado foi à identificação dos fragmentos de autonomia presentes nas práticas realizadas pelos alunos na Banda de Música do CMBH, como a construção constante de opiniões, as decisões de participação consciente nas atividades da Banda, a troca de experiências e informações, a dedicação de ensinar um ao outro e o desenvolvimento de um forte compromisso com o coletivo como um forte investimento nas relações de solidariedade. De modo geral, a Banda se configura como um investimento emocional e sócio afetivo intenso do aluno. Ser parte da Banda é se reiventar o tempo todo diante das normas e diante do grupo.
Dessa forma, algumas questões ao longo da pesquisa se revelaram como surpreendentes, como a visão que os alunos têm acerca das orientações militares. A princípio, acreditava-se que a presença da hierarquia e da disciplina funcionava apenas como agente limitador do sujeito. Surpresa se revelou a partir das estratégias que os alunos criaram para conviver seja com a hierarquia e os padrões militares, seja com a própria capacidade de desenvolvimento autônomo. Um resultado intrigante foi o de que os alunos desenvolvem seus próprios meios de lidar com as prescrições militares, fazendo surgir desta relação situações criativas, críticas, estimuladoras e autônomas.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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CASTORIADIS, Cornélius. A instituição imaginária da sociedade. Tradução Guy Reynoud. 2. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1982.
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GIL, Antonio Carlos. Como Elaborar Projetos de Pesquisa. 4ª ed. São Paulo: Editora Atlas, 1996 / 2002.
MINISTÉRIO DA DEFESA. EXÉRCITO BRASILEIRO. Diretoria de Ensino Preparatório e Assistencial. Portaria nº 22 – DEP, de 31 de março de 2003.
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PIAGET, Jean. O desenvolvimento do pensamento: equilibração das estruturas cognitivas. Lisboa: Dom Quixote, 1977.
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VERÍSSIMO, MARIANA. Le savoir investi par l´activité de travail dans le corps-soi: l´expérience des travailleurs-étudiants d´une usine au Brésil. 2010. Tese (Doutorado em Ergologia) - Universidade de Provence/França.
* Docente do Curso de Graduação em Pedagogia, disciplinas: Introdução à Psicologia Educacional; Psicologia do Ensino-aprendizagem. Docente do Curso de Pós-graduação em Supervisão e Psicopedagogia Clínica e Institucional, disciplinas: Introdução à Psicomotricidade; Psicanálise Aplicada à Psicopedagogia; Supervisão de Estágio em Psicopedagogia Clínica. Atua na Formação de Professores da Instituição. Local: FACISA - Faculdade de Ciências Sociais Aplicadas de Belo Horizonte/MG.
1 A “posição de sentido” corresponde a um tipo de postura marcial, largamente utilizada no militarismo, na qual o militar ou o aluno do SCMB, em posição de pé, junta os calcanhares e posiciona as mãos na altura lateral das coxas.
2 Os monitores são Sargentos e Subtenentes do Exército ou Suboficiais da Aeronáutica que compõem o quadro profissional do SCMB. O monitor tem uma função chave nas companhias: ele é o elo entre os alunos e o comandante das companhias de alunos, gerenciada pelo Corpo de Alunos (C.A.).
3 O treinamento de ordem unida é ensinado e treinado nas atividades de Instrução Cívico-Militar (ICM) e as Atividades Cívico-Militares (ACM), consideradas como disciplinas obrigatórias do currículo, cujo objetivo é despertar inclinações para a carreira militar, reforçar o enquadramento disciplinar e hierárquicos.
4 Segundo a Portaria Nº 22/ DEP de 31 de março de 2003, do Exército Brasileiro, os atributos da área afetiva se constituem em “domínio do comportamento humano que compreende todos os aspectos relacionados com valores, atitudes, sentimentos, interesses e emoções”.
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