Barbara Rocha Bittencourt Sallaberry
Helen Rose Flores de Flores
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Goiano
Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Resumo
O presente trabalho apresenta o ambiente escolar das bibliotecas, definindo-as como unidades de informação especializadas em suprir as necessidades informacionais dos conteúdos ministrados em sala de aula e proporcionar literatura para lazer. Verifica a necessidade da parceria bibliotecários/professores para a formação de leitores. Descreve um panorama da leitura e literatura infantil no Brasil, no qual cita Monteiro Lobato, Érico Veríssimo, Vinícius de Moraes entre outros. Em relação a hora do conto, destaca recursos para enriquecer o momento, entre eles a dramatização, a tela acrílica, o flanelógrafo, os varais e o teatro de sombras. Determina como metodologia a utilização de questionários aplicados a escolas particulares de Porto Alegre com, no mínimo, ensino fundamental completo, tendo como responsáveis pela biblioteca profissionais bibliotecários. Os resultados comprovam a atuação satisfatória em todas as instituições, com adequada periodicidade das turmas e grande envolvimento dos profissionais e funcionários na hora do conto.
Palavras-chave: Biblioteca escolar, Leitura, Literatura infantil, Hora do conto.
Resumen
Este artículo presenta el entorno escolar de las bibliotecas, definiéndo los como unidades de información especializadas en el cumplimiento de las necesidades de información de los contenidos que se imparten en el aula y proporcionar la literatura para el placer. Demuenstra la necesidad de asociación bibliotecarios/profesores para la formación de lectores. Describe una visión general de la lectura y la literatura infantil en Brasil, que cita conocidos autores Monteiro Lobato, Erico Verissimo, Vinicius de Moraes. En cuanto a la narrativa, destaca los recursos para enriquecer el tiempo, incluyendo la dramatización, tejido acrílico, franela, los tendederos y el teatro de sombras. Metodología determina cómo el uso de cuestionarios dados a las escuelas privadas de Porto Alegre con la escuela primaria al menos terminado, y que responsable de la biblioteca sea profesional de los bibliotecarios. Los resultados muestran un desempeño satisfactorio en todas las instituciones, con la frecuencia apropiada de las clases y una gran implicación de los profesionales y empleados en la narración.
Palabras clave: biblioteca de la escuela. Leyendo. La literatura infantil. Hora del cuento.
Abstract
This paper presents the school environment of libraries, defining them as specialized information units in meeting the information needs of the contents taught in the classroom and provide literature for pleasure. Verifies the need for partnership librarians / teachers for the formation of readers. Describes an overview of reading and children's literature in Brazil, which cites Monteiro Lobato, Erico Verissimo, Vinicius de Moraes and others. Regarding storytelling, highlights resources to enrich the time, including the dramatization, acrylic fabric, flannel, the poles and the shadow theater. Methodology determines how the use of questionnaires given to private schools of Porto Alegre with at least completed elementary school, and to be responsible for professional librarians library. The results show satisfactory performance in all institutions, with appropriate frequency of classes and great involvement of professionals and employees in storytelling.
Keywords: School library. Reading. Children's literature. Tale hour.
Para citar este artículo puede uitlizar el siguiente formato:
Barbara Rocha Bittencourt Sallaberry y Helen Rose Flores de Flores (2015): “Hora do conto na biblioteca escolar”, Revista Atlante: Cuadernos de Educación y Desarrollo (noviembre 2015). En línea: http://www.eumed.net/rev/atlante/11/conto.html
1 INTRODUÇÃO
Proporcionar às crianças contato com a Literatura, através da hora do conto, possibilita que elas construam diferentes significados para as narrativas, o que por sua vez, promove a reflexão em torno dos valores das temáticas abordadas.
Diversas áreas do conhecimento estudam, cada vez com mais freqüência, a importância da leitura para formação dos cidadãos. Essa formação de indivíduos com hábito de leitura (muitas vezes referido por prazer) inicia-se na Educação Infantil quando muitas crianças tem os primeiros contatos com livros e histórias dos mais diversos gêneros. Daí a importância da interação das bibliotecas escolares com o incentivo à leitura.
As histórias possibilitam que as crianças ampliem seus horizontes e se interessem pela aprendizagem. O conhecimento de diferentes personagens (maus, bons, agressivos, bonitos e feios) permite à criança desenvolver valores humanos, assim como os diferentes contextos de leitura, tais como a imagem, gestos e situações que permitem a formação crítica dos leitores.
Diante desse contexto, as bibliotecas escolares exercem um papel fundamental ao propiciar às crianças e aos jovem a aproximação com o conhecimento, possibilitando que os mesmos explorem diferentes assuntos e instiguem, através da contação de histórias, a imaginação e a curiosidade dos alunos.
Tendo como base as histórias criadas para o público infantil e infanto-juvenil, e de acordo com depoimentos de bibliotecários que atuam em bibliotecas escolares, este trabalho se propõe a justificar como essas bibliotecas utilizam a hora do conto para entreter e constituir o cotidiano de leitura dos estudantes.
A pesquisa tem como objetivo identificar de que forma as bibliotecas escolares utilizam a hora do conto para o lazer e a constituição do cotidiano de leitura dos alunos. Nesse intuito busca-se identificar se há ocorrência de hora do conto nas bibliotecas escolares, analisar de que forma as bibliotecas das escolas realizam a hora do conto, verificar os mecanismos de contação de histórias utilizados nas bibliotecas escolares, e interpretar como ocorre a continuidade da proposta de contação de histórias.
2 REVISÃO DE LITERTURA
Para integrar a hora do conto ao ambiente escolar, é preciso refletir sobre os aspectos mais importantes da biblioteca escolar, da leitura, da literatura infantil e da contação de histórias.
2.1 BIBLIOTECA ESCOLAR
Uma biblioteca escolar é uma unidade de informação especializada em suprir e complementar as necessidades informacionais dos conteúdos ministrados em sala de aula, proporcionando aos alunos maiores informações sobre os conteúdos abordados, assim como propiciando literatura como forma de lazer. Ao formar leitores, a biblioteca escolar cria frequentadores de outras unidades de informação, assim como contribui para a melhoria dos índices sócio-culturais de um país.
Por ser, muitas vezes, a primeira biblioteca conhecida pela maioria das crianças, a biblioteca escolar deveria ser um lugar instigatório, interessante e atrativo, que desenvolvesse o aprendizado contínuo das crianças e a criatividade. Localizada dentro de unidades de ensino, deve atender toda a comunidade escolar, que inclui alunos, professores, funcionários e familiares, constituindo-se num ambiente social e democrático que permite acesso à informação para todos.
Para Moro e Estabel ([200?], p. 4) “A biblioteca escolar é o centro de mediação entre a vida e a leitura que propicia um espaço de aprendizagem onde o ser humano deve buscar espontaneamente e aprender com prazer”.
É importante citar o Manifesto da UNESCO, de 1999, documento de fundamental importância para o estudo das bibliotecas escolares, o qual consta aspectos essenciais tais como a importância das biblioteca escolares e suas funções mais relevantes. Por esse motivo, o acervo das bibliotecas escolares deve possuir materiais pertinentes ao seu público, para auxiliar na aprendizagem dos estudantes, além de materiais que possam interessar aos alunos, e não apenas os assuntos estritamente curriculares.
Atualmente, a biblioteca deve focar suas atividades no seu usuário e não mais na preocupação com o acervo. Por isso, as bibliotecas devem, cada vez mais, focar-se em serviços como o atendimento aos seus usuários e no estímulo destes em relação ao prazer da leitura e da freqüência na biblioteca.
Ainda conforme o Manifesto da UNESCO (1999) a biblioteca escolar deve cumprir com os seguintes objetivos abaixo para que seja parte integral do processo educativo:
a) apoiar e intensificar a consecução dos objetivos educacionais definidos na missão e no currículo da escola;
b) desenvolver e manter nas crianças o hábito e o prazer da leitura e da aprendizagem, bem como o uso dos recursos da biblioteca ao longo da vida;
c) oferecer oportunidades de vivências destinadas à produção e uso da informação voltada ao conhecimento, à compreensão, imaginação e ao entretenimento;
d) apoiar todos os estudantes na aprendizagem e prática de habilidades para avaliar e usar a informação, em suas variadas formas, suportes ou meios, incluindo a sensibilidade para utilizar adequadamente as formas de comunicação com a comunidade onde estão inseridos;
e) prover acesso em nível local, regional, nacional e global aos recursos existentes e às oportunidades que expõem os aprendizes a diversas ideias, experiências e opiniões;
f) organizar atividades que incentivem a tomada de consciência cultural e social, bem como de sensibilidade;
g) trabalhar em conjunto com estudantes, professores, adminis-tradores e pais, para o alcance final da missão e objetivos da escola;
h) proclamar o conceito de que a liberdade intelectual e o acesso à informação são pontos fundamentais à formação de cidadania responsável e ao exercício da democracia;
i) promover leitura, recursos e serviços da biblioteca escolar junto à comunidade escolar e ao seu derredor.
A qualidade da educação está diretamente ligada à oferta de meios e instrumentos que instiguem a busca dos alunos pela informação. As bibliotecas são centros de informação e lazer constituindo-se num ambiente propício para o crescimento intelectual do ser humano. O desenvolvimento de atividades dinâmicas nesse espaço deve constituir-se em ambiente de aprendizagem, possibilitando que os alunos despertem seus olhares para a leitura, o que torna o indivíduo um formador de opinião.
A biblioteca escolar tem caráter e funções pedagógicas. Por esse motivo, deve ser associada com ações em prol da leitura, à pesquisa escolar e ao trabalho intelectual, assim como às ações culturais, que objetivam a contextualização dos alunos com o meio onde vivem.
De acordo com Fragoso (2005), a biblioteca escolar ideal seria aquela em que haveria uma participação ativa da comunidade, em busca da formação de um cidadão crítico, participativo e seletivo. Além disso, a autora afirma que a biblioteca escolar é fonte de conhecimento e respeito às diferentes manifestações culturais, favorecendo a construção coletiva do conhecimento. Serve, portanto, de apoio para professores durante o processo de ensino por auxiliar os alunos durante a pesquisa escolar, buscando diversificar o conhecimento, com o intuito de fazer com que os alunos, ao se depararem com diversas formas de conhecimento possam também, selecionar as fontes pertinentes de informação e, assim, construir novos conhecimentos.
2.2 BIBLIOTECAS ESCOLARES NO BRASIL
No Brasil, os alunos de escolas particulares, em geral, possuem bibliotecas com ambientes confortáveis, acervo atualizado e organizado de forma atrativa, e muitas vezes ainda contam, com os serviços prestados por bibliotecários, já no âmbito das escolas públicas, nem sempre ocorre o mesmo. A biblioteca escolar das redes públicas geralmente é um espaço fechado, onde, na maioria das vezes, possui como gestor um professor em desvio de função (em alguns casos prestes a se aposentar) tendo muitas vezes necessidade de ampliação do espaço físico, recursos materiais e humanos.
Na maioria dos casos, aqueles que, porventura, são destinados a organizar as bibliotecas públicas brasileiras, não possuem instrução adequada para tal e passam a dominar o ambiente com regras taxativas e incabíveis. Essa condição é confirmada por Nogueira e Continovi (2006, p.35), ao expressar que [ . . . ] as bibliotecas escolares são, em regra, instaladas em precárias condições; contam com um acervo exíguo, qualitativamente pobre e, o que é pior, subtilizado.”
Todavia em 25 de maio de 2010, foi aprovada a Lei 12.244 que dispõe sobre a universalização das bibliotecas nas instituições de ensino do País, o que garante que no prazo de dez anos todas as instituições de ensino público e privado contarão com bibliotecas. É frizado ainda, que deve ser respeitada a profissão de bibliotecário, disciplinada pelas leis nº 4.084, de 30 de junho de 1962, e 9.674, de 25 de junho de 1998.
A biblioteca escolar é um espaço onde o conhecimento é gerado, e porque não dizer, construído; pois quando um profissional se empenha na educação de indivíduos, acaba formando pessoas com a capacidade de criticar e de analisar as informações que lhe são repassadas. Neste caso, surge a parceria entre bibliotecário/professor, que por sua vez corresponde a uma função complementar e não excludente. Ambas as atividades objetivam a formação de seres pensantes, formadores de opinião.
Conforme o Manifesto da UNESCO (1999):
Está comprovado que bibliotecários e professores, ao trabalharem em conjunto, influenciam o desempenho dos estudantes para o alcance de maior nível de literacia na leitura e escrita, aprendizagem, resolução de problemas, uso da informação e das tecnologias de comunicação e informação.
Isso, também, é citado por Nogueira e Continovi (2006, p.36):
A biblioteca deve incentivar e desenvolver atividades variadas de leitura e escrita. É importante que os profissionais que atuam na biblioteca trabalhem em parceria com os professores de sala de aula e de outros setores da escola, bem como outras bibliotecas da Rede.
Além disso, segundo Bonotto (2007), a parceria de professor e bibliotecário fortalece a biblioteca escolar.
As deficiências apresentadas nas bibliotecas escolares brasileiras são críticas, principalmente em função da falta de recursos oferecidos pelo governo. Em contraponto, a política do Rio Grande do Sul é a que mais tem regulamentação sobre as bibliotecas escolares, o que falta é o conhecimento e ação de seus profissionais que não se empenham em projetos para melhor desenvolver o acervo e serviços oferecidos pela biblioteca.
Recentemente, foi elaborado pelo Conselho Federal de Biblioteconomia (CFB), em conjunto com os Conselhos Regionais de Biblioteconomia (CRBs) do Brasil, um projeto mobilizador, intitulado “Biblioteca Escolar: construção de uma rede de informação para o ensino público”. Trata-se de uma proposta interessante e promissora, que tem por objetivo geral “Contribuir efetivamente para a qualidade do ensino, no território nacional, que tire o Brasil de uma situação difícil no que tange à circulação da informação e do conhecimento na escola pública, em geral”. (SISTEMA CFB/CRB, 2009, p. 25) Da mesma forma foi publicada, em 25 de maio de 2010, a lei que estabelece a obrigatoriedade de bibliotecas em escolas públicas e particulares.
Com o auxílio do projeto, é possível que a situação das bibliotecas escolares brasileiras se modifique, passando a receber mais atenção e recursos. A divulgação do plano, assim como o apoio, é de simples execução, quando pode-se contar com o apoio de colaboradores dispostos a tornarem-se agentes da mudança, e nesse caso com os próprios bibliotecários que são, por base, fornecedores de informação.
Com um pouco de empenho de cada profissional, o projeto pode ser facilmente exposto para as comunidades escolares. Essa publicação pode, e deve, acontecer de forma natural e envolvente, com anúncios visuais expostos pelas escolas, reuniões com os pais, professores, etc. Por ser um projeto promissor e de profunda importância e necessidade, é fundamental o engajamento de todo profissional nessa causa.
Enfim, a falta de verbas e recursos não deve ser motivo de desistência da busca por uma biblioteca escolar moderna, eficiente e de qualidade, que atenda todas as necessidades de informação da sua clientela. É nos estudantes, que os bibliotecários, professores e a própria escola devem concentrar esforços para formar cidadãos atuantes na sociedade onde vivem.
2.3 LEITURA
A partir do século XVIII a criança passou a ocupar um papel na sociedade anteriormente visto apenas no seio familiar, quando os esforços de pais e mães tinham como finalidade existencial a criança. Tal importância passa a constituir o aparecimento de objetos industrializados como os novos ramos da ciência (a pediatria e pedagogia), o brinquedo e o livro (no âmbito cultural). Uma instituição passa a se solidificar, tendo sido facultativas em tempos anteriores, a escola, se qualificando como mediadora entre a criança e a sociedade.
Com isso, passa a existir a obrigatoriedade da escolarização, de forma a promover e estimular a circulação e consumo de livros, já muitas vezes escritos com posturas nitidamente pedagógicas. A facilitação da eficiente aprendizagem da leitura é um dos principais recursos de que o professor dispõe para combater a imensa massificação executada principalmente pela internet e pela televisão. É importante ressaltar que o aprendizado de lugares, modos de agir e conhecimento escolar pode ser aprendido através da literatura sem que fique semelhante ao ambiente de aula (ABRAMOVICH, 1989).
De acordo com Foucambert (1994, p.5), “[ . . . ] ler significa ser questionado pelo mundo e por si mesmo, significa que certas respostas podem ser encontradas na escrita”, pois a literatura remete a leitura de mundo através da simbologia e representatividade dos significados exercidos pela palavra.
Marchi (1999, p.161) considera que “[ . . . ] a leitura é uma experiência profundamente pessoal e resulta da permanente confrontação entre a narrativa do autor e as histórias de vida do leitor”. Diante do exposto, é necessário que esteja presente no cotidiano dos cidadãos, histórias, canções, sambas, anedotas e até mesmo manifestações poéticas e dramáticas que expressem valores, cultura e a identidade do contexto ao qual pertence a criança.
A leitura preferencialmente deve começar dentro de casa, pois quando as crianças crescem num ambiente em que enxergam pessoas praticando a leitura, elas ganham um estímulo muito forte para agir do mesmo modo. Por isso, é preciso que o leitor desfrute do prazer que a leitura lhe proporciona, visto ser este um bem utilitário de consumo, um bem quase transcendente, na medida em que a literatura dos livros de histórias, proporciona momentos de liberação da subjetividade (COSTA, 2005).
Cabe ainda ressaltar como afirma Cosson (2007, p.38) que “[ . . . ] a leitura não está restrita às letras impressas em uma página de papel.” As leituras podem ocorrer de diferentes formas, como por exemplo músicos lêem partituras, agricultores lêem o céu para prevenir a chuva, mães lêem no rosto do bebê a dor ou o prazer. Concomitantemente a isso, ao ser interrogado sobre a importância de formar leitores, Zotz (2005) afirma que os motivos são vários: a) o acesso à leitura deve ser um direito de todos; b) a leitura é processo de contínuo aprendizado; c) a leitura ajuda a formar seres pensantes, e d) leitura é prazer. Visto estas prerrogativas, é possível inferir que o estímulo à prática de leitura é responsabilidades de todos os indivíduos.
2.4 LITERATURA INFANTIL
O primeiro autor que demonstrou interesse em transferir para o papel as histórias direcionadas ao público infantil foi Charles Perrault no final do século XVII, quando registrou histórias que ouvia de sua mãe num livro que ficou conhecido como ‘Contos da Mamãe Ganso’. Posteriormente, os Irmãos Grimm, na Alemanha, coletaram contos populares orais e registraram em suporte papel.
No Brasil, a vida cultural se inicia com a chegada da família real. Em 1808, criaram-se os primeiros colégios do país em Minas Gerais, e em grandes cidades como Salvador e Rio de Janeiro. Posteriormente, a Constituição de 1824 declarava gratuita a todos a instrução primária, garantindo com isso, a criação das escolas públicas.
Em 1831, surge em Salvador o primeiro jornal infanto-juvenil, intitulado O Adolescente, seguido por jornais como Livraria dos Meninos, O Mentor da Infância, O Juvenil, entre outros, destinados ao mesmo público (Vasconcelos, 1985).
A partir de então, surge o que podemos chamar de primeira fase da literatura infantil, quando ocorre uma intensa atividade representada pelo jornalismo e pelas traduções, onde se destacam títulos como O Último dos Moicanos, Robinson Crusoé, As Viagens de Gulliver, Dom Quixote de la Marcha e As Mil e uma Noites.
Em sua fase posterior, tem-se a publicação do primeiro livro infantil de Alberto Figueiredo Pimentel (1894), Contos da Carochinha, que reúne 40 contos populares adaptados, este seguido pelo humorista infantil, Arnaldo de Oliveira Barreto, adaptando obras da mitologia grega. Surgem então novos nomes como Manuel José Gondim da Fonseca, Thales Castanho de Andrade, Viriato Correia, Renato Sêneca Fleury, Vicente Paulo Guimarães, Érico Veríssimo, Cecília Meireles, Vinícius de Moraes, e na poesia, Francisca Júlia, Zolina Rolim, Prisciliana Duarte de Almeida e Correia Júnior.
Entretanto, como afirma Cunha (1991), foi em Monteiro Lobato que a literatura infantil foi melhor considerada, ao criar uma literatura genuinamente brasileira, diversificando sua obra quanto a gêneros e orientações com uma literatura centralizada em alguns personagens que percorrem e unificam seu universo ficcional genuinamente brasileiro.
José Renato Monteiro Lobato, tem destaque por não ter recriado contos, sua inspiração maior e básica foi a própria criança, com seus motivos e seus ingredientes de vivência. Como é possível concordar com a afirmação de Carvalho (1985, p.133)
[ . . . ] suas fantasias, suas aventuras, seus objetos de jogos e brinquedos, suas travessuras e tudo o que povoa a sua imaginação... reencontrou a criança, amealhou toda a riqueza e criatividade de seu mundo maravilhoso e construiu um universo para ela, num cenário natural, enriquecido pelo folclore de seu povo, aspecto indispensável à obra infantil
Na atualidade são diversos os autores de renome em nossa literatura como podemos citar José Elias, Ziraldo Alves Pinto, Ruth Rocha, Tatiana Belinky, Ana Maria Machado, Lia Luft entre outros autores. Como observado, é vasta a literatura infantil brasileira, e para explorá-la, é importante a construção do interesse pela leitura, processo este constante e gradativo, iniciado com a família, sendo a seguir reforçado pela escola.
Como forma de curiosidade, é importante destacar que no dia 2 de abril comemora-se o Dia Internacional do Livro Infantil, data esta alusiva ao nascimento do escritor dinamarquês Hans Christian Andersen. No dia 18 de abril, nascimento de Monteiro Lobato, comemora-se o Dia Nacional do Livro Infantil; já no dia 23 do mesmo mês, comemora-se o Dia Mundial do Livro e dos Direitos do Autor, datas estas concomitante ao falecimento dos escritores Miguel de Cervantes e William Shakespeare.
2.5 HORA DO CONTO
Contar e ouvir histórias é uma arte desenvolvida por muitas gerações. O fascínio causado pelo narrador permite aguçar a sensibilidade dos ouvintes. Como afirma Coelho (1990, p. 11):
A força da história é tamanha que narrador e ouvintes caminham juntos na trilha do enredo e ocorre uma vibração recíproca de sensibilidades, a ponto de diluir-se o ambiente real ante a magia da palavra que comove e enleva. A ação se desenvolve e nós participamos dela, ficando magicamente envolvidos com os personagens, mas sem perder o senso crítico, que é estimulado pelos enredos.
O processo de narração possibilita a reinvenção da realidade concreta. Através da narrativa oral é possível formar indivíduos leitores, produtores de texto e críticos da própria realidade. Como pode-se concordar com Peixoto (2006, p.12)
[ . . . ] é na infância que se transformam as atitudes. Ouvindo histórias, as crianças se identificam com este ou aquele personagem, numa situação semelhante a alguma já vivida, e isso pode ajudá-la a resolver seus problemas.
Para tanto, existem diferentes formas de fixar a atenção do público ouvinte; cabe ao contador de histórias além do conhecimento do texto e do gosto pela leitura procurar por histórias com linguagens acessíveis, levando-se em conta para isso a faixa etária do público, a forma de modular a voz conforme acontecimentos narrados (ora mais baixa, ora mais alta, ora mais depressa, ora mais devagar), assim como a expressão corporal e fisionômica.
Cabe também a elaboração de um plano, um roteiro para organizar o desempenho do narrador, da mesma forma a adaptação verbal é de fundamental importância para facilitar a compreensão da história e torná-la mais dinâmica.
A seguir é apresentada características para o planejamento da hora do conto, sendo necessário para narrativas destinadas a crianças pequenas, respeitar-lhes suas peculiaridades, sobretudo seu estado emocional.
A partir de uma faixa etária, é possível analisar os interesses das crianças. Os alunos de educação infantil possuem duas fases, até os três anos denomina-se fase pré-mágica, e o seu interesse é por histórias de bichinhos, brinquedos, seres da natureza e crianças; já entre as crianças de três a seis anos, a fase denomina-se mágica, e o seu interesse é por histórias repetitivas e acumulativas, assim como histórias de fadas.
Após essa seleção, são encontrados alunos em idade escolar, onde aos sete anos a criança possui interesse por histórias de animais, encantamento, aventuras em seu próprio ambiente (família, escola e comunidade) e fadas. Aos oito anos o interesse por fadas continua, entretanto com enredo mais elaborado, além de histórias humorísticas. Aos nove anos a criança além dos contos de fadas possui interesse por histórias vinculadas à realidade. E, por fim, aos dez anos em diante, as aventuras ganham espaço através de viagens, invenções e explorações, assim como as fábulas, mitos e lendas (COELHO, 1990).
O ambiente onde a hora do conto se desenvolve também deve ser preparado conforme as possibilidades oferecidas pelo local, pode-se utilizar tapete com almofadas, modificar o ambiente de uma sala de aula, entre outras opções. A atenção dispensada pelos ouvintes tem duração de no máximo vinte minutos, o que delimita o tempo da contação de história.
Seguida a escolha da história o estudo de sua estrutura e elementos essenciais passam a ser prioridade. Podem ser destacadas três partes, sendo elas a introdução, onde é necessário preparar o público, localizá-lo no tempo e espaço e apresentar os principais personagens e suas características, o clímax, momento máximo do desenvolvimento de um conflito, e o desfecho, onde se relata o sesenlace da história.
Muitos ouvintes no decorrer da história interrompem a narrativa para complementar o que está sendo exposto ou mesmo para chamar a atenção para si. Nesses casos o narrador não deve interromper a história apenas gesticular para que a criança aguarde e ao final da história permitir que o ouvinte se manifeste.
Por ser o desenvolvimento da linguagem oral e da liberdade de expressão um dos principais objetivos da hora do conto, é fundamental permitir que o ouvinte faça seus comentários ao final da narrativa, seguidos de atividades de enriquecimento como listadas por Barcellos (1995, p. 36):
Dentre as formas de apresentações para a hora do conto, podemos destacar a narrativa simples, narrativa com livro, narrativa com interferência e a narrativa com recursos visuais.
A simples narrativa demonstra o poder do contador de história em fixar a atenção dos ouvintes. Utiliza-se da expressão corporal e da voz do narrador. A ênfase deve ser dada as paralisações da voz nos momentos de suspense, sua maior finalidade é a de instigar a imaginação do ouvinte.
A narrativa com livro deve ter sua propriedade como recurso examinada através da apresentação gráfica e da imagem. As páginas devem ser apresentadas virando-se lentamente com a mão direita enquanto a outra mão sustenta a parte inferior do livro aberto frente ao público, da mesma forma é importante que o narrador não faça comentários relacionados às ilustrações, permitindo que a criança acompanhe simultaneamente a narrativa e as ilustrações. É importante ainda comunicar aos ouvintes o nome do autor e ilustrador para torná-los conscientes da existência dos mesmos.
Já a narrativa com interferência, busca a participação dos ouvintes durante a narração. Pode ocorrer de diferentes formas, tais como palmas, expressões faciais, gestos e pela voz. Geralmente são utilizados em canções e rimas.
Por último, a narrativa com recursos visuais que como as citadas anteriormente partem do bom senso do contador. Para este tipo de narrativa podem ser utilizados diferentes recursos visuais, como ilustrações ampliadas, flanelógrafos (em quadro ou avental), imanógrafo, álbuns (seriados ou sanfonados), quadro de pregas, quadro de giz (quadro negro), tela acrílica (quadro branco), televisão de caixinha, teatro (fantoches, dedoches, varas, sombra), varais. Já os diapositivos e retroprojetores, por serem difíceis de encontrar atualmente, podem ser substituídos por apresentações em power point.
As maneiras de incentivar a leitura e proporcionar momentos prazerozos às crianças são diversas, cabe ao contador de história procurar as fontes de informação adequadas e colocar em prática sua criatividade e dedicação.
3 METODOLOGIA
A fim de determinar quais ações foram realizadas, assim como seu modo de execução para se obter os resultados desejados em consonância com os objetivos da pesquisa, é importante apresentas a metodologia da análise.
Foi realizado um estudo de caso, utilizando-se para isso uma abordagem quanti-qualitativa, a qual foi escolhida pela complementação de uma em relação à outra para compreensão da realidade. A abordagem quantitativa possibilita que se recolham dados mais objetivos e quantificáveis de determinada realidade que dêem credibilidade aos resultados obtidos. Já a abordagem qualitativa, permite que se trabalhe com a descrição de hábitos, valores, opiniões e atitudes.
Os sujeitos de estudo do presente trabalho foram bibliotecários atuantes em bibliotecas de escolas particulares da cidade de Porto Alegre (SINEPE/RS), limitando-se o campo de análise a instituições que possuíssem no mínimo o ensino fundamental completo assim como bibliotecários como responsáveis pela biblioteca. Conforme busca realizada no site do Sindicato do Ensino Privado do Estado do Rio Grande do Sul, através da expressão 'Porto Alegre', recuperou-se 140 instituições particulares. A partir do resultado obtido foram selecionadas as instituições correspondentes aos critérios descritos acima através do contato via telefone. Onde se constatou que dessas Instituições, apenas 55 se enquadravam, resultando dessa forma na população do estudo.
Diante do exposto, a amostra estudada correspondeu a cinco instituições de ensino privado que possuíam no mínimo o ensino fundamental completo e que tinham um profissional bibliotecário como responsável pelo setor, tais instituições localizam-se na cidade de Porto Alegre, e foram selecionadas aleatóriamente.
O método de coleta de dados adotado para a pesquisa foi o questionário, contemplando 13 questões ao total. Das questões apresentadas, há ocorrência de 4 questões de múltipla escolha, 6 questões abertas e 3 questões fechadas.
Sua escolha como instrumento de coleta de dados se deu por possuir como característica a objetividade, e permitir que os entrevistados se sentissem à vontade para responder as questões apresentadas.
O questionário se destinou a responder os objetivos específicos. Para tanto, foi estabelecida a relação entre os objetivos específicos e as questões do instrumento de coleta de dados, a fim de garantir maior eficiência na pesquisa.
A coleta de dados se deu através do envio de emails com o questionário em anexo, sendo os bibliotecários das instituições interrogados anteriormente via emails sobre a disponibilidade e interesse em participar do estudo.
Para a análise dos dados foram observadas as questões da seguinte forma: a) para as questões fechadas, onde as respostas foram mais precisas e diretas, foi utilizado métodos estatísticos. Já as questões abertas, que permitem aos entrevistados responderem de forma livre e aberta, foram interpretadas individualmente, ou como um todo. Sendo posteriormente, representadas utilizando-se porcentagens obtidas com os resultados, assim como com a utilização de gráficos e tabelas.
A fim de testar se as questões estavam claras, a linguagem compreensível e se havia a possibilidade de respostas ambíguas ou dispersas, o estudo piloto foi realizado com a aplicação do questionário à três acadêmicas do curso de Biblioteconomia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Para efetivação da pesquisa relatada no presente trabalho, a limitação a ser expressa corresponde à falta de tempo para realização dos questionários de forma pessoal. Por tanto, a opção escolhida foi o envio via email de questionário garantindo maior facilidade em relação à efetivação da pesquisa.
4 ANÁLISE DOS DADOS
Tendo como população total de estudo as 55 instituições que se enquadraram na delimitação da pesquisa, contribuíram para o estudo cinco instituições, aqui nominadas como Escolas A, B, C, D e E. A análise das respostas dos questionários identificou que as cinco escolas indicam a ocorrência da “Hora do Conto”.
A partir da primeira questão exposta no questionário é possível verificar que todas as bibliotecas participantes da pesquisa utilizam a hora do conto com os alunos, respondendo ao primeiro objetivo que visa identificar se há ocorrência de hora do conto nas bibliotecas.
A segunda pergunta aprofunda a anterior ao verificar com que frequência é realizada a contação de histórias.
Em relação a esse questionamento, as escolas identificaram a seguinte frequência: Escola A, uma vez por semana; Escola D, quinzenalmente; Escola E, mensalmente; enquanto as Escolas B e C identificaram ‘outro’ como frequência de realização.
A referida questão além de oferecer opções com intervalos pré-estabelecidos, oferece a opção 'outros', que ocorreu em dois casos sendo eles expostos como datas comemorativas, tais como dia das crianças, páscoa, dia das bruxas entre outros e como atividade diária.
A próxima questão pode ser relacionada ao segundo objetivo que propõe perceber de que forma é realizada a hora do conto na biblioteca escolar em relação aos agentes envolvidos nessa atividade.
Em relação a participação do profissional Bibliotecário, responderam positivamente as Escolas A, C e E, os Estagiários nas Escolas B e E, Auxiliares de Biblioteca nas Escolas B, C e D, Professores nas Escolas D e E, e outros na Escola E.
Observa-se que nem sempre o bibliotecário participa deste momento, cabe ressaltar que muitos estudantes de biblioteconomia não acreditam que seu papel esteja relacionado a este momento, tal afirmação resulta de inúmeros momentos de democratização de opiniões oferecidos pelos professores no decorrer do curso de graduação. Além disso é possível perceber que a atividade é exercida por todas as pessoas que integram a equipe da biblioteca.
O questionário que optou também pela opção 'outro', refere-se a comunidade escolar que se envolve em projetos de estímulo à leitura, sendo os sujeitos funcionários de outros setores.
A quarta questão engloba os recursos que as bibliotecas escolares utilizam ao elaborarem suas atividades de horas do conto e responde ao terceiro objetivo que visa verificar os mecanismos de contação de histórias.
Percebe-se que nem todos as opções são exploradas pelas bibliotecas, o que permite grandes possibilidades de incremento em futuras horas do conto, e consequentemente de incitar a imaginação das crianças.
Como preferência observa-se a utilização das ilustrações e a utilização de aventais.
As opções referentes a 'outros' correspondem a:
a) Utilização de instrumentos musicais, CD-ROM, DVDs e brincadeiras;
b) Contação de história utilizando-se varais, fantoches e dedoches,
c) Desenhos elaborados por uma funcionária, que não correspondem as ilustrações do livro, e que, dessa forma explora o imaginário infantil.
A questão seguinte complementa o objetivo anteriormente citado ao buscar responder a média de tempo da narrativa. Na Escola B foi indicada a duração de 15 min., enquanto nas Escolas A, C e D a duração indicada foi de 30 min., e a Escola E definiu a duração como ‘outro’.
Observa-se que a média corresponde à trinta minutos de narração, entretanto, este tempo pode variar, como expôs a biblioteca que optou pela opção 'outro', ao informar que depende da técnica e da história utilizadas.
A sexta questão pode ser relacionada ao segundo objetivo, que busca verificar a forma de realização da hora do conto, ao perguntar se há preparação para a atividade. Nesse caso, todas as Escolas responderam positivamente.
Mais uma vez, percebe-se que a contação de histórias é uma proposta bem elaborada pelas bibliotecas escolares, pois além de todas utilizarem-na, também todas preparam-se para esse momento.
A seguinte questão explora a confecção dos materiais utilizados durante a realização da hora do conto.
As respostas seguiram um padrão coerente, apesar de serem dissertativas, portanto foi possível tabular os resultados dentro de agrupamentos.
É possível perceber que a maior parte dos materiais utilizados são elaborados pela equipe da biblioteca, sendo em alguns momentos possível contar com professores e voluntários, que trabalham com E.V.A., mãe de profissionais atuantes nas bibliotecas, além de assistentes de outros setores das escolas.
A sequência das perguntas interroga sobre a existência ou não de cronograma preestabelecido para a contação de histórias, assim como a frequência de sua realização.
Novamente as respostas seguiram um padrão coerente, apesar de serem dissertativas, portanto foi possível tabular os resultados conforme tabela acima.
A análise permite verificar que todas as bibliotecas escolares possuem um cronograma preestabelecido para a atividade, geralmente ocorrendo nos horários que as turmas possuem junto à biblioteca, entretanto varia o intervalo de ocorrência para a mesma turma, tendo como justificativa o tamanho do colégio, onde os que possuem muitas turmas realizam com menor frequência.
A nona pergunta pretendia verificar quais as turmas que mais participavam durante a hora do conto, ou seja, que turmas possuíam mais interesse pela narração, que procuravam participar da atividade. Entretanto, apenas um questionário foi respondido conforme as expectativas, no qual verificou-se que segundo e quinto ano participam com maior entusiasmo.
Os questionários restantes expuseram que a hora do conto é realizada com alunos da educação infantil à quarta série (quinto ano, conforme reforma no ensino fundamental). Cabe ressaltar que através da aplicação do estudo piloto não houve fuga à expectativa de resposta da referida questão.
A questão seguinte preocupa-se em verificar se ocorre continuidade da proposta de contação de histórias.
Verifica-se que todas as bibliotecas escolares utilizam a continuação da proposta da hora do conto.
Uma das resposta fugiu ao padrão, todavia foi interpretada como positiva, sendo ressalvada que a mesma depende da história que é narrada. Pois em algumas delas não ocorre a proposta de levar adiante o momento.
A questão de número onze, enquadra-se ainda no objetivo de interpretar a continuidade da proposta de contação de histórias ao buscar conhecer as formas com que ocorrem.
Em sua maioria relatou-se que é realizada uma conversa com os alunos, onde busca-se perceber o que mais gostaram, assim como se os alunos se identificaram com algum personagem. Outra resposta de senso comum foi a extensão da história narrada para sala de aula, onde os professores dão continuidade a proposta adequando-as ao ano para o qual lecionam. Da mesma forma, foi relatado a utilização de trabalhos escritos, leituras, desenhos e projetos que envolvam outras disciplinas.
A penúltima questão buscou conhecer as reações dos alunos após a Hora do Conto, respondendo ao último objetivo do presente trabalho.
A análise das resposta permitiu verificar que em todos os casos os alunos ficam ansiosos para relatar suas experiências tanto pessoais como familiares. De igual maneira, foi exposto que há grande entusiasmo e alegria das crianças ao participarem desses momentos na biblioteca. Em alguns casos, quando o aluno não gosta da história, ele relata seus motivos e ajuda não apenas seus colegas, mas a equipe de narração a refletir e desenvolver seu imaginário.
Também houve relato por parte dos entrevistados de as crianças desejarem tocar nos personagens que participaram da narrativa e retirar o livro utilizado para leitura domiciliar.
A última questão teve como objetivo identificar se as bibliotecas escolares estimulam os alunos a partilharem o momento oferecido, como as respostas seguiram um padrão coerente, apesar de serem dissertativas, foi possível tabular os resultados dentro de agrupamentos.
Observa-se que nem todas as bibliotecas escolares estimulam os alunos a partilharem desse momento.
Um dos questionários ressaltou que em alguns casos não é necessário estimular os alunos, pois sua reações permitem verificar o êxito do momento.
A questão também obteve resposta de bibliotecários que recebem frequentemente relato de pais sobre as narrativas realizadas junto às crianças. Muitos deles acabam interessados em retirar os livros para lerem novamente com seus filhos.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com a análise dos resultados obtidos com a presente pesquisa, foi possível verificar que as bibliotecas tem interesse em utilizar a hora do conto como atividade nesse setor em específico.
Foi verificado que a frequência com que ocorre é satisfatória. E que participam da narrativas pessoas dos mais diversos segmentos da escola, o que permite inferir que o interesse em proporcionar esse momento para as crianças não parte apenas de educadores. A formação de leitores engloba todos, inclusive os pais.
Os recursos explorados para hora do conto na maioria das escolas podem ser ampliados, garantindo às crianças diferentes expectativas e reações.
A duração das narrativas foi corretamente expressa pelos bibliotecários, que demostraram conhecimento da literatura sobre o assunto, ao não imporem às crianças histórias longas e cansativas, além de desenvolverem histórias para diferentes faixa etárias.
Quanto à preparação para hora do conto foram atingidas as expectativas ao observar-se que todas as bibliotecas do estudo preparam-se para esse momento com a necessária antecedência.
As perguntas abertas possibilitaram trocas de experiências que demonstraram senso comum entre as reações observadas nas crianças. Onde a ênfase é a participação do aluno em relatos e em atitudes que demonstram sua criatividade, seu senso crítico e sua satisfação em fazer parte desse momento oferecido pela equipe da biblioteca.
Além disso, a confecção de materiais para a narrativa possibilitou observar a expectativa de pessoas que nem mesmo estão ligadas diretamente à área educativa (como os familiares dos alunos e funcionários), mas que ficam satisfeitas em participar desse momento e proporcionar as crianças essa atividade, desenvolvendo uma função social na sociedade.
O presente trabalho de modo geral teve resultados muito satisfatórios, entretanto, cabe ressaltar que o estudo foi delimitado para instituições de ensino privado que possuíssem no mínimo o ensino fundamental completo assim como bibliotecários como responsáveis pela biblioteca. É notório que a maior parte das crianças em idade escolar encontram-se em escolas públicas, que, infelizmente, em muitos casos não possuem professores, salas de aulas e bibliotecas. Portanto, é fundamental ter-se em mente que o estudo foi realizado junto a uma minoria privilegiada.
Dentro da proposta oferecida por este trabalho, melhorias poderiam ser realizadas ao se contratar pessoal para as bibliotecas, de forma a diminuir os intervalos de contação de histórias para cada turma e proporcionar maior quantidade de momentos prazerosos para os alunos. A fim de desenvolver uma função social junto à comunidade, as pessoas envolvidas nas narrativas, assim como a escola da qual formam o quadro de pessoal, poderiam desenvolver projetos de extensão levando à outras escolas esse momento de prazer e satisfação.
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