Luiz Rodolfo Simões Alves
Os espaços rurais têm conhecido, ao longo das décadas, etapas diferenciadas para as quais foram definidas várias políticas, instrumentos e iniciativas por parte da União Europeia, com enfoques igualmente diferenciados. Desde a Nova Política Agrícola Comum, que têm sido delineadas e colocadas em prática uma série de propostas e iniciativas que atendem às diversas funções do meio rural, com o intuito de estimular e fomentar o espírito da multifuncionalidade dos territórios rurais. Pretende-se promover uma transição da versão “produtivista e economicista” para uma fase onde se salientam as óticas territorialistas, com uma forte consciência ambiental, relevando a importância da sociedade rural, mediante a valorização dos seus múltiplos recursos, numa visão sustentável, integradora e onde a instituição de redes se revela fundamental para o desenvolvimento dos territórios, promovendo as novas funções e utilizações (industriais, energéticas, residenciais, recreativas, turísticas, entre outras).
Deixando a exclusividade da função de produção alicerçada na visão agro-silvo- pastoril, que prevaleceu durante largas décadas, aos espaços rurais começa a ser atribuída uma representação estética, lúdica e edílica pelos novos protagonistas e intervenientes urbanos e institucionais, com uma visão e metas de conceção do território rural transversalmente antagónicas às que tradicionalmente eram dirigidas a esses espaços.
Na fruição deste contexto de mutação, os novos usos e produtos associados ao turismo e aos lazeres têm-se assumido como uma oportunidade para a revitalização destes territórios, dotando e diversificando a sua economia local, capacitando um aumento da qualidade de vida das populações, valorizando os seus recursos endógenos, num contexto simbiótico de sustentabilidade.
Face a todas estas metamorfoses do tecido, da estrutura, dos contextos territoriais e das novas formas de atuação e agentes envolvidos nos processos de desenvolvimento dos espaços rurais (e dos domínios de montanha), as dinâmicas que têm sido induzidas nestes meios fazem crescer, de forma significativa o interesse da investigação científica por estes territórios.
A Rede das Aldeias do Xisto (Centro de Portugal) assume-se como um exemplo relevante, e que importa investigar no âmbito da sua implementação e dos resultados obtidos com as intervenções públicas neste contexto. Dentro da Rede individualizamos de forma aprofundada as intervenções realizadas e as dinâmicas induzidas pelo Projeto
das Aldeias do Xisto num contexto geográfico muito particular: as Aldeias do Xisto do concelho de Góis. Pretendemos, assim, analisar os processos de mudança, as dinâmicas induzidas, a implementação e execução das políticas públicas e, de forma diferenciada, a atuação da Lousitânea – Liga de Amigos da Serra da Lousã, uma Associação de Desenvolvimento Local, demonstrando os seus âmbitos e áreas de atuação, as suas valências e a sua preponderância na revitalização de quatro lugares serranos, em particular e, no geral, dos contextos territoriais da sua proximidade e influência (concelho de Góis, Serra da Lousã, Região Centro, Território das Aldeias do Xisto).
O quadro concetual desta investigação ambiciona explanar as principais tendências evolutivas dos espaços rurais, a forma como as políticas públicas têm tido impacto nestes territórios, e de como as entidades de âmbito local podem ser fundamentais nos processos de revitalização, a vários níveis (económico, social, demográfico, entre outros), dos espaços rurais e dos ambientes de montanha, servindo as análises concebidas para melhor compreender as dinâmicas territoriais destes lugares, tirando daqui conclusões e exemplos que possam servir de referências para outros programas e políticas de intervenção.