A fiação, a tecelagem, a fabricação de vestuário e a tinturaria de tecidos desenvolveram-se por etapas sucessivas nas diversas partes do mundo. A produção têxtil começava na fiação e tecelagem caseira para consumo familiar, mas é antiquíssima a profissão artesanal autónoma constituída por tecelões e tecedeiras. A actividade no sector têxtil assentava numa produção individual, acompanhada do seu agregado familiar, que se desenvolvia com o emprego de meios de trabalho que ou eram pertença exclusiva dos próprios produtores ou estavam na posse das classes senhoriais.
Para fiar deve-se ter começado por torcer fios entre as mãos ou contra a perna sem o auxílio de qualquer instrumento. Com o aparecimento do fuso, a fibra era enrolada em volta dum pau o que permitia retorcê-la e prender as fibras enrolando-as sobre a coxa, método este que ainda é empregue. A fase seguinte foi conseguida quando se descobriu que o fuso podia rodar sobre si próprio, bastando para isso deixar cair o fio, mantê-lo em suspenso e continuando a fiar. Os fusos de roca eram aproveitados de fragmentos de objectos de cerâmica talhados em forma de disco com um orifício no meio para serem utilizados como contrapesos. A roda de fiar, que substituiu o fuso, foi uma inovação técnica com grande reflexo na produtividade, datada do século XIII. Permitia fazer girar com a mão esquerda uma roda que torcia as fibras enquanto a mão direita puxava o fio. No século XV, foi acrescentado um pedal à roda que deixou as mãos livres ao fiandeiro. Como consequência de outros aperfeiçoamentos entretanto conseguidos, no século XVIII, foi introduzida uma máquina de fiar algodão com a qual um só operador podia accionar um grande número de fusos. Esta invenção podia ser aplicada tanto no trabalho ao domicílio como, para grandes produções, nas grandes oficinas então nascentes.
A tecelagem de têxteis sucedeu aos processos de entrançamento empregues na cestaria, que é produzida à base de fibras mantidas no estado natural, não tendo que ser fiadas. As fibras de cactos e de caule de juncos eram utilizados na produção de cesto, esteiras, cordas, redes e outros artefactos. A técnica da tecelagem exigia uma vida sedentária pois os vários processos e e instrumentos de fabrico eram dificilmente transportáveis por comunidades em movimento.
Nos pequenos teares, que permitem tecer à mão, a tecedura é feita com os dedos; mais tarde foram utilizadas varas de cruzamento de fios para os separar. A principal inovação no ofício têxtil foi o tear de pedal vertical que permitia estender melhor a urdidura e facilitar a sua passagem. A adição de pedais ao tear veio substituir a simples estrutura de tecer, assegurando o progresso da tecelagem. Ao tear manual sucedeu o tear de pedais. O seu aparecimento e divulgação esteve relacionado com o desenvolvimento do artesanato urbano e de oficinas integradas em domínios senhoriais, embora a tecelagem manual tenha sobrevivido até aos nossos dias.
O aperfeiçoamento das máquinas de tecer esteve ligado ao das máquinas de fiar. O princípio básico da tecelagem consistia em entrelaçar uns fios com outros por meio duma lançadeira. No século XVI, na Europa ocidental, o tear era já uma máquina bastante complexa, mas sempre accionada ao pé e à mão. O problema só foi solucionado na época em que tudo passou a fazer-se mecanicamente com um tear movido pela força motriz.
As invenções na técnica de tecelagem foram completadas com a mecanização do apisoar do tecido. O pisar com os pés foi substituído por maços de madeira e depois por um pisão de madeira, movido pela força humana ou pela força da água, com a introdução do moinho pisão.
A técnica tintureira estava intimamente relacionada com a manufactura têxtil. As matérias-primas usadas para tingir tecidos eram principalmente de origem orgânica; as cores utilizadas eram extraídas de plantas e, por vezes, de minerais. A arte de estampar difundiu-se rapidamente, tornando-se a chita estampada uma importante variedade entre os tecidos indianos. Com a divulgação dos corantes, os panos de cor expandiram-se por um maior número de compradores. A indústria têxtil passou a estar estreitamente ligada à indústria química. As técnicas usadas não eram adaptáveis à mecanização, exigiam uma grande habilidade e eram sempre efectuadas à mão.
A ascensão da indústria do algodão encontra-se directamente ligada ao comércio do algodão indiano e otomano na Europa. A vantagem destes países estava não só na tecnologia, tecelagem, coloração e confecção, mas também no baixo preço das matérias-primas e na mão-de-obra menos dispendiosa. O tecido de algodão revelou-se benéfico para a gente comum ao melhorar a qualidade do vestuário. A manufactura do algodão marca o início de uma longa tradição. Chegou a desempenhar um papel, adicional e muito importante, na Coreia, como meio de troca. Com a invenção da máquina para desembaraçar o algodão dos seus grãos, o algodão foi largamente cultivado nas plantações americanas durante a época colonial. Os avanços na fiação do algodão permitiram ampliar a indústria algodoeira e assegurar o seu sucesso na competição com outros têxteis. A procura do algodão aumentou rapidamente. A aplicação da força motriz encorajou a unificação das diversas operações e a criação na Inglaterra de grandes fábricas têxteis.
A lã é uma fibra espessa e frisada, bastante longa e propícia à fiação, proveniente da tosquia dos carneiros e outros ruminantes. Pressupõe a existência de uma actividade de criadores de gado lanígero e de tosquiadores. O moinho pisoador a água representou um progresso importante em comparação com o sistema primitivo em que o trabalhador batia com um pau os fios de lã molhados. A lã era muito apreciada para o fabrico de inúmeros artigos manufacturados, tais como: mantas, cobertas, cortinas, almofadas, tapetes, sacos e vestuário. Os artífices nómadas utilizavam a lã para fazer feltro como ainda fazem nos nossos dias; teciam a lã das ovelhas para a construção das tradicionais grandes tendas redondas. A produção de mantas de lã permitiu a especialização de alguns tecelões
A fibra de linho é muito fina e muito robusta, obtendo-se um fio suave e resistente. Era tecida em rústicos teares para produzir o bragal, actividade que ocupava inicialmente apenas uma população rural dispersa assente sobretudo no trabalho feminino. A produção pouco excedia as necessidades de autoconsumo familiar e a parte obrigatoriamente entregue às entidades senhoriais a título de renda. Posteriormente, a técnica de tecelagem do linho foi um pouco alterada de forma a apresentar um tecido com inúmeras texturas, podendo ser tão fino como a seda ou grosso para fazer as cordas e as velas das embarcações ou dos moinhos. As cordas feitas em geral com tranças de linho serviam para completar e reforçar os instrumentos agrícolas e as armas e para a construção naval. Com o cânhamo e o linho fazia-se o cordame ou as redes de pesca.
O pêlo de ovelha, como o de cabra, não era susceptível de ser fiado ou tecido quando estes animais foram domesticados, necessitando primeiro de sofrer mutações. As peles foram utilizadas como matéria-prima no fabrico de vestuário, embora perdendo gradualmente a sua importância com o aumento de produção da lã. Alguns artesãos dedicaram-se, no todo ou em parte, a este ramo de produção acumulando-o com a lã. O trabalho desdobrava-se em múltiplas operações desde a fiação até à confecção e acabamento de peças de vestuário. O aparecimento das primeiras oficinas têxteis indicia claramente que a tecelagem e o acabamento se destinavam já a uma comercialização.
As técnicas de fiação e tecelagem de tecidos de seda atingiram um nível bastante elevado e remontam aos alvores da civilização chinesa. A seda foi considerada um bem de luxo, o vestuário era usado pela elite aristocrática, pois o povo vestia geralmente roupa de linho. A seda servia também para ofertas diplomáticas, para pagamento parcial de salários e como valioso artigo de exportação. A seda pura era usada como suporte de escrita. A seda de melhor qualidade era, em geral, produzida em oficinas estatais. Os governos estimulavam o desenvolvimento tecnológico. Como meio de troca, a seda desempenhava um papel tão importante na economia que chegou a servir de moeda em importantes transacções.
Durante milénios o ser humano confeccionou as suas próprias vestes, antes de ter surgido o artesão especializado. Os tecidos manufacturados eram utilizados na confecção de vestuário que variava e se adaptava às condições climatéricas. Coser e bordar, antes considerados como ofícios caseiros, acabaram por dar lugar à profissão de alfaiate. Os profissionais que se dedicavam à confecção de trajes que implicava um labor mais cuidado, para servir a aristocracia, adquiriram uma certa especialização na arte de alfaiataria que se reflectiu na formação de organizações profissionais. O traje distinguia os estratos sociais, religiões e diferenciava-se também por regiões.
O processo produtivo estava cindido através de uma divisão de trabalho, cabendo a uns artesãos a fiação e a outros a tecelagem ou várias operações complexas a requerer muitas fases. Porém não parava aí, pois um papel muito importante cabia a todos quantos fabricavam os instrumentos de trabalho utilizados no artesanato têxtil e que constituíam os seus meios de produção. Entretanto, foram introduzidas algumas inovações, resultantes da execução à máquina de alguns trabalhos, embora estes progressos tenham avançado muito lentamente.
Muitos artesãos eram independentes e trabalhavam por conta própria. Havia artesãos que trabalhavam no domicílio, trazendo o fio do armazém do palácio ou do templo e entregando o tecido acabado. Alguns grupos de produtores dispersos ganhavam a vida tecendo panos grosseiros, utilizando principalmente a lã como matéria-prima. Os utensílios para fiar e tecer o linho e a lã, para cardar, para tingir os panos, eram pertença pessoal e directa dos obreiros. Um dos meios de produção, o pisão, dado o seu carácter fixo, propiciava à classe dominante a obtenção duma renda, o mesmo acontecendo com os teares.
Uma grande parte dos tecelões trabalhava nas manufacturas ou corporações e também em fábricas, autênticas empresas privadas reais, pertencentes a templos ou a ricos negociantes. Os tecelões empregados nas manufacturas pertenciam aos dois sexos; muitas vezes eram escravos. O seu trabalho era rigorosamente controlado através do registo da quantidade de fio recebido, da quantidade e qualidade do tecido feito por cada um. Igualmente eram registados os pagamentos em espécie que, no caso dos escravos, eram constituídos apenas por rações alimentares.
Na região dos Andes, a combinação do algodão com a lã obtida dos camelídeos possibilitou a obtenção duma grande variedade de fibras e as técnicas utilizadas permitiram a obtenção de diferentes tecidos com um acabamento excepcionalmente refinado. Os incas sabiam já tingir os tecidos e, embora os seus segredos não tenham sido descobertos, um certo número de novas matérias corantes chegaram à Europa, entre outros a cochonilha e o pau-brasil.
No Norte de África, a fiação de pêlo de camelo era uma das actividades artesanais de maior importância. Na África Subsariana, os tecelões eram mestres na arte de tecer, a partir do algodão, de simples folhas de ráfia ou de palmeira, panos bordados de um colorido notável, semelhantes a veludo ou cetim aveludado. A tinturaria fazia-se em buracos escavados no solo ou em grandes jarras. A indústria de tecelagem e tinturaria floresceu em várias regiões, com excepção das sociedades onde existia a nudez, onde o vestuário era muito escasso, usando-se apenas cascas de árvore no fabrico de tangas.
Na China, século XVI, o sector têxtil conheceu um desenvolvimento muito significativo. No mercado podiam encontrar-se toda a variedade de teares para a tecelagem de diferentes tipos de tecido, o que beneficiou os artesãos aumentando bastante a sua produção. Entretanto, o governo mandou construir fábricas têxteis que produziam apenas para o Palácio Imperial, reunindo os melhores tecelões para o fabrico de seda para a corte real. Existia uma gama completa de produtos de elevada qualidade sendo grande a sua procura. Nas zonas rurais, os camponeses não só trabalhavam a terra como também fabricavam têxteis. Nas áreas mais remotas, produziam apenas para seu uso exclusivo, mas nas zonas limítrofes das cidades eram também fabricados com objectivos comerciais.
A primeira indústria importante que se desenvolveu na Europa, no século XVI, foi a dos têxteis. A existência duma manufactura em grande escala obrigava a constituir um estoque importante de matérias-primas, a transformá-lo em produtos acabados, utilizando para isso um grande número de trabalhadores. Fora da jurisdição das guildas, fugindo às restrições por elas impostas, criaram-se empresas com grandes capitais. A especialização era desde há muito uma regra, trabalhando cada operário na sua especialidade. Uma importante inovação consistia em reunir no mesmo local certas operações sob a direcção e vigilância dum chefe da empresa. A divisão do trabalho permitiu o aumento da produção e unidade de direcção. Crescia a rapidez de execução mas, em contrapartida, a habilidade dos operários diminuía e as suas tarefas tornavam-se monótonas face à repetição sem cessar da mesma operação.