Luís Fernando Belém da Costa*
Manuel de Jesus Masulo da Cruz**
Arenilton Monteiro Serrão***
Francisco Alcicley Vasconcelos Andrade****
Universidade Federal do Amazonas, Brasil
falcicley@gmail.com
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RESUMO
Este artigo teve como objetivo principal apresentar os resultados de uma pesquisa sobre a produção camponesa do guaraná (Paullinia Cupana) no município de Maués-AM, principal produto agrícola cultivado e comercializado nesse município. Constatou-se que houve transformações significativas nos últimos anos no que concerne a produção camponesa relacionada ao guaraná em Maués, e tais mudanças se devem principalmente aos processos de tecnificação na produção impulsionada por órgãos como a EMBRAPA (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), IDAM (Instituto de Desenvolvimento Agropecuário do Amazonas), SEPROR (Secretária de Produção Rural) e pela empresa AMBEV (Empresa de Bebidas das Américas), que têm fomentado a utilização do guaraná clonado, adubos e agentes químicos na produção, tanto para uma maior produtividade, como para aumentar o lucro do capital. Dessa forma, é analisada a relação dos produtores com tais órgãos e principalmente com a AMBEV, empresa instalada em Maués, que compra a produção local e monopoliza o território. Assim, neste trabalho se discute, sobretudo, a relação do campesinato com o capital, compreendendo a forma como ocorre a apropriação capitalista da renda da terra e a maneira como o campesinato se reproduz diante do território monopolizado.
Palavras chave: Campesinato, guaraná, monopolização.
RESUMEN
Este artículo tiene como objetivo presentar los resultados de una encuesta sobre la producción campesina de guaraná (Paullinia cupana) en el distrito de Maués-AM, el principal producto agrícola cultivado y comercializado en ese municipio. Se encontró que hubo cambios significativos en los últimos años con respecto a la producción campesina relacionada con guaraná en Maués, y tales cambios se deben principalmente a los procesos de tecnificación en la producción impulsadas por organismos como la EMBRAPA (Brasileña de Investigación Agropecuaria), IDAM ( Instituto de Desarrollo agrícola de la Amazonia), Sepror (Secretario de la producción rural) y la empresa Ambev (empresa bebidas de las Américas), que ha fomentado el uso de guaraná clonados, fertilizantes y productos químicos en la producción, tanto para aumentar la productividad, como para aumentar la ganancia del capital. De este modo, se analiza la relación de los productores para tales órganos y sobre todo con la AMBEV, ahora instalados en Maués, la compra de la producción local y monopoliza el territorio. En este trabajo se discute, en especial la relación del campesino con la capital, incluyendo la forma en que es la apropiación capitalista de la renta de la tierra y de la forma en que el campesinado se reproduce antes de que el territorio monopolizado.
Palabras clave: Campesinado, guaraná, monopolización.
Para citar este artículo puede uitlizar el siguiente formato:
Luís Fernando Belém da Costa, Manuel de Jesus Masulo da Cruz, Arenilton Monteiro Serrão y Francisco Alcicley Vasconcelos Andrade (2017): “Campesinato, produção do guaraná e monopolização do território pelo capital no município de Maués-AM”, Revista Observatorio de la Economía Latinoamericana, Brasil, (mayo 2017). En línea:
http://www.eumed.net/cursecon/ecolat/br/17/produccion-guarana-maues.html
http://hdl.handle.net/20.500.11763/br17produccion-guarana-maues
INTRODUÇÃO
Inicialmente a proposta deste trabalho partiu do principio de que para entender o campesinato na Amazônia (termo teórico adotado) é preciso entendê-lo na vertente crítica da geografia agrária brasileira, trabalhada por autores como Ariovaldo Umbelino de Oliveira (2007; 2013), Eliane Tomiasi Paulino (2006), Rosemeire Aparecida de Almeida (2006) e outros, no qual o capitalismo se desenvolve de forma contraditória e combinada no campo, e ao expandir suas contradições reproduz também o campesinato.
Assim, este artigo fundamenta-se nas premissas da Geografia crítica Marxista, onde se discute, sobretudo, a relação campesinato e capital a partir do estudo no município de Maués envolvendo a produção do guaraná (Paullinia Cupana), da forma como ocorre a apropriação capitalista da renda da terra e a maneira como o campesinato se reproduz diante do território monopolizado.
Este artigo está organizado em dois momentos: Na primeira parte se discute sobre a diversidade de atividades exercidas pelos camponeses de Maués em diferentes ambientes, ou seja, na terra, floresta e água, tendo como destaque a produção voltada para o guaraná. E na segunda parte a discussão concentra-se na relação entre os camponeses e a AMBEV (Empresa de Bebidas das Américas), empresa instalada na cidade de Maués, que monopoliza a comercialização do guaraná, assim como é dado destaque para a participação dos órgãos de produção rural (IDAM-SEPROR) e a empresa EMBRAPA no processo de monopolização territorial pelo capital.
O artigo é parte de trabalhos de pesquisa realizadas no município de Maués-AM nos meses de agosto de 2015 e janeiro de 2016. A coleta de dados incluiu entrevistas com produtores familiares de guaraná na cidade de Maués e na Comunidade Rural Menino Deus e visitas a órgãos/empresas ligados aos camponeses de Maués, como o IDAM (Instituto de Desenvolvimento do Amazonas), EMBRAPA (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), SEPROR (Secretária de Produção Rural do Município de Maués) e Fazenda Santa Helena da AMBEV (empresa de bebidas das Américas).
1 AS RELAÇÕES DE PRODUÇÃO CAMPONESA NO MUNICÍPIO DE MAUÉS: O DESTAQUE PARA O CULTIVO DO GUARANÁ
Neste tópico trataremos sobre a produção camponesa de Maués, tomando como referência a comunidade Menino Deus, (ver localização no mapa abaixo) localizada nas margens do rio Maués Açu, distante cerca de 30 minutos da sede municipal por via fluvial em lancha. Nessa comunidade destacou-se a diversidade de atividades exercida pelos camponeses nos diferentes ambientes (terra, floresta e água), dando ênfase principalmente para o trabalho com a terra por meio da produção do guaraná, um dos principais produtos comercializados pelos produtores locais.
A cidade de Maués onde está instalada a AMBEV, localiza-se a 267 Km de Manaus, em linha reta, estando às margens do Rio Maués Açu, afluente do lado direito do rio Amazonas, estando a 18m de altitude acima do nível do mar, contando com uma população de 54.079 habitantes (Censo IBGE 2010). O município de Maués faz limite com os municípios de Boa Vista do Ramos, Barreirinha, Itacoatiara, Apuí, Borba, Nova Olinda do Norte, Jacareacanga (PA), Aveiro (PA) e Itaituba (PA). (CARNEIRO, 2013).
Maués regionalmente e nacionalmente é conhecida como a terra do guaraná (Paullinia cupana). O cultivo e o consumo do guaraná no local são culturais entre os habitantes e descendem dos povos indígenas antigos que habitavam a região, principalmente povos da etnia Sateré Mawé, que ainda hoje se fazem presente no município.
A comercialização do guaraná é bastante antiga em Maués, datada por volta de meados do século XVII, sobretudo, por meio dos indígenas da etnia Sateré Mawé, também conhecidos como os descobridores da utilidade do guaraná, que nessa época segundo os estudos de Lorenz (1992) já mantinham relações de comercialização do guaraná com os europeus na época das “drogas do sertão”.
Por volta do inicio do século XX, a fábrica de refrigerante antártica (hoje pertencente à Companhia de Bebidas das Américas-AMBEV) inicia o processo de compra do guaraná dos produtores (camponeses) de Maués. Em 1964 essa empresa instala sua fábrica de beneficiamento do guaraná nesse município, e por fim, em 1971 é inaugurada a fazenda Santa Helena, também pertencente a essa mesma empresa, com o objetivo inicial de produzir o guaraná para o consumo da própria empresa e depois para gerar mudas de guaraná para distribuir para os produtores locais. A partir desse momento se intensifica consideravelmente a monopolização da produção do guaraná em Maués.
É importante antes de nos atermos sobre as discussões do campesinato na Amazônia, e especialmente no município de Maués, nossa área de estudo, termos uma noção geral do termo camponês, conceito usado para entender a realidade dos produtores de Maués. Nesse sentido, Shanin (1980) nos oferece importante contribuição quando argumenta que o Camponês é uma mistificação, e que em qualquer continente, estado ou região, é possível encontrar diferentes lógicas da vida camponesa, e assim os designados diferem em conteúdo de maneira tão rica quanto o próprio mundo.
Desse modo, o uso e a generalização do conceito não implicam na homogeneização dos camponeses. Para Shanin (1980) os camponeses diferem necessariamente de uma sociedade para outra e, também, dentro de uma mesma sociedade, e isso nos remete a pensar em suas características gerais e específicas.
Para este autor os camponeses necessariamente relacionam-se e interagem com não camponeses, e esse processo faz parte da questão da autonomia parcial de seu ser social. O campesinato é um processo e necessariamente parte de uma história social mais ampla; trata-se da questão da extensão da especificidade dos padrões de seu desenvolvimento, das épocas significativas e das rupturas estratégicas que dizem respeito aos camponeses (SHANIN, 1980).
Sobre o uso do termo camponês aplicado á Amazônia nos apoiamos em Cruz (2007) que usa o termo camponês-ribeirinho e Witkoski (2010) que trabalha com o termo camponês Amazônico, ambos aplicados no mesmo sentido, onde o “camponês-ribeirinho” ou “amazônico” é analisado a partir da multiplicidade de atividades que exerce nos ambientes “terra, água e floresta”, trata-se de um campesinato formado historicamente na Amazônia, fato que o difere de outros campesinatos, como aquele originado pela ocupação mais recente da região o qual têm uma relação mais intensa não com os rios, mas com as estradas.
Dessa forma, para esses autores a caracterização geral para a compreensão da dinâmica camponesa considera o trabalho familiar um elemento central da produção camponesa, em que todos os membros da família trabalham coletivamente, visando um objetivo comum. Especialmente na Amazônia a reprodução do campesinato requer uma combinação de atividades em que se realizam ao mesmo tempo diferentes tarefas como agricultura, pesca, extrativismo, artesanato, dentre outras.
Assim, é possível constatar os meios pelos quais esse camponês ribeirinho combinando múltiplas atividades em diferentes ambientes consegue se reproduzir social, economicamente e culturalmente. É uma relação direta com a natureza, mas também com o mercado e as políticas do Estado, nesse caso, é uma relação do campesinato com a sociedade capitalista da qual faz parte. E essa lógica encaixa-se no contexto dos camponeses ribeirinhos estudados de Maués, que exercem múltiplas atividades em diferentes ambientes (terra, floresta e água).
A produção camponesa segundo Oliveira (2007) tem como objetivo inicial a subsistência da família, não descartando a comercialização do excedente produzido, dessa forma, é na relação contraditória com o capital que o camponês se reproduz enquanto tal.
O caso dos produtores de Maués não é diferente, pois apesar do guaraná ser o principal produto cultivado e comercializado, não é a única cultura a ser produzida pelos camponeses, assim, eles também praticam uma diversidade de culturas e de atividades. Segundo um camponês (46 anos) “não dá pra viver só do guaraná amigo, ninguém sobrevive só do guaraná aqui em Maués, pelo menos eu não conheço, por isso, que a gente se dedica a outras atividades, é assim que a gente vive” (Trabalho de campo, agosto de 2015).
Nas palavras do produtor, uma resposta importante, esclarece os motivos que levam o camponês local a ter que se dedicar a diversas atividades. Dessa maneira, o camponês de Maués se dedica a diversas atividades, que ora se manifesta no trabalho com a terra, em especial a roça, na plantação de árvores frutíferas, do guaraná e de hortaliças, assim como na atividade envolvendo a floresta (extrativismo) com a utilização de plantas medicinais e a coleta de frutos como píquia e o uichi, castanha, entre outros, e por fim, com a água, onde o destaque maior, é a pesca do jaraqui, mapará, charuto e do tucunaré, dependendo de cada época específica, ou seja, enchente e vazante dos rios. Esses camponeses ainda se dedicam a criação de pequenos animais, como a criação de suínos e galináceos. Toda produção tem como intenção inicial o consumo da família e o restante é destinado para o mercado.
É preciso destacar também, que esse camponês difere um pouco do campesinato amazônico em geral, principalmente daquele da área de várzea estudado por Witkoski (2010) e Cruz (2007), pois no que concerne a pecuária foi possível destacar que poucos produtores se dedicam a essa atividade, e isso explique, talvez, o motivo pelo qual o município de Maués tenha se tornado historicamente dependente da exportação de carne bovina dos municípios vizinhos. Os camponeses destacam os custos da produção, a necessidade de bons terremos para as pastagens, gastos com vacina, vaqueiro e tempo para a atividade.
A área rural do município de Maués é dividida pela prefeitura por polos, que totalizam 12 polos representados por “uma comunidade referência”, cada polo agrupa certo número de comunidades, e de acordo com informações do IDAM, existem cerca de 200 comunidades rurais no município. A figura 02 abaixo destaca o número e o nome dos polos e suas respectivas localizações.
Tomando como referência a comunidade de terra firme “Menino Deus”, constatou-se que a realidade desta, como de outras comunidades, no sentido da produção camponesa baseia-se na diversidade de atividades e culturas produzidas. Assim, os produtores locais praticam para a produção comercial o guaraná, mas também hortaliças e outras frutas, principalmente a banana e a melancia, e ainda se dedicam à pesca, onde se destaca na época da vazante dos rios a captura do tucunaré. As figuras 03 e 04 a seguir mostram um pouco essa diversidade de cultura produzida nessa comunidade.
Antes de nos atermos especificamente na produção camponesa local envolvendo a utilização do guaraná, cabe primeiramente entendermos um pouco a história dessa espécie na Amazônia, e especificamente no município de Maués. Nesse sentido, Djalma Batista (2007, p. 208) nos fornece importante contribuição.
O guaraná foi uma planta nativa, encontrada por Humboldt e Bonpland nas margens do orenoco, no sul da Venezuela e no alto Rio Negro, depois identificada botanicamente por Knth, em 1824, como Paullinia Cupana H.B.K. Na região de Maués e nos rios Madeira e Tapajós, porém, já os índios conheciam e utilizavam uma variedade estudada a principio por Martius e muito tempo depois por Ducke.
Dessa forma, a utilização do guaraná na Amazônia já era praticada pelos indígenas antes mesmo que pudesse ser identificada por cientistas. Batista (2007, p. 208) cita também a utilização do guaraná no município de Maués.
Os guaranazais estão localizados principalmente na região de Maués que integra a tradicional Mundurucânia, limitada pelo Tapajós e o Madeira: aí se criou um verdadeiro habitat da trepadeira, cultivada de maneira empírica, como empírica é a produção da pasta dos frutos. Conhecem-se guaranazais de até 50 anos, embora a media de vida da planta seja de 30 a 40 anos. O povo da área, constituído fundamentalmente de caboclos, tem fama de longevidade e de desfrutar boa saúde física, sem esquecer a valentia.
A utilização no que concerne o cultivo, consumo e comercialização do guaraná no município de Maués está ligada principalmente aos benefícios que esse produto oferece, devido, sobretudo, a sua capacidade energética e por ser um produto bem aceito no mercado, principalmente para a produção de bebidas, o guaraná também tem culturalmente o “dom” da longevidade, assim argumentam os moradores de Maués, geralmente acostumados a consumir o guaraná desde crianças.
Relatou-nos um antigo morador de Maués (82 anos) habituado a consumir o guaraná como produto energético desde criança, que o guaraná geralmente é consumido da seguinte forma: “logo de manhã ele deve ser tomado, a gente coloca só um pouco, menos de meia colher, e mistura com água e açúcar, ai toma já como se fosse o café da manhã, basta uma vez, se exagerar pode fazer mal”. (morador de Maués).
No município de Maués, em especial na Comunidade Menino Deus, o guaraná é uma das principais culturas produzidas para a comercialização. Nessa comunidade existem inúmeros produtores que se dedicam ao trabalho com o guaraná, geralmente são pessoas que já trabalham há décadas com essa espécie, e o conhecimento utilizado no cultivo era inicialmente “tradicional”, mas nos últimos anos tem intensificado o apelo à utilização do “conhecimento técnico” por exigências externas às unidades de produção.
Um dos agricultores antigos entrevistados, que hoje reside na cidade de Maués, mas que tem terreno com plantação de guaraná na área rural do município, nos relatou como era antes o processo de cultivo do guaraná em Maués. Nesse caso, antes do processo de tecnificação da produção.
“Antes a gente usava só o nativo, que era procurado no mato né, ai a gente fazia o roçado e depois ia atrás dos filhos, por que o guaraná dá fruto, ai esse fruto cai no chão e vai nascendo os filhos do guaraná, ai a gente arrancava e levava, antes era assim” (agricultor e comerciante, 82 anos).
Percebe-se dessa forma de acordo com os relatos do agricultor a maneira tradicional como era cultivado o guaraná no município de Maués, no caso, de uma forma simples e natural. Esse mesmo agricultor relatou ainda que o adubo do guaraná era feito com esterco de gado, e que apesar do trabalho, naquele tempo, antes da monopolização da AMBEV, a produção do guaraná segundo o mesmo era mais lucrativo, pois haviam outras empresas comprando o guaraná dos produtores em Maués, principalmente empresas Europeias.
Porém, nos últimos anos, principalmente por meio da imposição do mercado a partir da instalação da AMBEV (1964) na cidade de Maués aliado a influência de órgãos como a EMBRAPA, IDAM e SEPROR houve como nunca a tecnificação da produção local, principalmente fundamentada na imposição do guaraná clonado no lugar do nativo e do tratamento da espécie com adubos e agentes químicos. A figura a seguir mostra um guaranazeiro adulto do tipo clonado.
Na comunidade Menino Deus, onde visitamos e acompanhamos os produtores no local de produção foi possível perceber a importância do cultivo do guaraná para esses sujeitos sociais. Os mesmos cederam informações básicas do processo de cultivo do guaraná, que iremos citar a seguir:
O primeiro passo segundo os camponeses ribeirinhos é fazer o roçado, para depois ter o acesso ao pé de guaraná, ou filho do guaraná comumente falado por eles, geralmente os filhos de guaraná são cedidos pela AMBEV ou pela prefeitura municipal de Maués via SEPROR e IDAM, onde os produtores tem acesso ao produto nas suas próprias Comunidades.
Depois do acesso aos pés de guaraná, é hora de planta-lo, trabalho que é feito e depois acompanhado de uma limpeza geral do roçado, e é feito na forma familiar e por diaristas, ou em outros casos, mais raramente, é feita a troca de dias, conhecido como “puxirum” na Amazônia. Geralmente o roçado onde se produz o guaraná tem que receber pelo menos duas limpezas por ano.
O guaraná é plantado em parcelas separadas na mata, de 100x100 metros quadrados, essa maneira é usada como forma de prevenir pragas para que não destruam de forma completa as plantações. O guaraná clonado em dois anos e meio está pronto para o início da colheita, geralmente entre os meses de novembro a janeiro. Após a colheita do fruto o mesmo é armazenado e exposto ao sol para que perca a umidade, após esse processo é retirada a casca dos frutos em um determinado material, e em seguida é feita a separação entre casca e semente, esta ultima é torrada e em seguida é ensacada, para ser vendida, geralmente para a AMBEV.
É importante citar que no caso do guaraná nativo a produção só ocorre geralmente depois de quatro anos, e por esse motivo os produtores vem aderindo cada vez mais para a utilização do guaraná clonado, apesar de não serem todos, haja vista que muitos ainda preferem trabalhar somente com o guaraná nativo por motivos de conflitos de saberes, entre o saber técnico e o tradicional, assunto esse que abordaremos com mais ênfase no próximo tópico.
2 DA RELAÇÃO CAMPONESA COM A AMBEV A MONOPOLIZAÇÃO DO TERRITÓRIO PELO CAPITAL EM MAUÉS
O capitalismo é um sistema econômico, sobretudo, dinâmico, que se reinventa a todo o momento em busca do seu principal proposito, o lucro! Marx e Engels (1977) já evidenciavam o caráter dinâmico desse sistema econômico quando afirmavam que o capitalismo impulsionado pelo lucro permanente necessitava explorar e criar vínculos em todo o globo, ou seja, a natureza do capital é a busca constante por mercados sempre novos.
Harvey (2005) numa analise semelhante, no entanto, geoeconômica, evidencia que o capitalismo somente sobrevive pelo seu caráter inovador, assim, as empresas capitalistas estão sempre num processo de expansão espacial, o que significa na pratica a busca constante por vantagens como isenção fiscal, mão de obra barata, criação de novas necessidades, mercado consumidor, matérias primas, ausência de leis trabalhistas, dentre outros benefícios. Somente assim os lucros são garantidos numa elevada proporção, o que está em jogo são as estratégias dinâmicas do capital na busca pelo lucro.
Partindo dessa lógica é possível compreender o caso de Maués, no qual uma empresa internacional, nesse caso, a AMBEV, instalou-se na cidade e a partir disso monopolizou o território através da compra do guaraná produzido pelos camponeses locais. Essa empresa de acordo com relatos da própria Gerente da sua sede em Maués consolidou-se no local através da parceria com o Estado, que garantiu sua permanência, , lhe cedendo direitos como isenção fiscal, terra, etc.
Cabe antes de nos atermos especificamente no processo de monopolização imposto pela AMBEV no município de Maués, entendermos teoricamente como se dá esse processo, ou seja, cabe discutir o significado do conceito de monopolização, para que assim seja possível compreender melhor a realidade de Maués.
Existem várias correntes que se dedicam a estudar a relação capital versus campesinato no campo, no entanto, a corrente predominante na geografia agraria brasileira segundo Cruz (2007) é aquela que entende que para se entender o desenvolvimento do capitalismo no campo é preciso entendê-lo nas suas contradições, ou seja, é o próprio capitalismo dominante que gera relações de produção capitalistas e não capitalistas combinadas ou não, em decorrência do processo contraditório intrínseco a esse desenvolvimento (OLIVEIRA, 2007).
Nesse sentido, o autor entende o capitalismo através de uma das leis da dialética, que é justamente a contradição, e por isso mesmo o desenvolvimento do modo capitalista de produção é entendido como processo contraditório de reprodução ampliada do capital, que pressupõe a criação capitalista de relações não capitalistas de produção, uma vez que o capital, ao reproduzir-se, reproduz também de forma ampliada as suas contradições. (OLIVEIRA, 2007)
Ainda de acordo com Oliveira (2007) a lógica do capital para lucrar sobre o camponês sem, contudo, fazê-lo um trabalhador assalariado é quando o submete aos seus ditames, assim está sujeitando a renda da terra ao capital. Está convertendo a renda da terra embutida no produto produzido pelo camponês e sua família em capital. Está se apropriando da renda sem ser o proprietário da terra. Está produzindo o capital pela via não especificamente capitalista. Nesse caso, o capital está se apropriando do território sem, contudo, se territorializar, mas ao se apropriar do fruto do trabalho camponês está monopolizando o território.
A autora Eliane Paulino (2006, p.106) também oferece importante contribuição sobre o processo de monopolização do capital argumentando que:
O que está em jogo são as estratégias por meio dos quais os capitalistas se apropriam da riqueza gerada unicamente pelo trabalho, acredita-se ser necessário partir para a distinção entre as relações tipicamente capitalistas, nas quais a equação salarial garante a sua apropriação, das formas não tipicamente capitalistas, em que não é o trabalho, mas o produto que o contém, que irá compor a taxa de lucro dos capitalistas.
Desse modo, a autora deixa claro que o capital não precisa transformar os camponeses em assalariados, apenas precisa se apropriar do produto fruto do trabalho destes para que ocorra o lucro, assim, o capital está monopolizando o território.
No caso da AMBEV, as relações do processo de monopolização se concretizam a partir do momento em que esta empresa se consolida como a única instalada no município que compra o guaraná dos produtores, e assim, acaba por ditar os preços e a forma como quer o produto. Dessa forma, essa empresa não precisa transformar os produtores em trabalhadores assalariados, pois se apropriando da renda da terra, do fruto do trabalho camponês, logo, está convertendo a renda da terra em lucro.
Paulino (2006) em pesquisa feita sobre o processo de monopolização do capital no estado do Paraná por meio da atividade camponesa relacionada à avicultura relata que neste Estado as empresas se apropriam do produto do trabalho camponês, ditando os preços e a forma de produção através do sistema chamado pela autora de integração ou parceria.
Em Maués as relações são semelhantes com o estudado por Paulino (2006), a diferença principal está naquilo que é produzido em cada lugar, no caso de Maués a produção se concentra no guaraná. A tabela a seguir mostra a produção de guaraná em Maués nos últimos nove anos.
A estimativa do município é de 4700 há de guaraná plantado pra um total de 2700 produtores. O município de Maués se tornou um dos principais produtores de guaraná do Brasil ao longo dos anos. Inicialmente, até final da década de 90, o cultivo dessa espécie era praticado na forma tradicional pelos camponeses locais, como ficou claro na exposição da entrevista de um antigo produtor citada anteriormente nesse trabalho. Porém, após a consolidação da AMBEV, principalmente a partir do inicio dos anos 2000 em diante, e mediante também a influência de órgãos como a EMBRAPA, IDAM e SEPROR, iniciou-se um processo de tecnificação da produção. Sobre a participação desses órgãos na produção do guaraná faremos a seguir uma breve exposição do papel de cada um destes.
AMBEV: Essa empresa tem como objetivo comprar o guaraná dos produtores de Maués, também dita os preços e forma como quer o produto, nesse caso, em grãos e torrado, além de comprar a produção camponesa, a mesma lhes cede o guaraná em muda do tipo clonado, além de ter projetos de parceria com os produtores, como o projeto denominado “PEGAR”, no qual além do fornecimento de mudas de guaraná, adubo e agentes químicos contra doenças da espécie, ainda é “dado” aos camponeses um rancho de variados produtos alimentícios (arroz, feijão, macarrão, etc.), no entanto, para ter acesso a esses benefícios os produtores assinam um contrato onde lhes é exigido a venda de pelo menos 30 % de sua produção do guaraná.
Atualmente a Empresa tem relação de parceria com cerca de 40 produtores no município de Maués, e está tentando ampliar esse quadro, porém, tem encontrado resistência em alguns produtores, sobretudo, por conta de uma série de documentações e exigências que exige tal parceria.
A AMBEV em Maués conta com 12 atravessadores oficiais, que são financiados financeiramente para comprar o guaraná dos produtores, e possui além da fábrica de extrato do guaraná (1964) localizada na sede municipal, a fazenda Santa Helena (1971), onde é produzido cerca de 100 mil mudas de guaraná clonado, tanto para o consumo interno da empresa como para distribuir para os camponeses.
Essa relação de parceria dos produtores de Maués com a AMBEV, apesar de algumas diferenças, é bastante semelhante com o estudado por Paulino (2006) no caso da avicultura no Estado do Paraná, onde a empresa também estabelecia uma relação de parceria com os produtores, e essa relação à autora chamou de sistema de integração.
EMBRAPA: Essa empresa tem como objetivo produzir o guaraná clonado, que depois é distribuído no mercado nacional e local, o objetivo da produção é a resistência da espécie contra doenças e a maior produtividade. A EMBRAPA produz diversas variedades de guaraná clonado, onde há destaque para as espécies do tipo: Mundurucânia, BRS Luzeia, Cultivar BRS e BRS-Maués, este ultimo produzido em parceria com a AMBEV, e que é atualmente o mais distribuído para os camponeses. Em Maués essa empresa tem trabalhado também em parceria com outros órgãos, principalmente com o IDAM e AMBEV, ajudando no processo de tecnificação da produção, não somente com o guaraná clonado, mas também com outras espécies como a banana clonada também.
IDAM: Esse instituto tem como objetivo dar assistência técnica para os produtores de Maués, visitando os polos produtores pelo menos uma vez por ano, além de trabalhar também a parte de financiamentos por parte dos produtores junto aos bancos. O gerente do IDAM-Maués em entrevista nos relatou as dificuldades desse órgão em acompanhar as propriedades produtoras, devido, sobretudo, ao tamanho do território de Maués, que é imenso, além da falta de recursos financeiros e falta de mais técnicos, já que atualmente segundo o mesmo o órgão conta com apenas com 02 técnicos agrícolas, outra dificuldade encontrada segundo o gerente é a resistência de muitos produtores as exigências impostas pelo IDAM, o que aqui é entendido como um conflito dos saberes técnico e o historicamente construído.
SEPROR: Esse órgão está diretamente ligado à prefeitura de Maués, e tem como objetivo principal, assim como o IDAM, acompanhar os locais de produção dos camponeses do município, além de fornecer mudas de guaraná para os produtores. Esse órgão também tem como papel registrar os dados da produção camponesa de Maués, não somente do guaraná, mas de outras culturas.
Além da participação desses órgãos citados na produção do guaraná em Maués, cabe aqui destacar também a participação dos bancos, pois a maioria trabalha com financiamentos voltados para a produção camponesa local, dentre os bancos instalados em Maués estão o Banco do Brasil, Bradesco, Itaú, Banco da Amazônia e Caixa. Percebe-se assim o nítido interesse do capital em obter lucro com o excedente produzido pela produção camponesa em Maués, afinal, qual seria o interesse da instalação desses bancos no local senão a apropriação de excedentes?
O período atual segundo Santos (2008) é o técnico-cientifico e informacional, onde as marcas do processo de globalização tem influenciado como nunca antes a vida de todas as sociedades numa esfera planetária. O desenvolvimento técnico trouxe as “maravilhas” do mundo moderno, construções de estradas, ferrovias, hidrelétricas, aeroportos, enfim, sistemas técnicos fruto do avanço do capital, assim, a ciência desenvolveu-se também, principalmente condicionada pelos interesses do mercado, que necessita cada vez mais do avanço técnico, numa era onde as informações são difundidas no seio da sociedade de forma extremamente dinâmica, informação essa também apropriada pelos interesses do capital.
O caso de Maués pode ser entendido no contexto do período técnico-cientifico e informacional proposto por Santos (2008), principalmente no que concerne a tecnificação da produção camponesa como uma exigência do capital internacional. A AMBEV também compra o guaraná nativo, porém, distribui para os produtores o guaraná clonado e exige produção imediata, com isso, distribui adubo e produtos químicos, tanto para que o produtor evite as doenças que atingem a espécie como para que o guaranazeiro possa produzir mais. Essa empresa ainda conta com órgãos como a EMBRAPA e IDAM para o processo de tecnificação da produção, além da prefeitura municipal de Maués via SEPROR.
Os antigos produtores de guaraná acostumados a cultivar a espécie com seus próprios saberes, geralmente repassados de pai para filho no processo histórico, agora tem que se acostumarem à imposição de um novo saber, o técnico, bem diferente do seu saber. Desse modo, ocorre um processo diferenciado, bem como atestava Candido (2001) no seu estudo sobre o caipira paulista, onde o mesmo dizia que na imposição de uma ordem capitalista na vida rural o que ocorre com mais frequência é a aceitação parcial das imposições do capital, e o caso dos camponeses do guaraná de Maués é semelhante, pois enquanto muitos aceitaram totalmente as imposições do saber técnico, outros ainda resistem, mantendo assim seu saber historicamente construído.
Nos locais de produção onde os produtores de Maués aderiram totalmente ao novo saber técnico, como na área rural conhecida como Urupady (polo 11), de onde provêm pelo menos 60% de toda produção do guaraná do município segundo informações do IDAM, houve uma maior produtividade e menos doenças na produção, o que significou mais renda para os produtores e automaticamente mais lucro para a AMBEV.
Nesse sentido, é importante a reflexão sobre essas relações, pois é fundamental a manutenção dos saberes e da cultura historicamente construída, mas ao mesmo tempo é na relação com o capital que os camponeses se reproduzem, dessa forma, os camponeses de Maués numa relação dialética com a AMBEV necessitam um do outro mutuamente.
Assim, tais relações se tornam complexas, pois no conflito de saberes, há um interesse maior, que é o lucro do capital, que não consegue eliminar totalmente as barreiras da cultura, porém, se apropria da renda da terra do mesmo modo, já que o guaraná produzido na forma tradicional é vendido Do mesmo modo para o capital monopolizador.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A expansão do capital na Amazônia é um processo permanente e inevitável, territorializando ou monopolizando o território, não importa, o capitalismo se faz presente e avança em busca do seu maior proposito, o lucro. A expansão do capital em Maués é, sobretudo, singular, pois as relações envolvendo o capital e os camponeses do guaraná têm características muito distintas do restante da Amazônia, principalmente por causa da relação mais direta dos atores, onde a empresa monopolizadora se faz presente no território ditando as regras da sua relação com o campesinato.
A vocação histórica dos camponeses de Maués para o cultivo do guaraná fez com que esses atores sociais se tornassem tanto consumidores do próprio produto, como comercializadores. O hábito de consumir o guaraná como produto energético e medicinal é muito comum entre os moradores de Maués, geralmente acostumados a consumir o guaraná desde crianças, e aqueles que são filhos de produtores acompanham os pais no cultivo e principalmente na colheita dos frutos na época da safra, e assim, os saberes são repassados continuamente no processo histórico.
A instalação e a monopolização da AMBEV no município de Maués não significou a eliminação total dos saberes historicamente construído dos produtores de guaraná, muito menos sua expropriação, já que a empresa necessita dos camponeses para extrair o lucro da renda da terra, e apesar da imposição de um novo saber técnico na produção, a maioria das técnicas no que concerne o cultivo, sobretudo, a colheita, e os demais processos como lavagem e torração ainda são feitos na maneira antiga, e esse saber tem sido mantido.
Dessa forma, há uma relação dialética entre o capital monopolizador representado pela AMBEV e os camponeses de Maués, pois ambos necessitam um do outro mutuamente. Os camponeses necessitam de mercado para seu produto e o mercado precisa do fruto do trabalho camponês para extrair o lucro, e dessa forma, o campesinato, apesar da sua autonomia parcial, ainda vive com certa liberdade, e a diversidade de sua produção é fundamental para o sucesso de sua reprodução sociocultural e econômica.
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** Doutor em Geografia (Geografia Humana) pela Universidade de São Paulo (2007). Atualmente é professor adjunto da Universidade Federal do Amazonas. Tem experiência na área de Geografia, com ênfase em Geografia Agrária, atuando principalmente nos seguintes temas: várzea, Amazônia, agricultura camponesa, organização da produção camponesa.
*** Mestrando em Geografia pela Universidade Federal do Amazonas. Graduação em Geografia pela Universidade do Estado do Amazonas
**** Doutorando em Ambiente e Sociedade pela UNICAMP. Mestre em Ciências do Ambiente e Sustentabilidade na Amazônia - PPGCASA/ UFAM. Possui graduação em ADMINISTRAÇÃO pela Universidade Federal do Amazonas (2011), graduação em GEOGRAFIA pela Universidade do Estado do Amazonas (2010), Especialização em Turismo e Desenvolvimento Local pela Universidade do Estado do Amazonas (2011) e Pós-Graduado em MBA em Gestão em Logística e Operações Globais pela Universidade Estácio de Sá. Foi professor de Geografia, Ecoturismo e Ecologia Básica do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Amazonas/ Campus Parintins e professor assistente do Curso de Tecnologia em Gestão Pública da Universidade do Estado do Amazonas/ Núcleo de Estudos Superiores de Borba. Atualmente é professor de carreira do curso de Administração no Instituto de Ciências Sociais, Educação e Zootecnia – ICSEZ/ UFAM. Membro do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Ambientes Amazônicos (Nepam/CNPq).
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