Observatorio Economía Latinoamericana. ISSN: 1696-8352
Brasil


CARACTERÍSTICAS COMPORTAMENTAIS DA MULHER EMPREENDEDORA DIANTE DO INSUCESSO EMPRESARIAL

Autores e infomación del artículo

Cristiane Krüger (CV)

Italo Fernando Minello

PPGA UFSM

cris.kruger@hotmail.com

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RESUMO 
Este trabalho apresenta um estudo sobre empreendedorismo, mundo dos negócios e as mulheres. A disposição para empreender e a dimensão do ambiente empresarial podem resultar em empreendimentos de sucesso, assim como um grande número de negócios malsucedidos. Sabe-se que as perdas com o insucesso não afetam apenas aspectos econômicos como também promovem perdas sociais, o que requer atenção pelo dano que podem causar (MRTV et al., 2012). O empreendedorismo, cada vez mais, vem sendo uma opção de carreira e renda para as mulheres brasileiras, em 2012 as proporções dos empreendedores iniciais masculinos e femininos não apresentaram diferença significativa (GEM, 2012), segundo Natividade (2009) as mulheres tem buscado diversificar suas formas de sobrevivência, diante de desafios da participação feminina no mercado de trabalho, cresce a participação empreendedora. Diante dessas informações, nos inquieta o desconhecimento acerca de compreender se e como o comportamento da mulher empreendedora pode ser associado à descontinuidade do negócio. Portanto, o estudo objetiva investigar e analisar as características comportamentais da mulher empreendedora diante do insucesso empresarial. Caracteriza-se como um estudo qualitativo, descritivo e exploratório, para análise dos dados utilizar-se-á a técnica de análise de conteúdo e à aplicação da Escala de Funcionamento Defensivo, para analisar o comportamento das empreendedoras antes, durante e depois do insucesso empresarial. Serão entrevistadas no mínimo 10 empreendedoras que vivenciaram o insucesso.

Palavras-chave: Comportamento Empreendedor, Empreendedorismo Feminino, Insucesso Empresarial.

BEHAVIORAL CHARACTERISTICS OF ENTREPRENEURIAL WOMAN BEFORE THE BUSINESS FAILURE
ABSTRACT
This paper presents a study on entrepreneurship, business and women. Willingness to undertake and the size of the business environment can result in successful enterprises, as well as a large number of unsuccessful business. It is known that losses from failure affect not only economic aspects but also promote social losses, which requires attention for the damage it can cause (MRTV et al., 2012). Entrepreneurship, increasingly, has been a career option and income for Brazilian women, in 2012 the proportions of male and female early entrepreneurs showed no significant difference (GEM, 2012), according Natividade (2009) women has sought to diversify their ways of survival in the face of challenges of female participation in the labor market, growing entrepreneurial participation. Faced with this information, restless in the lack of understanding about whether and how the enterprising woman behavior can be associated with the business discontinuity. Therefore, the study aims to investigate and analyze the behavioral characteristics of entrepreneurial woman in front of business failure. It is characterized as a qualitative, descriptive and exploratory study, to analyze the data will be used in the content analysis technique and application of the Defensive Functioning Scale, to analyze the behavior of entrepreneurs before, during and after the business failure. They will be interviewed at least 10 entrepreneurs womans who have experienced failure.

Keywords: Entrepreneurial Behavior. Female entrepreneurship. Business failure.


Para citar este artículo puede uitlizar el siguiente formato:

Cristiane Krüger e Italo Fernando Minello (2016): “Características comportamentais da mulher empreendedora diante do insucesso empresarial”, Revista Observatorio de la Economía Latinoamericana, Brasil, (febrero 2016). En línea: http://www.eumed.net/cursecon/ecolat/br/16/mulher.html

http://hdl.handle.net/20.500.11763/br-mulher


INTRODUÇÃO

            As crises econômicas globais, atualmente mais intensificadas, colidem diretamente na dificuldade de crescer, pressuposto exigido pelo capitalismo, Harvey (2011) através de sua recente teoria, defende a tese do crescimento zero para a economia global, tendo em vista que na economia capitalista a taxa de crescimento mínima satisfatória é de 3%, o que percebe-se é a atual dificuldade de crescer. Harvey acredita que não há alternativa senão uma nova ordem mundial de governança que transacionará para uma economia de crescimento zero.
O Brasil, assim como outros países emergentes, atravessa momentos tensos, não se fala em outra coisa: é a crise! A tendência é que esse cenário continue enquanto o sistema capitalista não for repensado. Essa questão pode ter relação com os excedentes econômicos, no séc. XIX os excedentes eram investidos em novas áreas, países ainda inexplorados, hoje, não existem tantas áreas a disposição e os excedentes econômicos passaram a ser investidos em mercados fictícios. Nas últimas décadas parte considerável dos investimentos não foi para a produção, mas para ativos e para valorização de ativos, ações e quotas de empresas, têm-se várias maneiras de ganhar dinheiro jogando com dinheiro, mas esse sistema é muito propenso a crises, o que podemos ver na atualidade. (HARVEY, 2011)
            Diante de um cenário de incertezas o empreendedorismo prospera, o crescimento do empreendedorismo feminino é destaque, o percentual de mulheres que iniciam empreendimentos está igualada a de homens. Em 2002, 58% das empresas tinham a frente pessoas do sexo masculino. Em 2012, esse índice se aproxima dos 50%, o que significa que as mulheres estão conquistando cada vez mais espaço no mundo empresarial. (GEM, 2012)
Empreender e o entusiasmo empresarial podem resultar em empreendimentos de sucesso, assim como negócios falhos. No entanto, as perdas com os insucessos afetam não somente aspectos econômicos como também acarretam perdas pessoais, requerendo atenção pelo dano que podem causar. (MRTVI et al., 2012)
Nesse sentindo, percebe-se a relevância de estudos que busquem compreender as características comportamentais da mulher empreendedora, no intuito de contribuir para o entendimento de quais características podem ser relacionadas à mulher empreendedora diante do sucesso ou fracasso de seus negócios. A preocupação dessa pesquisa, encontra-se na interpretação, compreensão e descrição do comportamento da mulher empreendedora em situações de crise. O estudo concentra-se no insucesso empresarial, tema ainda pouco explorado (FLECK, 2009; SINGH, CORNER e PAVLOVICH, 2007; MINELLO, 2014) e nas características das empreendedoras diante dele.
A descontinuidade do negócio é um fato que muda o curso da vida e cria considerável estresse para o empreendedor (SINGH; CORNER; PAVLOVICH, 2007; MINELLO, 2014) e a maneira como o indivíduo vê a situação a sua volta, lidando com as adversidades como uma oportunidade ou como uma ameaça para o autodesenvolvimento, singulariza a subjetividade do próprio indivíduo diante de situações adversas. Para Welpe et al. (2011), as emoções interferem na avaliação de oportunidades e influenciam a percepção de risco e preferência.
O coping é definido como o conjunto de estratégias utilizadas pelas pessoas para adaptarem-se a circunstâncias adversas. Os esforços realizados pelos indivíduos para lidar com situações estressantes têm se constituído em objeto de estudo da psicologia, atrelando-se ao estudo comportamental. Numa perspectiva cognitivista, Folkman e Lazarus (1984) definem coping como um conjunto de esforços, cognitivos e comportamentais, utilizado pelos indivíduos com o objetivo de lidar com demandas específicas, internas ou externas, que surgem em situações de estresse e são avaliadas como sobrecarregando ou excedendo seus recursos pessoais.
A partir dessa perspectiva, o presente trabalho objetiva analisar e identificar o comportamento da mulher empreendedora diante do insucesso empresarial, no intuito de responder ao problema de pesquisa “Quais as características comportamentais da mulher empreendedora diante do insucesso empresarial?”. Objetiva ainda, investigar e descrever se o insucesso empresarial pode afetar a mulher e se afeta, como ocorre; identificar como as mulheres lidam com o insucesso, se conseguiram superar as adversidades do insucesso e como conseguiram, além de determinar características do insucesso empresarial que estimulam os estilos de enfrentamento da mulher empreendedora.
Os dados obtidos pelo GEM desde o ano de 2012 demonstraram crescente participação da mulher brasileira no empreendedorismo, tanto que já se iguala aos homens quando refere-se à iniciação de um negócio, esses dados demonstram que o gênero feminino não deve ser apenas um ponto de análise, mas deve ser compreendido em sua totalidade, para melhor posicionamento na sociedade como um todo. Além do indivíduo será abordado com maior atenção às empreendedoras por necessidade, suas reações diante das adversidades, como meio para conhecer e entender de forma profunda o comportamento.
A metodologia adotada, no respectivo estudo, caracteriza-se como qualitativa, descritiva e exploratória, para a análise dos dados será utilizada a técnica de análise de conteúdo associada à aplicação da Escala de Funcionamento Defensivo, para analisar o comportamento das empreendedoras antes, durante e depois do insucesso empresarial.

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

            Nesta seção será apresentada a sustentação teórica da pesquisa. Inicialmente é apresentado o empreendedorismo, breve evolução histórica e a atualidade, fazendo ligação com o empreendedorismo partimos para o sujeito do estudo, mulher empreendedora, breve legado histórico e percentuais econômicos atuais, conhecendo um pouco mais do sujeito da pesquisa partimos para o caso, o insucesso empresarial, deste para a resiliência e os estilos de enfrentamento, posterior aos principais pontos do estudo temos o marco teórico, as teorias que envolvem nossa pesquisa.

2.1 Empreendedorismo

            Segundo Dornelas (2008) o empreendedor pode ser conceituado como “aquele que assume riscos e começa algo novo” e acrescenta ainda que as principais características estão na iniciativa e na capacidade de utilizar os recursos disponíveis de forma criativa. Esse conceito evoluiu e evolui com o passar do tempo, devido exclusivamente à dinamicidade da economia mundial. A concepção de empreendedor vem se aprimorando, e hoje já envolve questões relacionadas ao indivíduo e seu comportamento.
            De forma breve temos a origem e a evolução histórica do empreendedorismo, o termo empreendedorismo origina-se do francês “entrepreuneur”, significa “aquele que está entre, intermediário”. A definição do conceito de empreendedor evolui, como observado, juntamente com a economia mundial, desde sua origem na Idade Média, onde o termo era usado para definir especificamente uma atividade ou ocupação, hoje empreendedor esta relacionado diretamente ao indivíduo. Aspectos como os riscos financeiros, psíquicos e sociais; a inovação; a independência financeira e social; assim como a geração de riqueza, foram atrelados à evolução dos estudos sobre a criação de novos negócios. (HISRICH; PETERS, 2004; HISRICH et al., 2009)
            O conceito de empreendedor usado nesta pesquisa será o de um indivíduo “[...] que detecta uma oportunidade e cria um negócio para capitalizar sobre ela, assumindo riscos calculados” (DORNELAS, 2012). Assim, percebe-se que pessoas que buscam independência em suas vidas, de maneira geral, estão mais propensas a enfrentarem situações de adaptabilidade, o risco pode se manifestar na forma de fracasso. (MILLER; REUER, 1996 apud MCGRATH, 1999)
            Pesquisas sobre empreendedorismo são constantes, porém, como foco predomina o sucesso empresarial, esse foco traz uma questão curiosa relacionada à pratica no mundo dos negócios, que é marcado por elevado percentual de insucesso dos novos empreendimentos. (GEM, 2012)

2.2 Mulher Empreendedora

            Diante do contexto de crise que ronda o sistema capitalista, percebe-se que a mulher, especificamente, brasileira, apesar de alcançar maior índice de grau de escolaridade, também se encontra na base da pirâmide, no que refere-se aos recursos financeiros que lhe são destinados por sua atuação profissional (IBGE, 2011). É sabido, que a maioria das mulheres mesmo com maior grau de escolaridade ainda recebem menos do que os homens, essas dificuldades do atual mercado de trabalho tem desafiado as mulheres a abrirem seus próprios negócios, empreender.
            Empreender para as mulheres empreendedoras é uma forma de diversificar suas formas de sobrevivência. Esse lócus observado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) demonstra a crescente participação da mulher como provedora dos seus lares, dando ênfase ainda, podemos destacar a crescente participação das mulheres na economia, através do empreendedorismo, onde é colocado em prática seus conhecimentos.
            No decorrer dos últimos anos, a Global Entrepreneurship Monitor (GEM) vem pesquisando o desenvolvimento do empreendedorismo no Brasil, e curiosamente em 2012 o percentual de mulheres que iniciam um novo negócio está igualado ao dos homens. A pesquisa GEM (2012) aponta que o número de mulheres à frente de negócios estabelecidos foi de 44% e de negócios iniciais foi de 49,6%. Esse dado é intrigante, e nos remete a problemática e objetivos da pesquisa, identificar o comportamento da mulher empreendedora diante do insucesso empresarial, características resilientes e estilos de enfrentamento. Procurar detectar quais as emoções e angustias envolvidas.
            Historicamente sabe-se que a partir da Revolução Industrial e a escassez de mão de obra a mulher foi convocada para o mercado de trabalho, hoje os tempos são outros, a flexibilização do mundo do trabalho e o avanço tecnológico são bons exemplos dessa transformação. Atualmente muitas mulheres buscam empreender, seja por oportunidade ou por necessidade, o percentual de mulheres que iniciam um novo negócio está igualada a dos homens. O governo brasileiro através de legislações recentes tem proporcionado que diferentes profissões, antes informais, passem a ser formais, como os salões de beleza, por exemplo.
            A pesquisa GEM (2012) revela ainda que a maioria das empreendedoras é guiada por uma oportunidade de mercado (73,9%) e não por necessidade, como vinha ocorrendo de forma geral, a oportunidade igualmente nos remete ao risco que pode se manifestar na forma de fracasso.
            Este trabalho não se propõe a comparar homens e mulheres, mas pretende analisar o contexto social e familiar, os recursos de tempo e energia necessários para a reprodução, para desempenhar o papel de mãe além dos trabalhos domésticos, tudo isso pode entrar em conflito com as demandas de desenvolvimento de uma carreira empreendedora eficaz (MARLOW, 1997), resultando no insucesso empresarial.
            Pesquisas demonstram que a vida familiar tem um impacto dramático sobre as empreendedoras (WINN, 2004). Por isso a importância de conhecer o comportamento da mulher empreendedora diante do insucesso, como meio de entendimento dessa complexidade subjetiva.

2.3 Insucesso Empresarial

            O tópico sobre insucesso empresarial inicia com a referência do GEM (2011), onde o medo de empreender e de fracassar é capaz de impedir que os indivíduos queiram correr o risco, transformar oportunidade em negócios. Talvez porque segundo o relatório do Endeavor Brasil (2013) os brasileiros acreditam que empreendedores são geradores de emprego (90%), no entanto a possibilidade de falência ocupa segundo lugar no que se refere à opinião dos brasileiros sobre os principais riscos da decisão de abrir o próprio negócio.
            O medo de empreender e de fracassar é capaz de impedir que os indivíduos queiram transformar as oportunidades em negócios (GEM, 2011). O que é preocupante é que a teoria reflete um preconceito antifracasso generalizado (MCGRATH, 1999), o insucesso deveria ser visto como um aprendizado, segundo Thorne (2000), refletir sobre o insucesso contribui para minimizar a concepção de fracasso como um tabu organizacional. O fracasso faz parte das adversidades e dos riscos de empreender.
            O mundo dos negócios modifica-se constantemente, a evolução da ciência e tecnologia é um exemplo, para conquistar o sucesso é preciso estar atento às demandas do mercado. Para Baron e Shane (2010) os bem-sucedidos possuem uma visão mais realista dos riscos envolvidos e das possibilidades de obter sucesso, sendo motivados para maximizar acertos, identificar oportunidades.
            Outro ponto a ser considerado é que muitos estudos retratam apenas o sucesso empresarial, mas o insucesso é recorrente, por isso é preciso dar maior atenção ao comportamento empreendedor diante do insucesso empresarial, o presente estudo pretende analisar essas características das mulheres empreendedoras que vivenciaram o insucesso.
            Segundo Minello (2010), a descontinuidade do negócio “[...] provoca e mobiliza sentimentos, emoções, medos, expectativas, vergonha, isto é, questões carregadas de subjetividade”. Diante dessas características emocionais, muitas vezes negativas, encontram relação na capacidade de resiliência do indivíduo.

2.4 Características Resilientes

            Os estudos sobre resiliência humana são recentes, procuram compreender como as pessoas são capazes de superar e de se desenvolver diante de adversidades. Algumas pessoas tem essa capacidade de superação melhor do que outros indivíduos, mesmo vivenciando as mesmas situações de adversidade. (LUTHAR; CUSHING, 1999; RUTTER, 2012)
            Yunes e Szymanski (2001) a resiliência consiste na capacidade humana para enfrentar e superar as experiências de adversidades, possibilitando inclusive que o indivíduo saia fortalecido ou transformado, evidenciando a sua capacidade de resiliência. Esta reação esta associada a características do ser humano, inclusive com os mecanismos de defesa e enfrentamento de situações de crise.
            A resiliência é um fenômeno comum presente em qualquer ser humano, Jung (1967) considera que o processo de desenvolvimento da personalidade de um indivíduo é permanente, acontece durante toda sua vida; as possibilidades de desenvolvimento de cada pessoa, suas diferenças, não podem ser percebidas como aspectos limitados ou explicados, unicamente, pelas distinções em seus traços de personalidade. (CASADO, 1998)

2.5 Estilos de Enfrentamento

            Lidar com adversidades, superação, enfrentamento, de acordo com Lazarus e Folkman (1984), são pensamentos e ações que resolvem problemas, na psicologia esse lidar com alguma coisa decorre na redução do estresse. Essa perspectiva parte da cognição e percepção de cada indivíduo em relação às suas relações e interações com o ambiente.
            Existem dois tipos de estratégias de superação relevantes, de acordo com Folkman et al. (2004), aquelas focadas no problema e aquelas focadas na emoção, e se distinguem pelo foco. Essas tipologias não são definitivas, mas a utilização dessa categorização parece coerente e adequada às características da pesquisa, principalmente porque as mulheres e o insucesso empresarial é um problema carregado de emoções (SINGH, CORNER e PAVLOVICH, 2007).
            A pesquisa pretende contribuir para o entendimento quanto ao aspecto positivo do fracasso no futuro do sucesso empresarial para as mulheres empreendedoras, por isso é relevante analisar também os estilos de enfrentamento diante dessa adversidade.

2.6 Marco Teórico

            A teoria inicial a ser retratada e analisada no presente estudo refere-se à Teoria do Empreendedorismo, com breve desenvolvimento histórico até a atualidade, passando por Schumpeter, McClelland, Druker até mais recentemente, Dolabela, dentre outros. A Teoria do Empreendedorismo é essencial para que se possa constituir uma base sólida para a análise profunda do comportamento empreendedor e do insucesso empresarial.
            A pesquisa analisará o comportamento da mulher empreendedora diante do insucesso com base em algumas teorias, dentre elas a Teoria Social Cognitiva de Bandura (1997), que retrata a relação da psicologia nos fatores cognitivos. A pesquisa de Bandura tinha como meta observar o comportamento dos indivíduos durante a interação. Além de ser uma teoria behaviorista, o sistema de Bandura enfatiza a influência de reforço externo no processo de pensamento, como crenças, expectativas e instrução. Será considerada essa teoria porque estuda a formação e modificação do comportamento nas situações sociais, auxiliando na análise comportamental das empreendedoras.
            Mais recentemente temos a Teoria do Crescimento Zero de Harvey (2011), uma crítica ao Capitalismo, proposta de mudança radical do atual sistema, sua teoria nos é válida porque reporta diretamente a atividade empreendedora, por isso, sim, é preciso relacionar sua teoria com o insucesso empresarial das mulheres empreendedoras, o quanto isso está inteiramente interligado.
            Além das teorias acima citadas, será utilizada como base a Tese do Prof. Dr. Italo Minello (2010), pesquisa que engloba “Resiliência e Insucesso Empresarial”, estudo sobre o comportamento resiliente e os estilos de enfrentamento do empreendedor diante do insucesso empresarial, como meio de auxiliar a responder o problema de pesquisa – quais as características comportamentais da mulher empreendedora diante do insucesso? – além de outros questionamentos que envolvem o tema.
            Inicialmente são essas as teorias que englobarão a pesquisa, mas nada impede que ao longo dos estudos surjam novas ideias, teorias aplicáveis e que poderão dar bons resultados.

METODOLOGIA

            Esta seção objetiva apresentar a metodologia a ser utilizada no desenvolvimento do presente estudo. Inicialmente serão apresentados o delineamento e perspectiva da pesquisa e na sequência a definição da amostra, coleta de dados e análise dos dados.

3.1 Delineamento e Perspectiva da Pesquisa

            O presente estudo é caracterizado como pesquisa qualitativa, adota um desenho de pesquisa descritiva e exploratória, baseada em pesquisa empírica. Tratando-se de pesquisa qualitativa não se pretende generalizar os resultados, mas a preocupação esta na descrição e interpretação do comportamento do empreendedor antes, durante e depois do insucesso empresarial. Conforme Sampieri et al (2006) as pesquisas qualitativas      são guiadas por temas significativos da pesquisa, como no caso do comportamento da empreendedora em situações de insucesso empresarial. O método qualitativo aplica-se adequadamente a situações em que se busca entender aspectos comportamentais relacionados ao fenômeno em estudo, em função do objetivo do estudo – analisar as características comportamentais da mulher empreendedora diante do insucesso – a utilização desse método é coerente. Pretende-se aprofundar a compreensão de um grupo social, no caso das empreendedoras que vivenciaram o insucesso, tentando explicar como se dá o comportamento do indivíduo em situações de crise.
            A pesquisa qualitativa tende a salientar os aspectos dinâmicos, holísticos e individuais da experiência humana, para aprender a totalidade do contexto daqueles que estão vivenciando o fenômeno (POLIT, BECK E HUNGLER, 2004), no caso o insucesso.
            A preocupação maior está na descrição, compreensão e interpretação das características comportamentais da mulher empreendedora diante do insucesso, mais especificamente em casos de descontinuidade do negócio.
            Quanto aos objetivos a pesquisa caracteriza-se como descritiva e exploratória, descritiva por exigir do pesquisador uma série de informações sobre o que se deseja pesquisar. O estudo pretende descrever os fatos e fenômenos de determinada realidade (TRIVIÑOS, 1987), na pesquisa, o comportamento da mulher empreendedora diante da adversidade do insucesso empresarial. E exploratória por objetivar maior familiaridade com o problema, visando torná-lo mais explícito, o que envolvera entrevistas com pessoas que tiveram experiências com o problema pesquisado (GIL, 2007), o insucesso empresarial.
            Conforme Selltiz et al (1972) “no caso de problemas em que o conhecimento é muito reduzido, geralmente o estudo exploratório é o mais recomendado”. Por isso o presente estudo pode ser definido como exploratório, porque o insucesso empresarial feminino, comportamento resiliente e os estilos de enfrentamento diante dele ainda são poucos explorados nos estudos científicos sobre Administração.
            A principal preocupação é levantar informações que contribuam para o entendimento e para possíveis respostas sobre as seguintes questões:

  1. O insucesso empresarial pode afetar a mulher empreendedora?
  2. Como as mulheres lidam com o insucesso da descontinuidade empresarial?
  3. As mulheres empreendedoras conseguiram superar as adversidades do insucesso empresarial? Como?
  4. Quais as características do insucesso empresarial que estimulam os estilos de enfrentamento da mulher empreendedora?

            No intuito de atingir aos objetivos da pesquisa, serão realizadas entrevistas com empreendedoras que vivenciaram situações de insucesso empresarial, especificamente com a descontinuidade do negócio, e que conseguiram ou não superar as adversidades. Será utilizada a Escala de Funcionamento Defensivo (EFD/DSM-IV-TR), aplicada por um profissional capacitado, no intuito de identificar o comportamento e os estilos de enfrentamento utilizados pelas empreendedoras antes, durante e depois da descontinuidade do negócio. Também serão utilizadas categorias de análise a priori e poderão ser definidas categorias não a priori com base nos relatos das entrevistadas.

3.2 Definição da Amostra

            Como citado anteriormente, por se tratar de uma pesquisa qualitativa, não se pretende generalizar os resultados a partir da amostra utilizada, a preocupação maior está na descrição, compreensão e interpretação do comportamento da mulher empreendedora diante do insucesso, comportamento resiliente e os estilos de enfrentamento, observados dentro do grupo específico em estudo, com base nos relatos dos entrevistados. Evidencia-se que a amostra caracteriza-se como não probabilística intencional por conveniência, supondo um procedimento de seleção informal (SAMPIERI et al., 2006), porque o fenômeno em questão causa e revela emoções, sentimentos, vergonha, angustia, enfim, subjetividade.
            Por isso a investigação é delicada, por lidar com a historia pessoal das diferentes empreendedoras em momentos delicados como insucesso, assim a pesquisa necessita de predisposição e interesse em participar das empreendedoras que vivenciaram o insucesso. Pretende-se entrevistar dez mulheres empreendedoras que vivenciaram a descontinuidade de seu negócio, comparando casos em as empreendedoras conseguiram se reerguer, com casos que não conseguiram.
            A amostra então, será composta por dez casos de insucesso que, de acordo com Eisenhardt (1989), estão dentro dos critérios (de 4 a 10 casos) necessários para que possam surgir padrões indutivos. Caso não seja possível conseguir dez empreendedoras dentro do prazo será utilizado entrevistas armazenadas em banco de dados, de cunho particular, do Prof. Dr. Italo Minello, para análise, visto que o instrumento da presente pesquisa será adaptado a partir do instrumento formulado por Minello, 2010.
           
3.3. Coleta dos Dados

            Para a realização das entrevistas será elaborado um roteiro de entrevistas (ANEXO A), formado por uma seção de dados complementares (idade, formação e há quanto tempo montou o empreendimento) além de outras 25 pesquisas, seccionadas em quatro blocos iniciando com a historia de vida, trajetória profissional, o processo de descontinuidade do negócio e o processo de resiliência. Esta estrutura permitirá o levantamento de dados antes, durante e depois da descontinuidade do negócio o gerará a possibilidade de aplicação da Escala de Funcionamento Defensivo, comportamento e estilos de enfrentamento das empreendedoras entrevistadas.
            A coleta de dados ocorrerá a partir de entrevistas semiestruturadas que iniciaram com perguntas amplas para que a entrevistada se sinta a vontade para falar, além disso, o pesquisador, entrevistador, será orientado a não interferir na fala das entrevistadas. As entrevistas serão profundas, com mais de uma hora, durante período a ser estipulado no ano de 2015 e 2016, serão realizadas em locais de preferência do entrevistado, gravadas, transcritas e posteriormente analisadas. As entrevistas só serão realizadas mediante o consentimento da entrevistada (Termo de Consentimento Livre e Esclarecido). As empreendedoras participantes poderão ser indicadas ou advindas de vontade própria, deverão se encaixar no perfil definido para essa pesquisa e que se disponham a conversar, será realizado um agendamento e contato prévio com cada uma, no intuito de apresentar os objetivos da pesquisa e estabelecer um comprometimento entre as partes.

3.4 Análise dos Dados

            Para análise dos dados utilizara-se a técnica de análise de conteúdo (BARDIN, 2011) e a aplicação da Escala de Funcionamento Defensivo (EFD/DSMIV-TR/DSMIV-TR), com o objetivo de identificar as características comportamentais utilizados pelas empreendedoras antes da descontinuidade do negócio.
            A análise de conteúdo procura conhecer aquilo que está por trás das palavras sobre as quais se debruça, objetivando compreender criticamente o sentido das comunicações, seus conteúdos e significações explícitos ou ocultos. (BARDIN, 2011)

3.4.1 Categorias de Análise

            As categorias de análise a priori foram elaboradas a partir de quadros de referência (GLASSER e STRAUSS, 1967; SINGH, CORNER e  PAVLOVICH, 2007). A Figura 1 representa as possíveis categorias de análise a priori.     
            As categorias definidas não a priori serão criadas à medida que surgem nas respostas dos entrevistados, para depois serem interpretadas conforme teorias explicativas.

3.4.2 Escala de Funcionamento Defensivo (EFD)

            O maior desafio da pesquisa qualitativa é a sua qualidade, aspectos de validade e confiabilidade (GODOI e BALSINI, 2006). Visando maior validade e confiabilidade a presente pesquisa agregar-se-á à técnica de análise de conteúdos um instrumento imparcial para contribuir na análise de dados, denominada de Escala de Funcionamento Defensivo (EFD). A EFD faz parte do manual DSM-IV-TR (APA, 2002) que disponibiliza escalas desenvolvidas com a finalidade de avaliar o grau de funcionamento do indivíduo e seus estilos de enfrentamento diante da adversidade.
            Observa-se que essa escala só pode ser aplicada por um profissional da área da saúde habilitado e capacitado para sua utilização (APA, 2002). Em função disso, para validar sua aplicação nesse trabalho serão convidados médicos psiquiatras devidamente habilitados para a aplicação da escala de funcionamento defensivo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Em função de seu caráter qualitativo o trabalho não se propõe a generalizar os resultados para toda população, o que pode ser considerada uma limitação. Porém aborda questões subjetivas ligadas ao feminismo no campo do empreendedorismo em um momento, percebe-se, economicamente anormal, instável, são melhor estudadas através de abordagens qualitativas, que captam e concentra-se com maior profundidade o entendimento da realidade. O estudo encontra-se em fase de desenvolvimento, na escolha de mulheres empreendedoras que vivenciaram o insucesso empresarial, principal fase do trabalho, onde encontra-se certa dificuldade, por se tratar de um tema delicado, poucas mulheres se sentem à vontade para conversar a respeito. Essa conversa nos interessa muito, identificar as características comportamentais que às singularizam, diferenciam dos empreendedores em geral, e que por isso, merecem atenção e tratamento diferenciado. As ciências sociais vem de encontro, quando buscamos compreender as atitudes humanas e buscar respostas a nossas perguntas. O estudo inicia-se no Brasil, com propensão a compreender esse evento globalmente, porque empreender não é algo exclusivamente latino, mas mundial.

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Recibido: 07/12/2015 Aceptado: 16/02/2016 Publicado: Febrero de 2016

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