Maria Érica Pereira de Souza
Carlos Eduardo Ribeiro Santos
Adriano Alves de Rezende
Ana Elísia de Freitas Meirelles
Universidade Estadual de Santa Cruz
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RESUMO
O potencial do segmento de processamento de frutas brasileiro tem se destacado, movimentado, aproximadamente, R$ 52 milhões ao ano, sendo responsável, assim, pelo aumento na renda dos agricultores e suas famílias, bem como, à promoção e inclusão industrial nas pequenas e médias cidades, como Ubatã, região sul da Bahia, que se destaca como uma das maiores produtoras nacionais de polpa de fruta. Logo, este estudo tem como objetivo demonstrar a importância desta indústria para Ubatã e região. Buscou-se, assim, caracterizar o comportamento da indústria de polpas de frutas no contexto local e sua inserção internacional entre os anos de 2006 e 2013. Utilizou-se dados da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS) empregando-os em indicadores de localização (QL, IHH e CL) e, também, de especialização (CE) no intuito de comprovar a importância dessa indústria no município e na região.
Palavras-chave: Ubatã-BA, Polpas de Frutas, Indústria, Indicadores de Localização, Indicadores de Especialização.
Classificação J.E.L: L66; L22; R11.
ABSTRACT
The Brazilian fruit processing segment has been highlighted potential, moved approximately R$52 million per year, accounting, thus the increase in the income of farmers and their families, as well as the promotion and industrial inclusion in small and medium-sized cities, as Ubatã, southern Bahia, which stands as one of the largest national fruit pulp producers. Therefore, this study aims to demonstrate the importance of this industry to Ubatã and region. It attempted to thus characterize the behavior of the fruit pulp industry in the local context and its international insertion between 2006 and 2013. We used data from the Annual Social Information Report (ASIR) employing them on indicators location (LQ, HHI and LC) and also specialization (EC) in order to prove the importance of this industry in the city and the region.
Key-words: Ubatã-BA. Pulps of fruits. Industry. Location Indicators. Specialization indicators.
J.E.L. Code: L66; L22; R11.
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Maria Érica Pereira de Souza, Carlos Eduardo Ribeiro Santos, Adriano Alves de Rezende y Ana Elísia de Freitas Meirelles (2016): “Análise da indústria de polpas de frutas da região sul Baiana-Brasil: um olhar pautado em indicadores de Localização e Especialização para o período 2006-2013 sobre o município de Ubatã”, Revista Observatorio de la Economía Latinoamericana, Brasil, (Abril 2016). En línea: http://www.eumed.net/cursecon/ecolat/br/16/frutas.html
http://hdl.handle.net/20.500.11763/br-16-frutas
1 INTRODUÇÃO
Este trabalho tem como objeto de estudo a indústria de polpa de frutas a qual que, exerce, atualmente, um importante papel no cenário do agronegócio brasileiro. Sendo, portanto, um dos principais setores que contribuem para o superávit da balança comercial brasileira. Quanto ao recorte espacial, este foi delimitado ao município de Ubatã, localizado na mesorregião Sul da Bahia, e, componente da microrregião Ilhéus-Itabuna. Especificamente, trata-se de uma das regiões mais significativas no que se refere à produção de polpas de frutas no país. A produção de polpa de frutas destacou-se na economia brasileira por ser um importante mecanismo de promoção industrial em pequenas e médias cidades voltadas, principalmente, para os pequenos e médios produtores.
As vantagens do setor devem-se ao baixo custo de investimento produtivo, porém com grandes oportunidades, excelente potencial, rentabilidade, muito dinamismo e possibilidade de retorno em curto prazo. De acordo com a Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (CEPLAC) o mercado da fruticultura se destaca em vários segmentos produtivos (frutas desidratadas, frutas cristalizadas, polpas, geléias, suco concentrado, entre outros).
Dado o interesse em apreender mais sobre o supracitado setor de atividade essa pesquisa baseia-se nos problemas relacionados à efetiva concentração e especialização das atividades econômicas geradas pelas indústrias de polpas de frutas para Ubatã em nível microrregional e estadual para além da geração de emprego. Logo pergunta-se: as indústrias de polpas de frutas presentes no município de Ubatã representam uma concentração/especialização produtiva dessa atividade?
No que tange aos aspectos referentes ao recorte teórico, fez-se uma contextualização do histórico econômico-industrial da cidade de Ubatã, para os dias atuais, e como esses fatores foram alterados em detrimento da atividade econômica do setor de polpas de frutas no município, verificando assim, os efeitos desencadeados.
O cunho geral da pesquisa é a análise dos indicadores locacionais e de especialização para as empresas de polpa de frutas no município de Ubatã, Bahia. Para tanto, a fim de estabelecer a relação entre as empresas e a cidade, tem-se o caráter dedutivo da pesquisa.
Para responder ao problema de pesquisa foram utilizadas a análise do Quociente Locacional (QL) o Coeficiente de Localização (CL) e Índice de Concentração de Hirschiman-Herfindahl (IHH), além da medida de especialização trazida pelo Coeficiente de Especialização (CE). Os dados e informações utilizadas são secundários, coletados através da Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE), da Comissão Nacional de Classificação (CONCLA), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), e principalmente do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) para composição dos indicadores a partir da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS).
Neste artigo, além desta introdução, divide-se em mais três seções que abordam, respectivamente, a indústria de polpas de frutas no Brasil, Bahia e microrregião Ilhéus-Itabuna; a estrutura produtiva de Ubatã e a indústria de polpa de frutas e; por fim, a mensuração da indústria de polpa de frutas utilizando os citados indicadores de localização e especialização.
2 CIDADES PEQUENAS E MÉDIAS, INDÚSTRIA E PRODUÇÃO DE POLPAS DE FRUTAS
O modelo de desenvolvimento econômico no Brasil desencadeou uma concentração produtiva-industrial em áreas metropolitanas, sobretudo. Todavia, essas regiões, por suas próprias peculiaridades a um centro de grande porte, desenvolviam um processo caracterizado como deseconomias de aglomeração.
Paralelo a isso, outros mecanismos, por vezes locacionais, impulsionavam a escolha do melhor lugar para instalação de novas indústrias como meio de desconcentração produtiva (seja por iniciativa privada ou indutiva do Estado), tendo em vista a competitividade de certas indústrias ou do mercado. Dentre os principais fatores determinantes desse movimento, Weber (1929, apud PEREIRA; LEMOS, 2004) apontam como fundamentais: os custos de transporte; as forças de aglomeração; e as forças de desaglomeração.
Por outro lado, municípios de pequeno e médio porte não participaram, desde o início do processo de industrialização do país, dos mesmos mecanismos disponíveis para atração e, consequente instalação de indústrias nos seus territórios. Isso, em certa medida, os leva a se especializar na produção agropecuária e, em algumas situações, reservando para si, apenas, a possibilidade de desenvolvimento de uma produção industrial pautada na sua potencialidade local (geralmente relacionada ao produto agropecuário já produzido, historicamente), como acontece com o caso exemplificado na indústria de polpas de frutas tratada nessa pesquisa.
2.1 As pequenas e médias cidades no Brasil atual
As economias de aglomeração, embora possibilite novas oportunidades para economia local, e entradas de mais recursos às cidades (principalmente aos grandes centros urbanos), trazem para si algumas preocupações e desconfortos às empresas, pois à medida que as indústrias vão crescendo e se aglutinando, trazem problemas diversos dificultando, inclusive, o processo da produção. Motta e Mata (2009) dizem que nos últimos anos, as cidades médias1 foram aquelas que apresentaram maior crescimento anual do Produto Interno Bruto (PIB), cerca de 4,7% a.a., e também, mais elevado da população, aproximadamente, 2% a.a.. Nesse sentido, as cidades médias podem oferecer benefícios não somente às empresas como também aos próprios moradores desses espaços.
Aqui vale salientar a importância das firmas, no geral, optarem por instalar suas fábricas próximas a outras de mesmo segmento, pois de acordo Pereira e Lemos (2004, p.4) existem três razões centrais para isto: “os encadeamentos para frente e para trás associados a um mercado local suficientemente grande (linkages); as vantagens de especialização do mercado de trabalho local; e, os transbordamentos do conhecimento tecnológico (spill-overs)”.
Hirschman (1958) citado por Bianchi (2007, p.4), “advoga o estabelecimento de indústrias com fortes encadeamentos para trás (backward linkages) como estratégia para promover o desenvolvimento”. Destarte, seguindo a lógica de raciocínio evidenciada por Pereira e Lemos (2004), deve-se atentar para questões envolvendo ofertas de serviços produtivos, escala de tamanho das empresas e especialização produtiva industrial, além da capacitação produtiva através do grau de industrialização intra-urbana e interurbana.
Certamente, as cidades pequenas e médias apresentam características capazes de alavancar uma nova dinâmica econômica para além das regiões centrais do país, como as grandes capitais, e estão ocupando lugar de destaque a ponto de transformarem-se em verdadeiras cidades emergentes.
Logo, quando há uma base produtiva industrial numa região, a exemplo de São Paulo, os setores comerciais com variados seguimentos resultam em bens e serviços que despertam o interesse dos empresários. Ou seja, surgem novas possibilidades, que se caracterizam em vantagens para região, isto constitui na economia de aglomeração, principal frente às aglomerações tanto industrial, quanto urbanas.
Polèse (1998) explica o conceito de economia de aglomeração da seguinte forma:
[...] consistem em ganhos de produtividade que são atribuídos à aglomeração geográfica das populações ou das atividades econômicas. Como a fonte dos ganhos de produtividade se situa no exterior das empresas, no meio que as rodeia, fala-se de economias externas ou externalidades [...] (POLÈSE, 1998, p.77).
Porém, os ganhos de produtividade, na verdade, se atrelam a própria origem constituída no desenvolvimento econômico. Além disso, em determinado momento, as aglomerações deixam de ser satisfatórias acarretando em desvantagens, pois:
[...] as cidades médias brasileiras possuem uma segmentação típica do desenvolvimento desigual de uma economia nacional de capitalismo retardatário, em que se combina um desenvolvimento urbano virtuoso de fatores de atração de um agrupamento de cidades de elite [...]. [...] Essas cidades de alta escala produtiva incorrem na concentração de pobreza urbana e uma baixa qualificação da sua força de trabalho [...] (PEREIRA; LEMOS, 2004, p. 144).
Para Santos (2003) regiões que buscam desenvolvimento por meio de pólos de crescimento, traz para si dois circuitos distintos: o superior e o inferior. O primeiro surge diretamente como resultado dos mecanismos de modernização promovidos pela tecnologia, enquanto que no segundo, o processo ocorre de forma bem oposta ao primeiro, acarretando na marginalização da sociedade, deixando-as tecnicamente mais empobrecidas e desprovidas para aquela região.
A Teoria dos Pólos de Crescimento evidencia os principais objetivos traçados pelas forças internas de crescimento, caracterizando-se pelos recursos naturais, pelo mercado interno, pela tecnologia, pelos empresários e, claro, pela estrutura industrial, daí o motivo de muitas cidades, mesmo de pequeno porte, considerarem fundamental a montagem de uma estrutura industrial em seus espaços. Um dos grandes estudiosos sobre a teoria dos pólos de crescimento, Perroux (1977) identificou que ao se tratar de crescimento econômico, este, não surge ao mesmo tempo, nem tampouco, em todo território, contudo, justamente ocorre em pólos de crescimento.
2.2 O potencial produtivo das polpas de frutas
A produção de polpas de frutas vem ganhando destaque no cenário nacional tornando-se, inclusive, um importante mecanismo de promoção de inclusão industrial em pequenas e médias cidades, e entre os pequenos e médios produtores, por exigir um baixo investimento, grandes oportunidades e rentabilidade favorável ao agronegócio.
Observou-se que a fruticultura no Brasil ocupa uma área de mais de 2 milhões de hectares de plantio. Atrelado a isso, mesmo sendo um segmento incorporado por grandes indústrias na produção de seus derivados (em muitas regiões como o Norte da Bahia), a produção de frutas é centrada, principalmente, na agricultura familiar, e a produção de polpas é marcada pela presença de micro e pequenas empresas, geralmente familiares e destinadas aos espaços municipais, conforme constatações da Ceplac (2006).
A legislação brasileira também discorre sobre os aspectos gerais da polpa de fruta enquanto: i) consistência: pasta mole, maleável e gelatinosa; ii) cor: característico da própria fruta, podendo sofrer alteração; iii) cheiro: característico da própria fruta; e iv) sabor: característico da própria fruta. (BRASIL, 2000)
Para Brito (2011), o governo vem criando incentivos fiscais, articulando a abertura e flexibilização de novos mercados, adotando mecanismo de apoio técnico e financeiro, implantando proteção através dos instrumentos da legislação específica para o segmento. Igualmente, estudos similares, desenvolvido pelo Instituto Brasileiro de Frutas (IBRAF), no ano de 2007, salientam a importância de se capacitar novos empreendedores no meio do agronegócio, pois, esse tipo de agroindústria cresce cada vez mais, não somente no Brasil, mas nos países vizinhos, que também abrem suas atenções para o mercado de polpas de frutas congeladas.
2.4 A estrutura e o mercado da indústria de polpa de frutas na Bahia e na microrregião Ilhéus-Itabuna
Lopes (2008) apontou que, na Região Nordeste, a Bahia destaca-se em relação à produção de polpas de frutas, atuando como grande exportadora (saltando de US$ 92,3 milhões no ano de 2005 para US$ 109,1 milhões em 2006). No sudoeste da Bahia, por exemplo, 63,7% da polpa industrializada permanecem no estado e 36,3% é exportada para outros estados. Destas, 41,3% são adquiridas pelo estado de Minas Gerais, que faz fronteira com muitas cidades do sudoeste baiano; 16,5% são exportados para o exterior e os 42,2% restantes são distribuídos para outros estados brasileiros, a exemplo do Espírito Santo, Rio de Janeiro, Pernambuco e São Paulo (KHAN et al., 2003 apud LOPES, 2008).
Para Brito (2011), o segmento frutícola está entre os principais geradores de emprego, renda e desenvolvimento da qualidade de vida do meio rural, em diversas regiões do Brasil. A Bahia, é uma delas, com concentração produtiva no município de Juazeiro. Entretanto, da microrregião de Ilhéus-Itabuna (notadamente os municípios de Ipiaú, Ilhéus e Ubatã) tem uma participação relevante na produção de polpas, principalmente as comercializadas no estado de Pernambuco (BRITO, 2011).
De acordo com as informações da Assessoria de Comunicação da CEPLAC (2006, p. 12), “os principais mercados externos das frutas baianas são a Holanda para onde são embarcados 57% do volume total de 115 mil toneladas, Reino Unido (13,5%), Estados Unidos (12%), Portugal (6,5%), Espanha (3,5%), Canadá (1,6%) e Alemanha (1,2%)”.
A mesorregião sulbaiana2 é formada por três microrregiões, de acordo com a divisão política assumida pela Superintendência de Estudos Sociais e Econômicos da Bahia (SEI), Ilhéus-Itabuna, Valença e Porto Seguro. Embora o estado da Bahia assuma, hoje, a divisão dos municípios por Territórios de Identidade, a divisão por microrregião se aplica melhor a esse trabalho por conjugar, numa mesma região, a maior parte dos municípios que possuem fabricação de polpas de frutas estes, de acordo à divisão territorial, estariam alocados espacialmente em, pelo menos, três Territórios.
Nesse sentido, os 72 municípios que compõem a mesorregião estão distribuídos entre as microrregiões Valença3 (com 10 municípios), Porto Seguro4 (com 21 municípios) e Ilhéus-Itabuna 5 (com 41 municípios, dentre eles Ubatã, município desta análise).
Em 2013, segundo dados da Relação Anual de Informações Sociais do Ministério do Trabalho e Emprego destes 72 municípios acima distribuídos, 30 apresentaram fabricação de polpas de frutas em sua estrutura produtiva (o que equivale dizer que esta produção é praticada em 42% dos municípios da mesorregião).
Ao se fragmentar a produção pelas três microrregiões, observa-se que Ilhéus-Itabuna concentra a maior parte dos municípios da mesorregião que produz polpa de frutas (20 dentre os 30 municípios produtores), sendo que outros seis encontram-se na microrregião de Valença e quatro na de Porto Seguro. Tais características representam o histórico produtivo da própria região, de cultura agrícola, principalmente na produção do cacau, forte em toda a microrregião influenciando diretamente na existência das indústrias de processamento de polpas de frutas no estado.
2.5 A indústria de polpas de frutas no município de Ubatã
O município de Ubatã teve seu início no ano de 1909, antes denominado de Dois Irmãos, sendo pertencente ao território do Distrito de Orojó, município de Camamu. Em 1932, no entanto, passou a pertencer ao município de Maraú, alterando seu nome de Dois Irmãos para São Sebastião.
Até chegar a denominação atual, a cidade já pertenceu, ainda, ao município de Rio Novo, conhecido hoje por Ipiaú, e por fim, em 1943, foi reconhecido pelo nome de Ubatã, sob força do Decreto Lei Estadual nº 514, de 12 de dezembro de 1952. Todavia, somente em 26 de setembro de 1953, com carta promulgada no Rio de Janeiro (capital federativa à época), Ubatã pôde ser elevada à categoria de município. O nome da cidade significa Canoa Forte.
Segundo informações do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2014), a população de Ubatã conta, aproximadamente, com 26.787 habitantes, numa área territorial de 268,239 km². Em termos econômicos, o PIB a preços correntes gira em torno de R$ 111.204 milhões, e PIB per capita a preços correntes de R$ 4.348,16 (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2012).
Segundo dados do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD); do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) e da Fundação João Pinheiro (FJP), o número de habitantes na faixa da extrema pobreza foi reduzido, passando de 50,74%, em 1991, para 32,70%, em 2000. Enquanto que, em 2010, cerca de 14,63%, da população enquadrava-se na faixa de extrema pobreza. Além disso, o nível de desigualdade diminuiu segundo o parâmetro do índice de Gini 6 que, em 1991 era de 0,68, em 2000 foi de 0,61 e, finalmente, no ano de 2010 teve redução para 0,53.
Outros números significativos a despeito da população ubatense é que a taxa de atividade da população de 18 anos ou mais, que neste caso, refere-se à porcentagem da população economicamente ativa, atingiu 59,49% em 2010, aumentando em relação aos anos 2000, quando reunia cerca de 56,21%. A taxa de desocupação caiu de 25,02%, em 2000, para 17,85% em 2010. Além disso, detectou-se um percentual de 36,57% da população economicamente ativa ocupando trabalhos agropecuários e 37,12 no setor de serviços (PROGRAMA DAS NAÇÕES UNIDAS PARA O DESENVOLVIMENTO; INSTITUTO DE PESQUISA ECONÔMICA APLICADA; FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO, 2010).
De acordo com o Atlas Brasil (2013), o Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M), que são indicadores da população, educação, habitação, saúde, trabalho, renda e vulnerabilidade dos municípios brasileiros, entre 1991 e 2010 o município de Ubatã observou seus índices melhorarem, de 0,353 em 1991 para 0,593 em 2010, embora ainda sejam classificados como baixo 7 (ver gráfico abaixo). Em relação ao ranking dos municípios com melhores IDH-M, a média geral do estado da Bahia, no ano de 2010, foi de 0,660, ocupando a 22° colocação entre os 26 estados brasileiros e o Distrito Federal.
Em 1991, Ubatã ocupava o 3232° no ranking do desenvolvimento humano brasileiro. Em 2000, mesmo elevando seu IDH-M, o município passou a ocupar o 4048° no ranking, e no ano de 2010, a posição no ranking dos municípios caiu para o 4309°, e coincidentemente, foi o ano que melhorou consideravelmente os indicadores do IDH-M. A tabela a seguir, revela o grau de percentual dos setores de Serviços, Indústria e Agricultura no PIB a preços correntes municipal de Ubatã, estabelecendo quais destes possuem maiores influencias na economia local.
Num paralelo entre os setores industrial e agropecuário, percebe-se que a indústria tem um poder maior de contribuição no PIB ubatense. No entanto, em 2002 ambos os setores apresentaram porcentagens quase que similares, mas com uma pequena vantagem para agricultura, com 8,70% contra 8,6% da indústria.
Tendo em vista tais informações, notou-se que a participação da cidade de Ubatã no total do PIB estadual variou entre 0,06%, 0,05% e 0,06% nos anos de 1999, 2000 e 2001, respectivamente. Observou-se que o município perdeu onze posições no ranking estadual na evolução do PIB de 1999 para 2012. No primeiro ano de análise, ocupava a posição 168°, já em 2012 passou a ocupar a 179°. Numa comparação nacional, de 1999 (2.682) para 2012 (2.755) perdeu 73 posições (DEEPASK, 2015).
2.6 A indústria em análise
Estima-se cerca de quase 800 produtores regionais trabalhando na produção e cultivo de frutas, ocupando mais de 1.300 hectares e gerando por volta de quase 4 mil empregos diretos (GLOBO RURAL, 2013).
Assim sendo, Peixoto et al. (1998), dizem que a agroindústria vem assumindo importância significativa no processo de desenvolvimento, pois gera maior valor agregado à produção agropecuária no meio rural, unindo a economia do campo ao sistema industrial. Somadas as duas (agricultura e indústria), a região ao qual elas ingressam, detêm de maior potencial de geração de renda e de emprego. Até porque, a agroindústria é um dos segmentos mais dinâmicos possíveis.
E é justamente neste segmento agroindustrial que o município de Ubatã tornou-se referência no país. Segundo Globo Rural (2013) Ubatã conta com duas importantes fábricas de polpa de frutas: a Santa Rosa e a Nutricau. A primeira com produção de aproximadamente 800 kg de polpas produzidas por mês. Algumas frutas como o cacau e cajá, por exemplo, são originárias da própria cidade, outras como no caso do caju, goiaba e acerola vêm de lugares como o Rio Grande do Norte e do médio São Francisco.
Por sua vez, a fábrica de polpa de frutas Santa Rosa existe há mais de 20 anos na agroindústria brasileira, sua sede localizando-se na Fazenda Londrina. Quanto a produção, atualmente, a empresa trabalha com 24 sabores de polpas em embalagens de 1kg, 100g e tambores de 190kg. Já a Nutricau trabalha na fabricação de polpas de frutas desde setembro de 1983 (ano de fundação) comercializando um total de 22 sabores de polpa.
3 MATERIAL E MÉTODOS
3.1 A Indústria de Polpas de Frutas Através dos Indicadores de Localização e Especialização Produtiva
Para cumprir o objetivo da pesquisa e, assim, ter como desdobramento a geração de indicadores de especialização e localização da produção de polpas no município de Ubatã em relação à microrregião Ilhéus-Itabuna e essa região com a Bahia. Essa análise entre os espaços foi proposta para que se possa perceber a relevância da produção industrial de polpas de frutas para o município e, por consequência, da microrregião para o estado (embora, apenas, como análise complementar à principal).
Nesse sentido, serão utilizados, dentro da lógica da análise sobre localização, o Quociente Locacional (QL), o Índice de Concentração de Hirschman-Herfindahl (IHH) e o Coeficiente de Localização (CL). E, para a lógica da especialização produtiva, será utilizado o Coeficiente de Especialização (CE). Sobremaneira, o Quociente Locacional (QL), o Índice de Concentração de Hirschiman-Herfindahl (IHH) e o Coeficiente Locacional (CL), formam as bases para as medidas de localização e/ou espacialização. São medidas de “natureza setorial e se preocupam com a localização das atividades entre as regiões. Busca-se a identificação de padrões de concentração ou dispersão espacial de variável-base setorial, num dado período ou entre dois ou mais períodos” (HADDAD, 1989, p. 231).
Para o caso das medidas de especialização, representadas aqui pelo Coeficiente de Especialização (CE) contribuem para verificação da estrutura produtiva de cada região, mostrando o grau de especialização das economias regionais, ou até mesmo, revelando as mudanças proporcionadas por estes setores ao passar dos anos.
Esses indicadores foram calculados com base nos dados anuais de emprego (dados totais e não saldos do mesmo) da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS) do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) para o período de 2006 a 2013.
A base de dados da RAIS é utilizada a fim de caracterizar sistemas locais de produção, sendo a base fundamental para análise de indicadores regionais por permitir desagregar os espaços setoriais e geográficos dos dados disponibilizados. Entretanto, mesmo contando com essas boas vantagens, observa-se um contraponto importante, haja vista algumas fragilidades apontadas em alguns trabalhos, dentre eles, um dos principais é o fato da RAIS considerar, somente, relações contratuais formalizadas, não considerando empregos informais, o que limita sua cobertura.
Ainda assim, para o presente trabalho levou-se em consideração os dados obtidos junto a RAIS, para os períodos de 2006 a 2013, seguindo a classificação da Comissão Nacional de Classificação (CONCLA) da Classificação Nacional de Atividade Econômica (CNAE 2.0), de acordo ao setor produtivo (dois grupos) para o município de Ubatã, microrregião Ilhéus-Itabuna, em relação à Seção Produtiva C: Indústria da transformação. Assim, as ocupações observadas seguem a lógica demonstrada no QUADRO 1:
3.2 A análise pela ótica do Quociente Locacional (QL)
O Quociente Locacional (QL) é um indicador utilizado para mensurar e determinar a importância de um determinado setor produtivo de uma determinada região em relação a uma região de referência, expressando a significância do mesmo para o local em relação à região. Nesse estudo avaliou-se a participação da indústria de polpas de frutas no município de Ubatã, bem como verificar dessa indústria em relação à microrregião Ilhéus-Itabuna e para todo o estado da Bahia. A sua utilização, é mais indicado para regiões caracterizadas por serem de médio porte, pois regiões maiores ou mesmo menores, podem incorrer distorções na composição dos resultados.
O Quociente Locacional é utilizado como fonte de comparação entre a participação percentual de uma região em um setor particular com a participação percentual da mesma região no total da variável-base da economia nacional (nesse trabalho especificamente, a avaliação dar-se-á nível estadual). No caso específico dessa pesquisa, o QL foi mensurado da seguinte maneira:
Onde as variáveis utilizadas no QL e em todos os demais indicadores usados neste estudo (CL, IHH e CE) são definidas como:
i = setor produtivo, grupos 103 e 112 (classes 1031-7; 1033-3 e 1122-4) da CONCLA/CNAE;
j = Ubatã (município de análise) e Microrregião Ilhéus-Itabuna;
t = região de referência (microrregião Ilhéus-Itabuna) e, também, Estado da Bahia;
POij = total de pessoas ocupadas no setor i da região j;
POit = total de pessoas ocupadas do setor i na região de referência t;
POtj = total de pessoas ocupadas na região j;
POtt = total de pessoas ocupadas na região t.
O resultado do quociente, maior que 1 (QL>1) revela basicamente que a região é relativamente mais importante no contexto estadual, em termos de setor do que em termos gerais de todos os setores. Tendo em mente que quanto maior o QL maior será a especialização da região, o oposto também é recíproco, ou seja, quanto menor o QL, menor a relação de especialização da região. Ou seja, a diferença positiva ou negativa em relação à unidade expressa a importância relativa do setor na região de estudo em relação à região de referência (HADDAD, 1989; ALVES, 2012).
3.3 Índice de Concentração de Hirschiman-Herfindahl (IHH)
O Índice de Concentração de Hirschiman-Herfindahl (IHH) representa a medida de concentração do setor no espaço de análise (Ubatã e Microrregião) para verificar se o mesmo é concentrado nesses espaços via a comparação entre a sua absorção de mão de obra em relação à absorção da mesma pelo mercado de trabalho total.
O IHH é representado pela relação entre o total da população ocupada da região de estudo no setor analisado e a população ocupada total da região de referência menos a relação entre a população ocupada do setor analisado da região de referência e a população ocupada total da região de referência (ALVES, 2012). Expressa da maneira a seguir:
O cálculo do IHH é semelhante ao do QL, entretanto, seu resultado difere, pois para o IHH existem duas possibilidades quanto aos resultados. Quando os valores tratados resultarem em números negativos, sabe-se que há baixo grau de concentração da atividade produtiva analisada em comparação à região de referência, no contexto geral dessas economias. Porém, quando da incidência de valores positivos, isso significa o quão o setor estudado pode ser considerado concentrado na região analisada (em relação à sua atividade e ao geral).
3.4 O Coeficiente de Localização (CL)
Já o Coeficiente de Localização (CL), tal como o IHH, tem por objetivo verificar a concentração de firmas, porém, sua mensuração não perpassa, apenas, pelo acompanhamento geral dos dados de ocupação, mas do setor específico àquele que está sendo analisado. Ele possibilita mensurar o grau de dispersão relativa das atividades econômicas, verificando sua possibilidade de concentração regional.
Seu cálculo é representado pelo somatório (para todas as regiões) da participação percentual do setor i da região j dividido pela região de referência, menos a participação percentual total da região j dividido pela região de referência, dividindo a equação por dois (HADDAD, 1989; MONASTÉRIO, 2011; ALVES, 2012). Conforme fórmula apresentada abaixo.
O indicador CL varia entre zero e um, ressaltando que quanto mais o CL estiver próximo de zero, mais o setor estará tecnicamente distribuído no espaço, ou seja, não se concentra na região analisada.
3.5 O Coeficiente de Especialização (CE)
O CE é um indicador de especialização, e mostra se os resultados locacionais são diferentes desse resultado se comparados à especialização.
O Coeficiente de Especialização parte, assim, da relação entre participação da ocupação do setor estudado na região respectiva em relação ao total de ocupação do setor de referência do espaço analisado, menos a participação da ocupação total do setor estudado na região de referência em relação ao total de ocupação do setor de referência no espaço de referência, dividido por dois.
Com sendo definido como:
O CL varia de zero (0) e um (1), sendo que, se perto do zero, conclui-se que a região apresentará estrutura produtiva idêntica à região de referência, ou seja, não possui especialização no segmento. No entanto, quanto mais estiver próxima a um, observa-se, se a estrutura produtiva se difere em relação à região de referência, ou seja, tende a ser mais especializada que a macrorregião.
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os resultados foram apresentados seguindo a mesma ordem de apresentação os indicadores utilizados. Assim, eles são apresentados e discutidos, na seguinte sequência: i) Quociente Locacional (QL); ii) Índice de Concentração de Hirschiman-Herfindahl (IHH); iii) Coeficiente de Localização (CL); e iv) Coeficiente de Especialização (CE).
4.1 Discutindo os resultados do QL
De acordo dados para o QL entre 2006 e 2013, registrados na tabela 8 a seguir, o QL medido para Ubatã em relação à microrregião de Ilhéus e Itabuna, bem como dessa microrregião em relação à Bahia, se mostrou, sempre, acima de 1(um), que sinaliza que, tanto para a microrregião quanto para o município, a indústria de polpas de frutas é mais que relevante.
É possível dizer que a indústria de polpas de frutas, para o município de Ubatã-Bahia, se mostrou bastante significativa em termos de concentração produtiva, pois em todos os anos, o QL foi acima de 1, isso indica que a indústria influencia no nível de empregos total do município, refletindo a importância da mesma em seu contexto geral.
De forma mais analítica, segundo interpretações realizadas por Alves (2012), esse setor era mais importante para o município de Ubatã e, ao mesmo tempo, para a microrregião o mesmo setor era mais importante para a si, que para o estado da Bahia, em 2006, na absorção da mão de obra. Quando observada evolução até 2013, verificou-se que a importância do setor para o município aumentou ainda mais (dada a evolução do QL de 2,5064 para 6,9888), com exceção apenas em 2011. No caso da microrregião, o mesmo ocorreu, mas em um movimento menos intenso (de 2,2115, em 2006, para 2,9872, em 2013).
Tal fato evidencia que, de fato, pela lógica do Quociente Locacional, a indústria de polpas de frutas de Ubatã é muito importante para o próprio município no quesito da absorção, embora a mesma não seja tão relevante para a microrregião de Ilhéus-Itabuna, haja vista, inclusive, que existem indústrias maiores nesse espaço geográfico, no município de Ipiaú.
Em relação à microrregião, o mesmo entendimento se apresenta. Sendo a produção mais importante para a microrregião que para o conjunto do estado da Bahia, o que implica dizer que o mesmo segmento produtivo possui mais destaque em outros municípios (e microrregiões), como na região Norte do estado, por exemplo, no município de Juazeiro. Ou seja, mesmo apresentado valores acima de 1 para a microrregião, em termos de Bahia, a concentração produtiva ainda não impacta diretamente nos resultados gerais para o setor no estado.
4.2 Discutindo os resultados do IHH
Constatou-se após análise que, assim como percebido através do QL, nem o município de Ubatã (em relação à Microrregião Ilhéus-Itabuna), nem a Microrregião (em relação ao estado da Bahia) concentra a atividade de produção dados as delimitações setoriais da CONCLA que representam a produção da indústria de polpas de frutas. Embora a inexistência de valores negativos sinalize que tal indústria possui importância no conjunto da produção municipal, microrregional e estadual.
É importante ressaltar que o IHH também apresenta tendência de crescimento intertemporal, ou seja, o setor vem se ampliando nos espaços em que estão inseridos. Em Ubatã, por exemplo, de 2006 até 2010 (com exceção de 2011) os resultados foram crescentes, passando de 0,0311, em 2006, para 0,0876 em 2012. Enquanto que na região de referência (Microrregião) os resultados foram ainda mais expressivos para todos os anos, dado pelo crescimento da participação da indústria de Ubatã e, também, de Ipiaú.
4.3 Discutindo os resultados do CL
O Coeficiente de Localização é, constantemente, utilizado em estudos de cunho implementador para políticas de diversificação regional dentro de uma lógica locacional, pois “permite identificar o grau de dispersão relativa das atividades econômicas e selecionar aqueles que, presumivelmente, teriam menor tendência à concentração espacial” (HADDAD, 1989, p. 233). Para o objeto de análise do trabalho, de acordo com a tabela 9, percebeu-se que tanto para o município de Ubatã quanto para a microrregião estudada, em relação às respectivas regiões de comparação, esses espaços não representam concentração de localização para a produção de polpas de frutas. Nessa análise a perspectiva se apresentou semelhante aos da análise do QL e do IHH já que, conforme preconiza o cálculo do CL, quanto mais próximo de 0, menos concentrada é a produção.
Conforme pode ser observado, tanto em nível de município, quanto ao nível de microrregião, o setor não apresentou importantes resultados para que seja considerada concentrada (localizada) em termos do CL, ou seja, a atividade está dispersa em outras regiões (tanto na microrregião quanto no estado como um todo). Contudo, houve um pequeno aumento relativo na evolução do indicador entre o primeiro e o último ano analisado. Em 2006 o CL foi de 0,011 enquanto em 2013 foi de 0,0438 para o município. Já com base na microrregião, em 2006 foi de 0,0389 e, em 2013, de 0,0549.
Nesse sentido, verificou-se que o CL para o município de Ubatã manteve-se, ao longo do período, mais próximo a zero que para a microrregião de Ilhéus-Itabuna, essa análise evidencia uma diferença na análise de Ubatã em relação à microrregião, pois a produção desse segmento industrial está menos concentrada, não sendo, “locacionalmente”, centrada no município. Ou seja, a produção está espacialmente distribuída na microrregião (conforme apresentado anteriormente, no município de Ipiaú).
Perspectiva interessante apresentou o CL para a microrregião de Ilhéus-Itabuna esta, conforme os resultados mostraram-se superior aos dados para Ubatã na microrregião. Ou seja, pode-se depreender o fato da a microrregião possuir uma maior concentração dessa atividade, em relação ao estado da Bahia. Assim entende-se a concentração do setor na microrregião maior em relação ao estado do que o município em relação à microrregião. No geral, confirma se, dado suposição pesquisada, que o objeto de pesquisa (o segmento em Ubatã) é mais importante para o município quando comparado com a microrregião.
4.4 Discutindo os resultados do CE
De acordo a tabela que apresenta os dados para o CE, foi possível identificar que a indústria de polpas em relação à indústria de fabricação de alimentos e bebidas, seguindo a mesma lógica utilizada para a análise do CL, não apresenta grau de especialização, nem no município nem no nível microrregional. Em todos os anos verificados, o CE ficou bem próximos a zero.
Entretanto há um destaque a ser ponderado. Embora os dados anteriores a 2012 tenham sido mínimos para o município de Ubatã em relação à microrregião. A partir desse ano o CE aumentou e passou de 0,0056 (ou 0,002), em 2011 (valores semelhantes foram registrados para todos os anos anteriores), para 0,0157 ou 0,02 (em 2012) e 0,0199 ou 0,02 (em 2013). Assim, representando, dentro da análise feita, um aumento na especialização desse segmento no município.
Observe-se que esse mesmo movimento não ocorreu para a microrregião em relação à Bahia. O CE evolui, mas numa velocidade bem inferior à do município e, de certa forma proveniente dessa evolução do município, haja vista que o mesmo faz parte da microrregião. Mas é valido salientar, a título de informação complementar e atrelar uma variável qualitativa ao indicador, que foi em 2012 que a indústria Nutricau começou a ampliar sua produção no segmento de bebidas, principalmente energéticos. O que sinalizou, possivelmente, alterações no CE para o município.
Sobremaneira, após a análise desenvolvida para cada indicador, tanto de medidas de localização, o Quociente Locacional (QL), o Índice Hirschman-Finderdahl (IHH) e o Coeficiente de Localização (CL), bem como quanto à medida de especialização utilizada, o Coeficiente de Especialização (CE), pôde-se perceber que para o município de Ubatã, os indicadores QL e IHH identificaram importantes resultados, revelando que para o município, o setor da indústria de polpas de frutas representa uma importante relação produtiva para o município, contribuindo para a geração de emprego e renda na cidade, pois para todos os anos compreendidos entre 2006-2013 o QL se mostrou acima de 1, e com valores positivos em relação ao índice do IHH (que só não apresenta destaque se tiver valores negativos).
Entretanto, conforme delimita o aprofundamento da pesquisa, via utilização do CE e do Coeficiente de Especialização, evidenciou-se que a relevância da indústria de polpas de frutas possui sim, relevância socioeconômica, como qualquer indústria em qualquer espaço. Porém, esse segmento produtivo-industrial, específico do município de Ubatã, é muito mais relevante para o próprio município que para a microrregião de Ilhéus-Itabuna e, por sua vez a mesma relação se evidencia para esse segmento em relação ao estado da Bahia.
Contudo, sabe-se que ainda existe a necessidade e a possibilidade de maiores investimentos para o seguimento, tanto no município quanto na microrregião, atraindo novos incrementos para que se possa torna-se uma região especializada nesse segmento se tornando um destaque locacional e de especialização produtiva. Porém, evidentemente, o município, bem como a microrregião, possui características que apontam para o crescimento do setor de produção de polpas de frutas, visto que, se observado os últimos anos, todas as análises se mostraram em direção aos limites que indicam os pontos óticos de um dos indicadores utilizados, ou seja, um aumento relativo. Além disso, a própria origem das polpas de frutas, segundo a CEPLAC, vem da região, o que faz com que, culturalmente, seja uma dimensão para o desenvolvimento regional.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nesta pesquisa buscou-se, dentre outras finalidades, identificar os objetivos traçados, de acordo as especificidades pautadas nas medidas de localização e especialização, se o setor de indústria de polpas de frutas para o município de Ubatã-BA, mostra-se relevante quanto a concentração produtiva e especializada, enquanto atividade econômica em nível de município (Ubatã) e na Microrregião Ilhéus-Itabuna dentro do estado da Bahia.
Desta maneira, a proposta desenvolvida forneceu um leque de informações inerentes à temática e a efetivação dos resultados discutidos a respeito das pequenas e médias cidades, da importância da indústria para o processo de desenvolvimento e do arcabouço teórico sobre os indicadores do QL, CL, IHH e CE, que fundamentaram a sustentação para obtenção da resposta ao problema e a hipótese da pesquisa.
Na composição dos resultados, primeiro foi preciso definir mecanismos que pudessem fortalecer o processo de concretização do trabalho. Para isso foi abordado o papel das cidades pequenas e médias no Brasil, destacando-se o processo de formação das economias de aglomeração, principal frente às deseconomias, responsáveis por aglutinar num mesmo espaço, um fluxo industrial, mas que em longo prazo, provocou transtornos devido ao crescimento desenfreado sem planejamento estratégico e de logística.
Contudo, percebeu-se que as cidades de pequeno porte, ainda estão num processo lento de desenvolvimento industrial, pois suas potencialidades concentram-se nas atividades (em grande parte) ligadas à agricultura, tal qual, ocorre às indústrias de polpas de frutas, de certa forma, podendo levá-las a se tornar fator de encadeamento para o desenvolvimento desses espaços, inicialmente, e para todo o contexto espacial que o insere, posteriormente.
Paralelo a isso, caracterizou-se o processo histórico-econômico do município de Ubatã, contemplando as principais discussões acerca da formação da cidade, atrelando-se informações pertinentes aos principais setores (serviços, agricultura e indústria), ambos norteadores à formação das indústrias de polpas de frutas. Diante disso, verificou-se que o setor de serviços é o principal ofertante de emprego e mão de obra à população. Por outro lado, constatou-se uma relevante relação entre os setores industrial e agropecuário dado a potencialidade produtiva e cultural desse setor na economia do município, favorecendo a evolução das agroindústrias de polpas de frutas.
Além disso, observou-se na pesquisa que a Bahia representa um dos principais polos produtores de frutas no país, sendo inclusive, responsável por boa parte das exportações brasileiras de polpas. Produção essa mais concentrada na região Norte do estado. Entretanto, a dedicação cultural e histórica à produção da agricultura na mesorregião sulbaiana e sua microrregião Ilhéus-Itabuna, levou aos mesmos a possibilidade de adequação de sua produção a inovações produtivas, como a produção de polpas de frutas. A microrregião de Ilhéus-Itabuna concentra, assim, um grande número de municípios do estado que produzem polpas de frutas, com destaque, sobretudo, aos municípios de Ipiaú, Ilhéus e Ubatã. Sendo Ipiaú aquele que possui as maiores fábricas e a maior diversificação de produtos a elas ligados.
Nesse contexto, as fábricas de polpas de frutas (Santa Rosa e Nutricau), vêm se destacando nos últimos anos, elevando sua participação nos mercados locais e expandindo-se para outros espaços fora do eixo microrregional. A primeira, mais recente, produz cerca de 800 kg de polpas por mês. Já a segunda, pioneiro no município e, relativamente, na região, atua no mercado desde 1983, sendo, atualmente, reconhecida em boa parte do território nacional.
Em relação às observações e conclusões da pesquisa, de acordo à análise proposta, o segmento industrial da transformação, dentro da divisão da produção de alimentos e bebidas e dos segmentos (classes produtivas) da produção realizada pelas indústrias de polpas de frutas de Ubatã e da Microrregião de Ilhéus-Itabuna, percebeu-se que esse setor se apresenta mais importante para o município de Ubatã e, ao mesmo tempo, para a microrregião que para o estado da Bahia, de acordo aos indicadores de Quociente Locacional e de Hirschman-Herfindahl. Perspectiva semelhante apresentou o Coeficiente Locacional que, para a Microrregião de Ilhéus-Itabuna, conforme os resultados mostraram-se superior aos dados para Ubatã na microrregião. Ou seja, a microrregião possui uma maior concentração dessa atividade, em relação ao estado da Bahia que do município em relação à microrregião.
De maneira geral, o problema, bem como seu objetivo de pesquisa, é alcançado e confirma que a indústria de polpas de frutas de Ubatã é mais importante para o município que para a microrregião, principalmente, pelo fato de existirem indústrias maiores nesse espaço geográfico, no município de Ipiaú.
Em relação à microrregião, o mesmo entendimento se apresenta. Sendo a produção mais importante para a microrregião que para o conjunto do estado da Bahia, haja vista que o mesmo segmento produtivo possui mais destaque em outros municípios (e microrregiões), como na região Norte do estado, por exemplo, no município de Juazeiro, também na Bahia.
Tal estudo, entretanto, refuta a hipótese da pesquisa, haja vista que foi demonstrado que a indústria local estudada não é capaz de, em acordo com os fatores locacionais e de especialização, atrair novos investimentos industriais do mesmo setor ou de setores que gerem encadeamentos produtivos e econômicos. Tal refutação cria a possibilidade de ampliação do estudo e de novas pesquisas, futuras, principalmente, em relação ao estudo comparativo, por exemplo, entre as indústrias de Ubatã e Ipiaú.
Ratificando a proposta inicial de que dentre as polpas de frutas mais exportadas pelo país ao mercado internacional evidenciam-se as seguintes: banana, goiaba, graviola, carambola, cupuaçu, mangaba, acerola e seriguela. Estas frutas, por sua vez, são de grande destaque nas lavouras da região onde se situam os municípios de Ubatã e também de Ipiaú, os quais possuem os maiores produtores industriais, do segmento, na microrregião Ilhéus-Itabuna.
Em suma, o presente estudo cumpriu o papel proposto e levará à comunidade acadêmica e à sociedade, principalmente, ubatense, um estudo relevante da sua principal atividade econômica. A realização da pesquisa e os seus resultados sumarizam informações importantes para o direcionamento de estratégias de planejamento voltadas para o desenvolvimento local de Ubatã.
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2 A referida mesorregião compreende 17,4% do total dos municípios baianos.
3Cairu, Camamu, Igrapiúna, Ituberá, Maraú, Nilo Peçanha, Piraí do Norte, Presidente Tancredo Neves, Taperoá, Valença,
4 Alcobaça, Belmonte, Caravelas, Eunápolis, Guaratinga, Ibirapuã, Itabela, Itapebi, Itagimirim, Itamaraju, Itanhém, Jucuruçu, Lajedão, Medeiros Neto, Mucuri, Nova Viçosa, Porto Seguro, Prado, Santa Cruz Cabrália, Teixeira de Freitas, Vereda.
5 Almadina, Arataca, Aurelino Leal, Barra do Rocha, Barro Preto, Belmonte, Buerarema, Camacan, Canavieiras, Coaraci, Firmino Alves, Floresta Azul, Gandu, Gongogi, Ibicaraí, Ibirapitanga, Ibirataia, Ilhéus, Ipiaú, Itabuna, Itacaré, Itagibá, Itaju do Colônia, Itajuípe, Itamari, Itapé, Itapebi, Itapitanga, Jussari, Mascote, Nova Ibiá, Pau Brasil, Santa Cruz da Vitória, Santa Luzia, São José da Vitória, Teolândia, Ubaitaba, Ubatã, Una, Uruçuca, Wenceslau Guimarães.
6 O Índice de Gini é um instrumento usado para medir o grau de concentração de renda em determinado espaço. Ele aponta a diferença entre as distribuições de renda entre os percentuais de população mais pobres e mais ricas de um espaço. Numericamente, varia de 0 a 1, sendo que o 0 representa a situação de total igualdade, ou seja, todos têm a mesma renda, e o valor 1 significa completa desigualdade de renda, ou seja, se uma só pessoa detém a renda do lugar, por exemplo (ATLAS DO DESENVOLVIMENTO HUMANO NO BRASIL, 2013, p.8).
7 O IDHM classifica-se como sendo: (a) Muito alto – 0,8 a 1; (b) Alto - 0,7 a 0,799; (c) Médio – 0,6 a 0,699; (d) Baixo – 0,5 a 0,599 e; (e) Muito baixo – 0,4 a 0,499 (ATLAS DO DESENVOLVIMENTO HUMANO, 2013).
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