Alexandre Magno de Melo Faria *
Universidade Federal de Mato Grosso, Brasil
dr.melofaria@gmail.comResumo
Este artigo  discute os pilares da interação entre pressão demográfica e desenvolvimento. Os  modelos teóricos de Malthus, Boserup, Barlett, Johnson e Earle e de Wilkinson  são apresentados. A heterogeneidade estrutural dos agentes e as respostas  diferenciadas de trajetórias suscitam a necessidade de entendimento das  distintas dinâmicas espaciais. Conclui-se da necessidade de conhecer e  reconhecer o papel da pressão demográfica na evolução social e as  possibilidades de construção de institucionalidades adaptadas às idiossincrasias.
Palavras-chave: demografia, desenvolvimento, heterogeneidade,  institucionalidades.
Population Pressure and Development
Abstract
  This article discusses the pillars of  the interaction between population pressure and development. Theoretical models  of Malthus, Boserup, Bartlett, Johnson and Earle and Wilkinson are presented.  The structural heterogeneity of agents and the different trajectories lead to  the need of understanding the different spatial dynamics. This underscores the  need to know and recognize the role of demographic pressure on social  developments and opportunities of institutionalities setting up tailored to the  idiosyncrasies.
  Keywords: demography, development,  heterogeneity, institutionalities.
Presión Demográfica y Desarrollo
Resumen
  Este artículo aborda los pilares de la  interacción entre la presión demográfica y el desarrollo. Se presentan los  modelos teóricos de Malthus, Boserup, Bartlett, Johnson y Earle y de Wilkinson.  La heterogeneidad estructural de los agentes y de las diferentes trayectorias  de respuestas conduce a la necesidad de entender las diferentes dinámicas  espaciales. Esto pone de relieve la necesidad de conocer y reconocer el papel  de la presión demográfica sobre la evolución social y la creación de  institucionalidades adaptadas a la idiosincrasia.
  Palabras clave: demografía, desarrollo, heterogeneidad,  institucionalidades.
 Para citar este artículo puede utilizar el siguiente formato: 
Alexandre Magno de Melo Faria  (2017): “Pressão Demográfica e Desenvolvimento”, Revista Contribuciones a la Economía  (octubre-diciembre 2017). En línea:
 http://eumed.net/ce/2017/4/pressao-demografica-desenvolvimento.html
http://hdl.handle.net/20.500.11763/ce174pressao-demografica-desenvolvimento 
Este trabalho aborda os principais pilares na discussão sobre a evolução da pressão demográfica e do uso de tecnologias na produção de alimentos e as suas interações com o meio ambiente. A evolução social pode ser analisada por diversas correntes teóricas. Neste trabalho, discutir-se-á brevemente os principais pilares dos modelos de Malthus (1997), Boserup (1987), Barlett (1976), Wilkinson (1974) e Johnson e Earle (1987), que consideram a pressão demográfica como o principal mecanismo na mudança das relações entre sociedade, tecnologia e meio ambiente.
Malthus ficou conhecido pela expressão: “a população, quando não  controlada, cresce numa progressão geométrica. Os meios de subsistência crescem  apenas numa progressão aritmética. Um pequeno conhecimento de números  demonstrará a enormidade do primeiro poder em comparação com o segundo”  (MALTHUS, 1996: 246). Esta relação implica em um enorme obstáculo que atua  sobre a evolução populacional. Porém, é a própria população o grande problema,  pois sua flutuação em relação à capacidade de geração de alimentos é que gera  instabilidades como fome, miséria e deslocamentos. 
   Como Malthus considerava a geração de tecnologia agrícola como exógena  ao sistema, ele não estimou mudanças técnicas que poderiam alterar a capacidade  de geração de alimentos em conformidade com o crescimento populacional. Assim,  o que controlaria a relação entre população e oferta de alimentos seriam  mecanismos de bloqueio, que afetariam as taxas de natalidade e mortalidade. A  capacidade de geração de alimentos seria uma linha estática, pois a técnica  produtiva não seria impulsionada por nenhuma variável interna e a linha da  população seria dinâmica com fortes flutuações, ora acima da linha de  capacidade de suporte de alimentos, ora abaixo. Assim, neste modelo, a variável  dependente é a população, que somente poderia se expandir se a taxa de oferta  de alimentos fosse suficiente para garantir o crescimento populacional.
   O modelo malthusiano apresenta um certo grau de pessimismo em relação às  condições de vida da população. Quanto maior a densidade demográfica, maiores  seriam as dificuldades de evolução social, haja vista a dificuldade de ofertar  alimentos. Contudo, em uma visão de curto prazo, Malthus não conseguiu perceber  as possibilidades de expansão da técnica e da incorporação de novas áreas  produtivas. As soluções indicadas de celibato, casamento tardio e controle  populacional estavam centradas na tentativa de reduzir a densidade populacional  e a demanda de alimentos. Por outro lado, não avançou nas possibilidades de expansão  da oferta de alimentos, que poderiam equacionar a pressão demográfica  crescente.
   A capacidade de desenvolvimento de uma sociedade estaria bloqueada  enquanto a população mantivesse um ritmo de expansão acima da capacidade de  resposta da oferta de bens primários. Além disso, qualquer auxílio distributivo  de renda aos pobres não passaria de ilusão, pois haveria uma elevação da fome  dada a maior pressão por alimentos, que elevariam os preços em função do  aumento da demanda. Ter-se-ia também a aceleração do consumo, com eliminação  dos estoques antes que pudessem ser repostos pela produção agropecuária,  reduzindo o bem-estar social do conjunto da população. Desta forma, na  percepção malthusiana, a distribuição de renda seria um malefício social e  todas as formas de auxílio à população pobre deveriam ser abolidas em benefício  de todos. 
   Para Malthus, o crescimento populacional e a pressão demográfica seriam  processos que reduzem as condições médias de vida da população e não poderia  explicar o desenvolvimento de uma sociedade. Na verdade, a pressão demográfica  se constituiria em um claro bloqueio ao desenvolvimento rural e urbano.
Ester Boserup (1987) parte de uma visão que coloca o crescimento  populacional como variável independente e como o principal fator determinante  das mudanças na agricultura. Em regiões de baixa pressão demográfica,  percebe-se uma agricultura extensiva, que utiliza a técnica de “corte e  queima”, com alta produção em duas ou três safras e abandono do lote, que  ficará em pousio durante vários anos. Esta técnica garante uma alta  produtividade por mão-de-obra, visto que o fogo substitui o esforço humano. Se  há extensas áreas disponíveis devido à baixa densidade populacional, pode-se  utilizar uma agricultura itinerante com muitas áreas em pousio longo. Contudo,  se há uma elevação do tamanho da população, o período de pousio deve ser  reduzido para garantir a oferta de alimentos. Para Boserup, a redução das áreas  de pousio representa umaintensificação  agrícola, que incorpora importantes mudanças. No pousio mais curto, há a  necessidade de incorporação de técnicas de fertilização, antes desnecessárias  (BOSERUP, 1987).
   Quanto maior o crescimento populacional, menor as áreas de pousio e  maior a intensificação agrícola. Quando o pousio é severamente reduzido, nas  áreas abertas surge uma nova estrutura vegetal, onde as gramíneas predominam.  Nestes campos, o fogo não é suficiente para a limpeza do lote, sendo necessário  a utilização de enxadas e arados. O trabalho adicional necessário para o  preparo, plantio, cuidados adicionais e colheita são maiores do que os  resultados alcançados. Há um declínio da produtividade do trabalho, pois há uma  troca entre o fogo e o trabalho humano. 
   Além disso, a introdução do arado pressupõe o uso de animais de tração,  que necessitarão de cuidados e alimentos, sendo que os camponeses deverão  reservar algumas horas de trabalho para cultivar a forragem para a sua tração  animal e destinar extensas áreas de pastoreio. Contudo, enquanto a densidade  populacional não for muito alta, o agricultor irá relutar em trocar seus  períodos de liberdade para adquirir o hábito do trabalho regular e diário.
   Para Boserup, a mudança de um padrão de pousio longo de alta  produtividade no curto prazo para um sistema de pousio curto enfatiza a adoção  de tecnologia, pois o uso continuado de um mesmo lote sem pousio irá declinar  sua produtividade se não ocorrer a adoção de técnicas como fertilização,  aração, capina e outros. As novas técnicas não visam elevar a produtividade,  mas evitar que ela se reduza a um nível muito baixo por homem-hora. Normalmente  estas técnicas não são novas, elas já são conhecidas e estão disponíveis na  região. Contudo, elas passam a ser utilizadas somente quando o cultivo se torna  mais intensivo e quando a escala mínima da técnica é alcançada. Se o  crescimento populacional for baixo, poderá levar muitos anos para a introdução  de novas técnicas produtivas.
   Quando uma determinada população ainda se encontra no sistema de pousio  longo com terras abundantes, não há o interesse de um grupo retornar ao lote  específico cultivado anos antes. Contudo, quando a densidade populacional se  eleva e os lotes passam a ser cultivados em espaços de tempo mais curtos, as  famílias passam a se vincular a parcelas específicas. Provavelmente, surge  neste período o costume de cessão de uso familiar descendente, ou seja, a  origem da propriedade privada. Assim, em processos de intensificação agrícola,  o regime de propriedade deve mudar, em um gradiente partindo de terras comuns e  chegando à propriedade particular. Assim, resumindo a abordagem de Boserup, o  processo progressivo de transformação da paisagem em função do crescimento  populacional força a redução do pousio e impulsiona a adoção de novas  tecnologias. Estas mudanças aumentam a produção total de alimentos, alteram  gradativamente a posse das terras e a produtividade do trabalho é reduzida.
   Mais do que representar um avanço, as novas tecnologias representam uma  tentativa de impedir a queda da oferta per  capita de alimentos, dada a pressão demográfica. O processo de  desenvolvimento rural seria, em última instância, a busca de manter os padrões  de vida alcançados anteriormente.
Analisando o caso de intensificação agrícola na Costa Rica, Peggy  Barlett (1976) procura demonstrar o mecanismo de evolução agrícola focando  sobre as causas da evolução e a tomada de decisão individual dos agricultores.  De forma geral, o modelo boserupiano se ajusta ao caso costarriquenho, pois o  crescimento populacional tem reduzido as áreas de pousio, houve uma crescente  utilização de novas tecnologias e as áreas mais intensivas são menos  eficientes, ou seja, a intensificação reduziu a produtividade por trabalhador.  Contudo, a contribuição de Barlett é a especificação da tomada de decisão a  nível individual. A chave seria a diferenciação interna, onde algumas famílias  teriam acesso a áreas maiores e, portanto, não estariam tencionadas a reduzir  suas áreas de pousio, mantendo a capacidade dos solos pelo baixo nível de uso. 
   Outras famílias, com áreas menores e mais exaustas pelo constante uso e  com reduzidas ou inexistentes áreas de pousio, são obrigadas a intensificar o  uso das terras. Porém, estas terras pobres, se manejadas com métodos intensivos  geram mais produto por hectare do que se utilizasse métodos extensivos. O  trabalho extra para os grandes proprietários não gera rendimentos extras, mas  para as pequenas áreas deplecionadas, trabalho extra representa mais  eficiência. Assim, a depleção do solo muda a estrutura de tomada de decisão a  nível individual e o acesso à terra determina as características de cultivo  mais do que a composição familiar. A lei do menor esforço continua presente em  ambos casos. Na grande unidade, evitam-se técnicas que demandarão mais tempo de  trabalho, pois a produtividade está garantida. Nas menores, o menor esforço em  comparação com o produto final ocorre com introdução de novas técnicas, em  comparação com o sistema antigo.
   A questão é que há uma heterogeneidade de agentes, onde as pressões  demográficas endógenas a cada família determinam as respostas a serem buscadas.  No centro das decisões estão os payoffs a cada família, que serão maximizados por estratégias distintas, dadas as  condições endógenas e de interações exógenas.
No terceiro enfoque proposto, o modelo de evolução social de Wilkinson,  parte de um ponto onde a população humana em um dado espaço é tão diminuta que  a baixa produção orgânica dos ecossistemas “naturais” é suficiente para  sustentá-la. Pode-se dizer que o homem participa de um “nicho ecológico” que  garante o suprimento de recursos para a sua sobrevivência sem alterar sua  relação com o meio ambiente relevante. Porém, quando a população humana se  eleva muito, ela extrapola o “nicho ecológico” e os recursos necessários para  sustentar esta população excede a capacidade do meio ambiente de fornecer os  fluxos de provisão. A escassez aguda de recursos essenciais força a sociedade a  alterar o seu padrão de relacionamento com o meio ambiente para superar a crise  ecológica. Há, basicamente, duas formas de resolver o problema. Primeiro,  passa-se a importar recursos para preencher a lacuna. Dois problemas são  derivados desta ação: i) deve-se  especializar em algum produto de exportação para lastrear a importação; e ii) a importação depende do excedente de  outras regiões, que podem interromper o fornecimento a qualquer momento. 
   Outra forma de superar a crise ecológica é a substituição por novos  recursos ou o desenvolvimento de novas técnicas de explorar mais intensivamente  o recurso escasso. A sociedade irá adotar os recursos e as técnicas que  estiverem mais disponíveis dadas a tecnologia e a cultura existente. Primeiro,  o homem seleciona as espécies vegetais e animais em função do custo de  manutenção destas culturas estruturadas artificialmente. Depois, à medida que a  exploração do meio ambiente se eleva, parcela maior da produção e do  beneficiamento das matérias-primas passam a depender do trabalho humano,  substituindo processos naturais. Neste contexto, as técnicas de processamento e  produção vão se tornando mais complexas, o tempo de trabalho humano necessário  se eleva e passa-se a usar recursos de exploração mais difíceis. Com tarefas  mais laboriosas, o homem é estimulado a desenvolver melhores técnicas e fontes  energéticas para auxiliá-lo a poupar mão-de-obra. Assim, a descoberta de nova  fonte energética e a evolução tecnológica não é uma tentativa de acumulação de  riqueza, mas uma resposta necessária a uma situação onde se tornava cada vez  mais difícil a sobrevivência humana.
   Com uma maior densidade demográfica, a necessidade maior de recursos  gera uma crise ecológica de escassez, forçando a sociedade interferir no meio  ambiente para garantir sua sobrevivência em um novo “nicho ecológico”. Novos  recursos e técnicas são incorporadas em um contexto de complexificação dos  processos produtivos. Para poder elevar sua taxa de exploração do meio  ambiente, as sociedades são obrigadas a desenvolver ferramentas e equipamentos,  encontrar novas fontes energéticas e selecionar os métodos poupadores de  mão-de-obra. Assim, para Wilkinson, o desenvolvimento das sociedades não deve  ser visto como “progresso”, busca de uma “vida melhor”, mas como introdução de  processos para superação de problemas que ameaçam a estratégia ecológica de sobrevivência  das sociedades. Quanto mais complexo for o sistema de produção, maiores serão  as restrições à vida das pessoas. Portanto, pode-se dizer que o desenvolvimento  é uma questão de aumentar a exploração do meio ambiente para sustentar uma  população crescente, a partir de crises ecológicas. O que se busca é evitar o  colapso e não aumentar a riqueza absoluta da sociedade. A sociedade não está  buscando um ponto à sua frente, mas apenas sendo impelida a evoluir por  problemas ecológicos de sobrevivência.
No quinto enfoque proposto, o modelo de Johnson e Earle (1987) utilizam  o conceito de evolução multilinear, onde cada sociedade tem uma trajetória  particular. Porém, admite-se que o motor gerador de todos os processos de  mudanças é o crescimento populacional. Todas as sociedades que evoluíram de uma  economia de subsistência de pequena escala para uma economia complexa de grande  escala passaram, de uma forma ou de outra, por processos de intensificação da  produção, integração política e estratificação social. Quando a densidade  demográfica é baixa, a população se encontra dentro da capacidade de suporte do  meio ambiente e não há problemas ecológicos relevantes. Se a população excede  esse limite, esperar-se-ia que a taxa de natalidade recuasse e a taxa de  mortalidade elevasse, eliminando o excedente, em uma curva “S” de crescimento  populacional, onde há um limite claro na relação população e meio ambiente.  Porém, a cultura humana superou a biologia e o homem alterou sua relação com o  ambiente retirando-lhe os recursos necessários para suportar o seu crescimento  exponencial, em uma curva do tipo “J”. Esta capacidade de manejar os recursos  permitiu a evolução humana e a sua complexificação social.
   A análise de Johnson e Earle parte das sociedades de caçadores e  coletores com baixa densidade demográfica que não encontravam grandes problemas  de manutenção da vida. Contudo, uma maior densidade populacional e a  necessidade crescente de recursos impulsionou o manejo de uma agricultura itinerante.  Quando as terras passaram a ficar mais escassas em função da magnitude da  população, houve uma maior intensificação do uso do solo e da fixação das  famílias em lotes específicos. 
   A economia de subsistência ainda prevalece, com baixos níveis de excedente,  onde a meta não é maximizar a produção, mas minimizar o esforço. As guerras e  conflitos não são comuns e, portanto, as lideranças são incipientes. Contudo,  quando a população do grupo familiar excede a capacidade de suporte e as  limitações ecológicas se aguçam, há a necessidade de nova intensificação do uso  dos recursos. Esta intensificação gera novas tecnologias para suprir as  demandas. A competição por recursos leva os grupos a buscarem maior proteção  pessoal, estocar alimentos e garantir a posse das terras. Há uma necessidade de  se aliar e integrar a outros grupos, passando de uma estrutura familiar para  grupos locais. Surgem lideranças mais fortes, como oBig Man. As guerras se tornam mais frequentes  e uma estrutura separada da produção é criada, onde os excedentes da economia  de subsistência devem crescer para sustentar guerreiros, administradores e  líderes. A economia política e a estratificação social se tornam mais  evidentes. 
   Quando regiões se tornam mais densamente povoadas e a guerra de incorporação  de terras se torna endêmica, uma entidade política a nível regional surge:  primeiro os cacicados e depois o Estado Arcaico. Os excedentes da economia de  subsistência devem se elevar para sustentar uma estrutura cada vez mais  complexa que gerencia a coexistência social. Armazéns centrais estocam  alimentos que reduzem os riscos de insuficiência de recursos básicos à  sobrevivência. Alianças regionais são essenciais tanto para evitar incursões de  outros grupos sobre seu território quanto para anexar o território alheio com  preciosos recursos. 
   Como há uma classe cada vez maior afastada da produção direta,  investimentos na economia de subsistência são essenciais para a geração de  excedentes máximos que nutrem as classes gerenciais e as elites. A economia  política se consolida e a estratificação social torna-se bem clara. No estado  Arcaico há o nascimento de uma burocracia formal e as instituições e as elites  se concretizam. Na evolução social, há uma clara relação entre população,  intensificação do uso dos recursos, integração política e estratificação  social. 
   Neste processo evolutivo, as sociedades se complexificam para lidar com  o motor primário: as pressões populacionais, abrindo espaços para o surgimento  de instituições desatreladas do sistema produtivo. Os indivíduos não aceitam  automaticamente a dominação por autoridades e lideranças desta estrutura  formal, mas ela é formada a partir de diversas relações complexas que garantem  a sobrevivência individual em um dado momento. Por fim, segundo Johnson e  Earle, não se pode ver estes processos como um progresso para estas sociedades.  Não se busca elevar a eficiência com a intensificação produtiva, mas evitar  perdê-la.
7. Rebatimentos contemporâneos
Os debates clássicos sobre a pressão demográfica e a evolução técnica  respaldam os fenômenos complexos de interação da sociedade e o meio ambiente.  Cada espaço apresenta características distintas, em função das condições  edafoclimáticas, demográficas, tecnológicas, sociais, culturais, econômicas,  institucionais e outros condicionantes importantes. Em função desta  heterogeneidade socioespacial, as abordagens evolucionistas são pontos de apoio  para entender o processo específico de cada sociedade.
   A heterogeneidade estrutural joga um papel chave nas decisões dos  agentes e nos rebatimentos ao nível social. Desta forma, os condicionantes  podem levar o sistema a trajetórias interativas dentre uma multiplicidade de  opções, sendo algumas emergentes dadas as condições de aceitação pela  coletividade (COSTA, 2012). E neste quadro, as políticas de desenvolvimento  rural devem conter elementos que possam abarcar todas as estruturas  heterogêneas, evitando padronizações de solução incapazes de compreender a  complexidade social. Quanto maiores as possibilidades de aderência de políticas  de desenvolvimento aos agentes econômicos, ampliam-se as chances de um lock-in em trajetórias socialmente  aceitas. Neste cenário, o desenvolvimento rural entender-se-ia como um processo  capaz de evitar a perda das condições médias de vida e poder-se-ia significar  uma introjeção de novas variáveis capazes de ampliar tais condições de vida.
   Ademais, a leitura de textos clássicos da pressão demográfica pode  auxiliar no entendimento da evolução social em microescala, alcançando os  níveis dos agentes econômicos. Quanto mais específico for o entendimento da  interação entre as variáveis populacionais, agrárias, ambientais, sociais e  tecnológicas, maiores serão as chances de se construir institucionalidades  ajustadas às necessidades heterogêneas. Neste caso, estariam sendo diluídos os  riscos de fracasso de políticas de desenvolvimento rural.
Conclusões
Em síntese, para Malthus, o crescimento populacional depende e está  contido pela oferta de alimentos. A inovação tecnológica é uma variável exógena  e com pouca influência na resposta ao problema da capacidade de suporte.  Boserup inverte esta lógica, onde a população passa a ser o motor da mudança  nos processos de produção agrícola. Quanto maior a densidade demográfica maior  a intensidade do uso das terras. As áreas de pousio são reduzidas e as  inovações tecnológicas vão sendo incorporadas ao processo produtivo. Para  Barlett, esta ideia tem validade quando se avalia um espaço homogêneo. Mas  quando se desagrega a análise, percebe-se assimetrias entre agricultores, que  dita dinâmicas diferenciadas de acordo com o acesso à terra. Mesmo em uma  região de alta pressão demográfica, uma família pode não responder com redução  do pousio e incorporação de novas tecnologias, pois a lógica do menor esforço  lhes garante a sobrevivência com técnicas de maior produtividade por homem-hora  do tipo corte e queima e pousio longo.
   Resumidamente, Malthus, Boseup, Barlett, Wilkinson e Johnson e Earle propõem  modelos explicativos de evolução social que colocam no centro da análise a  relação entre crescimento populacional, crise ecológica e evolução tecnológica  para explicar como as sociedades se organizam política e economicamente para  superar seus óbices. A evolução é a integração entre grupos sociais e o meio  ambiente; neste contexto, a evolução é um processo fundamentalmente ecológico.  Mas o progresso, paradoxalmente, não é buscado como meta de acumulação de  riqueza ou melhoria da eficiência, mas pelo contrário, uma tentativa de evitar  a perda de qualidade de vida. Assim, para esses autores as sociedades não são proativas  em buscar posições relativas superiores, mas são reativas a problemas  ecológicos que atentam à sua sobrevivência. Uma conhecida frase boserupiana  resume a estrutura de análise que coloca a população como a variável-chave na  explicação da evolução social: “a necessidade é a mãe de todas as invenções”.
   Conhecer e reconhecer tal processo pode auxiliar planejadores a  construir institucionalidades adaptadas às condições específicas de agentes  econômicos. Quanto mais apurado o entendimento das trajetórias possíveis,  maiores as chances de sucesso de políticas de desenvolvimento rural. Quanto  mais heterogênea uma sociedade, maiores as possibilidades de evolução.
Referências Bibliográficas
   BARLETT, P.F. Labor  Efficiency and the Mechanism of Agricultural Evolution. Journal of Anthropological Research, vol. 32 (2), 124-140, 1976.
   BOSERUP,  E. Evolução Agrária e Pressão  Demográfica. São Paulo, Hucitec, 1987.
   COSTA,  F.A. Heterogeneidade Estrutural, Tecnologias Concorrentes e Desenvolvimento  Sustentável: uma proposição teórica com vistas ao tratamento da dinâmica  agrária na Amazônia. Revista de Estudos  Sociais, vol.14. n.28, 2012, p.168-185.
   JOHNSON, D.; EARLE, T. The Evolution of Human Societies: from  foraging group to agrarian state. Stanford, Stanford University Press,  1987.
   MALTHUS,  T.R. Ensaio Sobre a População. São  Paulo, Nova Cultural, 1996.
   WILKINSON,  R. Pobreza e Progresso. São Paulo,  Zahar, 1974.
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