Fabricio Quadros Borges*
Universidade Federal do Pará, Brasil
posdoctorborges@gmail.comResumo: Este estudo tem o objetivo de analisar o processo de desenvolvimento e suas relações com a modernidade e as crises ambientais. A construção da sociedade capitalista estabelece a necessidade de compreensão de categorias conceituais que compõem a sua dinâmica e na contribuição destas categorias para a ciência econômica residem aspectos relevantes de compreensão desta sociedade. A metodologia utilizada vincula inicialmente a discussão do processo de desenvolvimento com questões conceituais que surgem com a modernidade, de maneira a refletir os dilemas da sociedade atual, no que tange a compreensão das relações entre sociedade, economia e natureza. Em seguida, relaciona o processo de desenvolvimento as crises ambientais consideradas mais relevantes: a da biodiversidade e a do aquecimento global, através do referencial de abordagem dos recursos comuns e do estudo de políticas ambientais globais. O estudo conclui que a discussão sobre interpretações conceituais entre desenvolvimento e modernidade auxilia na compreensão do processo de transformação estrutural de sociedades tradicionais (agrárias) em sociedades modernas (industriais), questões importantes para encadeamento de ideias na ciência econômica. No tocante a relação do desenvolvimento às crises ambientais, o estudo verifica que os problemas humanos não possuem soluções técnicas, mas as soluções estão pautadas em alterações morais e éticas, que só podem ser alcançadas a partir de uma conscientização, que por sua vez é produto da educação, no intuito de admitir a possibilidade de coerção dos outros prejudicados.
Palavras-chave: Desenvolvimento. Modernidade. Crises ambientais.
Abstract: This study aims to analyze the development process and its relations with modernity and environmental crises. The construction of capitalist society establishes the need to understand conceptual categories that make up its dynamics and in the contribution of these categories to economic science reside relevant aspects of understanding this society. The methodology used initially links the discussion of the development process with conceptual issues that arise with modernity, in order to reflect the dilemmas of the current society, regarding the understanding of the relations between society, economy and nature. The environmental crises considered most relevant are related to the development process: biodiversity and global warming, through the reference of common resources and the study of global environmental policies. The study concludes that the discussion of conceptual interpretations between development and modernity assists in the understanding of the process of structural transformation of traditional (agrarian) societies into modern (industrial) societies, which are important issues for linking ideas in economic science. Regarding the relationship of development to environmental crises, the study finds that human problems do not have technical solutions, but the solutions are based on moral and ethical changes, which can only be reached through an awareness, which in turn is a product of education, in order to admit the possibility of coercion of others harmed.
Keywords: Development. Modernity. Environmental crises.
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Fabricio Quadros Borges (2017): “Desenvolvimento, modernidade e as crises ambientais: uma contribuição teórica a economia”, Revista Contribuciones a la Economía  (octubre-diciembre 2017). En línea:
 http://eumed.net/ce/2017/4/contribucao-teorica-economia.html
http://hdl.handle.net/20.500.11763/ce174contribucao-teorica-economia
1. INTRODUÇÃO
O desenvolvimento, a modernidade a as crises  ambientais compreendem categorias importantes de análise conceitual para a  compreensão da sociedade capitalista. O desenvolvimento e a modernidade, por  meio de suas relações intrínsecas, representam dois alicerces condicionantes ao  entendimento da dinâmica da sociedade capitalista. Abordar estes termos  representa um compromisso em analisar um rico e variado conjunto de ensaios  organizados em partes temáticas, que possam pensar também o contexto das  ciências sociais, sua história e o papel destas e do cientista social na  construção de uma sociedade democrática. 
   A discussão entre desenvolvimento e as crises  ambientais, por seu turno, alcançam proporções  globais. O tema ocupa o centro das atenções daqueles que discutem as questões  pertinentes às pressões e ameaças oriundas da supremacia de modos  ambientalmente predatórias de exploração dos recursos naturais da região  amazônica. O debate sobre as principais crises ecológicas guarda relações  diretas com a dinâmica de acesso e apropriação de recursos naturais e de seus  benefícios. A relação sociedade e meio ambiente, incluindo em seus meandros as  conexões entre população, tecnologia, organização social, processos econômicos  e políticos que venham influenciar na maneira em que os recursos naturais  comuns são explorados, vincula-se ao equilíbrio e a estabilidade dos  ecossistemas. 
   O objetivo desta investigação é analisar o  processo de desenvolvimento e suas relações com a modernidade e as crises  ambientais. A construção da sociedade capitalista estabelece a necessidade de  compreensão de categorias conceituais que compõem a sua dinâmica e na  contribuição destas categorias para a ciência econômica residem elementos  importantes de entendimento da dinâmica da sociedade capitalista.
   Além desta introdução, este estudo teórico  será composto de 5 (cinco) partes: Interpretações das  relações entre desenvolvimento e modernidade; Processo de transformação estrutural da sociedade; Relações entre as crises ambientais no Século XX e a crise  da eotécnica no Século XVIII; As crises da biodiversidade e do aquecimento  global; e as Considerações finais. 
Na análise institucional da modernidade, Giddens (1991),  atribui uma ênfase cultural e epistemológica, de forma a indagar o caráter e o  dinamismo da mesma, a denomina como um estilo de vida ou organização, onde o  advento da indústria modelada pela aliança entre a ciência e a tecnologia  indica um cenário onde o homem não mais organiza sua vida em função da  natureza, ocasionando impactos da industrialização sobre o meio ambiente, o que  denomina de conseqüências da modernidade. 
   Conforme o autor, a modernidade constitui-se através  do conhecimento reflexivamente aplicado, ou seja, um reordenamento da reflexão.  O desenvolvimento seria neste contexto, formado por descontinuidades  específicas, associadas ao período Moderno. A relação entre modernidade e  desenvolvimento se daria no momento em que a modernidade se desenvolve através de  processos descontínuos de desenvolvimento, que por sua vez, proporcionam uma  compreensão mais plena e reflexiva desta modernidade.
   A composição  dos elementos concretos do novo paradigma da tecnologia da informação e como  estão sendo incorporados ao processo de trabalho, compreende a discussão de Castells  (2000). Considerando que se partiu de um sistema  baseado na manufatura de bens materiais para outro relacionado mais  centralmente com informação, provocando o desvencilhamento de todos os tipos  tradicionais de ordem social, de uma maneira sem precedentes, o autor parece  sugerir que este estado caracterizaria a modernidade.
              Castells (2000) observa  que o desenvolvimento seria resultado do trabalho em rede no momento em que  permite o compartilhamento de informações.   A difusão da lógica de redes modifica de forma substancial a operação e  os resultados dos processos produtivos e de experiência, poder e cultura. O  autor parece aproximar modernidade e desenvolvimento a partir do momento em que  o histórico da modernidade caracterizado através da sociedade da informação,  está intrinsecamente ligado ao desenvolvimento promovido pelo trabalho em rede,  quando do compartilhamento de informações.
              Touraine (1998), sob uma perspectiva mais histórica  discute questões relacionadas com o processo de secularização e racionalização  ocorrido no Ocidente entre os séculos XVIII e XIX, evidenciando as concepções  teóricas e as modificações políticas, sociais e administrativas que  caracterizam a modernidade. Segundo o autor, a modernidade seria identificada  como a “difusão dos produtos da atividade racional, científica, tecnológica,  administrativa”, estando, portanto, a idéia de modernidade estreitamente  associada a da racionalização. A modernidade seria definida como a tentativa de  libertar o homem de todo pensamento dualista. O desenvolvimento seria produto  do progresso técnico e da liberação das necessidades e caracterizador da  suposta idéia de modernidade. Assim, o triunfo deste progresso se dá em função  da oposição àqueles chamados anti-sociais (contrários à modernidade e a sua  revolução). Para Touraine (1998), a idéia de modernidade caracteriza o início  de um desenvolvimento que é produzido pelo progresso técnico.  
              Pádua (2002), por sua vez, desenvolveu um esforço de  reconstituição, de maneira lúcida e abrangente, da crítica ambiental nos  séculos XVIII e XIX, praticamente esquecida na história do pensamento social  brasileiro. Um alerta para a questão ambiental no Brasil. O autor não se propõe  a definir claramente os termos modernidade e desenvolvimento, mas caminha  substancialmente à compreensão do cenário ambiental. Através do autor, as  relações com o Desenvolvimento Sustentável passaram a se dar de modo mais bem  estruturado.
              Uma reflexão entre modernidade e meio ambiente, conjuntamente  com a ética que lhes dá sentido, com o intuito de dotar o novo estilo de  desenvolvimento, de noções básicas de sustentabilidade, foi o propósito de Guimarães  (1998). A modernidade foi entendida como um Projeto Social que busca enfrentar  e dar resposta a processos de câmbio social profundo, ou seja, às relações  existentes em uma economia de mercado global consumista, muitas vezes  descomprometida com questões éticas. Daí a necessidade de estabelecer relações  conceituais com desenvolvimento.
              O Desenvolvimento refere-se tanto a base física do  processo de crescimento, objetivando a manutenção do estoque de recursos  naturais incorporando tanto as atividades produtivas quanto à capacidade de  sustento dos ecossistemas. Segundo Guimarães, a relação entre os termos parece  se estabelecer através da sustentabilidade, onde o paradigma do desenvolvimento  procura dar resposta aos dilemas estabelecidos pela modernidade atual.
              Santos (2003), a partir de uma revisão de estudos sobre  os processos de globalização, procura reinterpretar a globalização  contemporânea. O autor defende a idéia da necessidade em dar atenção às  dimensões social, política e cultural, além da econômica, que possui  reconhecida importância. A modernidade e o desenvolvimento não são pontos centrais  em seu texto, contudo, a necessidade de integração das dimensões representa  expressiva contribuição.
              Uma discussão sobre a problemática da racionalidade que  questiona as competências da sociologia no que concerne esta análise compreende  o foco de Habermas (1989). Conforme se observa, o autor não trabalha claramente  a categoria desenvolvimento, mas parecer se identificar com a Idéia do  desenvolvimento pautado em uma racionalidade. Redclift (2003), ao reconhecer  que os discursos de Sustentabilidade atingiram o centro da política ambiental  internacional, faz uma pausa e propõe um exame mais detalhado da atual agenda  política e intelectual. O autor sustenta o pensamento de que a ideia de  sustentabilidade ainda é útil, mas que não deve se associar unicamente à  “natureza exterior”. Menciona a modernidade apenas quando utiliza Fairhead e  Leach que afirmam que a modernidade vem destruindo progressivamente a floresta,  ao transformar culturas anteriormente favoráveis a essas florestas. O autor não  trabalha com um conceito propriamente dito de desenvolvimento, mas relaciona-o  constantemente ao termo Sustentabilidade, que prezaria pelo equilíbrio social,  econômico e ambiental.
              Os pressupostos econômicos e desenvolvimentistas que  informam a noção de desenvolvimento sustentável, através de uma discussão de  suas conseqüências culminando com a indagação: quem sustenta o desenvolvimento  de quem? Este é o problema tratado por Banerjee (2003). O autor não trabalha  com clareza a categoria modernidade, contudo, caminha em direção a definir  desenvolvimento quando observa que o desenvolvimento sustentável descreve um  processo de crescimento econômico que não cause destruição ambiental, para  isso, procura reconciliar interesses econômicos e ambientais, além de objetivar,  simultaneamente, maximizar os lucros econômicos e o bem-estar ambiental.    
   Diante desta  revisão teórica de interpretações, constata-se que as definições e relações  entre modernidade e desenvolvimento estão longe de esgotar-se e limitar-se,  entretanto, podemos compreender com clareza consensos em direção à idéia de que  a modernidade caracterizar-se-ia, de fato, por ser dominada pela idéia da  história do pensamento como uma 'iluminação' progressiva, que se desenvolve com  base na apropriação e na reapropriação cada vez mais plena dos 'fundamentos',  que freqüentemente são pensados também como as “origens”, de modo que as  revoluções teóricas e práticas da história ocidental se apresentam e se  legitimam na maioria das vezes como 'recuperações', renascimentos, retornos. É  a partir da noção de "superação" que a modernidade legitima o desenvolvimento,  que por sua vez representa uma iluminação progressiva do pensamento, que se  reapropria e resignifica o seu próprio fundamento e origem. Este desenvolvimento,  inclusivo e ampliador de bem-estar, promoveriam a passagem para uma outra  “estrutura social”.  
   A seguir, com base nesta revisão da literatura sobre  modernidade e desenvolvimento, procura-se alimentar o debate através de uma  abordagem do desenvolvimento como um processo de transformação estrutural da  sociedade na tentativa de melhor compreensão das realidades nas ações públicas  no setor de energia elétrica na Amazônia.
3. PROCESSO DE TRANSFORMAÇÃO ESTRUTURAL DA SOCIEDADE
O  desenvolvimento como processo de transformação estrutural de sociedades  agrárias (tradicionais) em sociedades industriais (modernas) representou a  grande temática da economia política. O discurso teórico dos autores que  estudam o desenvolvimento analisa o ambiente das estratégias, isto é, medidas a  serem adotadas para um crescimento econômico equilibrado e autossustentado em  uma determinada sociedade. 
   A discussão  a respeito do desenvolvimento deve ser pautada a partir da sistematização da  produção do conhecimento de temas fundadores do debate atual sobre a temática  com o intuito de contribuir para a reflexão e a interpretação dos dilemas da  sociedade, assim como melhor compreender as estratégias e as ações políticas  com as quais diversos atores sociais agem e intervém na solução de problemas  relativos ao desenvolvimento. 
   Rostow  (1961), analisando a evolução histórica dos países desenvolvidos, detectou  cinco estágios de desenvolvimento: sociedade tradicional; pré-requisitos para o  arranco; arranco; crescimento autossustentável e idade do consumo de massa. A  sociedade tradicional, de modo geral, é predominantemente agrária, com pouca  tecnologia e baixa renda per capita. Na segunda etapa são criadas as condições  prévias para o arranco, a partir de importantes mudanças econômicas e não  econômicas. Há um aumento da taxa de acumulação de capital, em relação à taxa  de crescimento demográfico, e uma melhoria no grau de qualificação da mão-de-obra  habilitada para a produção especializada em grande escala. O período crucial é  o arranco. Nessa etapa, o processo de crescimento contínuo se institucionaliza  na sociedade. Isso porque, na segunda etapa, ainda há uma certa resistência, já  que a sociedade se caracteriza ainda por atitudes e técnicas produtivas Tradicionais.
              Conforme o autor, a quarta etapa, a da "marcha para  o amadurecimento", leva cerca de 40 anos. Em seu transcurso, a moderna  tecnologia se estende dos setores líderes, que impulsionaram o arranco, para  outros setores. A economia demonstra que tem a habilidade tecnológica e  empresarial para produzir qualquer coisa que decida produzir. Finalmente, a  economia atinge a quinta etapa, a "era do alto consumo de massa",  quando os setores líderes se voltam para a produção de bens de consumo duráveis  de alta tecnologia, e serviços. Nessa fase, a renda ascendeu a níveis onde os  principais objetivos de consumo dos trabalhadores não são mais a alimentação  básica e a moradia, mas sim, automóveis, microcomputadores etc. Existem algumas  críticas à teoria formulada por Rostow (1961). Tratar-se-ia mais de uma análise  empírica, a partir da observação do que ocorreu com os países desenvolvidos, do  que uma análise científica. Muitos historiadores não vêem uma clara distinção  entre a segunda e a terceira etapa. Ainda, Rostow parece dar a entender que a  evolução industrial só se pode dar após a melhoria da produtividade agrícola, e  não ocorrerem simultaneamente. De qualquer modo, a essência da chamada Teoria  de Etapas, de Rostow, ilustra o fato de que o desenvolvimento econômico é um  processo que deve avançar em uma determinada seqüência de passos Claramente  definidos.
              Parsons (1964), por sua vez, acredita que as sociedades  mudam em diferentes tendências, movendo-se do tradicional ao moderno. Assim, o  autor apresenta uma contribuição para reestruturar a extensão do pensamento  evolucionário em   sociologia. O autor apresenta três estágios de  desenvolvimento: primitivo, primitivo avançado e moderno. No primitivo,  encontra-se a tecnologia, o parentesco, a comunicação e a religião como  mecanismos básicos. No primitivo avançado, Parsons cita a estratificação e a  legitimação. E por fim, no moderno, têm-se a organização burocrática, o  dinheiro e o mercado, o sistema legal universal e a associação democrática. Observa-se  que a concepção de Universos  evolucionários, desenvolvida por Parsons, ainda fornece valiosa percepção  na interpretação da complexidade e diversidade da evolução histórica de muitas  sociedades. O autor não se convenceu com evidências de que a evolução social segue  uma evolução orgânica.
              Ao discutir a questão do desenvolvimento x  subdesenvolvimento como duas faces de um só processo global, Cardoso (1993) procura esclarecer  alguns pontos controvertidos sobre as condições, possibilidades e formas do  desenvolvimento econômico em países que mantém relações de dependência com os  pólos hegemônicos do sistema capitalista. O autor alerta sobre a necessidade de  considerar especificidades estruturais e históricas ao se falar de América  Latina e apresenta três etapas do processo de desenvolvimento: na primeira  tem-se a substituição de importações, em seguida a produção de bens de capital  e na terceira, a redistribuição de renda. Após as duas primeiras etapas, nos  anos 60, verificou-se no Brasil um período de estagnação relativa, evidenciando  assim, que a impressão de que o esquema interpretativo e as previsões  formuladas à luz de fatores puramente econômicos não foram suficientes para o  curso posterior dos acontecimentos. Não seria ainda suficiente, substituir a  interpretação “econômica” do desenvolvimento por uma análise “sociológica” e  sim integrá-las.
              Como proposição, Cardoso (1993) apresenta a necessidade  de uma análise integrada que forneça elementos para dar resposta de forma mais  ampla e diversificada às questões gerais sobre as possibilidades do  desenvolvimento ou estagnação dos países Latino-americanos, e que responda às  indagações decisivas sobre seu sentido e suas condições políticas e sociais. Quanto  ao subdesenvolvimento, Furtado  (1964), utilizando-se de um raciocínio estruturalista, observa que o mesmo  compreende um processo histórico autônomo, não constituindo uma etapa  necessária à formação das economias capitalistas. Segundo o autor, a única  tendência visível é para que os países subdesenvolvidos continuem a sê-lo. O  desenvolvimento do século XX vem provocando uma concentração crescente da renda  mundial, com uma ampliação progressiva do fosso entre as regiões ricas e os  países subdesenvolvidos. Conforme Furtado, o subdesenvolvimento é a  manifestação de complexas relações de dominação-dependência entre povos,  tendendo a auto-perpetuação sob formas cambiantes. Quanto  ao desenvolvimento econômico como dinâmica da acumulação capitalista dentro de  modelos divergentes depois da 2ª guerra mundial, tem-se a estratégia da  industrialização através da substituição de importações e a modernização prévia  da agricultura considerando o fomento das exportações, importações e a  modernização prévia da agricultura considerando o fomento das exportações.
              No  momento estratégico da industrialização, Souza (1999) apresenta a Teoria do  desenvolvimento econômico na visão da CEPAL  e os principais aspectos do travado no Brasil entre Cepalinos e opositores. O  autor destaca a tese de Prebisch que, por sua vez, critica a teoria da vantagem  comparativa de David Ricardo que preza pela especialização em produtos com  vantagens de menor custo, ou seja, a América Latina deveria segundo a teoria,  especializar-se em matéria-prima. 
              Prebisch argumentava uma tendência de  queda dos preços agrícolas em relação aos industriais, ocasionando assim uma  deterioração das relações de troca. Sua proposição via na industrialização a  única forma de desenvolvimento a partir da substituição das exportações. Também  indicava como necessários a compressão do consumo supérfluo, o incentivo ao  ingresso de capitais externos, a reforma agrária para aumentar a oferta de  alimentos e a maior participação do estado na captação de recursos. Para Mantega (1995), em cômputo geral, o  subdesenvolvimento nada mais é, do que a ausência do capitalismo e não o seu  resultado. Entretanto, as idéias da CEPAL foram amplamente criticadas. Segundo  alguns autores, não existe uma verificação empírica na qual as relações de  troca iriam piorar contra os países exportadores de primários. Para outros, os  países pobres com mão-de-obra barata e abundância de recursos naturais,  atrairiam investimentos externos, mas permaneceriam dependentes e atrelados ao  imperialismo internacional.
              Quanto  ao modelo de modernização prévia da agricultura e o fomento das exportações,  caracteriza-se a partir do ideário neoclássico/neoliberal. Países que  modernizaram sua agricultura, como a Austrália, conseguiram desenvolver-se a  partir de uma base agrícola e sustentados pelo dinamismo das exportações.  
   Através de uma abordagem Neocepalina, constata-se que as  indústrias de bens de consumo foram instaladas na periferia, mas as indústrias  de bens de capital permaneceram no centro. Isso aumentou a interdependência  comercial entre as economias do centro e as da periferia, mas de forma  assimétrica, uma vez que as relações de troca continuaram desfavoráveis para  estas últimas. Conforme Souza (1999), devido ao processo de globalização, onde  os países se beneficiam da interdependência, a Teoria da dependência ficou fora  de moda. Os dados internacionais indicam as amplas diferenças de renda entre os  países em   desenvolvimento. Os níveis de renda médios em muitos desses  países, especificamente na América Latina, são semelhantes aos níveis de renda  americanos do século passado. Mas, em outros países em desenvolvimento, na Ásia  e na África, as rendas per capita são ainda menores e a exploração de recursos,  predatória. Além disso, existem grandes disparidades na distribuição de renda  de cada país, com uma pequena parcela da população vivendo realmente muito bem,  e a maioria com rendas bem abaixo do nível de renda médio. Neste contexto, a  necessidade de se considerar as dimensões não apenas econômica, mas social e  ecológica apresenta um novo referencial normativo, o desenvolvimento  sustentável.
   Segundo Daly (1991) o desenvolvimento  sustentável seria uma melhoria qualitativa que não implique um aumento  quantitativo maior do que o aceitável pela capacidade de suporte, ou seja, a  capacidade do ambiente de regenerar os inputs de matéria-prima e  absorver os outputs residuais. Neste contexto anterior, Fenzl (2000) deduz que o principal  desafio para poder efetivamente implantar processos de desenvolvimento  sustentável é a necessidade de se buscar métodos e maneiras capazes de medir e  propor mudanças para regulamentar os fluxos energético materiais através de  sistemas econômicos. 
4. RELAÇÕES ENTRE AS CRISES AMBIENTAIS NO SÉC. XX E A CRISE DA EOTÉCNICA NO SÉC. XVIII.
Desde  o século XX, o debate que envolve as crises ambientais e suas proporções  globais vincula-se ao processo de transição no capitalismo industrial, onde as  consequentes modificações sociais e científicas vislumbraram um crescimento  populacional que atingiu um ritmo acelerado (HOBSBAWM, 1979). Neste âmbito, a  necessidade de análise da pressão populacional e das realidades dos recursos  naturais neste processo, considerando os mecanismos de transição no contexto  capitalista de produção, identificou uma problemática ambiental em grande  escala, que é objeto de discussão no campo da Ecologia Política. 
   A  economia global do século XVII apresentava-se configurada em um mercado mundial  em grande expansão, onde os ingleses haviam conquistado a hegemonia desse  mercado à medida que suplantaram a concorrência com a Espanha, Holanda e  França. A ocupação do território europeu tornava-se mais intensa e a economia  natural baseava-se em fluxos energéticos disponíveis naquela realidade. O  alcance entre as relações que se pode estabelecer entre as crises ambientais  que começaram a assumir grandes proporções no século XX e a crise da eotécnica  por volta do século XVIII, primeira etapa  de desenvolvimento da técnica assim denominada por Louis Munford, tomando-se  como referência a solução encontrada para resolver esta última e sua  contribuição para o entendimento da atual crise ambiental representa o objetivo  central desta seção.
   O  aumento da população, do comércio e de demandas de guerra intensificava a  agricultura à luz da evolução do Estado Moderno, indicando a contextualização  da primeira etapa de desenvolvimento técnico da humanidade, a eotécnica. Como  frisa Hobsbawm (1979), no século XIX a depressão da década de 1870 minou as  fundações do liberalismo que parecia tão fortemente estabelecido e provou que o  modelo de crescimento econômico, desenvolvimento político, progresso  intelectual e a realização cultural apresentavam sérias vulnerabilidades.
   A  amplamente analisada por Hungil (1993), eotécnica, compreendeu uma etapa no  desenvolvimento da técnica que antecede as etapas da paleotécnica e da  neotécnica. A fase da eotécnica caracterizou-se pela utilização de energia  hidráulica e da madeira como material de construção dos engenhos. Nela se  encontraria a origem da atual máquina, neste período tiveram origem a maior  parte dos descobrimentos e invenções que serviram ao desenvolvimento  mecânico.     
   A  fase da eotécnica apresentou alguns problemas e o processo de evolução do  desenvolvimento da técnica identificou uma crise desta etapa. A impossibilidade  de concentrar ampla quantidade de energia em um local para atingir economias de  escala e complementaridade, os limites para a utilização da terra, a elevação  relativa do preço da lenha, as significativas alterações no campo e na matriz  energética e o processo de urbanização representaram realidades que conduziram  ao declínio daquela fase. Conforme Hungil (1993), a sugestão de iniciativas na tentativa  solucionar os problemas decorrentes do processo de evolução do desenvolvimento  da técnica foi construída por Adam Smith e David Ricardo. Segundo os autores, a  produção deveria ser maximizada dentro de certos limites. Malthus,  particularmente, concluiu que a produção de alimentos cresce em progressão  aritmética, enquanto a população tenderia a aumentar em progressão geométrica,  o que redundaria em pobreza e fome generalizada. Neste sentido, apontou que a  restrição ao crescimento populacional fez algumas sociedades mais ricas que  outras no momento que proporcionaria um consumo per capta maior.
   Todavia,  a pressão populacional e as preocupações em relação a exploração dos recursos  naturais, assim como, o avanço da urbanização e a estrutura da matriz energética  caracterizaram realidades, não apenas daquela época, mas também atuais, dentro  de uma dinâmica contextualizada no modo de produção vigente, o que dentre  outros graves problemas decorrentes desta contexto encontra-se a problemática  ambiental em proporções globais. 
   As denominadas propriamente crises ambientais  começam a surgir a partir de ações causadas: pelo desmatamento, onde a maioria  das espécies de áreas tropicais não pode sobreviver às mudanças radicais  provocadas pelo corte e queima de florestas; pela exploração madeireira, onde  se verificam inclusive impactos indiretos por levar à construção de estradas de  acesso e por prover fazendeiros com recursos para a expansão de pastagens;  pelos incêndios causados muitas vezes pela flamabilidade causada pela  exploração madeireira; pela fragmentação da floresta, em uma paisagem de  pequenos retalhos que pode conduzir a redução da biodiversidade; pela extinção  da fauna; pela invasão de espécies exóticas e pelas mudanças climáticas, que  incluem os efeitos do aumento de temperatura causado pelo efeito estufa,  aumento de concentração de gás carbônico e alteração no regime de chuvas (FEARNSIDE,  2003).        
   A  ligação que pode ser atribuída entre a crise da eotécnica por volta do século  XVIII e as crises ambientais que começaram a assumir grandes proporções no  século XX pode colaborar para uma aproximação à compreensão das crises  ambientais atuais. O crescimento das necessidades populacionais e a  disponibilidade dos recursos naturais parecem nortear esta discussão.  De acordo com Wilkinson (1974), as principais  características do desenvolvimento econômico em longo prazo, inclusive as  mudanças quanto aos recursos básicos, a divisão do trabalho, o desenvolvimento  do comércio e da indústria, os métodos agrícolas cada vez mais intensivos e  muitos outros aspectos de um sistema produtivo em transição são, todas elas,  respostas previsíveis ao crescimento das necessidades.
   Portanto,  não poderiam ser vistas como tentativas de aumentar a eficiência econômica.  Segundo Wilkinson (1974), a noção de que o desenvolvimento econômico é um  processo de eficiência crescente ainda permanece, todavia, o desenvolvimento,  na metade das vezes, é seguido por uma diminuição da eficiência real das  sociedades. O autor deseja demonstrar que “no contexto ambiental mais amplo, o  desenvolvimento econômico seria o desenvolvimento de formas intensivas de  exploração do meio natural”, ou seja, cada cultura detém características de  obtenção de alimentos, vestes e demais bens que a população demanda. 
   A  tendência geral do desenvolvimento de técnicas tem caminhado, através dos  tempos, rumo a uma descentralização e à extensão espacial e temporal, onde o  limite de produção seria fixado pela natureza. Assim, consta-se que enquanto a  crise ambiental global é diferente da crise da eotécnica no que se referem ao  nível de desenvolvimento da técnica, as crises encontram semelhanças na medida  em que possuem seus limites de produção fixados basicamente pela  disponibilidade dos recursos naturais (HUNGIL, 1993). No tocante à maneira com  que a solução encontrada para resolver a crise da eotécnica, verificou-se uma  necessidade de concentração espacial sob os aspectos da urbanização, da  indústria e das comunicações; de um aumento dos investimentos em energia  urbana, em ferrovias e em mineração; e de uma expansão europeia promovendo um  desenvolvimento, que muitas vezes, era acompanhado de uma redução da eficiência  real das sociedades. A demanda global, cada vez mais, passava a caracterizar a  utilização intensiva de recursos em favor da lógica do modo de produção  ascendente, o sistema capitalista. 
   A  contribuição para a crise ambiental atual indica pautar-se na ausência, através  dos tempos, de uma preocupação com as consequências deste processo de  exploração de recursos. É incontestável que a relação sociedade e meio  ambiente, incluindo em seus meandros as conexões entre tecnologia, população,  organização social, processos econômicos e políticos que interfiram no modo em  que os recursos são utilizados, vincula-se ao equilíbrio ecológico. Neste  sentido, as atuais crises ambientais globais, que desde o século XX ganharam  grandes proporções, representam o produto desta dinâmica.      
5. AS CRISES DA BIODIVERSIDADE E DO AQUECIMENTO GLOBAL
É  importante destacar que a biodiversidade e o clima global não representam  propriedades alheias à relação entre sociedade e meio ambiente na medida em que  compreendem o alicerce das atividades agrícolas, pecuárias, pesqueiras e  florestais e, também, a base para as estratégias da indústria da biotecnologia.  Ambas procuram chamar a atenção para a relevância em se perpetuar a diversidade  genética da floresta e para a importância da introdução de novos elementos à  proposição de estratégias alternativas de desenvolvimento. McGrath (1997), ao  analisar a crise da biodiversidade situa o leitor ao argumentar que, o conceito  de biodiversidade tem deficiências que limitam sua utilidade para definição de  prioridades para políticas de conservação e de desenvolvimento. Constata ainda,  que a ausência de dados confiáveis sobre a atual taxa de extinção é o que mais  caracteriza a discussão sobre a crise da biodiversidade. Em relação a crise, o  autor observa que embora não haja dúvida de que a taxa de extinção de espécies  tenha aumentado, as consequências para a biodiversidade futura são bem menos  drásticas do que a maioria das prevê.
   Todavia,  conforme Albagli (1998), o processo de disputas e conflitos neste cenário  envolve diferentes interesses como: os das corporações transnacionais, dos  ecologistas, dos bancos multilaterais, do Governo brasileiro e os das  comunidades extrativistas. Wilson (1997) relata em 1978 a exploração dos  botânicos Gentry e Dodson, no desconhecido espinhaço denominado Centinela, que  fica escondido nas vertentes dos Andes equatoriano e em suas florestas  nebulosas descobriram cerca de noventa espécies vegetais endêmicas. Em 1986, em  virtude dos impactos paralelos de uma estrada privada construída por  fazendeiros da região do vale, suas florestas foram cortadas e Centinela estava totalmente roçada. Em  virtude desta devastação extinguiram-se muitas espécies raras. O que Wilson  (1997) procura oportunamente demonstrar, em âmbito global, é que assim como Centinela, milhares de locais naturais  do planeta estão sendo destruídos pela ação humana, seja para abrir locais para  assentamentos de novos núcleos populacionais, seja para a exploração dos  recursos naturais. Uma lista cada vez maior de ecossistemas inteiros ameaçados  justifica extrema necessidade do desenvolvimento de alternativas ao problema. A  preocupação em relação à utilização desordenada e competitiva dos recursos  naturais que, ao mesmo tempo em que pertencem a todos, não pertencem a ninguém  em particular, revela a necessidade em discutir a questão dos recursos comuns.  De acordo com Hardin (2002), se a utilização destes recursos naturais for  realizada em prejuízo dos demais “proprietários”, haveria o direito de se  reclamar por esta ação. A questão dos recursos comuns surge então quando se  utilizam estes bens de todos como se fossem privados. O benefício individual  obtido, se imitado por outros, se torna prejudicial para todos os indivíduos.  As crises da biodiversidade e a questão do aquecimento do planeta caracterizam  em termos globais o resultado da utilização predatória dos recursos naturais do  planeta.  
   Ao  aprofundar estudos a possibilidade de novas direções no uso dos recursos  naturais avaliando ambientes de incertezas ecológicas, de sustento e de  conhecimento, Mehta (2002) constata o surgimento de algumas perguntas  particularmente importantes acerca de como os conhecimentos de diferentes  atores estão articulados nos processos de planificação e políticas públicas de  desenvolvimento. A autora propõe uma melhoria da análise politicamente  relevante das dimensões institucionais das formas de sustento rural e de gestão  ambiental no contexto das incertezas, onde as instituições tendem a serem  vistas como instrumentos de regulação da ação coletiva com o objetivo de  eliminar estas incertezas junto aos recursos comuns. Porter e Brown (1991)  propõem debater amplamente as políticas globais na medida em que procuram  contextualizar questões de grande relevância à conjuntura das relações  internacionais envolvendo as ONGs, os Governos e outros atores estratégicos. A  crise da biodiversidade e o aquecimento global à camada de ozônio prefiguram  dentre as questões em discussão por estes autores na tentativa de promover  interações multilaterais para resolver problemas globais crescentes da  atualidade. Ostrum (1998) destaca oportunamente que os esforços por um enfoque  local que caracteriza grande parte das investigações sobre os recursos de  propriedade comum, têm embasado recentemente, várias iniciativas de abordagem  de problemas nas políticas ambientais globais. 
   Em  relação aos regimes ambientais globais, Porter e Brown (1991) e Hurrell, (1995)  demonstram existir duas concepções. A primeira seria a formal, que possuiria um  aspecto restrito, e a outra substantiva, apresentando um aspecto amplo.  Independentemente da concepção, seus arcabouços compreendem um sistema de regras,  apresentadas em um tratado internacional acordado entre governos, que monitoram  as ações dos vários segmentos pertinentes ao tema. Entretanto, a  operacionalização deste sistema de regras parece constituir-se no seu principal  obstáculo das políticas públicas ambientais em âmbito global. Uma abordagem  mais conclusiva e estratégica é trazida ao debate por McGrath (1997) no que se  refere à biodiversidade. De acordo com o autor, o paradigma da biodiversidade  possui seu foco de análise na destruição do habitat e não fornece uma base  adequada para o gerenciamento ambiental. É fundamentalmente um conceito  reducionista e preservacionista. O que é necessário é uma abordagem diferente  da visão deste paradigma. O foco no desenvolvimento de estratégias que busquem  assegurar que as transformações globais levem à sistemas humanizados de  natureza sustentáveis caracteriza a proposta do autor. Todavia, Hardin (2002)  alerta que os problemas humanos não possuem solução técnica, mas a solução está  baseada em modificações morais e éticas, que só podem ser atingidas através de  conscientização, que por sua vez é resultado da educação. Assim, para o autor  conclui que a solução reside em um processo de educação interior no intuito de  admitir a possibilidade de coerção dos outros prejudicados. Mútua coerção com  mútuo consentimento. Mas para isso, faz-se necessário adquirir-se um maior  nível de consciência com relação aos problemas comuns, buscando constantemente  educação e disciplina.        
Diante do desafio  de analisar o processo de desenvolvimento e suas  relações com a modernidade e as crises ambientais, este estudo concluiu que ao  discutir o tema Desenvolvimento por  meio da análise de diversas interpretações conceituais que descrevem o  processo de transformação estrutural de sociedades tradicionais (agrárias) em  sociedades modernas (industriais), surgem questões importantes para  encadeamento de idéias como a do desenvolvimento econômico. O estudo verificou  que a apresentação da evolução histórica dos países desenvolvidos de Rostow (1961)  detectou cinco estágios de desenvolvimento: sociedade tradicional;  pré-requisitos para o arranco; arranco; crescimento autossustentável e idade do  consumo de massa. Com Parsons (1964), verificaram-se três estágios de desenvolvimento:  primitivo, primitivo avançado e moderno. No primitivo, encontra-se a  tecnologia, o parentesco, a comunicação e a religião como mecanismos básicos.  No primitivo avançado, o autor cita a estratificação e a legitimação. E por  fim, no moderno, têm-se a organização burocrática, o dinheiro e o mercado, o  sistema legal universal e a associação democrática.
   Nesta  discussão sobre o desenvolvimento, constatou-se a relação dual com o  subdesenvolvimento em um só processo global. O estudo inferiu pela necessidade  de  considerar especificidades  estruturais e históricas ao tratar o subdesenvolvimento e apresenta três etapas  do processo de desenvolvimento: na primeira tem-se a substituição de  importações, em seguida a produção de bens de capital e na terceira, a  redistribuição de renda. Assim, o subdesenvolvimento seria a manifestação de  complexas relações de dominação-dependência entre povos, tendendo a  auto-perpetuação sob formas cambiantes.
              As crises ambientais, sobretudo, a da biodiversidade e a  do aquecimento, vêm apresentando um panorama preocupante e levantar discussões  a respeito de sua melhor compreensão e elaboração de subsídios e possibilidades  para atenuá-las, representa oportuno esforço em favor da própria sociedade. No  que tange a solução encontrada para resolver a crise da eotécnica e sua relação  com a crise atual, detectou-se uma demanda por concentração espacial. A demanda  global, cada vez mais, passava a caracterizar a utilização intensiva de  recursos em favor da lógica do modo de produção ascendente, o sistema  capitalista. A contribuição para a crise ambiental atual indica pautar-se na  ausência, através dos tempos, de uma preocupação com as consequências deste  processo de exploração de recursos. É incontestável que a relação sociedade e  meio ambiente, vincula-se ao equilíbrio ecológico. Neste sentido, as atuais  crises ambientais globais, que desde o século XX ganharam grandes proporções,  representam o produto desta dinâmica.      
   No que se  refere a proposta de realizar uma breve análise das crises ambientais, da  biodiversidade e do aquecimento global, considerando o referencial dos recursos  comuns e das políticas globais. Verificou-se que o foco de análise da  biodiversidade deve residir na promoção de estratégias que objetivem garantir  que as modificações globais levem à sistemas humanizados de natureza  sustentáveis.
   Neste  ambiente, inferiu-se ainda que os problemas humanos não possuem soluções  técnicas, mas as soluções estão pautadas em alterações morais e éticas, que só  podem ser alcançadas a partir de uma conscientização, que por sua vez é produto  da educação, no intuito de admitir a possibilidade de coerção dos outros  prejudicados. Mútua coerção com mútuo consentimento alicerçado em educação e  disciplina no tratamento dos problemas comuns.
   No tocante a ecologia e a importância das relações homem-ambiente  na Amazônia, na tentativa de percepção dos alicerces da problemática ambiental  e a partir de uma oportunidade de reflexão local deste contexto. Destaca-se em  conclusão que a contribuição da perda  da floresta às mudanças climáticas, juntamente com outras mudanças globais,  fundamenta a adoção de uma estratégia nova para sustentar a população da  região. Em vez de destruir a floresta para poder produzir algum tipo de  mercadoria, se usaria a manutenção da floresta como gerador de fluxos  monetários baseados nos serviços ambientais da floresta, ou seja, o valor de  evitar os impactos que se seguem a destruição da floresta. 
              Assim,  verifica-se que as soluções para as crises ambientais residem nas modificações  de condutas promovidas na natureza das relações entre o homem e o ambiente  através da consciência absolutamente necessária ao gerenciamento de problemas  comuns. E este desafio deve ser abraçado com prudência e responsabilidade por  todos os atores sociais. 
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